Que tempo é este

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Este é um tempo de carinhos privados e indiferença pública. Amigos que a vida uniu, separam-se ou fingem a separação que de fato não há. Camuflam sentimentos por exigência dos grupos aos quais passaram a pertencer. Este é um tempo em que o elogio ao amigo só pode ser feito pelo inbox do Face, por mensagem direta do Twitter ou por um texto rabiscado às pressas no bilhete que se perderá. Carinhos sussurrados e furtivos. Clandestinos. Publicamente as relações precisam ser negadas ou sonegadas.

Não há mais terra do meio, como se o mundo fosse formado apenas de pontas. Muitas pontas, pontiagudas. Pior para quem gosta do território interno, onde se sabe que há muitas verdades espalhadas ao redor e que o mundo é mistura de luz e sombra, dias e noites, verso e reverso. E o melhor são os versos.

Eles, os versos, contam de outros tempos sem mãos dadas. Hoje há punhos cerrados. Eles ferem sem ver os que o afeto deveria preservar, porque toda esta dor passará, toda esta angústia cessará, e cada um terá que reunir, ao fim das batalhas, os tesouros perdidos. E então será tarde demais.

Hoje é um tempo em que o brinde pela vida pode ser visto como ofensa, em que o amigo avisa que, por estar triste, não pode desejar alegrias a ninguém, mesmo que seja justo o motivo da celebração. Como se o mundo fosse música de uma única nota repetida e não a sequência harmoniosa de sons. Como se a vida fosse ponto fixo e não a sucessão de inebriantes fractais.

Chegaram flores e eu queria palavras, recebi uma mensagem vaga e esperava um abraço, enviaram o silêncio e eu preferia música. Desencontros. Tem sido assim este tempo. Vi o olhar desviante e lembrei-me dos olhos nos olhos de uma época mais calma e com fronteiras mais nítidas. Soube de rancores que não entendi. Aquela turma já não se encontra para rir do nada, como sempre fazia desde o início. Hoje, crispados, os amigos escolheram a distância.

Ouvi os elogios públicos feitos por uma amiga aos seus novos amigos e entendi, nas omissões, que ela escolhera o gueto, onde se sente protegida de contraditas. Naveguei pelos mares virtuais e vi que as pessoas estão se afastando, como barcos à deriva, e acreditam que o real é o imediato e não a imensidão toda do tempo. Assim, com desentendidos vamos construindo muros que talvez não sejamos capazes de derrubar.

Autora: Miriam Leitão

Fonte: Blog do Matheus Leitão

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Contato: opontodentrodocirculo@gmail.com

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