A Maçonaria escocesa não possuiu Old Charges como a sua congênere inglesa. As poucas cópias encontradas foram visivelmente copiadas de fontes inglesas, e uma ou duas citam ingenuamente os profissionais escoceses como leais ao Rei da Inglaterra[1].
Não obstante, a Maçonaria escocesa possui outros documentos do período operativo, como, por exemplo, as Cartas de Saint-Clair e, principalmente, os Estatutos Schaw que nenhum outro supera.
Na qualidade de Mestre das Obras da Coroa da Escócia e Vigilante Geral dos Pedreiros, William Schaw (1550-1602), que fora nomeado para este cargo, em 1593, por Jaime VI, promulgou dois regulamentos, em 1598 e 1599, os quais organizavam a associação e regulamentavam a profissão.
O primeiro, datado de 28 de dezembro de 1598, está escrito em papel e redigido em dialeto escocês.
Embora contendo substancialmente os regulamentos gerais encontrados nos manuscritos ingleses, deles difere materialmente em muitos particulares. Mestres, Companheiros e Aprendizes são claramente referidos, mas só como gradações de posição, e não como graus, e a palavra Ludge ou Loja é constantemente usada para definir o “lugar de reunião”[2].
Este regulamento circulou por todas as lojas escocesas e uma cópia dele consta do primeiro livro de atas da Loja Saint Mary’s Chapell, de Edimburgo. Outra cópia existe no livro de atas da adormecida Loja de Aitchinson’s Haven, enquanto o original desta e o segundo documento datado de 1599, são conservados pela Loja de Kilwinning[3]. Bernard E. Jones nos fornece um resumo deste célebre documento:
- Ordena-se aos Irmãos que observem as ordenações e sejam leais para com os outros, obedientes aos Vigilantes, Diáconos e Mestres, sendo honestos, diligentes e retos;
- Ninguém poderá tomar a seu cargo um trabalho a menos que possa completá-lo satisfatoriamente, e nenhum Mestre poderá suplantar outro, ou aceitar um trabalho incompleto, sem que o primeiro Mestre seja devidamente satisfeito.;
- Será feita anualmente a eleição de um Vigilante[4];
- Nenhum Mestre poderá ter mais de três Aprendizes no decorrer de sua vida e o Aprendiz não lhe deverá ser confiado por um espaço inferior a sete anos, e não poderá ser feito Companheiro se não tiver servido por um espaço adicional de sete anos. É proibido aos Mestres vender os seus Aprendizes ou receber um Aprendiz sem informar o Vigilante da Loja para que o seu nome e data de recepção sejam devidamente registrados;
- Nenhum Mestre ou Companheiro do Oficio poderá ser aceito ou admitido, a não ser em presença de seis Mestres e dois Entered Apprentices[5], sendo o Vigilante da Loja um dos seis. A data deverá ser devidamente registrada e “o seu nome e a sua marca”[6] inseridos no referido livro, junto com os nomes dos seis Mestres, dos Aprendizes e do Intendente;
- Ninguém poderia ser admitido sem um exame e uma prova de perícia. Um Mestre não está autorizado a empregar-se em trabalho a cargo de outro artífice, ou receber cowans[7] para trabalharem em sua sociedade ou companhia, ou mandar algum de seus serventes trabalhar com eles. Os Entered Apprentices não podem encarregar-se da execução de trabalhos acima do valor de dez libras;
- Qualquer contenda entre Mestres, Companheiros e Aprendizes deverá ser notificada à Loja dentro de vinte e quatro horas, e sua decisão aceita. Mestres e outros são obrigados a todas as precauções indispensáveis na montagem do andaime, e se ocorrerem acidentes por sua negligencia não poderão atuar como Mestres, ficando sujeitos a outros;
- Os Mestres não poderão receber Aprendizes fugitivos;
- Todos os membros devem assistir às reuniões quando legalmente prevenidos, e todos os Mestres presentes e qualquer assembleia ou reunião deverão jurar “por seu grande juramento” não esconder ou ocultar qualquer prejuízo causado a alguém ou ao proprietário do trabalho. Finalmente, as várias multas atribuídas ao que precede devem ser cobradas e distribuídas pelos oficiais da Loja[9].
O segundo Estatuto Schaw determina que a Loja de Edimburgo devia ser considerada a primeira Loja da Escócia e Kilwinning a segunda, Sterling seria a terceira “em consequência de antigos privilégios”. Esta é a primeira vez na história em que se fala de Lojas como corpos de pedreiros organizados.
Os Vigilantes (Mestres) de cada Loja. são responsáveis perante as autoridades pelos pedreiros sujeitos à sua loja, e regula a eleição desses Vigilantes. Autoriza aos Vigilantes de Kilwinning a examinar as habilitações dos Companheiros que estão dentro do seu distrito sobre a sua arte, profissão ou ciência, com o objetivo de tornar tais Vigilantes devidamente responsáveis por estas pessoas como sujeitas a eles.
Os Companheiros de Ofício na entrada, e antes de sua admissão, devem pagar à loja dez libras com dez shillings pelo valor das luvas, estando nesta importância incluído o valor do banquete.
Os Companheiros não poderão ser admitidos sem uma prova de habilitação suficiente. Os Aprendizes, na admissão, devem pagar seis libras para o banquete em comum, ou pagam a refeição. Os Vigilantes e Diáconos da Loja de Kilwinning devem tomar anualmente o juramento de todos os Mestres e Companheiros do Ofício confiados ao seu cuidado, e os mestres e seus serventes ou aprendizes não devem trabalhar com cowans.
Os Estatutos Schaw eram considerados na Escócia com a mesma veneração que os ingleses demonstravam às suas Old Charges. Cada Loja escocesa possuía uma cópia desses estatutos que lhe serviam de referência e constituíam a autoridade sob a qual eram controlados os membros operativos.
Em 1952, o Conde de Eglington doou à Grande Loja da Escócia os originais dos Estatutos Schaw, os quais se acham, agora, conservados na Biblioteca da Grande Loja.
Autor: Nicola Aslan
Notas
[1] – The Pocket History – pág. 171.
[2] – Mackey – Encyclopedia – Artigo Schaw, Statutes.
[3] – The Pocket Reference Book – pág. 240.
[4] – Aqui, Vigilante tem o sentido de Mestre da Loja, ou Venerável.
[5] – Entered Apprentice, ou Aprendiz Entrado ou Introduzido, era assim chamado aquele que depois de completar o seu aprendizado, permanecia mais sete anos de tempo adicional, antes de ser feito Companheiro. Era registrado nos livros da guilda, mas ainda não obtivera do seu mestre a liberdade de trabalhar como operário por sua própria conta. Era um estagiário, como diríamos atualmente. Neste estágio, era provável que tivesse recebido a Palavra do Maçom, sendo Knoop de opinião que tal coisa teria sido estabelecida por volta do ano 1550.
[6] – Durante o período operativo, cada talhador de pedra tinha uma marca particular que esculpia nas pedras por ele trabalhadas. Era como se fora a sua assinatura nos trabalhos que executava. As marcas eram desenhos geométricos representando cruzes, rodas, objetos os mais variados, peixes, etc., existindo, na relação apresentada por Bernard E. Jones, na sua obra, sob o n.a 44, encontrada no Stcnyhurst College, uma igual ao símbolo do IV Centenário do Rio de Janeiro.
Os Estatutos de Torgau, de 1462, referem-se a uma festa solene de admissão, quando era permitido ao trabalhador o uso de sua marca, Que lhe era proibido gravar antes de ser examinado e aprovado pela Mestre ou pelo Vigilante da Loja. Segundo o The Pocket Reference Book, pág. 172, a Loja de Aberdeen possui um bonito livro de Marcas, datando de 1670.
[7] – É o operário grosseiro que não possui o Mason’s Word. Posteriormente, o vocábulo adquiriu o sentido de “profano”
[8] – Bemard E. J’ones – Freemasons Guide and Compendium, páginas 128-129.
[9] – Idem, pág. 129.
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