Egrégora maçônica: uma visão crítica

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1. Introdução

A Maçonaria Moderna identifica-se, de forma geral, com um mote: “a busca da verdade”. Por sua vasta história e amplitude geográfica, produziu ritos diversos e linhas de estudo que podem ser equiparadas às múltiplas vertentes do conhecimento humano. Mas, por mais diversas que sejam suas formas de atuação, a Ordem Maçônica não pode olvidar-se quanto ao compromisso de seu objetivo principal: elucidar a mente e dissipar as trevas da ignorância.

No entanto, alguns temas suscitam maiores reflexões do que outros. O tema do presente trabalho – “A Egrégora Maçônica” – é um destes que se apresenta arenoso. Eivado de muitas ilações, sensações, até crenças, constrói ambiente enigmático para o pesquisador maçônico atento ao intento de atingir-se certo grau de assertividade. Diante desta circunstância, a ARLS Caminho de Luz, que adota o REAA, permitiu-se adicionar um subtítulo ao tema, qual seja, “Uma Visão Crítica”.

A visão crítica a que se refere aqui é aquela que busca identificar os reais fundamentos de qualquer premissa. Uma vez esmiuçado o conceito, reconstrói-se o mesmo com a responsabilidade de referenciar a pesquisa, a lógica e a razão, e não crendices efêmeras ou sensações pessoais.

Egrégora, para muitos Maçons, significa a reunião de forças mentais e espirituais dos irmãos congregados em Loja, na presença de uma entidade espiritual. Ou ainda, conforme o Rito, a ligação psíquica e espiritual à essência de todo Maçom que existe ou já existiu.

Assim, ouve-se em reuniões maçônicas do REAA explicações das mais variadas formas, se utilizando do misticismo, esoterismo, e de tantas outras quase ciências para tentar dar sentido para reunião dos irmãos em loja.

No entanto, baseando-se em um resgate histórico, nos fundamentos iluministas da Maçonaria Especulativa, bem como no berço de nascença do REAA, outro significado para “Egrégora” pode ser identificado.

A despeito das cargas esotéricas, a união de desígnios e o foco comum na execução ritualística apresentam-se, aparentemente, como fatores importantes a serem estudados na geração do chamado “espírito de corpo”, de pertencimento e aglutinação.

Em razão desta dualidade de conceitos, tão díspares, o tema foi desenvolvido buscando um resgate histórico do contexto da formação da maçonaria especulativa, e, nesta esteira, a identificação dos objetivos eleitos para serem a razão de atuar da maçonaria através do REAA. Em sequência, buscar-se-á verificar se é plausível a hipótese de que a maçonaria brasileira, impregnada pela forte presença da mística latina, deturpou premissas iluministas do REAA ao fazer inserir passagens ritualísticas e conceitos exógenos em sua doutrina. Com isso, pretende-se identificar racionalmente os motivos pelos quais os irmãos se reúnem com espírito mais associativo e profícuo em algumas sessões do que em outras.

2. Desenvolvimento

2.1. Brevíssimo resgate histórico

A Maçonaria foi levada para França pelos Stuarts e sua corte, quando estes foram exilados no Castelo de Saint Germain. Teria sido a primeira manifestação maçônica em território francês. Descende ainda, conforme o historiador G. Bord, do regimento criado por Carlos II, chamado Guardas Irlandeses (Procedimentos Ritualísticos 1º Grau, p.9).

Ainda na França, o gérmen do Rito Escocês Antigo e Aceito bebe do Iluminismo, que rompe com a lógica obscurantista e passa ao pensamento científico racional. Representava a vitória da ciência sobre a superstição que dominava o pensamento medieval.

Também, pudera. Na Idade Média, período que durou do Século X ao XV o homem viveu aprisionado em seu pequeno mundo, cheio de superstições e medos. Com pouquíssimas pessoas alfabetizadas de fora do clero, a Igreja atuava como fornecedora de justificativas religiosas para todos os momentos. As epidemias e catástrofes eram quase sempre atribuídas ao diabo e resolvidas com exorcismos, sinais da cruz e outros simbolismos.

Os reis respeitavam o poder da Igreja e essa, por sua vez, dependia deles para sua proteção e patrocínio. Tendo o controle do poder espiritual, e também político e financeiro, a Igreja Católica foi responsável por manter a ordem social da Idade Média.

Isto fica evidente, com base no fragmento de um texto da época:

“Deus quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira que os senhores estejam obrigados a venerar e amar a Deus, e que os servos estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor (…).”

O surgimento da Maçonaria Especulativa está intimamente ligado com vários acontecimentos ocorridos na Europa. No final do século XV, o Mercantilismo permitiu o surgimento das pequenas indústrias, e as expansões marítimas trouxeram mudanças na consciência popular. O ceticismo, que questionava a autoridade tradicional (nobreza e clero) desaguaria em conceitos mais claros e universais.

Princípios humanistas resgatam a filosofia da Grécia Antiga, tentando encontrar explicações racionais sem a utilização da religião e da superstição.

O século XVIII trouxe uma nova etapa ao Renascimento, o Iluminismo. Seus ideais espalharam-se por quase toda Europa, jogando luz sob as ideias obsoletas e supersticiosas da Idade Média, conhecida como a Noite dos Dez Séculos.

Os entraves para a evolução do homem precisavam ser retirados e com isso, a Razão deveria ser sua guia, substituindo a antiga crença religiosa e ganhando maior liberdade política, econômica e social.

Ao que consta, tanto o nascimento da Maçonaria Especulativa quanto o florescimento do REAA, advêm do homem ter relembrado sua especial condição: a racionalidade. Neste contexto, os grandes inimigos da maçonaria são eleitos e seus antídotos enfaticamente recomendados, chegando aos rituais franceses o juramento maçônico de se combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e o erros, além de se lutar perenemente contra o fanatismo e a superstição.

2.2. Os inimigos da maçonaria enfatizados no REAA

Identificado o contexto histórico francês do REAA, surge dúvida séria quanto à compatibilidade do conceito de Egrégora Maçônica em um rito que exige de seus membros o juramento de combater os grilhões da humanidade.

Assim, com o intuito de bem identificar os significados contidos nos substantivos que representam os inimigos da maçonaria, em especial para o REAA, é que se enxerga a necessidade do detalhamento dos seus conteúdos.

A maçonaria tem por objetivo o combate aos “grilhões” da humanidade, como o despotismo, o preconceito, a ignorância e o erro, dessa forma buscando glorificar a verdade e a justiça.

Entende-se por grilhões uma forma de restrição de liberdade, mas não somente ao sentido de liberdade como o de circular livremente, mas sim a liberdade de pensamento; liberdade essa que se alcança através da capacidade de discernir; e o discernimento, por sua vez, é alcançado pela razão.

O discernimento é necessário ao maçom, pois somente pode ser considerado livre aquele que não está aprisionado aos grilhões do preconceito, da ignorância, do erro e da superstição. A Razão unida à inteligência devem ser usadas pelo correto uso do Maço e do Cinzel. A Pedra Bruta deve ser transformada aplicando-se nela a Razão e a Inteligência para ser utilizada no Edifício Social como uma Pedra Cúbica, de forma justa e perfeita.

Entende-se por preconceito o juízo pré-concebido, que se manifesta numa atitude discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento sério.

ignorância é a condição da pessoa que não tem conhecimento da existência ou da funcionalidade de algo. O estado da pessoa desprovida de conhecimentos; sem cultura; condição de quem não tem estudo.

erro é definido como uma opinião, julgamento contrário à verdade. Falsa doutrina ou opinião falsa. Um engano ou equívoco.

superstição, outra masmorra da razão, pode ser definida como um desvio do sentimento religioso, fundado no temor ou na ignorância, e que empresta caráter sagrado a certas práticas destituídas de qualquer transcendência. Define-se, também, como uma crendice em que se confia em situações com relações de causalidade que não se podem mostrar de forma racional ou empírica. Ela geralmente está associada à suposição de que alguma força sobrenatural, que pode inclusive ser de origem religiosa, agiu para promover a suposta causalidade.

Superstições são, por definição, não fundamentadas em verificação de qualquer espécie. Elas podem estar baseadas em tradições populares, normalmente relacionadas com o pensamento mágico. O supersticioso acredita que certas ações (voluntárias ou não) podem influenciar de maneira transcendental a sua vida.

O elo causal entre a atitude do supersticioso e o efeito que se supõe ocorrer é, em muitos casos, difuso, muitas vezes não declarado e sempre impossível de ser verificado ou sem cunho científico.

Esta maneira de pensar contrária à razão, não só viola os princípios da ciência, mas aprisiona aquele que assim age. A maçonaria se levanta contra a superstição por já ter experimentado, nas brumas da história humana, a facilidade com que homens sem escrúpulos manipulam pessoas através de crendices, retirando-lhes a liberdade de ação e de pensamento.

2.3. A egrégora maçônica no REAA  e sua possível (e equivocada) origem

Algumas definições de egrégora maçônica que estão disponíveis em livros e repositórios levam o maçom a pensar em entidades terrenas e espirituais trabalhando juntas, com princípios místicos envolvidos, formando uma unidade ativada pela suposta energia do pensamento.

Para alguns autores, como Jorge Adoum e Nicola Aslam, a egrégora maçônica, se “bem feita”, com a reunião de fortes e idênticas vibrações, com pensamentos da mesma natureza, um ser verdadeiro ganharia vida e ficaria animado de uma força boa ou má, conforme o gênero dos pensamentos emitidos pelos participantes.

Orlando Soares da Costa, preceitua:

“O nosso corpo, tal como o planeta Terra, é um verdadeiro campo eletromagnético. As células do nosso corpo são basicamente compostos de sódio e potássio. Basta um pequeno conhecimento de física elementar para saber que nosso corpo físico é uma grande bateria. Cada célula do nosso corpo é ligada a três dos nossos sistemas: o Nervoso, o Circulatório e o Imunológico. Interessa-nos neste momento apenas o Nervoso. Este como sabemos, é formado por miríades de pequenos feixes capilares que se encontram em dois grandes eixos, os sistemas nervoso simpático e parassimpático, que se unem em um eixo central que é a medula, que conduz toda a carga energética ao conjunto cerebral em nossa caixa craniana, através do hipotálamo.”

Inclusive autores maçônicos que se autodenominam ligados ao REAA, identificam a presença do ente egrégora e atribuem-lhe uma posição central nas sessões ritualísticas. Um deles é Rizzardo da Camino. Em seu livro “O Aprendizado Maçônico”[1], ele nos traz:

“As Lojas mais “espiritualizadas”, emprestam à Cerimônia, atenção especial; há um fundo musical adequado; a luminosidade passa a ser mais amena com colorido adequado; todos de pé; o Oficiante ajoelha-se; ergue com ambas as mãos o Livro Sagrado e lhe faz a leitura. Esse momento é de expectativa. Os videntes notam a formação de um “SER ESPIRITUAL”, com semelhança ao ser humano, com características angélicas, envolto em nuvens diáfanas; cresse e cobre a todos os presentes, permanecendo em flutuação, tenuamente visível, sem perturbar pelo seu mistério. É “um corpo espiritual” que se forma; seus componentes são retirados da aura de cada um dos IIr.·. presentes. É a Egrégora. É o mistério que faz de cada um, um só ser; todos os Maçons passam a uma individualização única; é a harmonização dos pensamentos, dos ideais, dos propósitos; é a aura geral, o esplendor único. É a transformação do corpo físico em corpo místico; é a fusão de todos numa corrente divina. A Egrégora é um ser real, que permanece enquanto o Livro Sagrado permanecer aberto. E “ele” esse corpo divino e místico, esotérico e diáfano, faz parte da “cobertura celestial”. É a proteção real. Não há mais o porquê de um Ir.·. manter com outro qualquer dissonância, pois todos passaram a formar um só corpo, fundidos e imersos na Egrégora.”

A leitura das linhas acima, em contraste com as definições trazidas no tópico anterior sobre superstição, dá condição do pesquisador maçônico questionar a validade e existência desta entidade chamada egrégora. Afirmar pela existência e formação de um campo vibracional energético, sem qualquer lastro doutrinário ou simbólico oficialmente admitido pelos rituais, muito menos cientificamente válido, alcança, aparentemente, as raias da fantasia, encobrindo os reais motivos pelos quais os maçons, no REAA, se reúnem em sessão de Loja.

Diante de tal panorama, pergunta-se o real motivo dessa influência exacerbada do misticismo no pensamento maçônico latino. Por que razão a cultura maçônica brasileira aceita melhor os fatos explicados com base em argumentos metafísicos do que aqueles explicados com bases científicas?

Sem dúvida que a característica dos povos latinos de serem suscetíveis a influências do misticismo não lhe é exclusiva. A Humanidade de modo geral sempre esteve sujeita a influências de tudo aquilo que não se pode explicar. Desde as mais priscas eras, o pensamento do homem era levado por crenças místicas. Já na Grécia pré-socrática toda e qualquer explicação era dada com base em atos praticados por deuses ou semideuses de sua mitologia.

Mais tarde, com a ascensão do Império Romano, a cultura grega foi absorvida pelo povo romano e o misticismo foi mais arraigado ainda nas crenças da população.

Os latinos foram um antigo povo de origens indo-europeias estabelecido na Península Itálica, mais precisamente na costa do Mar Tirreno, na região hoje chamada de Lácio, local onde se encontra a cidade de Roma. Esse povo contribuiu de forma determinante na formação do povo romano, que absorveu sua língua e cultura. Por esta razão, muitas vezes o termo “latino” é empregado como sinônimo de “romano”.

Os latinos e depois os romanos antigos acreditavam serem descendentes de Marte, o Deus grego da guerra, relacionando a isso o caráter de ser um povo extremamente belicoso. Mesmo após a queda do Império Romano, com o domínio dos povos bárbaros, passou-se a evidenciar a crença monoteísta em um ser supremo.

Com o evoluir da História, os povos europeus passaram a sofrer pesada influência da Igreja Católica nas Idades Média e Moderna. Com o advento das grandes navegações, os colonizadores da América Latina, mais notadamente os espanhóis e portugueses, essa influência cruzou o oceano e desembarcou no novo continente, a América.

O indivíduo branco, que participou da formação da cultura brasileira fazia parte de vários grupos, que chegou ao país durante a época colonial. Além dos portugueses, vieram os espanhóis, de 1580 a 1640, durante a União Ibérica (período sob o qual Portugal ficou sob o domínio da Espanha). Entretanto, foi dos portugueses que recebemos a herança cultural fundamental, onde a história da imigração portuguesa no Brasil confunde-se com nossa própria história.

A mitologia portuguesa[2] é herdeira de um caldeirão de povos e culturas, com mitologias bastante diversas entre si, que deixaram um fértil legado imaginário. Engloba o conjunto de narrativas maravilhosas e lendas sobre personagens e suas façanhas, fenômenos naturais e objetos extraordinários ou regiões fantásticas, com características sobrenaturais, transmitidas de geração em geração, no decorrer dos séculos, tanto no campo literário como no da tradição oral. Todavia, um dos mais importantes legados portugueses foi a religião católica, crença de grande parte da população brasileira. O catolicismo, profundamente arraigado em Portugal, deixou no Brasil as tradições do calendário religioso, suas festas e procissões, tornando-se a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. Atualmente, o Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais. De acordo com o IBGE 73,8% da população brasileira declara-se católica.

Com isso, os povos latino-americanos obviamente acabaram formando uma cultura essencialmente misticista, em virtude de toda influência na sua formação social e política, não apenas de seus colonizadores mas também dos próprios povos que já habitavam o continente antes da invasão europeia. Portanto, seria pouquíssimo provável que tais povos se desvirtuassem dessa característica.

Como hipótese científica, admite-se que estas circunstâncias sociológicas pressionaram o contingente de maçons brasileiros a tal ponto que, por um conforto ideológico-religioso, preferiu-se optar em descaracterizar passagens ritualísticas e premissas doutrinárias do REAA, a buscar desenvolver-se aptidões de pesquisa metodológica científica geradoras da liberdade de espírito. Tal particularidade constitui, em conjectura, o fundamento da adição do conceito de egrégora maçônica dentro do REAA.

2.4. Egrégora maçônica vs. superstição e a autêntica espiritualidade

Há tempos o homem segue costumes, muitas vezes sem saber como surgiram e por que permanecem até hoje, quando tudo parece ter esclarecimento lógico e racional. Ocorre que infelizmente a sociedade é alimentada por dogmas culturais e mídia transbordada por uma pseudociência mística que mistura sua falácia com o jargão científico, mas rejeita o método científico como teste para suas teorias.

Uma pseudociência é um mito que reivindica status científico, mas não quer ser julgada como tal. Ironicamente, sua expansão só tende a aumentar, uma vez que nos oferecem aquela visão romântica da vida que queremos ver, e é muito fácil acreditar em algo quando estamos com sede de nos apegar a qualquer coisa. Todos os dias os nossos temas culturais, o nosso sistema educacional, nas revistas, nos jornais, na televisão, no rádio e mesmo nas escolas nos bombardeiam com elas.

Apesar de ser possível apontar características supersticiosas dentro de praticamente todas as religiões, é considerado um equívoco confundir as duas coisas. Religião não é magia. Enquanto uma prática supersticiosa, como um talismã ou uma simpatia, propõem melhorar nossa existência aqui e agora no mundo físico, a religião trata da vida espiritual. A superstição traz um benefício imediato, apenas por placebo, enquanto a religião busca a paz divina, envolvendo normas éticas e códigos de conduta.

Hipócrates de Cós é o pai da medicina. Ele é lembrado, principalmente, por causa do juramento hipocrático. Mas ele é celebrado sobretudo por seus esforços para arrancar a medicina do terreno da superstição e trazê-la à luz da ciência. Numa passagem peculiar, Hipócrates escreveu:

“Os homens acham a epilepsia divina, simplesmente porque não a compreendem. Mas se chamassem de divino tudo o que não compreendem, ora, as coisas divinas não teriam fim.”

A um Deus das Lacunas é atribuída a responsabilidade pelo que ainda não compreendemos. Como o conhecimento da medicina, tecnologia e demais disciplinas tem se desenvolvido progressivamente, cada vez mais aumenta o que compreendemos e diminui o que tinha de ser atribuído à intervenção divina ou magia.

Há milênios filósofos céticos cansados de respostas fáceis e despertados pela admiração e a curiosidade de descobrir o que há por trás dos mistérios que os cercam, instavam em atacar e desafiar tudo, a eles não escapando a crença nos deuses, que dominantemente é vislumbrado, de diversas formas, como factível de tal existência. Muitos, contudo, extinguem o politeísmo e a existência de um Deus antropomórfico (com formas humanas) conferindo a Este uma unidade: o Todo, o Uno, as leis que governam o universo, o Criador de um plano, A energia e matéria, o espirito de bondade e inteligência infinita, a Perfeição e as formas que denominamos de Natureza. O próprio gênio e físico Albert Einstein tinha sua concepção de que “Deus é a lei e o legislador do Universo“.

A busca pela verdade é campo da ciência e da racionalidade. O problema dessa busca é a capacidade de interpretação, pois na cultura popular prevalece uma espécie de Lei de Gresham, segundo a qual a ciência ruim expulsa a boa, nos tornando analfabetos da razão.

Há 2400 anos, Platão, no livro VII das Leis, deu a sua definição de analfabetismo científico:

“Aquele que não sabe contar um, dois, três, nem distinguir os números ímpares dos pares, ou que não sabe contar coisa alguma, nem a noite nem o dia, e que não tem noção da revolução do Sol e da Lua, nem das outras estrelas […]. Acho que todos os homens livres devem estudar esses ramos do conhecimento tanto quanto ensinam a uma criança no Egito[…] Com espanto, eu […] no final da vida, tenho tomado conhecimento de nossa ignorância sobre essas questões; acho que parecemos mais porcos do que homens, e tenho muita vergonha, não só de mim mesmo, mas de todos os gregos.”

Compete aos homens, por sua racionalidade, identificar e desmitificar todo conhecimento mal empregado, pela oportunidade de enxergarmos determinados costumes com o olhar crítico da ciência, onde a dúvida só pode ser sanada pelas lentes das evidências. O próprio ceticismo nos deu amparo para questionar o, até então, inexplicável e sermos livres de fato.

Nessa toada, livres e de bons costumes, os maçons tem o dever de se desvencilhar das amarras da falsa ciência. Os bons pedreiros, ao construírem seus edifícios e catedrais, carecem utilizar o conhecimento empírico e pragmático da engenharia, caso contrário suas obras tendem a ruir. Na vida espiritual (leia-se espirito como personalidade imaterial da consciência) os maçons têm os mesmos deveres, se desvencilhar das amarras da ignorância e do erro. Apesar disso vemos no meio maçônico alguns costumes que se assemelham às ditas superstições, dentre elas àquelas trazidas do meio profano e outras que se originaram dentro de Loja, vezes por má interpretação, outras por simples influência do meio cultural no transcorrer dos tempos. Nisso podemos citar o uso de amuletos ou termos empregados de forma duvidosa ou equivocada, tal como a concepção da egrégora maçônica por muitos.

3. Conclusão

Os motivos que levam os maçons do REAA a reunirem-se em Loja, não dependem de uma energia vibracional gerada entre os irmãos, os colocando em um uníssono ou sincronia, mas sim tal harmonia está em objetivos e ideais convergentes, a fim de poderem progredir nos trabalhos da maçonaria, em coerência com o Humanismo, que foi a base teórica e filosófica do movimento Iluminista.

Ao se reunirem, os maçons, obtém-se uma sinergia, resultado da somatória de todos os esforços voltados para os mesmos objetivos, mesmos fins, e que são muito claros para todos os praticantes do REAA: combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros; glorificar a Verdade e a Justiça; promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade; levantando Templos à virtude e cavando masmorras ao vício.

A maçonaria especulativa busca entender, por meio da razão, a Natureza e o papel do homem em seu meio, por isso luta por manter-se livre das superstições, temores e erros.

Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer a importância da espiritualidade que outros ritos maçônicos no Brasil conservam em suas práticas, tendo por base a formação religiosa do povo brasileiro, influenciada fortemente pela Igreja Católica, pelas religiões africanas e indígenas. E tal fato não é nem bom ou ruim, mas uma realidade com as quais os maçons devem aprender a conviver, em conformidade com os princípios da tolerância e livre credo.

Com ou sem mística, o que é de fato fundamental é agregar forças construtivas para que os maçons consigam dar formas concretas aos fins supremos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Autores: David Simão, João Duleba, Murilo França, Claudio Ramos, Ricardo Igor e Elton Rocha
Orientação: Paulo Henrique Berehulka

Essa peça de arquitetura foi apresentada pelos Irmãos Aprendizes da Loja Caminho de Luz, Oriente de Curitiba que a elaboraram por ocasião da realização Encontro Regional de Aprendizes e Companheiros do Grande Oriente do Brasil – Paraná em maio de 2017.

Fonte: Blog do Pedro Juk

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Notas

[1] – CAMINO. Rizzardo da, O Aprendizado Maçônico. São Paulo: Livraria Maçônica Paulo Fuchs, Maio de 2001. P. 96-97.

[2] – In MITOLOGIA Portuguesa [online]. Disponível na internet via https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_portuguesa. Consulta em 05 de abril de 2017

Referências Bibliográficas

Hernandes, Paulo Antonio Outeiro. Curso de formação de aprendizes do Rito Escocês Antigo e Aceito. 1º edição-Londrina-Ed. Maçônica “A Trolha”, 2015.

Bauer, Alain. O Nascimento da Franco Maçonaria – tradução Fulvio Lubisco São Paulo-Ed. Madras, 2008.

Pike, Albert e Pessoa, Fernando. As Origens e os Ensinamentos da Maçonaria– tradução Fulvio Lubisco. São Paulo-Ed. Madras, 2015.

Cortella, Mario Sergio. Pensar nos faz bem- filosofia, religião, ciência e educação. 5º edição- Petrópolis- Ed. Vozes, 2015.

Procedimentos Ritualísticos, 1º Grau Rito Escocês Antigo e Aceito. 2016.

Ritual, 1º Grau-Aprendiz Maçom- Rito Escocês Antigo e Aceito. 2009.

Outras Referências

http://curiosidadesmisteriosantigos.blogspot.com.br/2015/06/latinos-saga-de-um-povo.html

http://www.infoescola.com/mitologia-grega/teogonia-de-hesiodo/

http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2011/02/catequizacao-dos-povos-indigenas.html#!/tcmbck

http://www.suapesquisa.com/astecas/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%B5es_jesu%C3%ADticas_na_Am%C3%A9rica

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_portuguesa

https://www.todamateria.com.br/cultura-brasileira/

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAggYMAB/a-influencia-dos-povos-na-formacao-cultura-brasileira

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&view=article&id=308

Os conceitos apresentados, com adaptações, foram consultados nos seguintes sites: http://www.significados.com.brhttp://pt.wikipedia.org

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Egrégora – Visão Esotérica (Uma Contribuição ao Tema)

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A palavra Egrégora traz em seu bojo uma peculiar representação plenamente compreendida e assimilada por diferentes linhas esotéricas e/ou espiritualistas, inclusive pela Maçonaria. Observa-se, no entanto, alguns Irmãos a questionar a origem desta nomina, refutando sua existência apenas por não a encontrarem nos dicionários de referência da língua portuguesa.

Motivados pela celeuma, optamos por pesquisa mais acurada trazendo para a prancha o resultado deste estudo.

A eminente professora de Português Maria Tereza de Queiroz Piacentini informa a origem do termo Egrégora com sendo a mesma de “gregário”:

“que faz parte da grei, ou seja, rebanho, congregação, sociedade, conjunto de pessoas. No plano da espiritualidade usa-se o nome Egrégora para designar um grupo vibracional, um campo de energia sutil em que se congregam forças, pensamentos ou vibrações com um determinado fim ou direcionamento espiritual”.

No Dicionário Maçônico Completo, informa-se que a palavra Egrégora deriva do grego egrogorien, com o significado de “vigiar”. Há ainda uma terceira interpretação, como sendo a origem da palavra etimologicamente semelhante a “egregius” ou “egrégio”, com o significado de “distinto”, “ilustre”.

No entendimento do autor, das informações pesquisadas sobre a origem da palavra, a de Piacentini é a correta. Por outro lado, observamos que nos grandes compêndios da língua, a palavra Egrégora não consta do Novo Aurélio – Século XXI, tampouco no dicionário Houaiss, fato este que, no nosso entender, em nada invalida sua existência ou mesmo sua representação.

Isto nos leva a hipótese da criação de um neologismo – Egrégora – para representar uma idiossincrasia maçônica. Neologismo quer dizer palavra ou expressão nova, ou antiga com sentido novo; nova doutrina, sobretudo em teologia. Idiossincrasia quer dizer “disposição do temperamento do indivíduo, que o faz reagir de maneira pessoal à ação dos agentes externos”. Em outras palavras, é uma peculiaridade da pessoa, uma maneira diferente de ser, um modo próprio de sentir, ver a vida, reagir às coisas. Assim como todos nós temos nossas idiossincrasias, também podem tê-las as instituições, os países etc.

Desta forma, o pensamento maçônico sobre a Egrégora, representando a unificação dos objetivos e pensamentos durante o exercício do seu ritual no Templo Maçônico, é apenas uma questão de semântica. A compreensão destes fatos nos permitiu validar a existência da palavra Egrégora, tão comum e tão pouco compreendida nos trabalhos maçônicos, independentemente de seu reconhecimento, ainda, pelos tradicionais dicionários da língua.

Alguns Irmãos são resistentes às explicações transcendentais sobre os trabalhos da Maçonaria, debitando a isto a tentativa de impingir à Ordem conceitos externos incompatíveis com os princípios maçônicos. Ainda que respeitemos as opiniões discordantes, dentro dos preceitos da legítima Fraternidade, reservamos o direito de discordar, no pleno exercício da Liberdade que apregoamos.

O Conhecimento é um só, ainda que venha travestido de diferentes roupagens… “O Homem apenas inicia sua escalada na montanha do Conhecimento e, enquanto não alcançar seu ápice, não poderá afirmar que possui a visão completa que ela o permite. Mas qual é o limite deste Conhecimento? Quem pode defini-lo?”

Toda contribuição que possa auxiliar um Irmão a alcançar sua elevação iniciática… Que o auxilie em sua reforma íntima, no trabalho de seu próprio V.I.T.R.I.O.L, é válida e bem-vinda…

“Aprendemos que a Ciência busca a Verdade e é livre, tal qual o pensamento filosófico; ela não privilegia e tão pouco é estática. A verdade conceitual de hoje pode não o ser amanhã, cabendo a nós estudá-la e desvendá-la até alcançarmos a sua origem; conceitos serão mutáveis até alcançarmos “a causa primária de todas as coisas”.

Os campos de estudos maçônicos são numerosos, incluindo diferentes propostas ocultistas, onde a realidade destes campos energéticos é demonstrada e ensinada, ainda que expressos por nomes diferentes.

Muitos Irmãos preocupados com a grande obra que cabe à Maçonaria, em sua representação material, influenciando política e materialmente a nossa sociedade, objetivos válidos indiscutivelmente, se esquecem, ou desconhecem, que a maior obra de nossa Ordem esta no seu trabalho sócio espiritual, que edifica no Conhecimento, transmutando o Homem em “Espírito Livre” ou “Livre Pensador”, no interior de seu próprio “Templo Íntimo”.

O Pensamento: para melhor compreendermos o significado do que se intitula como “Egrégora”, necessário se faz, inicialmente, a compreensão do pensamento humano como elemento “construtor” de formas.

O Homem ainda não se deu conta do que representa o Pensamento e qual é o seu poder, poder de criar, edificar, modificar ou destruir. Informam os sábios ocultistas, que a energia sempre segue o Pensamento. “Como pensa o homem, assim ele é” informam os tratados de diferentes linhas esotéricas ou espirituais. O Homem verdadeiro, o “Pensador”, está envolto em um corpo composto de inumeráveis combinações da matéria sutil dos planos que o cercam. Expandido de acordo com o seu grau evolutivo, ele pode apresentar-se, ou não, com a aparência de uma luz viva e intensa e, quanto mais desenvolvida a inteligência do Ser, num sentido puro e desinteressado, maior sua fulguração. Quando emite um pensamento, dá origem a uma série de vibrações que imediatamente atuam na matéria extracorpórea, projetando para o exterior uma porção vibrante de si mesmo, assumindo forma determinada condizente com as vibrações emitidas, revestindo-as com a “matéria espiritual” do plano em que se situa, ou de onde o poder vibratório de seu pensamento alcança.

Desta maneira, temos uma “Forma-Pensamento Mental” pura e simples, uma entidade vivente temporária, criada e corporificada pela ideia que lhe deu nascimento. O Corpo Mental e o Emocional estão diretamente relacionados, no Homem, ao que é chamada de “Formas-Pensamento”, uma consequência de seu ato de pensar.

Mas qual seria o interesse, no presente estudo, neste tipo de fenômeno espiritual?

Emitindo uma ideia, passamos a refletir as que se lhe assemelham, ideia essa que para logo se corporifica, com intensidade correspondente à nossa insistência em sustentá-la, mantendo-nos, assim, espontaneamente em comunicação com todos os que nos esposem o modo de sentir. Quando um determinado número de pessoas se reúne com um objetivo em comum, seus pensamentos, unificados pelo mesmo ideal, produzem, consequentemente, uma “Forma-Pensamento” maior e mais poderosa.

É o que ocorre em uma Loja Maçônica, em seus trabalhos regulares, onde dezenas de Irmãos se reúnem envoltos em um só pensamento e ideal.

O Templo Maçônico: temos que entender, também, o Templo Maçônico como um Centro de Magnetismo.

Qualquer lugar onde se haja repetidas vezes celebrado uma cerimônia, sobretudo se instituída com vistas a um ideal elevado, ele está sempre impregnado de uma vibração especial.

Todos os elementos utilizados na edificação de um edifício, madeira, ferro, pedra, etc, emitem suas irradiações próprias, mas, o aspecto que desejamos destacar é que todos estes elementos são capazes de absorver a influência humana, e depois retransmiti-la. Quanto maior o tempo de exposição destes elementos a uma mesma irradiação, maior seu potencial de retransmissão; quanto mais velho o local de uso para as reuniões de uma Loja, mais impregnadas estarão suas estruturas físicas da energia emitida pela “Forma-Pensamento” do ritual maçônico.

Ao adentrar a este “centro magnético”, envoltos em suas emanações, os seus frequentadores serão estimulados ao respeito e seriedade compatíveis com o momento do trabalho, como também permitirá mais rápido acesso à corrente vibratória dos planos transcendentais que regem a nossa Ordem.

Participam deste “centro magnético”, potencializando seu poder energético, a sua arquitetura, seus símbolos, suas pinturas, etc, cada qual cumprindo um objetivo bem definido na condução do pensamento humano aos planos mais elevados.

Desta forma, o Templo Maçônico não representa apenas um lugar de culto ao GADU, mas também um centro de magnetismo através do qual fluem forças espirituais, tanto a benefício de seus frequentadores como para áreas circunvizinhas, até onde sua vibração alcance.

A Egrégora é a soma destes elementos: a comunhão de pensamentos dirigidos a um ideal elevado, o Templo, sua arquitetura, seus símbolos e seus rituais, irão constituir o que conhecemos por “Egrégora”. Uma grande “Forma-Pensamento” que traz Luz ao escuro plano material em que vivemos. Beneficia e desenvolve seus adeptos, elevando-os e transformando-os na alquimia de sua magia oculta, assim como, silenciosamente, estimula os neófitos ao alcance de suas vibrações, a uma vida mais fraterna e condizente com os princípios universais do Bem e da Verdade.

Tão potente será, quanto maior for a seriedade e o respeito com que seus membros conduzam seus trabalhos, dentro de um legítimo sentimento de devoção e religiosidade… Para tal, é fundamental que tenham o Conhecimento Maçônico, tanto quanto a consciência da extensão de suas responsabilidades.

O Homem transformado no Bem e na Verdade modifica a sociedade em que vive, assim como Homens transformados no Bem e na Verdade unidos, geram uma belíssima e potente “Egrégora”, Perfeita e Justa.

Autor: Alfredo Roberto Neto

Texto encaminhado ao blog pelo próprio autor.

Egrégoras: Um Falso Culto

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Circulam em Lojas Maçônicas dezenas de trabalhos sobre as chamadas “egrégoras”. Na internet, repleta de cultura e, também, com muito lixo, talvez, milhares de mensagens sobre egrégoras. Em meus tempos de Aprendiz e de Companheiro Maçom citei várias vezes as “egrégoras” em meus “Trabalhos de Arquitetura” aquela forma de energia maravilhosa de que todos falavam e enalteciam os seus efeitos sobrenaturais.

Chegando ao Mestrado Maçônico decidi não somente mencionar as egrégoras como uma Graça, uma dádiva do Grande Arquiteto, mais sim, também, de apresentar um trabalho completo aos meus Irmãos, fundamentado em pesquisas e opiniões coletadas em obras de escritores e pesquisadores maçônicos fidedignos. As fontes das pesquisas, se aqui relacionadas, preencheriam uma página inteira. Para minha grande surpresa, não encontrei absolutamente nada que explicasse as tais das egrégoras. Não satisfeito direcionei minhas investigações para Livros Sagrados: a Bíblia Sagrada em suas versões Presbiteriana, Pentencostal, Católica Pastoral; o Bhagavad-Gita e Alcorão em suas versões em português… Nada,… Nada, … Nada. Daquele dia em diante calei-me em respeito à crença de meus Irmãos devotos e defensores da existência das chamadas “egrégoras”.

Hoje, os absurdos que vejo aumentar a cada dia que passa, com Maçons em tentativas de transformar a Maçonaria em uma Instituição ocultista, enxertando na ritualística práticas supersticiosas, fazem-me, em defesa da Ordem e da razão, um crítico obstinado que não transige com superstições e não entrega seu destino, sua vontade e sua fé a inventados fantasmas; crenças em entidades que são rejeitadas, inclusive, pelas nossas tradicionais e respeitadas Instituições Cristãs.

Quando surgem discussões sobre as tais egrégoras, sempre me pergunto: vale a pena “entrar na briga” declarando textualmente que as chamadas egrégoras são uma invenção criada por fantasistas e que nada tem a ver com a Maçonaria? … Assim o digo.

Alguns defensores das egrégoras querem a sua presença em todas as Sociedades Místicas independentemente de seus dogmas, suas doutrinas e sua fé. E, diga-se de passagem, é claro, na Maçonaria. O vocábulo egrégora não consta em nenhum dicionário vernacular. Como qualquer palavra a imaginação de cada um pode pela morfologia construir sua etimologia a seu bel prazer, sem precisar provar nada – o papel, ou a net, aceita tudo. Por exemplo, podemos dizer que egrégora vem de Grego, de Igreja, de gregário, de egrégio, de egresso, de graal, de egolatria e por aí vai. Egrégora, além de não constar em nenhum dicionário idiomático, não consta também em nenhum Ritual de instituição mística séria, como a Cristã, a Judaica, a Islâmica, a Budista, a Hindu e outras não menos respeitáveis.

Podemos constatar que o conceito geral que fazem os defensores das chamadas egrégoras é de uma entidade engendrada e plasmada pela força da mente de seus devotos e que adquire individualidade, vontade própria e, boa ou má, interfere na vida e no destino das pessoas.

Avaliem, os respeitáveis Irmãos a questão: consta nos Rituais da Maçonaria, Simbólica ou Filosófica (Altos Graus), de qualquer Potência, de qualquer país ou idioma algo sobre as egrégoras? Alguma vez participastes de sessões maçônicas voltadas para práticas, técnicas e articulações místicas na intenção de desenvolver ou alimentar as chamadas egrégoras? Se isso não ocorreu, como podem ser devotos de algo que sequer sabem o que é? A conclusão salta aos olhos: pretendem, os defensores das egrégoras, que foi ALHEIO A SUA VONTADE. Como podem então, permitirem e crerem que a energia que emana de vossos corpos vá alimentar uma suposta entidade que não se sabe como atua, onde atua e quais os resultados de sua atuação? Queres crer em algo só porque te disseram que deves crer? Isso é o que se designa como Auto-engano – a crença em algo obviamente falso, que só se explica pela interferência de elementos superficiais ou subjetivos como o desejo, a paixão e o temor. O auto-engano é a mente do homem ludibriando a si mesma.

Muitos Maçons, Construtores Sociais que são e praticantes da Arte Real, já descobriram a verdade, mas, compreensivelmente se omitem, sabem que se manifestarem suas opiniões a desafeição com certeza se apresentará por aqueles, que embora bons Maçons, bons amigos e bons Irmãos, elegeram as chamadas egrégoras em dogma maçônico, esquecendo-se que em Maçonaria só existe uma invocação e esta e feita ao GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO QUE É DEUS. Invocar forças sobrenaturais em Loja Aberta é heresia maçônica.

Apesar de tudo, a fé de nossos Irmãos deve ser respeitada, assim promove a Maçonaria. Quem quiser crer e praticar as egrégoras, magias e “mancias” faça-o. A Maçonaria diz: “Cultiva a tua religião ininterruptamente, segue as inspirações de tua consciência; a Maçonaria não é uma religião, não professa um culto; quer a instrução leiga; sua doutrina se condensa toda nesta máxima – Ama o teu próximo” Todavia, devemos lembrar que o Templo maçônico não é local para invocações ou práticas estranhas a Maçonaria. Existem na doutrina maçônica elementos de algumas ciências ocultas, mas apenas como referências; como suporte indicativo para algum ensinamento moral ou social. Na Maçonaria estuda-se arte e ciência, e, dentre outras, fazem parte a Astrologia, a Numerologia e a Magia. Isto, porque “A Maçonaria não impõe nenhum limite à livre investigação da verdade”.

Todavia, devemos considerar que entre o estudo e a prática existem grandes distâncias doutrinárias. A Maçonaria não é uma escola ocultista, embora, muitos Maçons se esforcem para em tal transformá-la, pois, é mais fácil demonstrarem suas mestrias por conceitos sobrenaturais que não precisam ser explicados, a ter que estudar ler, pesquisar; fundamentar suas interpretações na verdade histórica, na razão, na racionalidade.

Não me queiram mal por pensar diferente. Não sigo uma linha religiosa rígida, mas sou religioso. Um dia ajoelhado em um Templo Maçônico alguém me perguntou “Senhor, nos extremos lances de vossa vida, em que depositais confiança? – respondi – EM DEUS”. E, não nas egrégoras.

Creio no Grande Arquiteto do Universo que é Deus; creio na sinergia vitalizadora que promove a fraternidade na Maçonaria e contempla nosso ser com a afetividade das virtudes maçônicas no abraço, no beijo e no sincero olhar amigo. Em fim, pelo meu lado religioso não permitirei que forças desconhecidas utilizem minha inteligência para supostamente criar entidades com vontade própria e com pretensos supremos poderes.

Os Ritos Maçônicos não são ocultistas e os Obreiros das Oficinas Maçônicas não são dependentes de forças ocultas, sejam elas originadas de respeitáveis instituições místicas ou das chamadas egrégoras sustentadas com a força motivadora da superstição. A egrégora é uma falsa entidade psíquica, um falso culto, um falso ídolo criado pela devoção errada do desconhecido, um falso censo de controle sobre nossos temores.

Muitas vezes confiamos em superstições para nos sentirmos mais seguros, isto, é contrário a razão e as idéias que devemos fazer de Deus. Não devemos entregar nossas vidas à supostas forças que desconhecemos, e as vãs promessas de felicidade e proteção, pois, isto é um desprezo à lógica e a razão, base do conhecimento natural ensinado em nossos Rituais. Como Maçons – Construtores Sociais – devemos ser investigadores da verdade e não nos entregarmos as superstições.

A manutenção da lenda do terceiro grau é um Landmark, justamente pelo maior ensinamento que prodigaliza: nunca procurarmos evoluir por métodos fáceis, sem o trabalho incessante e a prática da virtude.

Autor: Paulo Roberto Marinho
ARLS Vetúrio Gomes dos Santos Nº 132 – REAA GLMERJ – RJ

Fonte: Revista Universo Maçônico – Edição de 11 de junho de 2010

Egrégora Maçônica, existe?

EGREGORA

Pertenço ao grupo de irmãos que citou várias vezes “egrégora” em suas “Peças de Arquitetura”, inclusive em livro editado: em um tópico sobre a “Cadeia de União”. Os depoimentos de vários irmãos e as leituras de diversos textos destacando os benefícios daquela forma de energia e de seus efeitos sobrenaturais marcaram um significativo período de minha vida maçônica.

Entretanto, com o passar dos anos, persistindo em minha caminhada pela “busca da verdade‟, depararei com diversos textos, estudos e opiniões de outros pesquisadores maçônicos contestando o disseminado conceito de “egrégora‟. Diante de minha inquietude, resolvi arregaçar as mangas e realizar uma pesquisa pessoal sobre o tema. Debrucei-me sobre vários textos: artigos, livros, citações etc. (maçônicas e não maçônicas), e procurei o “confronto‟ entre os pensadores. Em nome da verdade, devo admitir que não encontrei absolutamente nada que comprove, justifique ou explique de forma coerente e racional a existência das “egrégoras”.

Inicialmente, vale o registro de que não encontrei o termo “egrégora” em nenhuma passagem nas versões na língua portuguesa de alguns principais Livros Sagrados que pesquisei: a Bíblia (católica e protestante), o Torá, o Bhagavad-Gita e o Alcorão; e nem em livros referentes ao kardecismo (“O Evangelho segundo Kardec”) e budismo (“A Bíblia do Budismo”). Nenhuma dessas obras relacionadas fazem qualquer citação ao termo “egrégora”. Da mesma forma, afirmo que nenhum dos rituais maçônicos que tive acesso, nos três graus simbólicos: Schröder, REAA, YORK, Brasileiro e Moderno, assim como os rituais dos Altos Graus do REAA e do Brasileiro, em nenhum deles, aparece a citação do termo “egrégora‟, muito menos de suas benesses.

Após complementar a pesquisa com diversas consultas à internet, conclui que existe um consenso entre os irmãos que questionam o uso do termo “egrégoras” na Maçonaria, de que o seu aparecimento no meio esotérico remonta a 1824 com o ocultista Eliphas Levi que a definiu como “capitães das almas”, e que, posteriormente, teve o seu sentido “adaptado‟ às diversas interpretações esotéricas-místicas-ocultistas que foram agregadas à Maçonaria ao longo dos anos por autores maçônicos franceses que, ao final do século XIX, insistiram em transformar a Maçonaria em um braço esotérico do espiritismo, tal como os seus antecessores ingleses insistiram em cristianizá-la.

As doutrinas que aceitam a existência das “egrégoras”, de diferentes formas, afirmam que elas estão presentes em todas as coletividades, sejam nas mais simples associações, ou mesmo nas assembleias religiosas,  “plasmada pelo  somatório de energias físicas, emocionais e mentais dos membros do grupo, na forma de uma poderosa entidade autônoma que adquire individualidade e interfere nas vidas e nos destinos das pessoas, sendo capaz de realizar no mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora”.

Após ler e refletir bastante sobre o tema fiz algumas observações e alguns questionamentos que divido com os irmãos. Não considero nenhum absurdo aceitar que a reunião de várias pessoas, mentalizando e direcionando os seus pensamentos para o alcance de um objetivo comum possa gerar uma energia “positiva‟ que proporcionará “aos membros desse grupo‟ uma sensação de bem estar, de alívio de tensão ou algo similar; também aceito que o contato físico – como na Cadeia de União – amplie essas sensações, pois serve para renovar e fortalecer o companheirismo que deve existir entre os irmãos, relembrando-lhes sempre que o objetivo primário da Maçonaria é nos unir de modo que formemos um só corpo, uma só vontade e um só espírito. Mas, como aceitar, ou crer, que a “energia‟ emanada de nossas mentes possa plasmar uma “entidade‟ movida por vontade própria que irá interferir – para o bem ou para o mal – nas vidas e nos destinos das pessoas? Ou que seja capaz de realizar no mundo visível as suas aspirações transmitidas ao mundo invisível pela coletividade geradora. Como isso poderia acontecer sem considerarmos o fator “sobrenatural‟?

Aceitar tal fato, sem questionamento, é fugir do racional. É mais lógico fundamentar essa crença à interferências de conceitos superficiais ou subjetivos ligados a superstição, que não necessitam ser demonstrados, mas nos proporcionam uma falsa sensação de segurança. A maçonaria nos orienta a não nos entregarmos às superstições; logo, não podemos desprezar a lógica e a razão aceitando passivamente ilusórias promessas de felicidade e proteção advindas de “entidades‟ sobrenaturais plasmadas  em nossas sessões.

Concluindo, entendo que as chamadas “egrégoras” são quimeras sustentadas por forças motivadoras da superstição, e como tal se deve evitar a utilização dessa expressão na maçonaria, de modo a não contribuirmos à perpetuação e validação de uma falsa “entidade psíquica‟ gerada pela equivocada crença no desconhecido, que, na verdade, camufla a necessidade de mantermos um controle racional sobre os nossos temores. Mas essa decisão é pessoal e passa pela conscientização de cada um.

O maçom deve ser livre para investigar a verdade, crer naquilo que melhor lhe confortar, e deve utilizar as suas  “descobertas‟  para o seu próprio crescimento pessoal. As palavras, e até mesmo os equivocados conceitos por trás delas, se esvaecem ante o objetivo maior da maçonaria de formar livres pensadores.

Autor: Ubyrajara de Souza Filho

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