Em lugar algum é mencionada essa tal de “chama sagrada” no Ritual do REAA⸫do GOB. Aliás, em se tratando do REAA⸫, em nenhum ritual autêntico essa “chama” será encontrada.
Não confundir com o que prescreve o manual de Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR 2016 quando menciona, caso as luzes do candelabro ainda não forem elétricas, a existência de uma vela auxiliar acesa apenas e tão somente para ajudar o Mestre de Cerimônias no acendimento das respectivas Luzes que vão sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e nas mesas ocupadas pelos Vigilantes.
Ora isso não é e nunca foi “chama sagrada”, pois se assim fosse então o que aconteceria nas Lojas que adotam essas Luzes alimentadas por lâmpadas elétricas conforme também prevê o ritual? Acaso existiria um “interruptor sagrado” para essa oportunidade?
Essa estória de chama sagrada não existe no Rito em questão, embora ainda alguns insistam nesse anacronismo, inclusive desrespeitando o que prescreve o ritual em vigência.
Na realidade essa vela acesa foi colocada no Rito Escocês apenas no intuito de facilitar os trabalhos para as Lojas que ainda não adotaram lâmpadas elétricas adequadas ao candelabro. Nesse caso a intenção foi a de dar celeridade à prática ritualística, mas desafortunadamente alguns viram nela uma espécie de “luz emanada do divino”, provavelmente por “achar” bonito as práticas litúrgicas de outro Rito onde originariamente existe um cerimonial específico de acendimento das velas.
Lojas onde porventura as Luzes já sejam lâmpadas elétricas, obviamente essa vela auxiliar nem existe.
Vamos às questões:
Como ela não existe, não há o porquê de existir um lugar para algo inexistente.
Alguns teimam que é sobre o Altar dos Perfumes, cujo qual é outro elemento que só serviu para ocasião em que o Templo foi consagrado quando recebeu a dignidade para os trabalhos maçônicos.
Infelizmente, o Altar dos Perfumes permaneceu e acabou dando vazão às invenções como se ele servisse para se colocar a chama sagrada ou ainda receber incensos (tudo coisas nulas no simbolismo do REAA⸫).
Se fosse o caso do Rito Adonhiramita onde existe a cerimônia de acendimento das Luzes, até teríamos uma interpretação, mas como ela não existe no escocesismo simbólico, não há nenhum comentário e nem uma avaliação que meça a sua importância para os trabalhos.
Como ela não existe no Rito em questão, a resposta fica prejudicada.
A título de esclarecimento, note que no manual de Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR, quando existe menção a respeito da “vela auxiliar”, assim que ela tiver cumprido o seu objetivo, o Mestre de Cerimônias, sem nenhuma cerimônia, simplesmente a apaga porque ela não é luz litúrgica.
Do mesmo modo, pela sua inexistência, não há resposta para tal.
Entretanto é oportuno mencionar que o Altar não é “do” Venerável Mestre, porém é por ele ocupado – esse Altar é parte do mobiliário da Loja.
Do mesmo modo que não existe essa “chama sagrada”, também não existe no REAA⸫ cerimonial de acendimento de velas, senão um ordenamento prático para a abertura e encerramento dos trabalhos.
A propósito, no verdadeiro escocesismo essas Luzes deveriam ser acesas pelo Arquiteto antes do início dos trabalhos e por ele apagadas depois da retirada dos Irmãos do recinto.
As luzes litúrgicas representam as Luzes da Loja, ou as Luzes Menores. Esotericamente, sem nenhuma crendice, elas concebem de acordo com o número delas acesas a evolução do Obreiro.
Assim, não há cerimonial, apenas elas são acesas conforme o Grau.
O que prova que não existe cerimônia de acendimento é que quando elas forem lâmpadas elétricas, cada titular acende e apaga a sua.
Ratifico, cerimônia de acendimento de Luzes é própria de outro Rito, nunca do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Eram essas as considerações devidas, lembrando que a pura Maçonaria desconhece arguições que envolvem crendices que possam transformar o ambiente maçônico em um palco de proselitismo religioso. Que cada um busque na sua religião a sua necessidade de fé. Destaco que existem inúmeros ritos maçônicos e suas liturgias específicas que se adequam à diversidade do pensamento. Antes dos enxertos ritualísticos, que cada qual ocupe seu lugar conforme o que melhor lhe aprouver.
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O presente artigo objetiva realizar uma análise da infraestrutura psicológica do templo maçônico e da ritualística para desmistificar a correspondência entre a jornada do herói mitológico na cerimônia de iniciação do Rito Escocês Antigo e Aceito, de forma a promover uma ampla e inédita compreensão do processo inconsciente do iniciando na maçonaria.
1 – Introdução
Em uma das passagens mais marcantes do blockbuster Matrix, um importante intérprete do filme promove um singular questionamento acerca do que é ou não realidade:
Morpheus: – Neo, o que é o real? Como você define o real? Se você está falando sobre o que você pode sentir, o que você pode cheirar, o que você pode saborear e ver, o real são [então] simplesmente [meros] sinais elétricos interpretados pelo seu cérebro.
Esse relance cinematográfico é uma via condutora para respondermos o que é maçonaria, ou melhor, o que de fato são as cerimônias maçônicas. Isso porque, a “maçonaria é um sistema de moralidade, velada em alegorias e ilustrada por símbolos” (PRESTON, 2017, p. 69). Essa expressão, tantas vezes reproduzida no meio iniciático, diz muito sobre a instituição e seu modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de rituais repletos de alegorias e expressões simbólicas.
Todavia, entre o desdobramento do ritual e o comportamento de seus praticantes há um mecanismo psicológico que não pode ser ignorado e cuja compreensão pode contribuir para um melhor entendimento da estrutura do templo maçônico e os procedimentos ritualísticos da cerimônia de iniciação, denotando uma explicação “subterrânea”, “oculta”, “estrutural” e “subjetiva” do ritual que revisitaremos neste paper.
Em outras palavras, a ritualística ou o templo maçônico em si, se não examinados sob diversos pontos, se convertem em mera teatralidade despida de caráter litúrgico, religioso e espiritual que a instituição também propaga.
Todos os acontecimentos mitologizados em nossos rituais, como templo, oriente, ocidente, nordeste, sudeste, amanhecer, meio-dia, pôr do sol, meia-noite, os degraus maçônicos, os quatro elementos, não são alegorias de experiências objetivas ou poéticas. Outrossim, são expressões simbólicas do drama interno e inconsciente do maçom que, a exemplo do homem e da consciência humana, consegue assimilar tais ideias através da dramatização atuante no nível inconsciente.
Compreende-se a validade e relevância dessa abordagem pelo fato da literatura produzida pela escola romântica da maçonaria brasileira privilegiar apenas as interpretações que seguem um raciocínio estrito ao entendimento moral, esotérico ou objetivo do ritual maçônico, rechaçando o universo latente do cerimonial e sua formação mitológica e psicológica que propomos constituir nesse artigo juntando os papers da “Iniciação Maçônica”* e “Os efeitos psicológicos do ritual maçônico”**, ambos inéditos e de nossa autoria.
Antes de adentrarmos propriamente na jornada do herói, que dissecará o modus operandi da iniciação maçônica no Rito Escocês Antigo e Aceito, torna-se imperioso desmistificarmos os alicerces desse processo iniciático compreendendo as estruturas psicológicas do templo maçônico pois, somente assim, conseguiremos compreender cada passo na aduzida jornada, da qual o processo de ingresso percorre por meio da alegoria e simbolismos da iniciação.
2 – O templo maçônico e a psique humana
Os maçons são unanimes em dizer que o templo maçônico é simbólico [1]. Contudo, aqui chamamos a atenção que o símbolo é muito mais do que mera ornamentação artística para representar algo.
Com efeito, toda a ornamentação e divisão do templo não são frutos do acaso e do convencionismo estético, a começar pela câmera ou caverna de reflexões, sala dos passos perdidos, mais adiante o átrio, e finalmente o interior do recinto maçônico. Todos estes compartimentos são representações de estágios de níveis de consciência há muito tempo utilizados para separar o sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011, p. 23-40).
Nesse contexto, o ritual dramatiza a passagem de um estado de consciência para outro, ou seja, do profano para o sagrado, de modo que suas repartições devem ser compreendidas caso queiramos aprofundar nossa percepção sobre a ritualística e a cerimônia de iniciação.
Isso porque rituais ou simples gestos simbólicos, identificam nossa consciência com o campo essencial de atuação, isto é, com cada espaço usado para estabelecer a diferença entre o sagrado e o profano na mente do indivíduo.
O soldado que retorna da guerra, ao passar pelo arco do triunfo – rito de passagem – acaba deixando a guerra para trás. Da mesma forma, ao deixarmos a sala dos passos perdidos e posteriormente o átrio, é sabido (mesmo inconscientemente) de que estamos (ou estaremos) em um local “dedicado à virtude e consagrado para a prática do bem”, o templo maçônico.
Assim, as salas que antecedem o templo, cumprem a função psicológica de devidamente introduzir o adepto em um local – estado de consciência, para que o ritual cumpra seu dever cognitivo de forma efetiva.
Um excelente exemplo ritualístico disso, por vezes ignorado, é a entrada ritualística dos que chegaram após a cerimônia de abertura dos trabalhos.
De acordo com alguns rituais, há neste momento uma saudação ritualística, pois, como dito, gestos e sinais simbólicos hão de identificar o consciente e/ou inconsciente com o campo de ação, para o caso deste não ter sido devidamente introduzido no ritual/templo pela hodierna ritualística de abertura dos trabalhos.
Para além do templo em si e sua representação como o sagrado, as funções-cargos expressadas no ritual ou na mitologia maçônica são personificações das leis psicológicas que atuam na psique humana, perfeitamente demonstradas por Jung e Campbell, quando inerente às mitologias e religiões, cujas bases serão traçadas para desmistificar a ritualística maçônica.
Destarte, o templo maçônico deve ser assimilado como uma grande alegoria estrutural da própria mente dos maçons, que está sujeita a todo tipo de desafios complexos e provas, consoante replicado abaixo. Se este é o entendimento firmado do templo maçônico, logo, o processo de admissão ao mesmo, ou seja, a iniciação em si, é um procedimento de introspecção, uma jornada para o interior da psique, cujo cerimonial se reveste da mitologia maçônica para, ao final do processo, objetivar uma transformação psicológica no íntimo dos indivíduos.
2.2 Um estudo comparativo da estrutura da personalidade e suas correspondências simbólicas com o templo maçônico
De acordo com a psicologia analítica de Carl G. Jung, a psique divide-se em três níveis: a Consciência, o Inconsciente pessoal e o Inconsciente coletivo (HALL, 2005, p. 24-83). Conforme segue-se abaixo, tais divisões se conciliam em significados e funções com a parte exterior e interior do templo maçônico (sala dos passos perdidos, átrio e o templo), sendo que na parte interior, teremos uma correspondência particular com o ocidente e oriente.
NÍVEL 1 – CONSCIÊNCIA: Sala dos passos perdidos e o mundo profano
Sobre Consciência, Persona e etc.;
A consciência é a única parte da psique a qual conhecemos direta e objetivamente (HALL, 2005, p. 24-83), e nela tudo ocorre de forma racional e lógica. Da mesma forma, isso também acontece antes de adentrarmos ao templo, pois é na sala dos passos perdidos que tudo ainda decorre de forma desprovida de questões oníricas, sem sinais ou gestos simbólicos, salvo detalhes excepcionais. Essa falibilidade das coisas a nível consciente está perfeitamente representada e dramatizada na câmara ou caverna de reflexão, onde elementos associados a vida terrena se acham dispostos com intuito de proporcionar um entendimento da finitude da vida consciente e sua perene ilusão de imortalidade.
O significado psicológico de Persona, para Jung, é aquela parte da personalidade desenvolvida e usada em nossas interações mundanas (profanas), nossa face externa consciente, nossa máscara social, como veículo não de nossa real vontade, mas da nossa necessária aceitação.
Assim que, nas iniciações maçônicas, o gesto dos candidatos serem despidos de todos os metais, e iniciarem todos exatamente da mesma forma, pode significar que, naquele momento, o indivíduo despe-se de suas personas.
Esse desprendimento se faz necessário visto que, conforme Jung, no nível do inconsciente pessoal – que citaremos logo adiante – não há persona, a qual se manifesta apenas no nível consciente.
Se observarmos bem, o tratamento igualitário – tanto na iniciação como nas reuniões ritualísticas – fazem jus a presente esquematização, conforme corroborado abaixo, todavia não ignoramos os outros significados para com esses detalhes.
NÍVEL 2 – O INCONSCIENTE PESSOAL: O Templo Maçônico
Sobre Inconsciente Pessoal, Sonhos, Anima/Animus e etc.;
Todas as experiências que temos, sendo que algumas são esquecidas, mas que, todavia, não deixam de existir, são antes armazenadas e trabalhadas no Inconsciente Pessoal. É nesse nível que ocorrem os sonhos e toda a projeção quando estamos dormindo e, como sabemos, tais eventos oníricos são dotados de acontecimentos surreais e ilógicos perante a nossa realidade objetiva, visto que conceitos de “Tempo e Espaço” são fatores produzidos pelo nível Consciente.
Assim o Inconsciente Pessoal encontra correspondência simbólica com o interior ocidental do templo maçônico, onde a ritualística já alcança a totalidade dos trabalhos, e estes retratam bem o estado fictício e mítico da mitologia maçônica (drama maçônico), estado este que – paralelamente – também é encontrado nos sonhos dotados de sentidos simbólicos e abstratos, onde, tanto no estado onírico como na ritualística, para se ir do “ocidente ao oriente”, basta-nos dar alguns passos, e do “amanhecer ao pôr do sol”, bastam-se algumas horas, o que ocorre semelhantemente aos nossos sonhos, onde no nível do inconsciente não há uma limitação objetiva, da mesma forma o simbolismo da ritualística não possui um senso lógico pois, sua linguagem é figurada.
Assim como o ritual maçônico não é literal, os sonhos também não são, e ambos transmitem instruções morais através de seus simbolismos visto que, como observado por Jung, o crescimento e amadurecimento moral também é uma finalidade dos sonhos.
Interessante nesse momento confrontarmos as concepções postas entre consciente e inconsciente, demonstrando a oposição destes estágios e, como nosso objetivo é justapor isso com o templo maçônico, o exterior da loja é figuradamente o oposto dos significados ritualísticos do interior, tal como expusemos até agora.
Os conceitos de Anima e Animus foram talvez as duas mais importantes descobertas de Jung. Ambos são aspectos inconscientes de um indivíduo. O inconsciente do homem encontra ressonância com o arquétipo feminino, chamado de Anima, enquanto a mulher associa-se com o arquétipo masculino, chamado de Animus.
Evidente que os conceitos de gênero em se tratando de Animus e Anima se referem às características, e não algo literal, pois, como supramencionado, o inconsciente reside em um nível atemporal, inteiramente psicológico, portanto, não material.
A Anima manifesta-se na psique de forma emocional, passiva e intuitiva. Por outro lado, o Animus manifesta-se de forma racional, ativa e objetiva. Jung costuma relacionar Anima ao deus grego Eros, o deus do Amor, ao passo que Animus era relacionado com o termo Logos, que em grego significa verbo, razão.
No templo maçônico tal equilíbrio dual é conhecido pelas duas colunas B e J. Sendo que na coluna B, tomam assento os aprendizes maçons, os quais são inteiramente instruídos sobre a educação moral, espiritualidade e ética maçônica, conceitos perfeitamente associados ao arquétipo de Anima. E na coluna J tomam assentos os companheiros maçons que, ao contrário dos aprendizes, possuem suas instruções voltadas para arte da ciência, também conhecida como artes liberais, bem como para o conhecimento esotérico, que são características de Animus.
Desta forma, neste contexto, Boaz e Jakin, representam Anima e Animus, e a consecução entre ambas as colunas representa o casamento alquímico, a totalidade do ser, ou seja, o equilíbrio perfeito, o mestre. aquele que caminha com tal união, anda pelo caminho do meio (mestre maçom).
Por fim, vê-se que as duas colunas separam o ocidente em dois lados, e ambas norteiam para os respectivos estudos aqueles que estão sob o seu direcionamento, semelhantemente o que ocorre com nosso inconsciente
NÍVEL 3 – INCONSCIENTE COLETIVO: Sólio do Oriente
Sobre Inconsciente Coletivo, Arquétipos e etc.;
Teoria proposta pela Psicologia Analítica, ele difere do Inconsciente Pessoal, visto que não se trata de experiências individuais, mas, como o nome sugere, são experiências coletivas. Ele é um reservatório de imagens, chamadas de imagens arquetípicas. Tais imagens e concepções são herdadas pelo homem de forma inconsciente através do Inconsciente pessoal. O Inconsciente coletivo estimula no homem/humanidade um comportamento padrão pré-formado, que este seguirá desde o nascimento.
Assim, recebemos a forma do mundo em uma imagem virtual. Tal imagem transforma-se em realidade consciente quando durante a vida identificamos os objetos a ela correspondentes. Da mesma forma recebemos do inconsciente a impressão da contraparte Anima (no caso dos homens). Enquanto crianças a identificamos com nossas mães (ou pessoas que nos criaram que possuam características de Anima), mais adiante em nossas vidas, tal impressão se converte na companheira-mulher, com a qual nos casamos.
Os conteúdos do inconsciente coletivo são denominados de “arquétipos”. Tal termo significa um modelo original que conforma outras coisas do mesmo tipo, semelhante ao termo “protótipo”. Tanto o Inconsciente coletivo como o arquétipo se confundem com aquilo que chamamos, nas ordens iniciáticas e meios espiritualistas, de “egrégora”, e a principal base científica que sustenta este presente artigo, é sem sombra de dúvida o conceito de Inconsciente Coletivo.
Para Jung, tanto a experiência quanto a prática religiosa eram fenômenos que tinham sua fonte, interna e externa, no Inconsciente Coletivo (JUNG, 2011) (conhecido esotericamente por “egrégora”). O céu, o inferno, a era mitológica, o Jardim do Éden, o Olimpo, bem como as outras moradas dos deuses, são interpretados pela psicanálise como símbolos do inconsciente, e se enquadram ao simbolismo do dossel e do sólio no Oriente, localizado a sete degraus acima do nível onde se encontram os Aprendizes, Companheiros e Mestres, onde se encontra o chamado Trono de Salomão e que possui estampado o olho que tudo vê no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Assim como o Inconsciente Coletivo dispõe da pré-formação psíquica da psique (JUNG, 2011), o direcionamento ou pré-formação dos trabalhos vem do Oriente da Loja, além de que as informações históricas da Loja, presentes na Carta Constitutiva, também se localizam na região do sólio, bem como os registros de todas as reuniões ficam junto ao secretário (que normalmente toma assento no oriente.
3 – Os efeitos e sinais inconscientes da ritualística maçônica
Os efeitos e sinais inconscientes da ritualística maçônica se mostram evidentes quando dispomos da estrutura psicológica sob o templo maçônico. Desta forma, o indivíduo que vivencia os rituais por meio da iniciação, elevação e exaltação acaba por se transformar, seja pelas convicções conscientes, ocasionadas pelo sistema mnemônico da cerimônia, ou pela influência do inconsciente que recebe todos os sinais enviados pelo simbolismo, como exemplificamos abaixo:
Outra forma de transformação é alcançada através de um ritual usado para este fim. Em vez de se vivenciar a experiência de transformação mediante uma participação [vivência natural], o ritual é intencionalmente usado para produzir tal transformação. (…) Se recebe um novo nome e uma nova alma, ou ainda passa-se por uma morte figurada, transformando-se em um ser semidivino, com um novo caráter e um destino metafísico transformado (JUNG, 2011, p. 231).
Os maçons devem, portanto, realizar reflexões da simbologia maçônica. Ao se executar um ritual de alto valor cultural, com gestos e passagens incomuns ao usual, o qual, sob um olhar cético e profano, pode ser até mesmo considerado supersticioso, deve o adepto analisar tais movimentos sob diversos níveis, inclusive o psicológico.
Ademais, abordar o ritual maçônico sem um entendimento basilar, como propomos neste artigo, seria como ver animais nas nuvens, ou seja, um mero exercício de vontade e imaginação (JUNG, 1978).
Com efeito, a função psicológica da ritualística maçônica é a de restaurar um equilíbrio inconsciente no praticante, por meio do sistema moral e alegórico, de modo a produzir um material onírico na mente dos membros, que terão um amadurecimento progressivo, tanto a nível objetivo e moral, como subjetivo e inconsciente.
Os exemplos são variados disso. Nos rituais tribais de iniciação (e outros por equiparação) dá-se ao candidato um novo nome, sendo classificado dentro do grupo em seu grau correspondente, bem como ele ganha ainda uma idade fictícia, que desempenha um papel simbólico do seu posto, e recebe uma marca, que nos tempos atuais figura como simbólica, e no final, tudo isso distingue o iniciado dos não iniciados. Qualquer semelhança com a maçonaria não é acaso.
No Rito Escocês encontramos estes mesmos e ainda outros atos ritualísticos. Seja física ou simbólica, estas representações operam igualmente no inconsciente. A prática de diferentes termos linguísticos também é usada para separar o sagrado (inconsciente) do profano (consciente). Este exemplo é um dos diferenciais do ritual, onde uma linguagem própria e coloquial é adotada.
A mitologia e a ritualística, em síntese, simbolizam e expressão a dinâmica da psique. O que ocorre de simbólico e figurado no plano consciente, erroneamente deduzido de teatro, ocorre real e efetivamente em outros níveis, como, por exemplo, no inconsciente pessoal dos maçons.
Continua…
Autor: Rafhael Guimarães
Fonte: Revista Ciência & Maçonaria
Nota
[1] – O conceito de símbolo adotado nesta obra é o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semiótico de símbolo instituído pelo suíço Ferdinand de Saussure, pai da linguística, bem como também difere parcialmente de certas análises Psicanalíticas de Freud.
Nota do blog
*Para ler o artigo A Iniciação Maçônica e a Jornada do Herói, clique AQUI.
**Para ler o artigo Os efeitos psicológicos da prática do ritual maçônico, clique AQUI.
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Antes de tentarmos entender o Rito Escocês Antigo e Aceito, faz-se necessário abordarmos aquele que lhe serviu de berço – O Rito de Heredom ou Rito de Perfeição.
Através de estudos, foi-nos possível compilar as suas peculiaridades, porém estamos certos que, ainda, encontramo-nos muito longe de esgotar toda a sua história. Este trabalho é, apenas, um atrativo, para que o leitor se encaminhe na sua pesquisa e, consequentemente, entenda a origem dos Altos Graus maçônicos.
Entre as lendas do início das origens dos Altos Graus, aparece o Cavaleiro de Ramsay (André-Michel Ramsay – 1686-1743), homem erudito, nascido na Escócia, partidário dos Stuarts, protegido do Bispo de Fenelon, com ligações em todas as cortes da Europa, ao qual se atribui ter sido o inspirador da criação dos Graus Superiores e ter ajudado a elaboração dos Graus Simbólicos.
O seu famoso discurso, escrito em 1737, mas que, talvez, nunca tenha sido lido em qualquer Loja, ou apresentado em qualquer assembleia de Maçons, podendo, até, ser apócrifo, segundo alguns autores, pois acredita-se que haja, pelo menos, quatro versões do mesmo, foi distribuído, fartamente, em todas as Lojas da França e países vizinhos.
Neste documento, Ramsay faz a apologia de que a Maçonaria seria originária dos Templários, o que não é verdade (grifo do blog); tece comentários, pela primeira vez, enfatizando hierarquia na Ordem; proclama o ideal maçônico na Fraternidade e num mundo sem fronteiras, tentando impingir uma falsa antiguidade e nobreza à Maçonaria (grifo do blog).
Fez uma proposta às Lojas inglesas, para acrescentarem mais três Graus aos já existentes (Mestre Escocês, Noviço e Cavaleiro do Templo). A Maçonaria inglesa rejeitou. Estes três Graus teriam sido, segundo Ragon, criados por Ramsay.
Fez uma proposta às Lojas francesas, para que se acrescentassem mais sete Graus Suplementares. Também, não foi aceito. Mas, de qualquer forma, a partir daí, começaram as introduções templárias e rosacrucianas, e os Altos Graus começaram a aparecer. Muitos autores não aceitam este fato, rejeitam a participação de Ramsay. Entretanto, outros, como Ragon, apoiam-na.
Segundo Paul Naudon, o fato mais importante, acontecido após o polêmico discurso de Ramsay, foi a criação do Capítulo de Clermont pelo Cavaleiro de Bonneville, em 1754. Os Irmãos, que criaram este Corpo, pretendiam continuar os mesmos princípios da Loja de Saint-Germian-en-Laye, fundada muito tempo antes, ou seja, praticar os Altos Graus, criando sete Graus e opondo-se à política da Grande Loja da França, a qual seria, posteriormente, dissolvida em 24 de Dezembro de 1772.
O Capítulo de Clermont teve uma duração efémera, mas valeu pelas consequências, pois uma das suas ramificações, através de Pirlet, em Paris, em 1758, criou o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente da Grande e Soberana Loja Escocesa de São João de Jerusalém, a qual foi a mais importante das potências escocesas, no século XVIII, organizando um Rito chamado Rito de Perfeição ou de Heredom.
Em 1761, o Conselho de Imperadores teria fornecido, através do Irmão Chaillon de Joinville, substituto Geral da Ordem, e mais oito Irmãos da alta hierarquia, que, também, teriam assinado o documento, uma patente constitucional de Grande Inspetor do Rito de Perfeição ao Irmão Etienne ou Stephen Morin, autorizando-o a estabelecer e perpetuar a Sublime Maçonaria em todas as partes do mundo e investindo-o de poderes de sagrar novos Inspetores.
Foi criado um sistema de Altos Graus, impondo-lhe o limite de 25, resolução, que seria, oficialmente, inscrita nos seus estatutos, segundo Mellor, em 1762. Neste ano, sob os auspícios desse Conselho, foram publicados os Regulamentos e Constituição da Maçonaria de Perfeição, elaborados por nove comissários (Constituição de Bordeaux, em 21 de setembro de 1762).
Os seus membros, conhecedores de várias tradições místicas e gnósticas antigas, trouxeram para este Corpo Maçônico as influências templárias, rosacrucianas e egípcias, além de se dizerem herdeiros dos Ritos de Clermont e das correntes escocesas de Kilwinning e Heredom. Estava, assim, decretada a influência esotérica na Ordem.
Chegado à colônia francesa de São Domingos (hoje, Haiti), no mesmo ano, pôs-se a trabalhar. Há fortes suspeitas de que esse documento seja fraudulento. Também, segundo muitos autores, Etienne teria comercializado esses Altos Graus. Na realidade, o Rito de Perfeição ficou muito mal trabalhado durante mais ou menos trinta anos. Foi esquecido o seu conteúdo esotérico e a sua ritualística muito mal usada. Mas, de qualquer forma, os americanos aceitaram muito bem o Rito e ainda acharam que os vinte e cinco Graus eram insuficientes para abranger toda a iniciática maçônica.
Morin teria entregado certificados ou carta patente a outros Irmãos, e um deles foi um Irmão de nome Henry A. Francken, também, de origem judaica, que teria estabelecido o Rito em Nova York. Outro grupo introduziu o Rito em Charleston, em 1783.
Na mesma colônia francesa de São Domingos (Haiti), alguns anos mais tarde, apareceram os maçons, o Conde Alexandre François Auguste de Grasse Tilly e o seu sogro Jean Baptiste Delahogue, os quais, posteriormente, em 1793, mudaram-se para Charleston. Grasse Tilly já tinha pensado em fundar um Supremo Conselho nessa cidade. Lá encontraram mais dois Maçons: Frederik Dalcho e John Mitchel.
A Maçonaria norte-americana, ainda era muito incipiente, pois a sua história tinha menos de 30 anos. Este rito foi chamado de Rito de Perfeição, ou de Heredom. Tanto é verdade, que o rito, cujo primeiro Supremo Conselho foi criado em 1801, em Charleston, Carolina do Sul, EUA, foi chamado, inicialmente, de Rito dos Maçons Antigos e Aceitos (apenas), com 22 graus, os do Rito de Perfeição, ou de Heredon. E são os seguintes os graus do Heredom:
Primeira Classe
Aprendiz
Companheiro
Mestre;
Segunda Classe
Mestre Eleito
Mestre Perfeito
Secretário Íntimo
Intendente dos Edifícios
Preboste e Juiz;
Terceira Classe
Mestre Eleito dos Nove
Mestre Eleito dos Quinze
Ilustre Eleito das Doze Tribos;
Quarta Classe
Grande Mestre Arquiteto
Cavaleiro do Real Arco
Grande Eleito, Antigo Mestre Perfeito;
Quinta Classe
Cavaleiro da Espada ou do Oriente
Príncipe de Jerusalém
Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
Cavaleiro Rosa- Cruz;
Sexta Classe
Grande Pontífice, ou Mestre Ad Vitam
Grande Patriarca Noaquita
Grande Mestre da Chave da Maçonaria
Príncipe do Líbano ou Real Machado;
Sétima Classe
Cavaleiro do Sol, ou Príncipe Adepto, Chefe do Grande Consistório
24. Ilustre Cavaleiro Grande Comendador da Águia Branca e Negra, Grande Eleito Kadosh
Mui Ilustre Soberano Príncipe da Maçonaria, Grande Cavaleiro Sublime Comendador do Real Segredo.
Qualquer semelhança com o R∴ E∴ A∴ A∴ não é mera coincidência!
A decadência do Rito de Perfeição, com 25 graus, a partir do ano de 1771, perdendo caoticamente a sua forma original no hemisfério Ocidental, fez com que, em 1795, dois franceses, sogro e genro, que chegaram a Charleston, Carolina do Sul, USA, Alexander Francisco – Conde Crasse de Rouville, Marques de Tilly e João Batista Noel Maria De La Hogue tomando como base legal a Constituição Maçônica, promulgada em 1786, pelo rei Frederico II da Prússia [NT], e contando com auxílio de diversos deputados franceses e alemães, criassem os novos graus do Rito.
Existem autores que afirmam que Dalcho teve a ideia de criar mais oito Graus, enquanto outros sustentam que, o último Grau, Grasse Tilly criou.
Que este breve texto sirva de incentivo aos praticantes do REAA a pesquisarem mais sobre a origem do Rito e, posteriormente, colocassem em pauta as diversas alterações que, quase que diariamente, são impostas, por “achismo”.
Sobre a suposta Constituição Maçônica, promulgada em 1786, pelo rei Frederico II da Prússia, clique AQUI para ler o artigo Frederico II e as Grandes Constituições de 1786, de autoria de William Almeida de Carvalho.
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Em meu livro A Gênesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), propus como o filósofo natural e maçom Dr. Jean Theophilus Desaguliers foi responsável pela criação do terceiro grau em meados da década de 1720. Antes disso, havia duas “partes” sendo executadas; o Aprendiz e o Companheiro, e temos poucas evidências de como eram[1]. No entanto, sabemos que essas duas ‘partes’ eram frequentemente realizadas na mesma reunião da Loja, com evidências das primeiras atas da Loja Old York indicando como uma loja poderia ser aberta em outra cidade, especialmente para admitir um grande número de candidatos, como em Scarborough em 1705 quando uma loja foi aberta para admitir seis homens na Fraternidade, e em Bradford em 1713, onde 18 homens foram registrados como sendo admitidos[2].
De fato, para apoiar ainda mais o fato de que havia apenas duas ‘partes’ na Maçonaria nesta época, afirma nas Antigas Obrigações exibidas nas Constituições de Anderson de 1723 que ‘Nenhum irmão pode ser Vigilante até que tenha passado pelo papel de um Companheiro do Ofício’, indicando que a parte do Companheiro era o ‘grau’ sênior que permitia ao Maçom participar de um Ofício, se desejasse. Na edição de 1738 das Constituições, a redação deste encargo particular foi alterado para “Os Vigilantes são escolhidos entre os Mestres Maçons”, sugerindo que o terceiro grau de Mestre Maçom já havia sido introduzido e as Constituições deveriam ser atualizadas. Em 1730, a publicação da exposição de Samuel Pritchard, Maçonaria Dissecada, revelou o ritual de três graus, e parecia que este novo sistema tinha se tornado muito popular de fato.[3].
O novo ritual no estilo de três graus logo se espalhou, mesmo sendo referido pelo Dr. Francis Drake em sua agora famosa Oração, feita no Dia de São João, 27 de dezembro de 1726 no Merchant Adventurer’s Hall em York, onde ele afirmou que ‘três partes em quatro de toda a Terra pode então ser dividido em e: p: f: c & m: m.’ [4]. Os temas do terceiro grau exploraram profundamente a busca pelo conhecimento perdido; o grau que retrata a busca pela palavra perdida de Deus que estava escondida na arquitetura do Templo de Salomão. Com a morte simbólica de Hiram Abiff, esse conhecimento foi perdido[5]. Parecia que os maçons logo quiseram explorar caminhos mais profundos dentro da Maçonaria, levando ao desenvolvimento de novas ideias. Ramsey era um maçom jacobita que fora à França para dar aulas aos filhos de aristocratas e, em seu discurso maçônico em 1737, descreveu a famosa Maçonaria que estava ligada aos cruzados e às ordens cavalheirescas. Seu discurso afirmava que, depois de preservada nas Ilhas Britânicas, foi transportada para a França e, embora não haja evidências de que a Maçonaria tenha sido associada de alguma forma aos Cruzados ou Cavalaria, mostra que neste momento havia um interesse crescente em Ordens de Cavalaria em relação à Maçonaria. Embora Ramsey não tenha estabelecido planos para novas Ordens Maçônicas Cavalheiras em seu “discurso”, ele certamente ajudou a inspirá-las[6].
Em 1733, parece ter havido uma reunião da Loja de Maçons Escoceses (Scotts Masons Lodge) na Taverna do Diabo (Devil Tavern) em Londres, com um Mestre Escocês (Scotch Master) sendo feito em Bath, no sudoeste da Inglaterra em 1746[7]. De acordo com o historiador maçônico John Belton, os “graus” escoceses pareciam incluir a descoberta, em um cofre, da palavra há muito perdida, e os cruzados escoceses trabalhando com uma espada em uma mão e uma espátula na outra, mas na época de Zorobabel, e não das Cruzadas[8]. Este tema de ‘Mestres Escoceses’ será discutido mais tarde, pois foi uma ideia que se infiltrou em alguns dos Ritos que ocorreram no Continente.
Outro enigmático ‘grau’ inicial foi o de ‘Harodim’, que foi mencionado pelo irmão Joseph Laycock em um discurso, publicado em Newcastle em 1736. O trabalho dos Harodim eram conectados à antiga Loja Swalwell em Durham[9]. As possíveis primeiras sugestões de um misterioso ritual que lembra o nosso moderno Arco Real surgiram em 1740, embora a autenticidade da própria fonte possa ser debatida; o Rito Antigo de Bouillon (Rite Ancien de Bouillon) faz menção precoce a uma placa de ouro e se refere a um símbolo que consistia em um triângulo duplo dentro de um círculo e o tetragrama no centro[10]. Em 1746, o maçom John Coustos publicou um relato de sua tortura pela Inquisição, por meio do qual ele admitiu suas atividades maçônicas e descreveu uma parte do ritual que era notavelmente semelhante ao Arco Real, ou seja, a descoberta de uma tábua de bronze entre as ruínas do Templo[11]. Coustos fora iniciado maçom em Londres mas partiu para Portugal em 1743, onde continuou a ser um maçom ativo. Ele foi posteriormente preso e torturado e, em seu sofrimento foi revelando os fragmentos de um antigo ritual secreto. Hoje, no ritual do Arco Real na Inglaterra, o há muito tempo perdido nome de Deus, é descoberto na placa de ouro dentro das ruínas do primeiro Templo, algo que foi aludido no ritual do Arco Real de Richard Carlile, que foi compilado de várias fontes no início século XIX.
Existem outras menções ao Arco Real neste momento: um relatório no Jornal de Dublin de Faulkner dá detalhes de uma procissão no Dia de São João em 1743 em Youghal, na Irlanda, referindo-se ao “Arco Real carregado por dois Excelentes Maçons“. No ano seguinte, Fifield Dassigny, estabelecido em Dublin, escreveu em seu Inquérito de forma séria e imparcial sobre a causa da atual decadência da Maçonaria no Reino da Irlanda, sobre como
“um certo propagador de um falso sistema, há alguns anos nesta cidade, se impôs a vários homens muito dignos sob a pretensão de ser um Mestre do Arco Real, que ele afirmou ter trazido com ele da cidade de York … “
Dassigny continua a nos fornecer um vislumbre por trás do véu, escrevendo que o Arco Real foi “um corpo organizado de homens que passaram pela cadeira e deram provas inegáveis de sua habilidade”, acrescentando que alguns irmãos não gostavam de “tal cerimônia secreta a qual era impedida daqueles que haviam feito os graus usuais”. Isso parece implicar que o ritual do Arco Real era relativamente novo e era, de fato, um outro grau a ser experimentado por certos maçons; um caminho para uns poucos selecionados[12].
Os rituais Maçônicos nesta época estavam longe de ser padronizados e isso criou liberdade para explorar novas histórias, para criar sequências para a lenda Hirâmica e a construção do Templo. Tudo isso estava acontecendo durante uma época em que a Maçonaria inglesa se dividiu e discutia como o Arco Real deveria se encaixar no sistema. Isso não quer dizer que os maçons ingleses não estivessem interessados em outros graus, pelo contrário, foi durante esse período fértil que o grau de Cavaleiros Templários estava sendo praticado e, no final do século XVIII, o Grau da Marca estava firmemente capturando a mente maçônica inglesa. Como veremos mais tarde, houve ritos e caminhos ritualísticos que se estabeleceram e se desenvolveram na Inglaterra. Havia três Grandes Lojas operando na Inglaterra durante a segunda metade do século XVIII; os Modernos, os Antigos e a Grande Loja de toda a Inglaterra, com sede em York, e todos as três tinham um estilo diferente de administração e um sistema diferente de ritual. Os Modernos pareciam desconfortáveis com o Arco Real, enquanto os Antigos o abraçavam como um grau adicional. A Grande Loja de York foi ainda mais longe e, na década de 1770, praticava cinco graus; os três graus Simbólicos, o Arco Real como um quarto e o Cavaleiro Templário como um quinto. Parecia que alguns maçons queriam mais[13].
O escritor maçônico Arthur Edward Waite discute uma série de ritos obscuros que possivelmente se desenvolveram durante o início do século XVIII em sua Nova Enciclopédia da Maçonaria. Ritos que têm um elemento de mistério em torno deles, onde, em alguns casos, há alguma dúvida de quando eles realmente foram fundados ou quando deixaram de ser praticados. Havia ritos como a Ordem do Paládio, que Waite menciona, fundado em Paris em 1737[14], a Ordem das Amazonas, que permitia ambos os sexos como membros e foi fundada na América do Sul em 1740[15] e a Ordem dos Xerofagistas, que Waite afirma ser fundada na Itália em 1748[16]. Havia a Ordem dos Arquitetos Africanos que Waite apresenta como “extremamente duvidosa” por ter sido fundada em 1756, mas provavelmente foi fundada mais tarde em 1765 e terminou em 1806[17]. O Rito dos Sublimes Eleitos da Verdade tem uma data de fundação um tanto duvidosa de 1776, o mesmo ano sendo dado para a fundação do Rito Escocês Filosófico (Rite Ecossais Philosophique)[18]. Outros ritos obscuros incluem o Rito da ÁguiaNegra[19], o Rito Persa[20], e a Ordem de Jerusalém[21].
A Ordem de Jerusalém, segundo Waite, foi fundada na América do Norte em 1791 e tinha oito graus. Era uma associação de alquimistas e tinha uma conexão com o Rito de Chastanier, tendo se espalhado pela Alemanha, Inglaterra, Holanda e Rússia, embora Waite sugira que ‘toda a história é duvidosa’[22]. O Rito Persa é outro rito com uma história obscura; Waite sugere que pode ter sido estabelecido em Erzurum na Turquia em 1818, mas apareceu em Paris um ano depois e trabalhou sete graus que continham três classes. A primeira classe consistia em três graus que, em essência, eram semelhantes à maçonaria – Aprendiz de Escuta, Companheiro Adepto e Mestre; a segunda classe consistia no quarto grau intitulado Arquiteto de Todos os Ritos e um quinto grau, denominado Cavaleiro do Ecletismo e da Verdade; a terceira classe concluiu o Rito e incluiu um sexto grau intitulado Mestre Bom Pastor e um sétimo e último grau chamado Venerável Grande Eleito. No entanto, Waite conclui que, apesar de ser capaz de nomear seu sistema de graus, não há nenhuma evidência de que o rito tenha existido[23].
O Rito de Adonhiramita (às vezes referido como Adoniramita) é outro rito menos conhecido do século XVIII que tinha doze graus e com sua criação sendo atribuída pelo autor maçônico francês do século XIX Jean Baptists Marie Ragon ao Barão de Tschoudy[24]. No entanto, de acordo com o erudito maçônico e especialista em rituais Arturo de Hoyos, o sistema ainda é trabalhado no Brasil, então tecnicamente não está perdido[25]. A Rosa Cruz aparece aqui como em muitos desses Ritos, o imaginário cristão e o simbolismo formando uma conclusão mística para uma coleção de rituais que são semelhantes a outros ritos que exploram o grau de Mestre Escocês, que é apresentado aqui como o décimo grau. Houve uma série de ritos que eram menos obscuros e passaram a influenciar outros ritos e graus, alguns evoluindo e inspirando Ordens posteriores, e são esses ritos que examinaremos a seguir.
Temas Jacobitas e Templários dos primeiros ritos
O século XVIII foi certamente um terreno fértil para o ritual maçônico, à medida que novas ideias evoluíam e se expandiam para criar muitos ritos bizarros. De fato, durante esta era fértil de iluminação, ritos cada vez mais exóticos começaram a ser criados em um ritmo excepcional, especialmente no continente europeu. Um desses primeiros “ritos”, de acordo com John Yarker escrevendo em suas Escolas Arcanas, foi chamado de Vielle Bru, ou Escoceses de Fé (Faithful Scots), baseado em Toulouse, em Montpelier e em Marselha, constituído por Sir Samuel Lockhart entre 1743-1751. Yarker descreve que o rito “inspirou-se nas lendas das antigas Guildas operativas e não prosseguiu em sua instrução além do 2º templo”. Foi construído em nove graus, o último dos quais foi curiosamente denominado Menatzchim ou Perfeito. Um rito semelhante logo emergiu em Paris em 1751, chamado de Cavaleiros do Oriente, e como o Vielle Bru, Yarker disse ter explorado temas escoceses semelhantes que talvez refletissem o interesse pelas ideias jacobitas[26] Outro ‘rito’ inicial foi o Capítulo de Clermont, que apresentava seis graus e foi fundado na França em 1754 por Chevalier de Bonneville[27]. Apesar de durar apenas cerca de quatro anos, foi uma das primeiras tentativas de explorar graus superiores que tinham um tema templário[28]. Diz-se que o Capítulo incluía os três primeiros graus da maçonaria, o quarto sendo chamado Maitre Ecossais (Mestre Escocês), o quinto sendo Maitre Eleu (Mestre Eleito ou Cavaleiro da Águia), o sexto grau Maitre Illustre (Ilustre Mestre ou Cavaleiro do Santo Sepulcro), e o sétimo e último grau sendo nomeado Maitre Sublime (Sublime Mestre e Cavaleiro de Deus). Yarker comenta sobre como os graus mais elevados do Capítulo transmitiam a ‘vingança de Salomão’ sobre os assassinos de Hiram, a joia do grau Maitre Illustre sendo uma adaga enfiada em um crânio[29].
Havia de fato um forte desejo de estender os temas explorados nos rituais, e havia muitos personagens carismáticos ansiosos por criar ou promover novas Ordens e graus a partir da continuação dos temas para a busca do conhecimento perdido.
Baron von Hund e o Rito da Estrita Observância
Um desses indivíduos carismáticos foi o Barão Karl Gotthelf von Hund, que por volta de 1754 fundou o Rito da Estrita Observância na Alemanha[30]. O Barão von Hund afirmou que tinha sido iniciado em uma misteriosa Ordem Maçônica do Templo em Paris em 1742 e que seu conhecimento secreto havia sido obtido de “superiores desconhecidos”[31]. O Rito da Estrita Observância tornou-se um rito bastante popular, espalhando-se por muitos outros países europeus, como Suíça, Holanda, Dinamarca e Rússia, e incluía tentadores sete graus, oferecendo a filosofia de progressão para maçons dispostos que desejavam mais[32]. Esses sete graus, de acordo com a transcrição dos rituais de Schröder[33] por Alain Bernheim e Arturo de Hoyos, incluíam os primeiros graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, seguidos por Mestre Escocês, Noviço Secular, Cavaleiro e, finalmente, Irmão Leigo[34]. O três rituais são reconhecíveis por qualquer maçom, mas, no entanto, têm diferenças marcantes, como no grau de Mestre Maçom, que apresenta um ‘ramo de Cássia’ em vez do ramo de Acácia que conhecemos hoje[35]. Uma coleção de catecismos que é apresentada parece bastante incomum em certos contextos, e parece que os rituais evoluíram por um caminho muito diferente, embora ainda retivessem a essência dos três primeiros graus. O rito, que foi orientado para os templários, seu conteúdo cavalheiresco e o mistério que cerca sua suposta origem jacobita, ainda divide os historiadores maçônicos hoje. As traduções de Bernheim e de Hoyos, ao discutir os “Extratos da História da Ordem”, apresentam a história de como vários templários fugiram da perseguição na França em 1311 e chegaram à Escócia vestidos de maçons. De acordo com a história, uma vez na Escócia, a Ordem continuou com os ‘usos da Maçonaria … escolhidos para preservar a memória …’ e que ‘ninguém foi admitido como Mestre Escocês, exceto um filho da Ordem …’[36]. O Rito na celebração à Escócia e sua herança templária secreta parece ecoar as ideias cavalheirescas apresentadas no ‘discurso’ de Ramsey, algo que também foi espelhado na sugestão de Von Hund de uma misteriosa fonte jacobita para o sistema[37]. Na verdade, a ruína do Barão von Hund foram as origens misteriosas do rito e, sendo incapaz de apresentar qualquer prova tangível de seus “superiores desconhecidos”, sua história se tornou insustentável e sua reputação danificada. Ele morreu em 1776 em circunstâncias muito reduzidas. No convento de Wilhelmsbad em 1782, o rito de Von Hund rapidamente se desfez quando uma coleção de delegados renunciou às origens templárias não comprovadas. Eles descartaram o mito e uma reformulação completa do ritual ocorreu, encerrando a prática do Rito de Estrita Observância de Von Hund. Alguns escritores maçônicos, como Waite, fizeram referência às supostas origens jacobitas do rito de Von Hund; em Paris, Von Hund acreditava ter entrado em contato com um certo Cavaleiro da Pena Vermelha, cuja identidade nunca foi revelada, mas Von Hund acreditava que não era outro senão o Jovem Pretendente, Charles Edward Stuart. Waite era da opinião de que Von Hund estava enganado, mas de qualquer forma, o Barão manteve sua história até sua morte e o Rito de Estrita Observância foi, por um curto período, um dos ritos mais progressistas da Europa durante o século XVIII[38]. Apesar do fim da prática do Rito de Estrita Observância de Von Hund, sua reestruturação por Jean-Baptiste Willermoz levou ao nascimento do Rito Escocês Retificado, que será discutido com mais profundidade posteriormente. O Rito da Estrita Observância também influenciou a formação do Rito dos Filaletes[39], e do Rito Sueco, que ainda hoje é praticado na Suécia.
Jean-Marc Nattier, Portrait de Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (1755)
O Rito de Filaletes (Philalethes)
O Rito de Filaletes, como Waite mais filosoficamente coloca, estava “entre os vários pretendentes a uma reforma geral da Maçonaria”[40]. Foi fundado em 1773 por, entre outros, o proeminente maçom francês Charles Pierre-Paul Savalette de Langes, e era uma mistura eclética de graus, sendo influenciada pelo Rito da Estrita Observância e pelo Rito dos Elus Coens (Rito do Sacerdócio Eleito). Ganhou uma afiliação distinta e foi fundamental na organização da famosa Convenção de Paris em 1784, que discutiu fervorosamente “a verdadeira natureza da ciência maçônica”. Apesar de ter uma filiação ilustre e ser de natureza bastante progressista, o rito parece ter entrado em colapso após a morte de Savalette de Langes em 1797 e, portanto, teve vida relativamente curta. Seus doze graus incluíam os três graus simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, seguidos por Eleito, Mestre Escocês, Cavaleiro do Oriente, Rosa Cruz, Cavaleiro do Templo, Filósofo Desconhecido, Filósofo Sublime, Iniciado e, finalmente, Filaletes[41]. O desenvolvimento deste estilo de altos graus da maçonaria tornou-se entrelaçado com os egos dos místicos, cavalheiros carismáticos e as modas da maçonaria no continente, para não mencionar a política da época, e parece que cada rito que foi estabelecido estava apresentando o que eles acreditavam ser a forma correta da Maçonaria.
Martines de Pasquelly e o Rito dos Elus Coens (Sacerdócio Eleito)
Martines de Pasqually estabeleceu seu Rito de Elus Coens (ou o Rito do Sacerdócio Eleito) em Toulouse em 1760. Embora haja alguma confusão sobre a estrutura exata dos graus, de acordo com Waite, o rito teria possivelmente nove graus, divididos em três divisões; estes incluíam o Pórtico, que eram basicamente os três graus simbólicos que incluíam Aprendiz, Companheiro e Mestre Particular; o Templo, que consistia em graus “sacerdotais” que incluíam o Grande Mestre Eleito, Sacerdote Aprendiz, Sacerdote Companheiro; e o Santuário, que se tornou mais mágico, com Mestre Sacerdote, Grande Mestre Arquiteto e, de acordo com J.M. Ragon o grau final era o Cavaleiro Comandante, o qual Papus depois identificou como o grau Rosa Cruz[42].
John Yarker, em suas Escolas Arcanas, menciona uma curiosa carta ou patente emitida por ninguém menos que Charles Stuart em 20 de maio de 1738, que deu ao pai de Martines de Pasqually permissão para criar lojas para o Rito de Elus Coens. Existem dificuldades óbvias com um documento como este. Yarker menciona que Charles Stuart – o Bonnie Prince Charlie da história – é descrito no documento como Rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra e Grão-Mestre de todas as lojas na face da terra[43]. Na época em que o documento foi supostamente escrito, o Bonnie Prince tinha apenas 17 anos e foi seu pai – o Velho Pretendente, James III – que reivindicou as três coroas naquele momento. No entanto, não é a autenticidade do documento que é importante aqui, é o poder que tal documento dá aos grupos Elus Coen que existem hoje[44]. A carta sem dúvida lembra os “superiores desconhecidos” do Barão von Hund e como Bonnie Príncipe era associado ao Cavaleiro da Pena Vermelha. Certamente havia uma moda para cartas maçônicas em nome do Príncipe Bonnie durante esse tempo; Yarker também se refere a um certo Lord de Berkley que, em 14 de fevereiro de 1747, concedeu uma licença para a Rosa Cruz para a Loja ‘Jacobite Scots’ em Arras na França. Yarker indica que não há cópia autenticada da carta e o Príncipe Charles Edward é, às vezes, referido no documento como o ‘Rei Pretendente’ ou ‘GM substituto’, dependendo de quem estava escrevendo[45]. Curiosamente, Yarker também comenta sobre como as mulheres não tiveram sua admissão recusada ao Rito de Elus Coens, que também nos lembra de como homens e mulheres podem fazer parte do Rito Egípcio de Cagliostro.
Pasqually fundiu doutrinas esotéricas baseadas no Gnosticismo e na Cabala, em suma, sua versão da Maçonaria misturada com magia para formar um tipo único de rito. Nesse sentido, os ensinamentos do Rito de Elus Coens capacitaram os membros selecionados a aprender um aspecto da magia que visava colocar o adepto em comunhão com seres sobrenaturais. Pasqually foi particularmente influente para Jean-Baptist Willermoz e Louis Claude de Saint-Martin, ambos levando seus ensinamentos em direções diferentes. Em 1772, Pasqually deixou a França para o Caribe para coletar uma herança e morreu lá em 1774. A Ordem se desintegrou após sua morte, e elementos do rito foram absorvidos no Rito da Estrita Observância reestruturado por Willermoz, criando o Rito Escocês Retificado. Saint-Martin levou seus ensinamentos em outra direção, ensinamentos que mais tarde influenciaram o Martinismo.
O Rito Swedenborgian
Nunca foi provado que Emanuel Swedenborg tenha sido um maçom. Ele foi, no entanto, um místico, teólogo, filósofo, cientista e inventor, cujos ensinamentos e trabalhos inspiraram o Rito de Swedenborg.
Emanuel Swedenborg nasceu em Estocolmo em 1688, seu pai era professor de teologia na Universidade de Uppsala e mais tarde bispo de Skara. Swedenborg era um homem culto; inventando máquinas voadoras, pesquisando anatomia e empreendendo muitos estudos diferentes em vários aspectos do aprendizado, sendo um propagador na busca dos mistérios ocultos da natureza e da ciência. Foi mais tarde que Swedenborg teve uma espécie de despertar espiritual que testemunhou a transição de um homem de ciência para um místico; um homem que podia falar com anjos, espíritos e demônios, e que afirmava ter recebido uma nova revelação de Jesus Cristo, seus ensinamentos revelando a segunda vinda de Cristo e o julgamento final. Swedenborg morreu em Londres em 1772 e inspirou eminentes artistas e escritores como William Blake e Thomas De Quincy[46], bem como homens místicos como Louis Claude de Saint-Martin. A Igreja Swedenborgiana, que foi inspirada nos escritos de Swedenborg, foi fundada na Inglaterra em 1787 e o movimento da Nova Igreja como também era conhecido, crescendo rapidamente. A Igreja ainda sobrevive hoje. Foi depois de sua morte que o rito “Swedenborgian” foi desenvolvido por um conde polonês e entusiasta de Swedenborg chamado Thaddeus Leszczy Grabianka e um certo Dom Antoine Joseph Pernety, fundindo os ensinamentos místicos de Swedenborg com as ideias maçônicas[47].
Dom Antoine Joseph Pernety havia deixado a Ordem Beneditina e, após se estabelecer em Avignon, perseguiu seus interesses na alquimia. Ele então se mudou para Berlim, tornando-se bibliotecário do maçom Frederico, o Grande, e enquanto estava lá, traduziu as obras de Swedenborg para o francês. Foi em Berlim que Pernety conheceu o conde polonês Thaddeus Leszczy Grabianka, e depois que Pernety voltou para Avignon, Grabianka juntou-se a ele e juntos fundaram a Société des Illuminés d’Avignon em 1786. Este primeiro rito “Swedenborgiano” teve vida relativamente curta, e um fim na esteira do caos trazido pela Revolução Francesa. No entanto, atraíram dois Swedenborgians ingleses de renome: William Bryan e John Wright, que, em 1789 “foram iniciados nos mistérios de sua ordem” e foram apresentados à ‘presença real e pessoal do Senhor‘, que foi transmitido por um “jovem majestoso… em vestes roxas, sentado em um trono situado em uma câmara interna, decorada com emblemas celestiais”[48]. Isso sugere que o rito refletia as filosofias milenaristas de Swedenborg, mas como era o resto do ritual, só podemos especular. Outro Rito Swedenborgiano surgiu com o renascimento do ocultismo do final do século XIX, novamente contendo elementos do milenismo místico de Swedenborg[49].
A obscuridade da versão inicial do rito levou a uma série de apresentações diferentes de sua história e foi dito que a mencionada Société des Illuminés d’Avignon não tinha nenhuma conexão com o Rito Swedenborgiano posterior que se desenvolveu nos EUA, “contendo muito de Ritual da Loja Simbólica Americana”[50]. Em uma edição da Collectanea que discute o rito, uma referência remonta a Londres c.1784 onde um certo Bento Chastanier é mencionado a respeito de uma Ordem baseada nos Teosofistas Iluminados, que foi fundada por ele em 1767[51]. A edição descreve como o rito foi revivido na América em 1859 por membros da Nova Igreja de Swedenborgian e, embora esta data de fundação seja sugerida como problemática, o rito certamente existia lá em 1869, quando um livro foi escrito sobre a Ordem por Samuel Beswick. O maçom e ocultista John Yarker também esteve envolvido no rito revivido, sendo listado como Grande Mestre Supremo[52]. Seis graus são apresentados como sendo trabalhados pelo rito revivido; os três primeiros sendo os graus simbólicos, o quarto era intitulado Maçom Iluminado, o quinto Maçom Sublime e o sexto e último Grau de Maçom Perfeito[53]. No Grau final, o nome de Deus é revelado e a jornada maçônica é declarada como completa[54].
Yarker menciona o Rito Swedenborgiano em suas Escolas Arcanas, afirmando que “ele consiste em três cerimônias elaboradas e belas para as quais a Maçonaria é exigida”[55]. Embora tenha sido afirmado que não tem nada a ver com a anterior Société des Illuminés d’Avignon, o Rito Swedenborgiano do século XIX, é um exemplo das dificuldades que surgem em avaliar se um rito particular foi realmente revivido ou não. Sem certa continuidade e evidência completa dos rituais que foram usados, um renascimento ou mesmo uma alegada continuação de um determinado rito sempre será discutível.
O Rito de Zinnendorf
Este rito em particular foi criado por Johann Wilhelm Ellenberger von Zinnendorf, nascido em Halle em 1731. Zinnendorf foi uma figura proeminente na Maçonaria, e em 1773 ele fechou um acordo com a Grande Loja da Inglaterra para que todas as lojas na Alemanha, com exceção da Grande Loja Provincial em Frankfurt fossem colocadas sob seu comando, com Zinnendorf tornando-se efetivamente Grão-Mestre, posição que ocupou até sua morte em 1782. O próprio rito, de acordo com Waite, foi considerado uma mistura das “visões de Swedenborg” e os “vestígios do iluminismo hermético de Pernety”, embora ele mencione que não havia evidências disso. Na verdade, o arranjo do rito reflete uma certa influência do Rito da Estrita Observância: a primeira parte era composta pela Maçonaria Simbólica ou Maçonaria Azul com o grau de Aprendiz, seguido pelo Companheiro, depois Mestre. A segunda parte foi o que Waite denominou de Maçonaria Vermelha, com o Aprendiz e Companheiro Escocês (Écossais Apprentice and Companion), seguido de Mestre Escocês (Master Écossais), a terceira e última parte foi intitulada Maçonaria Capitular, com um grau denominado Favorito de São João, seguido de Capítulo dos Maçons Eleitos[56].
O Rito de Zinnendorf com suas aspirações Écossais (escocesas), portanto, parece ter uma influência do Rito da Estrita Observância. Zinnendorf tinha realmente sido um membro da Estrita Observância: ele havia sido “nomeado cavaleiro” por von Hund em 1764, Zinnendorf tornando-se Mestre da Loja dos Três Globos em Berlim no ano seguinte. Von Hund constituiu os Três Globos como uma “Loja Escocesa ou Diretora” em 1766, dando-lhe o poder de criar lojas de Estrita Observância. No entanto, a harmonia foi quebrada quando, em novembro, Zinnendorf “notificou formalmente a Von Hund de sua renúncia à Estrita Observância” e, em maio de 1767, renunciou aos Três Globos. Isso deu a Zinnendorf a liberdade de criar seu próprio rito e forjar suas ambições que acabaram levando às negociações com a Grande Loja da Inglaterra[57]. O rito tem uma semelhança marcante com o Rito Sueco, com algumas variações menores, mas igualmente significativas.
O Rito Egípcio de Cagliostro
De todos os ritos maçônicos que existiram no continente durante o século XVIII, o Rito Egípcio do Conde Alessandro Cagliostro é talvez um dos ritos mais intrigantes e fascinantes. O próprio Cagliostro era um homem misterioso, de ego e criatividade; o exótico teatro da Maçonaria sendo o pano de fundo para retratar sua própria mistura única de alquimia, sexo e magia, uma mistura que certamente atraiu a elite social parisiense da época. Cagliostro se tornou o tema romântico de escritores como Johann Wolfgang von Goethe e Alexandre Dumas[58], e o romance em torno de sua vida parece se confundir entre fantasia e realidade, criando um personagem maçônico quase mítico. Por exemplo, Cagliostro supostamente conheceu personalidades ilustres do século XVIII, como o Conde de Saint-Germain e Casanova, e o passado de Cagliostro era tão misterioso quanto essas duas figuras, o mágico enigmático sendo identificado como Giuseppe Balsamo, um falsificador e trapaceiro italiano, em um francês jornal publicado em Londres chamado Courrier de l’Europe em setembro de 1786. Ele foi novamente identificado como Balsamo em uma publicação em 1791 pela Câmara Apostólica de Roma, descrevendo o julgamento de Cagliostro, intitulado Vie de Joseph Balsamo[59]. O problema parecia acompanhar Cagliostro onde quer que ele fosse; enquanto na França na década de 1780, Cagliostro tinha sido implicado no caso do colar de diamantes, que envolveu diretamente Maria Antonieta em uma teia emaranhada de intriga sombria, e depois de passar um tempo na Bastilha, ele foi solto e partiu para a Inglaterra, indo mais tarde para Roma, onde foi preso por ser Maçom em 1789. Depois de tentar escapar do Castel Saint’Angelo, Cagliostro foi transferido para a Fortaleza de San Leo, onde morreu logo depois.
Cagliostro se tornou uma figura tão importante na Maçonaria na época que foi convidado para a Convenção de Paris em 1784 para explicar seu sistema, uma Convenção que o Rito dos Filaletes tinha sido fundamental para organizar. Suas reivindicações incluíam que ele poderia renovar a juventude, ele poderia conjurar as aparições dos mortos, ele poderia conferir beleza àqueles que se submetessem ao seu sistema de medicina hermética e que ele poderia fazer ouro. Em suma, seu rito revelaria os verdadeiros mistérios ocultos da natureza e da ciência e, à medida que se tornava aberto às mulheres, ele começou a atrair várias senhoras de alta posição[60]. O próprio rito consistia em três graus semelhantes à Maçonaria Simbólica: Aprendiz, Companheiro e Mestre, mas esses graus consistiam em algum material muito interessante. John Yarker em suas Escolas Arcanas, acreditava que o ritual de Cagliostro pode ter sido influenciado por Pasqually[61], e os dois ritos realmente compartilhavam aspectos mágicos mais profundos, como exploraremos em capítulos posteriores. Cagliostro continua atraindo o interesse de escritores, talvez devido à natureza extravagante de sua vida e seu estilo mais mágico de Maçonaria.
O Rito Melissino
Pyotr Ivanovich Melissino (1726-1797) foi um General da Artilharia do Império Russo, de origem grega e o fundador do Rito Melissino, que estava ativo em São Petersburgo na Rússia em 1765. Melissino foi um membro proeminente da sociedade de São Petersburgo, que também era um centro da moda e cultural para o Iluminismo sob Catarina, a Grande. Melissino tornou-se familiarizado com gente como Casanova, um homem de alta posição social que também estava ligado à Maçonaria[62]. O Rito de Melissino compreendia sete graus e como Melissino estava profundamente interessado em referências alquímicas, Rosacruzes e Cabalísticas infiltradas no Rito, tornando esta forma de Maçonaria muito atraente para a elite social da época[63]. Melissino também foi dito ter sido um dos “seguidores mais fiéis” de Cagliostro, e como veremos em um capítulo posterior, há semelhanças em certas partes dos rituais[64].
Os sete graus do Rito incluíam os primeiros três graus da Maçonaria Simbólica com Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, continuou a lenda Hirâmica com um quarto grau chamado de Cofre Escuro (Dark Vault), com uma narrativa da busca pelo túmulo de Hiram e como nove Mestres Maçons foram selecionados para a busca. O quinto grau de Mestre Escocês é uma reminiscência do grau de Mestre Escocês do Rito da Estrita Observância, o grau sendo de natureza cavalheiresca, apresentando como um grupo de Mestres Maçons carregou o corpo de Hiram e o tesouro do Templo para a Escócia, onde fundaram várias lojas. Esta lenda templária escocesa também pode ser encontrada no Rito Egípcio de Cagliostro, onde no primeiro grau ele propõe que “um dos templários, que se refugiou na Escócia, segue os maçons até o número de 13, depois 33 …” [65]. O sexto grau de Filósofo (Philosopher) se concentra em examinar se o iniciado foi “suficientemente instruído nos segredos da Câmara da Sabedoria” e se foi, ele pode avançar para descobrir os “hieróglifos“, o iniciado renasce e está qualificado para ajudar no objetivo da Maçonaria na restauração da Idade de Ouro[66]. O sétimo grau final do Grande Sacerdote do Templo (Grand Priest of the Temple) ou Cavaleiro Espiritual (Spiritual Knight) é uma conclusão dramática para o rito, com o grau sendo preenchido com referências de alquimia que propõem que o iniciado está finalmente alcançando os segredos dos antigos filósofos, os segredos da magia divina transmitidos por “três alunos de Pitágoras e Zenão…”[67]. Este grau final foi descrito pelo historiador Robert Collis como a expressão mais profunda do Iluminismo[68], e realmente apresenta um espetáculo conclusivo que apresenta ao candidato o conhecimento perdido dos antigos. Em 1782, as sociedades secretas foram proibidas na Rússia e, embora a Maçonaria não tenha sido afetada, Melissino parece ter se aposentado e se retirado da Ordem, e suas lojas acabaram fechando.
O Rito dos Construtores Africanos ou Arquitetos
Esse rito tem um início obscuro de acordo com Waite; pode ter sido fundado por volta de 1766 e certamente há algum mistério em torno de sua organização. J.W.B. von Hymmen foi mencionado por Waite como sendo associado ao Rito dos Construtores ou Arquitetos Africanos, juntamente com C.F. Köppen, que foi o fundador. Como o Rito da Estrita Observância, os rituais eram realizados em latim, e Waite diz que Hymmen, que era um juiz prussiano, era membro da Estrita Observância. Há algum debate quanto à natureza maçônica de seus graus, embora Waite presuma que um membro tinha que ser um Mestre Maçom antes de ingressar. Existem dois relatos diferentes apresentados por Waite dos graus reais que eles praticavam; o primeiro deles inclui os Graus Inferiores de Aprendiz de Segredos Egípcios, Iniciação em Segredos Egípcios, Cosmopolita ou Cidadão do Mundo, Filósofo Cristão, Aletófilos ou Amante da Verdade e Altos Graus de Esquire, Soldado e finalmente Cavaleiro. O segundo relato contêm graus como Cavaleiro ou Aprendiz, Irmão ou Companheiro, Soldado ou Mestre, Cavaleiro ou Cavalheiro, Novato, Construtor e, finalmente, Tribuno ou Cavaleiro do Silêncio Eterno[69].
Olhando para o primeiro relato do sistema de graus, o rito parecia se concentrar nos segredos e mistérios egípcios, dando um sabor interessante e exótico aos graus, lembrando o Rito Egípcio de Cagliostro. Certamente atraiu os literatos da época e foi estabelecido com o propósito de “cultura literária e estudos intelectuais”, sendo uma Ordem que apelava para a intelectualidade, e por um curto período de tempo “Lojas” estavam operando em Worms, Colônia e Paris. No entanto, o rito teve vida curta e, de acordo com Gould em sua História da Maçonaria, acabou com a morte de Köppen em 1797[70]. Apesar de sua vida relativamente curta, o rito certamente atraiu a atenção de escritores maçônicos como Gould e Waite , que parecia considerá-lo um exemplo intrigante de um rito perdido.
Rito dos Sacerdotes Egípcios
A Maçonaria de estilo egípcio certamente floresceu durante o final do século XVIII, com o já mencionado Rito Egípcio de Cagliostro e o Rito dos Construtores Africanos. No entanto, um outro exemplo bastante obscuro é o Rito dos Sacerdotes Egípcios, que é mais um rito que explora uma forma esotérica de iniciação com um arcano como pano de fundo egípcio. Nick Farrell apresenta uma tradução deste rito paramaçônico dos Sacerdotes Egípcios, derivado de uma obra alemã intitulada Crata Repoa datada de 1770, uma tradução que foi anteriormente conduzida por Ragon no século XIX[71]. O rito continha sete graus; o primeiro chamado Pastophoris ou Aprendiz, o segundo Neocoris, o terceiro grau é A Porta da Morte (The Door of Death), o quarto é A Batalha com as Sombras (The Battle with Shadows), o quinto Balahate, o sexto é intitulado Astrônomo antes do Portal dos Deuses (Astronomus before the Gateway of the Gods), e o sétimo e último grau é Propheta ou melhor, Saphenath Pancah, aquele que conhece os segredos (Propheta or rather Saphenath Pancha, he who knows secrets). Os sete graus de aprendiz a “Profeta” refletem outros ritos do período, como o Rito de Filaletes, que proporcionam a jornada de um noviço a um profeta que finalmente tem o conhecimento perdido dos antigos que lhe é revelado[72].
Com um óbvio tema egípcio percorrendo o rito, um cenário egípcio domina a execução das notas; a Esfinge e múmias são mencionadas e, no grau de A Porta da Morte, uma sala é revelada com “vários tipos de corpos embalsamados e caixões”[73]. A morte de deuses egípcios e gregos como Tífon, que é morto no quinto grau por Orus (Horus), também é retratada conforme o candidato progride em sua jornada[74]. O rito é de fato um tanto misterioso, e como Farrell escreve na introdução da obra, “historicamente, suas alegações são falsas ou improváveis, mas foram mantidas por grupos que as usaram como modelo, incluindo os Grupos de Maçons Esotéricos Europeus” e que o rito é uma “obra pequena e amplamente esquecida” que “influenciou o desenvolvimento da Tradição de Mistérios Ocidental. Estes, por sua vez, influenciaram as Ordens Rosacruzes de língua inglesa, incluindo Golden Dawn, OTO, AMORC, Builders of the Adytum e Dion Fortune”[75]. Assim, de acordo com Farrell, este rito relativamente pequeno e esquecido torna-se significativo quando se olha como o renascimento ocultista do final do século XIX se desenvolveu e como o avivamento foi influenciado pelos primeiros ritos esotéricos do século XVIII.
Os Illuminatis da Baviera
Outra sociedade que certamente atrai a atenção hoje são os Illuminati; uma sociedade que era originalmente não maçônica e foi fundada na Alemanha em 1776 por Adam Weishaupt. Weishaupt, um professor de direito canônico na Universidade de Ingolstadt, originalmente concebeu o conceito de uma sociedade secreta formada por seus alunos mais esclarecidos. Com a Coruja de Minerva empoleirada em um livro aberto como seu símbolo, os Illuminati, que foram projetados para apoiar as ideias do Iluminismo, eventualmente trabalharam em uma série de graus que expandiram as ideias de Weishaupt. A ideia por trás do nome Illuminati ecoava a luta dos membros contra as trevas, mas originalmente Weishaupt iria chamar a sociedade de Ordem das Abelhas, e seus membros eram chamados de Perfeccionista. A Ordem que lutava pela melhoria da natureza humana e da sociedade. Weishaupt se juntou a uma loja sob o Rito da Estrita Observância em 1777, e depois de ser apresentado aos três primeiros graus da Maçonaria, decidiu formar sua própria Loja de membros Illuminati, fundindo os dois.
O trabalho recente sobre os Illuminati da Baviera, A Escola Secreta de Sabedoria (The Secret School of Widsom), fornece uma excelente apresentação da formação dos graus e como os elementos maçônicos foram adicionados ao sistema dos Illuminati. Isso foi feito com a ajuda do Barão Adolph von Knigge, que se desencantou com a Estrita Observância e seus indescritíveis superiores desconhecidos, e abraçou os Illuminati de todo o coração. Algumas das ideias de Knigge incluíam uma Loja de Mesa e um sabor cristão geral que culminou com a ideia de que Hiram era na verdade Jesus, sendo a Maçonaria uma forma de propagar seus ensinamentos secretos. Knigge também estava ciente do mencionado Rito dos Sacerdotes Egípcios por meio da exposição Crata Repoa, cujo quarto grau é chamado de A Batalha das Sombras. Este grau certamente ressoa no grau Minerva dos Illuminati, especialmente com a ocorrência do adepto em A Batalha das Sombras recebendo um escudo chamado ‘Minerva’ e então premiado com uma medalha que revela Minerva como uma coruja[76].
Os graus, de acordo com Waite, tornaram-se uma mistura de temas políticos, intelectuais e maçônicos, com Waite apresentando várias partes de seu sistema. A Parte A incluiu os graus preparatórios de Iniciante e Professor, Academia de Iluminismo ou Grau Minerva, seguido por Illuminatus Menor e o grau final de Illuminatus Maior ou Magistrado da Igreja Minerval. A Parte B seguiu com o grau intermediário de Cavaleiro Escocês do Iluminismo, que parece ter sido inspirado na moda popular dos graus escoceses. A progressão continuou com a Parte C, que Waite chamou de Classe dos Mistérios Menores e incluiu Epopt ou Sacerdote do Iluminismo, e esse grau sacerdotal foi seguido pelo Regente ou Principatus Illuminatus, ao qual Waite se refere como um grau mais político. A Parte D é dada como o estágio final e foi intitulada Classe dos Mistérios Maiores, que incluía Magus ou Filósofo e finalmente Homem-Rei.
O sistema certamente refletiu a jornada de ‘Novato‘ a ‘Filósofo‘ que tantos outros ritos conduziram. Os graus podem ter sido diferentes, mas eles compartilhavam temas semelhantes. Os Illuminati da Baviera foram finalmente suprimidos por um decreto eleitoral em 1784, e a visão de Weishaupt da perfectibilidade humana chegou ao fim[77].
O nome dos Illuminati é talvez mais conhecido hoje por ter sido adotado por autores especulativos e teóricos da conspiração como um termo guarda-chuva para uma ampla gama de sociedades secretas coletivas, mas a verdadeira história da Ordem é muito mais interessante e atraente, especialmente porque o ethos original da sociedade era trazer luz na forma de manter as ideias do Iluminismo. Existem vários grupos hoje que trabalham os graus dos Illuminati da Baviera, embora estes sejam avivamentos mais recentes e não tenham continuidade com a Sociedade original de Weishaupt.
Rito Retificado de Fessler
Com tantos ritos sendo praticados durante o século XVIII, houve tentativas de reformá-los, de reter certos elementos atraentes e descartar as partes que não o faziam. O Rito Retificado de Fessler foi uma tentativa de reformar os vários graus maçônicos do período, mas ao contrário do Rito Escocês Retificado de Willermoz, o rito de Fessler foi um pouco menos bem-sucedido, para dizer o mínimo.
Ignaz Aurelius Fessler era um húngaro que recebeu as ordens sacras, tornando-se noviço em um mosteiro aos dezessete anos em 1773. Ele se tornou insatisfeito com a vida monástica e, em 1783, tornou-se maçom em Lemberg, e logo desenvolveu o desejo de reformar a Maçonaria. Fessler era um membro da Loja Royal York of Friendship, eventualmente formando uma nova constituição e estabelecendo-a como uma Grande Loja em 1798, também estendendo um aspecto educacional ao projeto ao criar uma União Científica Maçônica que foi dedicada ao estudo histórico da ciência maçônica .
O próprio rito foi adaptado de várias fontes, como o Rito Francês, a Estrita Observância, o Capítulo de Clermont, o Rito Sueco e a Ordo Roseæ et Aureæ Crucis, com Fessler aparentemente juntando um equilíbrio dos graus maçônicos, esotéricos e cavalheirescos. Waite, portanto, apresenta o sistema de graduação de Fessler: os três primeiros graus da Arte seguidos por um Capítulo de Conhecimento Superior que incluía o Santo dos Santos, a Justificação, a Celebração, a Verdadeira Luz, a Pátria e, finalmente, a Perfeição. O rito foi abandonado em 1800, e o próprio Fessler “renunciou a todas as honras e cargos” dois anos depois, embora de acordo com a História Pitoresca da Francomaçonaria (Histoire Pittoresque de la Franc-Maçonnerie) de Clavel, algumas lojas prussianas ainda praticavam o rito por volta de 1840[78].
O Rito de Perfeição e a Ordem do Segredo Real
Agora sabemos que o Rito de Perfeição consistia na primeira parte de 14 graus, enquanto os 25 graus do rito (incluindo os primeiros três graus da Loja Azul) eram coletivamente conhecidos como a Ordem do Segredo Real[79]. O sistema parece ter sido compilado pelo comerciante francês Estienne Morin. Morin esteve envolvido na Maçonaria de altos graus desde a década de 1740, seu comércio com as Índias Ocidentais permitiu-lhe estabelecer a Ordem na Jamaica e na América do Norte. Morin foi ajudado por Henry Andrew Francken, outro cidadão francês de ascendência holandesa que Morin nomeou como Grande Inspetor Geral Adjunto. Foi Francken que viajou para Nova York e estabeleceu o rito lá em 1767, e de lá, a Ordem foi fundada na Carolina do Sul, o que levou ao estabelecimento do Rito Escocês lá em 1801, se tornando um dos ritos mais conhecidos e duradouros que ainda hoje é amplamente praticado. Francken trabalhou com Morin no rito e escreveu vários manuscritos que deram detalhes dos graus. O que é referido como o terceiro desses manuscritos acabou caindo nas mãos de um certo Michael Alexander Gage no noroeste da Inglaterra.
Michael Alexander Gage e o Manuscrito Francken
Michael Alexander Gage foi um dos arquitetos que presidiram a rebelião maçônica de Liverpool de 1823, que reativou a Grande Loja dos Antigos (Antient Grand Lodge). A rebelião foi uma reação contra as mudanças ritualísticas e administrativas introduzidas pela união de 1813 entre os Modernos e os Antigos. A questão do Arco Real era muito controversa, com os Antigos praticando o ritual como um grau separado e os Modernos oficialmente reconhecendo o Arco Real como a conclusão do terceiro grau.
Gage nasceu em Kings Lynn em Norfolk em 1788 e se juntou a uma loja lá, tornando-se o Venerável Mestre da loja em 1810. Ele então se mudou para Glasgow no ano seguinte, onde também se juntou a uma loja, finalmente estabelecendo-se em Liverpool em 1812, onde tornou-se um membro proeminente de uma loja antiga chamada Loja nº 20[80]. Gage era um homem explosivo; suas demandas por mudanças no regulamento e sua carta, dirigida ao Grão-Mestre, o duque de Sussex, revelaram sua forte paixão por questionar a união. Mas Gage também estava profundamente interessado em rituais e era o proprietário de uma rara cópia do Manuscrito Francken.
Este terceiro MS Francken, como ficou conhecido, é de fato um documento notável. Gage escreve no início do documento que foi “recebido de John Caird, Edimburgo – Jas. Caird, Liverpool, 30 de agosto de 1815”, e ainda estava em sua posse cinquenta anos depois[81]. O manuscrito fornece uma descrição de 25 graus da Ordem do Segredo Real, o precursor do Rito Escocês, e certamente era de interesse de Gage, que guardou o manuscrito muito depois de deixar a Grande Loja rebelde.
O sonho de Gage de um relançamento e expansão da Grande Loja dos Antigos começou a se desintegrar apenas alguns anos após sua concepção, quando as divergências internas fizeram que a Grande Loja se mudasse permanentemente para Wigan e se tornar mais local em sua perspectiva. Esta ‘Grande Loja Wigan’ tinha um pequeno número de lojas operando no noroeste industrial da Inglaterra durante a década de 1840, com duas lojas operando em Wigan, uma em Warrington, uma em Liverpool, uma loja em Ashton-in-Makerfield e uma hospedada em Ashton-under-Lyne e, como os Antigos, praticavam o Arco Real como um grau separado[82].
Em sua carta de renúncia à Grande Loja Wigan em 1842, Gage destacou que não frequentava uma loja por quinze anos e recusou um pedido para escrever um panfleto sobre a rebelião. Parecia que Gage estava há muito desencantado com a rota que os rebeldes haviam tomado e estava muito preocupado com a “grande irregularidade na numeração e concessão de novas Cartas Constitutivas” para as lojas, ficando chateado por não ter a oportunidade de inspecionar os novos mandados antes de serem emitidos[83].
Então, Gage queria outra direção para a Grande Loja? E essa direção incluiu a prática dos 25 graus apresentados no Manuscrito Francken? O fato de ainda possuir o documento em 1865, muito depois de ter renunciado e ainda mais tempo desde que frequentou uma loja, certamente revela um profundo interesse pelo rito. No entanto, podemos apenas especular sobre seu grande projeto final. Sabemos, no entanto, que a Maçonaria no norte da Inglaterra teve floreios independentes, como com a Grande Loja York, que operou em períodos intermitentes durante o século XVIII, e, claro, a já mencionada RebeliãoMaçônica de Liverpool e a subsequente Grande Loja Wigan.
Conclusão
A maioria desses ritos incluía uma estrutura semelhante: eles começavam com os três Graus Simbólicos, em seguida, desenvolveram-se explorando os Graus de Escocês ou Mestre Escocês, como o Rito de Estrita Observância, Rito Philalethes e Rito de Melissino. O iniciado então passava a experimentar graus de Cavalaria até que, finalmente, como nos Ritos Philalethes e Melissino, um grau de Filósofo abria caminho para o iniciado atingir uma compreensão espiritual plena com a descoberta do conhecimento perdido dos antigos. Este estilo de altos graus da maçonaria era certamente popular no continente, especialmente na França e na Alemanha e, além de oferecer um caminho adicional para o Maçom explorar os segredos arcanos oferecidos, eram administrados por cavalheiros carismáticos e populares como Von Hund, Melissino e Pasqually, que também seria uma atração para cavalheiros em busca de orientação em suas investigações. O apelo adicional de ter acesso aos ensinamentos de alquimia, magia e Cabala que eram oferecidos em certos ritos, como o Rito Egípcio de Cagliostro e o Rito de Melissino, fornecia um aspecto atraente adicional para a busca pelo conhecimento perdido dos antigos e homens atraídos (e mulheres) para se juntarem e socializar na órbita de seu líder carismático.
Muitos dos homens por trás dos ritos perdidos discutidos aqui foram claramente mal compreendidos. O Conde Cagliostro, por exemplo, permanecerá para sempre uma figura histórica enigmática e confusa, seu passado misterioso e morte dramática criando deliberação entre os historiadores. O Barão von Hund também irá persistentemente atrair o debate se ele realmente conheceu ou não os misteriosos Superiores Desconhecidos, se ele foi enganado por vigaristas ou se ele realmente se encontrou com o Cavaleiro da Pena Vermelha. Outros, como Zinnendorf, claramente tinham ambições próprias e se tornaram figuras importantes na Maçonaria.
Apesar da popularidade e do zelo dos ritos de Altos Graus que surgiram durante o século XVIII no continente, houve uma reação no esforço de trazer a Maçonaria de volta ao significado dos graus Simbólicos. Esta reação ao que era visto como a pretensão da Maçonaria de Altos Graus é melhor exemplificada com a Grande Loja da União Eclética, que começou por volta de 1783 e, de acordo com Waite, pode muito bem ainda ter se reunido em Frankfort-on-the-Main até 1914. Waite observou que haviam 21 lojas sob seu domínio com 3.000 membros. Parece que nem todos os maçons estavam muito interessados em explorar novos caminhos[84].
Muitos desses ritos não sobreviveram após a morte de seu fundador: o rito de Cagliostro desapareceu após sua morte e o Rito da Estrita Observância também deixou de funcionar em sua forma original após a morte de Von Hund. O Rito da Estrita Observância, no entanto, foi reformado e reestruturado por Willermoz, que também absorveu elementos do Rito dos Elus Coens na nova estrutura, criando o Rito Escocês Retificado, também conhecido como Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (Chevalier Bienfaisant de la Cité Sainte), um rito que ainda existe hoje. Este rito evoluiu do convento de 1778 em Lyon e finalmente tomou forma após o convento de Wilhelmsbad de 1782, liderado pelo próprio Willermoz, que combinou os temas templários da Estrita Observância com os temas religiosos dos Elus Coens. Willermoz teve um envolvimento proeminente em ambos os ritos, e o Rito Escocês Retificado é certamente um exemplo de um rito que emergiu da combinação de diferentes ideias maçônicas. As ideias parecem ter sido compartilhadas, e certos paralelos existem entre outros ritos, especialmente ao examinar aspectos do conteúdo dos rituais de Cagliostro e Melissino. A Ordem do Segredo Real se transformou no Rito Escocês na Carolina do Sul durante o início do século XIX, o rito se desenvolvendo de 25 graus para um total de 33 graus, nos lembrando que alguns ritos podem evoluir e se transformar.
Autores: David Harrison Traduzido por: Rodrigo de Oliveira Menezes
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[1] – O Manuscrito Register House (1696), fornece um texto inicial para a cerimônia de Aprendiz e Companheiro. Veja também David Harrison, A Gênesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), (Hersham: Lewis Masonic, 2009), pp.120-1.
[2] – Veja David Harrison, A Grande Loja de York (The York Grand Lodge), (Bury St. Edmunds: Arima Publishing, 2014), p.33. Na verdade, vários candidatos ainda são comuns em certas práticas maçônicas na Escócia, especialmente no Grau da Marca, e não é incomum para algumas lojas do Craft na Inglaterra admitirem vários candidatos administráveis, a diferença hoje é que os graus são realizados separadamente em diferentes reuniões.
[3] – Harrison, A Genesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), pp. 116-19.
[4] – Anônimo, As Antigas Constituições dos Maçons Livres e Aceitos (The Ancient Constitutions of the Free and Accepted Masons), com um discurso proferido na Grande Loja de York, (Londres: B. Creake, 1731), p. 15. Veja também Harrison, A Grande Loja de York, p. 23.
[5] – Veja Harrison, A Genesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), pp. 88-106.
[6] – David Harrison, A Transformação da Maçonaria (The Transformation of Freemasonry), (Bury St. Edmunds: Arima Publishing, 2010), p. 148
[7] – Henry Sadler, Uma Grande Loja não Registrada (An Unrecorded Grand Lodge), AQC, Vol. 18, (1905, pp. 69-90, na p. 71.
[8] – Veja John Belton, Apenas mais um Grau meu Irmão (Brother Just One More Degree), SRJ, (Março/Abril 2013), pp. 7-9, na p. 7.
[9] – Veja John Yarker, As Escolas Arcanas (The Arcane Schools), (Belfast: William Tait, 1909), pp. 439-40.
[10] – O Rito Antigo de Bouillon (Rite Ancien de Bouillon) tem origens um tanto misteriosas; George Oliver afirmou que tinha ligações com o Chevalier Ramsay, possivelmente por ele ter boas relações com uma família nobre que fingia ser descendente do Cruzado Godfrey de Bouillon. Ver George Oliver, A Origem da Ordem da Maçonaria do Real Arco (The Origin of the Royal Arch Order of Masonry), (Londres: Irm. Richard Spencer, 1867), p.31. Para uma discussão sobre o Rito por Oliver, veja Harrison, Transformação da Maçonaria (Transformation of Freemasonry), pp.147-151. Uma visão cética do Rito Ancien de Bouillon é apresentada por Arturo de Hoyos em “O Mistério da Palavra do Arco Real (The Mystery of the Royal Arch Word)”, Heredom, Vol. 2, (1993), pp.7-34.
[11] – John Coustos havia sido iniciado na Maçonaria em Londres em 1730 e era membro da Loja nº 75, realizada no Rainbow Coffee House, em Londres. Ver John Coustos, Os Sofrimentos de John Coustos pela Maçonaria e Por Sua Recusa em Tornar-se Católico Romano na Inquisição em Lisboa (The Sufferings of John Coustos for Free-Masonry And For His Refusing to Turn Roman Catholic in the Inquisition at Lisbon ), (Londres: W. Strahan, 1746), e também ver John Coustos: Confissão de 21 de março de 1743, em S. Vatcher, ‘John Coustos e a Inquisição Portuguesa’, AQC, Vol. 81, (1968), páginas 50-51.
[12] – Aubrey J.B. Thomas, Uma Breve História do Arco Real na Inglaterra (A Brief History of the Royal Arch in England), AQC, Vol. 85, (1972), pp.349-358. Ver também Robert T. Bashford, Aspectos Históricos da Maçonaria na Irlanda (Aspects of the History of Freemasonry in Ireland, AQC, Vol. 129, (2016), em que Bashford discute o início do Arco Real na Irlanda e o livro de Dassigny.
[13] – Veja John Belton, Apenas mais um Grau meu Irmão (Brother Just One More Degree), SRJ, pp.7-9, em que Belton discute o desejo de graus extras, um desejo que remonta ao início da história da Maçonaria na Grã-Bretanha.
[14] – Arthur Edward Waite, Uma Nova Enciclopédia da Maçonaria (A New Encyclopedia of Freemasonry), Vol. 2, (Nova York: Wings Books, 1996), p. 54.
[15] – Idem, p. 56.
[16] – Idem, p. 59.
[17] – Idem, p. 61 & p.75.
[18] – Idem, p. 67.
[19] – Idem, p. 345
[20] – Idem, p. 275
[21] – Idem, p. 72.
[22] – Idem.
[23] – Idem, p. 275-6.
[24] – Jean Baptiste Marie Ragon (1781-1862), foi um maçom francês, membro da Ordem Real da Escócia e um autor prolífico na época de rituais maçônicos esotéricos. Seu trabalho Maçonaria Oculta de Iniciação Hermética (Masonerie ocultă şi iniţiere hermetică) foi uma publicação notável em 1853. Para obter mais informações sobre Ragon, consulte John Songhurst, ‘Ragon’, AQC, Vol. 18, (1905), pp.97-103.
[25] – Ver Arturo de Hoyos e Brent Morris, (Trans. & Eds.), Os Mistérios Mais Secretos dos Altos Graus da Maçonaria revelados (The Most Secret Mysteries of the High Degrees of Masonry Unveiled ), (Washington, DC: SRRS, 2011).
[27] – Ver Arturo de Hoyos, ‘A‘ Cocktail ’from the Schröder Ritualsammlung: The Clermont System plus Additional Degrees’, Collectanea, Vol. 16, Parte 2, (Impressão privada por GCR dos EUA: 1997).
[30] – Ver Alain Bernheim e Arturo de Hoyos, Introdução aos Rituais do Rito da Estrita Observância (Introduction to the Rituals of the Rite of Strict Observance), Heredom, Vol. 14, (2006), pp.47-104. Aqui, Bernheim e de Hoyos discutem o desenvolvimento histórico do Rito e apresentam uma tradução dos três primeiros graus.
[31] – Waite, Nova Enciclopédia da Maçonaria (New Encyclopaedia of Freemasonry), Vol. 2, pp.352-3.
[32] – Idem, pp.64-6.
[33] – Friedrich Ludwig Schröder (1744-1816) foi um ator alemão e um proeminente Maçom da época.
[34] – Alain Bernheim e Arturo de Hoyos, (ed.), O Rito da Estrita Observância (The Rite of Strict Observance), Collectanea, Vol. 21, (Impressão privada por GCR dos EUA: 2010), pp.1-106.
[35] – Idem, P.37.
[36] – Idem, P.85-6.
[37] – Para uma discussão sobre os temas cavalheirescos e jacobitas examinados aqui, ver J. Webb, O Rito Escocês Retificado (The Scottish Rectified Rite), AQC, Vol 100, (1988), pp.1-4.
[38] – Waite, Nova Enciclopedia, Vol. 2, p. 353.
[39] – Idem, p. 355.
[40] – Idem, p. 351.
[41] – Idem.
[42] – Arthur Edward Waite, Saint-Martin e a Mística Francesa e a História do Martinismo Moderno (Saint-Martin the French Mystic and the Story of Modern Martinism), (Londres: William Rider & Son, 1922), p.27.
[46] – David Harrison, ‘Thomas De Quincy: The Opium Eater and the Masonic Text’, AQC, Vol. 129, (2016), pp.276-281.
[47] – R.A. Gilbert, Caos fora de Ordem: O Levante e Queda do Rito Swedenborgian (‘Chaos out of Order: The Rise and Fall of the Swedenborgian Rite’), AQC, Vol. 108, (1996), pp.122-149. Veja também Hamill e Gilbert, World Freemasonry An Illustrated History, p.69.
[48] – Gilbert, Caos fora de Ordem: O Levante e Queda do Rito Swedenborgian (‘Chaos out of Order: The Rise and Fall of the Swedenborgian Rite’), AQC, p.123.
[49] – Idem
[50] – Arturo de Hoyos, (ed.), “O Rito Swedenborgian”, Coletânea (‘The Swedenborgian Rite’, Collectanea), Vol. 1, No. 1, (Impressão privada por GCR dos EUA: 1962), p.18.
[51] – Idem, P.17.
[52] – Idem, P.19.
[53] – Idem, P.23.
[54] – Idem, P. 104.
[55] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p. 490.
[56] – Waite, Nova Enciclopedia (New Encyclopaedia), Vol. 2, p. 363.
[57] – R. F. Gould, História da Maçonaria (History of Freemasonry), Vol III, (Edinburgh: T. C. Jack, 1887), p. 244.
[58] – Veja Johann Wolfgang von Goethe, Jornada Italiana (Italian Journey), (1816-17) e Alexandre Dumas, Mémoires D’Un Medecin. Joseph Balsamo, (1846), ambos os quais se referem a Cagliostro.
[59] – Evans, Cagliostro e seu Rito Egípcio, pp.5-6, embora Evans pareça duvidar que Cagliostro fosse Balsamo. Faulks e Cooper também rejeitam essa teoria, mas dão pouca luz sobre suas origens misteriosas, consulte Philippa Faulks e Robert L.D. Cooper, O Mágico Maçônico: A Vida e Morte do Conde Cagliostro e seu Rito Egípcio (The Masonic Magician: The Life and Death of Count Cagliostro and his Egyptian Rite), (London: Watkins, 2008), p.1 e p.15.
[60] – Waite, Nova Enciclopedia (New Encyclopaedia), Vol. 1, p. 89-99
[61] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p. 471.
[62] – Veja Robert Collis, O Iluminismo na Era de Minerva (Illuminism in the Age of Minerva: Pyotr Ivanovich Melissino) (1726-1796) e High-Degree Freemasonry in Catherine the Great’s Russia, 1762-1782′, Collegium, Estudos Pelas Disciplinas Humanas e Ciências Sociais, 16 (Studies Across Disciplines in the Humanities and Social Sciences), (Helsinki: Helsinki Collegium for Advanced Studies), pp.128-168.
[63] – Idem, pp. 143-4. Veja também de Hoyos, (ed.) O Sistema Melissino da Maçonaria (The Melissino System of Freemasonry), pp. 3-4.
[64] – de Hoyos, (ed.) O Sistema Melissino da Maçonaria (The Melissino System of Freemasonry), Coletânea, p. 4.
[65] – Evans, Cagliostro e seu Sistema Egípcio (Cagliostro and his Egptian Rite), p. 24.
[66] – Collis, Iluminismo na Era de Minerva (Illuminismo in the Age of Minerva), Collegium, p. 143.
[67] – Idem, p. 147.
[68] – Idem, p. 142.
[69] – Waite, Nova Enciclopédia (New Encyclopaedia), Vol 1., pp 9-12
[70] – R. F. Gould, História da Franco-Maçonaria (History of Freemasonry), Vol. III, (Edimburgo: T.C. Jack, 1887), pag. 244
[71] – Songhurst, “Ragon”, AQC, p. 103. Uma tradução da Crata Repoa por um Maçom americano no início do século dezenove também é apresentada por Arturo de Hoyos e S. Brent Morris no seu trabalho Comprometido com as Chamas (Committed to the Flames), (Hersham: Lewis Masonic, 2008)
[72] – Veja Nick Farrel, Crata Repoa, (Roma, 2009)
[73] – Idem, p. 10
[74] – Idem, p. 14
[75] – Idem, p. 5
[76] – Waite, Nova Enciclopédia (New Encyclopaedia), Vol 2., pp 271-6
[79] – Veja de Hoyos, ‘Ritos e Sistemas Maçônicos’ (Masonic Rits and Systems, Handbook of Freemasonry), pp. 367-8. Veja também Arturo de Hoyos ‘Abuso Anti-Maçônico da Literatura do Rito Escocês’ (Anti-Masonic Abuse of Scottish Literature), em Arturo de Hoyos (ed.) e S. Brent Morris (ed.), Francomaçonaria em Contexto: História, Ritual, Controvérsia (Freemasonry in Context: History, Ritual, Controversy) (Oxford: Lexington Books, 2004), pp. 259-272, na p. 260
[80] – Harrison, A Rebelião Maçônica de Liverpool e a Grande Loja Wigan (Liverpool Masonic Rebellion and the Wigan Grand Lodge), pp. 32-3
[81] – J. M. Hamill, “O Terceiro Manuscrito Francken do Rito de Perfeição” (A Third Francken MS of the Rite of Perfection), AQC, Vol. 97, (1984), pp. 200-2.
[82] – Harrison, A Rebelião Maçônica de Liverpool e a Grande Loja Wigan (Liverpool Masonic Rebellion and the Wigan Grand Lodge), pp. 55-8 e 68-9
[83] – Eustace B. Beesley, A História da Grande Loja Wigan (The History of The Wigan Grand Lodge), (Manchester: MAMR, 1920), pp. 83-6
[84] – Waite, Nova Enciclopédia (New Encyclopaedia), Vol 1, pp 207-8
Chama-se Passagem [1] à Cerimônia pela qual o Aprendiz adquire o estatuto de Companheiro, conferindo-lhe o segundo grau da Arte Real.
Tal como a Iniciação, a Passagem é um rito… disso mesmo: de passagem. Tal como aquela, tem os três tempos de um rito de passagem: de onde vens, o que és, para onde vais.
Mas, ao contrário da Iniciação, a cerimônia de Passagem deixa quase sempre no novel Companheiro um travo de desapontamento, uma sensação de que o que ocorreu foi menos do que o que o esperava.
Efetivamente, a Cerimônia de Passagem é muito mais simples e sóbria do que a Iniciação. Se pensarmos bem, deve sê-lo! A Iniciação marca a entrada num novo mundo, marca a transição da vida profana para a vivência maçônica. A Passagem assinala apenas o dobrar de uma etapa. Uma marca que, tendo o valor de assinalar um progresso, uma melhoria, um crescimento, no entanto o maçom que dela beneficia já deverá começar a perceber que é só uma pequena parte do muito caminho que ainda tem para percorrer, se quiser efetivamente atingir a plenitude das suas capacidades.
E, para que o maçom que passa de Aprendiz a Companheiro não tenha dúvidas nem ilusões sobre o pouco que andou e o muito que lhe falta percorrer… vai começar por se desiludir com a espartana Cerimônia de Passagem!
Não é só por esta razão que a Cerimônia de Passagem é tão simples. Porque ela é propositadamente simples, curta e sem enfeites!
A Cerimônia de Passagem não marca apenas uma mudança de estatuto, de grau, de Aprendiz para Companheiro.
A Passagem assinala sobretudo um novo estilo e objetivo de trabalho. Não uma mudança, porque o maçom não deve deixar de efetuar o trabalho que aprendeu a fazer enquanto Aprendiz para passar a fazer o tipo de trabalho do Companheiro. Não isso. Um maçom deve ser Aprendiz toda a sua vida maçônica. A Passagem assinala que, para além do trabalho que o maçom faz enquanto Aprendiz, deve, a partir de então, passar a executar também um novo tipo de trabalho.
A Passagem não é uma promoção. É um entregar de novas responsabilidades, a acrescer às que já se cumprem.
A Passagem não se destina, portanto, a impressionar, a marcar. A Passagem, pelo contrário, destina-se a enfatizar que o trabalho do maçom é sóbrio e persistente e cada vez mais profundo e variado. A Passagem não é uma festa. É apenas a entrega de um certificado de aptidão. A Passagem não é uma entrada na Mansão do Conhecimento Maçônico, é apenas a abertura de mais uma porta e o acesso de mais uma sala, para que o maçom, que anteriormente trabalhava apenas na sala dos Aprendizes… passe agora a trabalhar também na oficina dos Companheiros.
A Passagem deixará no maçom um travo levemente amargo da desilusão. Mas é para isso que serve. Para que o maçom perca as últimas ilusões que, sobre a Maçonaria, ainda guarde do seu passado de profano e confirme que o seu caminho é de trabalho. Mais trabalho.
Eu senti essa desilusão na minha Passagem a Companheiro. Eu, que já assisti e participei em dezenas de Cerimônias de Passagem, já vi dezenas de trejeitos de desilusão nas faces e nos olhos dos meus Irmãos. A alguns a desilusão é tanta e tão pesada que, mansamente, discretamente, se vão ausentando e decidem abandonar o caminho que os demais continuam a percorrer. Não é grave! Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade! Para alguns, o peso do trabalho é superior ao que se sentem com capacidade de suportar e arreiam. Também na Maçonaria a seleção é natural… Cada um percorre o seu caminho ate onde pode. Mesmo os que decidem parar a meio, já percorreram, pelo menos, uma parte do caminho. Esse ganho já é deles e ninguém lhes tira.
Não é por sadismo ou por inconsciência que se sujeita o maçom à desilusão, que se arrisca a sua desistência. É porque é necessário que essa etapa seja vivida. O novo trabalho que se acrescenta parecerá, para muitos, inútil e desnecessário. Mas não é nem uma coisa, nem outra. Porque com ele o maçom vai aprender que, para ser Mestre de si próprio, tem de ser um Homem completo. E que tem de se completar. De crescer e desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os campos. Não apenas num ou em alguns. Sobretudo, não apenas onde e como gosta…
Para começar, tem uma desilusão… Mas, se efetivamente aprendeu bem o que tinha de aprender na coluna dos Aprendizes, cedo, logo, superará essa desilusão; cedo, logo, se lembrará que, em Maçonaria o que parece normalmente é diferente do que é e o que é normalmente é mais do que parece; cedo, logo, esquecerá a desilusão e olhará, atentará, meditará no que, espartana, simplesmente, lhe foi mostrado. E agirá em conformidade. E com isso completar-se-á.
Demorei muitos anos a perceber isto. Andei muito tempo a dizer e a escrever que o grau de Companheiro estava mal acabado, que era desinteressante, que era uma perda de tempo, enfim, uma quantidade de disparates que os mais antigos fizeram o favor de estoicamente suportar, sem me tirarem a possibilidade de descobrir por mim próprio como eram tão desajustados!
O ciclo reproduz-se com cada maçom que persiste! Desilude-se, interroga-se, observa, trabalha, evolui e… um dia percebe que era assim mesmo que tinha de ser e de fazer. Quando, finalmente, estiver pronto para perceber.
A cada novo Companheiro eu dedico três desejos: que cumpra o ciclo que eu e muitos outros antes de mim cumpriram e ainda muitos mais cumprirão depois dele; que, um dia, perceba, como eu percebi; que não necessite de tanto tempo como eu necessitei!
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Quando o Venerável Mestre é perguntado, em sua instalação, se ele concorda que um homem ou qualquer corpo de homens, não podem fazer mudanças no corpo da Maçonaria, é importante compreender que isto se refere a preservação da estrutura organizacional da Ordem maçônica e não a seus rituais cerimoniais. Mais de um Grão-Mestre tentou aplicar esta advertência para o ritual maçônico em si. No entanto, uma breve análise do desenvolvimento dos rituais e suas muitas formas através do panorama das jurisdições maçônicas, vai mostrar rapidamente que esta pergunta veio das Old Charges e não tem nada a ver com os aspectos ritualísticos da nossa fraternidade. Nossos fundadores nunca tiveram a intenção de que os rituais cerimoniais permanecessem estáticos. A proibição de renovação não se aplica ao ritual maçônico, enquanto que esta é a única base sobre a qual toda a Luz da Maçonaria é transmitida e revelada.
Ainda que a Grande Loja Unida da Inglaterra insista que “a antiga e pura Maçonaria consiste em apenas três graus, incluindo o Santo Real Arco” o que é historicamente impreciso, as Grandes Lojas sempre tiveram o direito de decidir por si mesmos, como os seus rituais serão.
O único “antigo e puro” ritual maçônico no mundo é o ritual que existia em 1717, quando a primeira Grande Loja foi formada. Nós sabemos como foi aquele ritual porque ele foi amplamente publicado nos três primeiros manuscritos maçônicos, na forma de catecismos ainda existentes, em relação ao período de 1696-1715, os quais vieram da Escócia. O que é surpreendente sobre estas revelações é que elas encontraram o caminho para serem usados e adotados pelas lojas inglesas. Mais importante é que encontramos neles a maior parte do alicerce sobre o qual todos os rituais maçônicos foram erguidos mais tarde – a posição dos pés, a menção do “aprendiz” e “companheiro”, os cinco pontos do companheirismo, a menção do compasso, esquadro e Bíblia no mesmo contexto, o átrio do Templo do Rei Salomão, o sinal penal, existem muitas coisas para reconhecermos ali. É mais do que coincidência encontramos essas características em comum em todos estes catecismos antigos.
Um outro ponto é extraordinário em todos estes trabalhos: Graus não são mencionados. Quando a primeira Grande Loja no mundo foi criada, havia apenas a cerimônia de fazer um Maçom “Aceito” e a “Função do Mestre”. Na verdade, não temos nenhuma evidência de um sistema de três graus, ou de um terceiro grau, antes da famosa exposição de Samuel Pritchard intitulada de “A Maçonaria Dissecada”, publicado em 1730.
Isso faz com que o grau de Mestre Maçom na Maçonaria seja uma inovação!
Historiadores importantes concordam que o terceiro grau foi introduzido na Maçonaria em torno de 1725. Tornou-se popular ao longo das próximas duas décadas, principalmente porque os maçons adotaram a exposição de Pritchard como uma ajuda ao trabalho de memória. Sua obra não autorizada, se tornou o primeiro monitor maçônico e seria por décadas, o livro de rituais não oficial dos maçons. É também a primeira menção que temos da lenda de Hiram.
Ninguém sabe de onde essa história veio, mas supõe-se que Desaguiliers pode ter sido o autor, sendo Grão Mestre em 1719 e Vice-Grão Mestre em 1722 e 1726. Este foi o período em que o terceiro grau foi introduzido nas cerimônias da primeira Grande Loja. A lógica sugere que Desaguliers e seus irmãos maçons da Royal Society, poderiam ter sido os responsáveis. Certamente, nada poderia ter sido introduzida sem a sua aprovação. Na verdade, o Craft mudou drasticamente, enquanto Desaguliers estava em cena. A Grande Loja passou de um banquete anual para um órgão administrativo, com atas e orientação política para lojas, incluindo a estrutura de seus graus.
Se Desaguiliers e seus amigos de fato foram os autores do terceiro grau, voltaram a Maçonaria para um novo caminho. Em 1730, a cerimônia que conhecemos como Real Arco foi desenvolvida, a que reviveu uma história do grego antigo que data do ano 400. Em 1735, o Rito de Perfeição, consistindo de 14 graus, foi introduzido, estabelecendo uma cronologia bíblica para a estrutura do ritual maçônico. Tanto o Real Arco quanto o Rito de Perfeição, inovadores como eram, foram declarados pelos membros como “restabelecimento” da maçonaria antiga, porque eles automaticamente transmitiam uma face artificial da idade do grau ou da ordem. Depois de alguns anos, até os historiadores da Grande Loja estavam escrevendo que estes graus adicionados eram restaurações de um sistema mais antigo. Tornou-se moda acreditar que não havia nada mais inovador do que eles!
Claro que todos os novos graus/ordens foram adotados em uma única premissa – a que havia sido perdido no terceiro grau, tinha que ser encontrado. Por esta razão, todos eles apresentam uma semelhança surpreendente na estrutura e todos mostram que os sinais são provenientes da mesma fonte, com a mesma regularidade em sua forma. Mesmo com graus adicionais desenvolvidos, eles mantiveram uma estrutura “tradicional”.
Esta semelhança na estrutura é mais uma prova de que os nossos graus maçônicos, foram na verdade, criados em uma onda de moda. Todos eles insinuam que há grandes segredos para serem encontrados pelo maçom dedicado. E, de fato, existem.
Ao mesmo tempo que os graus e ordens foram crescendo aos trancos e barrancos, tanto no Rito de York quanto no Rito Escocês, ritualistas maçônicos nas lojas do Craft, continuaram a adicionar a linguagem dos três primeiros graus, acrescentando solidez à sua forma. Durante a segunda metade do século 18, um crescimento intelectual extraordinário foi adicionado ao velho conceito de “pura e antiga”, nos simples catecismos de 1717. Na verdade, o desenvolvimento e expansão do ritual, continuou a estar na moda como um dos meios de educar o Craft até a década de 1820.
Realmente foi criada uma escola de educação que prosperou por quase um século até as Grandes Lojas, principalmente as dos Estados Unidos, que determinaram que deveria haver apenas um ritual, aquele adotado por eles e todo o resto não importava. As Grandes Lojas dos EUA estabeleceram mais uma inovação na Maçonaria, que o ritual fosse imutável. Eles decidiram por si mesmos que a Maçonaria pura e antiga era a sua Maçonaria somente. O ritual maçônico se tornou uma coisa fixa e estagnada.
Esta inovação do século 19 pode ter marcado o início do declínio na Maçonaria. Foi durante essa época que as Grandes Lojas decidiram coletivamente, que não havia nada mais a ser aprendido no ritual maçônico. Nossas palavras foram congeladas no tempo.
Agora eu quero saber se é hora de criarmos mais uma inovação na Maçonaria, o de educar os maçons de que o uso ritual deve ser um processo dinâmico, assim como a aprendizagem é dinâmica. Claro, nós não precisamos adotar mais palavras. Mas leve em consideração como instrutivo seria se a diversidade de rituais fosse introduzida como uma ferramenta adicional para instrução, se rituais alternativos já adotados em outras jurisdições em todo o mundo, poderiam ser utilizados por vontade da loja e sancionada pela Grande Loja. Imagine como emocionante e revigorante seria se tivéssemos dez ou doze diferentes rituais disponíveis para nós em cada grande jurisdição!
Talvez seja hora de fazer a Maçonaria da moda outra vez, tanto através da variedade de sua forma de ritual e no desenvolvimento de sua forma intelectual, onde palestras, ensaios e diálogos são compartilhados regularmente em loja, todos focados em iluminar a mente. Talvez os jornais mais instrutivos e informativos, poderiam se tornar uma parte dos monitores impressos da Maçonaria, não deve ser memorizado, mas para ser sancionado e publicado para o benefício daqueles que querem ter acesso a mais conhecimento nas formas de maçonaria. Aqueles que sabem que mais luz na Maçonaria não é a propriedade da Grande Loja, mas sim, do indivíduo e seus irmãos em sua busca coletiva de uma vida, a busca por aquilo que foi perdido nas palavras e seus significados.
Em práticas como essas, nós não devemos, mais uma vez exercitar a “pura e antiga” Maçonaria? Poderia ser apenas mais uma inovação digna de nosso antigo Craft.
Autor: Robert G. Davis Traduzido por: Luciano R. Rodrigues
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Meus Irmãos, saúdo-vos fraternalmente, em todos os vossos graus e qualidades.
A suspensão dos trabalhos presenciais por virtude da pandemia em curso, revelou-nos a falta que o Ritual, a execução do Ritual, nos faz. É essa a natureza humana: muitas vezes só nos damos conta do que é importante quando o não temos. Mas não é sob esta perspectiva que escolhi expor a Importância do Ritual. Vou procurar incidir a nossa atenção sobre a razão por que o Ritual é importante, porque só tendo-se essa noção é que nos apercebemos completamente da importância do mesmo.
Começo por fazer uma afirmação que aparentemente não tem nada a ver com o tema e que é – como todas! – discutível, mas cujo mérito vos peço que julgueis apenas no final desta nossa conversa: a Maçonaria não se ensina, aprende-se!
Não quero com esta afirmação dizer que os mais experientes não devem partilhar com os mais novos o que aprenderam, o que sabem. Com esta frase, enfatizo que, em Maçonaria, o que é importante não é o que se transmite mas, antes, o que se apreende. Porque a experiência, a vivência, a personalidade do que transmite são diferentes das do que recebe. Assim, o que verdadeiramente interessa não é o que se ensina, se partilha, se transmite. O que importa é o que se aprende e, mais do que isso, o que se apreende, o que se interioriza. E aquelas e estas não são necessariamente – atrevo-me mesmo a dizer que raramente são – a mesma coisa. E, bem vistas as coisas, é inevitável que assim seja, pois, como já há pouco referi, o que transmite e o que recebe têm personalidades, vivências, capacidades, características diferentes. Assim, o que transmite tem necessariamente uma noção diversa do que aquele que recebe. Este, daquilo que é transmitido, receberá o que, na ocasião, estiver apto e pronto a receber, será tocado pelo que, no momento, o sensibilize. Em suma, o que ficará é o que ele aprende e apreende, não o que o que transmitiu julga que ensinou…
Não tenho, portanto, a pretensão de ensinar nada! Tenho apenas a esperança de que, da maçada a que agora vos submeto, cada um de vós retenha algo de útil.
Em meu entender, para uma correta abordagem da importância do ritual impõe-se que previamente distingamos entre Conhecimento e Sabedoria. O Conhecimento é tudo aquilo que aprendemos e estamos aptos a utilizar, quando necessitamos. A Sabedoria é algo mais profundo. Baseia-se, é um fato, nos conhecimentos que adquirimos. Mas reside na intuição, na capacidade adquirida de, relacionando tudo o que conhecemos, daí selecionar o que efetivamente importa, o que é adequado para um momento específico, uma situação concreta. Nem sempre aquele que tem mais conhecimentos é o que tem a sabedoria necessária para escolher a via justa, a palavra indicada, o gesto preciso, a atitude certa perante uma dada situação concreta. Numa muito grosseira aproximação, poderíamos dizer que a sabedoria resulta do conhecimento sublimado pela experiência. É através dos êxitos e fracassos na nossa escolha na utilização dos nossos conhecimentos que sublimamos o nosso Conhecimento em Sabedoria, que passamos do Conhecer ao Saber.
Memoriza-se e utiliza-se o que se conhece; desenvolve-se e internaliza-se o que se sabe.
O meio privilegiado para rápida aquisição de Conhecimento é o Estudo. Para se chegar à Sabedoria é preciso tempo e vivência. Mas há um meio para acelerar esse percurso, para induzir a Sabedoria: a utilização, execução e prática do Ritual. Se o Estudo é um meio de aquisição de Conhecimento, o Ritual é indutor de Sabedoria.
Com efeito, o Estudo estimula, faz funcionar, desenvolve a Inteligência Racional. Mas o Ritual, a sua prática, esse, estimula e desenvolve a Inteligência Emocional. E esta é bem mais profunda do que aquela, pois combina o conhecimento, o raciocínio, com a Intuição. O que estudamos pode não nos tocar e dar-nos apenas, pela memorização, a ferramenta necessária para agir. Mas só o que nos toca, nos emociona, efetivamente guardamos para saber como utilizar a ferramenta. A ferramenta é útil, mas saber utilizá-la pela melhor forma é indispensável…
Para entendermos porque e como o Ritual e o seu exercício estimulam a nossa Inteligência Emocional e, logo, induzem a obtenção de Sabedoria, devemos ter presente que, nos primórdios da Humanidade, quando ainda não tinha sido inventada a escrita – e muitas e muitas gerações de humanos viveram sem que houvesse escrita… -, a aquisição de conhecimentos e o acesso à Sabedoria processavam-se através da Tradição Oral. Era exclusivamente por essa via que os mais velhos e os mais experientes transmitiam o que sabiam aos mais novos e sem experiência.
Não havia então propriamente aulas, nem escolas. Os mais velhos e experientes diziam o que tinham aprendido, executavam perante os mais novos os gestos que era necessário fazer, repetiam, uma e outra vez, e faziam repetir muitas e muitas vezes, as palavras, os gestos, os atos de que dependiam, tantas vezes, a alimentação, a segurança e a sobrevivência, não só individuais como do grupo.
Ora, repetir uma e outra vez as mesmas palavras, para transmitir as mesmas noções, executar muitas e muitas vezes os gestos e as ações adequados para a obtenção dos resultados pretendidos mais não é do que… executar um ritual! Um Ritual é um conjunto de palavras, gestos e atos proferidas e executados sempre da forma similar.
Então, nos primórdios da Humanidade, aprendia-se e vinha-se a saber através da repetida execução de rituais. Era pelo que se via, pelo que se ouvia, pelo que se executava, pelo que exaustivamente se repetia, que se entranhava em cada um o que fazer e como fazer para obter alimento, para garantir segurança, para melhorar e curar maleitas, para adquirir o conforto possível.
Os rituais aprendidos e executados propiciavam, assim, a sabedoria necessária para sobreviver e viver o melhor possível.
O cérebro humano foi portanto, desde muito cedo, formatado em primeiro lugar para reagir aos estímulos visuais e auditivos.
Só mais tarde, muito mais tarde, o cérebro humano adquiriu a capacidade e habilidade de decifrar o código da escrita. A criação da escrita foi um avanço civilizacional imenso. Permitiu registar o que se tinha por importante, aquilo que anteriormente tinha de ser adquirido e mantido à custa de repetições. A escrita e a habilidade de a utilizar permitiram à Humanidade um meio mais fácil de registar e dar acesso ao Conhecimento. O cérebro humano naturalmente adquiriu, assim, também a capacidade de adquirir Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo.
Mas tenhamos presente que a camada mais profunda do nosso cérebro é, desde sempre, estimulada auditiva e visualmente e por execuções ritualizadas do que se pretende transmitir. A aquisição de Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo é uma habilidade mais recentemente adquirida, logo, mais superficial no nosso cérebro.
Não nos enganemos: o estudo, a aquisição de Conhecimento pelo estudo, dá trabalho. Esse trabalho é recompensado pelo desenvolvimento da nossa Inteligência Racional, pela habilidade de memorizar, de relacionar, de aplicar. Mas é apenas a Razão que é aplicada e fortalecida.
Para se desenvolver, para se utilizar a Inteligência Emocional, a que nos permite, quantas vezes sem sabermos como, intuitivamente, dizer a palavra certa, executar o gesto adequado, efetuar a ação necessária sem termos de longamente pesar os prós e os contras, sem necessitarmos de fazer exaustivas análises e cálculos, para isso temos de recorrer às camadas mais profundas do nosso cérebro – e essas desde o início dos tempos foram estimuladas pelo que se via e ouvia, pelo que se repetia uma e outra e muitas vezes, pelo que se ritualizava.
Por isso afirmo que o Ritual é o indutor de mais rápida passagem do Conhecimento à Sabedoria, acelerando o que só a Experiência, a Vida vivida, os erros cometidos e as vitórias alcançadas nos permitiria atingir, não fora ele.
Meus Irmãos: até agora tenho sempre falado de Ritual, sem adjetivar e, sobretudo, sem utilizar o adjetivo maçônico.
Porque o ritual, penso tê-lo demonstrado, existe desde sempre e desde sempre aumenta a capacidade humana de discernir, em suma, de saber. E não há “o “ ritual, há muitos rituais, respeitando a muitos momentos, ocasiões e atividades. Existem, bem o sabemos, rituais religiosos. Mas também de outra natureza, uns mais solenes e utilizados em ambiente de Poder ou de significado social, outros mais simples, íntimos até. Atrevo-me a dizer, por exemplo, que todos os casais com algum tempo de ligação criam os seus rituais próprios, indutores de segurança, conforto e manutenção da relação afetiva.
Uma categoria de rituais que merece referência é o ritual que podemos denominar de grupal, o que marca, define e corporiza a integração de alguém num determinado grupo. Aí não está em causa a aquisição ou consolidação de conhecimentos ou o acesso a sabedoria, mas simplesmente o estabelecimento de uma união grupal, a que o neófito passa a aceder.
Todo o ritual é importante, precisamente porque correspondendo à mais antiga e natural forma de a Humanidade processar a aquisição de conhecimentos, ganhar e manter confiança, obter conforto e segurança. Não é assim porque queremos que seja, assim é porque a nossa evolução como espécie o determinou. Talvez algo grandiloquentemente, pode-se afirmar que a Civilização se alicerça em rituais.
Mas os Rituais Maçônicos, esses, partilhando com os demais a mesma natureza de meios indutores de aquisição de Sabedoria, têm ainda uma valência própria, quiçá não exclusiva, mas seguramente que identitária.
Os rituais maçônicos têm uma tríade de caraterísticas, duas delas já referidas e uma terceira que podemos considerar própria. Os rituais maçônicos assumem a natureza de indutores de Sabedoria, são também, particularmente nos rituais de Iniciação e de Aumento de Salário, rituais grupais, mas também assumem a natureza de explanação e aprofundamento de Princípios e Valores.
Esta uma especificidade não negligenciável. Os vários rituais dos diferentes ritos maçônicos apresentam-nos e definem-nos Valores e Princípios a que os maçons devem corresponder. Não estão aqui em causa conhecimentos a interiorizar. Estão, diretamente, aspectos e referências morais a seguir, a cumprir, a divulgar.
Os rituais maçônicos, ao promoverem Princípios e Valores, apelam diretamente às caraterísticas básicas do cérebro humano. Os princípios e Valores expostos, facultados, não se destinam a ser meramente apreendidos pela Inteligência Racional, através do estudo e da aquisição de conhecimentos. Procura-se atingir a Inteligência emocional, o âmago da personalidade de cada um e aí efetuar as modificações inerentes a esses Princípios e Valores.
Busca-se a aceleração do processo. Em vez da mera aquisição pela Inteligência Racional e posterior enraizamento através da experiência, busca-se a inserção direta e eficaz na mente do maçom, atingindo o que o Ritual, desde os primórdios da Humanidade toca: a Inteligência Emocional, logo as profundezas do ser que cada um de nós é. Não se semeia, para que porventura nasça e cresça. Planta-se para que, no mais curto espaço de tempo, haja frutos.
Os rituais maçônicos destinam-se assim, para além da integração de indivíduos em grupos, a propiciar a modificação de cada um, através da interiorização de Princípios e Valores morais, que devem nortear a conduta de cada um,
Expostos de forma ritualizada, muitas vezes repetida, encenada e praticada, tais Princípios e Valores entranham-se diretamente no âmago essencial de cada um, assim propiciando o seu aperfeiçoamento.
Este processo de aperfeiçoamento não é imediato. É demorado, é evolutivo, depende de patamares.
É por isso que é um erro pensar-se que, sabido o ritual, aprendido a executar o mesmo com perfeição, o nosso trabalho está terminado.
Posso garantir-vos, com base na minha experiência de mais de 30 anos de maçom, que não é assim que funciona.
Decorar o ritual, executá-lo na perfeição, são ainda tarefas do Intelecto, da Inteligência Racional. O que importa é senti-lo, vivenciá-lo, apreender aqui e ali algo de novo, algo que nos chama agora a atenção e em que não reparamos antes. Porque esse é o processo de entranhamento das noções transmitidas pelo ritual, esse é o processo de passagem do Conhecimento à Sabedoria.
Se há algo que verdadeiramente aprendi com os nossos rituais é que se está sempre a aprender algo de novo com os mesmos. Em mais de trinta anos de Maçonaria, já repeti, já executei, já vi serem repetidos, já vi serem executados, os nossos rituais centenas de vezes. Nunca me incomodei com a repetição. Nunca deixei de me concentrar na sua execução. E, trinta anos passados, ainda me sucede que subitamente encontro algo de novo, apesar de ser o mesmo ritual que pratico e a que assisto ao longo deste tempo.
Tal sucede por uma simples razão: encontro numa ocasião aquilo que então estou preparado para encontrar. As palavras, os gestos, os atos, são os mesmos desde o princípio. Mas antes eu não compreendera aquele particular significado, porque ainda não estava preparado para tal. Porque tive de seguir uma evolução, compreendendo aqui algo que mais tarde me permitiu perceber aquilo, que me modificou e levou a entrever aqueloutro pormenor, num processo evolutivo permanente.
É para isso que serve o nosso ritual. Porque o ritual maçônico não é um simples ritual igual a todos os outros que a Humanidade segue. O ritual maçônico é um meio de Construção e Aperfeiçoamento de Nós.
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A joia do VM é o Esquadro. Sendo o Esquadro o símbolo da Retidão, como joia distintiva do cargo de Venerável, indica que ele deve ser o Maçom mais reto e mais justo da Loja que preside, como líder de seus Irmãos, competindo-lhe dirigir a Loja, com equilíbrio serenidade e senso de justiça. Sua função, ainda como administrador, é nomear membros da administração e comissões, fazendo parte de todas elas, no intuito de fiscalizar o trabalho das mesmas. Além destas funções, ele inicia e confere Graus, procede à apuração de qualquer eleição ou escrutínio, decide questões de ordem, despacha o expediente com a Secretária da Loja, assina o balaústre, distribui sindicâncias, encerra o Livro de Presença, autoriza despesas ordinárias, apresenta relatórios de sua Administração, organiza e controla as discussões dos assuntos em pauta,
Pelo Venerável se conhece a Loja, sendo ele o resultado da vontade dos Irmãos do quadro, ele é responsável pela harmonia, pela participação ou desunião, ou pelo fracasso ou pelo retumbante sucesso da Oficina. A coluneta que está no altar do VM é a Jônica, que simboliza a sabedoria, daí a estátua de Minerva dos romanos ou Palas Atenas do gregos
Vigilantes
Os Vigilantes são os auxiliares diretos do Venerável Mestre não só para ministrar instruções aos Aprendizes e Companheiros, como ajudar a administrar a Loja.
1º VIGILANTE: além de substituir o V. Mestre em seus impedimentos e faltas, dirige a sua Coluna de obreiros, transmitindo as ordens do Venerável aos obreiros e ao 2º Vigilante. Também pede ao Venerável a palavra para os obreiros de sua Coluna, dando-lhes as instruções e solicita aumento de salário para os Aprendizes.
O Nível é a joia do cargo. E o símbolo da Igualdade, representando a igualdade social, base do Direito Natural. Cabe-lhe a direção da Coluna do Norte. A Coluna que está em seu altar é a Dórica, que simboliza a Força, daí a estátua de Hercules, estar próximo a ele.
2º VIGILANTE: substitui o Venerável durante o impedimento concomitante deste e do 1ºVigilante. Dirige os obreiros de sua Coluna, a do Sul, solicitando a palavra para eles, dando-lhes as instruções e solicitando aumento de salário para os Companheiros.
A Joia do Cargo é um Prumo ou Perpendicular. É o emblema da busca pela Verdade. Aliado ao Esquadro, ele permite a correta e perfeita construção do Templo. Em seu altar está a Coluna Coríntia. É a Coluna da Beleza. Daí a estátua da Vênus Romana ou Afrodite Grega, estar próxima a ele.
Orador
A joia do Orador é um Livro Aberto, que simboliza que o mesmo nada esconderá nada duvidoso deverá deixar, além de indicar que o mesmo é o Guardião da Lei. Ele é a consciência da Loja, devendo conhecer e interpretar todas as Leis Maçônicas que regem a Obediência, como Constituição, Regulamentos, Landmarks, Usos e Costumes, etc.
O Orador impede que o Venerável Mestre caia em erros ou equívocos, ou se exceda no exercício de suas funções. É a ele ainda que, havendo alguma infração suficientemente grave para justificar punição, cabe instruir o respectivo processo, sendo ele o Ministério Público da Ordem.
Esclareça-se que o Venerável Mestre não está obrigado a decidir de acordo com as conclusões do Orador, podendo ele discordar deste e decidir de forma contrária. Ele senta-se no Oriente à direita do V.Mestre.
Secretário
O Secretário representa a memória e o arquivo da Loja, sendo sua joia duas penas cruzadas indicando que ele assegura a tradição da Ordem e da Oficina, com o registro de todos os fatos passados bem como os do presente.
O Secretário, sentando-se no Oriente a esquerda do V. Mestre, pede a palavra diretamente ao Venerável. Ele é o responsável pela história da Loja e da Maçonaria.
Os historiadores do futuro e da própria Loja, se houver, basear-se-ão no que ele registrar. Se ele deixar de registrar, ou registrar mal os fatos ocorridos, a História, nesse caso, não será completa.
Tesoureiro
As duas chaves cruzadas, usadas como joia do Tesoureiro da Loja significa que ele é o depositário dos metais da Loja e seu administrador. Tendo assento na coluna do Norte. A importância deste cargo consiste no zelo pela arrecadação dos recursos devidos pelos Irmãos à Loja e pelo pagamento das obrigações a qual cada Loja está sujeita pelos Regulamentos da Obediência, a fim de que as obrigações maçônicas e profanas sejam cumpridas.
Chanceler
A joia do Irmão Chanceler é um Timbre ou Chancela, simbolizando que o Chanceler é o Guarda Selos da Loja, responsável por todos os documentos da Loja e pela guarda dessa documentação. Além disso, tem a função de manter o livro de registro de presença dos obreiros da Loja e dos visitantes, sendo responsável ainda por guardar os Livros Negro e Amarelo.
Mestre de Cerimônias
Tem como joia a Régua que representa o aperfeiçoamento moral. A régua também simboliza o método, a retidão, sendo aquele que conhece todos os caminhos escabrosos e assim, pode guiar todos os Amados Irmãos na circulação em Loja.
Deve ser conhecedor da ritualística, sendo o encarregado de todo Cerimonial da Loja, zelando para que os trabalhos sejam conduzidos de acordo com o Ritual, devendo conhecer os sinais, toques e palavras dos graus, tendo todo o domínio do cerimonial maçônico.
O Mestre de Cerimónias só aprende o seu ofício de uma maneira: executando-o e corrigindo os erros e hesitações que lhe detectarem ou que ele próprio detectar. O Mestre de Cerimónias faz a função, mas também se faz na função.
Tem assento na Coluna do Norte, junto a balaustrada, na frente do Tesoureiro.
Além de ser o responsável pela ritualística, tem as seguintes atribuições: distribuir com antecedência as insígnias e aventais aos Oficiais da Loja; ver se todos estão devidamente paramentados; preencher os cargos vagos; organizar as fileiras do irmãos, nos seus respectivos graus fazer um exortação antes da entrada dos irmãos no Templo, para acalmar suas mentes e corações; acompanhar os Mestres Instalados e o V. Mestre até o Trono; declarar que a Loja está composta no Grau, acompanhar o Ex-Venerável ou Orador, na abertura e encerramento do Livro da Lei; organizar todas as comissões formadas por autoridades, e na entrada do pavilhão nacional etc.
Ele ainda é responsável pela circulação da bolsa de proposta e informações, sendo o único que pode circular em Loja independente de autorização do Venerável Mestre, sendo ele o mensageiro do mesmo ou de outros irmãos.
Hospitaleiro
A joia do cargo do Irmão Hospitaleiro é uma pequena sacola, simbolizando o peregrino da vida, o pedinte, sendo responsável pela circulação da bolsa de beneficência, também outrora conhecido como Tronco de Beneficência, Tronco da Viúva ou Tronco da Solidariedade, devido a antigamente os óbolos serem recolhidos em um pedaço de tronco de árvore, isto segundo alguns historiadores da Maçonaria.
Sua função precípua, em nome da Caridade e Fraternidade, é coletar os donativos dos irmãos, para socorrer os necessitados. Ele cuida de toda a parte assistencial da Loja, propondo auxílios, visitando os irmãos enfermos e necessitados. Se o infortúnio da morte bate à porta de um Irmão da Loja, fato inevitável, é ele o responsável de comunicar o fato a todos, e providenciar a documentação necessária para o sepultamento, devendo ainda, após o luto, procurar a família do falecido, para requerer a restituição de seus documentais, insígnias e aventais.
Fazer girar o Tronco é muito fácil, Mas sua missão principal, se dá fora da Loja, devendo o Irmão que estiver no cargo, ter muita dedicação e desprendimento.
Diáconos
Diácono, do grego diákonos, significa “servente”, aquele que serve a mesa. Assim, eram chamados os cristãos escolhidos pelos apóstolos para servirem aos pobres da Igreja de Jerusalém Existem em Loja, dois Diáconos, o Primeiro e o Segundo. O Primeiro Diácono senta-se próximo e a direita do Venerável para pô-lo em comunicação com o Primeiro Vigilante. O Segundo Diácono se coloca próximo e a direita do Primeiro Vigilante para transmitir suas ordens ao Segundo Vigilante e aos demais membros da oficina. A joia do Primeiro Diácono é uma pomba inscrita em um triângulo, e o Segundo Diácono uma pomba em voo livre. A pomba antigamente, levava e trazia mensagens, daí o simbologia.
Entre as funções do Primeiro Diácono, se destaca a incumbência de abrir e fechar o Painel da Loja. Recebe ainda a P.S. do Venerável Mestre entregando-a ao Primeiro Vigilante, enquanto o Segundo Diácono, que se coloca à direita do Primeiro Vigilante, recebe deste a P.S. e entrega-a ao Segundo Vigilante. Ele ainda, transmite e executa às ordens do Primeiro Vigilante, e cuida para que os Maçons sentados no Ocidente se conservem nas colunas com respeito, disciplina e ordem. Cuidam os Diáconos ainda, de formarem o pálio, no sentido de proteção, quando da abertura e fechamento do L. L.
Expertos
A joia do Irmão Experto entre nós, é um Punhal, que significa o castigo que merecem os perjuros. Embora o Punhal seja considerado símbolo da Traição, para a Maçonaria é o símbolo da fortaleza e da guarda. Na iniciação, é ele quem guia os profanos, sendo também o substituto dos irmãos que ocupem cargo, e que não compareceram à sessão, com exceção do V. Mestre, que é substituído pelo Primeiro Vigilante. Esse cargo, sempre é confiado a um irmão experiente que conhece a ritualística e a dinâmica do trabalho nas iniciações. Auxilia também o Cobridor no telhamento de visitantes. Existem dois expertos, o primeiro que se senta à frente do Ir. Segundo Diácono e o segundo Experto que se senta à frente do Guarda do Templo.
Guarda do Templo
A joia do Guarda do Templo são duas Espadas Cruzadas. Simbolicamente as espadas cruzadas nos ensina a nos pormos em defesa contra os maus pensamentos e a ordenarmos moralmente as nossas ações. Fica a direita de quem entra, sendo que a porta do Templo lhe é confiada, devendo sempre mantê-la fechada, sendo ele o único que pode tocá-la. Cabe somente a ele abrir ou fechar a porta.
A prova da grande importância deste cargo se verifica na Maçonaria Inglesa, pois lá, as Lojas somente elegem o Venerável, o Tesoureiro e o Cobridor.
Cobridor Externo
Sua joia é o Alfange, para ceifar as forças negativas, não deixando que elas entrem em Loja. Ele também zela pelos trabalhos da Loja, devendo guarnecer o lado externo da mesma, ou seja, se posiciona a frente da Porta do Templo, em seu lado esquerdo de quem entra, para garantir que os trabalhos não seja perturbados por nenhum profano, não possuindo assim, nenhum assento em Loja. Esse cargo existe apenas de forma simbólica, quase não sendo usado nas Lojas. Caso exista algum irmão que ocupe esse cargo, ele entrará em Loja, após a garantia de que a Loja está segura.
Porta-bandeira
A joia do cargo é uma Bandeira, sendo que ele conduz, nas Sessões designadas, o Pavilhão Nacional, de acordo com o protocolo das Obediências. Ele se coloca no Ocidente, a frente do cadeira ocupada pelo Ir. Porta Espada, que está à frente do Orador.
Porta-espada
Sua joia, é uma Espada. Senta-se no Oriente a frente do Orador. O uso da espada constitui uma prática consagrada pelo costume representando o poder e a força.
O Porta-Espada é quem simbolicamente zela pelo instrumento. Ele é responsável quando devido ao protocolo, distribuir as espadas aos Mestres, para formar a abóboda de aço, quando da entrada no Tempo de autoridades, ou visitantes ilustres.
Existe a Espada Flamejante, que somente pode ser tocada pelo V. Mestre, ou por um Mestre Instalado, que é usada somente nas iniciações.
Porta-estandarte
A joia do Cargo é uma miniatura de um Estandarte. Se senta no Oriente a frente do Arquiteto, que por sua vez, fica à frente do Secretário. Ele é responsável pelo descolamento e exposição do Estandarte da Loja, no momento previsto no Ritual.
Arquiteto
A joia do cargo do Arquiteto é uma Trolha, que este um dos grandes Símbolos da Maçonaria, pois antigamente, os Maçons Operativos, a utilizavam para manipular a argamassa da Fraternidade. Ele se senta à frente do Secretário. Parece ser um cargo sem importância, mas na realidade é tão ou quanto os outros. Sua função consiste em ornamentar a Loja, colocando cada coisa em seu devido lugar, acender as velas do Altar e dos demais cargos onde houver. Seu trabalho é realizado antes do início das as Sessões.
Mestre de Harmonia
A Lira é sua joia. Ela é parecida com uma harpa, sendo considerado um dos instrumentos musicais mais antigos que se tem notícia.
Todos nós sabemos, que os efeitos da música em nossas sessões, prepara o ambiente, tornando-o mais harmônico, vibrante e mais solene. A Música, faz com que a energia vibratória e a boa egrégora, reine nas sessões. Isso ele faz através de belas peças musicais. Sabemos que a música tem um poder maravilhoso; afeta os sentidos e conduz rapidamente à harmonização. Assim, se justifica o seu uso em determinadas ocasiões das sessões. Seu lugar em loja, situa-se a sudoeste do Primeiro Vigilante.
Mestre de Banquetes
A joia do cargo é a Cornucópia que sempre simbolizou a fartura, a abundância. Cabe ao Mestre de Banquete promover os ágapes fraternais, bem como as Lojas de Mesa solsticiais ou banquetes ritualísticos, providenciando tudo o que for necessário. Senta-se na última cadeira da coluna do Norte, ao lado do Mestre de Cerimônias. Suas atribuições estão previstas ainda nos arts. 40 de nosso Regulamento Interno.
Bibliotecário
Cultura maçônica não é passatempo, não é exibicionismo. É uma obrigação de todo Maçom que se preze. É muito comum verificarmos que livros, revistas, jornais, boletins, e outras peças que possam trazer mais cultura e conhecimento maçônico estejam jogadas literalmente as traças em uma Loja, ou estejam sobre a guarda pessoal do Venerável Mestre, ou mesmo do Secretário. Isso não pode ser tolerado. Mesmo que hoje em dia, se consiga matérias e informações pela internet, não pode ser admitido que uma Loja não possua seu próprio acervo, exclusivo aos Irmãos.
É muito comum, os irmãos só apresentarem trabalhos quando ainda estão no grau de Aprendiz e Companheiro, apenas para cumprir seus interstícios. Quando chegam a Mestre julgam que tem conhecimento bastante para desprezar os estudos.
Desta forma, o Irmão Bibliotecário é o responsável pela Biblioteca da Loja. Sua joia é um livro aberto com uma pena sobreposta. Tem assento na primeira cadeira para os mestres na coluna do sul ao lado do Hospitaleiro.
Historiador da Loja
Cargo não previsto em nosso Rito, mas sim no art. 39 de nosso Regulamento Interno, da ARLS Rui Barbosa. Ele é responsável pelo registro de fatos importantes da Loja, como eventos realizados, obras filantrópicas, encontros maçônicos, simpósios, entre outras atividades, além de incentivar a criação de um informativo exclusivo da Loja. Deve também presidir a comissão de Ritualista, Estudos e Bibliotecas.
Autor: Dermivaldo Colinetti
ARLS Rui Barbosa, Nº 46– GLMMG – Oriente de São Lourenço