XVI – Acepção laica do “pecado original” (1)
Os antropólogos, os sociólogos, os psicólogos, os historiadores e os etnólogos têm examinado e estudado sob diversos ângulos o fato de o mito do “pecado original” não ser exclusivo do Cristianismo, mas encontrar-se disseminado através dos tempos nas mais diferentes geografias e culturas.
Neste ponto, naturalmente, as posições dos estudiosos extremam-se: os mais radicais, como por exemplo os neo-darwinistas ateus, negam pura e simplesmente o conceito, como por exemplo o evolucionista G. Richard Bozart:
“Qualquer estudante liceal conhece o suficiente sobre a evolução para saber que em nenhuma parte da teoria evolucionária das nossas origens aparece um Adão ou uma Eva ou um Éden ou um fruto proibido. A evolução significa o desenvolvimento duma forma para a seguinte, a fim de defrontar os desafios sempre em mudança duma natureza sempre em mudança, e poder vencê-los. Não há nem houve nenhuma queda a partir dum estado prévio de sublime perfeição.” (G. Richard Bozart, The Meaning of Evolution, publicado na American Atheist Magazine, Setembro 1979, p. 30).
Curiosamente, o cristão heterodoxo Celestius, do século V, discípulo de Pelágio, assume pela primeira vez uma posição que costuma ser invocada por modernos agnósticos para ridicularizar a ideia dum pecado original, posição essa que lhe valeu ser excomungado nada menos que três vezes: uma pelo bispo Aurélio no Concílio de Cartago em 412, outra pelo papa Inocêncio I em 417 e uma terceira pelo papa Celestino I no Concílio de Éfeso, em 431. Celestius rejeitou a ideia dum pecado original, afirmando: “Adão teria de morrer, em qualquer caso, quer tivesse pecado quer não. O pecado de Adão apenas recaiu sobre ele, e não sobre toda a raça humana.” Consequentemente, também rejeitou a remissão dos pecados pelo Batismo.
XVII – Acepção laica do “pecado original” (2)
No entanto, como se disse há pouco, o mito de que um acontecimento terrível, antiquíssimo, que se tornou fator da infelicidade humana, tem sido encontrado sob variadas formas em diversas mitologias e religiões. Um dos mais antigos desses mitos é o do divino Zagreu, filho de Zeus e de Perséfone, considerado o “primeiro Dionísio”. Instigados pela deusa Hera, esposa de Zeus e ciumenta de Perséfone, os Titãs raptaram o divino Zagreu, que se metamorfoseara em touro para lhes escapar, despedaçaram-no e comeram-no, em parte cru, em parte cozinhado. Um mito semelhante foi encontrado no Egito, na Fenícia e na Frígia.
Os Mistérios Órficos ritualizaram este mito através duma dramatologia que incide na “culpa” e na “purificação”, e respectivo ciclo de reencarnações, consequência do “pecado original” da humanidade descendente dos Titãs, assassinos (e devoradores) de Zagreu, ou do touro em que se transformara (Rego 1989, 45-46).
Aqui associam-se dois “crimes” primevos: (1) a matança de um deus ancestral e (2) o início da alimentação carnívora, perpetrada duma forma dual: (1) canibalística (o deus é antropomorfo), e (2) utilizando a carne dum mamífero (bovino).
A análise duma situação arcaica deste tipo, e seus efeitos subsequentes, foi exposta pela primeira vez por Freud no seu livro Totem e Tabu (1912), e desenvolvida por ele posteriormente (cf. Freud 1990, passim), bem como por outros investigadores da mesma linha. Segundo Freud, o arcaico sistema patriarcal teve o seu fim durante uma rebelião dos filhos que se aliaram contra o pai, simultaneamente tirânico, temido e venerado, dominaram-no e devoraram-no. A partir daí a família organizou-se de acordo com o sistema matriarcal, e, em lugar do pai, foi erigido um totem com a figura de um determinado animal representativo, considerado como antecessor coletivo e ao mesmo tempo como gênio tutelar. Uma vez por ano a comunidade masculina reunia-se num banquete e o animal representado no totem era despedaçado e comido em comum. Ninguém podia abster-se deste banquete, que representava a repetição solene do parricídio, origem dos ulteriores tabus e prescrições religiosas que tinham por finalidade redimir, ou pelo menos minorar, as consequências nefastas desse ato. Muitos autores admitem a correspondência entre o “banquete totêmico” e a “comunhão cristã”. (Freud 1990, 122-132 e 194-196).
XVIII – Acepção laica do “pecado original” (3)
Outros autores, embora não desprezando o significado da morte do pai, elevado à dignidade de um deus e criando nos seus descendentes uma “crise neurótica” de culpa permanentemente redimida e reativada, preferem considerar a tradição de um início histórico em que o ser humano começou a devorar animais, seus semelhantes na escala dos seres vivos. Um dos primeiros a expor esta teoria foi o investigador, mitólogo e filósofo da história comparada das religiões José Teixeira Rego (1881-1934), no seu livro Nova Teoria do Sacrifício (1918). Baseando-se em estudos já então disponíveis nos inícios do século XX, Teixeira Rego refere:
“A Pré-História dá-nos o homem caçador, pescador, ao passo que os antropoides são frugívoros, e, fatos notáveis, o homem conserva o aparelho digestivo dum frugívoro, nas suas tradições refere-se a um passado de frugívoro, tem uma repugnância instintiva pela carne crua, e, finalmente, grande parte das suas doenças são devidas às toxinas dos alimentos animais. Ainda hoje, apesar das inevitáveis modificações que longos séculos de onivorismo produziram, existe a possibilidade no homem duma alimentação exclusivamente frugífera, tantos e tantos séculos foram frugívoros os nossos antepassados antropoides!” (Rego 1989, 26-27).
Descontemos o facto de no tempo de Teixeira Rego se utilizar o termo “antropoide” num sentido evolucionário que hoje não tem, embora se perceba a que espécie de “pré-homem” o autor se quer referir: atualmente a ciência admite que os antropoides e o ser humano tiveram uma remota origem comum – o que coincide com a posição defendida no Conceito Rosacruz do Cosmos por Max Heindel –, sendo mais correto afirmar-se que os atuais antropoides descendem duma antiquíssima linhagem humana degenerada. Seja como for, a mudança de regime, de vegetariano para carnívoro, acarretou diversas alterações, como a necessidade de caçar a presa, o desenvolvimento do cérebro, e consequentes rudimentos de civilização mercê do aperfeiçoamento mental, com os correlativos excessos sexuais e quebra da natural periodicidade – as funções sexuais passaram a exercer-se em todo o tempo –, seguindo-se-lhes a fabricação de instrumentos e a guerra com todos os seus horrores. Foi a origem do bem e do mal (Rego, ibid.).
Entre as modificações causadas pelo uso da carne como novo alimento, ocorreram algumas referidas em vários mitos: a queda do pelo e as dificuldades e dores do parto, além da proliferação de enfermidades (Rego, ibid.). Teixeira Rego e outros autores opinam portanto que a “Queda” se deveu à introdução do alimento animal, derivando dessa causa perturbadora o principal fator da infelicidade humana. O poema iniciático Metamorfoses, de Ovídio (43 a. C.-17 d. C.), refere esse fator nos seguintes termos:
“Havia um homem [o Iniciado Pitágoras], nativo de Samos, que fugira de Samos e dos senhores da ilha por detestar a tirania, preferindo viver voluntariamente no exílio. Com a sua mente espiritual aproximou-se dos deuses, embora muito distantes nas regiões do céu, e percebeu com os olhos do intelecto o que a natureza negava aos olhares do homem comum. […] Foi o primeiro a denunciar o costume de servir carne de animais à mesa, e também o primeiro a pronunciar, com a sua boca sábia, estas palavras: ‘Abstende-vos, mortais, de contaminar os vossos corpos com alimentos ímpios! Tendes os cereais e as frutas que inclinam os ramos com o seu peso, e os abundantes cachos de uvas nas vinhas, e as verduras saborosas, e nem o leite nem o mel perfumado vos estão vedados. A terra generosa proporciona-vos um sem-fim de fecundos alimentos pacíficos, e oferece-vos banquetes sem necessidade de matança nem de sangue. Só os animais é que saciam a fome com carne, e nem sequer todos. […] Ah, que grande crime é introduzir vísceras nas próprias vísceras, e engordar o corpo insaciável enchendo-o com outro corpo, e que um ser vivo viva da morte doutro ser vivo. […] Mas um primeiro instigador funesto, não sei quem, sentiu inveja da comida dos leões e sepultou no seu ventre ávido alimentos corpóreos, abrindo o caminho para o crime'” (Ovídio, Metamorfoses, livro XV).
É interessante verificar, ao mesmo tempo, em variados mitos de diversas civilizações, como aparecem interligados o fator alimentar carnívoro e a desregração sexual: esse binômio que compõe o “pecado original” surge-nos por exemplo na epopeia de Gilgamesh bem como noutros textos da literatura cuneiforme, além de, com mais ou menos variantes, em contos populares do antigo Egito, em lendas do México pré-colombiano, nas tradições maias-quichés, na Índia, na China, etc.
XIX – A carne e o vinho
De acordo com a Bíblia, a humanidade era vegetariana antes da expulsão do paraíso terrestre: “Eis que vos dou toda a erva que dá sementes sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm semente; isto vos servirá de alimento” (Gênesis 1, 29).
Ainda segundo a Bíblia, a alimentação carnívora começou depois do Dilúvio: quando Noé e sua família, e todos os animais que estavam na arca, aportaram a terra após a retirada das águas, Deus disse a Noé e aos seus filhos:
“Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Sede o terror e o medo de todos os animais na terra e de todas as aves nos céus; e tudo o que se move na terra e de todo o peixe no mar; estão entregues nas vossas mãos. Tudo o que vive e se move servirá para vosso alimento; dou-vos tudo isto, tal como vos dei a folhagem das plantas” (Gênesis 9, 1-3).
Na sequência deste relato, surge-nos um bisneto de Noé, Nimrod, do qual se diz que “foi o primeiro homem possante sobre a terra; era um poderoso caçador aos olhos de Javé, daí o adágio: “Como Nimrod, poderoso caçador aos olhos de Javé” (Gênesis 10, 8-9).
Max Heindel explica-nos que a alimentação carnívora dos seres humanos e o aparecimento do “caçador” Nimrod estão mal colocados na Bíblia (Heindel 1977, 22), e que a correta sequência dos acontecimentos – em função das Épocas citadas no cap. XV deste artigo – deverá ser a seguinte (Heindel 1985, 218-225):
- Época Polar – Humanidade semelhante aos minerais – Figura simbólica: Adão, formado de “barro”;
- Época Hiperbórea – O Corpo Denso da humanidade foi revestido com o Corpo Etérico ou Vital, e os seres humanos tornaram-se semelhantes às plantas – Figura simbólica: Caim, cultivador de cereais;
- Época Lemúrica – O Corpo de Desejos foi acrescentado à humanidade, que se tornou semelhante ao animal – Figura simbólica: Abel, pastor que não matava os animais para deles se alimentar, mas que se utilizava do leite;
- Época Atlante – A Mente foi acrescentada ao ser humano para que finalmente se estabelecesse o elo entre o Espírito e o Corpo – Figura simbólica: Nimrod, “poderoso caçador”, uma vez que se tornara necessário introduzir a carne na alimentação humana: Nimrod simboliza os reis atlantes anteriores ao Dilúvio;
- Época Ariana (atual) – Tempo em que o ser humano teve de atingir o ponto mais baixo da materialidade, indispensável para conquistar e dominar a matéria – Figura simbólica: Noé, que introduziu a cultura da vinha e o uso do vinho – Este novo alimento, juntamente com a carne, provocou o transitório obscurecimento das verdades espirituais, permitindo à humanidade alcançar o máximo da sua evolução material.
A partir de uma determinada etapa desta 5.ª Época, e depois de ter “batido no fundo”, começará para o ser humano a evolução espiritual com a substituição do egoísmo pelo amor e pelo altruísmo, ao mesmo tempo que a carne e o vinho serão abolidos da dieta alimentar por já terem cumprido a sua função, tornando-se altamente perniciosa e negativa, desse ponto em diante, a insistência no seu uso.
XX – Voltando ao “sacrifício”…
Em função de tudo quanto se disse até agora, que significado poderemos atribuir à recaída na especial forma de sacrifício animal correspondente ao uso do pergaminho para a transmissão exotérica dos textos sagrados cristãos, entre os séculos IV e XVI?
Lançando um olhar sobre a história da civilização ocidental, há a tendência para se considerar que o máximo da materialidade foi atingido nos séculos XIX e XX com o racionalismo materialista e historicista de Karl Marx, o positivismo comteano, a revolução industrial, o capitalismo liberal e neo-liberal, e revolução científica e tecnológica…
Mas há que distinguir entre o materialismo filosófico e o materialismo espiritual, pese embora a aparente contradição de termos neste último caso. O primeiro é uma atitude do intelecto que afeta sobretudo o comportamento mundano, teórico-prático, do ser humano, ao passo que o último é uma atitude que rebaixa ao nível da carne o que é exclusivo do espírito – como por exemplo dogmatizar a virgindade carnal da Virgem Mãe, a ressurreição carnal de Cristo, a transubstanciação em carne e sangue autênticos, de Cristo, na hóstia consagrada, a ressurreição da carne no final dos tempos… É um retrocesso à memória dos antigos tempos do canibalismo e dos sacrifícios sangrentos.
O materialismo filosófico que se desenvolveu nos séculos XIX e XX e que, de certo modo, continuará por algum tempo, é como um adubo fertilizador duma espiritualidade nova – aliás cada vez mais evidente e preponderante –, e mais apta a desvendar e a trazer à Luz o verdadeiro Deus Interno de cada homem e de cada mulher, uma espiritualidade mais responsável, mais consciente e mais propícia a elevar as nossas almas até às luminosas “asas do Sol de Justeza”.
Por outro lado, na chamada “Idade das Trevas” e nos séculos que se lhe seguiram até à invenção da imprensa – que fez aumentar em flecha o uso do papel, abolindo por fim o uso do pergaminho –, o derramamento de sangue sacrificial de carneiros e bodes para que nas suas peles se inscrevessem textos sagrados correspondeu a uma fase de obscurecimento, ou de materialismo espiritual, em que a Igreja procurou, pela hipocatástase da carne, difundir o que não podia realizar pelo espírito tal como se exemplificou atrás.
Parafraseando Max Heindel bem como o conhecido passo dos Atos dos Apóstolos: a Igreja desses negros tempos já não podia dizer, como Pedro, “não possuo ouro nem prata”, nem ao paralítico “levanta-te e caminha”.
No entanto, esta fase transitória, terrível, de retrocesso simbólico ao “bode expiatório” (Levítico 16, 26) que era enviado ao deserto, para a divindade maléfica Azazel, levando sobre si todos os pecados e iniquidades do povo[4], foi necessária a fim de preparar e dar origem, por violenta reação, ao surto científico e ao Iluminismo dos séculos XVII e XVIII, indispensáveis – com todos os seus perigos e riscos – para a conquista da matéria e renovada emergência do espírito. Estes perigos e riscos são precisamente o fermento que fará com que os seres humanos possam enfim tomar plena consciência do que é ser senhor da reta consciência (intelectual, moral e emocional), e ascender, pela liberdade do Espírito, à Nova Era de Luz que se avizinha.
XXI – Conclusão
Pode-se ser tentado a contra-argumentar com a óbvia constatação de que o máximo de materialismo e de irreligiosidade, atingidos nos séculos XIX e XX, coincidiu com a total generalização do papel, do “casto” reino vegetal, e que o carniceiro pergaminho já deixara de ser usado pelo menos há três ou quatro séculos.
Sem dúvida; no entanto, o tema deste artigo não tem a ver com os textos profanos, mas apenas, no caso que nos ocupa, com a transmissão dos textos sagrados e, mais especificamente, com a transmissão do Novo Testamento – o grande pólo atractor da Escritura Sagrada Cristã.
O materialismo positivista e neo-positivista dos séculos XIX e XX é uma fase de «prova» que a humanidade profana tem de atravessar – e saber vencer – a fim de evoluir espiritualmente. Em contrapartida, foi precisamente nos séculos XIX e XX, de triunfante “racionalidade instrumental”, que a literatura esotérica se multiplicou de forma nunca vista – “racionalidade aberta” –, tal como se multiplicaram as edições da Bíblia em papel e em traduções num número cada vez maior de línguas – Este fato – tradução do especial texto sagrado que é a Bíblia em milhares de línguas – cria uma aura de entrelaçamento entre as diversíssimas línguas sob a forma de um elo, ou de um “pensamento cordial comum”: o do Reino de Deus anunciado por Cristo. Curioso e misterioso estratagema místico, que nos permite abrir as portas duma Nova Era vencedora da maldição de Babel!
Esta proliferação de edições e traduções da Bíblia, nada casual, coincide com as novas hermenêuticas de caráter esotérico que, a par duma Esoteologia aprofundada, obtiveram finalmente aceitação acadêmica com inclusão nos programas curriculares de diversas e prestigiosas universidades.
Por fim, mas não por último, não deixemos de ponderar o fato assinalável de ser cada vez mais acentuada a tendência para a alimentação vegetariana, sobretudo entre as gerações mais jovens, com a eliminação gradual do consumo de carne. Os restaurantes vegetarianos proliferam, bem como os “pratos vegetarianos” em muitos restaurantes convencionais, além de que proliferam igualmente as indústrias que produzem, manufaturam e transformam alimentos vegetarianos – sinal seguro de que há cada vez mais procura por parte dos consumidores, ou seja: por parte do público em geral.
O próximo passo a dar será a gradual abolição do álcool na alimentação – que também já começa a ser preterido, em não raros casos, por certas camadas da juventude.
Acompanhemos pois, atentamente, as mudanças vindouras, que incidirão sem dúvida na forma como as Escrituras Sagradas vão passar a ser comunicadas e transmitidas.
Gravadas primeiramente em pedra (mineral), depois em papiro (vegetal), seguidamente em pergaminho (animal – ponto mais baixo), a sua transmissão reascendeu ao vegetal (papel), e… o próximo passo será a reutilização do reino mineral (revolução já em curso), através do silício dos computadores e dos CDs, ou, melhor ainda, das ondas etéricas da Internet e do ciberespaço e do que vier a seguir…
Grandes transmutações se avizinham. Saibamos estar preparados, espiritualmente, para elas.
Autor: Antônio de Macedo
António de Macedo nasceu, em Lisboa, em 5 de Julho de 1931.
No início da sua carreira, e durante alguns anos, exerceu a profissão de arquitecto que abandonou em 1964 para se dedicar ao cinema, à literatura, à pesquisa de músicas de vanguarda. Especializou-se na investigação das religiões comparadas, das tradições esotéricas, de história da filosofia e da estética áudio-visual, da literatura fantástica e da ficção científica, temas que tem abordado em inúmeros colóquios e conferências, e em diversas publicações.
Inclui na sua extensa filmografia dezenas de documentários e programas televisivos, bem como filmes de longa-metragem entre as quais se destacam Domingo à Tarde (1965), Nojo aos Cães (1970), A Promessa (1972), O Princípio da Sabedoria (1975), As Horas de Maria (1976), Os Abismos da Meia-Noite (1982), Os Emissários de Khalôm (1987), A Maldição de Marialva (1989), Chá Forte com Limão (1993), etc.
Entre os seus livros contam-se, no ensaísmo, A Evolução Estética do Cinema (1959-1960), Da Essência da Libertação (1961), Instruções Iniciáticas (1999) e Laboratório Mágico (2002), e, na ficção, O Limite de Rudzky (1992), Contos do Androthélys (1993), Sulphira & Lucyphur (1995), A Sonata de Cristal (1996), Erotosofia (1998) e O Cipreste Apaixonado (2000).
Tem leccionado em diversas instituições de ensino desde 1970: no IADE, na Universidade Lusófona, na Universidade Moderna e na Universidade Nova de Lisboa, regendo cadeiras como Teoria e Prática do Cinema, Análise de Imagem, Arte Narrativa e Esoterismo Bíblico.
Foi um dos promotores dos «Encontros Internacionais de Ficção Científica & Fantástico de Cascais», que se iniciaram em 1996, e de cuja Comissão Coordenadora tem feito parte.
Nota
[4] – No Médio Oriente antigo os demônios eram deuses menores, seres supra terrenos inferiores, atuando sobre as pessoas para o bem ou para o mal. Segundo o Antigo Testamento bíblico, os demônios nada podiam contra os que estavam sob a proteção de Javé (Salmo 91 [90], 5-6), mas atuavam sobre os que se encontravam longe de Deus – por exemplo no deserto (Isaías 13, 21; 34, 14; 50, 39). É o caso de Azazel, demônio do deserto referido no Levítico (16, 8-10.20-26). Supõem os mitólogos que devia tratar-se, inicialmente, de um demônio local, que para ser exorcizado exigia o sacrifício dum bode. Mais tarde aparece associado ao rito da Festa da Expiação (Levítico, cap. 16), e o “bode expiatório” (caper emissarius, segundo a Vulgata Latina) levava para o deserto os pecados de Israel.
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