Orfismo, uma nova dimensão do homem grego

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Na Grécia, por volta do século VI a.C., surgiu uma religião de mistérios que teve como fundador Orfeu. As doutrinas e o gênero de vida adotado pelos seus seguidores, mostram o orfismo como uma religião de questionamento que rejeita expressamente à religião oficial cuja principal forma de oferenda aos deuses era o sacrifício sangrento. O orfismo era popular, e nele se fazia necessária a iniciação pelos orfeotelestaí de seus seguidores os quais não poderiam revelar os segredos da iniciação e as suas doutrinas a quem estivesse fora do círculo. O orfismo era fechado, de caráter popular, extraoficial e se contrapunha à religião oficial da cidade grega.

Introdução

Ao lado da religião cívica grega existiam os mistérios, considerados em Platão o ponto nobre da religiosidade grega. Eles eram caracterizados pela iniciação e pela proibição da comunicação de seus preceitos às pessoas fora do circulo iniciático.

Os Mistérios de Elêusis são os mais estudados e encontramos uma vasta bibliografia sobre eles. Existiam, entretanto, outros mistérios e, entre eles, destaca-se o orfismo pelas referências encontradas em Platão e da alusão de suas doutrinas em vários escritores gregos.

O orfismo é visto com ceticismo por muitos estudiosos, as pesquisas atuais, porém, tendem a derruir a tese daqueles que acreditavam na inexistência desse movimento. E um estudo pormenorizado sobre os órficos e suas doutrinas torna-se basilar para compreendermos a espiritualidade grega em todas as suas características.

1 – Teogonia e Cosmogonia: do Uno ao Múltiplo

A teogonia e cosmogonia órfica representam um rompimento com a tradição de Hesíodo.

Em Hesíodo, o universo surge do Caos, do inorganizado. A partir daí, organizar-se-á sob a autoridade de Zeus, em etapas sucessivas. Esse processo marca a soberania de Zeus no universo. Detienne define essa teogonia e cosmogonia como “o processo que vai do não ser ao ser” (1988, p.176).

Contrário a esse pensamento e ás crenças e formas de adoração que ele fez surgir no Mundo Grego aparece o orfismo. Religião que exalta Zagreu, ou o primeiro Dioniso.

No orfismo, ocorre o processo inverso de Hesíodo. O universo não tem origem no Caos, mas no Ovo Primordial[1], símbolo da vida, a plenitude do Ser. O ovo primeiro e perfeito vai corrompendo-se pouco a pouco para dar origem a formas distintas e individuais que representam o “não ser da existência” (DETIENNE, 1988, p.176). No orfismo o processo é do ser ao não ser individual.

No princípio existia a Noite primoponenda e não gerada. Em seu seio formou-se o Tempo e, ulteriormente, Caos/Éter. O Tempo, entrementes, produziu o Ovo primordial do qual nasceu Fanes, criador do mundo e das divindades subsequentes, Céu/Terra, Crono/Rea, Zeus.

Zeus derrota seu pai Crono, devora Fanes e a criação. Cria, então, um novo mundo tornando-se o princípio do Todo. Doravante, nasce Dioniso e Zeus cede seu poder a ele, mas, antes que assumisse o trono de seu pai, foi morto pelos Titãs a mando de Hera.

Hera, esposa de Zeus, usa dos Titãs para perseguir Dioniso que foge e esconde-se com a ajuda de seu meio irmão Apolo no monte Parnaso. Os Titãs continuando a perseguição, encontram-no e sacrificam-no, estraçalhando-o e devorando-o em parte cru, em parte cozido.

O coração de Zagreu foi a única sobra do banquete. Palas-Atena recolheu-o e entregou-o a Zeus, que fez Sémele, sua amante mortal, comê-lo; ela, logo após, engravida. Hera interfere novamente e consegue a morte da filha de Cadmo por meio de artimanhas. Mesmo não tendo ainda terminada a gestação, Zeus consegue salvar a criança e costura-a em sua perna. Dioniso renasce depois de nove meses. E os Titãs perseguem-no e devoram-no, repetindo o círculo infinitamente.

Os Titãs que assassinaram e alimentaram-se do filho de Zeus foram fulminados pelo supremo senhor do Olimpo. Das suas cinzas surgem os homens, marcados por um lado divino e espiritual ou dionisíaco; outro de origem titânica, material e corporal.

Esse mito representa a dualidade bem e mal no homem. Segundo Reale (1993, p. 385), “é evidente em que sentido e medida este mito pode constituir a base de uma ética. Ele explica a constante tendência ao bem e ao mal presente nos homens: a parte dionisíaca é a alma (e liga-se a tendência ao bem), a parte titânica é o corpo (e liga-se a ela a tendência ao mal)”.

Para o homem poder libertar-se de sua parte monstruosa ou titânica e do círculo de reencarnações, ele deve submeter-se a uma rigorosa ascese e cumprir os preceitos de Orfeu.

Mas quem era Orfeu?

1.1 – Orfeu e seu mito

Orfeu, para dar fim ao círculo de reencarnações funda uma religião: o orfismo.

O fundador e criador das doutrinas que levarão o homem à salvação, é, segundo o mito, filho da musa Calíope e de Oeagro. De acordo com outra versão era filho de Apolo.

Apolo deu-lhe uma lira que, ao ser tocada, encantava todos à sua volta, das plantas às pessoas.

Um acontecimento importante em sua vida foi seu casamento com Eurídice, uma ninfa. Colhendo flores, ela é picada por uma serpente, causando seu envenenamento e, posteriormente, sua morte.

O poeta músico, inconformado com a perda de sua amada, decide buscá-la no inferno. Conseguindo vencer todos os desafios e obstáculos graças à ajuda de sua música, chega à presença de Hades e Perséfone, senhor e senhora do inferno, e obtém a restituição de sua esposa, com uma condição: ele iria à sua frente, ela o seguiria sem que ele olhasse para trás, enquanto não saíssem do inferno. Não resistindo à tentação, ele olha-a e, como punição, perde Eurídice para sempre.

A sua viagem ao inferno instrui-o nos conhecimentos do mundo inferior e da morte, dando-lhe condição e conhecimento para interromper o círculo de reencarnações. “A viagem ao inferno lhe trouxe a sabedoria sobre a outra vida, que lhe cumpria revelar a alguns homens privilegiados” (TRINGALE, 1990, p.16).

Orfeu, ao voltar do Hades para a Trácia, é assassinado por mulheres que o estraçalham e devoram-no, assim como os Titãs fizeram com Dioniso. As mulheres, porém, que se alimentaram de sua carne são libertadas do círculo das reencarnações. Tornaram-se purificadas.

A morte de Orfeu é um dos episódios mais controvertidos em seu mito. Uma versão fala que ao perder Eurídice, ele desinteressa-se pelas mulheres e volta-se ao homossexualismo; para se vingarem, as mulheres enciumadas assassinam-no. Outra versão fala que o que aconteceu foi pelo fato de que Orfeu, após voltar do inferno, revoltou-se com Dioniso e recaiu no culto de Apolo. O deus do vinho, enciumado com a transgressão de seu sacerdote, incita as “bacantes” a assassiná-lo. Fundamentalmente, seu assassinato foi devido ao ciúme, assim como o de Dioniso.

A semelhança entre ambos remete à influencia do mito de Dioniso sobre o de Orfeu.

1.2 – Orfeu, uma personagem histórica

Na seção anterior tentamos mostrar o mito de Orfeu; agora relataremos fatos que tenham algum embasamento histórico sobre ele e a doutrina atribuída ao mesmo.

O mais antigo texto que fala de Orfeu é do poeta Íbico datado do século VI a.C. O texto já traz Orfeu como uma personagem famosa[2]. Mas ir além do nome e chegar à personagem é um trabalho árduo, porque dele não temos nada escrito apenas algumas ideias copiladas por Onomácrito.

Onomácrito, no século V a.C., segundo Aristóteles, compilou e interpolou versos atribuídos ao nome de Orfeu, reconhecendo a existência de um movimento espiritual inspirado na figura do músico da Trácia.

Nos séculos V e IV a.C., encontramos doutrinas órficas nas obras de Platão e nos restos de um rolo de papiro encontrados em 1962, em Derveni, região perto de Tessalônica, contendo um comentário sobre uma cosmogonia órfica.

Os restos do papiro confirmam a tese de que essa religião estava presente e influenciou a época clássica, mas sua influência maior foi no período helenístico, como comenta Vernant (1992, p.87):

Essa corrente religiosa, na diversidade das suas formas, pertence, quanto ao essencial, ao helenismo tardio ao longo do qual assumirá maior amplitude. Mas muitas descobertas recentes vieram confirmar a opinião dos historiadores convencidos de que seria preciso dar-lhe um lugar na religião da época clássica.

2 – A chegada de Dionísio à Grécia e o surgimento do Orfismo

Dioniso é estrangeiro e foi inserido no Mundo Grego[3]. Antes de seu aparecimento, na Grécia existiam duas religiões principais – cabe notar que não eram as únicas, mas as mais influentes – a de Apolo e, em Elêusis, a de Deméter.

A religião da grande Mãe era de mistérios, seu culto era popular e fazia-se necessária a iniciação para nele participar. A de Apolo, por outro lado, mantinha um caráter cívico e era considerada mais ou menos oficial em grande parte do território grego.

Em meio a essas religiões, apareceu Dioniso e sua nova forma de ritual que invadiu e influenciou as outras duas concepções religiosas.

A chegada de Dioniso à Grécia, porém, não foi tranquila em relação à religião oficial. “Ela se opunha radicalmente à religião de Apolo. À serenidade olímpica de Apolo contrapunha um espírito selvagem, bárbaro, orgiástico” (TRINGALE, 1990, p.18). Para conciliar o espírito “bárbaro” de Dioniso e a “serenidade” de Apolo, surge o orfismo.

Orfeu, supõe-se, era devoto ou sacerdote de Apolo, convertido à religião de Baco, acaba reformando-a dentro do espírito de Apolo, conciliando o apolíneo e o dionisíaco. A religião de Dioniso civiliza-se[4] e permanece presente na Grécia em duas correntes de pensamento divergentes entre si: o dionisísmo e o orfismo.

As diferenças entre as duas correntes tonam-se claras no sentido das práticas e rituais. No dionisísmo, o ritual consiste em matar um animal, estraçalhar-lhe e comer-lhe a carne crua. O fiel que se alimentou com a carne comunica-se com a divindade. O orfismo prega uma prática radicalmente oposta. Nele a comunicação com o deus é desnecessária, porque o homem carrega em si uma parte divina, ele é o próprio Baco. A crença do homem ser deus fica clara ao lermos em uma lamela “eimi Bakkos”, ou seja, “eu sou Baco” (apud BRANDÃO, 1990, p.31). Essa diferença no significado da relação do homem com a divindade permanece presente e justifica toda a prática de ambos os movimentos.

Outra diferença importante é que o orfismo é secreto e suas doutrinas acessíveis apenas aos iniciados pelos Orfeotelestaí e o dionisísmo e suas festas tornaram-se, em Atenas, abertas e de caráter cívico, embora algumas de suas doutrinas ainda permanecessem restritas apenas aos iniciados.

3 – O orfismo e sua nova mensagem

3.1 – A oposição ao sacrifício sangrento da Pólis e sua acepção

A tradição grega prega o sacrifício sangrento que é pleno de significações.

O primeiro sacrifício foi a partilha de um boi feita por Prometeu em Mecone, propondo a reconciliação entre deuses e mortais. O sacrifício terminou designando a separação entre a alimentação dos mortais e dos deuses, indicando, portanto, a condição de cada um.

Ao homem foi destinada toda a carne e aos deuses os odores das carnes. Com esse sacrifício, Prometeu condenou os homens à necessidade de alimentarem-se para sobreviverem e, consequentemente, a terem fome e estarem sujeitos à morte.

A partilha feita por Prometeu marcava a superioridade dos deuses em relação aos homens (Cf. DETIENNE, 1988, p.175).

Para os órficos, o sacrifício sangrento representa o festim feito pelos Titãs com o corpo de Zagreu. Mas seu significado é muito mais amplo. Ao rejeitarem comer carne, eles rejeitam essencialmente a superioridade dos deuses em relação aos homens:

A rejeição do sacrifício sangrento não consiste somente um afastamento, um desvio em relação à prática corrente. O vegetarianismo contradiz aquilo mesmo que o sacrifício implicava: a existência de um fosso intransponível entre homens e deuses, até no ritual que os põe em comunicação (VERNANT, 1992, p. 89).

Os adeptos do orfismo rejeitam todo o sistema religioso e político, o mundo, a visão de mundo vigorante até aquele momento.

3.2 – O orfismo, uma nova concepção de homem

A religião de Orfeu trás para a Grécia uma nova concepção de homem e seu relacionar com o mundo.

No pensamento de Hesíodo, o homem não é digno de um lugar importante no mundo, o que importa são os deuses imortais. Para comunicar-se com a divindade era necessária a prática do sacrifício sangrento.

Ao contrário, a religião de Orfeu considera o homem como possuidor da alma, de caráter oposto ao corpo, imortal, que descende da estirpe dos deuses.

O corpo, para os órficos, é a prisão da alma que nele deve espiar suas culpas cometidas nas vidas anteriores. Após a morte corporal, a alma é libertada. Se o morto não participou das iniciações e purificações que o gênero de vida órfico exige, o círculo de reencarnações repete-se.

Segundo Brandão (1990, p. 30), “[orfismo] ensina, ao contrário da fé tradicional, não como os deuses diferem radicalmente dos homens, com base na oposição entre imortais e mortais, mas como o homem tem em si algo de divino, podendo alcançar a imortalidade.”

A mensagem do orfismo é totalmente nova quando entra no Mundo Grego, porque formula uma doutrina cujo elemento importante não é o corpo ou os deuses, mas o homem e sua alma, enquanto a tradição grega pregava a adoração do corpo e de deuses imortais superiores ao homem. Essa nova crença perante o mundo, nota Reale (1993, p. 376), “inseriu na civilização europeia uma nova interpretação da existência humana” (grifo do autor).

A nova concepção órfica de mundo influenciará o pensamento grego de modo marcante em sua filosofia, arte e literatura.

4 – As Doutrinas Órficas

4.1 – As Práticas Órficas

As crenças órficas são integradas por uma vida prática rigorosa a qual pode salvar ou condenar a alma do homem. O corpo do orfismo era composto de uma moral, uma mística, uma liturgia e uma ascese.

Aos órficos era proibido o “assassinato” e a alimentação de carne, eles eram vegetarianos, não podiam ser sepultados com vestes de lã, não podiam entrar em contato com cadáveres,
eram obrigados a vestirem-se de branco. Eram proibidos de terem qualquer contato com o pertencente ao “mundo da morte” (DETIENNE, 1988, p.175).

O orfismo implicava não só a participação nos ritos e cerimônias, mas uma moral e ascese que incluíam penitências, jejuns, preces e a iniciação. Ele abarca a vida dos seus adeptos em todos os momentos e aspectos.

4.2 – Orfeotelestaí [5]

As práticas e iniciações órficas eram transmitidas e ensinadas pelos orfeotelestaí. Essas pessoas eram mendicantes que caminhavam por toda Helade, executando sacrifícios, obtendo “absolvição e purificação” para indivíduos ou cidades.

Vernant (1992, p.91) fala desses ambulantes comentando a opinião de Platão na República: “Esses personagens de sacerdotes marginais que, caminhando de cidade em cidade, apoiam sua ciência dos ritos secretos e encantamento na autoridade de Museu e de Orfeu, são de bom grado assimilados a um grupo de mágicos e charlatães explorando a credulidade pública.”

Mas convém observar que o que habilita os orfeotelestaí a promover ritos e a divulgar as doutrinas do orfismo é seu gênero de vida marginal semelhante às ideias órficas de contraposição ao sistema corrente. Segundo M. Detienne (1988, p.174), “uma das características fundamentais daquele que pratica o gênero de vida órfico (bios orphikos) é ser antes de mais um indivíduo marginal, um vagabundo separado do corpo social”.

4.3 – A Metempsicose

O orfismo tem como doutrina fundamental a imortalidade da alma. O homem possui duas características essenciais: o bem divino e o mal titânico. Sua parte má deve ser eliminada para ele voltar às suas origens divinas; para isso deve espiar suas culpas através da reencarnação, até a liberdade total de sua alma.

A doutrina da reencarnação é embasada em uma ética. A punição após a morte não explica por que a existência da dor humana e, principalmente, da dor injusta dos inocentes era permitida pelos deuses. A reencarnação explica: nessa doutrina não existem inocentes, todos são culpados, em vários graus, por culpas de várias gerações, cometidas nas vidas passadas. E a longa educação pela qual a alma passará no círculo de reencarnações a expiará de suas culpas e o seu último passo será a libertação da metempsicose e o retorno da alma à sua ascendência divina (Cf. DODDS, 2002, p.153-154).

4.4 – As Lamelas e o Destino Último das Almas

A maior parte da escatologia órfica foi revelada por tabuinhas encontradas em Petéleia, Túrio, Hipônio e Creta. Elas eram enterradas junto aos iniciados nos mistérios para guiar suas almas no além túmulo.

As lamelas encontradas em Hipônio indicam os caminhos cuja alma deve seguir ao entrar no mundo infernal. A alma é apresentada como “…filha da Terra e do Céu estrelado” (DETIENNE, 1988, p.177) e deve seguir o caminho da direita que leva a fonte que brota a água da Memória; em oposição ao caminho da esquerda que representa o Esquecimento.

A Memória é a água da vida e marca o fim do círculo de reencarnações; o Esquecimento é a água que representa a vida terrestre destruída pelo tempo e o não ser da existência.

Em Túrio, uma das lamelas encontradas indica como a alma do homem, originalmente, pertence à mesma descendência dos deuses.

Outra das lamelas encontradas em Túrio fala de como a alma passa de homem para deus:

Mas apenas a alma abandona a luz do sol à direita […] encenando, ela que conhece tudo junto. Alegra-te, tu que sofreste a paixão: antes não havias sofrido isto. De homem te tornaste Deus: cordeiro caíste no leite. Alegra-te, alegra-te, tomando o caminho à direita para os prados sagrados e os bosques de Perséfone (LAMELA ÓRFICA, apud REALE, 1993, p.382)[6].

Essas lamelas indicam como a alma dos iniciados libertar-se-á do cárcere do corpo e cumprirá seu destino último: tornar-se Deus.

Considerações Finais

A importância atribuída ao orfismo e suas doutrinas é muito variada em cada autor; alguns consideram-nas irrelevantes ou inexistentes; outros lhes atribuem a origem de todo o pensamento metafísico grego. O papel do movimento órfico permanece entre esses extremos. Devemos creditar importância as doutrinas da metempsicose, do corpo como prisão da alma e o fim último do homem no além-túmulo. Essas novas concepções da realidade mudaram a forma como os homens eram vistos: passaram de meros joguetes nas mãos dos deuses para agentes de sua própria ação e assumiram as consequências de seus atos.

Sem dúvida a tradição órfica existiu no período clássico e, estudando-a com a relevância necessária, talvez possamos compreender melhor esse povo que fascina tantas pessoas ao longo dos séculos, os gregos.

Autor: Anselmo Carvalho de Oliveira

Fonte: Ágora Filosófica – PUC-PE

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Notas

[1] – As cinco teogonias órficas conhecidas podem distinguirem-se em dois grupos: as chamadas “cosmogonias da Noite”, presentes na obra de Eudemo e no papiro de Derveni; e as “cosmogonias do Ovo” que se encontram em Jerônimo e Helânico e em Aristófanes. A teogonia nas Rapsódias sintetizam elementos de ambos os tipos: da Noite e do Ovo. Transcrevemos a última por representar, de modo geral, o quadro teogônico órfico.

[2] – “A mais antiga referência à personagem colhe-se do poeta Íbico de Régio, que viveu no século V.I: a. C, o qual fala do onomaklytón Orfhén (fr. 26, Adrados), isto é, do ‘renomado Orfeu’” (BRANDÃO, 1990, p. 26).

[3] – Cf. Brandão (1999, p. 117): “É quase certo que o aparecimento de Dioniso e sua tardia explosão no mito e na literatura se deveram sobretudo a causas políticas. […]Dioniso é um Deus humilde, um deus da vegetação, um deus dos campônios. Com seu êxtase e entusiasmo, o filho de Sêmele era uma série ameaça à pólis aristocrática, a pólis dos Eupátridas, ao status quo vigente, cujo suporte religioso eram os aristocratas deuses olímpicos”.

[4] – “Os cultos dionisíacos fazem parte integrante da religião cívica, e as festas em honra de Dioniso são celebradas, com o mesmo direito que todas as outras [festas religiosas] em seu lugar no calendário sagrado” (VERNANT, 1992, p. 82).

[5] – τελετη′: congregação, iniciação, cerimonia dos mistérios, festa religiosa, solenidade; όρϕεο: relativo à Orfeu e orfismo; όρϕεο−τελετη′: iniciadores nos mistérios órficos (Cf. ISIDORO PEREIRA, p. 419 e 469).

[6] – Lamela encontrada em Túrio. In: KERN, O. Orphicorum fragmenta. Berlim: Weidmann, 1922. p. 32.

Referências

BRANDÃO, Jacyntho José Lins. O orfismo no mundo helenístico. In: CARVALHO, Silvia Maria S. (org.). Orfeu, orfismo e viagens a mundos paralelos. São Paulo: Ed. Universidade Estadual Paulista, 1990. p. 25-34. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. V.II DETIENNE, Marcel. Orfismo. In: RICOEUR, Paul et al. Grécia e mito. Trad. de Leonor Rocha Vieira. Lisboa: Gradiva, 1988. p.174-178. DODDS, E. R. Os gregos e o irracional. Trad. de Paulo Domenech Oneto. São Paulo: Escuta, 2002.

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Contato: opontodentrodocirculo@gmail.com

Uma consideração sobre “Orfismo, uma nova dimensão do homem grego”

  1. Sou estudante de filosofia e acabei de ler o livro que você até colocou uns trechos, O Mito e a Religião na Grécia do Vernant, e esse artigo foi como um amarrar de pontas soltas. Muito obrigada, foi esclarecedor, completo, direto.

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