As Religiões e a Maçonaria

“A devoção não está no joelho que se dobra, mas no coração, que não se vê dobrar” (Matias Aires)
 
Desde a antiguidade, por religião entende-se a relação do homem para com Deus ou com o divino. A religião assenta na diferença essencial que existe entre o homem e o animal, pois os animais não têm nenhuma religião. A diferença entre o homem e o animal consiste na consciência, na qual o homem tem por objeto de sua reflexão sua própria essência, sua própria espécie. Essa consciência pode converter em objeto outra realidade, outras coisas, de modo especial, seu próprio ser. Sinal disso é o pensamento, a linguagem e o amor humanos. Essa diferença entre o homem e o animal não só fundamenta a religião, mas também seu próprio ser infinito. Nisso está sua verdade. 
 
Por outro lado, a falsidade da religião está em o homem tornar independente de si mesmo ou seu próprio ser infinito, separando-o e apondo-­o como diferente de si, produzindo a bipolaridade Deus e Homem. 
 
O medo do desconhecido e a necessidade de dar sentido ao mundo que o cerca levaram o homem a fundar diversos sistemas de crenças, cerimônias e cultos – muitas vezes centrados na figura de um ente supremo – que o ajuda a compreender o significado último de sua própria natureza.
 
O ser humano é uma criatura instintivamente religiosa. 
 
Deus é o nosso mais forte arquétipo. As religiões com seus princípios e orientações para a busca do superior, do divino, de Deus e de suas leis, auxiliam extraordinariamente o campo íntimo das criaturas que as aceitam. Mas será sempre necessário praticar e exemplificar os ensinos edificantes e não somente frequentar os templos e executar as cerimônias exteriores dos cultos religiosos. 
 
A primeira missão das religiões é provar que existe um Deus que nos criou e que, se o nosso corpo físico é perecível, a nossa alma é eterna. Provar também que Deus, pela sua imensidade, está em tudo que existe. E sobre o respeito que devemos ter por Deus e a reverência que a Ele devemos consagrar. As religiões foram sempre um conjunto de práticas pelas quais os homens simples procuram alcançar a amizade de Deus, os bens supremos da saúde, da força, da paz, da riqueza.
 
Há a que se aplica especialmente em purificar a ideia de Deus e em afirmar a indestrutibilidade do espírito humano; outra em mostrar a existência de uma Ordem Universal realizando-se por Leis; outra ainda, em exaltar o sentimento do dever ou amor ao próximo e a compaixão por todas as criaturas. 
 
Os valores religiosos verdadeiros, quando não deturpados em sua essência, constituem-­se em poderosos incentivos para o crescimento e iluminação das almas, por sugerir-­lhes, através da fé e da esperança, melhores condições no pensamento e nas ações. 
 
A Maçonaria proclama, desde a sua origem, a existência de um PRINCÍPIO CRIADOR, ao qual, em respeito a todas as religiões, denomina Grande Arquiteto do Universo. 
 
Em si própria a Maçonaria não é uma religião. Mas por isso mesmo que se abre a todos os homens, sem distinção de crenças religiosas. Coloca-­se imparcial entre todas as crenças religiosas e teorias filosóficas, e acima de todas as suas controvérsias, para fazer da liberdade de pensamento o seu fundamento. Cada um tem o direito de enaltecer o que cada Religião produziu de melhor
 
O pensamento essencial de nossa liturgia é utilizar todas essas criações do passado, ou pelos menos, uma parte de suas lendas, de seus símbolos, de suas cerimônias, para delas tirar os elementos de um sistema destinado a pôr em evidência as qualidades e as virtudes mais necessárias ao homem: a prática da solidariedade, a justificação da tolerância, a apologia do dever e do trabalho, o recurso incessante às luzes da razão e da consciência, a fé na liberdade e no progresso, a convicção de que, antes de tudo, convém caminhar de acordo com o poder que guia o mundo pela harmonia e para a retidão. 
 
A Maçonaria deixa livre a cada um dos seus membros adotar e seguir a religião de sua eleição, sem que os outros nada tenham a censurar-­lhes. 
 
O maçom deve ser fiel e serviçal entre todos os homens, sejam eles cristãos, budistas, muçulmanos, judeus, espíritas ou livres pensadores. 
 
Àquele que é conduzido entre as colunas de seus templos, a maçonaria diz: “Aqui ninguém te interpelará pela tua crença, nem te injuriará”. 
 
Nossa Instituição coloca, em primeiro plano, a prática da tolerância ou da solidariedade, visando mais particularmente ou a glorificação do trabalho ou o culto da vontade ou da Justiça. O iniciado pode assim contemplar alternativamente diversas fases do ideal a que aspira, aprendendo aos poucos, que deve procurar mais longe, e mais alto ainda, a plenitude da vida superior que deseja atingir subindo a escala das Iniciações Maçônicas.
 
Diz-se que a Maçonaria não deve pronunciar-se entre as filosofias, nem entre as Religiões. É exato. Entretanto, ela não pode se desinteressar das conclusões gerais que comportam o movimento do espírito. Ficando inteiramente alheia às disputas das Escolas e das Seitas. Deve, se quiser, exercer influência moral sobre seus adeptos, orientá-­los no domínio do intelectual para um fim conforme as necessidades e as aspirações de seu tempo
 
A Maçonaria, sempre ávida pela verdade, sempre pronta a aceitar as mais ousadas descobertas das ciências, não impondo limite ao livre exame, fica, na esfera do dever, profundamente idealista e soberanamente intransigente. Nisso reside a doutrina de que se pode prevalecer, sem faltar a seus princípios de tolerância e de universalidade. 
 
Enquanto muitos se apegam ao que julgam ser a verdade conquistada, o Maçom persiste em prosseguir certo de que ela existe em alguma parte e que está prestes a ser acolhida de onde quer que venha. 
 
A Maçonaria tem seus objetivos em comum com a religião porque o objetivo de ambas é a verdade, no sentido mais alto da palavra, isto é, enquanto Deus, e somente Deus, é a verdade. 
 
A verdade é o todo; é o absoluto; e este é Deus. Como todo, só e pensável e atingível pela mente humana. 
 
A Maçonaria não é adversária da religião, mas antes, é a sua melhor cooperadora. Porém, condena o fanatismo, a obsessão religiosa, a carolice. Não tolera a hipocrisia. 
 
Resumindo, o principal dever do maçom em matéria de religião é o da prática da tolerância absoluta em relação às crenças alheias, no elevado intuito de, a despeito dos seus antagonismos, aproximar todos os homens de boa vontade, sob a bandeira da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade. 
 
 
Autor: Valdemar Sansão 
ARLS  Arnaldo Alexandre Pereira – GLESP
Membro da Academia Brasileira Maçônica de Ciências, Artes e Letras 

 

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Contato: opontodentrodocirculo@gmail.com

3 comentários em “As Religiões e a Maçonaria”

  1. Bom dia meus IIrs.’. bom texto. Todavia acho temerário afirmações do tipo “a diferença essencial que existe entre o homem e o animal, pois os animais não têm nenhuma religião. A diferença entre o homem e o animal consiste na consciência, na qual o homem tem por objeto de sua reflexão sua própria essência, sua própria espécie.” Estas afirmações são humanas, logo é o nosso ponto de vista. Ao observar um pássaro contemplado o amanhecer em meu sítio, não acredito que ele não esteja na presença contemplativa de Deus. Temos um alfabeto brasileiro com 25 letras para formarmos nossos fonemas, os golfinhos tem mais de 360 sons e aos quais utilizam para formar seu complexo sistema de comunicação. Não consigo aceitar que somente o homem; homem este que atribui a Deus a sua forma humana, ser detentor de consciência.
    Temos consciência humana, somente humana. O resto é mera especulação. TFA

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