O debate sobre a probabilidade de existência de vida inteligente fora do planeta Terra é palpitante e povoa a mente de muita gente boa, em especial de pesquisadores e cientistas. Para os escritores e roteiristas de ficção científica, é um campo fértil.
No roçado da nossa política, a disputa entre as duas vertentes de maior destaque ainda inibe análises mais consistentes sobre alternativas que possam ensejar a descoberta de vida inteligente em outras agremiações não polarizadas, com propostas de mudanças que mereçam um olhar mais atento. Mas, isso é tema para as próximas eleições.
Na Maçonaria, a estratégia do distanciamento social adotado em decorrência da pandemia da Covid-19 abriu oportunidades para encontros por videoconferência, com a utilização das várias plataformas disponíveis, atenuando o impacto das restrições impostas a grande parte das atividades presenciais, que agora retomam a normalidade sob novas e promissoras perspectivas, inclusive com a incorporação do formato híbrido para reuniões de estudos.
Na experiência virtual, o ganho decorrente do compartilhamento de conhecimentos e informações promovidas pelos debates, palestras e comentários sobre as Instruções e outros temas correlatos é amplamente reconhecido na atualidade e abriu novas possibilidades de estreitamento dos laços de fraternidade e de pertencimento que representam a força da Maçonaria. Palestrantes e debatedores de peso se fizeram presentes e valorosos irmãos despontaram e vêm dando grande contribuição à democratização dos conhecimentos até então restritos a grupos esparsos de estudiosos. Um denominador comum em todos os eventos é o depoimento quase unânime: “aprendi mais nesses últimos três anos de maçonaria virtual[1] do que em toda a minha vida maçônica”.
É evidente que esse novo cenário permitiu, além da formação de uma banca de excelentes palestrantes, uma avaliação mais acurada dos variados perfis de debatedores/instrutores e formas de abordagem dos temas em discussão, permitindo comparar diferenças entre as ritualísticas adotadas pelas várias Lojas e Ritos, sem entrar no mérito dos arcanos da Ordem a serem preservados e respeitados os protocolos de cada Potência. Uma visão crítica sobre as formas de gestão das Lojas ganhou novos contornos no sentido de despertar nas novéis lideranças o desafio de acreditar no potencial da inteligência coletiva dos obreiros, já que ela não é restrita apenas a grupos “a caminho da extinção”, cujos membros ainda se apregoam os detentores da Verdade, donos da Oficina ou se consideram eternos nos respectivos cargos. Não obstante a formalidade e competência dos irmãos na condução dos trabalhos nesses encontros virtuais, merece destaque o aguardado momento destinado às perguntas e comentários, o pinga fogo no ensejo de cada apresentação, com os palestrantes literalmente colocados contra a parede. Em decorrência da informalidade e descontração não permitidas em sessões ritualísticas presenciais, evidenciou-se um rico repertório de “causos” de irmãos mais audaciosos e profundos conhecedores dos meandros e bastidores da Arte Real, com habilidades e talentos para revelá-los em estilo dinâmico e descontraído, demonstrando que por trás da imagem de seriedade e sisudez que caracterizam os homens de terno preto há um vasto repertório de bom humor entranhado entre as colunas da sabedoria, da força e da beleza, que apenas aguarda o momento oportuno para acontecer. Como testemunhou um irmão em uma palestra recente:
“Lojas tristes, mal-humoradas e com clima de velório, onde visitantes não são recebidos com atenção e cordialidade e os obreiros entram mudos e saem calados, é para sacudir a poeira das sandálias e não mais retornar”.
Nos encontros virtuais, os melhores comentários ficam para o finalzinho, conhecido como “copo d’água”, quando não há eventual gravação e a quantidade de participantes diminui naturalmente, dado que um bom número se desliga assim que o palestrante termina sua apresentação. As observações mais contundentes ou sutilezas se constituem em valiosos pontos que merecem reflexão mais profunda. Os que permanecem até que o anfitrião feche a sala, comumente tachados de “fanáticos” pelos gozadores de plantão, não se acanham em proferir ressalvas quanto à leitura detalhada do currículo de alguns apresentadores, segundo os entendedores tão minuciosos que superam o tempo dedicado à apresentação em si. Mais revelações sensacionais colhidas seguem abaixo. Não interrompa a leitura aqui e descubra alguns segredinhos.
Há participantes que somente preenchem a lista de presenças e registram no “chat” pedido de cópia do trabalho e da gravação, se houver, para divulgação em sua Loja (será que divulgam?). Permanecem por alguns instantes e saem à francesa ou deixam a tela desligada para dedicarem-se a outros afazeres. Alguns mais geniais já chegaram a se vangloriar de terem assistido à duas ou mais palestras simultaneamente e terem feito perguntas em todas. Estes quando têm a oportunidade de se manifestar fazem outra palestra complementar e “se acham” ou desabafam, numa verdadeira “DR maçônica”. Há aqueles que somente aparecem quando presente(s) autoridade(s) de grosso calibre e pedem a palavra para tecer os mais rasgados elogios em exuberante ritual de deferência e bajulação. Não que não sejam merecidos, mas chegam a provocar constrangimentos em ouvidos mais sensíveis (“menos Batista, menos” – lembrando o personagem de Eliezer Motta).
Outros, mais irreverentes, comentam no “copo d’água” que determinados apresentadores devem pensar ou ter certeza de que os ouvintes são idiotas, pois não param de repetir velhos clichês de que “maçonaria não é religião”, ou de que “maçonaria não é cabala…não é alquimia…não é egípcia…não começou no Jardim do Éden”, e outras assertivas como: “não é permitido falar de política”, “não sejamos perjuros”, “Tiradentes não era maçom” etc., etc. e tal, como se isso fosse uma revelação em primeira mão e ninguém, exceto o próprio do alto de sua incomensurável sabedoria, soubesse disso. E daí as crucificações captadas nas entrelinhas, sempre com muito respeito, admiração e de forma bastante sutil: “quanta prolixidade”, “esse mano é meio guruzento”, “já estamos cansados de ouvir isso”, “é uma afronta à nossa inteligência”, “parece disco de vinil arranhado que sempre repete o mesmo ponto da gravação”, “esse(s) irmão(s) pensa(m) que não há vida inteligente na Maçonaria”, “pelo menos somos altruístas, tolerantes e bons ouvintes….mesmo assim valeu o aprendizado…..gratidão, gratidão, gratidão…”.
Quase ficava de fora: de vez em quando aparece um impatriota que nos faz lembrar certo complexo famoso definido pelo escritor e jornalista Nelson Rodrigues, afirmando que “maçonaria boa é a dos EUA ou da GLUI”. “Então, mude prá lá”, rebateu certa feita um destacado e querido irmão desprovido de estopim, mas sempre aplaudido pela sinceridade e bom coração. Desabafo chiquíssimo, já que o superlativo “chiquérrimo” ainda não foi recepcionado pela norma culta da língua portuguesa.
Evidentemente, permitimo-nos trazer essas observações colhidas nos debates, dizem “até fictícias”, com o devido respeito, imaginando que não terão maiores consequências, nem despertarão a ira de um irmão mais conservador ou daquele(s) que se reconheça(m) no perfil descrito. Ademais, se algum Maçom se deu ao trabalho de ler este texto até este parágrafo, rendemos-lhe nossos elogios e sinceros parabéns, pois, segundo dizem, apenas 10% dos que iniciaram a leitura chegaram até este ponto. É uma piada bem sem-graça de que Maçons não gostam de ler. Não concordamos! Essa reflexão constou de um artigo intitulado “O Bom Humor na Maçonaria”, publicado na extinta Revista Maçônica TRIÂNGULO, Ano II, Nº 5, de 23.03.2013, da GLMMG. Enfim, sem nos alongarmos, repercutindo a conclusão do citado artigo, e para não acelerar o processo de fadiga de material nesses novos tempos de reflexão “minuto”, fica um ensinamento da Organização Brahma Kumaris para aqueles que ainda veem o bom humor com certa desconfiança:
“A alegria reflete o frescor de tudo que é novo. Está sempre pronta para extrair o que há de bom em tudo, com a leveza de uma criança e a genialidade de um sábio. Não importa o que esteja acontecendo, sorria. O sorriso é a ponte que permite a aproximação dos corações ressentidos”.
“O tempo que uma pessoa passa rindo é o tempo que ela passa com os deuses”. (Homero)
Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.
Nota
[1] Vide Artigo Maçonaria Virtual – ameaça ou oportunidade?, em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2023/02/28/maconaria-virtual-ameaca-ou-oportunidade/

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