Sugestão de leitura – dezembro/2021

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Caríssimos leitores,

Já está na página Biblioteca do blog O Ponto Dentro do Círculo a sugestão de leitura do mês de dezembro.

Ver em: https://opontodentrocirculo.com/biblioteca/

“A leitura é uma forma de felicidade que só está ao alcance das mentes mais livres. Aquelas que são capazes de se desvestir de suas preocupações diárias para atravessar a barreira do conhecimento, da paixão, do deleite e adentrar aos mais sublimes mistérios.” (Valeria Sabater)

Fraternalmente,

Luiz Marcelo Viegas

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Resposta a um maçom desiludido…

Caro Irmão,

É triste perceber que você não entendeu do que se trata Maçonaria, mesmo tendo percorrido todo o caminho. Mas, posso entender que você alimentou expectativas irreais, resultantes da difusão desordenada de conceitos conflitantes e fantasistas do que seja a Ordem Maçônica.

Volte no tempo e estude (aqui mesmo no blog você encontrará tudo o que precisa) a história da Maçonaria com um olhar objetivo. Ela foi inventada por homens inteligentes com objetivos muito práticos. A simbologia que realmente tem sentido é básica e muito simples.

O que aconteceu depois de sua invenção em 1717, foi um festival de inclusões de conteúdos e objetivos que nada tinham a ver com o seu projeto inicial. E ela foi assim se transformando em um cipoal de opiniões travestidas em conceitos que somente contribuíram para a confusão e para o desencanto daqueles que procuram na Maçonaria algo que ela não se propõe a oferecer.

Maçons que também não entenderam do que se trata sempre dizem “você precisa fazer os graus filosóficos, onde se encontra a verdadeira maçonaria” .

Bullshit!

A verdadeira maçonaria se encontra na LOJA SIMBÓLICA. Em nenhum outro lugar. No simbolismo, nos três primeiro graus. Quem não entender o que é maçonaria até chegar ao grau de Mestre, nunca vai entender e vai ficar dando cabeçada até entender, ou até se desencantar, como parece ser o caso do irmão.

Maçonaria é apenas e tão somente o cultivo da fraternidade. O famoso MICTMR. É encontrar em uma cidade distante, alguém que te trata como irmão sem nunca ter te visto. É encontrar apoio para empreitadas sociais. É estar presente em sua comunidade para “dar aquela mãozinha” na Associação de Pais e Mestres,  na Associação de Vizinhos., nas obras sociais da paróquia ou da comunidade religiosa a que pertence. É socorrer um vizinho em dificuldade. É ir aos aniversários de irmãos da loja ou de seus familiares. É estar presente quando um irmão a ele recorre. É contribuir para organizações que trabalham pelos menos favorecidos,  Médicos sem Fronteiras ou uma ONG mais local.  É participar da política, candidatando-se a síndico do seu edifício, vereador em sua cidade, presidente do seu país!

A Loja “oferece” um ambiente onde o maçom que já entendeu o conceito acima possa dedicar-se a estudos que não têm lugar na sociedade atual. Ali, ele encontrará outros irmãos que se interessam por arcanos, hierofantes, atanores, obra em negro, e tantos assuntos fascinantes, mas também encontrará irmãos com menos apetite por tais assuntos, mas que são pessoas generosas, divertidas, afáveis.  Por outro lado, a estrutura  da comunidade maçônica também oferece uma outra organização de lojas de estudo de conteúdo moral, esotérico, hermético chamados “Altos Graus”, ou Graus Filosóficos. Se  o maçom quiser, pode frequentar essas lojas, mas não é obrigado. Os graus filosóficos acima dos três primeiros graus  têm a ver com maçonaria somente na medida que permitem o exercício da fraternidade, mas são graus de cavalaria.  Os graus de Maçonaria estão relacionados com a profissão de pedreiro, de construtor.

Se ele não quiser frequentar os altos graus, basta seguir sua emoção e desenvolver o conceito de fraternidade, estendendo-o a todas as pessoas que conhece. Será então o melhor maçom do mundo.

Mas, precisa ter cuidado com as informações equivocadas que recebe no meio. A Maçonaria que conhecemos e à qual pertencemos existe somente após 1717, com a fundação da Grande Loja de Londres. Ela não é a continuação da Maçonaria Operativa. Ela só aproveitou muita coisa dela.

Os maçons operativos eram pedreiros, quase sempre analfabetos, que não detinham nenhum “conhecimento esotérico da Grande Obra”. Só queriam preservar os conhecimentos de construção para garantir seu trabalho. Por isso o segredo. Mas eram homens simples, alegres e despreocupados que gostavam muito de beber cerveja nas tabernas onde se reuniam, de dar risadas, brincar.

Todo esse conteúdo esotérico, iniciático foi introduzido no século XIX por maçons que vinham da Rosacruz (essa sim, uma ordem iniciática, esotérica, etc. etc.) e outras ordens que cultivavam o hermetismo.

Nós, os maçons somos homens simples que buscam a fraternidade e o aperfeiçoamento de si e da sociedade através do exemplo ou através da influência que possamos exercer sobre ela.  Pense bem, passe uma borracha no seu passado e recomece do zero.

Seja um maçom feliz como eram os maçons operativos!

Fraternalmente,

José Filardo.

Fonte: Biblioteca Fernando Pessoa

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Episódio 54 – O tronco dos templários e a Maçonaria

(music: Slow Burn by Kevin MacLeod; link: https://incompetech.filmmusic.io/song/4372-slow-burn; license: https://filmmusic.io/standard-license)

Quando eu dava meus primeiros passos na Maçonaria, assisti a uma instrução na qual um Mestre, com mais de trinta e três anos e seiscentos costados de Ordem, ensinou o seguinte sobre o TRONCO DE SOLIDARIEDADE (ou de beneficência):

– Chama-se tronco porque os antigos Templários escondiam seus dinheiros em troncos de árvores!

Lembro-me bem ‒ foi possível ouvir, naquela ocasião, todos os Templários mortos novecentos anos atrás darem ruidosas voltas em suas sepulturas e chacoalharem armaduras contra suas espadas enferrujadas…

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A interpretação e significado dos símbolos maçônicos

El Observatorio Cuyano

Hermann Rorschach foi um psiquiatra suíço que viveu entre 1884 e 1922, e que ficou conhecido pelo seu trabalho sobre o significado psicológico de interpretações dadas a manchas de tinta, tendo desenvolvido para isso uma técnica que tomou seu nome: o teste de Rorschach. Este teste baseia-se na chamada “hipótese projetiva”, de acordo com a qual a pessoa a ser testada, ao procurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem um significado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projeta aspectos da sua própria personalidade. O intérprete (ou seja, o psicólogo que aplica o teste) teria assim a possibilidade de reconstruir os aspectos da personalidade que teriam levado às respostas dadas. Dito de outro modo: confrontado com um objeto sem um significado previamente estabelecido, o sujeito atribui-lhe uma conotação, uma semântica, um sentido que decorre, essencialmente, de si mesmo, não tendo que ser – e frequentemente não sendo – uniformes e invariáveis os significados atribuídos de um sujeito para outro.

Algo de semelhante sucede na maçonaria com os símbolos. Há símbolos a que se atribui significados convencionados – como o esquadro que, servindo para traçar ângulos retos, evoca a retidão de caráter – o que não impede que lhes sejam atribuídos outros significados. Outros símbolos traduzem uma maior diversidade de sentidos – como o G que a maçonaria regular coloca entre o esquadro e o compasso. Símbolos mais obscuros, menos frequentes e de menor universalidade, são por vezes encontrados num contexto maçônico, mas poderão ser  apenas perceptíveis e utilizados num determinado contexto cultural, no âmbito de certo rito, ou confinados a um perímetro geográfico específico. Contrariamente ao teste de Rorschach, todavia, o recurso à simbologia pela maçonaria não tem o fim de constituir qualquer análise psicológica ou psiquiátrica por um terceiro, mas apenas de cada um por si mesmo.

A simbologia maçônica – que tem como tema dominante a maçonaria operativa medieval, a que hoje chamaríamos arquitetura ou engenharia civil – tem o triplo propósito de estabelecer uma estrutura e um  contexto cultural para os arquétipos universais que identificam a maçonaria, uma forma sintética de comunicação de conceitos, e uma cultura de heterogeneidade e tolerância. Cada símbolo maçónico – normalmente coisas tão banais como uma pedra ou uma colher de pedreiro – evoca um ou mais significados que, no seu conjunto, constituem uma matriz semântica que dota a Ordem de um contexto cultural que, por sua vez, enquadra e dá corpo aos conceitos e princípios que a maçonaria pretende transmitir, propagar e perpetuar. Fica assim estabelecida, em torno dos símbolos, uma linguagem que, de forma sintética, permite a rápida e eficaz evocação, relacionamento e comunicação de conceitos, bastando por vezes uma simples palavra para transmitir um conceito complexo no seu contexto adequado. Por fim, ao não fazer corresponder de forma imposta, rígida e imutável os símbolos aos conceitos, a simbologia maçônica permite que cada maçom atinja as sua próprias respostas às importantes questões filosóficas que a vida coloca.

Contudo – e isto é a minha interpretação pessoal, que vale o que vale – a maior virtude do recurso à simbologia e à alegoria consiste no distanciamento que estabelece entre os princípios e a sua aplicação. Este distanciamento possibilita que a interiorização dos conceitos decorra da sua aplicação a um sujeito abstrato (e, mesmo, claramente do foro do mítico e do imaginário), e que só uma vez absorvida a sua essência e apercebidas as consequências da sua incorporação no edifício ético e moral individual – o que pode levar mais ou menos tempo, ou nunca suceder de todo – cada um aplique então a si mesmo o significado pessoal e personalizado que atribuiu ao símbolo, interiorizando-o e consolidando-o da forma que entende ser a que mais se adequa à sua própria realidade e, por fim – porque, em maçonaria, nada se ensina mas tudo se aprende – tire partido da lição que deu a si mesmo.

Autor: Paulo M.

Fonte: A Partir Pedra

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A liberdade na interpretação da simbologia maçônica

Параноидально-критический метод. Дали и Магритт как рационалисты

Magritte pintou, entre 1928 e 1929, um célebre quadro em que representa um cachimbo sob o qual escreveu “Ceci n’est pas une pipe.” ou, em português,  “Isto não é um cachimbo”. De facto, a pintura não é um cachimbo, mas a imagem de um cachimbo – e transmitir essa ideia era o intuito de Magritte. “O famoso cachimbo”, viria ele a confessar, 

“Quanto me censuraram por causa dele! E porém, alguém poderia encher o meu cachimbo? Não, pois é só uma representação, não é verdade? Por isso, tivesse eu escrito no meu quadro «Isto é um cachimbo», estaria a mentir.”

Um símbolo – do grego σύμβολον (sýmbolon) – pode ser um objeto, uma imagem, uma palavra, um som ou uma marca particular que represente algo diferente por associação, semelhança ou conceção. Deste modo, pode substituir-se um conceito complexo por um símbolo simples. O significante é evidente – constitui o símbolo em si mesmo; contudo, o seu significado pode ser obtuso, ou mesmo variável com o tempo, pois reside naquele que o descodifica, e cada um acaba por fazê-lo de forma pelo menos ligeiramente diferente dos demais. Por isto, é quase certo que, uma vez estabelecidos, os símbolos “adquiram vida própria”, alterando-se o seu significado com o passar do tempo. Por exemplo, a Estrela de David é um símbolo que começando por constituir – de acordo com a tradição judaica – uma marca aposta nos escudos com que os guerreiros do rei David se protegiam, adquiriu, a partir de certa altura, um caráter místico, passando a ser gravado como amuleto ou proteção, e acabando por ser adotada como símbolo do Estado de Israel.

Não pode falar-se de simbolismo maçónico sem citar a velha definição de maçonaria: “É um sistema de moral velado por alegorias e ilustrado por símbolos”. De facto, a maioria dos símbolos usados em maçonaria é evocativa dos princípios morais com que a maçonaria se identifica. O importante são os princípios; os símbolos são apenas os meios usados para que não os esqueçamos. E, uma vez que cada um recorda de forma diferente, e interioriza o princípio de forma única e pessoal – pois que único, individual e irrepetível é cada indivíduo e a sua experiência de vida – seria um exercício de futilidade tentar-se exigir que o significado dos símbolos fosse sempre o mesmo para todos. De facto, nem tal seria proveitoso.

Uma das frequentes utilizações dos símbolos é como oportunidade e meio de autoanálise – e também por isso se diz da maçonaria ser especulativa – que permita a cada um determinar as suas próprias “asperezas” no sentido de as “polir”. Sendo as “rugosidades do espírito” diferentes de pessoa para pessoa – apesar da universalidade dos princípios, que podem aplicar-se a todos – cada um vê, sente e aplica o princípio a si mesmo de forma distinta da de todos os demais. Cada um pode, então, especulando, dar ao símbolo os significados que entenda, pois o símbolo é meramente instrumental – não tem nada de sagrado ou de “conspurcável” com este processo – para além de que atribuir novos significados a um símbolo não implica a perda dos significados mais convencionais, pelo que o diálogo sobre os mesmos continua a ser possível.

Dou-vos um exemplo que se passou comigo. Diz-se das lojas maçónicas serem “Lojas de S. João”. Mas de qual? A resposta convencional é dizer-se que de dois: de João Batista – conhecido pela sua retidão e verticalidade, implacável consigo mesmo e com os outros, a ponto de fazer com que lhe cortassem a cabeça – e de João Evangelista – apóstolo do amor, cultor da fraternidade, e promotor da tolerância. Ambos se celebram por volta dos solstícios – João Evangelista no de Verão, João Batista no de Inverno. Isto são as premissas. Os princípios a transmitir são os que foram expostos: o da retidão e verticalidade de espírito por um lado, e o do amor fraterno pelo outro. Estes significados são mais ou menos universais na maçonaria. Há quem refira, ainda, que os raios de sol no solstício de Verão estão no seu ponto mais próximo da vertical, e no solstício de Inverno no seu ponto mais próximo da horizontal. Partindo desta pista, ávido de explorar estes símbolos e de fazer boa figura ao apresentar a respetiva prancha, o aprendiz que eu era então não se ficou por aqui; procurou especular mais ainda. Notou que João Batista – o da Verticalidade – era celebrado por entre uma Luz predominantemente horizontal, e que João Evangelista – o do amor fraterno entre pares – o era quando a Luz Solar era mais vertical. Conclusão? “Devemos ser equilibrados e equilibrantes: retos e justos quando à nossa volta todos falem de fraternidade e tolerância, e tolerantes e fraternos quando insistam na aplicação dos princípios de forma implacável.”

São um significado e uma conclusão com alguma lógica? São – pelo menos, do meu ponto de vista. É um significado universalmente reconhecido? Não. E está certo? Ou está errado? Bom… para mim, parece-me certo, na medida em que foi instrumental para que aplicasse a mim mesmo os princípios referidos de forma mais eficaz. Para outros não resultará. Os símbolos são isso mesmo: instrumentos, meios, meras ferramentas coadjuvantes na prossecução de um objetivo maior. Aqui posso dizer: se da “adulteração” do significado “puro” e “convencional” do símbolo resultou  a melhor aplicação do princípio à minha vida tornando-me numa pessoa melhor, então – porque a ninguém prejudica o meu entendimento peculiar deste símbolo – o exercício foi profícuo. Se, para além disso, a alguém aproveitou para além de mim, então dou-me por muito satisfeito…

Autor: Paulo M.

Fonte: A Partir Pedra

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Definindo esoterismo de uma perspectiva maçônica

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Não é aquele que tem como única qualificação ter decorado o ritual de forma perfeita como um papagaio, mas sim aquele que, na medida em que o tempo, os meios e o talento permitirem, dedica o estudo ao esoterismo mais profundo da fraternidade.

Joseph E. Morcombe, Presidente, Biblioteca Maçônica da Grande Loja de Iowa, 1901 [1]

Esoterismo: a menção da palavra enche a mente de alguns com noções de verdades antigas e belas, e os inspira com curiosidade sobre o significado interno da Ordem. Para outros, o termo traz à mente palestras desagradáveis ​​e cansativas inundadas de interpretações insípidas, improváveis ​​e artificiais da Maçonaria. E para a maioria, é uma palavra que é simplesmente “quase” familiar, tendo algo a ver vagamente com misticismo e segredos maçônicos.

Embora a definição da palavra “esotérico” não esteja clara, parece que o interesse geral pelo esoterismo está crescendo. Irmãos que têm a sorte de pertencer a lojas em crescimento provavelmente falaram com candidatos recentes que prontamente expressaram interesse nas explicações esotéricas e filosóficas da Maçonaria. De repente, um elemento da vida maçônica que havia sido relegado à margem está retornando.

Claro, isso deixa os líderes maçônicos – pelo menos, aqueles que não desejam ignorar esse importante reavivamento de interesse – com o desafio de obter algum entendimento sobre, tanto para se relacionar de forma significativa com as motivações desses membros mais novos, como também quanto a incluir esses interesses na educação da Loja e nos esforços de formação maçônica, conforme apropriado. O objetivo aqui é dar uma definição ao termo, particularmente no que se refere à Maçonaria.

O que é esoterismo maçônico?

A palavra “esotérico” por si só significa simplesmente algo que é entendido apenas por um grupo interno selecionado ou escolhido. Coisas como conserto automotivo ou legislação tributária podem ser chamadas de esotéricas. Os Maçons usaram a palavra em um sentido diferente e mais tradicional. Acontece que o esoterismo não é nada novo. A própria palavra vem da palavra grega esôterikos, “coisa interior”, e é encontrada em muitos escritos antigos para se referir aos ensinamentos internos de um grupo filosófico ou espiritual.

Os maçons têm historicamente usado o termo de três maneiras, consistindo em:

  • Qualquer um dos elementos do ritual maçônico ou palestras que são considerados secretos (ou seja, assuntos reservados para os confins de uma loja fechada, ou material que não é “monitorial” (não está contido em um Monitor ou Ritual), como os maçons americanos podem dizer);
  • Qualquer um dos significados que parecem estar implícitos, mais por desígnio do que por acidente, dentro do simbolismo maçônico, ritual e trabalhos;
  • Qualquer um dos assuntos geralmente incluídos sob a rubrica de “Esoterismo Ocidental”, incluindo cabala, alquimia, hermetismo e outras atividades místicas que ganharam popularidade durante o período da Renascença.

Considerar cada um deles com um pouco mais de detalhe nos permitirá lançar uma luz valiosa sobre o tópico e nos dará alguma ideia sobre como explorar de forma responsável os assuntos esotéricos no futuro.

Questão Um: A Função Exclusiva Social
(O Esotérico como algo Privado)

. . . aquele hieróglifo brilhante, que ninguém, a não ser artesãos, jamais viram.

Burns [2]

No primeiro sentido, a palavra esotérico é usada de uma forma um tanto restrita para se referir aos elementos da obra maçônica que não são exibidos fora de uma loja fechada. Nesta definição, “esotérico” é uma condição, denotando circunstâncias privadas. É a localização pretendida de algo, ao invés de seu conteúdo, que o torna esotérico sob essa perspectiva. Obviamente, a implicação é clara de que as coisas reservadas à comunicação privada são consideradas dessa forma por causa de sua importância.

Por exemplo, um dos primeiros usos do termo esôterikos em referência à tradição espiritual está no ensaio Sobre a Vida Pitagórica de Jâmblico (On the Pythagorean Life de Jamblichus) (250-325 DC), onde é dito que os alunos da escola pitagórica primeiro tiveram que ouvir a seu Mestre por trás de um véu. Aqueles que passaram pelo período probatório foram chamados de esôterikoi e tiveram permissão para sentar-se dentro do véu e ver Pitágoras conforme ele os ensinava[3]. William Preston, o autor predominante das palestras usadas na Maçonaria americana, refere-se a esta parte do texto de Jâmblico diretamente quando ele observou em 1801 que o antigo Mestre “os dividiu em classes esotéricas e exotéricas: à primeira ele confiou as doutrinas mais sublimes e secretas, à última as mais simples e populares”[4]. Este é um dos primeiros usos maçônicos do termo esotérico, e informou como os escritores maçônicos posteriores iriam conceber a noção. Claro, é também um dos primeiros exemplos da palavra “exotérico”, que significa “aqueles de fora”.

Este significado simples de “esotérico” como relacionado à informação privilegiada para membros se tornou amplamente adotado por toda a fraternidade: é neste sentido fundamental de exclusão social que o termo é comumente usado em regulamentos de Grandes Lojas hoje.

Questão Dois: Textual-Interpretativo
(O ensino esotérico como implícito)

Aquele que corre não se importaria em dar atenção cuidadosa ao desenvolvimento da ideia; e quem para e pensa, faz melhor o esforço pessoal e, assim, obtêm todo o bem para passá-lo a outra pessoa, rejeitando a sugestão.

T. M. Stewart [5]

Um conceito mais complexo do esotérico está intimamente entrelaçado com a primeira questão e se estende naturalmente a partir dela. Aqui, o foco está em significados ocultos que podem estar disponíveis dentro da tradição.

Assim, o arranjo físico das classes exotéricas e esotéricas torna-se um símbolo da realidade da situação, que não tem nada a ver com a proximidade física (ou seja, “Estamos dentro ou fora do véu?”), mas sobre o insight e a compreensão (ou seja, “Nós ‘entendemos’ ou não?”). Ela pode ser descrita como uma questão interpretativo textual.

Por ter sido adotado nos próprios trabalhos de graduação, o ensino mais duradouro da Arte imbuída de significado textual esotérico que deve ser interpretado para ser compreendido é esta seção da primeira edição de William Preston das Ilustrações da Maçonaria, publicada em 1772:

O lapso de tempo, a mão impiedosa da ignorância e as devastações da guerra devastaram e destruíram muitos monumentos valiosos da antiguidade. Mesmo o templo do Rei Salomão, tão espaçoso e magnífico, e construído por tantos artistas famosos, ainda estava em ruínas e não escapou da devastação implacável da força bárbara. A Maçonaria, no entanto, ainda conseguiu sobreviver. O ouvido atento recebe o som da língua instruída, e seus sagrados mistérios estão alojados com segurança no repositório de seios fiéis. As ferramentas e implementos da arquitetura, símbolos os mais expressivos! imprima na memória verdades sábias e sérias e transmitidas intactas, através da sucessão de eras, os excelentes princípios desta instituição. [6]

Este famoso parágrafo, tão familiar a todos os Maçons de língua inglesa (com pequenas variações), deixa claro que as “verdades sérias e sábias” da Maçonaria foram capazes de sobreviver apesar das hostilidades enraizadas na ignorância e na barbárie. Enquanto as estruturas externas – os edifícios e monumentos criados pelos lendários Maçons antigos – foram destruídos, os ensinamentos internos sobreviveram porque eram comunicáveis ​​com segurança usando simbolismo expressivo anexado a ferramentas e implementos inócuos, combinado com uma tradição oral. Diz-se que esse método é tão eficaz que os ensinamentos da Maçonaria escaparam dos esforços implacáveis ​​de seus oponentes e foram transmitidos “intactos”. [7]

Esta passagem de nossa tradição ecoa de forma impressionante em uma das principais descobertas do filósofo político do século XX, Leo Strauss, que estudou extensivamente os modos esotéricos de expressão:

A perseguição … dá origem a uma técnica peculiar de escrita e, com isso, a um tipo peculiar de literatura, em que a verdade sobre todas as coisas cruciais é apresentada exclusivamente nas entrelinhas. Essa literatura é dirigida, não a todos os leitores, mas apenas a leitores confiáveis ​​e inteligentes … O fato que torna esta literatura possível pode ser expresso no axioma de que homens irrefletidos são leitores descuidados, e apenas homens pensantes são leitores cuidadosos. [8]

O fato de que o encapsulamento de Preston da teoria Maçônica da transmissão é formulado em termos lendários e cita a perseguição, no exemplo arquetípico, da destruição e profanação do templo de Jerusalém pelos babilônios, não subtrai de forma alguma a realidade que a Maçonaria aqui “confessa” que o uso do simbolismo é para proteger efetivamente os “princípios excelentes” de mãos implacáveis.

Mas Preston imaginou duas classes de “leitores” ou iniciados – alguns que “entenderiam” enquanto outros não? Isso parece claro na forma original de seu trabalho de Aprendiz Admitido:

  • P: Introduzido na Câmara Interna, o que você descobriu?
  • R: O Mestre e seus Irmãos, todos zelosamente empregados na investigação da ascensão, progresso e efeito do aprendizado hieroglífico [isto é, simbólico].
  • P: O que aconteceu?
  • R: Três observações criteriosas foram feitas.
  • P: A primeira observação?
  • R: Que era dever de cada Maçom fazer progresso diário na arte; como nenhum fim poderia ser mais nobre do que a busca da virtude e benevolência: nenhum motivo mais atraente do que a prática da honra e da justiça, ou qualquer instrução mais benéfica do que o delineamento preciso de símbolos que tendem a melhorar e embelezar a mente.
  • P: A segunda observação?
  • R: Esses objetos, que particularmente chamam a atenção, irão atrair mais imediatamente a atenção e imprimir na memória verdades solenes.
  • P: A terceira observação?
  • R: Que os maçons adotaram um modo de transmitir as instruções por alegorias e de preservar seus princípios e mistérios secretos e invioláveis; nunca permitindo que eles estivessem ao alcance de iniciados inexperientes, dos quais não poderiam ter sido recebidos com a devida veneração. [9]

Observe que o modo simbólico de instrução é descrito como sendo adotado especificamente para garantir que os significados internos sejam ocultados não de estranhos, como se poderia esperar, mas de novos iniciados inexperientes – isto é, pessoas inseridas no meio mas sem capacitação. Preston define a Maçonaria como “um sistema regular de moralidade concebido em uma linha de alegoria interessante, que prontamente revela suas belezas para o investigador cândido e questionador[10]. Que ele pretende traçar uma linha entre aqueles que percebem as mensagens esotéricas e aqueles que não o fazem, isso fica ainda mais claro em seu texto do Grau de Companheiro de Ofício, quando ele argumenta que “De acordo com o progresso que fazemos, limitamos ou estendemos nossas investigações; e, na proporção de nossos talentos, alcançamos um grau maior ou menor de perfeição[11].

E esta expressão esotérica não foi uma inovação de Preston. Uma canção maçônica de 1731 diz: “Nem forçadas e nem oferecidas como ouro/Pode os Maçons desvendar as suas verdades”, e uma nota de rodapé anexada a esta passagem explica que “verdades sublimes não são obtidas senão por um estudo correto, e um esforço para descobrir o verdadeiro sentido, que estando sempre velado, é sagrado e, portanto, sacrílico”[12]. Mesmo tão cedo – menos de quinze anos após a fundação da primeira Grande Loja – os segredos da Maçonaria são distintos dos modos de reconhecimento e particularidades do ritual e, em vez disso, são conceituados como assuntos “sublimes”, “sagrados” e “sacrílicos” que são “velados” e estão disponíveis apenas para aqueles que realizam o “devido estudo” (em oposição a um estudo falso) e, portanto, descobrir o “sentido real” (em oposição a um falso)[13].

A ideia de uma verdade profunda oculta nas palavras faladas ou escritas abertamente é antiga. Plutarco disse: “Uma das melhores palavras dos filósofos é que aqueles que não aprenderam a interpretar as palavras em seu sentido correto estão fadados a se dar mal, tanto em seus estudos quanto na prática”[14]. E séculos antes ainda, um famoso provérbio ensinou que “É a glória de Deus ocultar um assunto e a glória dos reis revelar o mesmo”[15]. Este capítulo de Provérbios tem sido frequentemente considerado como relacionado com a transmissão esotérica; mais famosa pelo filósofo medieval Maimônides[16]. E o que era verdade sobre a palavra escrita também foi dito sobre o simbolismo visual. Em referência à miríade de livros ilustrados cheios de gravuras emblemáticas que eram tão populares nos últimos anos do período renascentista, David Stevenson diz:

[Palavras] nunca poderiam capturar o significado completo da imagem, pois foi sustentado “que os emblemas contêm um tipo de conhecimento que não pode ser encontrado no discurso”. As imagens encapsularam ideias platônicas subjacentes e, se estudadas, transmitem uma sabedoria profunda que não poderia ser expressa em palavras. Mas os símbolos nunca poderiam ser totalmente compreendidos, pois eles mantêm “uma plenitude de significados que a meditação e o estudo nunca podem revelar mais do que parcialmente” … Paradoxalmente, o segredo e a obscuridade se tornam uma parte essencial da grande luta para desvendar segredos. A linguagem simples e literal é muito superficial, pobre e vulgar para transmitir grandes verdades. [17]

É fácil ver como o esoterismo deste segundo tipo, o tipo textual-interpretativo, incorpora uma compreensão mais rica do segredo maçônico ao reconhecer nossa habilidade de perceber o significado além do sentido literal de palavras, objetos e imagens. Profundamente ligado aos graus e aos próprios símbolos, este é o esoterismo maçônico em sua forma essencial e talvez a mais importante: o processo de interpretar o simbolismo explícito e a linguagem da Arte para compreender suas mensagens implícitas. É o tipo que Antoine Faivre – que já foi catedrático de estudos esotéricos da Sorbonne – tipificou como um “segredo aberto”, que está disponível por meio de “um esforço pessoal de elucidação progressiva em vários níveis sucessivos”[18]. A tradição nos ensina que a exploração desses níveis são parte do dever de todo maçom.

Questão Três: Sistemático-Tradicional
(Esoterismo como um “ismo” ou Corpo de Tradição)

Adão, nosso primeiro Pai, criado à Imagem de Deus, o grande Arquiteto do Universo, deve ter tido as Ciências Liberais, particularmente a Geometria, escritas em seu Coração; pois mesmo desde a queda, encontramos os princípios dela nos corações de sua descendência. . . .

Constituições de 1723 [19]

“Esoterismo” também é usado em um terceiro sentido: uma dimensão tradicional sistemática. Desta forma, o esoterismo pode funcionar como um termo guarda-chuva para se referir a qualquer número de disciplinas espirituais tradicionalmente secretas ou altamente exclusivas que existiram dentro ou ao lado de correntes filosóficas e religiosas mais populares. Isso inclui certas formas de misticismo cristão (como o rosacrucianismo e o martinismo), cabalismo e a tradição da Merkabah na tradição judaica, alquimia quando vista como uma prática transformadora, pitagorismo, hermetismo e neoplatonismo[20]. Muitos dos expositores clássicos da filosofia maçônica assumiram a posição de que a Maçonaria representa a herdeira linear dessas tradições ou uma tentativa de redescobri-las[21]. Por uma questão de clareza, irei me referir a esta terceira definição como Esoterismo (em letra maiúscula), pois é menos uma condição (no primeiro sentido) ou um estilo (no segundo sentido), mas um corpo de ideias bastante coerente.

O esoterismo ocidental começou a se aglutinar na Renascença por meio dos escritos de filósofos como Marsilio Ficino, Pico della Mirandola e Judah Leon Abravanel, que mais tarde seriam conhecidos como os Humanistas. Esses escritores perceberam uma profunda interconexão entre as filosofias judaica, helenística e cristã, e consideraram essa raiz comum como uma sabedoria primordial que eventualmente seria denominada filosofia perene (philosophia perennis), “a filosofia atemporal”. Mas as tradições que compunham esse esoterismo ocidental eram muito mais antigas do que a Renascença. A cabala judaica havia alcançado seu estágio clássico, na forma do Livro do Zohar, dois séculos antes de Pico introduzir a palavra “cabalista” na linguagem europeia[22]. Os elementos neoplatônicos eram ainda mais antigos e datavam do final da antiguidade[23].

Embora uma linhagem direta com a tradição antiga permaneça historicamente inverificável, o principal historiador maçônico David Stevenson documentou a existência de várias influências herméticas e cabalísticas entre os primeiros maçons, datando de pelo menos o final dos anos 1500, quando William Schaw

reorganizou os remanescentes da antiga organização maçônica na Escócia em um sistema de lojas secretas e… injetou nessas lojas influências herméticas. Outros aspectos do pensamento da Renascença… levaram à conclusão de que a Ordem Maçônica era muito superior a todas as outras, com um lugar central no avanço do conhecimento – e é claro que o conhecimento e a iluminação espiritual estavam inextricavelmente ligados. [24]

Esta interconexão de ciência e espírito sempre foi um carimbo da literatura maçônica. Do famoso Poema Regius de 1420 às Antigas Obrigações de 1600, da história lendária compilada por James Anderson em 1723 aos textos de palestras rituais que ecoariam os mesmos temas, a Maçonaria especulativa tradicionalmente vinculou o Ofício do Maçom à sabedoria primordial. Este tema sempre foi popular entre os escritores maçônicos. James Anderson, Laurence Dermott, William Hutchinson, William Preston, George Oliver, Albert Mackey, Albert Pike, J.S.M. Ward e W.L. Wilmshurst inseriram essa noção em suas estruturas filosóficas. Anderson colocou de forma curiosa com sua imagem das ciências liberais sendo “escritas” no coração de Adão e transmitidas e aprimoradas ao longo da história até serem herdadas pelos maçons de Londres[25]. Pike atualizou este conceito para o século XIX quando argumentou que:

A Maçonaria é a legítima sucessora [dos mistérios] – desde os primeiros tempos a custódia e depositária das grandes verdades filosóficas e religiosas, desconhecida para o mundo em geral, e transmitida de uma era a outra por uma corrente ininterrupta de tradição, incorporada em símbolos, emblemas e alegorias. [26]

Muitos estudiosos têm se contentado em rejeitar aqueles que repetem a história tradicional como crédulos ou acríticos, mas talvez eles não estejam entendendo. Há mais coisas envolvidas aqui do que uma lista de reivindicações históricas a serem aceitas ou rejeitadas; existe uma filosofia da história, uma visão de mundo enraizada em conceitos da filosofia perene. A atração por esses conceitos transcende noções simplistas de “Adão, o Maçom” e se dirige às teorias do Esoterismo Ocidental sobre a dignidade humana e a continuidade da sabedoria devido à sua localização inata no homem original. Através da lenda do Templo de Salomão, essa qualidade inata tornou-se conectada ao esforço externo, e a busca histórica da Ordem por melhorias na arquitetura foi sacralizada e investida de implicações filosóficas.

A popularidade do esoterismo ocidental entre alguns dos candidatos maçônicos de hoje não pode ser ignorada, nem deveria. A verdade literal desses mitos não vem ao caso. Em sua maioria, aqueles que estudam o esoterismo ocidental hoje não acreditam nas histórias lendárias, palavra por palavra. Em vez disso, eles tendem a se sentir profundamente atraídos pelos valores edificantes da filosofia perene – valores que nossos antepassados ​​maçônicos frequentemente compreendiam e promoviam. Este tipo de Esoterismo tem um apelo especial para muitos investigadores sérios em nosso mundo moderno porque oferece mais do que respostas superficiais e exige mais do que um compromisso superficial. Tem uma história venerável como parte de nossa cultura maçônica. Certamente, não é necessário aceitá-lo ou aderir a ele; mas talvez não devamos mais negar sua existência, nem o caracterizar como insignificante.

Esoterismo e o chamado da iniciação

Lá está a majestosa árvore diante de você, suas raízes antigas penetrando profundamente no solo do tempo, e suas folhas e galhos cobrindo com sua sombra poderosa todo o puro e bom de cada clima e país que virá abaixo deles. Você vai se reclinar ingloriamente sob aquela sombra ampla, ou se apoiar desamparadamente em seu tronco maciço e venerável, nem se esforçar para colher as frutas suculentas e vivificantes que pendem em cachos tentadores de seus ramos?

Freemasons ‘Monthly Magazine, 1863 [27]

À medida que o interesse aberto nas abordagens esotéricas da Maçonaria continua a aumentar, é reconfortante compreender que, longe de ser uma ameaça à fraternidade, esses interesses faziam parte – até certo grau, todos devem garantir – do próprio fundamento da Arte. Isso é verdade em todos os três sentidos da palavra, conforme a exploramos. A Maçonaria utiliza conteúdo esotérico porque alguns aspectos da Arte são privados.

A Maçonaria usa simbolismo e uma linguagem que só pode ser compreendida de forma gradual e variada. E pelo menos alguns maçons influentes estavam cientes, estudaram e adotaram certas teorias históricas do que hoje é chamado de Esoterismo Ocidental.

É verdade que – entre alguns círculos – uma abordagem esotérica tem um certo estigma a superar[28]. Mas não devemos entregar nossa herança filosófica por tão pouco. Nossos novos membros não estão reclamando que há filosofia demais na Maçonaria, ela é observada com mais frequência dizendo que se esperavam mais.

É hora de reabilitar esta palavra, “esotérico”? Pode não ser um passo tão difícil de dar. Afinal, a menos que acreditemos que cada pessoa compreende plena e completamente os graus no momento em que os experimenta pela primeira vez, já estamos na vizinhança geral de uma abordagem esotérica – porque estamos efetivamente dizendo: “Há mais aí, continue procurando.” Esse é um bom conselho para o Aprendiz mais jovem, o Mestre Instalado mais sábio e todos os demais. Estamos todos empenhados em um trabalho individual que deve ser executado em nossas próprias mentes, um processo profundamente pessoal de desenvolvimento gradual por meio de níveis progressivos de significado. Como William Preston descreveu nosso trabalho de forma tão poética:

O conhecimento deve ser obtido gradativamente, e não está em todos os lugares para ser encontrado. A sabedoria busca a sombra secreta, a cela solitária projetada para a contemplação; lá está ela entronizada, entregando seus oráculos sagrados: lá vamos buscá-la e perseguir a verdadeira bem-aventurança; pois embora a passagem seja difícil, quanto mais a buscamos, mais fácil se tornará. [29]

Novas perspectivas de compreensão maçônica são abertas quando abraçamos o fato de que o esoterismo é um elemento histórico da Arte, totalmente de acordo com o desígnio clássico da Ordem. Para muitos, um engajamento esotérico representa um dever maçônico vital. Eles acreditam que a Maçonaria hoje só tem a ganhar com uma abordagem esotérica revigorada que vê a rica tradição iniciática da Arte como o que mais seguramente foi projetada para ser: “um objeto de contemplação, que amplia a mente e expande todos os seus poderes; um tema inesgotável, sempre novo e sempre interessante”[30].

Era uma vez um homem que vivia nas montanhas e era um estranho à civilização – ele plantava trigo e comia os grãos crus. Então ele desceu para a cidade. Um bom pão foi servido a ele. “O que é isso?” ele perguntou. “Pão, para comer!” eles disseram. Ele comeu e ficou satisfeito. Ele perguntou: “De que é feito isso?” e eles lhe disseram que era trigo. Em seguida, foi servido um bolo fino amassado em óleo. Ele provou e perguntou: “E agora isso, do que isso é feito?” Mais uma vez, eles disseram: “Trigo”. Por fim, trouxeram-lhe um doce saboroso em azeite e mel, digno de um rei. Ele perguntou novamente e obteve a mesma resposta. “Bem”, ele então se gabou, “estou acima dessas coisas; Eu como apenas o trigo que é a base de todos eles.” Por causa de sua atitude ignorante, ele permaneceria para sempre um estranho a essas delícias, que se perderam nele. É assim com qualquer pessoa que aprende os princípios básicos e depois para – que não consegue se dar conta das delícias que derivam da consideração e aplicação mais profundas desses princípios.

Zohar 2: 176 A – B

Autor: Shawn Ever, M.A.
Tradução: Rodrigo Menezes

Fonte: Ritos & Rituais

Uma versão anterior deste artigo apareceu em O Jornal da Sociedade Maçônica (The Journal of the Masonic Society), 2 (2008): pp 16–21.

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Notas

[1] – Joseph E. Morcombe, “Relatório do Comitê da Biblioteca da Grande Loja de Iowa,” Anais da Grande Loja de Iowa 17 (1900–01): p. 146.

[2] – De Despedida aos Companheiros da Loja de Santo Jaime (“The Farewell to the Brethren of St. James’ Lodge ”) (1786).

[3] – Sobre a vida pitagórica 17.72. A palavra “esoterick” entrou na língua inglesa em 1701 por meio de um resumo desta passagem na história seminal da filosofia de Thomas Stanley: “Os auditores de Pitágoras (quero dizer que pertenciam à família) eram de dois tipos, Exoterick e Esoterick: os Exotericks eram aqueles que estavam sob liberdade condicional, que se bem desempenhassem, eram admitidos como Esotericks. Pois, daqueles que foram a Pitágoras, ele não admitiu todos, mas apenas aqueles de quem gostava: primeiro, por escolha; e a seguir, por testes. ” (372) Para um compêndio útil de ensinamentos pitagóricos, incluindo o texto de Jâmblico, consulte A Cadeia Dourada de Algis Uždavinys: Uma Antologia da Filosofia de Pitágoras e Platônica (The Golden Chain: An Anthology of Pythagorean and Platonic Philosophy) (Bloomington, Ind: Conhecimento do Mundo, 2004).

[4] – William Preston, Ilustrações da Maçonaria (Illustrations of Masonry). (Londres: Wilkie, 1801), p. 122.

[5] – Thomas Milton Stewart, Ensinamentos Simbólicos, ou Maçônicos e sua Mensagem (Symbolic Teaching, or Masonry and its Message) (Cincinnati: Stewart & Kidd, 1917), p. 100.

[6] – Preston, Ilustrações (edição de 1772), 13–4.

[7] – Cfr. Albert Pike, Moral e Dogma (Morals and Dogma) (Charleston, SC: Supremo Conselho da Jurisdição do Sul dos Estados Unidos, 1871), onde se afirma não apenas que o modo esotérico de ensino foi adotado “para evitar perseguição”, mas ainda porque os símbolos provaram ser tão duráveis, a Maçonaria “sorri com os esforços insignificantes… para esmagá-la por excomunhão e interdição”. (211) Os símbolos foram escolhidos “não para revelar, mas para ocultar” (106) e, portanto, “Aquele que deseja compreender … deve ler, estudar, refletir, digerir e discriminar.” (107) “Aquele que deseja se tornar um Maçom realizado não deve se contentar apenas em ouvir, ou mesmo entender, os textos; ele deve, auxiliado por eles, e eles tendo, por assim dizer, traçado o caminho para ele, estudar, interpretar e desenvolver esses símbolos para si mesmo.” (22-3)

[8] – Leo Strauss, Persecution and the Art of Writing (Nova York: The Free Press, 1952), 25.

[9] – William Preston conforme citado em Colin F.W. Dyer, William Preston and His Work (Shepperton, UK: Lewis Masonic, 1987), 189. Ênfase acrescentada. Essas palavras foram importadas o mais tardar em 1797 para a Maçonaria americana; cf. linguagem muito semelhante em Thomas Smith Webb, Monitor da Franco Maçonaria (Freemason’s Monitor) ou Ilustrações de Maçonaria (Albany: Spencer & Webb, 1797), 51.

[10] – Trabalho do Grau de de Aprendiz original de Preston, conforme citado em Dyer, William Preston, 207 (ênfase adicionada); cf. linguagem semelhante em Webb, Monitor da Franco Maçonaria, 57.

[11] – Citado em Dyer, William Preston, 212. Ênfase adicionada. Em vários pontos de suas palestras, Preston parece identificar o membro que tem consciência esotérica usando termos como “maçom contemplativo”, “artesão diligente”, “estudioso realizado”, “artista experiente” e “artesão diligente”.

[12] – Extraído de “The New Fairies,” em Uma Curiosa Coleção das Canções Mais Famosas em Honra à Maçonaria (Londres: Creake and Cole, 1731).

[13] – Essa ênfase na responsabilidade do indivíduo de aprender e perceber corretamente os ensinamentos secretos por meio de um processo de iluminação é comparada à Maçonaria Americana em 1734. Ver S. Eyer, Os Segredos Essenciais da Maçonaria: a Visão de uma Oração da Maçonaria Americana de 1734 (“’The Essential Secrets of Masonry’: Insight from an American Masonic Oration of 1734),” Em Explorando a Maçonaria da Grande Loja: Estudos em Honra ao Tricentenário do Estabelecimento da Grande Loja da Inglaterra (Washington, DC: Plumbstone, 2017), 152–215.

[14] – Plutarco, Moralia 379C.

[15] – Provérbios 25:2.

[16] – Veja especialmente seu Guia da Perplexidade 1:6B-7A e 2.65B-66B. Albert Pike, que estava familiarizado com o Guia, continuou particularmente apaixonado por este provérbio, usando-o (em latim) para concluir seu famoso Moral e Dogma.

[17] – David Stevenson, As Origens da Franco Maçonaria: O Século da Escócia, 1590-1710 (The Origins of Freemasonry: Scotland’s Century, 1590–1710) (Cambridge: Cambridge University Press, 1988), 80–1.

[18] – Antione Faivre, Acesso ao Esoterismo Ocidental (Access to Western Esotericism) (Albany: State University of New York Press, 1994), 5.

[19] – James Anderson, As Constituições dos Franco Maçons (Londres: William Hunter, 1723), 1.

[20] – Um resumo de propostas úteis para uma definição precisa de Esoterismo pode ser encontrado no artigo de Wouter J. Hanegraaff, Sobre a Construção das Tradições Esotéricas na Sociedade Ocidental e a Ciência da Religição (“On the Construction of ‘Esoteric Traditions’” em Western Esotericism and the Science of Religion”), editado por A. Faivre e W. Hanegraaff (Leuven: Peeters, 1998), 11–61; veja também a introdução do mesmo autor sobre esoterismo em O Dicionário de Gnose e Esoterismo Ocidental (The Dictionary of Gnosis and Western Esotericism) (Leiden: Brill, 2006).

[21] – Curiosamente, tanto Albert Mackey quanto Albert Pike adotaram a primeira visão em seus trabalhos anteriores, enquanto mais tarde chegavam a posições mais próximas do último; apesar disso, eles são frequentemente descartados como acríticos. O oposto é realmente verdadeiro, pois eles estavam dispostos a reexaminar suas crenças profundamente arraigadas e amplamente publicadas.

[22] – Veja a citação do Zohar após a conclusão deste artigo para um exemplo vívido do esoterismo judaico do século XIII. Para a invenção das palavras latinas cabalistæ e cabalici por Pico, consulte Iohannes Reuchlin, De Arte Cabalística (De Arte Cabalistica) (1516), 1Q.

[23] – Mesmo a noção de uma “filosofia atemporal” subjacente a todas as religiões do mundo pode ser encontrada já no primeiro século AEC, nos escritos de Filo de Alexandria, um judeu helenizado que vivia no Egito. Cf. Wilhelm Schmidt-Biggemann, Filosofia Perene: Esboços Históricos da Espiritualidade Ocidental no Pensamento Antigo, Medieval e Moderno (Philosophia Perennis: Historical Outlines of Wstern Spirituality in Ancient, Medieval and Early Modern Thought) (Dordrecht: Springer, 2004), xiv.

[24] – Stevenson, Origens, 102.

[25] – Ver Anderson, Constituições, 1-48.

[26] – Pike, Moral e Dogma, 210. Pike eventualmente rejeitou a historicidade de uma linhagem ininterrupta, embora a ideia permanecesse parte do lendário ensino dos graus do Rito Escocês que ele propagou.

[27] – Simbolismo e Maçonaria (“Symbolism and Freemasonry”), Freemasons ’Monthly Magazine 22 (1863): 242.

[28] – É frequentemente observado que alguns que se autodenominam “esoteristas” são conhecidos por interpretações superficiais e tendenciosas. Parte da dificuldade aqui pode estar no fato de que muitos abraçam o esoterismo da terceira questão enquanto negligenciam o esoterismo do segundo tipo – ou mesmo confundem os dois. De fato, alguns abordam o Esoterismo Ocidental estudando as conclusões e ensinamentos publicados dos esotéricos do passado, às vezes enquanto desconectados das raízes tradicionais que formam a base do Esoterismo Ocidental – às vezes até rejeitando-os completamente. Isso pode resultar em interpretações desajeitadas, aparentemente inválidas e muitas vezes anacrônicas. No entanto, tal abordagem não deve ser identificada com a “investigação sincera e laboriosa” ou “estudo correto” recomendado nas primeiras fontes maçônicas como citadas aqui.

[29] – Preston, Ilustrações (edição de 1772), 86-7. Preston derivou isso de uma passagem quase idêntica de um discurso proferido por Charles Leslie ao Vernon Kilwinning Lodge em Edimburgo, 15 de maio de 1741, cujo texto foi publicado em The Free Masons Pocket-Companion (Edimburgo, 1765), 162. Esta passagem forma a base da “admoestação amigável” ou obrigação de abertura encontrada em variações do ritual maçônico oficial; por exemplo, James Harper, Josiah Randall & Thomas F. Gordon (Eds.), The Ahiman Rezon (Filadélfia: Grande Loja da Pensilvânia, 1825), 188–89.

[30] – Obrigações do Grau de Aprendiz original de Preston, citado em Dyer, William Preston, 188.

Os símbolos na Maçonaria: o ensinar e o aprender

ARTE REAL - TRABALHOS MAÇÔNICOS: SIMBOLOGIA MAÇÔNICA

É conhecido que a maçonaria recorre extensivamente a símbolos como forma de transmissão do conhecimento. É evidente que esses símbolos terão algum significado. O que, todavia, é menos evidente, é que não há significados universalmente aceitos ou impostos para os símbolos maçônicos. O que um interpreta de um modo, outro pode interpretar de modo diverso. Assim sendo, de que serve a simbologia na maçonaria? A que aproveita essa “plasticidade” nos significados dos símbolos? E como é que se pode usar os símbolos como meios de comunicação do seu significado subjacente, se esse significado pode variar de pessoa para pessoa?

Para o entendermos, temos que recuar no tempo. Bem antes da maçonaria especulativa ter surgido – o que sucedeu, oficialmente, em 1717 – já os maçons operativos se socorriam de símbolos para se recordarem dos ensinamentos que os seus mestres lhes haviam transmitido. De fato, muitos dos trabalhadores da pedra não sabiam ler nem escrever, pelo que se socorriam de pictogramas e representações de objetos para o efeito. Os símbolos não eram propriamente secretos; o seu significado – as técnicas a que os mesmos se referiam – é que era apenas revelado a alguns. A maçonaria especulativa veio a adotar esse método de transmissão de conhecimento. Assim, hoje como outrora, os símbolos são auxiliares de memória, instrumentos de suporte ao conhecimento, verdadeiras mnemónicas- diríamos hoje: são cábulas – que nos permitem recordar, evocar e especular.

Mas se o seu significado pode ser individualizado, como é que o conhecimento passa sem se perder, sem se desvanecer, sem se espraiar numa mar de semânticas? De forma muito simples: para tudo há um início, e o método consiste, precisamente, em dar a cada um os pontos de partida, sem estabelecer qualquer ponto de chegada… Assim, a um Aprendiz é, desde logo, ensinado o significado comum de vários símbolos: o esquadro, o prumo, o nível, o mosaico bicolor do chão dos templos, a pedra bruta, a pedra polida, entre outros. É das poucas ocasiões que, em maçonaria, alguma coisa é verdadeiramente ensinada, e mesmo aí os significados gerais são dados com parcimônia de explicações e de forma sucinta e concisa. A cada um é dito, então, que deverá procurar interpretar cada símbolo de forma pessoal, podendo quer aplicar o significado original, quer levá-lo até onde o deseje. E é esse o trabalho do Aprendiz: estudar os símbolos, construir um significado em torno dos mesmos, e aplicá-lo a si mesmo.

E como se mantém um denominador comum? Quando um maçom se refere ao prumo, os demais sabem que se refere à retidão moral, à integridade, à verticalidade de caráter – aquilo que ouviu quando, ainda Aprendiz, lhe “apresentaram” os símbolos. Contudo, mais tarde cada um irá interiorizar a seu jeito o que estas palavras significam. O que será sinal de caráter para um poderá ser duvidoso para outro; a nenhum, porém, é imposto qualquer significado universal. E porquê? Porque, se a maçonaria se destina a tornar cada homem num homem melhor, deve fazê-lo dentro do absoluto respeito pela sua liberdade. Por isso se diz que em maçonaria tudo se aprende e nada se ensina, no sentido de que cada um deve procurar os seus próprios ensinamentos sem esperar que lhos facultem. Cada um deverá poder procurar, no mais íntimo de si, o que quer fazer dos princípios que lhe são transmitidos: se quer segui-los ou ignorá-los, quais aqueles a que vai dar maior preponderância, e até onde vai levar esse ânimo de se superar. E é por tudo isto que, sendo essa luta de cada homem consigo mesmo algo de mais único do que uma impressão digital, a liberdade individual de interpretação se impõe sobre qualquer eventual tentativa de normalização do significado dos símbolos.

Autor: Paulo M.

Fonte: A Partir Pedra

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A integração do Aprendiz (I)

O Aprendiz – Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

Terminada a Cerimônia de Iniciação, começa de imediato o importante capítulo da integração do novo Aprendiz. Em bom rigor, essa integração tem já início no decorrer da própria Cerimônia de Iniciação. Mas disso, quase de certeza, não tem o novo Aprendiz consciência. Porventura, de tal se aperceberá (muito) mais tarde, quando, já completamente integrado, rememorar sua vida maçónica.

A Maçonaria organiza-se essencialmente em Lojas, grupos de maçons com ampla autonomia – mas estrita convergência de princípios -, que cooperam no aperfeiçoamento individual de cada um. A integração de um novel Aprendiz na Maçonaria corresponde, assim, à integração na Loja que o acolhe, no grupo de que passa a ser mais um participante.

Essa integração ocorre mediante um processo com dois sentidos: depende do esforço e da atuação da Loja perante o novo Aprendiz, mas também só é bem sucedida através da conduta e do posicionamento deste em relação à Loja.

Ao integrar um novo elemento, desconhecedor de muitas das idiossincrasias da realidade a que se juntou, a Loja, enquanto grupo, e cada um dos seus obreiros, individualmente, devem ter presente que essa transição é um processo de delicado equilíbrio: o novo elemento tem a categoria de Aprendiz, em sinal de que muito tem de aprender, no confronto e com o apoio dos mais antigos, mas deve ser, só pode ser, é, tratado num plano de estrita Igualdade com os demais membros da Loja; o novo Irmão é recebido com toda a afabilidade e familiaridade, mas deve ser, só pode ser, é, tratado com pleno e integral respeito da sua personalidade, da sua privacidade; o novo Aprendiz passa a dispor de um método de formação, de uma panóplia de conhecimentos, de um conjunto de ensinamentos e valores que lhe são relembrados, mas deve ser, só pode ser, é, respeitado na sua individualidade, nas suas escolhas, no seu pensamento, tudo se lhe facultando, nada se lhe impondo.

A integração de um novo elemento numa Loja não ocorre através do ensino àquele do que esta é; processa-se através da aprendizagem por ele dessa realidade. A Maçonaria não se ensina – aprende-se! Em Maçonaria, nada se impõe, tudo, desde que conforme aos seus princípios essenciais, se aceita. Em Maçonaria, não há interpretações ou pensamentos certos ou errados, e muito menos únicos. Em Maçonaria o pensamento individual, a crença de cada um, são integralmente respeitados e a diversidade é encarada como uma riqueza para o conjunto. A integração de um novo maçom na Loja, consequentemente, é um processo que deve ser, só pode ser, é, efetuado no pleno respeito da individualidade, da personalidade, das características, do novo elemento. Individualidade, personalidade e características que, juntando-se às que já existem no grupo, o enriquecem, o fortalecem, o diversificam, enfim, o melhoram.

Os maçons gostam de dizer que a Maçonaria pega em homens bons e fá-los melhores. Mas a inversa também é verdadeira: a integração bem feita, no respeito da individualidade do novo elemento, no grupo, na Loja, faz com que esse homem bom torne a Maçonaria melhor! Qualquer dessas melhorias ocorre naturalmente: não é a Loja que melhora o novo maçom – é este que se aperfeiçoa, no confronto com seus pares, com os princípios morais com que mais assiduamente se depara; a Loja, por seu turno, enriquece-se, melhora, cresce, qualifica-se, em função das melhorias, dos aperfeiçoamentos, de todos os seus elementos, recentes e mais antigos, quaisquer que sejam os seus graus e qualidades. Gera-se assim um círculo virtuoso em que o indivíduo beneficia do grupo para se aperfeiçoar e aperfeiçoa o grupo em virtude da sua própria melhoria.

A integração de um novo Aprendiz não é, assim, um mero processo de enquadramento. É uma verdadeira essencialidade da Loja. A integração do novo Aprendiz é o fermento que faz crescer a valia do grupo, é o cimento que liga a Loja, é o mastique que confere flexibilidade ao conjunto.

Uma Loja demasiado tempo sem Aprendizes é uma Loja estéril, um grupo sem perspectivas de futuro risonho. Será porventura constituída por muito Sabedores Mestres, por Fortes temperamentos, mas faltar-lhe-á a Beleza do acompanhamento dos esforços de quem ainda só sabe soletrar a Maçonaria, o estímulo dos seus progressos, a lembrança de que o esforço de aprendizagem, de aperfeiçoamento, não acaba com a ascensão à Mestria, não cessa com a experiência, não acaba com a antiguidade.

A integração bem feita de um novo Aprendiz não é, pois, apenas importante para este: é intrinsecamente uma necessidade vital da Loja. É por isso que nenhuma Loja maçónica se pode dar ao luxo de não providenciar pela correta integração dos seus Aprendizes, não pode cometer o desperdício de os abandonar à sua sorte e aos acasos do seu desacompanhamento. E, se porventura, se der a esse luxo, se cometer esse desperdício, virá a pagar bem caro esse desmazelo!

Uma Loja maçônica não vive só para os seus Aprendizes, mas vive também, e muito, para eles. Porque o esforço de acompanhamento destes cimenta a unidade do grupo; porque a formação destes melhora a do grupo; no fundo, porque não são só os Aprendizes que aprendem com a sua Loja – esta também aprende, e muito, com aqueles.

Autor: Rui Bandeira

Fonte: A Partir da Pedra

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Episódio 42 – De onde vem o poder?

O conceito de Potência em Maçonaria abrange o de Obediência. O dicionário de Joaquim Gervásio de Figueiredo define Obediência como “uma Potência maçônica formada no mínimo de três Lojas”. No verbete Potência, o mesmo dicionário conceitua Potência como as Grandes Lojas, os Grandes Orientes ou os Supremos Conselhos reconhecidos como autoridade. Essas duas noções praticamente se confundem, exceto se exercermos a visão de que Potência abrange Obediência.  (music: Slow Burn by Kevin MacLeod; link: https://incompetech.filmmusic.io/song/4372-slow-burn; license: https://filmmusic.io/standard-license)
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A importância do Ritual

The Ritual

Meus Irmãos, saúdo-vos fraternalmente, em todos os vossos graus e qualidades.

A suspensão dos trabalhos presenciais por virtude da pandemia em curso, revelou-nos a falta que o Ritual, a execução do Ritual, nos faz. É essa a natureza humana: muitas vezes só nos damos conta do que é importante quando o não temos. Mas não é sob esta perspectiva que escolhi expor a Importância do Ritual. Vou procurar incidir a nossa atenção sobre a razão por que o Ritual é importante, porque só tendo-se essa noção é que nos apercebemos completamente da importância do mesmo.

Começo por fazer uma afirmação que aparentemente não tem nada a ver com o tema e que é – como todas! – discutível, mas cujo mérito vos peço que julgueis apenas no final desta nossa conversa: a Maçonaria não se ensina, aprende-se!

Não quero com esta afirmação dizer que os mais experientes não devem partilhar com os mais novos o que aprenderam, o que sabem. Com esta frase, enfatizo que, em Maçonaria, o que é importante não é o que se transmite mas, antes, o que se apreende. Porque a experiência, a vivência, a personalidade do que transmite são diferentes das do que recebe. Assim, o que verdadeiramente interessa não é o que se ensina, se partilha, se transmite. O que importa é o que se aprende e, mais do que isso, o que se apreende, o que se interioriza. E aquelas e estas não são necessariamente – atrevo-me mesmo a dizer que raramente são – a mesma coisa. E, bem vistas as coisas, é inevitável que assim seja, pois, como já há pouco referi, o que transmite e o que recebe têm personalidades, vivências, capacidades, características diferentes. Assim, o que transmite tem necessariamente uma noção diversa do que aquele que recebe. Este, daquilo que é transmitido, receberá o que, na ocasião, estiver apto e pronto a receber, será tocado pelo que, no momento, o sensibilize. Em suma, o que ficará é o que ele aprende e apreende, não o que o que transmitiu julga que ensinou…

Não tenho, portanto, a pretensão de ensinar nada! Tenho apenas a esperança de que, da maçada a que agora vos submeto, cada um de vós retenha algo de útil.

Em meu entender, para uma correta abordagem da importância do ritual impõe-se que previamente distingamos entre Conhecimento e Sabedoria. O Conhecimento é tudo aquilo que aprendemos e estamos aptos a utilizar, quando necessitamos. A Sabedoria é algo mais profundo. Baseia-se, é um fato, nos conhecimentos que adquirimos. Mas reside na intuição, na capacidade adquirida de, relacionando tudo o que conhecemos, daí selecionar o que efetivamente importa, o que é adequado para um momento específico, uma situação concreta. Nem sempre aquele que tem mais conhecimentos é o que tem a sabedoria necessária para escolher a via justa, a palavra indicada, o gesto preciso, a atitude certa perante uma dada situação concreta. Numa muito grosseira aproximação, poderíamos dizer que a sabedoria resulta do conhecimento sublimado pela experiência. É através dos êxitos e fracassos na nossa escolha na utilização dos nossos conhecimentos que sublimamos o nosso Conhecimento em Sabedoria, que passamos do Conhecer ao Saber.

Memoriza-se e utiliza-se o que se conhece; desenvolve-se e internaliza-se o que se sabe.

O meio privilegiado para rápida aquisição de Conhecimento é o Estudo. Para se chegar à Sabedoria é preciso tempo e vivência. Mas há um meio para acelerar esse percurso, para induzir a Sabedoria: a utilização, execução e prática do Ritual. Se o Estudo é um meio de aquisição de Conhecimento, o Ritual é indutor de Sabedoria.

Com efeito, o Estudo estimula, faz funcionar, desenvolve a Inteligência Racional. Mas o Ritual, a sua prática, esse, estimula e desenvolve a Inteligência Emocional. E esta é bem mais profunda do que aquela, pois combina o conhecimento, o raciocínio, com a Intuição. O que estudamos pode não nos tocar e dar-nos apenas, pela memorização, a ferramenta necessária para agir. Mas só o que nos toca, nos emociona, efetivamente guardamos para saber como utilizar a ferramenta. A ferramenta é útil, mas saber utilizá-la pela melhor forma é indispensável…

Para entendermos porque e como o Ritual e o seu exercício estimulam a nossa Inteligência Emocional e, logo, induzem a obtenção de Sabedoria, devemos ter presente que, nos primórdios da Humanidade, quando ainda não tinha sido inventada a escrita – e muitas e muitas gerações de humanos viveram sem que houvesse escrita… -, a aquisição de conhecimentos e o acesso à Sabedoria processavam-se através da Tradição Oral. Era exclusivamente por essa via que os mais velhos e os mais experientes transmitiam o que sabiam aos mais novos e sem experiência.

Não havia então propriamente aulas, nem escolas. Os mais velhos e experientes diziam o que tinham aprendido, executavam perante os mais novos os gestos que era necessário fazer, repetiam, uma e outra vez, e faziam repetir muitas e muitas vezes, as palavras, os gestos, os atos de que dependiam, tantas vezes, a alimentação, a segurança e a sobrevivência, não só individuais como do grupo.

Ora, repetir uma e outra vez as mesmas palavras, para transmitir as mesmas noções, executar muitas e muitas vezes os gestos e as ações adequados para a obtenção dos resultados pretendidos mais não é do que… executar um ritual! Um Ritual é um conjunto de palavras, gestos e atos proferidas e executados sempre da forma similar.

Então, nos primórdios da Humanidade, aprendia-se e vinha-se a saber através da repetida execução de rituais. Era pelo que se via, pelo que se ouvia, pelo que se executava, pelo que exaustivamente se repetia, que se entranhava em cada um o que fazer e como fazer para obter alimento, para garantir segurança, para melhorar e curar maleitas, para adquirir o conforto possível.

Os rituais aprendidos e executados propiciavam, assim, a sabedoria necessária para sobreviver e viver o melhor possível.

O cérebro humano foi portanto, desde muito cedo, formatado em primeiro lugar para reagir aos estímulos visuais e auditivos.

Só mais tarde, muito mais tarde, o cérebro humano adquiriu a capacidade e habilidade de decifrar o código da escrita. A criação da escrita foi um avanço civilizacional imenso. Permitiu registar o que se tinha por importante, aquilo que anteriormente tinha de ser adquirido e mantido à custa de repetições. A escrita e a habilidade de a utilizar permitiram à Humanidade um meio mais fácil de registar e dar acesso ao Conhecimento. O cérebro humano naturalmente adquiriu, assim, também a capacidade de adquirir Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo.

Mas tenhamos presente que a camada mais profunda do nosso cérebro é, desde sempre, estimulada auditiva e visualmente e por execuções ritualizadas do que se pretende transmitir. A aquisição de Conhecimento através da escrita, da leitura, do estudo é uma habilidade mais recentemente adquirida, logo, mais superficial no nosso cérebro.

Não nos enganemos: o estudo, a aquisição de Conhecimento pelo estudo, dá trabalho. Esse trabalho é recompensado pelo desenvolvimento da nossa Inteligência Racional, pela habilidade de memorizar, de relacionar, de aplicar. Mas é apenas a Razão que é aplicada e fortalecida.

Para se desenvolver, para se utilizar a Inteligência Emocional, a que nos permite, quantas vezes sem sabermos como, intuitivamente, dizer a palavra certa, executar o gesto adequado, efetuar a ação necessária sem termos de longamente pesar os prós e os contras, sem necessitarmos de fazer exaustivas análises e cálculos, para isso temos de recorrer às camadas mais profundas do nosso cérebro – e essas desde o início dos tempos foram estimuladas pelo que se via e ouvia, pelo que se repetia uma e outra e muitas vezes, pelo que se ritualizava.

Por isso afirmo que o Ritual é o indutor de mais rápida passagem do Conhecimento à Sabedoria, acelerando o que só a Experiência, a Vida vivida, os erros cometidos e as vitórias alcançadas nos permitiria atingir, não fora ele.

Meus Irmãos: até agora tenho sempre falado de Ritual, sem adjetivar e, sobretudo, sem utilizar o adjetivo maçônico.

Porque o ritual, penso tê-lo demonstrado, existe desde sempre e desde sempre aumenta a capacidade humana de discernir, em suma, de saber. E não há “o “ ritual, há muitos rituais, respeitando a muitos momentos, ocasiões e atividades. Existem, bem o sabemos, rituais religiosos. Mas também de outra natureza, uns mais solenes e utilizados em ambiente de Poder ou de significado social, outros mais simples, íntimos até. Atrevo-me a dizer, por exemplo, que todos os casais com algum tempo de ligação criam os seus rituais próprios, indutores de segurança, conforto e manutenção da relação afetiva. 

Uma categoria de rituais que merece referência é o ritual que podemos denominar de grupal, o que marca, define e corporiza a integração de alguém num determinado grupo. Aí não está em causa a aquisição ou consolidação de conhecimentos ou o acesso a sabedoria, mas simplesmente o estabelecimento de uma união grupal, a que o neófito passa a aceder.

Todo o ritual é importante, precisamente porque correspondendo à mais antiga e natural forma de a Humanidade processar a aquisição de conhecimentos, ganhar e manter confiança, obter conforto e segurança. Não é assim porque queremos que seja, assim é porque a nossa evolução como espécie o determinou. Talvez algo grandiloquentemente, pode-se afirmar que a Civilização se alicerça em rituais. 

Mas os Rituais Maçônicos, esses, partilhando com os demais a mesma natureza de meios indutores de aquisição de Sabedoria, têm ainda uma valência própria, quiçá não exclusiva, mas seguramente que identitária.

Os rituais maçônicos têm uma tríade de caraterísticas, duas delas já referidas e uma terceira que podemos considerar própria. Os rituais maçônicos assumem a natureza de indutores de Sabedoria, são também, particularmente nos rituais de Iniciação e de Aumento de Salário, rituais grupais, mas também assumem a natureza de explanação e aprofundamento de Princípios e Valores.

Esta uma especificidade não negligenciável. Os vários rituais dos diferentes ritos maçônicos apresentam-nos e definem-nos Valores e Princípios a que os maçons devem corresponder. Não estão aqui em causa conhecimentos a interiorizar. Estão, diretamente, aspectos e referências morais a seguir, a cumprir, a divulgar.

Os rituais maçônicos, ao promoverem Princípios e Valores, apelam diretamente às caraterísticas básicas do cérebro humano. Os princípios e Valores expostos, facultados, não se destinam a ser meramente apreendidos pela Inteligência Racional, através do estudo e da aquisição de conhecimentos. Procura-se atingir a Inteligência emocional, o âmago da personalidade de cada um e aí efetuar as modificações inerentes a esses Princípios e Valores.

Busca-se a aceleração do processo. Em vez da mera aquisição pela Inteligência Racional e posterior enraizamento através da experiência, busca-se a inserção direta e eficaz na mente do maçom, atingindo o que o Ritual, desde os primórdios da Humanidade toca: a Inteligência Emocional, logo as profundezas do ser que cada um de nós é. Não se semeia, para que porventura nasça e cresça. Planta-se para que, no mais curto espaço de tempo, haja frutos. 

Os rituais maçônicos destinam-se assim, para além da integração de indivíduos em grupos, a propiciar a modificação de cada um, através da interiorização de Princípios e Valores morais, que devem nortear a conduta de cada um,

Expostos de forma ritualizada, muitas vezes repetida, encenada e praticada, tais Princípios e Valores entranham-se diretamente no âmago essencial de cada um, assim propiciando o seu aperfeiçoamento.

Este processo de aperfeiçoamento não é imediato. É demorado, é evolutivo, depende de patamares.

É por isso que é um erro pensar-se que, sabido o ritual, aprendido a executar o mesmo com perfeição, o nosso trabalho está terminado.

Posso garantir-vos, com base na minha experiência de mais de 30 anos de maçom, que não é assim que funciona.

Decorar o ritual, executá-lo na perfeição, são ainda tarefas do Intelecto, da Inteligência Racional. O que importa é senti-lo, vivenciá-lo, apreender aqui e ali algo de novo, algo que nos chama agora a atenção e em que não reparamos antes. Porque esse é o processo de entranhamento das noções transmitidas pelo ritual, esse é o processo de passagem do Conhecimento à Sabedoria.

Se há algo que verdadeiramente aprendi com os nossos rituais é que se está sempre a aprender algo de novo com os mesmos. Em mais de trinta anos de Maçonaria, já repeti, já executei, já vi serem repetidos, já vi serem executados, os nossos rituais centenas de vezes. Nunca me incomodei com a repetição. Nunca deixei de me concentrar na sua execução. E, trinta anos passados, ainda me sucede que subitamente encontro algo de novo, apesar de ser o mesmo ritual que pratico e a que assisto ao longo deste tempo.

Tal sucede por uma simples razão: encontro numa ocasião aquilo que então estou preparado para encontrar. As palavras, os gestos, os atos, são os mesmos desde o princípio. Mas antes eu não compreendera aquele particular significado, porque ainda não estava preparado para tal. Porque tive de seguir uma evolução, compreendendo aqui algo que mais tarde me permitiu perceber aquilo, que me modificou e levou a entrever aqueloutro pormenor, num processo evolutivo permanente.

É para isso que serve o nosso ritual. Porque o ritual maçônico não é um simples ritual igual a todos os outros que a Humanidade segue. O ritual maçônico é um meio de Construção e Aperfeiçoamento de Nós.

É esta a sua importância!

Autor: Rui Bandeira

Fonte : A Partir da Pedra

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