Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo Final (2ª Parte)

Qual era a aparência da Atlântida?

Conforme indicamos anteriormente, ela era um continente-ilha maior em tamanho que a África e a Ásia combinados, situado no Oceano Atlântico logo depois do estreito de Gibraltar. Era uma ilha rica em minerais (particularmente um metal precioso conhecido como oreichalkos – “que agora é apenas um nome para nós … (mas) … na época só tinha menos valor que o ouro”. A ilha em si foi um “Éden auto-sustentável”, plantas aromáticas, pastagens, uma variedade de cereais e madeira era abundante assim como outros habitats para sustentar uma ampla diversidade de vida animal (incluindo elefantes).

A peculiaridade mais evidente sobre a ilha era sua excentricidade visual. Ela era composta por três anéis circulares de terra, dividido por três canais circulares de água, com pontes que ligavam cada anel da ilha ao próximo. Uma muralha interior e outra exterior rodeavam cada anel de terra. Isto significa que no total eram cinco muralhas, e cada uma era feita de pedra escavada especificamente para a sua cor característica. A partir da mais distante muralha externa e movendo-se para dentro, suas cores eram branco, em seguida preto, e então vermelho. A quarta muralha era revestida de um verniz de bronze, enquanto que a quinta e mais interna muralha (em torno da Acrópole, as fontes de Água quente e fria e o Palácio) eram fundidas em latão. A própria Acrópole era coberta de oreichalkos que “brilhava como fogo dardejante”.

Para dizer o mínimo, esta é uma descrição muito fantasiosa de uma cidade. Na verdade, caso encontrássemos essa descrição nos escritos de Jules Verne ou de Robert Heinlein, dificilmente pareceria fora de lugar. Ela aparece, por seu valor nominal, ser uma descrição de uma cidade que é o produto orgulhoso da imaginação humana.

Sabemos que a verdade é mais estranha que a ficção. Demonstramos como Platão usou Heródoto para fornecer uma estrutura esquelética para a vitória ateniense contra Atlântida. Também vimos como Platão adaptou a preocupação de Heródoto, que os feitos dos homens e mulheres que viveram no período das guerras persas seriam apagados pelos efeitos do tempo, a menos que eles fossem gravados. Para Platão, este tornou-se o argumento que ele usou para explicar por que nenhum ateniense estava familiarizado com a história da derrota de Atlântida por Atenas. Mas, por mais importantes que elas sejam, não são as únicas influências que Platão deve a Heródoto. A principal influência literária que Platão deve a Heródoto é o uso de sua descrição da capital mediana de Ecbátana como modelo para Atlântida.

Em Histórias l.98, Heródoto descreve a majestosa cidade de Ecbátana com uma semelhança notável por sua excentricidade visual. Por uma questão de conveniência, relacionei suas principais características:

  • Uma fortaleza inexpugnável de círculos concêntricos de muralhas defensivas;
  • Havia sete muralhas que rodeavam a cidade;
  • As paredes mais internas abrigavam o palácio e os tesouros;
  • As cinco primeiras paredes eram pintadas em cores específicas sendo – branco, em seguida preto, vermelho, azul e laranja;
  • As duas muralhas mais internas eram cobertas de prata e a última de ouro.

Por mais intrigantes que sejam essas correspondências, há uma última peça no quebra-cabeça que ajuda a argumentação. Ela é encontrada em uma obra conhecida como Epigramas. Por tradição, a obra é atribuída a Platão. Se cada um destes curtos epigramas foi composto pelo próprio Platão é duvidoso, mas, no contexto do que já discutimos, não podemos descartar o Epigrama XIII como sendo totalmente falso. Se assumirmos, por enquanto, que ele veio diretamente da pena de Platão, então este epigrama tem funções como o tecido conjuntivo, no âmbito do argumento anterior. O epigrama diz:

Certa vez, deixamos as sonoras ondas do mar Egeu para ficar aqui no meio das planícies de Ecbátana. Adeus a ti, conhecida Eretria, nosso antigo país. Adeus a ti, Atenas, vizinha Euboeais. Adeus a ti, querido mar.

Embora existam semelhanças suficientes entre as descrições da Ecbátana de Heródoto com o relato da Atlântida de Platão, a questão central a partir da perspectiva do argumento proposto neste livro, é o desenho da conexão entre o ritual maçônico moderno e a prática da filosofia grega antiga – em particular – da filosofia de Platão. Se Atlântida nunca existiu na realidade ou apenas como uma ideia, é algo que, espero, continuará a ser uma busca para cientistas e historiadores, para os séculos vindouros.

A Configuração para o Mito de Atlântida

Quando se abre o diálogo em Timeu, Sócrates reúne-se com Timeu, Crítias e Hermócrates. Timeu é um homem rico de Locris, no sul da Itália – uma área conhecida como a terra da Escola Pitagórica de Filosofia. A personagem conhecida como Crítias é na realidade o tio de Platão, enquanto a quarta pessoa neste diálogo é Hermócrates – um sobrevivente rico e educado da Guerra do Peloponeso. Embora aparentemente escrito alguns anos após A República, Timeu começa com Sócrates querendo resumir os pontos principais que pertencem ao tema da sociedade ideal, discutido pela primeira vez em A República. Mais que tudo, ele quer dar-lhe substância, respirar alguma vida nesta visão de seu modelo utópico. Ele quer entender melhor como os seus reis-filósofos governariam tal cidade em tempos de guerra (assim como na paz). O ponto que ele desenvolve aqui é que a personagem do rei-filósofo precisa ser multi-dimensional – capaz de dimensionar o alcance intelectual e emocional entre a sensibilidade emocional profunda para foco, objetivo e dureza mental. Estes são os requisitos mínimos para um líder em tempos de paz como de guerra.

… as almas dos guardiães deveriam ter uma natureza que é ao mesmo tempo alegre e filosófica no mais alto grau, para que eles possam ser adequadamente suaves ou duros conforme seja o caso.

Crítias interrompe aqui e ali e se oferece para contar uma história que pode atingir o objetivo de Sócrates. Ele alega que é uma história que ouviu de seu bisavô – uma pessoa conhecida como Sólon, o legislador, quando o próprio Crítias era apenas uma criança pequena. É a história de uma vitória ateniense épica sobre a maior potência militar já conhecida do homem que ocorrera milhares de anos antes.

Nem Sócrates, nem Timeu ou Hermócrates ouviram esta história antes, e ficaram surpresos ao ouvir que uma história tão grandiosa e épica como Crítias pretende que ela seja não tem qualquer registro histórico que a sustente. Nesse momento, Platão (com inteligência sutil) tece um ponto que Heródoto criou nas primeiras linhas das suas Histórias – a saber, que o triunfo épico é desconhecido para os atenienses porque esses traços dos acontecimentos humanos já tinham sido apagados pelo tempo, muitos e muitos anos atrás:

A história é que nossa cidade (Atenas) realizou grandes e maravilhosos feitos na Antiguidade, que, devido à passagem do tempo e a destruição da vida humana, desapareceram.

…e uma vez mais:

…uma conquista que merece ser conhecida muito melhor do que qualquer outra de suas realizações. Mas, devido à marcha do tempo e o fato de que os homens que a realizaram morreram, a história não sobreviveu até o presente.

Preâmbulo de Crítias – Resumo da Vitória de Atenas sobre a Atlântida

Crítias relata como Sólon, uma vez viajou para a cidade egípcia de Sais no Delta do Nilo e foi recebido pelos sacerdotes que o envolveu em uma série de debates animados sobre uma série de temas – um deles em particular sendo uma tentativa de calcular o tempo decorrido entre a criação do primeiro homem (Foroneu) e o Grande Dilúvio (relacionados no mito grego de Deucalião e Pirra).

Além disso, quanto à sabedoria, eu tenho certeza que você pode ver quanta atenção nosso modo de vida dedicou a ele, desde o início. Em nosso estudo da ordem mundial, rastreamos todas as nossas descobertas … das realidades divinas aos níveis humanos, e adquirimos todas as outras disciplinas relacionadas. Isto é, na verdade, nada menos do que o próprio sistema de ordem social que a deusa (Atena) planejou primeiramente para vocês quando fundou sua cidade …(Timeu, 24b-c ,Trad: Hamilton)

Sólon foi surpreendido pela resposta do sacerdote, rápida, porém irônica. O sacerdote observou que os gregos têm uma clara falta de profundidade histórica. Especificamente, eles exibem uma forma daquilo que podemos chamar de amnésia histórica, porque sempre lhes faltou disciplina para registrar suas histórias. Na falta disso, eles substituíram por mitos para explicar fenômenos naturais. Aqui, o sacerdote explicou algo desconhecido para Sólon. Ele lhe disse que não tinha acontecido uma só grande inundação, mas que tinha havido muitas. A destruição completa, total e absoluta da raça humana tinha ocorrido não apenas uma vez, mas a humanidade foi destruída em intervalos regulares ao longo da história por duas causas principais – o fogo e a água. Cada ciclo de destruição foi acompanhado por uma mudança no curso do sol através do céu – um fenômeno que em linguagem científica seria explicado como uma mudança na polaridade da terra.

O sacerdote então continua a explicar que, embora os gregos pareçam considerar a civilização egípcia como mais antiga que a deles, Atenas é, na verdade, a civilização mais antiga. Como justificativa, ele afirma que os egípcios têm documentos históricos que remontam a 8.000 anos. O sacerdote explica que, quando ambas as civilizações, egípcia e ateniense, foram fundadas, cada uma delas tinha o mesmo sistema social. Durante todo esse tempo, o sistema social ateniense tem estado em decadência, enquanto que os egípcios o mantiveram em seu estado original.

O curioso sobre este sistema social é que, no modelo egípcio, as pessoas mantiveram competências especializadas e estavam proibidas de se envolver, obter formação ou educação em áreas em que o seu próprio comércio ou profissão não estava relacionado.

Primeiro, você descobrirá que a classe de sacerdotes é demarcada e separada das outras classes. Em seguida, no caso da classe operária, você verá que cada grupo – os pastores, os caçadores e os agricultores – trabalha de forma independente, sem se misturar com os outros.

O próximo ponto exposto pelo sacerdote é que a lei egípcia sublinha a importância de todas as disciplinas do conhecimento – um ponto que Platão elaborou no currículo educacional que ele criou para reis-filósofos da República – algo que entendemos como as artes liberais e ciências.

Se dermos um pequeno passo para trás, podemos apreciar as habilidades que Platão demonstrou como propagandista e marqueteiro de suas próprias teorias. Aqui está um sacerdote egípcio falando de uma ordem mundial ideal (ou a estrutura social), onde o conhecimento é usado para nos levar a realidade divina ou ao próprio trono de Deus. Usando o artifício artístico de um terceiro expressando a mesma coisa que Platão estava promovendo, ele dá ao seu argumento uma vantagem extra de credibilidade, bem como uma justificação histórica convincente.

Podemos ver os primórdios das origens ideológica real de uma super-raça – por exemplo – Atenas sobre Esparta – tomando sua forma, nas próximas palavras ditas pelo sacerdote:

…ela (Athena) tinha escolhido a região em que seu povo tinha nascido (Atenas) e percebido que o clima temperado ao longo das estações produziria homens de sabedoria insuperável. E, sendo um amante tanto da guerra quanto da sabedoria, a deusa escolheu a região que mais provavelmente produziria homens com ela mesma, e a fundou primeiro … na verdade, suas leis melhoraram ainda mais, de modo que você veio a superar todas as outras pessoas em toda a excelência, como se poderia esperar daqueles cuja geração e nutrição eram divinos.

A Vitória de Atenas sobre Atlântida

Combinando as narrativas dadas em Timeu e Crítias, a história de Atlântida segue…

Crítias explica que os eventos da guerra entre Atenas e Atlântida ocorreram 9.000 anos antes de seu tempo (em outras palavras por volta de 9400 a.C.). Ele descreve Atlântida como uma ilha situada no Oceano Atlântico, em frente as Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar). Era uma ilha “maior que a Líbia e a Ásia juntas” (Líbia era o nome dado à área da África explorada na época). Seu império se estendia por toda a África até as fronteiras do Egito, e por toda a Europa até a Itália. Atlântida, então, decidiu expandir o seu império ainda mais para incorporar a Grécia e o Egito e o que é hoje é a Espanha. Atenas, então, mostrou sua força e coragem a comandar uma ofensiva que consistiu em “… uma aliança entre os gregos” contra as legiões de Atlântida. Mesmo quando foi abandonada pelos membros desta aliança grega, Atenas resistiu à agressão atlante sozinha e conseguiu o triunfo incontestável para depois liberar todos os países que haviam sido subjugados sob a tirania dos Atlantis.

É fácil ver hoje como Platão adaptou os seis pontos que ele escolheu cuidadosamente nas Histórias de Heródoto para construir um mito da Atlântida, que serviu para atingir um fim (e somente um) – apoiar sua visão do rei-filósofo.

A conclusão do conto é o melhor em matéria de narração de histórias. Platão relata através de Crítias que no meio dessa euforia da vitória e dentro de somente um período de 24 horas, terremotos e enchentes de intensidade sem precedentes engoliram não apenas todo o continente-ilha de Atlântida, mas também todas as legiões de Atenas.

Essa catástrofe natural, Ele enfatizou, foi a terceira antes do Grande Dilúvio.

Por que Atenas foi capaz de derrotar Atlântida?

A resposta a esta pergunta é a base da ligação filosófica entre a história de Atlântida e a Maçonaria moderna.

Proeminente entre todas as outras em nobreza de seu espírito e na sua utilização de todas as artes da guerra, ela (Atenas) subiu primeiro à liderança da causa grega. Mais tarde, obrigada a ficar sozinha, abandonada por seus aliados, ela chegou a um ponto de extremo perigo. No entanto, ela venceu os invasores … (e) impediu a escravização daqueles ainda não escravizados e, generosamente, libertou todo o resto de nós que viviam dentro dos limites das Colunas de Hércules.(Timeu, 25 b-c ,Trad: Lee)

Crítias (relatando ainda mais a história do sacerdote egípcio) argumenta que o deus Hephaestos e sua irmã Atena receberam o controle da Grécia e a impregnaram com o selo do seu caráter – com conhecimento e habilidade, tornando a Grécia o berço natural de excelência e sabedoria. Os sobreviventes da catástrofe natural que envolveu Atlântida foram “um povo de montanha analfabeto” a quem faltavam os dons intelectuais para apreciar e transmitir os valores e virtudes praticados pelos atenienses. Além disso – os sobreviventes que escaparam tiveram que enfrentar a tarefa de domar um ambiente hostil – uma ocupação que não contribuiu para a gravação de eventos históricos:

É no trem do lazer que a Mitologia e a Investigação sobre o passado chega às cidades, uma vez … que as necessidades da vida tenham sido garantidas, mas não antes.

Ele, então, descreve as virtudes que levaram a uma vitória ateniense. Em primeiro lugar, eles praticavam todas as normas estabelecidas em A República. É importante ressaltar que seguiram uma das restrições mais importantes aplicáveis ​​a reis-filósofos – que é a primeira lição ensinada a um Iniciado durante o Discurso no Canto Nordeste:

Eles não faziam uso de ouro ou prata… . mas seguiam na média entre a ostentação e servilismo…

O argumento que Platão levanta, com uma habilidade artística e floreio filosófico, foi que na prática dos princípios preconizados em A República, (que de acordo com o sacerdote de Sais eram de origem divina), Atenas foi capaz de derrotar Atlântida:

… Eles eram os guardiões de seus próprios cidadãos e líderes do resto do mundo grego .. . tal era o caráter deste povo … pois eles dirigiam a vida de sua cidade e da Grécia com justiça. Sua fama pela beleza de seus corpos e a variedade e diversidade das suas qualidades mentais e espirituais espalharam-se por toda a Ásia e toda a Europa. E as considerações em que eram tido e sua fama eram a maior de todas as nações da época.

O Triunfo de Reis-Filósofos

O que importa para você e eu, enquanto maçons, é que o mito da derrota de Atlântida por Atenas ocorreu porque eles seguiram os princípios dos reis-filósofos.

Em sua própria maneira, é um modelo que devemos ter em mente quando circunstâncias aparentemente intransponíveis golpeiam nossas vidas. Nesses momentos, podemos optar por usar um equilíbrio entre o intelecto e emoção, cuidadosa e sabiamente direcionar nossa vida através de mares tempestuosos da vida, mantendo a nossa própria credibilidade de caráter.

Você pode encontrá-los de qualquer falha, então, em uma profissão como esta, que para ser praticada com competência exige as seguintes propriedades inerentes a uma pessoa: boa memória, rapidez na aprendizagem, abrangência de elegância, visão e amor e filiação à verdade, à moral, à coragem e à auto-disciplina? (Platão: República, 487a, Trad. Robin Waterfield)

Nosso objetivo ao fazer isso é alcançar um triunfo. É atingir o mais alto nível de excelência humana que a nossa própria natureza individual alguma vez possa alcançar.

… E esse é o propósito da filosofia por trás da Maçonaria.

Finis

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

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Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo Final (1ª Parte)

A conexão da Atlântida com a Maçonaria

Foi muito bem definida a minha escolha de deixar este capítulo como um pós escrito. Meu motivo é simples. Sem ter esgotado as discussões anteriores, que precederam este capítulo, receio que seria muito fácil simplesmente verificar o título do capítulo e rejeitar seu conteúdo como um disparate facilmente. No entanto, a seu próprio modo, minha intenção é que este capítulo realmente junte os fios do argumento que defendi e desenvolvi nos capítulos anteriores, em uma conclusão adequada.

Em primeiro lugar – ligação da Maçonaria com a Atlântida ocorre através de uma discussão filosófica, não histórica. Antes de irmos mais longe, deixe-me enfatizar que eu pessoalmente não acredito que o continente insular da Atlântida jamais tenha existido fora da mente de Platão.

Sim! Para aqueles que podem não saber, Platão foi a primeira pessoa a fazer uma descrição detalhada dessa ilha-continente lendária. Estudiosos ao longo dos séculos têm argumentado (às vezes de forma convincente e em outras menos convincente) a favor e contra a existência da ilha-continente perdida de Atlântida. Na verdade, ele escreveu dois diálogos que tratam da Atlântida.

O primeiro deles é conhecido como Timeu. Se você olhar atentamente para o quadro A Escola de Atenas, de Rafael verá que Platão está carregando em suas mãos uma cópia de Timeu. O segundo trabalho é realmente só um diálogo fragmentado de menos de 20 páginas que é conhecido como Crítias.

A interpretação moderna de uma velha história…

Orfeu parecia ler sua mente.

“Por exemplo, eu tenho um pressentimento forte sobre este lugar. Algumas vezes, talvez centenas de anos a partir de agora, os homens de longe desembarcarão aqui – de navios de metal – para serem cortados, como talos de grama por uma foice. Mas eu não posso dizer quando exatamente. Eu nem mesmo sei o nome dos estreitos por onde estamos navegando agora”.

Jasão deu de ombros. “Eu posso dizer-lhe que … Nós estamos no Dardanelos. Ali existe um lugar que eles chamam de Galipoli. Mas Orfeu, fala sério – navios de aço – você não está brincando?

Nigel Spivey, “Jasão e os Argonautas” de Canções de Bronze: Os mitos gregos tornados realidade (2005)

Vamos agora abordar duas questões que ficam frequentemente esquecidas em qualquer discussão sobre Atlântida. O primeiro ponto é que sempre que Platão discute sua utópica civilização de Atlântida, seu objetivo é sutilmente trabalhar no desenvolvimento de seu conceito do filósofo-rei. No contexto destes dois diálogos apenas, a história de Atlântida não tem sentido sem vinculá-la à sua própria criação do rei-filósofo. Ele nos apresentou ao rei-filósofo em A República e em Sétima e Oitava Cartas, finalmente repensando a sua aplicação original do conceito em As Leis.

A meu ver, em ambos, Timeu e Crítias, Platão estava usando suas habilidades criativas como dramaturgo, aproveitando ao máximo as pitorescas Histórias que Heródoto tinha escrito alguns anos antes e depois apresentou uma história que falava com entusiasmo motivador a uma audiência ateniense que estava sofrendo por uma derrota esmagadora nas mãos de Esparta. Este era o ambiente cultural no qual Platão teceu sua história de Atlântida.

Outro ponto que vale a pena ressaltar neste momento é que Platão inventou três civilizações utópicas das quais Atlântida é apenas uma delas. Em A República, (onde pela primeira vez, discutiu o conceito do filósofo-governantes), esses filósofos-governantes eram um componente fundamental de um experimento mental que ele nos convidou a dividir com ele – um experimento mental funcionando em uma cidade a que ele deu o nome de Kallipolis – uma palavra grega que significa cidade bela e nobre. Como um aparte, (aos leitores da Austrália e Nova Zelândia, em particular) o nome Kallipolis deve ter um significado especial. Kallipolis era o nome dado a uma cidade situada no Dardanelos, que foi palco de um assalto a cabeça de praia pelo corpo de exército de ambas as nações, na manhã de 25 de abril de 1915. Como o nome era difícil de pronunciar foi reduzido para Gallipoli.

Em seu maior trabalho (inacabado) – As Leis, Platão descreveu ainda outra cidade utópica que ele chamou de Magnésia. Estas cidades platônicas representaram estágios no desenvolvimento de seu próprio pensamento ao longo de sua vida. Sempre que nos referimos a uma cidade como “utópica”, estamos geralmente nos referindo a ela como uma cidade “ideal” (e mais comumente a partir de uma perspectiva sociológica ou política). A palavra utopia é uma palavra grega que significa “lugar nenhum”. Aliás, Samuel Butler, em sua obra de 1871, Erewhon, fez uma brincadeira com a palavra utopia em seu significado em Inglês em seu título. (Erewhon é a palavra “nowhere” – nenhum lugar -, soletrada ao contrário)! Feitas estas observações preparatórias, vamos começar a trabalhar nosso caminho através da discussão filosófica ligando a Maçonaria moderna a uma ilha-continente que existiu (segundo Platão), cerca de 9.000 anos antes de seu tempo e que era chamada Atlântida.

A guerra entre Atenas e a Atlântida: sua relação com a guerra entre Atenas e Esparta

Nos ajudará a compreender o contexto em que Platão elaborou a história de Atlântida se pararmos por um instante para pensar que em alguns aspectos, a época em que Platão viveu, compartilhava muitas semelhanças com nosso próprio tempo nestes primeiros anos do século XXI.

As primeiras décadas do século V a.C. tinham visto reviravoltas tumultuadas de eventos nas arenas política, sociológica, religiosa e intelectual. Atenas (uma cidade-estado relativamente pequena) tinha liderado uma coligação de cidades-estados vizinhos para repelir as forças do Império Persa – o maior que o mundo já conhecera até aquele ponto no tempo. Atenas conseguira derrotar os persas não em uma, mas em duas tentativas de invadir o que hoje conhecemos como o continente grego. A primeira invasão foi liderada por Dario I em 490 a.C., enquanto a segunda invasão persa ocorreu dez anos mais tarde, sob Xerxes em 480-479 a.C. A primeira invasão persa terminou com a derrota dos persas na Batalha de Maratona. Esta batalha é memorável devido à história que a maioria das pessoas já escutou – a história de como um jovem chamado Pheidippides (antes dos dias da telefonia) correu a distância de Maratona a Atenas para confirmar a derrota da Pérsia, morrendo poucos momentos depois de anunciar a notícia. O evento olímpico moderno chamado maratona presta homenagem a esse acontecimento histórico.

O ponto decisivo para a derrota da Pérsia em sua segunda tentativa de invasão foi a batalha naval ao largo da costa de Salamina. Heródoto registra que as forças de Xerxes na Segunda Invasão persa atingiram uma massa crítica de 5.283.220 soldados – uma força de invasão como o mundo nunca tinha visto antes. Diante desses números, nunca se esperou que Atenas tivesse qualquer esperança de derrotar os persas. Gerenciando uma aliança frouxa entre cidades-estados gregas, isso não era fácil. Muitos realmente desertaram para o lado persa acreditando que a coalizão liderada por Atenas só terminaria em desastre. Essas defecções alteraram não só as alianças militares mas também as alianças comerciais necessárias para Atenas marcar uma vitória decisiva. O fato de que Atenas alcançou realmente a vitória diante de todas essas chances só aumentou seu auto-orgulho e inchou sua confiança na capacidade de expandir seus próprios interesses coloniais. O próximo passo de Atenas foi mandar tropas para restaurar a liberdade de outras cidades jônicas localizada na Turquia moderna que estavam sujeitas à tirania persa. Atenas compartilhava as mesmas origens étnicas e culturais daquelas cidades jônicas,– algo que já discutimos anteriormente.

De 460-429 a.C., o estadista Péricles (ca. 495-429 a.C.) conduziu Atenas enquanto embarcava em uma série de programas de obras ambiciosas (incluindo a construção do Partenon na Acrópole). Péricles era um líder astuto. Estas obras de construção revitalizaram a economia de Atenas, melhoraram sua taxa de emprego e fortaleceram a confiança da comunidade ateniense na sua base de poder, bem como em seus planos de expansão. Em muitos aspectos, esse período vibra com o mesmo ânimo econômico e político confiante desfrutado pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial (1939-45). A outra “super-potência” que tinha ajudado Atenas em suas campanhas contra a Pérsia tinha sido Esparta. Após a derrota da Pérsia, Esparta observou com crescente alarme os indícios de campanhas imperialistas agressivas e intrusivas de Atenas. Uma “guerra fria” entre os dois se desenvolveu em um paralelo com a época que se seguiu à Segunda Guerra Mundial até que a República Soviética foi dissolvida em 1991. As tensões entre Atenas e Esparta continuaram a crescer até que as duas potências chegaram a um acordo em 446 a.C., com a assinatura de um tratado que ficou conhecido como Paz dos Trinta Anos. No entanto, o tratado de paz não durou mais de 15 anos – terminando abruptamente em 431 a.C., com hostilidades em escala total irrompendo entre Atenas e Esparta.

Até o final do segundo ano da guerra, em 430 a.C., um terrível surto de peste irrompeu em toda Atenas. A principal razão para isto foi atribuída a um inchaço da população de Atenas, devido às incursões de Esparta nas regiões rurais circundantes. Tucídides, um general ateniense que tomara parte na luta contra os espartanos, registrou seus eventos em uma obra conhecida como A História da Guerra do Peloponeso. Além da praga, a cidade também entrou em extremos da anarquia e desordens. Péricles, contaminado pela peste, reuniu o pouco de sua força que restava para fazer um discurso animador aos atenienses, instando-os a mostrar coragem diante destas calamidades.

Em 421 a.C., um segundo tratado de paz (conhecido como a Paz de Nícias) foi assinado entre Esparta e Atenas. Mais uma vez esta paz foi de curta duração. Novos conflitos entre as cidades-estado da Grécia continental que tinham se aliado ao lado dos atenienses ou dos espartanos, levaram a questão a um final conclusivo, com a derrota de Atenas por Esparta em 404 a.C. Atenas – que por um breve meio século, foi uma super-potência de proporções quase míticas estava agora quebrada, humilhada (na arena da política e relações internacionais), um poder de influência insignificante.

As Guerras Persas: sua influência sobre a escrita da história da Atlântida

Tendo coberto rapidamente os principais eventos do século V a.C. que impactaram a escrita de Platão sobre a história de Atlântida, vamos tomar um pequeno desvio e da mesma forma investigar a influência dos escritos do historiador grego chamado Heródoto.

O ponto que vou sublinhar é o seguinte: na criação de seu mito de Atlântida, Platão conscientemente tomou um episódio relatado por Heródoto em suas histórias e o bordou para servir como pano de fundo para o seu princípio dos reis-filósofos.

Por razões de clareza, vou listar cinco itens que resumem a história da vitória grega sobre os persas que Heródoto relatou em suas Histórias:

  • A super potência maior e mais agressiva do mundo (Pérsia) tenta invadir todo o continente grego;
  • Atenas – uma pequena cidade-estado lidera uma coalizão militar com outras cidades-estado da Grécia, em uma luta de morte contra as forças persas;
  • Uma série de cidades-estados gregas que fazem parte da coalizão militar deserta para ajudar os persas. Ao fazer isso, elas traem Atenas;
  • Contra todas as possibilidades imagináveis – a coalizão militar grega (sob a liderança de Atenas ) repele e derrota os persas;
  • Atenas restaura a liberdade para as cidades gregas ao longo da costa turca, que estavam sujeitas ao controle da Pérsia.

Estes foram os acontecimentos que ocorreram nos primeiros anos do século V a.C. na região.

E estes foram os acontecimentos que ajudaram a formar a visão ateniense que, como descendentes dos jônios originais, eram (efetivamente) donos do mundo. E estes foram os acontecimentos que ajudaram os atenienses a acreditar que eram muito superiores aos espartanos – descendentes dos colonos originais dóricos e seus aliados – os corintos, que buscavam o luxo. E estes foram os acontecimentos que tornaram tão humilhante a derrota dos atenienses para os espartanos e corintos ao final da Guerra do Peloponeso.

Tendo isso em mente, podemos moderar nossa “abordagem” de Atlântida incluindo uma diferença sutil, mas poderosa. Precisamos ter em mente o público original para o qual se destinava a história continente perdido inicialmente. Era uma audiência ateniense.

Seus ouvidos e sensibilidades eram rápidos para pegar os pontos que destacamos. Precisamos também lembrar que eles eram um povo orgulhoso, que tinha derrotado a Pérsia e, em seguida, viram-se subjugados por Esparta. Desmotivados e humilhados, quando ouviram a história de Atlântida, eles se lembraram o que tinham realizado apenas duas ou três gerações antes contra a Pérsia. Quando ouviam a história de Atlântida, era algo que agradava seus corações, mentes e sentidos. Quando ouviam a história de Atlântida, ela falava de uma esperança para o futuro. Quando ouviam a história de Atlântida, eles eram inspirados por sua narrativa. Quando eles liam a história de Atlântida, estavam muito próximos dos acontecimentos de seu próprio tempo para entender o conto a não ser como fábula baseada na história das Guerras Persas – as mesmas histórias que Heródoto havia apresentado nos teatros e praças de mercado de Atenas.

Tendo definido o cenário intelectual, Platão agora embelezou o conto com uma dimensão emocional para aceitação de seu conceito do rei-filósofo.

A influência de Heródoto

Nas páginas iniciais do romance Criação de Gore Vidal, Heródoto está apresentando uma história das Guerras Persas para uma audiência no Odeon em Atenas. O que Vidal captura aqui é a essência do que provavelmente aconteceu nas praças e teatros de Atenas no século V a.C..

Podemos especular que um jovem Platão pode ter estado entre o público ouvindo com intenso interesse o drama de eventos como Heródoto os narrava. Não temos qualquer registro histórico de que Platão estivesse presente em uma apresentação “ao vivo” de Heródoto, mas parece pouco discutível que Platão realmente tenha sido inspirado pelo tema heroico que Heródoto desenvolveu e ao qual tinha acesso para seu trabalho. Mais particularmente, Platão parece ter prestado atenção específica à descrição que Heródoto deu da capital excentricamente visual dos medos – uma cidade conhecida como Ecbátana e descrita por Heródoto no livro I.98 de suas Histórias.

Heródoto nasceu por volta do ano 485 a.C. junto ao porto de Halicarnasso – uma cidade agora conhecida como Bodrum, no sudoeste da Turquia moderna. A época de seu nascimento coincidiu com as primeiras incursões persas em território grego, e podem ter sido a chave para seu interesse em escrever a sua história das Guerras Persas. O consenso geral é que as Histórias de Heródoto foram escritas em 430 a.C. e terminadas em cerca de 425 a.C. – colocando sua composição nos primeiros estágios da Guerra do Peloponeso. Pouco se sabe sobre a data da morte de Heródoto, mas acredita-se comumente que ele tenha morrido por volta de 420 a.C. – bem antes da derrota de Atenas por Esparta. Sua vida, então, transcorreu diretamente no tempo das grandes revoluções intelectuais, políticas e religiosas que varreram Atenas, significando sua proeminência entre as cidades-estado gregas após a vitória sobre os persas.

Lendo suas Histórias, podemos entender o quão bem-viajado ele era. Ele afirma ter viajado para o Egito e descreve com algum pormenor a cultura e as práticas dos egípcios no Livro II. Ele alega também ter viajado à Cítia (grosso modo, a moderna Ucrânia) – mais uma vez explorando a cultura deste povo no Livro IV. A tradição diz que ele eventualmente se estabeleceu (e provavelmente morreu) na colônia grega de Thurii no que é hoje a província da Calábria, Itália.

Embora não fosse filósofo ou teólogo, Heródoto era imbuído de seu trabalho com um tema em que o equilíbrio do mundo é trazido de volta à ordem por um processo de retribuição por injustiças realizadas – algo que observa Robin Waterfield na introdução à sua tradução de As Histórias e similarmente observado por Charles Freeman em seu recente estudo, A Conquista Grega.

Heródoto não descartou as ações dos deuses inteiramente em assuntos humanos (ele acreditava que eles punem aqueles que, como Xerxes, são culpados de orgulho excessivo, para, ao que parece, levar o cosmos a um equilíbrio ordenado)…

Ao longo de As Histórias, Heródoto interpreta os acontecimentos históricos a partir da interação da intervenção humana e divina … uma perspectiva que foi desmentida por seu contemporâneo Tucídides ao escrever a História da Guerra do Peloponeso:

Esta história pode não ser o mais deliciosa de ouvir, pois não há mitologia nela. Mas, aqueles que querem olhar para a verdade do que foi feito no passado, que, dada a condição humana, se repetirão no futuro, na mesma forma ou de forma quase igual – aqueles leitores acharão esta história bastante valiosa…

Em todo caso, Heródoto disse claramente qual foi seu propósito ao escrever As Histórias na segunda frase de seu trabalho – que era “evitar que os traços de acontecimentos humanos sejam apagadas pelo tempo”. O tema heroico de sua obra foi a inspiradora história de sucesso de uma pequena cidade-estado grega contra a maior força de invasão conhecida no mundo naquele momento.

Este tema estava na vanguarda da mente de Platão quando escreveu “Timeu e Crítias”. Aqui ele contou uma história paralela de uma outra vitória ateniense de sucesso – era novamente a maior e mais culta nação que o mundo já conheceu. Era a história de uma guerra contra as políticas expansionistas do continente insular de Atlântida.

Com a nossa compreensão dos eventos das Guerras Persas, podemos agora entrar nos detalhes que Platão deu desta cidade, combinando as descrições encontradas tanto em Timeu quanto em Crítias.

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo XI (2ª Parte)

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Mitologia e História Grega – Sua relação com o Ritual maçônico

Na primeira parte deste trabalho, identificamos a importante posição que os escritos de Platão tem no Ritual Emulação. Por mais significativo que seja este aspecto, existe outra influência importante em nosso ritual. É a importância que a história e a mitologia grega desempenham como pano de fundo para o nosso ritual e falas.

Entendendo que o filohelenismo era uma constante ao longo do século XIX na Europa e, especificamente, (a partir de nossa perspectiva) – na Inglaterra, seria estranho se a história e mitologia grega não tivessem sido tecidas em nosso Ritual.

Continuamos aqui a investigar brevemente alguns amplos temas históricos e mitológicos gregos que são facilmente aparentes no Ritual Emulação, e que começaram a ser abordados na primeira parte deste capítulo.

Serpentes (em aventais maçônicos)

A serpente era uma criatura destacada na mitologia grega, por uma razão muito importante. Os cidadãos de duas cidades gregas – Atenas e Tebas – acreditavam que elas eram autóctones. Esta não é uma palavra que encontramos facilmente. Ela significa que eles acreditavam que nasciam diretamente do solo. O símbolo que eles usaram para mostrar que nasciam do solo era a serpente – uma criatura que tem uma relação muito estreita com o solo. Além disso, em mitologia, dizia-se que o primeiro rei de Atenas tinha a forma de um homem da cabeça à cintura e de uma cobra da cintura para baixo.

A ligação entre Atenas (cidade da Sabedoria) e uma serpente (símbolo da deusa Atena) é traduzido em nosso meio maçônico, quando consideramos nosso objetivo de nos tornarmos reis-filósofos, produtos da Atenas mítica.

Que melhor símbolo para nós que amarrar o avental sobre a nossa cintura do que a figura da serpente?

Jerusalém e Delfos

Fundamental para o nosso ritual é a construção do Templo de Salomão em Jerusalém. Se olharmos para os mapas medievais de Jerusalém, uma coisa é clara. Para a mente medieval, Jerusalém estava posicionada no centro da terra.

Para os gregos antigos, Delfos era o centro da terra.

Delfos é uma cidade situada cerca de 15 quilômetros de Atenas. Na cidade havia uma pedra conhecida como a omphalos (ou pedra-umbigo) que marcava o centro da terra. O mito por trás disso era explicado de maneira muito simples. Zeus tinha enviado duas aves de extremos opostos da terra e do local onde os pássaros cruzaram foi marcado pelo omphalos. Era ali, no Templo de Delfos que os deuses se comunicavam com os gregos. Assim, nas culturas tanto de gregos quanto de hebreus, sua cidade sagrada marcava não apenas o centro do mundo, mas o local onde o divino e a humanidade se comunicavam.

O Simpósio, a Câmara Festiva e Xênia

Uma das características da vida social grega era um encontro ao qual compareciam somente os homens. Em seu nível mais básico, que era um banquete onde o vinho era bebido, comida era servida, músicas (em forma de um tocador de lira ou cantor) seriam apresentadas, histórias contadas e onde a filosofia e negócios atuais eram discutidos. A reunião tinha um protocolo próprio e era conhecida como symposion. Nós a chamamos pelo seu equivalente latino, symposium. Em um nível básico compartilha muitas semelhanças com o banquete que ocorre após uma reunião formal da loja. É uma oportunidade para se sentar com os outros membros da loja, comer e beber juntos, dividir a mesa, conversar e desfrutar da companhia de homens de espírito semelhante. Ela também tinha um protocolo próprio e é conhecida pelo termo de Câmara Festiva.

Uma das características mais importantes do protocolo é a extensão da hospitalidade. Um visitante à loja é tratado com a maior extensão de hospitalidade que espelhava o conceito grego de xenia. Xenia ou “amizade com o convidado” é a convenção de se estender o mais alto nível de hospitalidade a estranhos. Por convenção, um hóspede está sob a proteção de Zeus.

Um paralelo com o Santo Arco Real do Grau de Jerusalém

O Grau do Santo Real Arco de Jerusalém é uma extensão do Terceiro Grau, da mesma forma que o grau de Mestre Maçom de Marca é uma extensão do Segundo Grau. No sul da Austrália e Território do Norte, os Três Primeiros Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, juntamente com o Mestre Maçom de Marca e Graus do Real Arco são o único conjunto de graus reconhecidos pela sua Constituição.

Sobre sólidos platônico … … e quando reduzidos à sua quantidade em ângulos retos, será encontrado igual a cinco corpos regulares platônicos, que representam os quatro elementos e a esfera do universo. (Discurso à Segunda Cadeira: Palestra simbólica, Ritual do Grau Superior de Santo Real Arco de Jerusalém)

Mencionamos anteriormente que no Timeu de Platão, ele explica a criação do mundo por um Divino Geômetra do Universo, que utiliza cinco formas geométricas para criar tudo o que compõe o cosmos. Estas formas geométricas são conhecidas como “sólidos platônicos” e são discutidas no Discurso à Segunda Cadeira: Palestra simbólica.

Odes

Em qualquer cerimônia maçônica, não cantamos hinos.

O termo que usamos para qualquer canção dentro de um contexto maçônico é uma Ode A primeira ode foi composta pelos antigos gregos com o representante mais importante dessa classe sendo o poeta Píndaro (c. 522-443 a.C.).

Como viemos a entender, na Inglaterra e na Alemanha durante os primeiros anos do século XIX, tudo que era grego estava em voga. Grego era o estado de alta moda. Uma das formas mais artisticamente expressivas de adaptar a arte grega a uma forma inglesa é representada pelo desenvolvimento da Ode Inglesa, que tinha como sua base o original grego e seu desenvolvimento romano posterior.

A característica que é muito peculiar sobre essa transformação da composição da ode grega para o inglês é o tempo. O auge de seu desenvolvimento coincidiu exatamente com o período durante o qual o Ritual Emulação estava sendo criado (1813-1823). Indiscutivelmente, as cinco mais importantes odes inglesas foram todos escritas no ano de 1819 e elas eram Ode ao Vento Oeste por Percy Bysshe Shelley, juntamente com quatro odes de John Keats – Ode à Psyche, Ode sobre uma urna grega, Ode to um Rouxinol e Ode sobre Melancolia. A Ode a Psique e a Ode sobre uma Urna Grega são ricas em sabor de Grécia antiga.

As Colunas Vestibulares no estilo do Templo do Rei Salomão

Nas evidências mais antigas que temos do início da Maçonaria, não temos qualquer referência nas tradições orais aos dois pilares na entrada do Templo do Rei Salomão. Há uma boa razão para isso. Os primeiros documentos que temos sobre ritual estruturado são sobre o Patriarca bíblico, Noé – e não o Rei Salomão. O ritual baseado no Rei Salomão é uma variante muito mais tardia. No entanto, em lugar dos dois pilares do rei Salomão, os antigos rituais se referem a outros dois pilares. Estes pilares não aparecem na Bíblia, mas nos escritos de um sacerdote judeu que nasceu logo após a crucificação de Jesus, o Nazareno. O nome do padre era Josefo e ele escreveu sobre eles em um comentário que escreveu sobre as histórias do Velho Testamento e relacionados com os judeus de língua grega, que viviam na Palestina no primeiro século da era cristã.

Os pilares a que ele se refere destinavam-se a abrigar todo o conhecimento da humanidade no caso de uma catástrofe natural causada exclusivamente por dois elementos – fogo e água.

O conhecimento de que estava inscrito nestes pilares era efetivamente as artes liberais e as ciências. Aqui estava a preocupação – da mesma forma que estamos sendo disciplinados para fazer discos de backup do nosso trabalho no temor de que um vírus ou worm possa destruir as imagens, documentos, planilhas e outros assuntos de interesse pessoal para nós, os antigos temiam catástrofes naturais que tinham historicamente eliminado não só o conhecimento em si, mas civilizações inteiras.

Isso é algo que revisitaremos no Postscriptum a este livro. O “disco de backup” que eles conceberam, eram os dois pilares. Um deles foi construído de material que resistia ao fogo, enquanto o outro foi construído de material concebido para resistir a água, mais especificamente, inundações. A memória cultural do Grande Dilúvio é algo que não aparece apenas nos escritos hebraicos, mas em Babilônios e de maior importância para nós – antigos escritos gregos.

Em Timeu, Platão relata uma história relacionada com a destruição do conhecimento por dois elementos naturais. Estes são idênticos àqueles citados por Josefo e que aparecem nos primeiros documentos relativos à Maçonaria – o fogo e a água. A história continua para relatar como os gregos não registraram seus conhecimentos para preservá-lo para as gerações futuras, mas foram os antigos egípcios que preservaram esse conhecimento em caracteres hieroglíficos sobre as paredes de seus templo.

No ritual de emulação, temos uma alusão muito artística a esta história de Timeu e à narrativa de Josefo dos dois pilares. Aqui, os autores adaptaram a essas duas correntes literárias com a história bíblica de construção pelo Rei Salomão do Templo para aludir à presença destes dois pilares abrigando os “rols constitucionais” da Maçonaria – uma outra maneira de dizer que estão protegendo as leis e regulamentos da Maçonaria da destruição pelas forças físicas.

A ligação de Platão com a memorização do Ritual

Embora a proibição contra a leitura ritual durante reuniões de loja não apareça na Constituição ou nos Regulamentos da Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte, essa já existia desde os primeiros dias por uma convenção que aparece no manual de nossa Loja, que é um guia sobre como ritual deve ser conduzido.

Você é o pai da escrita (… o deus egípcio Thoth), por afeição à sua prole atribuiu a ela bem o oposto de sua real função. Aqueles que a adquirirem vão parar de exercitar suas memórias e se tornarão esquecidos; eles confiarão na escrita para trazer coisas à sua lembrança por sinais externos, em vez de seus próprios recursos internos … E quanto à sabedoria, seus alunos terão a reputação por ela sem a realidade … porque eles estão cheios com o conceito de sabedoria em vez da verdadeira sabedoria; eles serão um fardo para a sociedade. (Platão, Fedro, 275 Trad: Hamilton)

Uma das habilidades mais importantes que Platão enfatiza que um governante filósofo deve desenvolver é a arte da memória. Lembramos que na mitologia grega, Mnemosyne (ou Memória) é a mãe das Nove Musas por meio das quais a arte da eloquência persuasiva é demonstrada. Similarmente, em uma obra conhecida como Fedro, Platão aborda explicitamente a importância de aprender a sabedoria, interagindo com os outros pelo simples esforço de falar com eles, ao invés de escrevê-la. No trecho citado, Platão estava enfatizando este ponto simples que parece ser a base para a convenção que é instilada no Manual de Funcionamento da Loja e que praticamos nos graus da Maçonaria Simbólica, que em uma reunião, nenhum irmão (que não seja o Mestre de Cerimônias), deveria ter uma cópia do Ritual em sua posse.

Conforme Platão nos lembrou:

Então talvez fosse melhor contar o esquecimento como um fator que impede a mente de ser bastante boa em filosofia. Deveríamos tornar a boa memória um pré-requisito. (República 486d Trad. Waterfield)

E agora para algo completamente diferente …

Não olhando pra trás …

No terceiro grau do belíssimo Ritual Schroeder – um ritual alemão praticado pela Loja Concórdia (sob a jurisdição da Grande Loja do Sul da Austrália e Território do Norte), o Candidato é proibido de olhar para trás quando é conduzido pela loja antes de assumir sua Obrigação do Terceiro Grau. Esta proibição de olhar para trás parece sem sentido, sem uma explicação de sua possível base mítica.

Dentro do corpo da mitologia grega são três expressões muito significativas da importância de não se olhar para trás.

A primeira aparece no mito de Orfeu e Eurídice. Orfeu era muito apaixonado por Eurídice. Quando tinha levantado a saia e corria descalça por um campo, ela foi mordida por uma serpente e morreu tragicamente. Orfeu foi tomado por tanto remorso, que desceu ao submundo para pedir a Hades que a ressuscitasse. Orfeu (como Deméter antes dele) tinha feito esta viagem ao Submundo para pleitear o retorno à vida de um ente querido. Hades ficou tão dominado pela dor de Orfeu que ele permitiu que Eurídice voltasse com uma condição:

Orfeu devia conduzi-la de volta à vida, mas durante a viagem para cima através do Submundo, não lhe foi permitido olhar para trás.

Tudo estava indo bem até que ele estava quase ao nível da nossa existência terrena. Ele se voltou e olhou para trás para ter certeza de que Eurídice o estava seguindo. No momento em que ele fez isso, Eurídice foi conduzida de volta por espíritos ao Submundo, para nunca mais voltar para Orfeu.

A segunda aparece na história de Deucalião e Pirro. Estas personagens são a versão grega de Noé e sua esposa. Quando o Grande Dilúvio tinha abrandado e toda a humanidade (exceto Deucalião e Pirro) tinha morrido, cada um deles pegou pedaços de barro e sem olhar para trás jogaram esses pedaços por cima de seus ombros. Os torrões de barro de Deucalião se transformaram em homens, enquanto que os de Pirro se transformaram em mulheres. Esta foi a forma como a vida humana recomeçou após o Grande Dilúvio.

Na mitologia grega, há também o mito das três Parcas. Estas três Parcas eram as deusas que determinavam os nossos destinos individuais. Seus nomes eram Cloto, Lacheis e Átropos. Clotho fiava o fio de nossas vidas, Lacheis media seu comprimento e Átropos era a deusa cuja tarefa era cortar o fio de nossas vidas. A coisa intrigante sobre Átropos é que seu nome significa não voltar atrás.

Em A República (617c-17e), Platão refere-se às Três Parcas em seu próprio mito. Aqui, as Parcas acompanham as Sereias cantando. Lacheis canta o Passado, Cloto canta o Presente e Átropos canta o Futuro. (Dickens fez bom uso ao adaptar esse mito ao seu conto Uma História de Natal).

Mas, no mito padrão, a única constante é a referência à vida e à morte; por isso, é apropriado incluí-lo no ritual do Terceiro Grau, quando somos confrontados com a certeza de que seremos incapazes de escapar da morte.

Em algum momento definido no tempo, Átropos cortará o fio de sua vida, assim como da minha.

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo XI (1ª Parte)

Mitologia e História Grega – Sua relação com o Ritual Maçônico

Na primeira parte deste trabalho, identificamos a importante posição que os escritos de Platão tem no Ritual Emulação. Por mais significativo que seja este aspecto, existe outra influência importante em nosso ritual. É a importância que a história e a mitologia grega desempenham como pano de fundo para o nosso ritual e falas.

Entendendo que o filohelenismo era uma constante ao longo do século XIX na Europa e, especificamente, (a partir de nossa perspectiva) – na Inglaterra, seria estranho se a história e mitologia grega não tivessem sido tecidas em nosso Ritual.

O que vamos fazer agora é investigar brevemente alguns amplos temas históricos e mitológicos gregos que são facilmente aparentes no Ritual Emulação.

A importância do número 9

Você e eu estamos conscientes de que certos números têm importância significativa em nossa cultura maçônica em particular. Alguns exemplos são:

  • O número 3: Existem três graus na Maçonaria Simbólica, três batidas pertencentes a cada grau, 3 oficiais principais em uma loja.
  • O número 4: Há quatro virtudes cardeais, 4 pontos cardeais em uma loja.
  • O número 7: Há os sete dias da criação, 7 dias da semana, 7 Artes Liberais e Ciências, 7 membros que fazem uma loja perfeita.

O número 9 tem seu próprio significado peculiar que está diretamente ligado à mitologia grega. Antes de avançar mais, vamos parar para relembrar o contexto em que o número 9 aparece no ritual maçônico.

Esse número tem significado apenas para o cargo de Grão-Mestre. Quando saudamos o Grão-Mestre, nós o fazemos com um sinal conhecido como Grandes Honras e o fazemos por 9 vezes. No colar do Grão-Mestre, aparecem 9 links. A questão é: como explicar isso?

A primeira coisa que podemos notar é o significado especial que tem o número 9 na mitologia grega. O número 9 aparece com tanta regularidade que não podemos descartar isso somente como uma coincidência. Aqui estão alguns exemplos:

  • Na mitologia grega, o cosmos (o universo) é medido em altura e profundidade por uma explicação muito interessante: se fôssemos jogar uma bigorna para fora no espaço habitado pelos deuses antigos, seriam necessários nove dias para chegar à Terra.
  • Esta mesma bigorna levaria outros 9 dias para cair da terra até a casa de Hades – senhor do Submundo.
  • Por nove dias e nove noites, Leto experimentou a gama de dores do parto (tendo ficado grávida ao deus Zeus).
  • Quando Mnemósine subsequentemente deu à luz, sua prole foram as 9 Musas.
  • Com o tempo, estas 9 Musas se juntaram em uma competição contra 9 “irmãs estúpidas” que elas venceram.
  • Os Mistérios de Deméter exigiam que as mulheres se abstivessem de relações sexuais com seus maridos durante 9 noites.
  • Smyrna – (tendo sido descoberto que enganava seu pai e tendo tido relações sexuais com ele), vagou em exílio durante 9 meses.
  • A criatura mítica conhecida como a Hidra tinha nove cabeças.

A lista acima é (para os fins deste exemplo) – apenas um instantâneo.

No pressuposto de que a cultura grega antiga está no cerne dos rituais maçônicos modernos, é possível que o motivo para o número 9 ter um significado especial para o cargo de Grão-Mestre, pode estar no fato de que, como o Grão-Mestre se senta na Cadeira do Rei Salomão (que era muito conhecido pela sua sabedoria) recorda uma alusão ao deus grego Zeus (que é o Pai da Sabedoria).

“Mas, para Calliope a mais velha das Musas e sua próxima irmã Urania eles se referem àqueles que passam a vida em filosofia e honram o exercício do que deve a sua inspiração a essas deusas; entre as Musas são aqueles que se ocupam dos céus e toda a história da existência divina e humana, e seu tema é o melhor de todos eles.”  Platão, Fedro/259/Hamilton

Segundo o mito, Zeus deu à luz Atena (a deusa da Sabedoria) através de sua cabeça. Tendo dado à luz a ela dessa maneira muito incomum, ele se tornou o Pai da Sabedoria. No entanto – há mais uma reviravolta na história.

Suas nove filhas naturais são as Musas. Essas musas controlam as Artes, através das quais a humanidade dá expressão eloquente à sua história, poesia, dança e drama. Em essência, as Musas englobam todos os estilos de expressão artística que nos dão habilidades de persuasão eloquente.

As 9 Musas são:

  1. Euterpe que rege a expressão da poesia de existência lírica, divina e humana;
  2. Calíope que rege a expressão da poesia heroica;
  3. Polyhymnla que rege a expressão da poesia divina (hinos);
  4. Thalia que rege a expressão da poesia da comédia;
  5. Erato que rege a expressão da poesia do amor;
  6. Clio que rege a expressão da história;
  7. Melpomene que rege a expressão da tragédia;
  8. Terpsícore que rege a expressão da dança coral;
  9. Urânia que rege a expressão de estudos astronômicos.

Cada uma das 5 primeiras irmãs supervisiona elementos da expressão poética. As 4 irmãs restantes supervisionam aspectos da expressão artística que não são classificados como poéticas.

De sua própria maneira, podemos sugerir que a razão pela qual o Grande Mestre é homenageado 9 vezes, é simbólica em sinal de que em sua pessoa é levada a expressão das artes da persuasão eloquente.

Atenas, Esparta e Corinto

Desde a noite de minha iniciação, eu sempre fiquei intrigado com as características que cada um dos três principais dignitários representa. O Venerável Mestre, como chefe da Loja senta na cadeira do Rei Salomão e representa a Sabedoria. Mas, como podemos explicar as características da força (Primeiro Vigilante) e beleza (Segundo Vigilante)?

Em um contexto maçônico, é através da combinação dos três oficiais que a loja é governada e que atinge a propriedade da estabilidade. O que eu sempre achei intrigante é o conceito de que o bom-governo de uma loja é alcançado pela operação das três características que representam os Principais Oficiais – Sabedoria (Venerável Mestre), Força (Primeiro Vigilante) e Beleza (Segundo Vigilante). Eu comecei a procurar pistas. As respostas a estas pistas (como as minhas meias pretas com listras brancas) estavam bem em baixo do meu nariz.

Supondo que eu estava certo e os autores do Ritual de Emulação tomaram como base a história grega, a mitologia grega e os escritos de Platão, a resposta deveria estar bem à minha frente para que eu visse (uma vez eu tinha conseguido trabalhá-la).

As três principais cidades do mundo grego eram Atenas, Esparta e Corinto. Sabemos que Atenas sempre foi o símbolo da sabedoria. Atenas é até mesmo o nome da deusa da sabedoria – Atena. Esparta tinha reputação por sua força, seu poder, a sua disciplina. Devido a esses fatores que destacam a sua característica de força, ela conseguiu o sucesso sobre Atenas na Guerra do Peloponeso. Por último, temos Corinto. No mundo grego, Corinto era conhecida por duas coisas – luxo e beleza. Suas exportações mais importantes eram seus perfumes e vasos. Da mesma forma que Esparta lutou contra Atenas utilizando forças terrestres, no momento mesmo, Corinto era inimigo de Atenas sobre os mares. Nestas circunstâncias, temos um triângulo composto pelas principais cidades da Grécia antiga: Atenas, Esparta e Corinto.

“Diz-se que os Corintos foram os primeiros a alterar o design dos navios … e de ter construído as primeiras trirremes na Grécia … e Corinto … os Corintos com a sua cidade situada no istmo, estavam sempre envolvidos no comércio desde os primeiros tempos … … Corinto era poderosa através de afluência, como os antigos poetas confirmam ao chama-la ‘rica’.” Todas as citações são de Tucídides, A Guerra do Peloponeso 13. Trad. Lattimore

Estabilidade na região era uma questão de reunir esses três poderes. De muitas formas, isso é uma alusão à composição grega do ser humano individual – um ideal que era composto por uma pessoa de sabedoria, assim como uma pessoa que mostrava não só a força física, mas também mental.

E é sobre estas bases que uma pessoa culta tem o luxo de desenvolver as artes e de apreciar não apenas a beleza física, mas a beleza que acompanha as belas artes, a poesia, o teatro e a prosa. E é sobre estas bases que cultura civilizada humana social pode desenvolver e florescer.

Em nosso ritual, o Segundo Vigilante, que representa a característica humana de beleza é instruído durante a sua Instalação a usar eloquência persuasiva; é o Segundo Vigilante, como modelo da cultura cortês, que convida os visitantes da loja ao banquete após a reunião da loja; é o Segundo Vigilante, enquanto modelo de hospitalidade e de etiqueta social, quem propõe um brinde aos visitantes da loja durante o jantar; e é o Segundo Vigilante enquanto modelo de humor culto, quem injeta descontração no jantar.

Se esses indícios não foram suficientes, havia uma parte ainda mais poderosa das provas que sustenta a teoria.

Fizemos menção anteriormente, de passagem, à descendência cultural dos atenienses e espartanos. Os atenienses eram descendentes de uma raça conhecida como jônios, enquanto os espartanos eram descendentes de um grupo étnico distinto conhecido como o dórios.

Compreendendo isso, é simplesmente óbvio que deveríamos usar a Coluna Jônica para representar a Sabedoria (Atenas), a Coluna Dórica para representar a Força (Esparta) e a Coluna Coríntia para representar Beleza (Corinto).

Aquelas meias pretas com listras brancas foram encontradas novamente.

O uso do malhete

Nos protocolos para direção de uma loja, um Venerável Mestre tem ao seu lado um malhete. Este malhete é o símbolo da sua autoridade para governar a sua loja. Ele mantém o controle desse malhete em todos os momentos, exceto quando um oficial Instalador (de grau superior) comparece à sua loja e precisa sentar-se na cadeira do Venerável Mestre para conduzir uma parte da Cerimônia.

Neste caso, o procedimento é o seguinte: o Venerável Mestre entregará ao Instalador o seu malhete e usará palavras que indicam que este gesto cerimonial transfere a autoridade sobre a loja para o Oficial Instalador.

À primeira vista este aspecto da cerimônia pode parecer ser qualquer coisa, menos de origem grega antiga, mas na realidade é uma cerimônia que se parece com uma das primeiras peças da literatura ocidental – Odisseia de Homero:

“Peisenor, o arauto, past-master por experiência de conduta pública coloca nas mãos dele (Telêmaco) o malhete que lhe dava o direito de falar.”  Homero, A Odisseia, Livro II – Traduções de TE Lawrence (Lawrence da Arábia)

O símbolo da romã

Nas culturas onde a romã é cultivada, o fruto é usado frequentemente como um símbolo de abundância, exuberância e riqueza. Nosso ritual (quando se refere ao fruto) usa o mesmo simbolismo. Havia fileiras de romãzeiras que adornavam os capitéis dos pilares existentes ao longo do Templo de Salomão.

Conforme notamos, os autores do Ritual de Emulação era bem versados nas escrituras sagradas e na literatura grega e eram perfeitamente capazes de mesclar as duas. No caso em destaque, onde a romã aparece na mitologia grega, ela não aparece como um símbolo de abundância.

Ela aparece como um símbolo de morte, quase da mesma maneira que a “maçã” (ou mais exatamente – o fruto proibido) que Eva deu a Adão e que o trouxe para a humanidade – a mortalidade. No mito grego, o sentimento é idêntico apenas com um pequeno toque de inversão de papéis.

Quando Deméter (Deusa do Grão e da Fertilidade), mãe de Perséfone entendeu que sua filha tinha sido raptada por Hades, que era o Senhor do Submundo, ela ficou tão triste que como resultado o mundo entrou em fome devido à sua intensa angústia. Nenhuma plantação crescia e a humanidade começou a passar fome. Ela pediu a Zeus para organizar a libertação de sua filha do Submundo. Então ela (como Orfeu) desceu ao Submundo e encontrou sua filha, que ficou tomada de felicidade ao ver a mãe. Deméter disse a Perséfone que Zeus tinha concordado em libertá-la do Submundo, sob a condição de que ela não tivesse comido coisa alguma. Perséfone vacilou, mas acabou dizendo a ela que tinha. Perséfone explicou que Hades a tinha presenteado com uma romã quando quando ele a tinha levado pela primeira vez até o Submundo. Quando ela resistiu, ele pediu a ela que provasse só um pouco da fruta. Contra sua vontade, ela o fez. Deméter chorou. Ao ter comido a romã, Perséfone tinha comido do fruto do Submundo e, portanto, já não podia retomar a sua vida anterior ao seu sequestro.

Com frequência, a Maçonaria é definida como um sistema de moralidade velada em alegorias e ilustrado por símbolos. Para aqueles que ouviram e conduziram o Ritual Emulação a candidatos nos primeiros anos do século XIX, as palavras e rubricas eram ricas em sutilezas de alegoria e simbolismo gregos.

Esperamos que possamos ser capazes de restaurar a compreensão da riqueza, majestade e poesia de Ritual para os membros da Maçonaria que vivem no Século XXI.

O cajado dos Diáconos

Para um novo membro da Ordem, uma das realidades mais estranhas do trabalho ritual é assistir à conduta dos Primeiro e do Segundo Diácono e seus movimentos rituais solenes levando em suas mãos direitas o cajado que parecem notavelmente semelhantes a tacos de bilhar. Essas varas cerimoniais são chamados pelo termo antigo “cajado”.

Estes “cajados” têm um pedigree muito antigo – de fato sua genealogia vem desde os cultos dos mistérios da Grécia antiga. Um dos cultos de mistério mais importante era conhecido como os mistérios de Elêusis. Esses mistérios parecem ter tido alguma relação com o mito de Deméter e Perséfone. Uma das coisas que unem os dois é que Elêusis era entendido como sendo o lugar onde Deméter se sentou e chorou diante do sequestro de sua filha por Hades.

O que sabemos é que neste culto de mistério, havia oficiais que carregavam consigo um cajado ritual que atendia pelo nome de um thyrsos. Este thyrsos é mais comumente associado ao deus Hermes.

Na mitologia grega, Hermes detinha a principal distinção de ser o mensageiro dos deuses. Ele era o canal de comunicação não apenas entre os deuses, mas também entre os deuses e a humanidade em geral. Em sua mão direita ele segurava o thyrsos. O thyrsos parece ter tido uma série de usos, inclusive ser usado como arma, como instrumento mágico e, sobretudo, um instrumento pelo qual as almas eram conduzidas por Hermes ao Submundo.

Os paralelos entre o mito de Hermes e o ritual maçônico são facilmente perceptíveis. O principal papel dos Primeiro e Segundo diáconos está na capacidade de serem mensageiros. O Primeiro Diácono é o mensageiro entre o Venerável Mestre e o Primeiro Vigilante, enquanto que o Segundo Diácono é o mensageiro entre o Primeiro e o Segundo Vigilante. Durante a Cerimônia de Iniciação, o Segundo Diácono conduz o candidato em trabalho ritual. Durante as Cerimônias de Elevação (Segundo Grau) e Exaltação (Terceiro Grau), o Primeiro Diácono conduz o Candidato em todo o trabalho ritual.

Existe uma última correspondência que é merecedora de nossa atenção. No Grau de Mestre Maçom de Marca, o nome que é dado para o emblema dos cajados dos Primeiro e Segundo Diáconos é conhecido como um “mercúrio”.

Esta é uma indicação muito reveladora de que estamos no caminho certo. Mercúrio era o nome dado ao deus romano cujo homólogo grego era conhecido como Hermes.

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

 

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo X

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Comparando temas platônicos e maçônicos

Tendo entendido a maneira como a Maçonaria se desenvolveu a partir do modismo cultural do filohelenismo – uma moda que era moeda corrente ao longo do século XIX, estamos agora em melhor posição para estudar temas paralelos emergentes dos escritos de Platão e o nosso próprio ritual.

Mérito

Um dos temas mais duradouros que percorremos três graus da Maçonaria Simbólica, e até mesmo no ritual de instalação do próprio Venerável Mestre, é o de atingir qualquer das distinções que conseguimos na vida como um resultado de nossos próprios esforços, habilidade e aplicação … em outras palavras – por nossos próprios méritos.

A República tem como a base de sua plataforma – uma crença permanente em que ninguém – homem ou mulher – tem qualquer direito a nomeação, promoção ou avanço dentro de sua sociedade, exceto como resultado de seus talentos, habilidades, indústria exclusivos e, mais importante de tudo, seu caráter.

Reis-filósofos representam o maior pool de talentos em qualquer sociedade e, portanto, recebem o mais alto nível de treinamento para incentivar o mais alto padrão de pensamento e comportamento.

Esse mesmo princípio está impregnado em todo o nosso ritual, conforme demonstram os exemplos a seguir.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
… elevado a eminência por mérito …

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 23

… o incentivo discriminador de mérito …

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 41

… Não temo dúvidas de que o sua futura conduta será tal a merecer a estima dos irmãos.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 43

Estes Segr., no entanto, são comunicados aos candidatos, não indiscriminadamente, mas de acordo com mérito e capacidade.

Primeiro Grau / pg. 81

Você deve incentivar a indústria e premiar o mérito …

Segundo Grau/Pg. 144

… mérito tem sido o seu título aos nossos privilégios…

Terceiro Grau / pg. 194

Homens e mulheres que demonstraram o mérito visível devem se qualificar para todas estas homenagens, sem distinção de sexo.

As Leis/802a/Saunders

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E se queremos uma descrição breve e moderna de seu tipo de sociedade, meritocracia gerencial é talvez o mais próximo que conseguimos chegar.

A verdadeira questão é que o que ele (Platão) quer é uma aristocracia de talento. E. M. Rieu, Introdução à sua tradução de A República – (edição Penguin Classics).

Preparação para a morte

As lições do primeiro e do segundo graus nos preparam para disciplinar nossas mentes para manter a perspectiva da morte como uma influência moderadora sobre nosso comportamento. Ela nos ajuda a conseguir uma perspectiva equilibrada sobre a vida, enquanto que nos permite viver a vida com paixão animação e entusiasmo.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos  Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Ela prepara você através de contemplação, para a hora de fecho da existência e quando, por meio daquela contemplação, ela o conduziu através dos intrincados meandros desta vida mortal e, finalmente, ela instrui você sobre como deve morrer.

Terceiro Grau / pg. 175

As pessoas comuns parecem não perceber que aqueles que real e verdadeiramente aplicam-se no caminho certo para a filosofia estão diretamente e por conta própria, preparando-se para morrer e para a morte.

Phaeton/64a/Tredinnick

Os verdadeiros filósofos fazer de morrer a sua profissão.

Phaeton/67e/Tredinnick

Você está enganado meu amigo, se acha que um homem que vale alguma coisa, deveria gastar seu tempo pesando as perspectivas de vida e morte. Ele só tem uma coisa a considerar ao realizar qualquer ação; é se ele está agindo justa ou injustamente; como um homem bom ou um homem mau.

Apology/8b/Tredinnick

Pois, deixe-me dizer aos senhores que ter medo da morte é apenas outra maneira de pensar que se é sábio quando não se é; é pensar que se sabe o que não se sabe. Ninguém sabe no que se refere à morte, se não é a maior bênção que pode acontecer a um homem, mas as pessoas a receiam, como se fosse o maior mal…

Apology/29a/Tredinnick

Nosso dever para com nossos pais

Nós já discutimos a importância do conceito de mérito em A República de Platão. Por extensão, nossos pais, ou aqueles que nos proporcionaram nossa educação, ou aqueles que são predominantes em nosso desenvolvimento pessoal são merecedores de manifestações especiais de respeito. Por seu comportamento, eles mereceram o nosso respeito. Do ponto de vista de Platão, esta demonstração de respeito é um dos principais blocos construtivos de uma sociedade bem-ordenada e, da mesma forma, é um bloco de construção principal do ensino maçônico.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Seu dever para com seus pais é suportar o calor e o cansaço do dia, do qual eles, por sua idade, devem ser isentos; auxiliá-los na hora da necessidade e, assim, tornar os seus dias finais felizes e confortáveis. ..

Primeiro Grau / pg. 109

 

Devemos considerar que o objeto mais precioso de adoração de um homem pode ter é seu pai … frágil com a idade, ou sua mãe em situação semelhante, porque quando ele os honra e os respeita, Deus está encantado.

As Leis/913d/Saunders

Ele deve servi-los … e assim dar aos idosos o que eles precisam desesperadamente em virtude de sua idade …

As Leis/717o/Saunders

… depois de uma era gasta em obediência às leis, o curso da natureza o levará ao fim de sua vida.

As Leis/958d/Saunders

Os jovens também devem ceder seus assentos aos mais velhos, levantar-se quando eles entram em uma sala e cuidar de seus pais.

República/425b/ Waterfield.

Fidelidade à nossa terra natal

O papel principal do rei-filósofo de Platão é o de defesa. O filósofo-governante defende não só as leis, mas os costumes, cultura, história, língua, ideais e princípios da comunidade na qual eles servem em uma função de liderança. Estendendo este tema para além das páginas de seus escritos, os autores do Ritual de Emulação tomaram o pensamento de Platão e o transformaram na pedra angular da filosofia maçônica.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
E, acima de tudo, por nunca perder de vista a fidelidade devida ao soberano de sua terra natal, sempre lembrando que a natureza implantou em seu peito um apego sagrado e indissolúvel a esse país onde você nasceu e recebeu sua nutrição infantil. República/503a/Waterfield Primeiro Grau / pg. 98

 

… Eles precisam demonstrar o amor de sua comunidade enquanto são testados tanto em circunstâncias agradáveis quanto penosas, e deixar claro que não vão deixar de lado o seu patriotismo qualquer que sejam as provas ou medos com que se deparem…
Ao nunca propor ou absolutamente não tolerando qualquer ato que possa ter uma tendência para subverter a paz e a boa ordem da sociedade; dedicando a devida obediência às leis de qualquer Estado que possa, durante algum tempo, se tornou o lugar de sua residência ou estendeu-lhe sua proteção …

Primeiro Grau / pg. 98

Todo homem que é bom deve denunciar o conspirador às autoridades e levá-lo ao tribunal sob a acusação de violência e ilicitamente derrubar a Constituição As Leis/856o/Saunders

Viver respeitado e morrer lamentado

Se um dos princípios pelos quais vivemos nossas vidas é fazer das realizações de nossa vida, um monumento eterno (mesmo na morte), então este foco nos dará um sentido de equilíbrio que não só nos ajudará a navegar em nosso caminho por momentos de teste na vida, mas também nos fornecerá uma boa base para uma partida confiante desta vida.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
… chegando à eminência por mérito, você viverá respeitado e morrerá lamentado.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 28

… Ele está contente se puder encontrar uma maneira de viver a sua vida aqui na terra, sem se tornar manchado por atos imorais ou injustos, e partir dessa vida com confiança e sem raiva e amargura.

Republica/496d-e/ Waterfield.

O autoconhecimento e auto entendimento

A base da filosofia de Sócrates não era nada mais ou nada menos que uma verdadeira compreensão de nós mesmos. Esse entendimento leva em consideração a amplitude da nossa personalidade, incluindo nossos pontos fortes e talentos (mas não ignorando nossos pontos fracos e áreas de autodesenvolvimento). Do ponto de vista grego antigo, você e eu somos um reflexo do próprio grande cosmos; portanto, cada ação das nossas vidas afeta o equilíbrio do cosmos – tanto o universo maior do qual os planetas, estrelas e galáxias existem, mas bem no universo interior do nosso coração, mente e carne. O autoconhecimento é o cabresto através do qual refreamos nossos apetites e restauramos o foco e o equilíbrio. O autoconhecimento é o meio pelo qual contemos nossos defeitos de caráter.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Deixe os emblemas da mortalidade que se encontram diante de você levá-lo a contemplar seu destino inevitável e orienta-lo em suas reflexões para aquele que é o mais interessante de todos os estudos humanos, o estudo de si mesmo.

Terceiro Grau / pg. 180

Estou refletindo, respondi, e descobrir que a temperança ou a sabedoria, se é uma espécie de conhecimento deve ser uma ciência e uma ciência de alguma coisa.

Sim, ele disse, a ciência do próprio homem. Charmides/1650/Jowett

Porque eu diria que o autoconhecimento é a própria essência da temperança, e nisso eu concordo com quem dedicou a inscrição: “Conhece a ti mesmo” em Delphi. Essa inscrição, se não me engano, está lá como uma espécie de saudação que o deus dirige àqueles que entram no templo …

Charmides/165a/Jowett

O conhecimento do Bem e do Mal

Em seu nível mais básico, a moralidade é a realização de um equilíbrio na vida, entre os extremos da escuridão e luz, entre a dor e o prazer, entre o bem e o mal.

Mas, em muitas situações da vida, nossas decisões não são tão fáceis como aquelas entre extremos. Nossas decisões são mais difíceis – elas também são associadas a zonas cinzentas de sombra e penumbra. Muitas vezes, não temos o luxo de fazer escolhas entre o bem e o mal, mas entre o menor entre dois (ou mais males) ou a maior entre dois ou mais bens. A capacidade de tomar essas decisões com confiança e bem, exige mais que uma mera compreensão superficial da moralidade. Ela exige algo mais profundo – uma compreensão da natureza humana.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Tendo definido para a nossa instrução, os limites do bem e do mal…

Terceiro Grau / pg. 191

Para realizar uma investigação rigorosa sobre a natureza, tanto do bem quanto do mal.

Republica/368c/Waterfield

… A competência e conhecimento com que distinguimos uma vida boa de uma ruim.

Republica/618c/Waterfield

A vida (… expressa como uma viagem náutica)

Desde as primeiras histórias de Jasão e seus Argonautas, assim como Ulisses (e seus 10 anos de jornada para casa depois da Guerra de Troia), uma das imagens mais impressionantes que apelam à nossa mente é o da vida como uma viagem náutica. Quer se trate de um timão de retidão ou uma quilha do caráter, a imagem é clara. É uma imagem de foco ou talvez (mais apropriadamente), uma de manutenção de um rumo preciso em nossas vidas.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Manobrar o barco dessa vida pelos mares da paixão sem abandonar o timão da retidão é a maior perfeição que a natureza humana pode alcançar …

Segundo Grau/Pg.

Estou dando a devida atenção à forma como devemos tentar viver – à “quilha do caráter” que precisamos estabelecer se vamos navegar através desta viagem da vida com sucesso.

As Leis/803b/Saunders

Metais e valores

O termos aristocracia significa literalmente “governo dos melhores”. Os “melhores” eram muitas vezes julgados pelo padrão da riqueza – por quantos metais finos ou objetos de valor eles possuíam. Para Platão, a riqueza não era o fator determinante dos melhores. De sua perspectiva, “os melhores” eram (como já compreendemos) aqueles com o melhor nível de competência. Os “melhores” eram aqueles que eram disciplinados na forma como pensavam e que demonstravam a moralidade vivendo as Virtudes Cardeais.

A partir desta perspectiva, era importante selecionar o novo tipo de líder-filósofo através da total ausência de metais e objetos de valor – aqueles antigos padrões de determinação de quem era melhor para liderar a comunidade.

Um dos primeiros princípios que regem a norma pela qual um governante-filósofo deveria viver, era criar um tabu contra a posse de metais e objetos de valor. É, portanto, de se admirar então que a primeira instrução que um Iniciado ouve quando ele se coloca no canto nordeste, é demonstrar que ele não tem metais ou objetos de valor em seu poder?

A importância com a qual isso é tratado em nosso Ritual é incrível. Esta é a única ocasião em que uma sanção real (e não simbólica), seria utilizada. Nosso Ritual nos lembra que se o Candidato à Iniciação tiver metais ou objetos de valor em sua posse, ele seria obrigado a ser retirado do recinto da loja e a cerimônia recomeçaria desde o início somente depois desses metais e objetos de valor terem sido descartados enquanto durar a cerimônia.

Se repensarmos o nosso ritual a partir da perspectiva de ser ele uma expressão da filosofia de Platão, então, sem dúvida – de todas as lições, instruções, encargos e exortações que um Iniciado ouve – certamente não há símbolo mais elevado do nascimento de um novo filósofo-rei, do que este que ocorre no Canto Nordeste.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Você estava despido de tudo valioso antes de entrar na loja?

Primeiro Grau / pg. 89

Em segundo lugar, demonstrar aos irmãos que você não tinha nem metais, nem objetos de valor consigo, porque se você tivesse a cerimônia de sua iniciação até então deveria ser repetida.

Primeiro Grau / pg. 90

Você foi despojado de todos os metais e objetos de valor. Isto se referia ao fato de que na construção de Templo do Rei Salomão, (pois é sobre as circunstâncias relacionadas com a construção daquela magnífica estrutura que a maioria de nossas cerimônias são baseados), não se ouviu nenhum som de martelo ou implemento de ferro .. .

Primeiro Grau / pp. 92 – 93

Assim, diferentemente de alguns de nossos concidadãos, não se lhes permite ter qualquer contato com o ouro e a prata; eles não devem estar sob o mesmo teto que o ouro ou a prata, ou usá-los sobre seus corpos … Esses preceitos garantirão a sua própria integridade…

República/418a/ Waterfield.

Tendo sido educado assim, eles nunca devem olhar para ouro ou prata ou qualquer outra coisa como sua propriedade particular.

Timaeus/18/Lee

Nós não temos nenhum uso para ouro e prata; é tabu para nós (isto é, reis-filósofos), embora não seja para você.

Republica/422d/ Waterfield.

Agora, nossas observações, há pouco tempo atrás, não nos convenceram de que o ouro e a prata, os deuses da riqueza não deviam ter nem templo, nem casa em nosso Estado?

As Leis/801b/Saunders

 

Inovação

Na filosofia de Platão, o curso de educação para um aspirante a “filósofo-rei” usando as artes liberais e ciências para aumentar as faculdades intelectuais, e as Quatro Virtudes Cardeais para traçar os limites do comportamento adequado e realmente honrado aceitável era o ideal. Ele não exigia qualquer outra inovação. O que era necessário dizer tinha sido dito. Nenhum filósofo-governante tinha autoridade para fazer inovações sob seu próprio capricho.

Da mesma forma, durante a Cerimônia de Instalação de um Venerável Mestre, este novo rei-filósofo é lembrado da mesma coisa. Existem métodos pelos quais as mudanças podem ser incorporadas aos Regulamentos, mas isso não pode acontecer por um capricho ou por ações de uma facção ou grupo particular.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Você admite que não está no poder de qualquer homem ou grupo de homens fazer a inovação no corpo da Maçonaria.

Obrigações de um Maçom / Maio 1995/pg.

Eles devem estar em guarda contra inovações que transgridam nossos regulamentos…

República/424b/ Waterfield.

Submissão e obediência

Um dos princípios definidores comuns tanto dos ensinamentos de Platão quanto da Maçonaria é que o mundo (ou o cosmos) é estruturado sobre o governo e liderança corretos, e sua ordem é colocada em equilíbrio delicado pela habilidade das pessoas que são julgadas competentes para governar com justiça.

Este equilíbrio no cosmos é o oposto do conceito grego de caos (ou em termos modernos) anarquia.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Irmãos, tal é a natureza da nossa Constituição que, como alguns têm necessidade de governar e ensinar, outros devem, naturalmente, aprender a se submeter e obedecer …

A Cerimônia de Instalação do Mestre-Eleito / pág. 52

Agora entendo que os estados devem conter algumas pessoas que governam e outras que são governadas?

As Leis/6890/Saunders

… o que temos em mente é a educação desde a infância em virtude, uma formação que produz um profundo desejo de se tornar um cidadão perfeito – que sabe como governar e ser governado como a justiça exige.

As Leis/6430/Saunders

 

Luz

A imagem da luz como um símbolo de conhecimento e compreensão é universal. É somente durante parte da Cerimônia de Iniciação em que o candidato está com os olhos vendados, simbolizando “seu estado de escuridão”. Uma vez que a venda tenha sido removida, ela nunca mais é reaplicada em qualquer outro Grau da maçonaria simbólica. Platão usa a imagem da luz no que é, sem dúvida o seu mito mais celebrado. Ele é conhecido como O Mito da Caverna. Nesta história, os homens estão acorrentados abaixo do nível do solo e incapazes de virar suas cabeças, compreender que a “realidade” nada mais é do que as sombras projetadas nas paredes da caverna pela luz por trás deles. Depois de terem entendido que as suas noções de “realidade” eram falhas, eles nunca mais podem voltar a viver suas mesmas vidas novamente. Eles foram iluminados. Esta é a base da iniciação, mas possivelmente podemos também dedicar algum pensamento que o processo de iniciação não é apenas algo que acontece em uma noite. Ele pode ser algo que continua durante todo o restante dos dias que nos foram reservados.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
VM. Tendo sido mantido por um tempo considerável em um estado de escuridão, qual é o desejo predominante em seu coração?

Candidato A Luz

VM. Irmão Segundo Diácono, ao meu sinal, deixe aquela bênção ser restaurada para o candidato.

Primeiro Grau / pg. 79

A reorientação de uma mente de uma espécie de crepúsculo para a verdadeira luz do dia – e esta orientação é uma ascensão da realidade, ou em outras palavras – verdadeira filosofia.

Republica/512c/Waterfield

 

Sabedoria e força da mente

Em ambos os trechos citados abaixo, fica evidente que a compreensão e saber o que fazer nos ajudam a chegar só até certo ponto. Na verdade, ter a força da mente para superar as barreiras mentais que às vezes se colocam em nosso próprio caminho é que nos pode ajudar a atingir nossos objetivos.

Estas barreiras mentais são, na maioria das vezes, nossos preconceitos naturais que Platão caracteriza como desejos e apetites.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
… No governo da loja, você deve combinar a sabedoria, a força da mente e as belezas da persuasão eloquente.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 28

.. e deve manter a virtude como um todo em mente, mas sobretudo e por excelência, a virtude que encabeça a lista – o julgamento, a sabedoria e a força da mente de tal forma que os desejos e apetites sejam mantidos sob controle.

As Leis/688b/Saunders

 

As vantagens da educação social

Educação não é só “saber” coisas. A maior parte da educação é a capacidade de se adequar e contribuir significativamente para a comunidade da qual fazemos parte.

Compreender e ser capaz de demonstrar competências sociais, tais como boas maneiras, etiqueta e respeito pelos outros, nos ajuda a nos expressar e aceitar a expressão dos outros – (mesmo quando os outros pensam de forma totalmente diferente do ponto de vista que temos).

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
O cinzel aponta as vantagens da educação, que cultiva nossas mentes e nos torna melhores membros da sociedade

Primeiro Grau / pg. 95

Não é a extrema importância da educação cultural, devida ao fato de que o ritmo e a harmonia afundam-se mais profundamente na mente do que qualquer outra coisa? Para alguém a quem é dada uma educação correta, o produto é a graça; mas na situação oposta, é deselegância.

República/ 401 d /Waterfield

Regulando nossos amores e ações

De acordo com Platão e nosso ritual, a finalidade de se levar uma vida moral, é tornar-se equiparado a Deus.

Embora nunca possamos nos tornar semelhantes a Deus, podemos nos esforçar para fazer o nosso melhor para nos aproximarmos da essência que é Deus.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
O esquadro nos ensina a regular nossas vidas e ações de acordo com a linha e regra maçônicas, e assim harmoniza nossa conduta nesta vida, para nos tornar aceitáveis ​​àquele Ser Divino, de quem toda fluem toda a bondade e a quem devemos prestar contas de nossas vidas.

Segundo Grau/Pg. 139

 

O ponto é que os deuses nunca negligenciaram qualquer pessoa que esteja disposta a se dedicar a se tornar moral e praticar a virtude para assimilar-se a deus, tanto quanto seja humanamente possível. República/613e/ Waterfield.

Preservando nossa consciência

Ambas as passagens abaixo estão relacionadas com uma coisa – os meios que precisamos usar para apoiar-nos em nossas relações com Deus, assim como todas as pessoas que encontramos em nossas vidas diárias.

Somos instruídos a guardar nossos pensamentos e palavras. Estes dois são o assunto a partir dos quais nossos hábitos se desenvolvem.

Nosso objetivo na vida é desenvolver a aretê ou excelência habitual em nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Irmãos, simbolicamente, a espada nos ensina a colocar uma vigilância sobre a nossa língua e observar a entrada de nossos pensamentos, excluindo todo pensamento, palavra e ação desqualificada, e se esforçando para preservar uma consciência livre de ofensa a Deus e ao homem.

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 52

Hábitos sólidos e ideias verdadeiras… as sentinelas e guardiães que melhor protegem o espírito dos homens que encontram a graça diante dos olhos de deus.

República/560b/ Waterfield.

… você não percebeu como se a representação repetida contínua muito depois da infância ela se torna habitual e arraigada e tem um efeito sobre o corpo, voz e mente de uma pessoa “?

República/395d/ Waterfield.

Nossa conduta

A instrução que nos é dada é clara: quando estamos envolvidos em assuntos sérios, precisamos adotar uma atitude séria.

Isso não é nada fora de uma resposta adequada.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Como a solenidade de nossas cerimônias exige uma postura séria, você deve estar particularmente atento ao seu comportamento em nossas reuniões. Segundo Grau/Pg. 143 Mas, se temos a intenção de adquirir virtude, mesmo em pequena escala, não podemos ser sérios e também cômicos , e isto é a razão pela qual devemos aprender a reconhecer a palhaçada …

As Leis/816e/Saunders

Os ensinamentos de Pitágoras

Os ensinamentos de Pitágoras foram o pano de fundo para a filosofia de Platão. Sabemos disso por meio dos escritos de Platão, assim como dos escritos de Agostinho de Hipona.

Nosso ritual deixa bem claro que ele está em dívida também com Pitágoras.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
O sistema de Pitágoras era baseado em um princípio semelhante.

Primeiro Grau / pg. 102

Isto é o que aconteceu com Pitágoras; ele não só era tido em grande conta por seus ensinamentos durante sua vida, mas seus sucessores mesmo hoje chamar seu modo de vida de Pitagoreano e, de alguma forma, parece, se destacar de outras pessoas.

República/600b/ Waterfield.

 

A bênção de Deus sobre nossos empreendimentos

Nossas reuniões maçônicas seguem a prática adotada por Sócrates e Platão, em que a bênção de Deus deve ser buscada em tudo que fazemos na vida.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
VM. O loja estando devidamente composta antes que seja declarada aberta; invoquemos a benção do GADU em todos os nossos empreendimentos. Primeiro Grau / pg. 41 Sim, Sócrates, é claro que todos com o mínimo de senso apela a Deus no início de qualquer empresa, grande ou pequena.

Timaeus/27/Lee

Os céus

Tanto na filosofia grega quanto em nosso ritual, entendemos que a imensidão do universo é um reflexo do seu Criador.

Não é uma prova da existência de um Ser Supremo, mas é algo que fala à nossas mentes e corações sobre algo por trás do ato de criação.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Os céus Ele estendeu um teto, a terra que Ele plantou como escabelo aos seus pés. Ele coroa Seu templo com estrelas assim como como um diadema e as Suas mãos ampliam seu poder e glória.

Primeiro Grau / pg. 104

Ele acreditará que esse Artesão dos céus as colocou e tudo o que neles há, da forma mais bonita possível para tais coisas.

República/530a/ Waterfield.

O supervisor do universo organizou tudo com um olho em sua preservação e excelência.

As Leis/903b/Saunders

 

Autodisciplina

Uma das imagens que Platão usou em um diálogo chamado Fedro foi a de um cocheiro dirigindo seus cavalos. Os cavalos pode querer ir em direções diferentes, mas o papel do cocheiro é orientá-las em uma única direção.

O cocheiro é um símbolo de nossa mente racional e os cavalos são símbolos das nossas paixões e desejos. Através da aplicação de um som, a mente bem-educada sobre nossos desejos e apetites, nós os colocamos sob nosso controle.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
E para si mesmo, por tal prudente e bem regulado curso de disciplina que possa melhor conduzir à preservação de suas faculdades corporais e mentais em sua máxima energia.

Primeiro Grau / pg. 98

Em vez disso, ele regula bem o que é realmente seu, regula a si mesmo, coloca-se em ordem, torna-se seu próprio amigo e harmoniza os três elementos …então e só então ele deve voltar-se para a ação … nessas áreas, ele considera e solicita apenas ação justa e fina que preserve a harmonia interior e ajude a alcançá-la, e o conhecimento e a sabedoria que fiscalizam tal ação; e ele considera injusto e chama de injusta tal ação que destrói esta harmonia.

Republica/443d-e/ Waterfield.

A convicção de que nos impele em direção à excelência é racional e o poder através do qual a dominamos, chamamos de auto controle …

Fedro/238/Hamilton

Boa gestão

Comum aos ensinamentos de Platão e aos da Maçonaria é o princípio de que o bom governo/gestão/liderança é a expressão externa de uma mente bem ordenada.

É por essa razão que Platão coloca tanta ênfase na educação correta.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
A honra, reputação e utilidade desta loja dependerá substancialmente da habilidade e da assiduidade com que você gerencia suas preocupações …

A Cerimônia de instalação do Mestre-Eleito / pág. 37

 

Portanto, a gestão e autoridade inevitavelmente serão tratadas mal por um espírito ruim, enquanto que uma boa mente fará bem todas essas coisas. República/353d/ Waterfield.

O centro e o círculo

Sobre o pavimento mosaico de qualquer loja que pratique o Ritual Emulação (ou uma variante dele) está um dispositivo ou representação de um “ponto dentro de um círculo”. Um volume da Lei Sagrada repousa sobre um travesseiro, que é suportado por este dispositivo e o conjunto é uma representação simbólica de Deus.

Na filosofia de Platão, a forma geométrica mais perfeita é a esfera do círculo.

É por este motivo que Deus criou o mundo como uma esfera (… sim… acreditava-se nisso e foi provado cientificamente pelos antigos gregos, séculos antes de Colombo). Como toda a criação é uma expressão externa de Deus, Platão via a esfera circular como um símbolo, vital e pulsante do Ser Supremo.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
VM. O que é um centro?

SV. Um ponto dentro de um círculo a partir do qual cada parte do círculo é equidistante.

Terceiro Grau / Pág. 162

Por isso, Ele a transformou em uma forma arredondada esférica, com os extremos equidistantes em todas as direções a partir do centro.

Timaeus/33/Lee

… e “círculo”, a definição seria “a coisa cujas extremidades, em todas as direções são equidistantes de seu centro”.

A Sétimo Letra/342/Hamilton

Porque, desde que o universo é esférico todos os pontos de extremas distâncias do centro são equidistantes dele, e assim todos “extremos” igualmente, enquanto que o centro, sendo equidistante dos extremos é igualmente “oposto” a todos eles.

Timaeus/62/Lee

Que todos os homens de boa vontade devem colocar Deus no centro de seus pensamentos.

As Leis/803c/Saunders

A responsabilidade da alma

Um dos ensinamentos fundamentais da Maçonaria é que você e eu somos totalmente responsáveis e totalmente responsabilizáveis ​​por nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações.

Em uma expressão muito poética da filosofia de Platão, nosso ritual se baseia na imagem de nossa alma (ou “princípio vital”), tendo que prestar contas de suas ações durante a nossa vida breve, após a morte.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
…e harmonizar nossa conduta nesta vida, para nos tornar aceitáveis ​​àquele Ser Divino, de quem toda fluem toda a bondade e a quem devemos prestar contas de nossas vidas.

Segundo Grau/Pg. 139

…mesmo neste quadro perecível reside um princípio vital e imortal…

Terceiro Grau / pg. 180

 

O nosso verdadeiro eu – nossa alma imortal, como é chamada – se afasta, como a lei ancestral declara, para os deuses para prestar conta de si mesma.

As Leis/959b/Saunders

A crença em um Ser Supremo

A primeira pergunta ao candidato com os olhos vendados para a Iniciação na Maçonaria é que ele confirme sua crença em um Ser Supremo. A crença em um Ser Supremo é a base da Maçonaria.

Se Deus é nosso Pai, você e eu somos irmãos.

A crença em um Ser Supremo é (coincidentemente) o alicerce dos ensinamentos de Platão, em suas duas obras mais importantes – A República e As Leis.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
VM. Em todos os casos de dificuldade e perigo, em quem você coloca sua confiança?

Candidato Em Deus.

VM. Estou feliz em descobrir que sua fé é tão bem fundamentada.

Primeiro Grau / pg. 74

É extremamente importante ter em conta … a existência dos deuses e a medida óbvia de todos os seus poderes.

As Leis/967b/Saunders

Nunca devemos escolher como Guardião das Leis qualquer um que… não tenha trabalhado duro na teologia, ou permitir que a ele sejam concedidas distinções por virtude.

As Leis/967d/Saunders

A importância da Iniciação

Uma das marcas da iniciação, comum tanto aos escritos platônicos quanto ao Ritual maçônico é uma valorização maior da beleza. A beleza é o reflexo e imagem de Deus em toda a criação e em todos os eventos de nossas vidas.

Cerimônia Ritual Maç. Simb. / Número da página Constituição Sul-Australiana 13ª Edição, 2004 Escritos platônicos Diálogo / Paginação de Stephanus / Tradução
Concede Tua ajuda Pai Todo-Poderoso e Supremo Governador do Universo conceda este candidato à Maçonaria que ele possa assim dedicar e dedicar sua vida ao Teu serviço, e se tornar um irmão verdadeiro e fiel entre nós. Reveste-o com tal competência da Tua Divina Sabedoria que assistida pelos Segredos de nossa Arte Maçônica, ele possa desdobrar melhor as belezas da verdadeira Divindade, para honra e glória do Teu Santo Nome.

Cerimônia de iniciação, pp. 73-74

Agora o homem que não teve sua iniciação recentemente, ou que tenha sido corrompido não faz rapidamente a transição da beleza na terra para a beleza absoluta …

Fedro/250/Hamilton

Mas, o recém-iniciado que teve uma visão celestial completa, quando contempla um rosto com face de deus ou uma forma física que verdadeiramente reflete a beleza ideal, antes de tudo ele treme e experimenta algo do temor que a visão em si inspirou …

Fedro/250/Hamilton

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo IX

Desenvolvendo o Caráter do Rei-filósofo

As Quatro Virtudes Cardeais 

Essencial para o Ritual maçônico é o estudo das Quatro Virtudes Cardeais. Platão não as chamava “virtudes cardeais”. Este termo foi algo que surgiu muito mais tarde desenvolvendo-se a partir da interpretação cristã durante a Idade Média.

Vamos dar uma olhada para o que o termo realmente significa.

A palavra cardeal é derivada do latim cardo. Cardo significa simplesmente uma dobradiça ou uma articulação. A ideia de usar esta palavra foi para enfatizar que, para uma vida humana ter qualquer significado ou valor, aquela vida tem de ser articulada e centrada nessas quatro virtudes.

A palavra virtude é derivada da palavra latina Vir. Vir é latim para homem e, por extensão, virilidade ou força. Os gregos, porém, tinham uma interpretação muito diferente do ideal de virtude e é essa interpretação grega que mais nos interessa neste momento.

O termo grego para a virtude era arete. Arete significa excelência – possivelmente alguma coisa mais – a excelência habitual. É importante notar que do ponto de vista grego, a virtude não tem qualquer inflexão de gênero como tem sua congênere latina. Também era mais ampla em significado e aplicação.

Qualquer que seja o campo da atividade humana em que estejamos envolvidos, cada um de nós tem a capacidade de desenvolver excelência em todo o seu potencial.

As virtudes cardeais são conhecidas em inglês pelas palavras Prudência, Temperança, Coragem e Justiça. Teremos de olhar para cada virtude no seu contexto inglês, latino e grego para melhor apreciar o que Platão estava tentando incutir em nós quando enfatizou repetidamente, que ninguém tem a capacidade de se desenvolver em um filósofo-governante a menos que estas virtudes estejam claramente demonstradas em suas vidas.

Antes de fazermos isso, porém, vamos dar uma olhada na maneira como essas virtudes são exibidas graficamente no espaço da loja.

Acreditava-se em geral… que o número quatro tinha algum tipo de significado especial. Existiam quatro pontos cardeais, quatro ventos, quatro fases da lua, quatro estações, quatro letras da palavra Adão e quatro era o número constitutivo do tetraedro de Platão, que correspondia ao fogo… Quatro foi o número da perfeição moral e os homens com experiência na luta pela perfeição moral eram chamados “tetragonais”. (Umberto Eco, Arte e beleza na Idade Média, pp35-36).

Quando entramos em uma loja, uma das primeiras coisas para a qual nossos olhos serão atraídos é algo que está no centro da sala. É o que é conhecido como o Pavimento Mosaico. Este Pavimento é de forma retangular e as peças que compõem o Pavimento em si são negras contra brancas. Em cada um dos cantos deste Pavimento está a figura de um pendão simples. Em um contexto maçônico, cada um destes quatro pendões representa cada uma das quatro virtudes cardeais.

Não é um simples acidente que o Pavimento Mosaico situa-se no centro da loja. Não é um simples acidente que o Pavimento tenha forma retangular. Não é um simples acidente que as Virtudes Cardeais sejam retratadas como ocupando cada um dos quatro pontos do retângulo onde o ângulo reto é formado.

O projeto em si é medieval e representa a natureza espiritual do ser humano.

O filósofo italiano, linguista e escritor Umberto Eco levantou um argumento significativo em seu livro Arte e Beleza na Idade Média, quando explicou que, durante o século XII, as ideias da teoria pitagórica do universo foram adaptadas e desenvolvidas em um conceito conhecido pelo termo latino, homo quadratus (ou o homem ao quadrado).

Este “homem ao quadrado” é o símbolo da retidão moral e que assim é o próprio conceito que o pavimento mosaico ilustra.

Tendo isso em mente, podemos interpretar o Pavimento Mosaico como ilustração dos meios para atingir uma perspectiva moral sobre a vida e a maneira de fazê-lo – é por meio das Quatro Virtudes Cardeais! Vamos agora examinar cada uma dessas virtudes em mais detalhes para ver quais lições podemos tirar delas, para que possamos aplicá-las em nossas vidas para alcançar maior realização pessoal.

Prudência

A primeiro Virtude Cardeal é a Prudência. A palavra latina é prudentia e é fácil ver a relação linguística entre estas duas palavras. A palavra grega é escrita assim: jronhsis. Ela é pronunciada, fronesis.

Existe um livro de termos filosóficos gregos que leva o simples título de Definições. Embora tenha sido anteriormente atribuído a Platão, a opinião moderna diverge fortemente dessa alegação. Independentemente disso, ele virá a calhar para nós nos referirmos a ela, alegando que as definições aplicadas aos termos eram correntes no mundo grego antigo. Esta será então a nossa linha de base para entender o que os termos significavam quando foram desenvolvidos pela primeira vez.

A definição dada a fronesis (prudência) é:

– sabedoria prática; o conhecimento do que é bom e ruim; a disposição com que julgamos o que deve ser feito e o que não deve ser feito.

A definição enfatiza o caráter muito prático do que se entende pela palavra. Em termos do dia-a-dia, poderíamos sugerir que prudência se refere à arte de aplicar o senso comum em nossas atividades rotineiras. Sendo este o caso, Platão estava enfatizando a importância de um líder ponderado ser capaz de usar o bom senso. A este respeito, o senso comum não é apenas um “palpite” ou um “pressentimento”. Ela é uma habilidade que cada um pode desenvolver como uma forma de excelência habitual.

Temperança

A segunda virtude cardeal é a temperança. A palavra latina é temperantia e é o equivalente grego é svjrosmnh. Pronuncia-se, sofrosunai.

Autocontrole é a mais valorizada das virtudes e significa não desejar desejar. Significa, também, controlar a própria infelicidade, tanto quanto possível quando e se o lamentável acontece e o desejo incontrolável aparece. (Simon Goldhill, Amor, Sexo e Tragédia: A importância dos Clássicos).

Em um contexto do idioma inglês, a palavra temperança tem um sabor muito vitoriano. As Uniões de Temperança (que tinham grande destaque durante a era vitoriana) eram organizações cujo objetivo era a abolição das bebidas alcoólicas. Com efeito, eles diziam “não beba gin”. A palavra também pode significar algo na linha de “contenção”. Em sua própria maneira, a temperança realmente não se sustenta muito bem sob uma luz positiva.

A definição da Grécia antiga era muito diferente e muito positiva:

– Autocontrole; moderação da alma… boa disciplina da alma; concórdia da alma em relação a governar e ser governado.

As ideias operativas aqui são o equilíbrio e autocontrole. Em vez de dizer “não beba gin”, sugere-se que o gin pode ser uma coisa boa para beber – com moderação. Isso sugere que o excesso de qualquer coisa não é realmente desejável.

E ainda sugere que virtude demais pode ser um vício.

Em termos práticos, poderíamos até dizer que esta seria uma boa característica de se ter, se quisermos perder peso… a ideia aqui é que levemos uma dieta balanceada, não exageremos nossa ingestão de calorias e tomemos cuidado com o consumo de álcool. O aspecto positivo desta definição é uma vez mais a sua praticidade. Ela não nos obrigando a sermos ascetas… muito pelo contrário. Ela enfatiza qualidades como equilíbrio, ordem, estabilidade. Nesta luz, o nosso foco na vida diária é atingir o equilíbrio nas coisas que pensamos, as coisas que sentimos e nas coisas que fazemos. É nada menos que o alinhamento harmonioso.

Coragem

A terceira é a virtude cardeal é a coragem. A palavra latina é fortitudo e a palavra grega é escrita assim: andreia. É pronunciada andraia.

Termos como força e coragem têm aplicações diretas em um campo de batalha ou algum teatro de hostilidades, e muitas vezes é nas situações extremas em que manifestações dessas qualidades são geralmente observadas.

A definição do grego antigo é um pouco mais sutil do que esta que acabamos de discutir. A definição grega diz simplesmente:

– Autocontenção na alma sobre o que é temível e terrível; ousadia, em obediência a sabedoria; a calma na alma sobre o que o pensamento correto considera assustador.

Mas, as pessoas que mais merecem ser julgadas de espírito forte são aquelas que sabem exatamente o quais terrores e prazeres estão à frente, e não se afastam do perigo por aquele conhecimento.

Tucídides, A guerra do Peloponeso, 40 (Extraído da Justiça, Poder e Natureza Humana: Seleções da História da Guerra do Peloponeso, Traduzido por Paul Woodruff.

Aqui, a definição enfoca mais uma vez o princípio do equilíbrio. Desta vez, o equilíbrio está associado à capacidade de acalmar a rápida sucessão de pensamentos que nos alarma ou nos assusta. Isso é mais sugestivo de ser um chamado à ação calma mas decisiva quando as circunstâncias o exigem – independentemente dos perigos presentes. Nessas situações, eliminamos os aspectos emocionais de excesso de reação normalmente associados a situações de perigo. Nós vemos o perigo pelo que ele realmente é, e não por aquilo que nossa imaginação hiperativa dá impressão que seja.

Fora estarem envolvidas em um teatro de guerra, a seguinte situação que a maioria de nós tem que enfrentar em algum momento de nossas vidas expressa como podemos demonstrar firmeza em uma situação cotidiana.

Imagine ter ido a um médico especialista e ser submetido a uma série de exames. Estamos aguardando os resultados na área de recepção do consultório do especialista. Estamos preocupados que talvez os resultados sejam terminais. Pensamos que uma rápida sucessão de pensamentos ligados à morte e o morrer. Como as pessoas reagem? Que medidas deverão ser tomadas para o descarte de nosso corpo? Existe vida após a morte? Se for o caso, como seria ela?

Sentimos nosso coração disparar, a respiração tornar-se superficial e rápida. Justificadamente – nos sentimos fracos.

A única coisa positiva a fazer é realizar uma cirurgia em nossos pensamentos… cortar aqueles pensamentos que são uma elaboração baseada nas circunstâncias que estamos enfrentando, agora, hoje, neste exato instante. Precisamos descobrir que um ponto em nosso espírito; aquele ponto fixo em um universo que está girando loucamente fora de controle, e depois ficar com a cabeça erguida quando formos chamados à sala da especialista para ouvir o veredicto, qualquer que seja o que o veredicto possa reservar para nós.

Justiça

A quarta virtude cardeal é a justiça. A palavra latina é iustitia e a palavra grega é escrita assim: dikaiosmnh. É pronunciada dikaiosuna.

Anteriormente, abordamos a tradução moderna da palavra, dizendo que dikaiosuna era traduzida geralmente como a justiça, ao passo que a tendência hoje é traduzir a palavra como “moralidade” ou “retidão ética”. De qualquer maneira, a palavra em inglês é temperada com um tom jurídico de punição por má conduta.

Em nossa discussão das três virtudes cardeais anteriores, notamos que a definição grega original se afasta significativamente do uso comum das palavras em inglês. A situação não é diferente quando se trata da palavra justiça.

A definição grega antiga é simples, sem qualquer elaboração:

– O estado que distribui a cada pessoa de acordo com o que é merecido.

Neste sentido, os gregos enfatizavam que a moralidade, ou a justiça ou demonstrações de ética tinham mais a ver com a resposta a situações de forma adequada. Por exemplo: se uma pessoa faz bem alguma coisa, a coisa apropriada é elogia-la. Se uma pessoa faz mal a uma tarefa, o mais apropriado é aconselhá-la, ou treina-la e orienta-la (ou se todas estas coisas falharem), possivelmente até mesmo puni-la.

Sua importância para nós é aplicar o princípio de tal forma que damos uma resposta adequada a nós mesmos, a cada pessoa que encontramos e a cada evento na vida em que estamos envolvidos.

O ponto é que os deuses nunca negligenciaram qualquer pessoa que esteja disposta a se dedicar a se tornar moral e praticar a virtude para assimilar-se a deus, tanto quanto seja humanamente possível. (Platão: República 613e Trad. Robin Waterfield)

Neste sentido, é significativo que na Cerimônia de Encerramento da Loja, um pouco antes do Primeiro Vigilante bater o malhete para fechar a loja, ele comenta a todos os presentes a sua função específica. É para zelar que cada irmão tenha tido o que é devido e o que lhe deve.

….

Após discutir cada uma das quatro Virtudes Cardeais, podemos entender que, enquanto maçons, somos convocados a demonstrar equilíbrio em tudo de nossas vidas e em nenhum lugar esta instrução tão claramente explicada quanto no Segundo Grau

…observar uma média devida entre a avareza e a profusão, manter a balança da justiça com igual equilíbrio; fazer suas paixões e preconceitos coincidir com a linha justa de sua conduta…

O objetivo por trás dessa afirmação é simples. O objetivo por trás disso ilustra a razão por trás uma vida moral que Platão enfatizava de diferentes maneiras ao longo de A República. É assimilação a deus, ou como nosso ritual poeticamente nos lembra, sempre temos a eternidade em vista.

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo VIII

Resultado de imagem para PLATÃO E AS artes liberais

Desenvolvendo o Intelecto do Rei-filósofo

As Artes e Ciências Liberais

No capítulo anterior, examinamos uma fórmula simples, que reduziu a substância da obra de Platão A República a uma equação que é a fórmula idêntica ao modelo que usamos na Maçonaria… uma fórmula que foi adaptada por maçons classicamente treinados, bem versados em filosofia grega, que foram encarregados ​​de enquadrar o Ritual de Emulação inglês nos primeiros anos do século XIX.

Mas, antes de avançar, vamos nos certificar de que estamos entendidos sobre o que discutimos até agora…

Do ponto de vista de Platão, a formação de um líder pensante (Um rei-filósofo), envolvia dois passos importantes… a formação de seu intelecto e a formação de seu caráter.

Seleções da vida de Dion por Plutarco

Dion acreditava que esta situação resultou da falta de educação do tirano, e por isso tentou interessá-lo em estudos liberais… na esperança de formar seu caráter. 

Com Platão em Siracusa, Dionísio se submeteria aos seus ensinamentos, e assim ajudado, seu caráter poderia aceitar a disciplina imposta pela virtude… em obediência à qual o universo se move do caos à ordem… em suma, ele se tornaria um rei, ao invés de um tirano. 

Platão convenceria o jovem a desmantelar seus dez mil seguranças, dissolver sua frota de quatro mil cavaleiros e a multidão inumerável de infantes, e tudo isso a fim de buscar o bem inefável nas escolas da Academia, para fazer da geometria de seu guia para a felicidade e entregar as bênçãos do poder…

Traduções por: Rex Warner

Outra coisa que temos de ter claro sobre isso é que Platão acreditava que o acidente de gênero não tinha relevância se o rei-filósofo era realmente um homem ou uma mulher. Sua ênfase estava na competência, não no sexo.

O objetivo de Platão era criar um líder ideal – Alguém que fosse versátil e multi-dimensional – alguém que fosse capaz de harmonizar os diferentes aspectos da inteligência (assim como da emoção) para realizar julgamentos que fossem sólidos e que realmente lidasse com a situação com a qual houvesse necessidade de enfrentar.

Com esse entendimento, neste capítulo vamos explorar a dimensão intelectual do currículo de Platão. Estes são aqueles que se referem especificamente às Artes e Ciências Liberais. No próximo capítulo examinaremos as Virtudes Cardeais e sua aplicação em nosso Ritual e, igualmente importante, em nosso dia-a-dia.

As artes e ciências liberais (como as conhecemos hoje) compreendem sete assuntos. O número 7 tem um significado maçônico específico e algo a que nós retornaremos mais tarde.

No entanto – o curriculum original de disciplinas em A República de Platão não é composto por sete, mas por cinco assuntos. Eles eram:

  1. Aritmética;
  2. Geometria: Platão dividiu a geometria em duas correntes separadas. A geometria plana tratava de modelos bidimensionais, enquanto que a geometria sólida tratava modelos tridimensionais;
  3. Música;
  4. Astronomia;
  5. Dialética: A dialética era a arte de construir, expressar e defender argumentos. Ela envolvia as habilidades de gramática, lógica e retórica. Credita-se ao estadista romano e filósofo Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) a divisão do campo da dialética em três correntes de gramática, lógica e retórica.

Até o momento em que a Idade Média havia chegado, o currículo original de Platão, de artes e ciências tinha se desenvolvido na estrutura que conhecemos hoje, e à qual nos referimos cada vez que assistimos a uma reunião de loja. Também é interessante notar que Cícero escreveu duas obras famosas que têm os mesmos títulos que os dois escritos mais famosos de Platão, – República As Leis.

Como um breve aparte, se olharmos para qualquer de suas representações em belas artes, notaremos que cada uma das artes e das ciências é retratada como uma mulher. A razão por detrás disso decorre do fato de que em Latim (e também em vários outros idiomas) os substantivos são classificados pela sua terminação de gênero – se o final da palavra é tipicamente masculino, feminino ou neutro. Em suas formas latinas, Grammatica, Logica, Rhetorica, Arithmetica, Geometrica, Musica, e Astronomica, cada uma delas tem um final feminino. Em latim, isso é mais comumente representado pela letra “a”.

Vamos agora olhar para cada uma destas artes e ciências em separado para entender o que elas estão destinadas a nos ensinar, assim como considerar as possibilidades que existem para nós de expressá-las significativamente em nossas vidas hoje.

As Três Artes

As três artes da lógica, gramática e retórica se relacionam com a nossa capacidade de nos comunicar usando a linguagem. Simplificando – estas são as artes que precisamos aprender e dominar, a fim de comunicar nossas ideias e visões, nossos desejos, nossas vontades e nossas necessidades eficientemente a outras pessoas por meio de palavras.

Gramática: Seu uso e importância

As regras da gramática determinam como as palavras são posicionadas em uma frase, de modo que a sua lógica seja clara e inequívoca. Cada idioma tem suas regras para a construção de frase (ou sintaxe) e é importante entender que as regras que governam a forma como as palavras aparecem em uma frase em inglês tem pouca correspondência com as regras quando elas aparecem nas frases de outras línguas.

Quando você ou eu construímos frases e sentenças e as colocamos em uma ordem correta, para que possamos fazer sentido para outros, quer por escrito, discussão particular, ou apresentação pública, estamos demonstrando competência na arte da gramática.

Um líder pensante precisa ser capaz de se comunicar de forma clara e com o mínimo de ambiguidade. Essa capacidade de usar a gramática de forma eficaz é sem dúvida o aspecto mais essencial para sermos capazes de apresentar o que somos aos outros. Neste contexto, a gramática constitui os blocos de construção de nossa própria auto expressão. Quando nos expressamos de forma clara, estamos expressando quem somos e o que defendemos. Importante, também expressamos contra o que nos posicionamos.

Devido ao poder desta forma de arte, é crucial, então, que desenvolvamos a capacidade de fazê-lo com precisão e eloquência.

Lógica: Seu uso e importância

Na sua forma mais simples, a lógica é a capacidade de construir um argumento sólido, ao invés de um argumento pobre.

Um dos traços distintivos de um líder de pensamento é a sua capacidade de pensar com clareza, encapsular a essência do argumento e trabalhar para a resolução do problema em questão. Ser capaz de fazer isso e argumentar de forma convincente com o pensamento claro, fundamentado e sequencial é uma forma de excelência intelectual e constitui a base das decisões políticas corretas e eficazes.

Retórica: Seu uso e Importância

“Se você tem um dom natural para falar, vai se tornar um orador famoso, desde que você melhore seu dom de conhecimento e prática; mas se alguma destas condições não se concretiza, você vai ficar aquém da sua meta naquela medida.” Platão, Fedro, 269 Trad: Hamilton.

Pergunte a qualquer número de pessoas qual é seu maior medo (e pondo de lado a morte e os impostos), a resposta universal (independentemente da cultura) parece ser falar em público. Surpreendentemente, a maioria das pessoas ficaria feliz em passar pela dolorosa experiência de um tratamento de canal dentário, que ficar de pé e de modo articulado e convincente dirigir-se a um grupo de pessoas. No entanto, esta capacidade de se comunicar com segurança e eficiência em um fórum público é uma das marcas que muitas vezes são utilizadas para identificar um líder.

Espera-se que um líder use o poder de sua voz para levar uma audiência a fazer alguma coisa – agir, apelando para o seu pensamento e envolvê-la emocionalmente. Ele incorpora uma série de habilidades de boa comunicação. Mais importante ainda, exige-se o uso da voz (não só o volume, mas o tom e a projeção). Também exige uma compreensão da linguagem corporal para expressar emoções (assim como as ler) e respostas emocionais de forma mais eficaz. Na verdade, isso está longe de uma proeza fácil de conseguir. Ela exige uma capacidade de “sentir” as diferenças na forma como o público responde durante uma apresentação. Isso exige versatilidade de se adaptar e se ajustar ao “humor” do público a qualquer momento.

Coletivamente, essas habilidades compreendem a competência da retórica.

Platão tinha um aluno fabuloso, que atendia pelo nome de Aristóteles. Aristóteles escreveu uma obra chamada Sobre a Retórica que lida especificamente com o uso correto da retórica. Nos parágrafos de sua abertura, ele tratou dos casos em que a retórica era usada incorretamente. Ele os descreveu como casos onde “raiva, piedade e emoções semelhantes” são despertadas quando elas “nada têm a ver com os fatos”.

Em sua essência, a retórica trata com ser capaz de falar com o que o Ritual descreve como eloquência persuasiva. Na terminologia moderna, a eloquência persuasiva provavelmente se aproxima mais da expressão mais comum de habilidade de vendedor. De um ponto de vista maçônico, é interessante trazer à mente que, durante a Cerimônia de Instalação do Venerável Mestre Eleito, tanto o Venerável Mestre quanto seu segundo vigilante são investidos com as palavras que orientam esses dois oficiais para o uso da eloquência persuasiva em todas as suas relações com os outros.

O termo eloquência persuasiva parece resumir (em um uso bastante econômico de palavras) o que o uso correto da retórica, na verdade, exige!

As Quatro Ciências

Enquanto as Artes se referem às habilidades de comunicação usando palavras, as Ciências se referem à habilidade de ser capaz de comunicar com os outros por meio de números e cálculos.

Aritmética

A primeira das ciências, é precisamente a ciência do cálculo.

Do ponto de vista de um líder, é importante saber como somar, subtrair, multiplicar e dividir. Serva da lógica, é uma ferramenta que você e eu consideramos uma matéria que nos é ensinada desde nossos primeiros dias na escola. Platão entendeu que a aritmética tinham aplicações muito práticas (especialmente para um general implantando suas tropas ou um comerciante para ganhos comerciais).

Ele também observou que as pessoas que são boas em aritmética têm uma tendência natural para demonstrar agilidade da mente também em outras disciplinas. De uma perspectiva prática, Platão até mesmo sugeriu que uma pessoa que carece de agilidade natural da mente pode utilizar a aritmética como meio para treinar sua mente a pensar com maior flexibilidade.

Embora um líder reconhecerá as aplicações práticas da aritmética, ele ou ela também será treinado para usar a aritmética como um instrumento específico de filosofia… como uma forma de compreender a verdadeira realidade ou dito de outra forma – Deus.

Devemos… convencer as pessoas que vão realizar as tarefas mais importantes da nossa comunidade a aprender aritmética. Eles não devem praticá-la como diletantes, mas devem manter-se nela até chegar ao ponto em que possam ver em suas mentes que os números realmente são… a fim de facilitar as mentes a se afastar cada vez em direção à verdade e a realidade.

Geometria

A segunda ciência é a ciência de cálculo espacial, de ângulos, distâncias e áreas. Platão dividiu este assunto em duas correntes separadas, e identificou-as como a geometria sólida e geometria plana.

Novamente, Platão reconheceu os aspectos práticos dessa ciência, mas seu propósito em um currículo para o desenvolvimento de líderes pensantes, era alinhar mente do líder com realidade máxima que ele expressa como a divindade. Como a ciência da geometria faz isso? Ela o faz por meio de um processo de disciplina mental, da mesma forma que a aritmética é uma disciplina mental projetada para despir os aspectos ilógicos e inúteis do trabalho ou da apresentação de um cálculo. A plataforma de Platão foi no sentido de treinar a mente – disciplinar a mente para ver a verdade por trás da ilusão da existência cotidiana.

O que temos a considerar é se os aspectos mais avançados da geometria que constituem o cerne do assunto têm alguma relevância no contexto da regularização do caminho para se vislumbrar o caráter de bondade. E o que estamos dizendo é que tudo é relevante no contexto, se obriga a mente a se voltar para o reino onde a parte mais abençoada da realidade pode ser encontrada; que a mente deve fazer o possível para ver… portanto… a geometria pode atrair a mente para a verdade. Ela pode produzir o pensamento filosófico…

Algo que tem profundo significado para nós enquanto maçons é a linguagem que adaptamos a partir dos escritos de Platão, especificamente em relação à divindade.

Por exemplo, em “Timeu”, Platão criou o primeiro mito grego da criação do universo por um único deus (ao invés de uma multiplicidade de deuses). Neste mito, Platão descreve que este deus criou o mundo usando formas geométricas. Nesse sentido, ele é o Geômetra do Universo.

Platão foi de fato o primeiro a usar esta imagem de deus como o Geômetra do Universo. Da mesma forma, Platão foi o primeiro a usar a imagem de deus como o arquiteto do universo. O próprio termo grego do qual deriva a palavra arquiteto é arche-techton e significa – (arche) grande e (techton) artesão.

Platão propôs que o Geômetra do Universo criou o mundo a partir de quatro elementos básicos: Terra, fogo, ar e água.

À Terra ele designou o cubo:

ao ar – o octaedro:

ao fogo – a pirâmide:

e à água o icosaedro:

Toda a matéria foi formada pela coesão desses elementos em diferentes proporções, um ao outro. Uma vez que o universo fora criado, ele assumiu a forma que foi a própria imagem de si mesmo, de perfeição:

Portanto, ele o transformou em uma forma arredondada esférica, com os extremos equidistantes em todas as direções a partir do centro, uma figura que tem o maior grau de perfeição e uniformidade, pois ele julgava que a uniformidade era incalculavelmente superior ao seu oposto.

Astronomia

A terceira ciência – Astronomia – é a ciência da medição dos corpos celestes. Era também a ciência, através da qual o tempo era medido, não apenas as proporções do dia e da noite, mas também a maneira que as estações eram determinadas a partir de observações da chegada dos solstícios e equinócios.

… as sete Artes Liberais… eles são os resumos da verdade e, como Platão afirmava, as etapas do todo universal. Laurence Gardner, A Sombra de Salomão, Cap 2, pg. 24.

As artes liberais não eram ensinadas tanto como meio de preparar os alunos para ganhar a vida, mas para aumentar o seu conhecimento nas ciências filosóficas. Laurence Gardner, A Sombra de Salomão, Cap 2, pg. 22.

Agora, quando o Pai que tinha gerado o universo observado o colocou em marcha e vivo… ele estava bem contente… Porque antes que céu existisse não havia dia ou noite, nem meses ou anos.

Na época de Platão, a ciência da astronomia incorporava passos das questões universais tão diversos quanto o movimento dos planetas, astrologia e (estendendo um pouco), possivelmente até a previsão do tempo. Observando as cores do céu em diferentes pontos do dia, chegamos a regra prática que diz “…céu vermelho à noite, o deleite de marinheiro… céu vermelho de manhã, um aviso ao marinheiro”. Mais do que qualquer coisa, a astronomia era para Platão o método pelo qual um rei-filósofo seria capaz de deduzir a existência de um criador por trás do universo. Em sua própria maneira, ele constituía a base de um argumento primitivo do Design Inteligente. Platão argumentava que o saber intelectual e a admiração que sentimos quando olhamos para o céu, foi a origem da filosofia:

Como ela é, no entanto, nossa capacidade de ver os períodos do dia e da noite; dos meses e dos anos; dos equinócios e solstícios levou à invenção do número e nos deu a ideia de tempo e abriu o caminho para investigação sobre a natureza do universo. Essas atividades nos deram a filosofia…

Investigando a filosofia, não é de se admirar que o astrônomo encontrará aspectos do divino.

Um verdadeiro astrônomo… certamente pensa que o artista dos céus o construiu e tudo o que ele contém para ser tão bonito quanto tais obras podem ser…

Voltando brevemente ao nosso próprio ritual, achamos que a Instrução sobre a Primeira Prancha de Traçar reflete um sentimento idêntico:

O Universo é o templo da Divindade… e a Beleza brilha através de toda a Criação, em simetria e ordem.

A simetria e a ordem justa mencionada era ressaltada de maneira semelhante por Platão ao estabelecer paralelos entre as ciências da astronomia e a música e os sentidos humanos de visão e audição:

Os olhos são feitos para a astronomia… e pela mesma razão, as orelhas são supostamente feitas para o tipo de movimento que constitui a música. Se assim for, esses ramos do conhecimento são aliados um do outro. Isto é o que afirmam os pitagóricos.

Música / Harmonia

A quarta ciência é a medida de intervalos de som e frequências. Quantas vezes usamos na linguagem comum a imagem de estar “em harmonia” – uma imagem que evoca a noção de operar na mesma frequência / largura de banda que alguém ou alguma coisa? A frase nos fala em um nível subconsciente da harmonia que existe quando o que pensamos, o que sentimos e como nos comportamos estão perfeitamente alinhados.

… E a harmonia, cujos movimentos são semelhantes às órbitas dentro de nossas almas, é um dom das Musas… para servir como um aliado na luta para trazer a ordem a qualquer órbita em nossas almas que se tornou desarmonizadas e torná-lo concordante consigo mesma.

Do ponto de vista de Platão, a música era um método que nos ajudava (da mesma forma que a astronomia) a intuitivamente discernir a presença de um criador.

O que Platão defendia na concepção de um ciclo de estudos nas artes e ciências liberais, eram as ferramentas do oficio filosófico. Isso reflete o cuidado que nos é pedido em cada uma das Instruções sobre as Ferramentas de Trabalho. Em cada grau, nossa atenção é atraída para essas ferramentas de trabalho, não como ferramentas do ofício, mas como ferramentas especulativas (significando filosóficas) de vida.

Estas ferramentas intelectuais foram concebidas para ajudar uma pessoa a pensar – e não apenas nas aplicações prática do dia-a-dia desses campos do conhecimento, mas o mais importante – como um meio de alcançar um melhor entendimento mais satisfatório da relação entre Deus e a humanidade.

E esta é justamente a interpretação que aparece em nossa Exortação do Terceiro Grau:

… vocês foram levados no segundo grau a contemplar a faculdade intelectual e traçar seu desenvolvimento através dos caminhos da ciência celeste, até mesmo ao próprio trono de Deus.

Abaixo está uma tabela de algumas outras correlações entre as ciências em A República de Platão e o Ritual de Emulação.

                  Aritmética, Música, Geometria, Astronomia
Cerimônia do Ritual da Maçonaria Simbólica página nº Constituição do Sul da Austrália 13 º Delton, 2004 Escritos PlatônicosDiálogo / Paginação de Stephanus/ Tradução
Sete era uma alusão às sete Artes Liberais e Ciências, ou seja, Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.Segundo Grau. Pg. 149 Agora, o cálculo e a aritmética são inteiramente relacionados com o número… e eles claramente guiam a pessoa para a verdade… Então, a aritmética é um dos temas que estamos aparentemente procurando.Republic/525b / Waterfield

Portanto, Glauco, a geometria pode atrair a mente para a verdade. Ela pode produzir pensamentos filosóficos…

Republic/527b / Waterfield

E você não acha que a terceira deva ser a astronomia? Você não acha que um verdadeiro astrônomo… sente… que o artista dos céus os construiu… para serem tão bonitos quanto essas obras jamais poderiam ser?

Republic/527d e 530a/Wakefield Os olhos são feitos para a astronomia… e pela mesma razão, as orelhas são supostamente feitas para o tipo de movimento que constitui a música. Se assim for, esses ramos do conhecimento são aliados um do outro. Isto é o que afirmam os pitagóricos.

Republic/530d/ Waterfield.

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo VII

A ligação entre o rei-filósofo de Platão e o Venerável Mestre de uma Loja

Uma das razões mais fortes de que A República foi a pedra fundamental da filosofia ocidental é que o livro apela e nos fala em muitos níveis. Ele pode ser lido e utilizado como um manifesto político, como um comentário sociológico, como uma exposição psicológica, ou como um tratado educacional. Além disso, (depois de mais de 2000 anos), em qualquer nível que o lemos, sua mensagem é ainda vibrante e ele ainda nos fala sobre as preocupações que temos, enquanto homens e mulheres vivendo no século XXI.

O único nível que não foi explorado em qualquer grau é o nível que estamos explorando no momento – A República como o fundamento do ritual maçônico moderno. Portanto, neste ponto, daremos uma olhada mais de perto nos paralelos mais importantes entre sua filosofia e nosso Ritual.

A República é um trabalho grande e complexo por vezes (apesar de sua aparente discussão direta diária). Então, agora pode ser um momento tão bom quanto qualquer outro para nos familiarizarmos rapidamente com as semelhanças que existem entre este livro e nosso Ritual. Isto simplificará o processo de leitura de A República, porque podemos retirar dele todos os elementos supérfluos e nos concentrarmos apenas nos elementos que foram escolhidos pelos compositores do Ritual Emulação entre os anos de 1813 e 1823. Estes foram os elementos que eles acreditavam ser importante para cada um de nós, para desenvolver competência como líderes ideológicos ou “reis-filósofos” de nossos dias.

Nos negócios, muitas vezes nos referimos a conceitos conhecidos como “modelos de negócio”. Em termos simples, modelos de negócios são plataformas para desenvolver resultados muito específicos. A título de exemplo, esses resultados podem ser metas financeiras, ou podem ser projetados para capturar uma participação especial no mercado ou podem até mesmo ser baseados em desenvolver e aperfeiçoar as relações desejadas. O que os modelos de negócio abrangem são meios pelos quais esse objetivo será alcançado.

Se nos aproximarmos de A República a partir deste ângulo fácil de entender, a única coisa que ficará evidente é que o “modelo de negócios” que Platão projeta é, de maneira semelhante, simples. Seu objetivo é desenvolver um líder pensante (ou para usar sua própria terminologia) – um rei-filósofo. E como ele propõe fazer isso? Seu método é a simplicidade em seu mais alto grau. Ele argumenta que a educação é a chave. Nada mais, nada menos.

Analisando mais profundamente, ele diz que o homem ou a mulher escolhida para receber esse ensino especializado deve ser treinado, disciplinado, aconselhado e encorajado durante muitos anos – fundado – em duas vias distintas; porém complementares de estudo.

A primeira é o desenvolvimento da capacidade intelectual do candidato. A segunda é o desenvolvimento do caráter do candidato.

Em seu nível mais básico (mas com grande precisão), a fórmula de A República pode ser expressa como:

Intelecto + Caráter = Rei-filósofo

Neste exato momento, é inevitável que estaremos nos perguntando como esta fórmula se aplica à Maçonaria. A resposta também é simples. Ela é tão simples que compartilha muitas semelhanças com um processo com o qual eu e você provavelmente estamos muito familiarizado, mas que de todo modo os compositores do Ritual Emulação podem não ter sido incomodados por ele em 1816.

Deixe-me explica-lo através desse exemplo muito fácil de acompanhar: Em 1816 – ano em que foi aprovado o Ritual Emulação, não tenho a certeza se as meias eram qualquer outra cor que não fosse preta. O resultado disso é que estes homens estavam provavelmente desconectados do fenômeno diário que enfrentamos no século XXI – o problema de encontrar um par específico de meias na pressa de ir ao trabalho todas as manhãs. Eu chamo minha esposa de manhã: “Jenny – onde estão as minhas meias pretas com listras brancas”? Ela está na cozinha, preparando sanduíches para o nosso filho mais novo. Como Jenny não tem a capacidade de ver através das paredes (até onde eu sei), ela sempre é capaz de saber onde elas estão. Ela vai gritar: “Você já tentou olhar bem na parte da frente de sua gaveta de meias?” Eu faço e sempre me surpreendo ao encontrar o par de meias exato que corresponda ao meu terno naquele dia.

O que eu estou procurando está sempre em baixo do meu nariz.

Exatamente este princípio aplica-se aqui.

Em primeiro lugar – Platão montou um currículo que incluía os temas que compõem a parte “intelecto” da equação. Nós discutimos o termo coletivo para este grupo de indivíduos. Nós os conhecemos como as artes liberais e ciências.

Ele, então, foi um passo adiante. Ele concebeu um currículo que incluía os temas que compõem a parte “caráter” da equação. Isoladamente, esses temas são – prudência, temperança, fortaleza e justiça. Coletivamente, nós nos referimos a eles como Quatro Virtudes Cardeais e as exploraremos com mais detalhes um pouco mais tarde.

Então, vamos rever a equação. Agora, podemos expressá-la como:

As Artes Liberais e Ciências + As Quatro Virtudes Cardeais = Rei-filósofo.

Há ainda uma questão importante que não superamos, e ela se refere ao termo Rei-filósofo na equação acima.

Colocando a filosofia de lado por enquanto, vamos voltar à simples tarefa de encontrar nossas meias de manhã a que me referi anteriormente. Lembre-se – a resposta está bem em baixo de nosso nariz.

Precisamos ter em mente que os homens que compuseram o Ritual de Emulação eram altamente versados nos clássicos. Lá em 1816, quando o Ritual Emulação foi finalmente concluído e aprovado, “os clássicos” cobriam uma gama de literatura que ia da Bíblia, passava pelos escritos gregos e romanos até Jonathan Swift. O que estamos dizendo é que a bússola da literatura clássica foi e continua a ser, felizmente, … ampla.

Então … vamos olhar para os nossas meias mais uma vez …

Nosso ritual é baseado em que? A resposta simples é: Ele é baseado nas circunstâncias relacionadas com a construção do Templo do Rei Salomão.

Ele é baseado na construção de um templo que pertence ao Rei Salomão!

Esta personagem bíblica é famosa por dois motivos. O primeiro é que ele era um rei. O segundo é que ele era famoso por ser um rei amante da sabedoria. A este respeito, está longe de ser acidental que o termo grego para “amante da sabedoria” seja filósofo.

Então … o rei Salomão (do ponto de vista maçônico) é o rei-filósofo!

Agora, vamos avançar mais um passo …

Em uma loja maçônica, é o Venerável Mestre quem se senta na Cadeira do Rei Salomão. É o Venerável Mestre que representa o Rei Salomão. É o Venerável Mestre, que representa aquela característica de Sabedoria.

Então, vamos reduzir os termos da fórmula platônica para um uma significativamente Maçônica:

As Artes Liberais e Ciências + As Quatro Virtudes Cardeais = Rei-filósofo = Venerável Mestre.

Embora possamos ter resolvido um pequeno mistério maçônico, ainda não explicamos adequadamente o mistério de como a sua esposa (e a minha) sabe a localização exata de nossas meias pretas (com as listras brancas ) – Todas as manhãs.

… mesmo estando na cozinha!

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo VI

República de Platão – sua relevância para a Maçonaria

Anteriormente, quando expliquei como tinha topado acidentalmente com seções destacadas da República que se relacionavam diretamente com o ritual maçônico, a única coisa que imediatamente ficou evidente para mim, foi que me pareceu que nosso ritual era uma condensação magistral do tema principal da obra de Platão, A República.

Então, qual é o tema principal de A República? Qual é a sua premissa? A República propõe que, para que você e eu para levemos uma vida feliz e plena, precisamos levar vidas que sejam intrinsecamente morais. É isso.

O termo grego que Platão para moral é dikaiosune.

Os primeiros tradutores de A República, como Jowett, Rieu e Grube, traduziram dikaiosune como “justiça”. Tradutores modernos, tais como Waterfield e Reeve reconhecem que a palavra grega está mais próxima em significado de “correção ética” ou, mais especificamente, “moralidade”.

O argumento levantado em A República é que a moralidade é definida como um alinhamento de nosso pensamento, nossos sentimentos e nosso comportamento. Especificamente – quando o que pensamos, o que sentimos e o que fazemos não estão em conflito entre si, mas estão em perfeita harmonia e concórdia, é nesses momentos expressos de nossas vidas que nos aproximamos de nosso objetivo de assimilar nossas vidas a Deus.

A República não é uma obra de teoria política, mas uma alegoria do espírito humano individual.” W.K.C. Guthrie, citado por Robin Waterfield na Introdução à sua tradução da República, pg. xvii.

A finalidade de Platão em A República, então, é fornecer uma espécie de teoria de campo unificado, na qual todos os elementos que tornam a vida humana boa são agrupados em uma visão de eterna união, ordem e estabilidade… Seu propósito era levar seus leitores a mudar suas vidas; realizar a busca de assimilação a Deus.” Robin Waterfield na Introdução à sua tradução de A República, pg. xxi.

Então, a primeira coisa que precisamos notar é isso – A República é um estudo detalhado do conceito de moralidade e a definição clássica de Maçonaria é sempre dada como “um sistema peculiar de moralidade”. A particularidade não é o tipo de moralidade, mas o sistema ou método pelo qual a moralidade é ensinada. Dentro da Maçonaria, nosso sistema de moralidade é ensinado através de um processo chamado ritual. Tendo compreendido esta premissa geral, a questão lógica da tradução a ser colocada é esta – como vamos realmente nos educar para nos tornarmos morais?

O corpo de A República fornece a resposta a esta pergunta. Felizmente, ele o faz de uma forma que eu e você (enquanto maçons) não teremos qualquer dificuldade em compreender. A razão para isto é que tudo – dentro do nosso ritual suporta isso.

Permitam-me enfatizar este ponto – tudo – suporta isso. Platão recomenda que os reis-filósofos precisam se submeter a um curso de educação que tem como principal meta o treinamento da mente para atingir dois objetivos distintos. O primeiro é pensar com clareza, enquanto que o segundo é agir de uma maneira que esteja de acordo com o princípio grego de excelência. A palavra grega para excelência é “arete” e, tradicionalmente, ela é traduzida em inglês como a palavra que comumente reconhecemos como virtude.

O primeiro curso na educação de um rei-filósofo proposto por Platão – (a saber, aquele do treinamento da mente para pensar com clareza), era um curso de assuntos com os quais estamos familiarizados. Nós nos referimos aos temas deste curso como artes e ciências liberais.

O segundo curso na educação de um rei-filósofo – (aquele que lida com o treinamento da mente para agir em consonância com o princípio da excelência), ele dividiu em quatro campos distintos. Estes campos são: Prudência, Fortaleza, Temperança e Justiça. Discutiremos cada um deles separadamente, mas no momento, podemos definir esses termos com uma linguagem mais moderna, referindo-nos a eles como senso comum (ao invés de Prudência), equilíbrio de vida (ao invés de Temperança), pensamento calmo (ao invés de Fortaleza) e agir de forma adequada para a situação (ao invés de Justiça).

Embora os elementos desses princípios possam ter existido de alguma forma antes de Platão, este tem o mérito de ser a primeira pessoa na cultura ocidental a sintetizá-los em um todo estruturado, coerente e lógico.

Neste ponto inicial de nossa análise, (somente por uma questão de simplicidade), reduzirei todo o nosso Ritual para dizer que ele é uma destilação dos princípios de A República – ou seja, que nosso Ritual é um sistema peculiar de ensino de moralidade que usa como o seu arcabouço, dois estudos primários – aqueles das Artes Liberais e Ciências, e também as Quatro Virtudes Cardeais. Seu objetivo ao fazer isso é desenvolver em um candidato à entrada na Maçonaria os atributos intelectuais e de caráter necessários em um rei-filósofo.

Em seu nível mais básico, este é um ponto muito conveniente para começar; então, vamos iniciar nossa discussão revelando a ligação fundamental entre o conceito de Platão do filósofo-rei e o Venerável Mestre de nossa loja.

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Platão e o Ritual Maçônico – Capítulo V

Platão, uma breve biografia

Embora os escritos de Platão sejam vastos e girem em torno de pouco menos de 1.800 páginas em uma edição de Trabalhos Completos, nosso conhecimento do próprio homem talvez não seja tão abrangente. Ainda assim, se tivermos uma compreensão das principais influências em sua vida e seus efeitos sobre os seus escritos, isso nos ajudará a compreender sua contribuição para o nosso Ritual ainda mais.

Primeiros Anos

Platão nasceu por volta do ano 428 ou 427 a.C. em Atenas, em uma família aristocrática de alguma influência nos assuntos políticos.

Sabemos que o nome de seu pai era Ariston e que o nome de sua mãe era Perictone. Em geral, a história tem prestado pouca atenção ao pobre Ariston. Na verdade, o sobrinho de Platão (Speusippus) foi um passo além na marginalização total do significado de Ariston na vida de Platão, afirmando que o deus Apolo era o pai de Platão, e não como algumas pessoas erroneamente afirmavam – Ariston.

Em contraste, os antecedentes de Perictone são muito mais desenvolvidos. Uma fonte antiga enfatiza que Perictone tinha fama de ter tanto um belo rosto quanto um corpo incrivelmente atraente.

O irmão de Perictone chamava-se Cármides. Este Cármides é o personagem central do diálogo de Platão de mesmo nome – um diálogo que trata especificamente do estudo da Virtude Cardeal da temperança.

Platão também tinha dois irmãos, cujos nomes eram Glaucus e Adeimantes. Estes dois irmãos aparecem como personagens principais da República.

Ariston morreu quando Platão ainda era muito jovem e a bela Perictone se casou novamente. O resultado de seu novo casamento foi o nascimento de Antífone um meio-irmão de Platão.

Platão também tinha uma irmã chamada Petone. Quando Platão faleceu, foi o filho de Petone – Speusippus quem (juntamente com outro membro da Academia chamado Xenócrates) assumiu a liderança da Academia, que tinha sido originalmente fundada por Platão. Foi nessa época que Speusippus começou a divulgar a versão da concepção de Platão, por Perictone através do deus Apolo.

Seu Nome

Durante séculos, tem havido um debate sobre seu verdadeiro nome. Desde os tempos antigos, havia argumentos de que “Platão” simplesmente pode não ter sido seu verdadeiro nome! Uma das principais fontes que temos da vida de Platão nos chegou a partir de uma biografia escrita no século III d.C. por um romano chamado Diógenes Laertius. Tendo em mente que Laertius viveu cerca de 600 anos depois de Platão, ele compôs uma biografia de Platão (entre outros filósofos), baseando seus “fatos” em histórias que corriam durante sua própria vida ou que tinham sido transmitidas pela tradição. Laertius alega que o verdadeiro nome de Platão era Aristócles – o nome de seu avô paterno cujo nome ele recebeu. Presumindo-se por um momento que este seja o caso, por que nós o conhecemos pelo nome de Platão?

Laertius sugeriu que Platão era realmente seu apelido, mas ao longo do tempo e, por convenção, o nome pegou. A raiz grega do nome Platão é platon e significa alguma coisa parecida como “Largura”. Laertius nos fornece as três variações tradicionais da história sobre como surgiu o apelido. A primeira é que Platão tinha ombros largos. A segunda era que ele tinha uma testa larga, enquanto que a última foi em homenagem à largura de sua eloquência.

Os comentaristas modernos estão longe de serem convencidos pelas alegações de Laertius.

Um aspecto que podemos ter em mente é que “Platão” era um nome muito comum nos séculos IV a V a.C. em Atenas. Na mesma linha, o nome grego de Jesus (ou a sua forma aramaica Yehoshua) era um nome muito comum no primeiro século d.C. na Palestina. Independentemente da forma como olhamos para ele, Platão é o nome que temos ao longo dos séculos para conhecer o homem, e seria pedante para nós, depois de todo esse tempo começar a chamá-lo de Aristócles (… só com base na palavra de Laertius).

Outro argumento que Laertius levantou é de que em sua juventude, Platão foi um pintor, um poeta, e também um dramaturgo. Estas alegações podem ser mais confiáveis. Se lermos seus diálogos, logo fica evidente como os textos em si assumem uma forma dramática, juntamente com um elenco de personagens (e até mesmo indicações de palco). A prosa de Platão é, por vezes, poética e faz bom uso dos jogos de palavra gregas em nítida distinção com os escritos de Aristóteles nos quais os principais escritos são pouco mais que “anotações de aulas”.

A Era da Guerra do Peloponeso

A época de seu nascimento e início da vida coincide com um período da história grega conhecido como a Guerra do Peloponeso. Estas guerras foram uma série de hostilidades travadas pelos fortes e disciplinados espartanos contra Atenas. O significado militar de travar estas guerras destinava-se a por fim às tentativas cada vez maiores de Atenas de construir um império.

Há, no entanto, uma outra perspectiva.

Por enquanto, tudo o que precisamos ter em mente é que os atenienses eram descendentes de um grupo cultural conhecido como o Jônios. Os costumes, tradições e dialetos eram muito diferentes dos espartanos. Espartanos eram descendentes de um grupo cultural conhecido como o Dórios. Então, na verdade, essas hostilidades pode muito bem ter sido marcado por crenças na superioridade racial e cultural de um sobre o outro.

Retornaremos a uma discussão mais detalhada das culturas Jônica, Dórica e Coríntia um pouco mais tarde. Nesse ínterim, tudo o que nós precisamos ter em mente é que, num contexto maçônico, a coluna do Venerável Mestre (que representa a sabedoria), é conhecida como a coluna jônica, enquanto que a coluna do Primeiro Vigilante (que representa a força), é conhecida como a coluna Dórica.

As Guerras do Peloponeso duraram de 431 a.C. até 404 a.C. – um período de 27 anos e terminou com a derrota total de Atenas por Esparta. Colocando Platão neste contexto, ele nasceu cerca de quatro anos depois do início da guerra e era um jovem adulto de aproximadamente 23 ou 24 anos, quando ela acabou. O resultado dessas guerras foi uma influência significativa sobre o seu pensamento – tanto político quanto mítico – e sua importância para o desenvolvimento do seu mito da Atlântida é algo que afeta a Maçonaria a partir de uma perspectiva filosófica e será discutido no post-scriptum a este livro.

Aproximadamente com a idade de 20 anos (c. 408 a.C.), tornou-se discípulo de Sócrates e manteve-se dedicado a ele nos últimos 10 ou 11 anos – até a execução de Sócrates em 399 a.C. Apesar da forte ligação de Platão com o homem (assim como sua filosofia), é um dos aspectos muito peculiares da história que ele não era um membro do grupo em companhia de Sócrates no momento de sua morte. (Na manhã de execução de Sócrates, Platão estava em casa, doente na cama).

Enquanto Platão estava doente, presente com Sócrates naquela manhã estavam pelo menos 15 pessoas (incluindo Xantipa – esposa de Sócrates), além de um grupo anônimo de “outros”, incluindo o filho sem nome de Sócrates que se sentou no colo de Xantipa.

Na verdade, nem Xantipa, nem o filho de Sócrates estiveram presentes em seu momento final. Sócrates providenciou isso organizando através de Crito que ela fosse levada à sua casa pois ela estava “chorando histericamente”.

Meio da vida

Após a execução, Platão decidiu aprofundar seus próprios estudos filosóficos. Ele fez isso viajando muito (por vários anos) em todo o Mediterrâneo. Laertius afirma que durante esta época, ele absorveu os ensinamentos das três principais escolas de pensamento – a de Euclides, a de um matemático chamado Teodoro em Cirene e acima de tudo – a de Pitágoras no sul da Itália.

Por sua própria admissão, os escritos de Platão foram a principal influência que levou Agostinho de Hipona a se tornar um cristão. Ele escreveu sobre essas influências em duas grandes obras que a maioria de nós terá ouvido falar (… mesmo que apenas de passagem). São as Confissões e a Cidade de Deus. Devido à sua dívida para com Platão, Agostinho fez uma série de menções biográficas relatando a vida de Platão em Confissões e Cidade de Deus, entre elas:

“Percebendo, porém, que nem seu gênio nem o treinamento socrático era adequado para desenvolver um sistema perfeito de filosofia, ele viajou para longe e extensamente para onde quer que houvesse alguma esperança de ganhar algum acréscimo valioso para o conhecimento. Assim, no Egito, ele dominou a lei que lá era estimada. Dali ele foi para a baixa Itália, famosa pela Escola Pitagórica e lá ele se abeberou com sucesso com eminentes professores de tudo o que estava então em voga na filosofia italiana.”

Anteriormente, quando discutimos a Reforma, argumentamos que foi Agostinho de Hipona, quem tinha introduzido a filosofia platônica na teologia cristã. A influência de Platão aparece através dos escritos filosóficos e teológicos de Agostinho.

Platão na Sicília

Foi por volta de 388 a.C. que Platão visitou a Sicília pela primeira vez e observou os resultados do governo tirânico de um déspota conhecido como Dionísio I (c 432-367 a.C.). Dionísio tinha atingido o seu alto cargo através de alguns sucessos militares em impedir os avanços de Cartago pelo controle da Sicília.

Embora ele fosse incapaz de manter um nível constante de sucesso contra os cartagineses ao longo de sua vida, ele foi capaz de manter a autoridade total sobre os gregos da Sicília até sua morte. Se sua morte foi resultado de causas naturais ou assassinato é algo até hoje contestado por historiadores.

A única coisa importante que emergiu dessa visita à Sicília foi Platão ter-se encontrado com um jovem chamado Dion – filho de uma das esposas de Dionísio I. Atraído pela filosofia de Platão, Dion convidou-o para voltar à Sicília, 20 anos após a primeira visita de Platão. O objetivo de Dion neste convite foi permitir a Platão a oportunidade de colocar em prática o seu ideal de um rei-filósofo governante, treinando Dionísio II (filho de Dionísio I) para se tornar um líder ideológico. Este filho tinha assumido o trono após a morte de seu pai em 367 a.C.

Mas, por mais que Platão esperasse que isso viesse a ser uma aplicação bem sucedida de seus princípios do filósofo-rei, em bem pouco tempo, ficou óbvio para ele que esta tentativa seria pouco menos que desastrosa. Segundo seu relato dos acontecimentos na Carta VII, Platão afirma que Dionísio II tinha ciúmes, o tempo todo, da amizade íntima entre Platão e Dion. Era um ciúme que se colocava no caminho de Platão no desenvolvimento de uma disposição filosófica em Dionísio II. Desenvolver uma disposição filosófica era fundamental na concepção de Platão para o líder ideológico. O plano de Dionísio II para acabar com a amizade entre Platão e Dion foi quase maquiavélico. Dionísio II enviou Dion ao exílio com base em falsas acusações. As tentativas de Platão para colocar em prática os princípios da República se desmoronaram rapidamente. Tudo o que restava a fazer era, para Platão, convencer Dionísio II a deixá-lo regressar a Atenas. Ele fez isso convencendo Dionísio II, que seu foco seria melhor costurado lidando com outra ameaça emergente dos cartagineses contra a Sicília.

Voltando a Atenas, derrotado em suas tentativas de transformar Dionísio II em um governante-filósofo, as circunstâncias se tornaram um outro ponto decisivo em sua vida. Mais tarde, ele refletia:

“Se ele tivesse realmente unido a filosofia e o poder político na mesma pessoa, ele poderia ter dado uma luz para o mundo inteiro, tanto grego quanto bárbaro …”

Com o tempo, porém, Platão voltou à Sicília para continuar a sua experiência em uma aplicação prática de seus princípios de liderança com Dionísio II.

Na Sétima Carta de Platão, ele registra que Dion o tinha incitado a voltar para a Sicília, alegando que tinha recebido relatórios de que Dionísio II tinha “mudado de foco” e se tornado entusiasmado com a aplicação das ideias de Platão ao governo da ilha. Platão afirma que ele resistiu aos primeiros dois convites. O terceiro concurso foi encenado de maneira tão elaborada que a recusa era quase impossível.

Dionísio II enviou uma trirreme a Atenas, com instruções para buscar Platão. Ao encontrar-se com Platão o embaixador lhe deu uma carta pessoal de Dionísio II, assegurando-lhe que caso ele aceitasse o convite, todos os assuntos relativos à Dion seriam resolvidos para sua satisfação. Mas, havia uma cláusula adicional… A cláusula dizia que se Platão recusasse, Dion sofreria as consequências. Podemos esperar que a natureza ameaçadora do “convite” provavelmente teria sido uma indicação a Platão de uma previsão de missão fracassada, apesar de sua decisão de ir.

Na chegada à corte de Siracusa, Platão foi mordaz sobre as “noções filosóficas de segunda mão” e “ideias de segunda mão” que ocupavam a mente de Dionísio II. Em particular, Dionísio II havia escrito um tratado explicando as ideias filosóficas que Platão lhe havia ensinado. Platão ficou furioso. Ele argumentou firmemente que isso nada mais era que uma expressão de vaidade pessoal de Dionísio II. O que realmente deixou Platão furioso foi que, em sua apresentação, o livro de Dionísio II se colocava como uma tentativa de expressar a verdade. Platão retornou a Atenas, para nunca mais visitar a Sicília.

“Talvez essas pessoas que criaram iniciações religiosas não estejam tão longe da marca, e todo o tempo, tem havido um significado oculto sob a alegação de que quem entrar no próximo mundo leigo e ignorante estará atolado na lama, mas quem chega lá purificado e iluminado habitará entre os deuses. Você sabe quantos envolvidos nas iniciações dizem ‘Muitos carregam o emblema, mas os devotos são poucos’. Bem, em minha opinião esses devotos são simplesmente aqueles que viveram a vida filosófica da maneira certa.” Platão: Fédon: (69 c-d)

A Academia

De volta a Atenas, Platão fundou a famosa Academia. Muitas vezes pensamos na Academia como um edifício. A Academia não era um edifício, mas sim um simples bosque de árvores onde os discípulos de Platão se sentavam e discutiam assuntos de interesse filosófico. Em muitos aspectos, ficou evidente que a rede de Lojas que existe em todo o mundo se baseia nos princípios da Academia original. Mais ou menos nesta época, ficou claro que Platão também era membro de uma misteriosa fraternidade. Sua identidade é desconhecida. Em sua Vida de Dion, Plutarco escreve:

“Um dos companheiros de Dion era um homem chamado Callippus, um ateniense que, segundo Platão, tinha sido um amigo íntimo dele, (não como um colega estudante de filosofia), mas aconteceu dele ser iniciado em alguns dos mistérios e estava, portanto, regularmente em sua companhia.”

Embora Platão não tenha expressamente escrito qualquer coisa a respeito de sua participação em qualquer misteriosa Fraternidade – (que era provavelmente a fraternidade pertencente aos Mistérios de Elêusis), ele sugere em República que a adesão a tal fraternidade pode envolver condições de silêncio.

“Ajuda em nosso entendimento, se nos lembrarmos de que “mistério” deriva de uma palavra grega que significa – ‘lábios cerrados’.

… É melhor ficar calado, e se for absolutamente necessário falar, transformá-los em segredos esotéricos, contados ao menor número de pessoas possível.”

No que diz respeito aos discípulos que frequentavam a Academia, Laertius enumera alguns, incluindo Speusippus (seu sobrinho, co-executor de sua vontade e co-sucessor na Presidência da Academia), Xenócrates e Aristóteles (tutor de Alexandre, o Grande), mas também os nomes de duas mulheres – Lasthenea de Mantineia e Axiothia de Phlius (que, ele observa, chegavam até a vestir roupas masculinas).

A morte de Platão

Ele morreu com a idade de 81 anos, e foi sepultado nos bosques da Academia. Laertius observa que a lápide foi inscrita com o seguinte epigrama:

Aqui, o primeiro de todos os homens famosos por pura justiça

E virtude moral, Aristócles jaz:

E se aqui houvesse vivido um verdadeiro sábio,

Este homem seria ainda mais sábio; grande demais para inveja.

Continua…

Autor: Stephen Michalak
Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

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