Tolerância e seus limites

Em Maçonaria, o conceito de Tolerância não inclui qualquer noção de superioridade do tolerante perante o tolerado. Isto é, não se tolera a opinião ou a crença do outro porque somos boas pessoas e achamos que devemos fazê-lo, apesar de entendermos que nós é que estamos certos e o outro é que está errado fazendo-lhe o favor de aceitar que ele tenha opinião errada.

O conceito maçônico de Tolerância existe como corolário do princípio da Igualdade, basilar entre os maçons. Deve-se tolerar e tolera-se a opinião diferente ou divergente do outro, porque, como iguais que somos, cada um tem o direito a ter a sua opinião, como muito bem entenda tê-la. E tolera-se e deve tolerar-se a opinião diferente e divergente do outro em relação à nossa, porque não devemos ter a sobranceria de achar que nós é que somos os iluminados, tocadas pela graça divina de estarmos sempre certos.

Quando o nosso igual tem uma opinião diferente ou divergente da nossa, quatro hipóteses podem existir: ou o outro está errado e nós certos, ou somos nós que estamos errados e é o outro quem está certo, ou afinal estamos ambos errados e é outra qualquer posição que está certa, ou até podemos ambos estar certos, só que em planos, tempos ou condições diferentes.

A Tolerância não é um favor, uma concessão ou uma generosidade. A Tolerância é a simples consequência de se reconhecer que a perfeição humana não existe e, portanto, de admitir como um fato da vida que todos e cada um de nós temos os nossos defeitos, as nossas imperfeições, os nossos acertos e os nossos erros e é, por conseguinte, até mais do que imperativo ético, um ato de inteligência tolerar o outro com os seus defeitos, imperfeições e erros pois, só assim, podemos esperar que os nossos sejam, por sua vez, tolerados.

Situações que por vezes são apresentadas como de Tolerância nada têm a ver com a mesma: a “tolerância” do branco em relação ao negro (ou vice-versa) não é mais do que racismo comprometido; a do homem para com a mulher (ou vice-versa), não passa de machismo (ou feminismo) mentecapto; a do cristão para com o judeu ou o muçulmano, ou do judeu para com o muçulmano ou o cristão ou a do muçulmano para com o cristão ou o judeu, mais não significam do que a tentativa de ocultar sectarismo religioso; a do rico em relação ao pobre apenas disfarça o sentimento de culpa pela sorte do conforto material ou desejo de continuar a explorar o deserdado. Porque o branco e o negro são ambos humanos e ambos têm carne e ossos e sangue vermelho e coração e cérebro. Porque homem e mulher se complementam e são mutuamente indispensáveis. Porque cristãos, judeus e muçulmanos creem no mesmo Deus. Porque o rico e o pobre só se enobrecem pelo trabalho.

Quando se fala de Tolerância, é frequente vir à baila a questão dos seus limites. Existe alguma tendência para se considerar existir algo de contraditório entre a Tolerância e a consideração de existência de limites à mesma. A meu ver, esta é uma falsa questão, que um pouco de reflexão facilmente resolve. 

Antes do mais, é preciso entender que o conceito de Tolerância se aplica a crenças, a ideias, ao pensamento e respetiva liberdade, às pessoas e sua forma, estilo e condições de vida, mas nada tem a ver com o juízo sobre atos. Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar, independentemente da sua diferença em relação a si e ao seu entendimento, a crença alheia, as ideias e o pensamento de outrem, pois a liberdade de crença e de pensamento são expressões fundamentais da dignidade humana. Cada um de nós deve tolerar, aceitar e respeitar o outro, quaisquer que sejam as diferenças que vejamos nele em relação a nós, porque o outro é essencialmente igual a mim, não ferindo essa essencial igualdade as particulares diferenças entre nós existentes. Mas não é do domínio da Tolerância o juízo sobre os atos. O juízo sobre atos efetua-se em função da moral e das regras sociais e legais vigentes.

Explicitando um pouco mais: tenho o dever de aceitar alguém que pense de forma diferente da minha, que tenha uma crença religiosa diferente da minha, uma orientação sexual diferente da minha, um estilo de vida diferente do meu. Mas já não tenho idêntico dever em relação a atos concretos desse outro que se revelem violadores da lei, da moral ou da própria noção de Tolerância. Designadamente, não tenho que tolerar manifestações de intolerância em relação a mim, às minhas crenças e convicções, tal como não só não tenho que tolerar, como não devo fazê-lo, atos criminosos, cruéis, degradantes ou simplesmente violadores das consensuais regras de comportamento social.

Temos o dever de tolerar, de aceitar, a diferença – no estilo, nas ideias, nas crenças, no aspecto ou nas condições individuais. Por outro lado, temos o direito e o dever de ajuizar, de exercer o nosso sentido crítico, relativamente a ações concretas.

Ninguém vive isolado da Sociedade e todos têm de cumprir as regras sociais que viabilizam a sã convivência de todos com todos. Consequentemente, é uma simples questão de bom senso que devemos aceitar, valorizar, integrar as diferenças. Quem é diferente, tem direito a sê-lo. Quem pensa diferente, tem o direito de assim fazer. Mas, por outro lado, o direito à diferença não legitima a atuação desconforme com as regras sociais, legais, morais, em vigor na Sociedade em causa. Ninguém pode pretender só gozar das vantagens sem suportar os inconvenientes. Quem vive em Sociedade tem o direito de exigir que ela e os demais aceitem as suas diferentes ideias, conceções, condição. Mas tem o correlativo dever de respeitar as normas sociais, legais e morais vigentes. Se o não quiser fazer, deve afastar-se para onde vigorem normas que esteja disposto a seguir.

As Sociedades evoluem e é bom que assim seja. Também por isso é inestimável e rica a diferença. Também por isso devemos aceitá-la e aceitar que quem defende ideias ou conceções ou condições diversas da norma procure convencer os demais da bondade das suas escolhas. Isso é Liberdade, isso é Democracia. Nem uma, nem outra subsistem sem a indispensável Tolerância da Diversidade. Mas, precisamente por isso – afinal porque quem quer e merece ser respeitado tem o dever de respeitar – o direito de defesa das ideias e convicções, o direito a tentar convencer os demais, o direito a pregar a evolução pretendida, não se confunde com qualquer pretensão de agir como se pretende, se em contrário da lei, do consenso social, da postura moral da Sociedade em que se está inserido.

Resumindo: a Tolerância obriga a respeitar a Diversidade e a diferença; impõe a aceitação da divulgação, da busca de convencimento, mesmo da propaganda das ideias ou conceções diversas. Mas não que se aceitem condutas prevaricadoras do que está legal e socialmente vigente – enquanto o estiver. Por isso entendo que os domínios da Tolerância e do Juízo sobre os atos concretos são diferentes. As ideias, as conceções, as condições confrontam-se, debatem-se, mutuamente se influenciam, enfim interagem no domínio da Liberdade e, assim, da mútua Tolerância. Os atos, esses, necessariamente que têm de respeitar o estabelecido enquanto estabelecido estiver. Se assim não for, o que é aplicável à violação do consenso social não é a Tolerância – é a Justiça, seja sobre a forma de Justiça formal, seja enquanto censura social seja no domínio do juízo individual.

Portanto, onde tem lugar a Tolerância, ela não tem limites. Onde há limites, sejam legais, sejam de normas sociais ou morais, não se está no domínio da Tolerância, mas no domínio do tão justo quanto possível juízo concreto sobre atos concretos.

Autor: Rui Bandeira

Fonte: Blog A Partir Pedra

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O homem que plantava árvores

Para que o caráter de um ser humano revele qualidades verdadeiramente excepcionais, devemos ter a sorte de observar a sua ação por um longo período. Se esta ação é desprovida de todo o egoísmo, se a ideia que a dirige é de generosidade inqualificável, se é absolutamente certo que não buscou recompensa em nenhum lugar, e se além disso deixou marcas visíveis no mundo, então estamos inquestionavelmente a lidar com um personagem inesquecível.

Há cerca de quarenta anos, fiz uma longa caminhada, por colinas absolutamente desconhecidas dos turistas, naquela região muito antiga onde os Alpes penetram na Provença.

Esta região é limitada a sudeste e sul pelo curso médio do Durance, entre Sisteron e Mirabeau; a norte pelo curso superior do Drôme, desde a sua nascente até ao Die; a oeste pelas planícies de Comtat Venaissin e os arredores de Mont Ventoux. Inclui toda a parte norte do Departamento de Basses-Alpes, o sul de Drôme e um pequeno enclave de Vaucluse.

Na época em que fiz a minha longa caminhada por essa região deserta, ela era composta por terras áridas e monótonas, a cerca de 1200 a 1300 metros acima do nível do mar. Nada lá crescia, exceto lavanda selvagem.

Eu estava a atravessar este país na sua parte mais larga e, depois de caminhar por três dias, encontrei-me na mais completa desolação. Estava acampado ao lado das ruínas de uma aldeia abandonada. Tinha usado a minha última água no dia anterior e precisava encontrar mais. Embora estivessem em ruínas, estas casas todas amontoadas e parecendo um velho ninho de vespas fizeram-me pensar que, em algum momento, devia ter havido ali uma fonte ou um poço. Havia de fato uma fonte, mas estava seca. As cinco ou seis casas sem teto, devastadas pelo sol e pelo vento, e a capelinha com o campanário caído, estavam ordenadas como as casas e capelas das aldeias vivas, mas toda a vida tinha desaparecido.

Era um belo dia de junho com muito sol, mas naquelas terras sem abrigo, lá no alto, o vento assobiava com uma brutalidade insuportável. O seu rosnar nas carcaças das casas era como o de uma fera perturbada durante a sua refeição.

Eu tive que mudar o meu acampamento. Depois de cinco horas de caminhada, ainda não tinha encontrado água, e nada me dava esperança de encontrar. Em todos os lugares havia a mesma secura, as mesmas plantas duras e lenhosas. Pensei ter visto ao longe uma pequena silhueta negra. À sorte, fui em direção a ela. Era um pastor. Cerca de trinta cordeiros descansavam perto dele no chão escaldante.

Deu-me um gole da sua cabaça e um pouco depois levou-me até à sua cabana de pastor, localizada numa ondulação do planalto. Ele tirou a sua água – excelente – de um buraco natural, muito profundo, sobre o qual tinha instalado um molinete rudimentar.

Este homem falava pouco. Isto é comum entre os que moram sozinhos, mas ele parecia seguro de si e confiante nessa segurança, que parecia notável nesta terra despojada de tudo. Ele não morava numa cabana, mas numa verdadeira casa de pedra, de cuja aparência era claro que, com o seu próprio trabalho, tinha restaurado as ruínas que encontrara à sua chegada. O seu telhado era sólido e estanque. O vento batia nas telhas com o som do mar rebentando na praia.

A sua casa estava em ordem, os seus pratos lavados, o seu chão varrido, a sua espingarda lubrificada; a sua sopa fervia no fogo. Percebi então que ele também estava recém-barbeado, que todos os seus botões estavam solidamente costurados e que as suas roupas eram remendadas com tanto cuidado que tornavam os remendos invisíveis.

Ele dividiu a sua sopa comigo e, quando depois lhe ofereci a minha bolsa de tabaco, ele disse-me que não fumava. O seu cachorro, tão silencioso quanto ele, era amigável sem ser bajulador.

Ficou imediatamente combinado que eu passaria a noite ali, pois a aldeia mais próxima ainda estava a mais de um dia e meio de distância. Além disso, compreendi perfeitamente o caráter das raras aldeias daquela região. Há quatro ou cinco delas dispersas umas das outras nos flancos das colinas, em bosques de carvalhos brancos nas extremidades das estradas transitáveis ​​por carruagens. São habitadas por lenhadores que fazem carvão. São lugares onde a vida é pobre. As famílias, apertadas e unidas por um clima extremamente severo, tanto no verão como no inverno, lutam cada vez mais egoisticamente umas contra as outras. A disputa irracional cresce além de todos os limites, alimentada por uma luta contínua para escapar daquele lugar. Os homens levam o carvão para as cidades nos seus caminhões e depois voltam. As qualidades mais sólidas quebram-se sob este perpétuo chuveiro escocês. As mulheres despertam amargura. Há competição em tudo, desde a venda de carvão até aos bancos da igreja. As virtudes lutam entre si, os vícios lutam entre si, e há um incessante combate geral entre os vícios e as virtudes. Além de tudo isto, o vento, igualmente incessante, irrita os nervos. Há epidemias de suicídios e inúmeros casos de insanidade, quase sempre homicidas.

O pastor, que não fumava, pegou num saco e derramou uma pilha de bolotas sobre a mesa. Começou a examiná-las uma após outra com muita atenção, separando as boas das más. Fumei o meu cachimbo. Ofereci-me para a ajudar, mas ele disse-me que era um assunto seu. De fato, vendo o cuidado que ele dedicou a este trabalho, não insisti. Esta foi toda a nossa conversa. Quando ele tinha na pilha boa um bom número de bolotas, contou-as em grupos de dez. Ao fazer isto, eliminou mais algumas bolotas, descartando as menores e as que apresentavam até mesmo a menor rachadura, pois examinou-as muito de perto. Quando tinha diante de si cem bolotas perfeitas, parou e fomos para a cama.

A companhia deste homem trouxe-me uma sensação de paz. Perguntei-lhe na manhã seguinte se poderia ficar e descansar o dia inteiro com ele. Ele achou isso perfeitamente natural. Ou mais exatamente, ele me deu a impressão de que nada poderia perturbá-lo. Este descanso não era absolutamente necessário para mim, mas fiquei intrigado e queria saber mais sobre este homem. Soltou o seu rebanho e levou-o para o pasto. Antes de partir, embebeu num balde de água o saquinho com as bolotas que escolhera e contara com tanto cuidado.

Notei que ele carregava como uma espécie de bengala, uma haste de ferro da espessura do seu polegar e cerca de um metro e meio de comprimento. Saí como quem passeia, seguindo um caminho paralelo ao dele. O seu pasto de ovelhas ficava no fundo de um pequeno vale. Ele deixou o seu rebanho aos cuidados do seu cachorro e subiu em direção ao local onde eu estava. Tive medo de que ele me viesse censurar pela minha indiscrição, mas nem um pouco: era a sua própria rota e convidou-me para o acompanhar, se eu não tivesse nada melhor para fazer. Continuou por mais duzentos metros colina acima.

Tendo chegado ao lugar para onde estava indo, começou a bater com a sua barra de ferro no chão. Isto fez um buraco no qual ele colocou uma bolota, após o que ele cobriu o buraco novamente. Ele estava a plantar carvalhos. Perguntei-lhe se a terra lhe pertencia. Ele respondeu que não. Sabia ele de quem era aquela terra? Não sabia. Supunha que era terra comunal, ou talvez pertencesse a alguém que não se importava com ela. Ele próprio não se importava em saber quem eram os donos. Desta forma ele plantou as suas cem bolotas com muito cuidado.

Após o almoço, começou mais uma vez a colher as suas bolotas. Devo ter insistido bastante nas minhas perguntas, porque ele respondeu. Já fazia três anos que vinha plantando árvores dessa maneira solitária. Ele tinha plantado cem mil. Destes cem mil, ficaram vinte mil. Contava perder metade para os roedores e para tudo o mais imprevisível nos desígnios da Providência. Isto deixava dez mil carvalhos que cresceriam neste lugar onde antes não havia nada.

Foi neste momento que me comecei a perguntar sobre a sua idade. Ele tinha claramente mais de cinquenta. Cinquenta e cinco, disse-me ele. O seu nome era Elzéard Bouffier. Tinha uma fazenda nas planícies, onde viveu a maior parte da sua vida. Ele tinha perdido a seu único filho, e depois a sua esposa. Tinha-se retirado para esta solidão, onde tinha prazer em viver lentamente, com o seu rebanho de ovelhas e o seu cachorro. Ele tinha concluído que o país estava a morrer por falta de árvores. Acrescentou que, não tendo nada mais importante para fazer, resolveu remediar a situação.

Levando como levava na época uma vida solitária, apesar da juventude, sabia tratar com delicadeza as almas das pessoas solitárias. Ainda assim, cometi um erro. Foi precisamente a minha juventude que me obrigou a imaginar o futuro nos meus próprios termos, incluindo uma certa procura da felicidade. Eu disse-lhe que em trinta anos estas dez mil árvores seriam magníficas. Ele respondeu muito simplesmente que, se Deus lhe desse a vida, em trinta anos ele teria plantado tantas outras árvores que estas dez mil seriam como uma gota de água no oceano.

Ele também tinha começado a estudar a propagação de faias e tinha perto da sua casa um viveiro cheio de mudas de nogueiras. As suas pequenas mudas, que ele tinha protegido das suas ovelhas por uma cerca de tela, estavam a crescer lindamente. Também estava a considerar bétulas para o fundo do vale onde, segundo me disse, a humidade estava adormecida a apenas alguns metros abaixo da superfície do solo.

Despedimo-nos no dia seguinte.

No ano seguinte veio a guerra de 14, na qual estive envolvido por cinco anos. Um soldado de infantaria mal conseguia pensar em árvores. Para dizer a verdade, a história toda não me impressionou muito. Achei que fosse um hobby, como uma coleção de selos, e esqueci-a.

Com a guerra para trás, encontrei-me com um pequeno bônus de desmobilização e um grande desejo de respirar um pouco de ar puro. Sem nenhuma noção preconcebida para além disto, voltei a percorrer as trilhas por aquela região deserta.

A terra não mudou. No entanto, além daquela aldeia morta, percebi ao longe uma espécie de neblina cinzenta que cobria as colinas como um tapete. Desde o dia anterior eu pensava no pastor que plantava árvores. Dez mil carvalhos, disse a mim mesmo, devem ocupar muito espaço.

Eu tinha visto muitas pessoas morrerem durante estes cinco anos para não poder imaginar facilmente a morte de Elzéard Bouffier, especialmente porque quando um homem tem vinte anos, pensa num homem de cinquenta como um velho para quem nada resta senão morrer. Ele não estava morto. Na verdade, continuava muito ágil. Tinha mudado de emprego. Agora só tinha quatro ovelhas, mas para compensar isso tinha cerca de cem colmeias. Tinha-se livrado das ovelhas porque elas ameaçavam a sua colheita de árvores. Disse-me (como de fato eu pude ver por mim próprio) que a guerra não o tinha perturbado em nada; continuara imperturbavelmente com o seu plantio.

Os carvalhos de 1910 tinham agora dez anos e eram mais altos do que eu e que ele. O espetáculo era impressionante. Fiquei literalmente sem palavras e, como ele próprio não falava, passamos o dia inteiro em silêncio, caminhando pela floresta. Estava dividida em três seções, onze quilômetros de comprimento total e, no seu ponto mais largo, três quilômetros de largura. Quando considerei que tudo isto tinha nascido das mãos e da alma deste único homem – sem ajuda técnica -, ocorreu-me que os homens podem ser tão eficazes quanto Deus noutros domínios que não a destruição.

Ele tinha seguido a sua ideia, e as faias que chegavam até aos meus ombros e se estendiam até onde a vista alcançava testemunhavam isso. Os carvalhos eram agora bons e espessos, e haviam passado da idade em que estavam à mercê de roedores; quanto aos desígnios da Providência, destruir a obra que tinha sido criada exigiria doravante um ciclone. Mostrou-me admiráveis plantações de bétulas que datavam de cinco anos atrás, ou seja, de 1915, quando eu lutava em Verdun. Tinha-as plantado no fundo do vale onde suspeitara, corretamente, que havia água perto da superfície. Elas eram tão ternas quanto meninas, e muito determinadas.

Esta criação tinha, aliás, o ar de funcionar através de uma reação em cadeia. Ele não se preocupou com isso; continuou obstinadamente com a sua simples tarefa. Voltando para a aldeia, vi água a correr em riachos que, na memória viva, sempre foram secos. Foi o avivamento mais impressionante que ele me mostrou. Estes riachos já tinham trazido água antes, em tempos antigos. Algumas das tristes aldeias de que falei no início do meu relato foram construídas sobre os sítios das antigas aldeias galo-romanas, das quais ainda restam vestígios; os arqueólogos que escavavam ali tinham encontrado anzóis em lugares onde em tempos mais recentes eram necessárias cisternas para ter um pouco de água.

O vento também estava a trabalhar, espalhando certas sementes. Quando a água reapareceu, também reapareceram os salgueiros, vimes, prados, jardins, flores e uma certa razão para viver.

Mas a transformação ocorrera tão lentamente que fora dada como certa, sem causar surpresa. Os caçadores que subiam as colinas em busca de lebres ou javalis tinham notado a extensão das pequenas árvores, mas atribuíam-no à maldade natural da terra. É por isso que ninguém tinha tocado na obra desse homem. Se suspeitassem dele, teriam tentado frustrá-lo. Mas ele nunca foi suspeito: quem entre os aldeões ou os administradores suspeitaria que alguém pudesse mostrar tamanha obstinação em realizar este magnífico ato de generosidade?

A partir de 1920 não deixei passar mais de um ano sem visitar Elzéard Bouffier. Nunca o vi vacilar ou duvidar, embora só Deus possa dizer quando a própria mão de Deus está numa coisa! Não disse nada das suas decepções, mas pode-se facilmente imaginar que, para tal feito, era necessário vencer a adversidade; que, para assegurar a vitória de tal paixão, era preciso lutar contra o desespero. No ano ele havia plantado dez mil áceres. Todos morreram. No ano seguinte, ele desistiu dos áceres e voltou para as faias, que se saíram ainda melhor do que os carvalhos.

Para se ter uma ideia real deste caráter excepcional, não se deve esquecer que ele trabalhou em total solidão; tão total que, no final da vida, perdeu o hábito de falar. Ou talvez ele simplesmente não visse a necessidade disso.

Em 1933 recebeu a visita de um guarda florestal atônito. Este funcionário ordenou-lhe que parasse de fazer fogueiras ao ar livre, por medo de pôr em perigo esta floresta natural. Era a primeira vez, disse-lhe aquele homem ingênuo, que se observava que uma floresta crescia sozinha. Na época deste incidente, estava a pensar plantar faias num local a doze quilômetros da sua casa. Para evitar as idas e vindas – porque na época tinha setenta e cinco anos – planeava construir uma cabana de pedra onde estava a plantar; fez isso no ano seguinte.

Em 1935, uma verdadeira delegação administrativa foi examinar esta “floresta natural”. Havia um importante personagem das Águas e Florestas, um deputado e alguns técnicos. Muitas palavras inúteis foram ditas. Decidiu-se fazer alguma coisa, mas felizmente nada foi feito, exceto uma coisa realmente útil: colocar a floresta sob a proteção do Estado e proibir qualquer pessoa de lá ir para fazer carvão. Era impossível não se encantar com a beleza destas jovens árvores em plena saúde. E a floresta exercia os seus poderes de sedução até no próprio deputado.

Eu tinha um amigo entre os chefes florestais que estavam com a delegação. Expliquei-lhe o mistério. Num dia da semana seguinte, saímos juntos para procurar Elzéard Bouffier. Encontramo-lo a trabalhar duro, a vinte quilômetros do local onde a inspeção tinha sido realizada.

Este chefe florestal não era meu amigo à toa. Ele entendia o valor das coisas. Ele sabia ficar calado. Eu ofereci alguns ovos que trouxera comigo como presente. Dividimos o lanche em três partes e passamos várias horas em contemplação muda da paisagem.

A encosta de onde viemos estava coberta de árvores de seis ou sete metros de altura. Lembrei-me da aparência do lugar em 1913: um deserto… O trabalho pacífico e constante, o ar vibrante da serra, a sua frugalidade e, sobretudo, a serenidade da sua alma deram ao velho uma espécie de boa saúde solene. Ele era um atleta de Deus. Perguntei a mim mesmo quantos hectares ele tinha ainda que cobrir com árvores.

Antes de partir, o meu amigo fez uma sugestão simples sobre certas espécies de árvores para as quais o terreno parecia ser particularmente adequado. Ele não foi insistente. “Pela razão muito boa”, disse-me depois, “de que este sujeito sabe muito mais sobre este tipo de coisa do que eu”. Depois de mais uma hora de caminhada, tendo este pensamento viajado com ele, acrescentou: “Ele sabe muito mais sobre este tipo de coisa do que ninguém – e encontrou uma maneira muito boa de ser feliz!”.

Foi graças aos esforços deste chefe florestal que a floresta foi protegida e, com ela, a felicidade deste homem. Ele designou três guardas florestais para a sua proteção e aterrorizou-os a tal ponto que eles permaneceram indiferentes a qualquer jarro de vinho que os lenhadores pudessem oferecer como suborno.

A floresta não correu nenhum risco grave, exceto durante a guerra de 1939. Naquela época, os automóveis eram movidos a álcool de madeira e nunca havia madeira suficiente. Começaram a cortar alguns dos talhões dos carvalhos de 1910, mas as árvores ficavam tão longe de qualquer estrada útil que o empreendimento acabou por ser ruim do ponto de vista financeiro, e logo foi abandonado. O pastor nunca soube nada sobre isso. Ele estava a trinta quilômetros de distância, continuando pacificamente a sua tarefa, tão despreocupado com a guerra de 39 quanto com a guerra de 14.

Vi Elzéard Bouffier pela última vez em junho de 1945. Tinha então oitenta e sete anos. Eu tinha mais uma vez iniciado a minha caminhada pelas regiões selvagens, apenas para descobrir que agora, apesar da confusão em que a guerra tinha deixado todo o país, havia um autocarro a circular entre o vale do Durance e a montanha. Atribuí a este meio de transporte relativamente rápido o fato de já não reconhecer os pontos de referência que conhecia das minhas visitas anteriores. Parecia também que a rota estava a levar-me por lugares inteiramente novos. Tive que perguntar o nome de uma aldeia para ter certeza de que estava de fato a passar por aquela mesma região, outrora tão arruinada e desolada. O autocarro deixou-me em Vergons. Em 1913, esta aldeia de dez ou doze casas tinha três habitantes. Eram selvagens, odiando-se uns aos outros e ganhando a vida com armadilhas. Física e moralmente, pareciam homens pré-históricos. As urtigas devoravam as casas abandonadas que os cercavam. A vida deles era sem esperança, era só esperar que a morte chegasse: uma situação que dificilmente predispõe à virtude.

Tudo isto tinha mudado, até o próprio ar. No lugar das rajadas secas e brutais que me saudaram há muito tempo, uma brisa suave sussurrou para mim, trazendo odores doces. Um som como o de água corrente veio das alturas acima: era o som do vento nas árvores. E o mais surpreendente de tudo, ouvi o som de água real correndo numa poça. Vi que tinham construído um chafariz, que estava cheio de água, e o que mais me tocou, ao lado dele tinham plantado uma tília que devia ter pelo menos quatro anos, já engrossada, símbolo incontestável de ressurreição.

Além disto, Vergons mostrou os sinais de trabalhos para os quais a esperança é um requisito: a esperança deve, portanto, ter retornado. Limparam as ruínas, derrubaram as paredes quebradas e reconstruíram cinco casas. A aldeia agora contava com vinte e oito habitantes, incluindo quatro famílias jovens. As novas casas, recém-rebocadas, eram cercadas por jardins que continham, misturados entre si, mas ainda cuidadosamente dispostos, vegetais e flores, repolhos e roseiras, alho-poró e bicas-de-leão, aipo e outras plantas. Agora era um lugar onde qualquer um ficaria feliz em viver.

De lá continuei a pé. A guerra da qual mal saímos não permitiu que a vida desaparecesse completamente, e agora Lázaro estava fora do seu túmulo. Nos flancos mais baixos da montanha, vi pequenos campos de cevada e centeio; no fundo dos vales estreitos, os prados começavam a ficar verdes.

Levou apenas os oito anos, que agora nos separam daquela época, para que todo o país ao redor floresça com esplendor e facilidade. No local das ruínas que eu tinha visto em 1913 existem agora quintas bem cuidadas, sinal de uma vida feliz e confortável. As velhas nascentes, alimentadas pela chuva e pela neve, agora retidas pelas florestas, voltaram a fluir. Os riachos foram canalizados. Ao lado de cada fazenda, no meio de bosques de áceres, os charcos das fontes são cercados por tapetes de hortelã fresca. Pouco a pouco, as aldeias foram reconstruídas. Yuppies vieram das planícies, onde a terra é cara, trazendo consigo juventude, movimento e espírito de aventura. Caminhando pelas estradas encontram-se homens e mulheres em plena saúde, e rapazes e raparigas que sabem rir, e que recuperaram o gosto pelas tradicionais festas rústicas. Contando tanto os antigos habitantes da área, agora irreconhecíveis de viver em abundância, quanto os recém-chegados, mais de dez mil pessoas devem a sua felicidade a Elzéard Bouffier.

Quando considero que um único homem, contando apenas com os seus simples recursos físicos e morais, foi capaz de transformar um deserto nesta terra de Canaã, estou convencido de que, apesar de tudo, a condição humana é verdadeiramente admirável. Mas quando levo em conta a constância, a grandeza de alma e a dedicação desinteressada que foi necessária para realizar esta transformação, fico cheio de um respeito imenso por esse camponês velho e inculto que soube realizar um trabalho digno de Deus.

Elzéard Bouffier morreu pacificamente em 1947 num lar em Banon.

Autor: Jean Giono
Traduzido por: António Jorge

Fonte: Freemason

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O mais importante da vida

9 tipos de pessoas que você precisa ter por perto - Mundo Inverso

Um dia alguém perguntou a um homem de sucesso o que de mais importante ele já tinha feito na sua vida. Ele meditou um pouco, recordou interiormente mil batalhas, miríades de vitórias, incontáveis êxitos. Recordou também alguns, poucos, fracassos e algumas das várias situações difíceis que vivera. Pesou, ponderou e escolheu o que considerava o que de mais importante na vida fizera. E respondeu:

O mais importante que fiz na minha vida sucedeu num dia em que tudo parecia calmo e prazenteiro. Nessa manhã, estava a jogar golfe com um amigo de longa data. Entre cada tacada, conversávamos a respeito da vida de cada um de nós, com a calma e o sossego que uma velha amizade permite. Esse meu amigo de muitos anos, desde a infância, tinha sido pai recentemente e contava-me, entusiasmado, todas as evoluções e graças e alegrias que o seu filho lhe proporcionava. A certa altura, chegou, agitado, o pai do meu amigo, dizendo-lhe que o seu bebé tinha subitamente deixado de respirar e que tinha sido levado para o hospital de urgência. Claro que o jogo de golfe acabou logo ali e o meu amigo, doente de preocupação, foi de imediato com o seu pai para o hospital.

Hesitei sobre o que fazer. Seguir o meu amigo até ao hospital? Não, pensei. A minha presença não serviria de nada. A criança está a receber cuidados médicos e nada havia que eu pudesse fazer para ser útil, naquela situação. Oferecer o meu apoio moral? Talvez não fosse necessário nem eficaz. O meu amigo e a mulher, ambos oriundos de famílias numerosas, estavam acompanhados de vários parentes, que os amparavam naquele transe. A minha presença seria porventura mais um incómodo do que uma ajuda. Decidi que deixaria a situação evoluir e, mais tarde, entraria em contato com o meu amigo para saber notícias. E dirigi-me para o meu carro, para regressar a minha casa. Ao fazê-lo, verifiquei que o meu amigo, que tinha ido para o hospital no carro do seu pai, deixara o seu automóvel aberto e com as chaves na ignição. Decidi então trancar o carro e ir ao hospital levar-lhe as chaves.

Quando lá cheguei, vi que, como imaginara, a sala de espera estava repleta de familiares do meu amigo e de sua mulher. Entrei discretamente e parei um momento junto à porta, esperando a melhor ocasião para abordar o meu amigo. Nessa altura, chegou um médico, que se aproximou do casal e, em voz baixa, comunicou que o bebé tinha falecido. O casal abraçou-se longamente, esgares de desgosto e sofrimento em seus rostos, ambos chorando amargamente a sua dura perda. Assim ficaram algum tempo, que me pareceu uma eternidade, enquanto todos os demais que os rodeavam guardavam um compungido silêncio.

O médico que lhes dera a infausta notícia perguntou-lhes se queriam ficar alguns momentos a sós com o corpo da criança. Assentindo, os meus amigos encaminharam-se para a porta junto da qual eu estava. Ao ver-me, aquela mãe abraçou-me, chorando. Também o meu amigo se refugiou nos meus braços, dizendo-me:

– Muito obrigado por estares aqui!

Durante o resto da manhã, fiquei naquele hospital, acompanhando os meus amigos enquanto eles se despediam do filho que tanto amavam.

Isto foi o mais importante que fiz na minha vida!

Esta experiência deu-me três lições:

A primeira foi que o que de mais importante fiz na minha vida ocorreu quando eu não podia fazer absolutamente nada. Nada do que eu aprendi, do que tinha, do que eu dispunha, nada, absolutamente nada, podia ser útil para remediar aquela situação. A morte da criança era irremediável, a dor dos seus pais era inafastável. A única que eu podia fazer era esperar e acompanhá-los.

A segunda, que o que de mais importante eu fiz na vida esteve quase a não ser feito por mim, devido à hesitação em acompanhar o meu amigo naquela hora, à ponderação exclusivamente racional sobre a vantagem ou o inconveniente de o fazer. A razão é importante, indispensável. Mas não pode afastar totalmente o sentimento, a emoção. Hoje, não tenho qualquer dúvida que o que tinha a fazer naquela ocasião era acompanhar o meu amigo no hospital. Por solidariedade, por emoção, porque ser amigo é estar, muitas vezes simplesmente estar, nas horas amargas. Felizmente que o acaso de um esquecimento me permitiu fazer isso mesmo. Que nunca mais eu precise do acaso para fazer, em cada momento, o que devo!

A terceira, que a vida pode mudar de um momento para o outro. Intelectualmente, nós sabemo-lo. Mas conforta-nos pensar que os infortúnios só acontecem aos outros… E esquecemos que, num abrir e fechar de olhos, uma situação de desemprego, uma doença, o cruzar-se com um um condutor embriagado, o estar no sítio errado na hora errada, mil situações aleatórias, podem alterar a nossa vida. Por vezes, é necessária uma tragédia para recolocarmos as coisas na devida perspectiva.

Aprendi que nenhum emprego, nenhum negócio, por mais gratificante ou importante que seja, compensa perder uma férias, romper um casamento, passar dias festivos longe da família. O mais importante na vida não é ganhar dinheiro, ou ascender socialmente, ou receber honras. O mais importante da vida é ser feliz, é a nossa família, é cultivar as nossas amizades. Para os bons e os maus momentos!

A fraternidade, a união, a disponibilidade para auxiliar os que nos estão próximos ou que são nossos amigos, são princípios basilares da maçonaria e dos maçons. Muitos, de fora, criticam os maçons por isso, clamam que os maçons “se protegem uns aos outros”, que “se ajudam”. E dizem-no como se tal fosse um mal, um perigo para a sociedade. Tolos! Ou, quiçá, apenas invejosos. De não saberem, de não cultivarem devidamente o que é simplesmente amizade, fraternidade.

Nós, maçons, cultivamo-las. E o mais importante que cada um de nós fez na sua vida foi ser amigo do seu amigo, quando ele precisou. Sabendo que, quando chegar a hora de o infortúnio lhe bater à sua porta, também receberá o consolo fraternal dos seus amigos.

Autor: Rui Bandeira

Fonte: Blog A Partir Pedra

O exemplo do burro

Um dia, o burro de um camponês caiu num poço. Não chegou a ferir-se, mas não podia sair dali por conta própria. Por isso, o animal zurrou durante horas, enquanto o camponês pensava em como o poderia ajudar. Finalmente, o camponês tomou uma decisão cruel: concluiu que o burro já estava muito velho e que o poço já estava seco e, de qualquer forma, precisava de ser tapado. Portanto, não valia a pena esforçar-se para tirar o burro de dentro do poço. Pelo contrário, chamou os vizinhos para o ajudarem a enterrar o burro vivo, aterrando, ao mesmo tempo, o poço. Cada um deles pegou numa pá e começou a deitar terra dentro do poço. O asno não tardou a aperceber-se do que lhe estavam a fazer e zurrou desesperadamente.

Porém, para surpresa de todos, o burro acalmou-se , depois de ter levado em cima com algumas pazadas de terra. O camponês olhou para o fundo do poço e surpreendeu-se com o que viu. A cada pazada de terra que caía no seu lombo, o burro sacudia a terra e logo dava um passo sobre essa mesma terra, que caía ao chão. Assim, em pouco tempo, todos viram como o burro conseguiu chegar até à boca do poço, passar por cima da borda e sair dali a trote.

A vida atira-nos muita terra. Todos os tipos de terra. Principalmente se já estivermos dentro de um poço. O segredo para sair do buraco é sacudir a terra com que se leva e dar um passo em cima dela. ada um dos problemas que se nos deparam e que é superado é um degrau que nos conduz para cima. Podemos sair dos mais profundos fossos, se não nos dermos por vencidos: usemos a terra que nos atiram para seguir adiante!

Desta pequena história podemos retirar cinco lições que nos ajudarão a ser felizes:

1.ª – Devemos libertar-nos do ódio e do desespero, que só pioram a nossa situação.

2.ª – Devemos libertar a nossa mente de preocupações exageradas, que só prejudicam o nosso raciocínio.

3.ª – Devemos simplificar a nossa vida, buscando soluções simples para o que só aparentemente é complicado.

4.ª – Devemos dar mais e esperar menos, pois assim não nos desiludiremos.

5.ª – Devemos amar mais e… aceitar a terra que nos atiram, pois ela pode ser uma solução, não um problema!

Rui Bandeira fez essa adaptação a partir de texto de autor desconhecido.

Fonte: Blog A Partir Pedra

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Disciplina

Reprogramação Mental - DISCIPLINA - YouTube

Não é no medo que assenta a disciplina: é no sentimento do dever. (Rui Barbosa)

Disciplina é a mãe do êxito. (Ésquilo)

A disciplina é a doutrina e instrução de uma pessoa, especialmente no campo da moral. O conceito também é usado para fazer referência à arte, à faculdade ou à ciência, bem como ao próprio instrumento de castigo (o chicote ou a régua, caídos entretanto em desuso e abolidos). No âmbito militar e eclesiástico, a disciplina é a observância (cumprimento/respeito) das leis e nos ordenamentos da profissão.

A disciplina tem fixação no conjunto de regras e normas que são estabelecidas por determinado grupo, embora possa se referir ao implemento de responsabilidades específicas de cada pessoa.

Exemplificando quanto grupo social: vamos descobrir um conjunto de normas e regras de conduta, que variam de acordo com os seus preceitos.

Deste modo, com enfoco na sociedade: a disciplina ainda representa a boa conduta do indivíduo, ou seja, a característica da pessoa que cumpre as ordens existentes na coletividade.

Indo além, anotamos o significado de disciplina no trabalho ou em atmosfera religiosa, por exemplo, são diferentes, visto que para cada parte as regras e comportamentos costumam variar, de acordo com aquilo que consigam ser considerada de maior importância.

Segundo o Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse:

Disciplina s.f. O conjunto dos regulamentos destinados a manter a boa ordem em qualquer assembleia ou corporação; a boa ordem resultante da observância desses regulamentos: a disciplina militar. / Submissão ou respeito a um regulamento. / Cada uma das matérias ensinadas nas escolas: é professor de duas disciplinas.

A disciplina é uma palavra que tem a mesma etimologia da palavra “discípulo”, que significa aquele que segue.

Segundo o Dicionário “online” Priberam de Português:

Discípulo – s. m. Pessoa que recebe instrução (em relação a quem lhe dá); aquele que aprende (aluno, Secretário) ou aquele que segue as doutrinas de outrem.

Em filosofia significa o conjunto de conhecimentos metódicos ou regra de conduta a disciplina dos costumes e é aplicada às organizações e as pessoas.

Decorrido sobre o tema do “título” registro a indisciplina como o oposto, quando há a falta de ordem, regra, comportamento ou de respeito pelos regulamentos.

NA MAÇONARIA

A disciplina constitui em uma rígida e irrestrita observância às normas, às Constituições, aos Landmarks, aos Regulamentos, às Obediências e às autoridades.

Sem disciplina nenhuma organização ou entidade domina seus interesses. Porque a indisciplina gera um grave mal, a exemplo da anarquia a qual combatemos, por produzir o caos. A indisciplina anda em voga no meio político: “quanto pior melhor” porque atende a seus méritos.

Originando de que a disciplina é irmã gêmea da liberdade, quando a usamos como direito, ou seja, o direito agindo para que a manifestação de liberdade seja garantia de todos. Essa afirmativa produz efeito quando se consegue respeitar os direitos alheios; que é diferente da liberdade pessoal, conseguida pela deferência espontânea das normas previamente estabelecidas e da obediência às autoridades constituídas.

O cidadão que pretende viver em sociedade, leva para seu convívio um dos deveres essenciais. A disciplina; sinalizada por juramentos, estudos, posturas, segurança nas determinações e ações; sob pena de, não o fazendo, gerar no grupo: dissabores, desentendimentos, egoísmo, divisões e não conseguir transmitir a paz nem a harmonia, tornando-se assim, um cidadão que não inspira segurança a seus companheiros.

Tomemos para nossas vidas, um exemplo de autodisciplina, a do artista. Sua arte se expressa pelo rígido método de disciplina, que espontaneamente impõe a si próprio, dentre outros; o de dormir, de meditar, de buscar inspiração e no tratar com a natureza, completado pelos instrumentos que utiliza: o pincel, a caneta, as chuteiras e os dedos. Pois, sem este cuidado disciplinar ele nunca passará de um artista mediano, de um péssimo sonhador.

Na sociedade em geral, quando aceitamos o convite para ser iniciado na Ordem Maçônica imaginamos uma gama de normas próprias a que seremos submetidos a cumprir; e quando aceitos, prometemos cumprir, através de juramentos, e preceitos outros que formarão o caráter e a moral do cidadão/irmão.

Portanto, sem a disciplina maçônica, a busca da perfeição correrá por trilhos difíceis de se alcançar. É fato que necessitamos de orientações escritas, bem como: dos conceitos orais ministrados pelo corpo de instrutores das Lojas Maçônicas.

NA PANDEMIA

Historiamos que saímos das reuniões presenciais para as virtuais. Consequências que deixaram um gigantesco grupo de irmãos inconformados com a proibição; não podendo se reunirem nos Templos Maçônicos.

Contanto, a maçonaria praticada nos dias atuais “no campo virtual”, tem alcançado um desenvolvimento importante quando o produto final: é a busca do “conhecimento”.

Evento que, os protocolos decorridos dos Órgãos (Governamentais, Estaduais e Municipais) determinaram normas e deveres, com um leque de procedimentos sanitários a serem cumpridos pelos corpos Administrativos das Potências Maçônicas.

Anotamos aqui importantes dificuldades no cumprimento da execução deste protocolo, que traz à tona o dever de cumprir as normas elencadas, mantendo uma correta disciplina.

Alterações foram necessárias. Aditamos uma quantidade de irmãos de nossos relacionamentos, que conseguem através dos sistemas eletrônicos “Lives Maçônicas” palestras/estudos da maçonaria no país e exterior.

Enfim, afirmo que este “novo sistema” vinculará a maçonaria brasileira a buscar novos modelos de administrar e de desenvolver a cultura maçônica.

Assim sendo, ficam assinalados que: os irmãos atuais (minoria) estabeleceram regras de atração pelo conhecimento -, com foco nas palestras, estudos e seminários (virtuais); realizados pelas Potências e Lojas Maçônicas no Brasil e países outros.

Contente pelo o desenvolvimento da maçonaria (atualmente) -, porém apreensivo sobre os demais irmãos, que não concordaram com a evolução existente “sem volta” -, para muitos deles, a maçonaria se pratica nos Templos Maçônicos.

Apresento pretextos a vistas: construímos uma lacuna para o desenvolvimento da desmotivação, que geram, às vezes, na consciência dos irmãos a vontade latente de deixar a Ordem.

Comento que são poucas as Lojas Maçônicas que estão se reunindo, ficam no anonimato “alimentando as esperanças de logo voltarem as reuniões presenciais” – logo, não desempenham “estes” os sólidos compromissos, morais, éticos e disciplinares. Descontinuando os ensinamentos que norteiam a nossa Instituição.

CONCLUSÃO

O trabalho particulariza com clareza que ser disciplinado é fundamental em diferentes aspectos da vida dos indivíduos que vivem ao redor do mundo, pois sem essa “disciplina” os indivíduos não seriam capazes de colocar seus projetos em práticas, lutar para cumprir desafios e buscar novos limites em todas as áreas da vida. Finalizando evidencio que sem disciplina no incremento da obediência as leis e regras, o diálogo da coletividade seria muito mais complexo sobre os tratados organizacionais de interação entre os indivíduos.

Autor: José Amâncio de Lima

Amâncio é Mestre Instalado da ARLS Estrela de Davi II – 242 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Academia Mineira Maçônica de Letras, delegado da 1ª Inspetoria Litúrgica do REAA de Minas Gerais e, para nossa alegria, também um colaborador do blog.

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Os bons costumes na Maçonaria

Ao pensarmos em Maçonaria, o que vem a nossa mente, quase de imediato, é a figura do maçom. Essa imagem é projetada em nossa sociedade atual, pela postura dos nossos antecessores, que consolidaram seu caráter, hábitos e costumes irrepreensíveis junto as mais diversas questões políticas e sociais das quais fizeram parte.

Nesse sentido, nosso objetivo é o de reforçar o quanto os bons costumes que são indissociáveis da Maçonaria, pois, através deles, o maçom consolida-se como paradigma da sociedade a que pertence.

Assim, é importante destacar que entendemos costume como o hábito ou a prática reiterada associada à moralidade, geralmente observada pela sociedade, ou seja, procedimentos ou comportamentos que são prescritos do ponto de vista moral. São atitudes ou valores sociais consagrados pela tradição.

“Costume é a regra aceita como obrigatória pela tradição ou consequência do povo, sem que o poder público a tenha estabelecido.”

Vale a pena lembrar que, a retidão, a honestidade, a lealdade, o respeito, a tolerância e a justiça são imprescindíveis ao Maçom, uma vez que é visto como paradigma da sociedade, significando que ele é possuidor de bons costumes e reputação ilibada.

Na Maçonaria, os bons costumes são entendidos como valores morais indispensáveis ao maçom, os quais representam o somatório de suas ações e comportamentos do passado e do presente.

Nessa esteira, a Maçonaria pode ser entendida como um centro de união fraternal, onde a retidão, a responsabilidade, a honestidade, a bondade, a tolerância, a justiça, a busca pela verdade e pelo aperfeiçoamento devem ser permanentes. Além disso, defende e propaga o respeito e a prática da ética e da moral.

Os bons costumes referem-se, portanto, como foi dito acima, tanto ao passado quanto ao presente, isto é, correspondem ao somatório dos dois. Quando a conduta, o comportamento, a postura e as atitudes positivas são reconhecidas pelos que estão mais próximos ou pela sociedade em geral, podemos dizer que se trata de alguém de bons costumes e, consequentemente, de reputação ilibada.

Dessa forma, podemos dizer que o objeto principal deste trabalho é despertar no Maçom o interesse pelo verdadeiro significado daquilo que nós chamamos de “Bons Costumes”. Entretanto, há aqueles que acreditam que “os bons costumes” se referem tão somente ao estado atual de uma pessoa, o que não corresponde à verdade, esse entendimento é equivocado, uma vez que, os “bons costumes” podem ser compreendidos como a prática reiterada de boas ações, abrangendo passado e presente.

A Maçonaria é uma sociedade que, acertadamente, só admite em seu quadro, homens retos, de bons costumes e possuidores de comportamento ético, moral e humanístico compatíveis com sua finalidade, isto é, que vise alcançar o ápice do aperfeiçoamento humano, razão pela qual, para ingressar nos seus quadros exige-se o preenchimento de requisitos que contemplem a retidão do seu pretendente.

Há que ser ressaltado que, a Constituição do Grande Oriente do Brasil, logo no seu artigo 1º corrobora o objetivo deste trabalho, dando balizamento para várias situações. Diz o dispositivo legal que, a Maçonaria é uma instituição essencialmente Iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista, proclamando a prevalência do espírito sobre a matéria. Além disso, estabelece que seus fins supremos são a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, pugnando pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade. Assim, acreditamos que, a possibilidade de alcançarmos o aperfeiçoamento humano deve ser precedido pelos bons costumes.

Desta forma, a Maçonaria, através da observância dos seus princípios e valores, acima enumerados, aliado à prática da beneficência e do cumprimento inflexível dos deveres e responsabilidades, quer nos parecer que, por si só, poderia justificar a repulsa que os maçons devem sentir em face da corrupção, ao mesmo tempo em que defende e propaga o respeito e a prática da ética, da moral e dos bons costumes.

Por outro lado, quer nos parecer ainda que, a Maçonaria deseja, em primeiro lugar, proporcionar o encontro do Homem Maçom consigo mesmo, transformando-o no seu próprio paradigma. Assim sendo, faz-se necessário que, o Maçom esteja sempre atento ao aprendizado e à prática correta dos princípios maçônicos, ao mesmo tempo em que procura evitar que um Irmão desavisado seja levado a praticar o que chamamos de “Heresia Maçônica”, desviando-se do verdadeiro objetivo da Ordem, que é a busca pela evolução maçônica.

O Maçom ao ser iniciado ingressa num “sistema”, no qual se exige que seus membros devem, necessariamente, percorrer o que podemos chamar de “Via Mística”, com vista a conduzi-lo a um determinado lugar, geralmente, oculto para os não iniciados, mas podendo ser visível ao verdadeiro Maçom.

Esse entendimento, nos leva a acreditar que a Maçonaria é um sistema de conhecimento extremamente importante e eficiente, uma vez que tem como meta principal o aperfeiçoamento do homem no Mundo Espiritual, mas ao mesmo tempo não abandona e nem ignora o Mundo Material. A justificativa talvez seja que a saúde material se faz necessária, sobretudo quando da prática da filantropia ou beneficência, uma das ações básicas da Ordem.

Como já foi dito anteriormente, a filantropia é, também, dentre tantas, uma das finalidades da Maçonaria. Sua terminologia pode ser traduzida como a “Mão da Maçonaria” estendida aos necessitados, Irmãos ou não, mas “dando com a mão direita sem que a esquerda saiba”. Todavia, modernamente, a solidariedade deve, a nosso ver e com razão, sobrepor-se à filantropia, uma vez que esta, simplesmente, “dá o peixe”, ao passo que aquela, “ensina a pescá-lo”, ou seja, em uma delas a fome é saciada por um dia, já na outra, a fome pode ser afastada não por um dia apenas, mas para sempre.

Vale a pena lembrar que, o progresso que a Maçonaria admite como essencial, pode ser definido como melhoramento da humanidade, calcado no aperfeiçoamento ético, moral, intelectual e social dos seus membros. Além do mais, ela tem como alguns de seus símbolos o Cinzel e o Malho que, juntos, servem de instrumentos para desbastar a Pedra Bruta que somos e, ao mesmo tempo, construir nosso Edifício Moral ou Espiritual. Esta é a verdadeira evolução humana, mesmo porque o Maçom deve, necessariamente, buscar a perfeição humana, até tornar-se um Mestre de fato, não se deixando confundir com um profano de avental.

É bem possível que, para muitas pessoas, ser livre significa não ter limites. Contudo, para o Maçom, a liberdade deve consistir numa via de mão dupla, ou seja, a liberdade exigirá sempre uma correlata responsabilidade. Isto porque a liberdade não exclui a disciplina, nem pode sobrepor-se à liberdade de outrem.

Assim sendo, “ser livre e de bons costumes”, tem um significado extremamente importante para a Maçonaria, uma vez que se presume que todo homem que preencha tais requisitos estaria, a princípio, em condições de ser iniciado na Arte Real e poderia, até mesmo, transformar-se em um bom Maçom, observador atento das tradições da Ordem. Entretanto, para melhor compreender a frase acima, se faz necessário entender que ela seja interpretada à luz da ética e da moral.

A terminologia “Livre” expressa o momento presente e diz respeito ao cidadão em pleno gozo de seus direitos civis, os quais guardam limites ao direito alheio. Já a expressão “Bons Costumes”, refere-se não só ao presente, mas também ao passado, por tratar-se de um somatório de condutas, alcançando até os dias de hoje, ou seja, comportamentos e atitudes positivas reconhecidas pelos que estão próximos e pela sociedade em geral.

Nesse sentido, anda bem a nossa Ordem ao exigir que, para se iniciar em seus mistérios, há que ser levado em conta o presente e o passado do candidato, de tal maneira que, seja visto e analisado como um todo indivisível. Só assim, será ele considerado apto ou não, isto é, livre e de bons costumes para receber permissão de ingresso na Ordem.

Na verdade, homens de bons costumes são aqueles que têm valor social reconhecido ou consagrado, que se orientam pelas coisas justas, pela ética, pela moral, pela honestidade, pelas ideias mais elevadas, pela disciplina e pelo respeito. Eles não participam de grupos que sejam desprovidos de moral ou honestidade, além do mais, devem desfrutar de boa reputação e ter conduta irrepreensível em todos os seus aspectos.

Portanto, podemos dizer que, o homem livre é aquele isento de preconceitos, de maledicências, ou seja, deve, necessariamente, ter a consciência livre e que não tome o mal pelo bem. Além disso, deve ser desprovido de quaisquer vícios. Isso nos permite inferir que, a corrupção e a ausência de bons costumes afastam toda e qualquer evolução ou progresso moral do Maçom, enquanto que a observância à ética, à moral e aos bons costumes o aproxima da sua evolução e progresso, especialmente, no campo espiritual.

Finalmente, concluímos convidando a todos os maçons, principalmente os do Grande Oriente do Brasil no Estado do Rio de Janeiro, a buscarem atitudes compatíveis com os bons costumes, sobretudo, que sejam comprometidos com a moral, a ética e a evolução maçônica, pois, só assim conseguiremos ascender ao patamar de Mestre Maçom de fato.

Autor: Aildo Virgínio Carolino

Fonte: GOB-RJ

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Virtudes maçônicas: Tolerância

NOVO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO : Popper, o paradoxo da tolerância, o ovo da  serpente e o ovo de galinha

A tolerância sendo uma virtude é, portanto, um valor. Valores, como é sabido, não podem ser definidos, entretanto, podem ser descritos e analisados de acordo com comportamento dos integrantes de uma sociedade.

A ideia de tolerância somente pode ser analisada, com certa precisão, se estiver interada socialmente, pois está indissoluvelmente atrelada ao agir das pessoas nesta mesma sociedade.

Para abordar esse tema tão subjetivo por se tratar de uma virtude e também, sendo um dos valores da nossa Ordem, deixo duas perguntas para a nossa reflexão: “Julgar que há coisas intoleráveis é dar provas de intolerância?” Ou, de outra forma: “Ser tolerante é tolerar tudo?” Em ambos os casos a resposta, evidentemente é não, pelo menos se queremos que a tolerância seja uma virtude.

Partindo da afirmação que Filosofar é pensar sem provas, somente espero não ter indo longe demais nas minhas divagações filosóficas.

No opúsculo O que é Maçonaria, temos a seguinte frase:

“A Maçonaria é eminentemente tolerante e exige dos seus membros a mais ampla tolerância. Respeita as opiniões políticas e crenças religiosas de todos os homens, reconhecendo que todas as religiões e ideais políticos são igualmente respeitáveis e rechaça toda pretensão de outorgar situações de privilégio a qualquer uma delas em particular”.

A definição acima aborda a tolerância maçônica no seu aspecto religioso e político que, sendo um valor é muito mais abrangente, discutível e contestável do que os apresentados.

Quem tolera a violação, a tortura, o assassinato deveria ser considerado virtuoso? Quem admite o ilícito com tolerância tem um comportamento louvável? Mas se a resposta não pode ser negativa, a argumentação não deixa de levantar um certo número de problemas, que são definições e limitações. Nem tão pouco podemos deixar de considerar às questões sobre o sentido da vida, a existência do Grande Arquiteto do Universo e o valor dos nossos valores.

Tolerar é aceitar aquilo que se poderia condenar, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater? É, portanto, renunciar a uma parte do nosso poder, desejo e força! Mas só há virtude na medida em que a chamamos para nós e que ultrapassamos os nossos interesses e a nossa impaciência. A tolerância vale apenas contra si e a favor de outrem. Não existe tolerância quando nada temos a perder e menos ainda quando temos tudo a ganhar, suportando e nada fazendo. Tolerar o sofrimento dos outros, a injustiça de que não somos vítimas, o horror que nos poupa não é tolerância, mas sim egoísmo e indiferença. Tolerar Hitler é tornar-se cúmplice dele, pelo menos por omissão, por abandono e esta tolerância já é colaboração. Antes o ódio, a fúria, a violência, do que esta passividade diante do horror e a aceitação vergonhosa do pior.

É o que Karl Popper denomina como “o paradoxo da tolerância”:

“Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância.”

Uma virtude não pode ocultar-se atrás de posturas condenáveis e contestáveis: aquele que só com os justos é justo, só com os generosos é generoso, só com os misericordiosos é misericordioso, não é nem justo, nem generoso e nem misericordioso. Tão pouco é tolerante aquele que o é apenas com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude, como creio e de um modo geral, ela vale, portanto por si mesma, inclusive para os que não a praticam. É verdade que os intolerantes não poderiam queixar-se, se fôssemos intolerantes com eles. O justo deve ser guiado “pelos princípios da justiça e não pelo fato de o injusto poder queixar-se”. Assim como o tolerante, pelos princípios da tolerância.

O que deve determinar a tolerabilidade deste ou daquele indivíduo, grupo ou comportamento, não é a tolerância de que dão provas, mas o perigo efetivo que implicam: uma ação intolerante, um grupo intolerante, etc., devem ser interditos se, e só se, ameaçam efetivamente a liberdade ou, em geral, as condições de possibilidade da tolerância.

Numa República forte e estável, uma manifestação contra a democracia, contra a tolerância ou contra a liberdade não basta para a pôr em perigo: não há, portanto, motivos para a proibir e faltar com tolerância. Mas se as instituições se encontram fragilizadas, se uma guerra civil ameaça, se grupos pretendem tomar o poder, a mesma manifestação pode tornar-se um perigo: pode então vir a ser necessário proibi-la ou impedi-la, mesmo à força e seria uma falta de prudência recusar-se a considerar esta possibilidade.

Estando diante de mais um paradoxo sobre a tolerância, para entende-la entramos por um caminho não muito claro e como não poderia deixar de ser exato, Karl Popper acrescenta:

“Não quero com isto dizer que seja sempre necessário impedir a expressão de teorias intolerantes. Enquanto for possível contrariá-las à força de argumentos lógicos e contê-las com a ajuda da opinião pública, seria um erro proibi-las. Mas é necessário reivindicar o direito de fazê-lo, mesmo à força, caso se torne necessário, porque pode muito bem acontecer que os defensores destas teorias se recusem a qualquer discussão lógica e respondam aos argumentos pela violência. Haveria então de considerar que, ao fazê-lo, eles se colocam fora da lei e que a incitação à intolerância é tão criminosa como, por exemplo, a incitação ao assassínio. Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade.”

Moral e politicamente condenáveis, a tolerância universal não seria, nem virtuosa e nem viável. Ou por outras palavras: existe, de fato, coisas intoleráveis, mesmo para o tolerante! Moralmente condenado é o sofrimento de outrem, a injustiça, a opressão, quando poderiam ser impedidos ou combatidos por um mal menor. Politicamente é tudo o que ameaça efetivamente a liberdade, a paz ou a sobrevivência de uma sociedade.

Como vimos, o problema da tolerância só se põe em questões de opinião. Ora, o que vem a ser uma opinião senão uma crença incerta. O católico bem pode estar subjetivamente certo da verdade do catolicismo. Mas, se for intelectualmente honesto (se amar mais a verdade do que a certeza), deverá reconhecer que é incapaz de convencer um protestante, ateu ou muçulmano, mesmo cultos, inteligentes e de boa-fé. Por mais convencido que possa estar de ter razão, cada qual deve, pois, admitir que não pode prová-lo, permanecendo assim no mesmo plano que os seus adversários, tão convencidos como ele e igualmente incapazes de convencê-lo. A tolerância, como virtude, fundamenta-se na nossa fraqueza teórica, ou seja, na incapacidade de atingir o absoluto. “Devemos tolerar-nos mutuamente, porque somos todos fracos, inconsequentes, sujeitos à variação e ao erro. Humildade e misericórdia andam juntas e levam à tolerância”.

Um outro ponto a ser considerado prende-se mais com a conduta política do que com a moral, mais com os limites do Estado do que com os do conhecimento. Ainda que tivesse acesso ao absoluto, o soberano seria incapaz de impô-lo a quem quer que fosse, porque não se pode forçar um indivíduo a pensar de maneira diferente daquela como pensa, nem a acreditar que é verdadeiro o que lhe parece falso. Pode impedir-se um indivíduo de exprimir aquilo em que acredita, mas não de pensar.

Para quem reconhece que valor e verdade constituem duas ordens diferentes, existe, pelo contrário, nesta disjunção uma razão suplementar para ser tolerante: ainda que tivéssemos acesso a uma verdade absoluta, isso não obrigaria a todos a respeitar os mesmos valores, ou a viverem da mesma maneira. A verdade impõe-se a todos, mas não impõe coisa alguma. A verdade é a mesma para todos, mas não o desejo e a vontade. Esta convergência dos desejos, das vontades e da aproximação das civilizações, não resulta de um conhecimento: é um fato da história e do desejo dessas civilizações.

Podemos perguntar, finalmente, se a palavra tolerância é, de fato, a que convém. Tolerar as opiniões dos outros não é considerá-las como inferiores ou faltosas? Temos então um outro paradoxo da tolerância, que parece invalidar tudo que vimos anteriormente. Se as liberdades de crença, de opinião, de expressão e de culto são liberdades de direito, então não precisam ser toleradas, mas simplesmente respeitadas, protegidas e celebradas.

A palavra tolerância implica muitas vezes, na nossa língua, na ideia de polidez, de piedade ou ainda de indiferença. Em rigor, não se pode tolerar senão o que se tem o direito de impedir, de condenar e de proibir. Mas acontece que este direito que não possuímos nos inspira no sentimento de possuí-lo.

Não temos razão de pensar o que pensamos? E, se temos razão, os outros não estariam errados? E como poderia a verdade aceitar – senão, de fato, por tolerância – a existência ou a continuação do erro? Por isso damos o nome de tolerância àquilo que, se fôssemos mais lúcidos, mais generosos, mais justos, deveria chamar-se de respeito, simpatia ou de amor. Se, contudo, a palavra tolerância se impôs, foi certamente porque nos sentimos muito pouco capazes de amar ou de respeitar quando se tratam dos nossos adversários.

Enquanto não desponta o belo dia em que a tolerância se tornará amável”, conclui Jankélévitch, “diremos que a tolerância, a prosaica tolerância é o que de melhor podemos fazer! A tolerância é, pois uma solução sofrível; até que os homens possam amar, ou simplesmente conhecer-se e compreender-se, podemos dar-nos por felizes por começarem a suportar-se.”

A tolerância, portanto, é um momento provisório. Que este provisório está para durar, é bem claro e, se cessasse, seria de temer que lhe sucedesse a barbárie e não o amor! É apenas um começo, mas já é algum. Sem contar que é por vezes necessário tolerar o que não queremos nem respeitar e nem amar. Existem, como vimos, coisas intoleráveis que temos de combater. Mas também coisas toleráveis que são, no entanto, desprezíveis e detestáveis. A tolerância diz tudo isto, ou pelo menos autoriza.

Assim como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria a dos santos, a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles – todos nós – que não são nem uma nem outra coisa.

Autor: Roberto Donato

Fonte: Além do Último Grau

Referências bibliográficas

Opúsculo – O que é a Maçonaria

A Tolerância e a Ordem Normativa – Ir.’. Luciano Ferreira Leite

Sponville, André – Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Lisboa: Ed. Presença, 1995

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Luz, Paz e Bem

Frases do pequeno príncipe

Vivemos tempos de crise. A essência cede lugar à aparência. Tudo parece repelir a convivência pacífica de opostos. A simples manifestação de uma opinião – sobre qualquer assunto – enseja ataques gratuitos, especialmente no Tribunal das Redes Sociais. Intolerância geral. “Enquanto os homens exercem seus podres poderes” (Caetano Veloso), a felicidade parece estar cada vez mais distante.

Mas esta época pode ser muito boa, se soubermos o que fazer com ela.

“Somos feitos para a felicidade, para a interação, para a bondade, enfim para facilitarmos a existência uns dos outros” (Ana Jácomo).

“Gente simples, fazendo pequenas coisas, em lugares não muito importantes, consegue mudanças extraordinárias (Provérbio africano)”.

Esta não é uma situação passageira. Há uma mudança de eixo na nossa forma de viver. O grande desafio é encontrar a melhor maneira. E é neste cenário que novamente se apresenta singular oportunidade de a Maçonaria reafirmar sua missão.

O filósofo Epicuro observou que os grandes navegadores devem sua boa reputação às tempestades. Paz não é a ausência de conflito, mas a constante e corajosa luta contra a injustiça.

“A coragem é um meio termo entre o medo e a confiança” (Aristóteles).

“A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” (Guimarães Rosa).

Por outro lado, é sabedoria deixar de lutar por algo que não proporciona paz. A própria Maçonaria precisa superar suas dificuldades e conflitos. Precisa se manter no caminho reto, que historicamente trilhou. Ser a Sublime Instituição que prometemos aos neófitos. Ficar imune ou em contraste com os desencontros do mundo profano.

Para tanto, cada obreiro deve honrar, contínua e permanentemente, o seu juramento da Iniciação. Um ensinamento indígena diz que quando não se cumpre a promessa, os fios da ação ficam soltos ao nosso lado, enrolam-se nos pés e impedem a livre caminhada. Por isso, os nativos têm o costume de “colocar as palavras para andar”, ou seja, agir de acordo com o que se fala, o que conduz ao caminho da beleza, em que há harmonia e prosperidade naturais.

Todos nós, eternos aprendizes, juramos cultivar a paz, a concórdia e o respeito, além de defender a liberdade de consciência, comprometidos com a indagação responsável, a informação segura, a meditação serena, a ação benfazeja. A começar na própria Loja, nosso comportamento social deve ser reflexo lógico do que se faz no particular, mais do que somente imagem para consumo externo. Coincidência entre discurso e prática. Em suma, coerência!

Assim, em equilíbrio e harmonizados, estaremos aptos a contribuir na construção social, cujo pressuposto básico é a vida humana em grupos, que, sem dividir, impor ou segregar, devem ter um mínimo de homogeneidade para poder evoluir, renovar e construir. A vida em sociedade precisa de palavras bonitas e menos cara feia. Mais respeito e pouco julgamento. Mãos dadas, menos individualidade. Discernimento para quando se negue a verdade e se idolatre a mentira. Menos regulamentos e melhores relacionamentos.

A propósito de harmonia, a Constituição de Anderson já determinava que os artesãos deveriam se abster de toda prática profana prejudicial à caridade fraterna ou às boas relações. Dirigir-se sempre uns aos outros pelo tratamento de Irmão, agindo com cortesia, dentro e fora de Loja. Evitar comitês particulares, conversações paralelas, linguagem imprópria, falas inconvenientes, ou comportamento jocoso, porque a Loja somente se envolve com o que é sério e solene. Facultava o regozijo, com alegria, mas evitando todo excesso gravoso, sob a pena de frustrar louváveis esforços. Recomendava abrandar temperamentos, evitar pendências cotidianas e querelas sobre temas polêmicos, porque somos de todas as origens, e temos o direito de livre pensar, mas fundamentalmente há obrigação de respeitar o outro.

Todos nós, Maçons, somos iguais em direitos e deveres gradativamente conquistados e cumpridos. Somos credores de respeito e lealdade, mas também devemos fidalguia e amabilidade.

Nesta linha de ideias, haveremos de ter muito cuidado com as disputas e as divergências, com o julgamento descuidado e a condenação precipitada das palavras, do silêncio, da presença e da ausência; do que se pensa, do que se faz e do que não é feito.

Estar imunes à Santa Inquisição dos Passos Perdidos, tão comum no mundo profano, em que muitos, para tirar atenção de si próprios, medem supostas falhas alheias com uma régua que eles mesmos inventaram. Distinguir entre obsequiosos, altercadores, e aduladores, pois a simulação da bondade é a mais perigosa das maldades. Respeitadas as possibilidades e a capacidade de cada obreiro, observar os que se omitem, reclamam muito, mas pouco ou nada fazem; e quem acha que tudo pode ou faz; ou quem se faz de modesto; além dos que se apropriam de feitos alheios. Resistir e neutralizar eventuais máculas contra a reputação de quaisquer Irmãos; em especial os ausentes.

Por outro lado, as sinceras manifestações dos Irmãos, em Loja, devem ser respeitadas, pelo que realmente significam, e não por interesses ou ideias contrárias. Importante assumir o que se diz, mas não se sentir responsável pelo que o outro entende.

A Arte Real também engloba saber ouvir ou falar, com lealdade. O tom do que é dito depende do jeito de ouvir, e vice-versa. Não se há de melindrar com ideias e pensamentos lançados em abstrato, para aprendizado de todos. E se algum confrade for prejudicado de qualquer modo, a fraternidade deve prover ou viabilizar sua defesa, e restabelecer a verdade e a justiça.

As decisões coletivas e legítimas sempre devem ser acatadas. Diálogo e respeito são imperativos, especialmente aos que pensam diferentemente, não havendo por que impor opiniões e condenar as contrárias. Conforme José Saramago,

“O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”

É básico e lapidar que somente deve portar avental o Irmão em perfeita harmonia com os demais obreiros. Empatia é saber enxergar a alma alheia. É compreender que nem sempre o fácil para um também será para outro. Não ferir a ninguém, viver honestamente e dar a cada um o que é seu, antes de ser uma regra moral e a pedra angular da Justiça, é um imperativo de sobrevivência, corolário da Ética, para além das religiões, mitos e filosofias.

Tal como foi fatal para Sócrates, é um perigo julgar tudo e todos, impor e condenar precipitadamente, sem se importar com as consequências. Antes disto, caberia perguntar: – “e se fosse comigo?” Às vezes, silenciosamente, as pessoas se afastam para refletir. Outras vezes, porque já refletiram.

“O sábio não diz tudo o que pensa, mas pensa tudo o que diz” (Aristóteles).

O homem é escravo do que fala e dono do que cala.

“O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito” (Fernando Pessoa).

Então, que nossas palavras sejam para abençoar, bendizer, somar e unir; que a diferença de ideias aproxime e faça crescer; e que quando nos reunirmos, a primeira pergunta seja: “-Vamos falar bem de quem?” A música de Frejat ensina:

“Eu te desejo não parar tão cedo, pois toda idade tem prazer e medo. E com os que erram feio e bastante, que você consiga ser tolerante”.

Por isso, embora sejam importantes os tratados de amizade e a intervisitação intensa, antes, há que ter harmonia com os Irmãos mais próximos. O momento é de esquecimento, de perdão, de desapego aos conceitos, atitudes e preconceitos que segregam, dividem e afastam. Para reconciliar, é preciso resiliência, mente flexível, otimismo, capacidade de se recuperar de situações de crise e aprender com ela. Não há razão de dividir para governar, e a unificação de potências, o bom relacionamento, ideal do projeto impessoal de entendimento, é um objetivo final, que passará pela pacificação geral e pelo ecumenismo.

Assim, a Ordem manterá suas tradições, atuará na vanguarda da evolução, e continuará sendo o Luzeiro da Humanidade. A liberdade é o mais precioso dos direitos. Ser livre não é só questão de leis (Platão). Somente é livre aquele que reconhece a ordem divina dentro de si, o verdadeiro nível pelo qual o homem pode se governar. É preciso manter vivos e aprimorar os atributos que fizeram com que o Mestre apoiador tivesse despertado o seu olhar para nos convidar à iniciação.

A nós, seres imperfeitos, cabe unicamente fazer o bem, não para ganhar o céu, mas para tornar suportável a vida na Terra.

São nossas atitudes e não nossas crenças que nos fazem melhores. Há leis universais implacáveis: a do retorno, a da verdade, e a do mérito. Os princípios estão acima e antes das pessoas.

Estudar e melhorar a si mesmo é a arte mais difícil, é missão árdua, e requer dominar instintos, aprimorar virtudes. Compete a cada um de nós decidir pela sincera reforma íntima, em busca do estado de ataraxia, quietude absoluta da alma, o ideal do sábio (epicurismo). Tirando os bens materiais, o dinheiro, a aparência, o estudo, os títulos e cargos, as realizações, o que resta é o que a gente é. Então, o que nós somos, em essência?!

Que nos sirva de estímulo saber que a melhor coisa a se fazer por alguém é ser sua inspiração, pelo exemplo. Com a energia positiva do sincero e fraternal abraço habitualmente trocado entre os Irmãos, que haja saúde, força, sabedoria, beleza e união de todos, para que a Maçonaria se consolide em uma central de energia psíquica e moral, na qual a sociedade encontre os seus líderes quando deles necessite.

E, se nos perguntarem: – Quantos sois vós? Responderemos: – Somos um só!

Autor: Alceu André Hübbe Pacheco

Alceu é Mestre Instalado da ARLS Pedro Cunha, Nº11, jurisdicionada à Grande Loja de Santa Catarina.

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Fraternidade

Grandes Mestres da humanidade, como Buda, Platão e Cristo, pregaram a fraternidade de todos os homens. 
 
Sêneca dizia que “A natureza fez de nós uma família” e Marco Aurélio que “O universo é como uma cidade“.
 
Ama o teu próximo como a ti mesmo”, é a grande lição deixada por Jesus, o Cristo.
 
Muitos séculos se passaram e o homem ainda não conseguiu entender os preceitos dessa lei divina, e continua a transgredir o que não é de sua autoria, e sim, uma expressão real de uma particularidade cósmica.
 
O resultado dessa transgressão, ao longo do tempo, vem desencadeando graves problemas sociais. As drogas, a violência, a impunidade, o poder, a fome, o descaso com a saúde, a precariedade da educação e do conhecimento, são frutos do egoísmo dominante que se opõe à fraternidade.
 
Onde não se cultua a fraternidade, impera a desigualdade e a escravidão.
 
Depreende-se, pois, que teoricamente, a Fraternidade é um conceito de filosofia em consonância com a Igualdade e a Liberdade.
 
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, o primeiro artigo afirma que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade
 
Fraternidade – do latim fraternitate – significa “irmandade” ou “conjunto de irmãos”. Exprime simplesmente o sentimento de afeição recíproca entre irmãos. 
 
Victor Hugo asseverava que “Liberté, c’est um droit; Égalité, c’est un fait; Fraternité, c’est un devoir“.(Liberdade é um direito; Igualdade é um fato; Fraternidade é um dever).
 
Nenhuma instituição humana oferece oportunidade para a prática da fraternidade como a Maçonaria. No entanto é preciso que o maçom tenha consciência do papel que deve desempenhar, quer na sua Loja, no seio de sua família, no seu trabalho ou onde se encontrar, agindo como verdadeiro artífice na consolidação da fraternidade.
 
Fundamentada no Amor Fraternal e preocupada com o bem-estar da Humanidade, a Maçonaria prepara o homem para participar, efetivamente, na construção de uma Sociedade mais justa e equilibrada.
 
A Maçonaria ensina que o mais sublime dos deveres do maçom consiste na prática da solidariedade ou fraternidade maçônica, traduzida no socorro aos Irmãos em suas aflições e necessidades; no encaminhamento dos Irmãos na senda da Virtude, desviando-os da prática do Mal; no estímulo a praticarem o Bem, dando exemplos de Amor, Tolerância, Caridade, Justiça e respeito à liberdade individual, reconhecendo no Irmão e em todos os seres humanos, como seu semelhante”. 
 
Optar pela renúncia à prática da Solidariedade e da Fraternidade é uma atitude que revela o quanto o iniciado ainda se encontra distante de ser um homem de bem e, por conseguinte, um verdadeiro maçom.
 
A verdadeira fraternidade é um reflexo do caráter e da personalidade do ser humano. Conectemos o nosso cérebro às ondas mais elevadas do conhecimento superior e teremos como consequência ações cada vez mais voltadas para o bem geral.
 
Assim, renovemos a esperança com Amor a Deus, à Pátria, à Família e ao próximo; com Tolerância, Virtude e Sabedoria; com a constante e livre investigação da Verdade; com o progresso do Conhecimento Humano, das Ciências e das Artes, sob a tríade – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – dentro dos princípios da Razão e da Justiça, para que o mundo alcance a Felicidade Geral e a Paz Universal.
 

Autor: José Airton de Carvalho

Zé Airton é Mestre Instalado, membro da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, presidente da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, membro da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati Pedro Campos de Miranda, e um grande incentivador do blog.

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