A tradição maçônica atribui a fundação da primeira Loja do Rito Escocês à obscura aldeia de Kilwinning, lenda que não encontra mais aceitação entre os historiadores. Entretanto, o que tinha dado certa aparência de base a essa tradição é a existência nessa localidade de ruínas de uma abadia, destruída durante a Reforma.
“A abadia de Kilwinning acha-se situada na baía de Cunningham, cerca de três milhas ao norte do burgo real do Irving, próximo ao Mar da Irlanda. A abadia foi fundada, no ano 1140, por Hugh Morville, Condestável da Escócia, e dedicada a São Winning, sendo projetada por uma companhia de monges da Tyronesian Order, mandada vir de Kelso. O edifício foi construído com muitas despesas e muita magnificência, visto que, ao que se diz, tem ocupado vários acres de terreno em sua total extensão.”[1]
Lorenzo Frau Abrines afirma, todavia, que foi assim chamada uma torre da Escócia, primeira construção dos Maçons daquele país[2]. Outros[3] asseguram, porém, que a lenda surgiu do fato de se pretender que uma Loja existiu, no século XV, ligada à abadia.
Outra tradição nos chega através do trabalho do Rev. W. Lee Ker, Mother Lodge of Kilwinning; do qual Albert Lantoine reproduz uma passagem, na qual afirma o Reverendo existir “uma tradição que se acredita poder fazer remontar no ano 1658, pela qual a Loja de Perth declara que o templo dos freemasons de Kilwinning era o primeiro a ser instituído na Escócia e que esta tradição podia ser fixada no ano 1190.”[4]
Kilwinning foi envolvida em muitas lendas e supostas tradições, confidenciadas por uns, sem qualquer prova, e aceitas por outros com toda a boa fé, inclusive por escritores como Mackey. No entanto, historiadores modernos como o Irmão D. Murray Lyon – que Mackey, a quem a lenda agradava pela sua ligação com o Rito Escocês, trata de iconoclastas – destruíram não somente esta, mas ainda outras lendas que lhe estavam ligadas, como a da fraternidade secreta de Harodim, instituída por Robert Bruce rei da Escócia, em Kilwinníng, tendo preferido trabalhar sobre documentos mais positivos e, sobretudo autênticos.
Entretanto, em 1598 e em 1599, foram publicados os denominados Estatutos Schaw, regulamentos decretados por William Schaw, Arquiteto do Rei e Vigilante Geral dos Pedreiros da Escócia. O primeiro é dirigido a todos os Maçons, o segundo, porém, estabelece a antiguidade das Lojas então existentes na Escócia e estatui o seguinte:
“É declarado necessário e expediente por milord o vigilante geral que Edimburgo será em todos os tempos, como anteriormente, considerada a primeira Loja, e Kilwmning como a segunda, por ser notoriamente manifesto em nossas antigas escrituras que era considerada como tal antes, e que Sterling será a terceira, em consequência de antigos privilégios.” [5]
Através dos estudos e pesquisas a que se dedicara o historiador inglês R. F. Gould, a fim de estabelecer o histórico da Maçonaria na Escócia, tendo por base as atas e os registros das lojas, verificou que enquanto a Loja de Edimburgo conservava tais documentos desde o ano 1599, os da Loja de Kilwinning datavam apenas de 1642.
Esse fato teve muita importância em 1736, quando da convenção de SaintMary’s Chapell, convocada para a fundação da Grande Loja da Escócia. Nesta ocasião, a Loja de Kilwinning apresentou a sua pretensão de ser a mais antiga loja da Escócia e que tinha, portanto direito de ser registrada, na relação das Lojas, com o N.º 1. Não lhe foi possível, não obstante, apresentar documentos hábeis que sustentassem estes pretensos direitos.
Reivindicou uma primazia que a levou a ficar solitária de 1744 a 1807. Agora, porém, aparece no começo da Lista das Lojas da Escócia, com o número 0 e a precedência de antes de 1598.
Autor: Nicola Aslan
Notas
[1] – MACKEY. Albert G. – An Encyclopaedia of Freemasonry.
[2] – ABRINES, Lorenzo Frau – Diccionario Enciclopedico Abreviado de Ia. Masoneria.
[3] – PIKE, Fred L. & KNIGHT, G. Norman – The Freemason’s l’ocket; Reference Book – F. Muller Ltda. – London – 1955, pág. 152.
[4] – LANTOINE, Albert – La Franc-Maçonne.rie chez ElIe – EmlIe Nourry – Paris – 1925, pág. 126.
[5] – PIKE, Fred L. & KNIGHT, G. Norman – The Pocket History of Freemasonry – F. Muller Ltd – London – 1963 pág. 172.