“O mistério gera curiosidade e a curiosidade é a base do desejo humano para compreender” (Neil Armstrong)
Na Grécia antiga, à iniciação aos mistérios do sagrado denominava-se mistagogia, que é uma palavra composta de duas partes: mist + agogia. Mist relacionado a mistério, mysterium; agogia, agein, ligado a conduzir, guiar. Portanto, guiar para dentro dos mistérios; iniciar ao conhecimento, à interpretação dos mistérios. Daí o mistagogo, o sacerdote que iniciava os neófitos nos mistérios; o guia (mentor/mestre) que orienta desde os primeiros passos.
Por sua vez, mysterium vem da palavra muein, que significa “fechar os olhos e a boca”, enxergar o segredo e calar-se. O conteúdo é um segredo acessível somente às pessoas que estão sendo iniciadas e que serão guiadas por um caminho que as leva do mundo perceptível, real, envolvendo a vida, os símbolos e ações rituais, em direção a seu significado escondido. Diz o Aurélio: o segredo é o que se oculta à vista, ao conhecimento, que não se divulga. Portanto, o mistério está estreitamente ligado a silêncio, prudência e segurança.
Na Antiguidade Clássica, as escolas não tinham os contornos como hoje compreendemos, pois a cultura era adquirida pela forma iniciática e com um sentido de sabedoria sagrada revelada. Os sacerdotes da alta hierarquia dos mistérios da Grécia e do Egito (hierofantes) e os legisladores (arcontes) excitavam a curiosidade das pessoas e ocultavam as verdades sob o véu de alegorias encorajando dedicação e estudos. Os “Mistérios” eram dramatizações que exibiam alguma lenda significativa das mudanças da natureza. Cada centro de ensinamento possuía uma história simbólica que servia de base a toda concepção dos mistérios onde divindades eram reveladas.
Não obstante o passar do tempo, como as pessoas gostam de contar histórias, que crescem e se multiplicam de fogueira em fogueira, os mistérios se renovam e os exemplos e narrativas se frutificam sempre envoltos em diferentes roupagens e denominações. Conforme ensinou Gustav Meyrink, escritor, dramaturgo, tradutor e banqueiro austro-húngaro, que escreveu principalmente dentro do gênero literatura fantástica,
“Quem não tem a intuição suficiente para descobrir por si mesmo o mistério, não é digno de possuí-lo por outros meios.”
A Ciência existe no mistério e o que não faltam são fenômenos que fogem à compreensão comum e intrigam pesquisadores, sendo a origem da vida, surgida há não mais que 4,2 bilhões de anos, o mais desafiador deles. E a pergunta que sempre intrigou os cientistas é exatamente porque as coisas são do jeito que são. E o ser humano, de modo geral, diante da morte, se enche de medo. É a dúvida sobre o mistério da transformação.
Hoje temos a difusão da moderna tecnologia, na iminência da geração de um “ser artificial e inteligente”, com contornos de algo fascinante e misterioso, mas tratando-se apenas e tão somente de uso intensivo da informática, que em breve tornará muito difícil separar o que é real do digital. Com o avanço das pesquisas sobre prevenção e tratamento de doenças, vislumbra-se mesmo a criação de um ser pós-humano, o que é bem mais assustador.
Na sua obra “2001 – Uma odisseia no Espaço”, Arthur Clark dizia que “qualquer tecnologia suficientemente avançada parece ser mágica”, e como sempre, poucos são os “iniciados” nessa seara e despertam curiosidade quanto à aura mística, ao simbolismo e linguagem cifrada através da qual se comunicam e protegem seus conhecimentos e descobertas, aí incluindo segredos militares, empresariais e de Estado, em muitas situações protegidos por legislações e estratégias digitais de segurança específicas. A guerra ora em andamento na Ucrânia acontece também no espaço cibernético, com sites oficiais sendo atacados e sanções sendo aplicadas às plataformas de notícias estatais russas. Nessa guerra híbrida, a tecnologia já é considerada um novo tipo de “soldado”. Cibercrime e invasão de privacidade estão aí para ficar.
Todo negócio tem o seu segredo e, concordemos ou não, todas as disciplinas (economia, matemática, física…), religiões, governos, associações etc., têm lá seus mistérios e uma linguagem própria, carregada de jargões, que não é clara para os leigos e é acessível apenas para os iniciados e pertencentes às respectivas bolhas.
Conforme ensina a doutora em teologia Ione Buyst (2011),
“O mistério é uma realidade tão rica, complexa, abrangente e profunda que é impossível expressá-la ou explicá-la racionalmente. O mistério não é irracional, mas ultrapassa nossa razão. Por isso, só temos acesso a ele por um caminho feito de experiência e de sabedoria, que valoriza o conhecimento simbólico.”
Nos registros do Concílio Vaticano II, NA 2, consta:
“Desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta presente no curso das coisas e acontecimentos humanos; encontra-se por vezes até o conhecimento da divindade suprema ou mesmo de Deus Pai.”
Como principal instrumento pedagógico, a Maçonaria veicula em seus símbolos, mitos e alegorias, mensagens que estimulam reflexão sobre a espiritualidade, somente acessíveis aos iniciados que conhecem a linguagem e decodificam os seus sentidos, de acordo com a capacidade interpretativa de cada um, protegidos por compromissos e juramentos de discrição, favorecendo a identificação e a coesão do grupo. A interpretação e a compreensão de suas verdades é que farão o diferencial na percepção do mundo e na prática das virtudes a eles vinculadas. Por cultuar a razão, a Maçonaria não possui dogmas[1], porém usa essas ilustrações como um caminho para o autoconhecimento. Seus símbolos não são objetos de adoração, mas se constituem em ícones que veladamente encerram Verdades.
Esse “Iniciado” distingue-se do “Profano”[2] (do latim: pro=ante + fanum=templo). O primeiro, tendo ingressado no Templo simbólico da Maçonaria, conhece-o por dentro; o segundo, popularmente referenciado como leigo, fica fora dele, fora do Templo da Sabedoria ou de um real conhecimento da Verdade e da Virtude, das quais reconhece unicamente os aspectos profanos ou exteriores que constituem a moeda corrente do mundo.
Nas religiões e escolas filosóficas antigas (egípcios, persas, gregos, judeus, romanos, celtas e escandinavos), homens e mulheres de qualquer posição e cultura podiam solicitar sua iniciação nos diversos mistérios. Os ensinamentos ministrados aos iniciados, ou discípulos, denominavam-se esotéricos (do grego, esoterikós – interno) ou Mistérios Maiores. E aqueles transmitidos ao público em geral, sem restrições, conhecidos como exotéricos (do grego, exoterikós – exterior) ou Mistérios Menores.
Para Buyst (2011),
“Quem olha de fora, ou quem está dentro sem ter sido iniciado, não conseguirá captar este ‘mistério’ e ser transformado por ele”. “O conhecimento esotérico aliado ao aprendizado permite estabelecer a diferença entre teoria e realidade, consubstanciando-se a experiência pessoal na condição essencial para discernir a opinião da verdade, que é o conhecimento interior.”
Nos evangelhos reconhecemos essa forma de ensinamento. Quando perguntado por seus discípulos por que usava parábolas para falar ao povo, Jesus disse: “Porque a vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não” (Mt, 13,11). “Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus mistérios” (Eclo, 3,20). “A vós foi dado o mistério do Reino de Deus: aos de fora, porém, tudo acontece em parábolas, a fim de que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam” (Mc 4, 10-12). Para os Cristãos, o mistério de Deus se revela na pessoa de Jesus.
Anatalino (2013) afirma que todo Maçom, ao ser iniciado nos augustos Mistérios da Arte Real (outra denominação para a Maçonaria) está na verdade penetrando no Reino da Enteléquia, vocábulo este que significa a qualidade de ser que tem em si mesmo a capacidade de promover seu próprio desenvolvimento. Essa passagem do estado de não iniciado para iniciado se dirige mais à mente inconsciente do Aprendiz do que à sua consciência. Na Loja, o simbolismo permite ao não Maçom que vivia nas trevas da ignorância encontrar a luz, representada pelo conhecimento, renascer tal como uma semente depositada na terra para uma nova vida, a vida maçônica, que aprimorando o caráter o torna capaz de exercer na sociedade um papel diferenciado, como um agente cidadão.
Esse mistério da cerimônia de iniciação marca o fim de um ciclo e início de outro, como uma “morte” seguida de uma aparente ressurreição ou renascimento simbólico dentro de uma nova família bastante numerosa, simbolizando renovação ou rejuvenescimento, mediante encenação de testes alegóricos, contemplando ritualísticas próprias do ofício de construtor e os conhecimentos esotéricos a elas vinculados, com um simbolismo arquitetônico introduzido não para servir às crenças, porém ligado aos mistérios da edificação do templo interior, com foco no despertar da consciência, visando a promover no homem a busca do conhecimento de si mesmo, ao gerar uma visão de sua própria estrutura mental[3].
A experiência da iniciação é individual, cada um absorve de uma forma muito particular, por isso se diz que é inefável. Tão simples e considerada “um mistério!”. Devemos nos lembrar de que passamos por várias “iniciações” ou “rituais de passagem” em nossa vida, como aniversários, formaturas, casamentos etc.
Na sequência de sua recepção como Aprendiz, o neófito (planta nova) passa a ser instruído nos primeiros mistérios que somente a ele caberá desvendar, sendo apresentado a uma sequência de instruções e instrumentos simbólicos que o ajudarão nessa empreitada para desbastar a pedra bruta da sua personalidade, numa escalada de graus sobre os quais passará a refletir e trabalhar, paulatinamente tomando ciência dos segredos a que aspira conhecer, e que se resumem na vivência dos princípios maçônicos, os quais não podem ser considerados mistérios na sua essência e sim um farol a iluminar o caminho do aperfeiçoamento pessoal.
Esses assim chamados “Mistérios Maçônicos” são constituídos de todas as verdades morais, ocultas sob a forma de alegorias, expressas por sinais, palavras, números, fórmulas, lendas e cerimoniais, que funcionam como auxiliares de memória. Mas, é importante que fique bem claro, a Maçonaria não é detentora de nenhum segredo oculto, fórmulas mágicas ou poderes escondidos. O considerado “Mistério” maior e pouco compreendido é representado pela magia que encerra o amor entre os irmãos, uma verdadeira forma da União, que purifica a amizade e as relações fraternais.
A recepção ou aceitação de um novo membro na Ordem deve ser entendida como o ingresso em um novo estado de consciência, e num modo de ser interior, do qual a vida exterior é efeito e consequência. Pressupõe, no entanto, o compartilhamento, no seio de uma comunidade iniciática, de um “segredo” por meio de símbolos e instruções expressos por um ritual que fará de um candidato um autêntico iniciado ao grau de Aprendiz Maçom. Nicola Aslan ensina que “não existem segredos na maçonaria para aqueles que se propõem a estudar”. Ademais, esses supostos segredos podem ser vistos por qualquer um, mas por estarem no fundo dos corações dos obreiros não são desvendados pelos olhos ou sentidos, e sim pelo estudo, pesquisa e o silêncio da meditação.
Porém, o que mais se destaca é a questão do “segredo” e que é própria de todos os grupos e organizações que desenvolvem algum conhecimento corporativo com linguajar próprio e por isso representam a garantia de que os Maçons não estão sós no mundo e abandonados à própria sorte, pois aprendem a se reconhecer em qualquer ambiente. A necessidade de manter esses “segredos” de reconhecimento mútuo, tratados nos recintos das Lojas, que funcionam como um canteiro simbólico, e restrito aos seus membros, vem de uma tradição de cuidados que deviam ser mantidos em um ambiente de intolerância e repressão que a Ordem sofreu ao longo da história, quando uma simples indiscrição podia custar prisão, tortura ou até mesmo morte, e por isso se mantinha “invisível”.
A principal causa do ódio e perseguição contra os cristãos primitivos na sociedade romana devia-se ao estilo de vida diferenciado. A humanidade sempre olhou com suspeita para aqueles que são diferentes.
“A conformidade, não a distinção, é o caminho para uma vida livre de problemas, e quanto mais os cristãos primitivos levaram sua fé a sério, mais eles corriam o risco da reação da multidão.”
E eles ainda foram vítimas de calúnias, como a suspeita de que as reuniões cristãs fossem orgias sexuais e disfarce para todo tipo de crime, inclusive com acusação de canibalismo, no sentido de que alguém era comido, com referências às palavras de Jesus: “Este pão é meu corpo, este cálice é meu sangue”. Os pagãos entendiam que os cristãos deveriam estar comendo carne humana e bebendo sangue humano. Essas acusações provavelmente surgiram de um fato característico da natureza humana: o segredo gera desconfiança (Shelley, 2018).
No caso da Igreja Católica, até o século VI, as catequeses eram dadas depois da celebração dos sacramentos da iniciação cristã, porque naquele tempo era praticada a chamada ‘disciplina do arcano’, que mandava guardar segredo a respeito dos ‘mistérios’ da fé, seja da doutrina, seja dos sacramentos. Não se podia revelar nada disso aos não batizados, para evitar mal-entendidos, gozações e até perseguições.
“E, assim, havia para os batizandos o ’elemento psicológico da surpresa’ que destacava de certo modo ‘a eficácia da experiência espiritual’ do sacramento” (Buyst, 2011).
A Maçonaria tem os seus segredos, mas não é uma organização secreta, tem endereço e personalidade jurídica registrada nos órgãos competentes (Estatuto, Regimento Interno e CNPJ). Porém, os seus detratores distorcem esse entendimento. Caso não fossem verdadeiros e consistentes seus propósitos, já teria desaparecido há muito. Fort Newton destaca:
“Quando todos os homens praticarem seus preceitos simples, os segredos inocentes da Maçonaria serão postos de lado, pois sua missão estará cumprida e seu trabalho terminado.”
Na Maçonaria Operativa, os pedreiros livres se reuniam em lugares fechados para discutir questões de trabalho e problemas de interesse da corporação, sendo tratados como secretos todos os assuntos. Inclusive, em épocas de perseguições na maçonaria moderna, chegou a ser adotado o uso de um nome simbólico no intuito de o obreiro ocultar o seu verdadeiro nome, prática essa ainda mantida simbolicamente em alguns ritos.
É consenso na história da Maçonaria que, se a sua essência e aparência fossem claros aos não iniciados em seus alegados mistérios, a Ordem já teria desaparecido, sucumbindo a pressões de impérios e ideologias. O seu glamour é exatamente esta aura de segredo e mistério, que nada mais é do que um véu que cobre certos aspectos a serem preservados através da tradição. Essa aura de mistérios e segredos foi reforçada a partir de 1717, em Londres, com o nascimento da Moderna Maçonaria, quando James Anderson inseriu exposições lendárias em suas “Constituições”, publicados nos diários londrinos da época, com o fito de agregar novos adeptos e com isso chamar atenção com fatos tidos como misteriosos segredos guardados pela Maçonaria. Porém, conforme contido no art. 1º da referida “Constituição”, o foco era que a Maçonaria se tornasse “o centro de união e o meio para estabelecer uma amizade sincera entre homens que de outra forma permaneceriam separados para sempre”.
A narrativa de uma possível transição de Maçonaria Operativa para Especulativa ou dos Aceitos e, em seguida, para a Especulativa por excelência ou Moderna[4], formada então por homens espiritualizados, teria absorvido e adaptado conhecimentos em voga na sua época áurea, atraindo intelectuais de diversas correntes de pensamentos, que agregaram elementos místicos e ocultistas, muitos inspirados na Bíblia, relativamente à época da construção do Templo de Jerusalém, além de elementos da Cabala, do hermetismo, da astrologia e de antigas religiões e processos iniciáticos históricos. Assim, a Maçonaria se assumia como guardiã (alguns dizem “legatária”) de determinados conhecimentos arcanos oriundos de fontes bastante amplas, que seriam comunicados aos membros nas iniciações e nos diversos graus.
Registre-se que ocultismo não é temática maçônica. Mas, isso já é tema para discussões acaloradas entre os defensores da “Maçonaria Autêntica” e da “Maçonaria Romântica”, que desvirtua o sentido dos objetivos primordiais da Maçonaria. O glamour da Maçonaria ao qual nos referimos anteriormente, que deu a ela uma conotação diferenciada em relação aos clubes sociais vigentes à época de sua estruturação moderna, foi o conteúdo iniciático e esotérico introduzido no século XIX por obreiros provenientes da Ordem Rosa-Cruz. Segundo Rizzardo da Camino (2017), a Rosa-Cruz seria a legítima promotora da Maçonaria Simbólica. Sem essa influência, afirma ele, a Maçonaria teria permanecido até hoje na Inglaterra como corporação puramente profissional[5].
No entanto, dizer que ela é mística tem o condão apenas de afirmar que não é materialista (vide nota 1 acima), pois alimenta o entendimento da existência de um princípio criador, que é Deus, e na imortalidade da alma, “e que todas as formas vivas e belas são símbolos de coisas mais sublimes do que elas”. “Não sendo religião, no sentido do culto litúrgico, aceita e amplia todos os conceitos religiosos, extraindo deles lição de que necessita para orientar seus filiados” (Camino, 2017).
Quanto a dizer que teria na sua origem elementos ocultistas, vale dizer que tal tendência se desfez ao longo do tempo com os modernos recursos de difusão de informações e conhecimento, pelo progresso no campo científico com o surgimento de novas ciências como a psicologia e a parapsicologia no campo experimental, aliados à evolução do comportamento e do pensamento humano, restando ao mundo ocultista o plano esotérico e espiritual. A absoluta liberdade de consciência e o racionalismo se constituem nos efetivos pilares da Maçonaria.
É sabido que vários escritores maçônicos imaginosos dotaram seus símbolos históricos e tradicionais de significados que nunca tiveram, além de introduzirem dramatizações descabidas e que somente os verdadeiros iniciados vislumbram as diferenças e não repercutem essas lorotas. Alguns evocam uma suposta egrégora em Loja, que não faz parte da tradição maçônica que prima pela razão, e ainda fazem mise-en-scène para plateias desinformadas ou pose de maçons misteriosos exatamente por não estudarem e usam de subterfúgios para camuflar a ausência de conhecimentos. Parodiando a escritora e teósofa Annie Besant, ensinam o que não sabem, como seguro refúgio de sua ignorância.
Fort Newton ensina: “aquele que professa uma religião, que não seja somente teoria ou forma, é um místico, existindo entre ele e os grandes místicos apenas uma diferença de Grau”. Acrescenta ainda, “misticismo não é patrimônio exclusivo de um grupo de adeptos para ser encarado como um segredo …. Qualquer homem que se curve numa oração, ou eleva seu pensamento ao céu, é um Iniciado no misticismo eterno, que é a força e o consolo da vida humana”. O misticismo diferencia os seres humanos dos animais e a vida se manifesta por meio de atos místicos. Importante, ainda, refletir sobre o pensamento de Joseph Campbell:
“Mitologia é nome que damos à religião dos outros.”
Conforme ensina Camino (2017), “o homem necessita sempre de um amparo vindo do Alto, do mistério extraterreno, do Infinito, poderoso e que atenda a seus caprichos”. Ao fim e ao cabo, é com o autoconhecimento, olhando para dentro, que misteriosamente encontramos o que tanto procuramos alhures. Cícero afirmava que “nos Mistérios, nós percebemos os princípios reais da vida e aprendemos a viver de maneira feliz, mas principalmente a morrer com uma esperança mais justa.”
“Por que é que o cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga”. (Clarice Lispector)
Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

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Notas
[1] Sobre a alegada inexistência de dogmas, pergunta-se o que seria a crença em um “Princípio Criador” e na imortalidade da alma, presente em alguns Ritos. O Rito Sueco, mais praticado nos países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia, além da Islândia), e em muito menor escala nos Países Baixos e na Alemanha, com origem a partir de 1759, tem sentido profundamente cristão. Conclui-se, assim, que não existe uma Maçonaria, mas Maçonarias e inúmeros Ritos, cada um com suas tradições, usos e costumes inerentes à sua estrutura iniciática e que podem variar entre as Potências.
[2] Infelizmente, o termo “profano”, dentre seus vários significados, somente é referenciado como aquele que deturpa ou viola coisas sagradas. Essa é uma situação que constrange e que poderia ser substituída, no caso da Ordem, pela expressão “não maçom”, muito mais palatável. Guénon (1947) ensina que a palavra “clero” significa “instruído”, e se opõe ao “secular”, que se refere ao homem do povo, ou seja, o vulgar, assimilado ao ignorante ou ao “profano”, de quem só se pode pedir para acreditar no que não se pode compreender, porque só assim se faz participar da tradição na medida de suas possibilidades.
[3] Ver o Artigo “A alegoria do Templo e a Iniciação Maçônica”, em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2019/03/12/a-alegoria-do-templo-e-a-iniciacao-maconica/
[4] https://opontodentrocirculo.com/2021/04/23/maconaria-moderna-o-legado-escoces-parte-i/
[5] Ver Influência da Bíblia na Maçonaria em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2018/08/28/a-influencia-da-biblia-na-maconaria/
Referências:
BUYST, Ione. O Segredo dos Ritos: ritualidade e sacramentalidade da liturgia cristã. São Paulo: Paulinas, 2011.
CAMINO, Rizzardo da. Simbolismo do Terceiro Grau. São Paulo: Madras, 2017.
CONCÍLIO VATICANO II: NA 2 – declaração Nostra Aetate sobre a igreja e as religiões não-cristãs: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_nostra-aetate_po.html, acesso em 09.02.2020.
OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de. Da Iniciação rumo à Elevação. Londrina: Ed. “A Trolha”, 2012.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio. Dicionário de Maçonaria: seus mistérios, ritos, filosofia, história. São Paulo: Pensamento, 2016.
GUÉNON, René. Autoridade Espiritual e Potência Temporal (1947), disponível em https://docero.com.br/doc/cxv5vx1. Acesso em 20.01.2022.
KRIWACZEK, Paul. Babilônia: a Mesopotâmia e o nascimento da civilização. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
NEWTON. Joseph Fort. Os Maçons Construtores: uma história e um estudo sobre a Maçonaria. Londrina: Ed. Maçônica “A Trolha”, 2000.
RODRIGUES. João Anatalino. O Tesouro Arcano – a maçonaria e seu simbolismo iniciático. São Paulo: Madras, 2013.
SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.
XAVIER, Arnaldo. Saiba o que são Maçonarias. Belo Horizonte: Label Artes Gráficas, 2010.