Aprendendo com Aprendizes e Companheiros

Afinal, vamos para a Loja é para aprender ou não? E os irmãos estão satisfeitos?

Creio já estarmos um tanto ou quanto enfastiados de ouvir de parcela de nossos Mestres como tiveram uma brilhante trajetória na Ordem ao falarem reiteradamente sobre si mesmos e suas realizações, expondo opiniões em desordenados falatórios acacianos e dizendo que é assim e assado que pensam (Magister dixit), muitos demonstrando desdém pelas demandas dos Aprendizes e Companheiros ou o que estes também têm a ensinar-lhes. Graças ao Grande Arquiteto do Universo prevalece a tolerância, o carinho, o respeito e o bom humor, em especial.

Alguns apenas abrem a boca para ufanar-se de ter atingido o ápice dos Graus Superiores, de ocupar tais e tais cargos na Potência e para exaltar relacionamentos estreitos com autoridades da Ordem. Por vezes, com o maior caradurismo, insinuam-se para comendas e homenagens. Normalmente esses “monstros sagrados” encontram-se aboletados no Oriente das Lojas e declinam de convocações para ocupar cargos para compor as sessões de trabalho por ausência dos titulares. Esse “Oriente” deveria ser apenas um caminho a ser percorrido, não um status.

Constata-se, com certa regularidade, uma dissonância cognitiva entre o que pregam e o que fazem alguns desses Mestres. Em resumo, respeitado o mérito, onde couber, por uma questão de justiça, o que se constata em determinadas situações são demonstrações de muita arrogância travestida de sabedoria e um vazio de conhecimentos. Segundo um calejado mestre pai d‘égua da Ordem, “quem exalta os próprios méritos, menos créditos tem”.

Isso pode ser facilmente constatado em Loja, nas oportunidades em que são ministradas as Instruções Maçônicas, ao reinar o mais absoluto silêncio por parte dos Mestres quando a palavra circula para que sejam agregados comentários que possam enriquecer os conteúdos apresentados. Essa ambiguidade gera comprometimento da credibilidade nos Valores da Ordem e desânimo junto aos principiantes, redundando, por vezes, na baixa do número de obreiros da Oficina.

Um aviso aos novéis Mestres: não caiam na lorota de acreditar que ao atingir a Plenitude Maçônica[1] está tudo dominado. Afinal, o mestrado maçônico está apenas começando. Torna-se indispensável manter o interesse pelos estudos. Por outro lado, alguns com mais tempo de caminhada se perguntam: voltar a interessar-me pelos estudos depois de “velho”? Atenção! Segundo Mário Sérgio Cortella, idoso é diferente de velho.

“Idoso é quem tem bastante idade, velho é o que acha que já sabe, que já está pronto”.

E mais, o idoso moderno tem projetos e se renova a cada dia; o velho rabugento[2] vive de recordações, e, no nosso métier, apenas exulta-se das glórias do passado para as quais não contribuiu e recebeu graciosamente como legado dos denodados irmãos que nos precederam. Por vezes julga-se um “guru” com direito a criticar tudo e a todos, dizer o que é certo e errado e adora ser exageradamente reverenciado. Qualquer paralelo com os chamados gases raros que compõem os elementos do grupo 18 (família 8A) da tabela periódica e o número 7 é pura maldade! Castigat ridendo mores.

Em algumas oportunidades, integrantes dessa nobreza articulam a concepção de grupos de massa crítica propositiva que logo descambam para futricas e olhar de desapreço em relação a trabalhos apresentados, emitindo comentários ditos abalizados, mas que na realidade tendem a deslustrar a imagem de obreiros esforçados e dedicados à Sublime Ordem, em flagrante atitude de soberba ou mesmo de inveja, na tentativa de esmorecer lídimas iniciativas ou ensejar um autoatribuído poder de censura. Em comum elogiam-se mutuamente, mas demonstram que a Pedra Bruta ainda precisa de muita lapidação e polimento.

De uma forma desrespeitosa, segmento dessa elite tenta influenciar Aprendizes e Companheiros ao difamar reputação de escritores maçônicos brasileiros do passado que construíram os alicerces onde esses críticos se formaram, desaconselhando a leitura de obras desses baluartes. Já chegamos ao absurdo de ver postadas figurinhas depreciativas de troféus com o nome desses autores de referência (Troféu XYZ de viagem na maionese, e.g.). Outro péssimo exemplo para os Aprendizes e Companheiros é a postagem de figurinhas com sinais maçônicos, em flagrante descumprimento de juramento prestado. Isso a Maçonaria não ensina, mas reitera que não impõe nenhum limite à livre investigação da Verdade e para garantir a todos essa liberdade, ela exige de todos os seus membros a maior tolerância.

Têm-se notícias de que inoportunos grupos críticos exclusivistas, em sistemáticas trocas simultâneas de mensagens em tons desdenhosos durante apresentação de palestras por videoconferência, conspiram para colocar os apresentadores em saia justa por meio de perguntas desestabilizadoras. Esse formato de associação precisa ser desincentivado e eventuais convidados devem declinar de plano desse tipo de assédio e os atuais componentes desses grupos radicais deveriam desligar-se de imediato, sob pena de terem a imagem conspurcada. Nesse imbróglio, permitimo-nos destacar um aforismo não se sabe de autoria ou atribuído a Steve Jobs:

“Você nunca será criticado por alguém que esteja fazendo mais do que você, você só será criticado por alguém que esteja fazendo menos.”

Por sua vez, os valorosos Mestres idosos e experimentados, que já acumularam relevante bagagem na senda do conhecimento e sabedoria, devem despertar nos mais jovens a motivação para seguirem seus passos e aprenderem juntos, mantendo o brilho nos olhos, nunca encarando desafios como problemas e demandas como sacrifícios, tendo como meta o aprimoramento e conquista de realizações, de sempre ir além e crescer na Ordem. A vivência e generosidade desses Mestres, que felizmente são a maioria, reconhecidos e queridos por todos, tornam mais suave e estimulante a marcha dos Aprendizes e Companheiros. A essência deve estar nos exemplos e nas mensagens que passam a esses irmãos em formação.

Argumenta-se que haveria na Maçonaria um conflito geracional, com o desgastado discurso de que os mais jovens naturalmente rejeitam as tradições e o que é antigo, desejando o novo e a promoção de mudanças, transformações por vezes geradoras de conflitos. Mesmo dentro das faixas etárias verificam-se necessidades e interpretações distintas, dada a própria diversidade e formação dos obreiros, levando pessoas de uma mesma geração em qualquer tempo a não compartilhar os mesmos valores e atitudes. Há que se focar no equilíbrio e conciliação, tendo como escopo os princípios fundamentais da Maçonaria.

Como sabemos, tradição é aquilo que vem do passado, que deve ser protegido, guardado e difundido. Na Maçonaria, além da sua declaração de princípios e o propósito definido para cada Grau, os símbolos e alegorias são exemplos e carecem ser conservados, por auxiliarem seus membros a reter os ensinamentos pela impressão que causam aos sentimentos, ao espírito e à razão. Com o suporte dos cobridores dos respectivos Graus e os critérios de reconhecimento, forma-se a sua base como uma instituição de sucesso, já tendo ultrapassado a marca de mais de três séculos de sólida existência, na sua vertente moderna.

O modernismo a que refere os tempos atuais deve ser avaliado com cautela, para que sejam absorvidos os instrumentos que incrementam o sucesso até então alcançado, inclusive tecnológicos, fazendo as devidas adaptações, de forma refletida, dentro do conceito de modernidade, sem abandonar as tradições, deixando de lado discursos de desconstrução e reconstrução que levariam a Maçonaria a seu enfraquecimento.

A resposta para o Mestre Maçom de como enfrentar e superar esses novos tempos deveria ser óbvia, ou seja, dar um gás, saber o que ainda não se sabe, aprender com os irmãos mais experientes, com aqueles que são verdadeiras lições ambulantes, e com a nova geração de Aprendizes e Companheiros, uma espécie de mentoria reversa, do tipo colaborativa, facilitando o intercâmbio de conhecimentos e percepções. Indubitavelmente, a Loja é dos Mestres e é composta exclusivamente por eles; os Aprendizes e Companheiros a complementam e estão em processo de transição e lapidação, de aprendizado de vida e para a vida, em busca da luz ao interpretar os elementos fundamentais do simbolismo e realizar, em atividades construtivas, os conhecimentos adquiridos e assim atingirem o mestrado maçônico. Vale elucubrar sobre a máxima de que “maçonaria é aquilo que você faz quando a sessão acaba”.

Esse contexto merece uma reflexão mais profunda, pois são esses Mestres que recrutam os novos membros e, como bem destaca Napoleon Hill, no seu livro “Mais Esperto que o Diabo”:

“Quando você fala de líderes que são bem-sucedidos porque ‘sabem escolher homens’, você pode mais corretamente dizer que eles são bem-sucedidos porque sabem como associar mentes que se harmonizam naturalmente. Saber como escolher pessoas de forma bem-sucedida, para qualquer objetivo definido na vida, é uma habilidade desenvolvida para reconhecer os tipos de pessoas cujas mentes naturalmente se harmonizam.”

Com base na afirmação acima, a pergunta que não quer calar é: como está a qualidade de nossas escolhas dos novos Aprendizes, a formação e o preparo de quem os recruta junto à sociedade e, na sequência, ministram-lhes os fundamentos da Ordem? A resposta está com os gestores das respectivas Lojas e não deve circunscrever-se à busca de culpados por eventuais erros do passado, mas na construção de futuros possíveis e alvissareiros, cultivando o orgulho de ser Maçom. Aí reside o busílis.

…Há que se cuidar da vida…Há que se cuidar do mundo…Tomar conta da amizade…” (Coração de Estudante: Milton Nascimento / Wagner Tiso)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.


Notas

[1] Vide artigo Plenitude Maçônica, em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2018/12/13/plenitude-maconica/

[2] Vide artigo “O irmão rabugento”, em:  https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2018/11/01/o-irmao-rabugento/

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O tempo de Companheiro

O tempo de Companheiro é um tempo difícil. O obreiro já não é um Aprendiz rodeado, apoiado, apetece até dizer mimado, por todos os Mestres da Loja. Alcançado o seu aumento de salário, afinal o prémio que obtém é apenas uma mudança do seu lugar na Loja, um pouco de cor no seu avental e… uma sensação de menor apoio.

Após uma Cerimónia de Passagem que é um verdadeiro anticlímax em relação à sua recordação do que experimentou quando foi iniciado, depara-se com um par de símbolos novos, metem-lhe uns regulamentos e um ritual e catecismo na mão e… parece que se desinteressaram dele, ele que se oriente…

Não é assim, embora pareça que seja assim. E é assim que deve ser.

A Iniciação foi o nascimento para a vida maçónica. O tempo de Aprendiz é a sua infância, em que se é guiado, educado, amparado, mimado. O tempo de Companheiro, esse, é o da adolescência. Já não se admite ser tratado como criança – como Aprendiz – pois já se cresceu – já se evoluiu – mas… sente-se a falta do apoio que se recebia em criança. Já não se quer, mas ainda afinal se tem a nostalgia do apoio do tempo de Aprendiz. O Companheiro, tal como o adolescente, sofre a sua crise de crescimento. É o preço que tem a pagar pelo seu trajeto em direção à idade adulta maçónica, em que será reconhecido como Mestre.

No entanto, só aparentemente o Companheiro é deixado só. Os Mestres permanecem atentos a ele e, de entre eles, em especial o Primeiro Vigilante, responsável pelos Companheiros. Simplesmente já não tomam a iniciativa de sugerir caminhos, orientar trabalhos, avançar explicações, dar opiniões. Porque o Companheiro já não é Aprendiz, tal como o adolescente já não é criança. O tempo é de aprendizagem por si próprio, de exploração segundo os seus interesses. E só se houver grande desorientação no caminho se deve intervir. Tal como em relação ao adolescente é contraproducente pretender-se guiá-lo, impor-lhe caminhos, pois ele ou não aceitará o que considerará indesejável intromissão ou tornar-se-á dependente de uma superproteção que muito dificultará a sua vida adulta, também os Mestres não devem abafar o Companheiro com recomendações, intromissões, solicitudes a destempo. O tempo é de o deixar explorar, ele próprio, o que tiver a explorar. Se errar, aprenderá com o erro. Mas, no final, crescerá até à responsável maturidade da Mestria. É o que se pretende.

No início é – sabemo-lo bem! – confuso. Mas afinal as ferramentas foram fornecidas ao Companheiro logo no primeiro dia, tal como o guia de trabalho lhe foi apresentado. O Companheiro só tem de perceber isso, pegar nas ferramentas e seguir o trilho que, desde o início, lhe foi mostrado. Só não foi levado, empurrado, carregado, até ao seu início. Afinal, já não é criança…

A prancha de proficiência culmina o percurso do Companheiro. Mostra que ele entendeu o que escolheu entender, que trabalhou no que optou por trabalhar. A idade adulta está ao virar da esquina. O que implica virar essa esquina já é outra história…

Autor: Rui Bandeira

Fonte: Blog A Partir Pedra

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A Passagem

Como lidar com as mudanças? - Psicólogos Berrini

Chama-se Passagem [1] à Cerimônia pela qual o Aprendiz adquire o estatuto de Companheiro, conferindo-lhe o segundo grau da Arte Real.

Tal como a Iniciação, a Passagem é um rito… disso mesmo: de passagem. Tal como aquela, tem os três tempos de um rito de passagem: de onde vens, o que és, para onde vais.

Mas, ao contrário da Iniciação, a cerimônia de Passagem deixa quase sempre no novel Companheiro um travo de desapontamento, uma sensação de que o que ocorreu foi menos do que o que o esperava.

Efetivamente, a Cerimônia de Passagem é muito mais simples e sóbria do que a Iniciação. Se pensarmos bem, deve sê-lo! A Iniciação marca a entrada num novo mundo, marca a transição da vida profana para a vivência maçônica. A Passagem assinala apenas o dobrar de uma etapa. Uma marca que, tendo o valor de assinalar um progresso, uma melhoria, um crescimento, no entanto o maçom que dela beneficia já deverá começar a perceber que é só uma pequena parte do muito caminho que ainda tem para percorrer, se quiser efetivamente atingir a plenitude das suas capacidades.

E, para que o maçom que passa de Aprendiz a Companheiro não tenha dúvidas nem ilusões sobre o pouco que andou e o muito que lhe falta percorrer… vai começar por se desiludir com a espartana Cerimônia de Passagem!

Não é só por esta razão que a Cerimônia de Passagem é tão simples. Porque ela é propositadamente simples, curta e sem enfeites!

A Cerimônia de Passagem não marca apenas uma mudança de estatuto, de grau, de Aprendiz para Companheiro.

A Passagem assinala sobretudo um novo estilo e objetivo de trabalho. Não uma mudança, porque o maçom não deve deixar de efetuar o trabalho que aprendeu a fazer enquanto Aprendiz para passar a fazer o tipo de trabalho do Companheiro. Não isso. Um maçom deve ser Aprendiz toda a sua vida maçônica. A Passagem assinala que, para além do trabalho que o maçom faz enquanto Aprendiz, deve, a partir de então, passar a executar também um novo tipo de trabalho.

A Passagem não é uma promoção. É um entregar de novas responsabilidades, a acrescer às que já se cumprem.

A Passagem não se destina, portanto, a impressionar, a marcar. A Passagem, pelo contrário, destina-se a enfatizar que o trabalho do maçom é sóbrio e persistente e cada vez mais profundo e variado. A Passagem não é uma festa. É apenas a entrega de um certificado de aptidão. A Passagem não é uma entrada na Mansão do Conhecimento Maçônico, é apenas a abertura de mais uma porta e o acesso de mais uma sala, para que o maçom, que anteriormente trabalhava apenas na sala dos Aprendizes… passe agora a trabalhar também na oficina dos Companheiros.

A Passagem deixará no maçom um travo levemente amargo da desilusão. Mas é para isso que serve. Para que o maçom perca as últimas ilusões que, sobre a Maçonaria, ainda guarde do seu passado de profano e confirme que o seu caminho é de trabalho. Mais trabalho.

Eu senti essa desilusão na minha Passagem a Companheiro. Eu, que já assisti e participei em dezenas de Cerimônias de Passagem, já vi dezenas de trejeitos de desilusão nas faces e nos olhos dos meus Irmãos. A alguns a desilusão é tanta e tão pesada que, mansamente, discretamente, se vão ausentando e decidem abandonar o caminho que os demais continuam a percorrer. Não é grave! Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade! Para alguns, o peso do trabalho é superior ao que se sentem com capacidade de suportar e arreiam. Também na Maçonaria a seleção é natural… Cada um percorre o seu caminho ate onde pode. Mesmo os que decidem parar a meio, já percorreram, pelo menos, uma parte do caminho. Esse ganho já é deles e ninguém lhes tira.

Não é por sadismo ou por inconsciência que se sujeita o maçom à desilusão, que se arrisca a sua desistência. É porque é necessário que essa etapa seja vivida. O novo trabalho que se acrescenta parecerá, para muitos, inútil e desnecessário. Mas não é nem uma coisa, nem outra. Porque com ele o maçom vai aprender que, para ser Mestre de si próprio, tem de ser um Homem completo. E que tem de se completar. De crescer e desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os campos. Não apenas num ou em alguns. Sobretudo, não apenas onde e como gosta…

Para começar, tem uma desilusão… Mas, se efetivamente aprendeu bem o que tinha de aprender na coluna dos Aprendizes, cedo, logo, superará essa desilusão; cedo, logo, se lembrará que, em Maçonaria o que parece normalmente é diferente do que é e o que é normalmente é mais do que parece; cedo, logo, esquecerá a desilusão e olhará, atentará, meditará no que, espartana, simplesmente, lhe foi mostrado. E agirá em conformidade. E com isso completar-se-á.

Demorei muitos anos a perceber isto. Andei muito tempo a dizer e a escrever que o grau de Companheiro estava mal acabado, que era desinteressante, que era uma perda de tempo, enfim, uma quantidade de disparates que os mais antigos fizeram o favor de estoicamente suportar, sem me tirarem a possibilidade de descobrir por mim próprio como eram tão desajustados!

O ciclo reproduz-se com cada maçom que persiste! Desilude-se, interroga-se, observa, trabalha, evolui e… um dia percebe que era assim mesmo que tinha de ser e de fazer. Quando, finalmente, estiver pronto para perceber.

A cada novo Companheiro eu dedico três desejos: que cumpra o ciclo que eu e muitos outros antes de mim cumpriram e ainda muitos mais cumprirão depois dele; que, um dia, perceba, como eu percebi; que não necessite de tanto tempo como eu necessitei!

Autor: Rui Bandeira

Fonte: Blog A Partir Pedra

Nota

[1] – Cerimônia de Elevação

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Episódio 22 – Sessão maçônica motivadora

O objetivo do Maçom em Loja é participar de Sessão Maçônica motivadora para realimentar sua alma na vivência do dia a dia. Sessões com assuntos administrativos reduzidos ao mínimo para sobrar mais tempo para degustar bons pensamentos em animadas atividades que visam o crescimento e a autoeducação. O tempo de instrução e estudos é a alma da Sessão Maçônica!

A Maçonaria Simbólica e a Filosofia

É a Filosofia, estúpido!" - Carta Maior

Introdução

O que se entende por Filosofia Maçônica? Como ela exercita seus postulados, normas, constituições, regulamentos e regimentos maçônicos? É esclarecido ou informado ao profano que ele vai fazer parte de uma Instituição Filosófica, ou simplesmente exigimos dele uma boa conduta “moral”? Será o suficiente para o que pretende a Instituição que tem a filosofia do “ser livre e de bons costumes” como seu postulado? Ao Aprendiz são apresentadas as diretrizes para que ele possa exercitar a arte do pensar, procurando, primeiro, “conhecer a si mesmo” e, depois, praticar a caridade, que é peculiar a todos aqueles que, mergulhados em seu “EU”, encontram respostas para os seus questionamentos e, posteriormente, exercitar esse aprendizado? O que dizer, então, do Companheiro e do Mestre Maçom?

Para ser admitido na Maçonaria, todo homem deve possuir um caráter ilibado, ser livre e de bons costumes. Mas isso não é tudo, não é estanque. Espera-se, ainda, que todo Maçom, além desses pré-requisitos, seja um pensador, uma fonte inquietante em busca do saber. Entretanto, nas Lojas, em reuniões, pouco se tem enfatizado essa premissa. Não há nenhum ensinamento prático filosófico na arte de desbastar a Pedra Bruta. A instrução limita-se aos símbolos como se ali estivesse contida toda a sabedoria maçônica, situação que vem se arrastando através dos tempos, fazendo parte da conduta histórica da Instituição.

Daí se conclui que vem ocorrendo uma inversão de valores, ocasionando uma constante evasão nos quadros de obreiros das Lojas. O principal motivo é que as reuniões estão limitadas às leituras dos rituais e ao bater dos malhetes. Desse modo, quando o obreiro chega a Mestre, tem uma visão equivocada de que não há mais nada a fazer ou aprender, muito menos a ensinar aos neófitos sobre o que pretende a Maçonaria, por desconhecimento da sua base filosófica ou por simples acomodação. É o retrocesso… O conhecimento, que se arrasta durante séculos, aos poucos, vai ficando no ostracismo.

O que permanecem são os sinais, toques, palavras e a marcha, como instrução para cada grau, e que, muitas vezes, são ensinados equivocadamente. Basta verificar nas Lojas o que se ensina quando há uma Iniciação, Elevação ou Exaltação. No Terceiro Grau é uma miscelânea de informações; as instruções nesse sentido são desencontradas, principalmente no toque do grau.

A Maçonaria está perdendo o norte que orienta os seus membros à prática do filosofar; por que não dizer, perdendo a essência dos significados maçônicos, esquecendo de praticar a Arte Real, debruçando-se sobre trabalhos que nada acrescentam à Instituição; quando não, colocando irmãos em situação constrangedora, diante de uma assembleia despreparada e alheia ao que se propõe a Maçonaria Universal. Ao final da apresentação, parabeniza-se o obreiro com uma breve salva de palmas pelo excelente trabalho, o que chega a ser lamentável para a Instituição.

Não se pretende com o assunto ora abordado dar soluções às questões apresentadas, mas alertar todos os Maçons que venham a ter acesso ao conteúdo aqui escrito, para uma reflexão inconteste da sua conduta, enquanto Maçom que preza a Instituição. Não é justo que todo o aprendizado filosófico construído pelos grandes pensadores que engrossaram as colunas da Maçonaria, durante séculos, se perca em tão pouco tempo, sem nenhuma reflexão, sem nenhuma compreensão dos significados que atravessaram centenas de anos até os nossos dias, aos quais, hoje, não se tem dado a devida importância, por pura acomodação, ou simplesmente por desconhecimento do que realmente é a Maçonaria e a que ela se propõe.

Filosofia

“A filosofia é a totalidade do conhecimento.” Aristóteles

A palavra Filosofia, “Philosophia”, é derivada de duas palavras gregas: Philo, que ainda se deriva de Philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais; e Sophia, que quer dizer sabedoria, a qual é derivada da palavra Sophos, sábio ou alguém que admira e busca a sabedoria.

Segundo o dicionário Aurélio, filosofia é o estudo que se caracteriza pela incessante intenção de ampliar a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras, o Ser (ora realidade suprema, ora causa primeira, ora fim último, ora absoluto, espírito, matéria etc.), quer pela definição do instrumento capaz de apreender a realidade, o pensamento, tornando-se o homem tema inevitável de consideração. Também, no Aurélio, se descreve a filosofia como um conjunto de estudos ou de considerações que tendem a reunir uma ordem determinada de conhecimentos, limitando o seu campo de pesquisa à natureza, ou à sociedade, ou à história, ou a relações numéricas, em um número reduzido de princípios que lhe servem de fundamento e lhe restringem o alcance.

O filósofo Pitágoras de Samos foi quem usou pela primeira vez esse termo Filosofia, por volta do século V a.C, ao responder a um de seus discípulos que ele não era um “Sábio”, mas apenas alguém que amava a Sabedoria.

Como campo de conhecimento, a filosofia ocidental surgiu na Grécia Antiga com a figura de Tales de Mileto, sendo ele o primeiro a buscar uma explicação para os fenômenos da natureza, usando a Razão e não os Mitos, como era de costume, na época.

Portanto, aquele que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber e deseja saber, é um filósofo. Assim, a Filosofia indica um estado de espírito da pessoa que ama, isto é, daquela que deseja o conhecimento, que o estima, o procura e o respeita.

Pode-se interpretar, também, que Filosofia é o estudo da vida; pode ser ciência, fé, religião ou simplesmente a mente ou a razão em pleno funcionamento. Toda a arte e toda ciência têm partes filosóficas. Quando a mente dedica-se a decifrar os enigmas da vida, estará filosofando.

Consta que Pitágoras de Samos teria afirmado:

“A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.”

Deve-se, aqui também, distinguir os significados de filosofar e filosofia. Para tanto, os aspectos fundamentais da Interpretação, Compreensão e a Realidade estão intrinsecamente contidos na conceituação do “FILOSOFAR” e “FILOSOFIA”.

Compreender a realidade, elucidando as suas interpretações é o que se entende por filosofar. Assim, a Filosofia se caracteriza pela intenção de ampliar a compreensão da realidade em questão.

Historicamente, a Filosofia envereda pelas teorias que procuram encontrar algum tipo de compreensão, sabedoria ou conhecimento sobre as questões fundamentais, como por exemplo, a realidade, o significado, o valor, o ser e a verdade.

Em Filosofia o fazer é uma constante na arte de construir conhecimento, portanto, se faz necessário levar em consideração toda a ideia filosófica dos pensadores do passado. Ao debruçar-se sobre uma questão filosófica, o pensador ou filósofo rende tributos aos seus antecessores sobre o assunto em questão, podendo ratificar as ideias já formuladas, contrapô-las, esclarecê-las ou até mesmo melhorá-las. Assim sendo, a busca pelo conhecimento torna-se infinita, mesmo que já exista algo sobre o assunto abordado. É na inquietação da busca pelo conhecimento, que o homem se torna um ser puramente pensante, na compreensão da realidade, na interpretação das coisas como um todo.

A Filosofia moderna (1453 a 1789) postula que todo homem deve ser livre das alienações dogmáticas religiosas. Livre dessas correntes, também é livre para exercitar o pensamento, passando a ter outro conceito sobre si mesmo ao interpretar o mundo e a vida. Entende-se que todo ser humano é um ser pensante na busca de novas interpretações do mundo que o cerca, não descartando, com isso, a sua religiosidade. O grande marco das Escolas Modernas era, portanto, a liberação da consciência humana, tornando o homem livre para pensar, investigar e interpretar.

O filósofo busca, interpreta e procura compreender as coisas através de sua observação, sem se embasar em doutrinas, quer sejam religiosas ou não, para explicar o inexplicável. Ele abandona os pensamentos escravizadores e passa a ser um indivíduo pensante que contribui com a coletividade para a construção do saber, do conhecimento. É romper as amarras institucionalizadas, é a libertação da individualidade na arte de pensar, contrapondo-se à uniformidade do pensamento medieval e às nacionalidades, animadas por uma vida nova, expressando sua peculiaridade, em suas respectivas filosofias.

Conclui-se que a Filosofia permeia pelo mundo abstrato e interpretativo, questionando os porquês do objeto investigatório até a conclusão dos significados. Para tanto, é necessário o filósofo ser possuidor de uma profunda amizade, amor e respeito pelo saber. Com base nessa premissa, o filósofo é, então, aquele que mergulha no desconhecido, na busca pelo conhecimento conclusivo, último e primordial, a sabedoria total.

Filosofia maçônica

A Maçonaria não possui uma Escola essencialmente filosófica. Não possui uma filosofia própria ou adota, exclusivamente, essa ou aquela Escola como base fundamental para os seus estudos. Ao contrário, a Maçonaria é uma Escola de filosofar e a filosofia das grandes Escolas filosóficas é que lhes servem como fonte inspiradora.

Caso ela se restringisse a uma Escola ou a um sistema, seus membros não teriam a liberdade de pensamento, que lhes é peculiar. Eles seriam obrigados a caminharem em uma só direção. Se assim se conduzisse, ela seria uma Instituição, provavelmente, dogmática e limitada; não mais existiria por estar presa nos limites da interpretação, da compreensão e da realidade das coisas. Antes de qualquer ensinamento maçônico, deve-se compreender que a sua filosofia está alicerçada na Liberdade, Igualdade e na Fraternidade.

Filosoficamente, a Maçonaria procura mostrar ao homem que ele é um ser em processo contínuo de lapidação interior, visando à compreensão do seu próprio “EU”, comprometido com o seu pensar, com a sua própria existência. Ela proporciona aos seus
membros os meios necessários para adquirirem o saber, descobrirem que o saber humano é, em especial, um saber filosófico, mas muitos não se apercebem disso.

A liberdade de pensamento é o ponto fundamental para todo Maçom que anseia a “luz”. É o livre pensar que faz o Aprendiz refletir sobre “si” mesmo, compreender os enigmas e significados da vida, na viagem pelo seu interior até descobrir o brilho de sua alma. É um lapidar constante da Pedra Bruta, para daí brotar um sentimento de solidariedade sincera entre os irmãos; e, dessa forma, não mais havendo diferenças, mas uma igualdade própria do Companheiro, solidificar os sentimentos de fraternidade.

Com os conhecimentos adquiridos quando Aprendiz, o Companheiro passa a exercitar todo o seu aprendizado, praticamente, em atividade construtiva social, alicerçada na tolerância e na justiça. Entende-se, então, que ele depende sempre da capacidade de interpretação dos elementos fundamentais do simbolismo; só assim, poderá caminhar até alcançar a Câmara do Meio. Na sua constante ação de aperfeiçoamento, trabalha na prática da moral e na observância da ciência, com a missão de aprofundar o seu intelecto na Pedra Cúbica.

Por sua vez, cabe ao Mestre todo o trabalho espiritual, já que a pedra, agora, está polida. É missão dele é unir o que está disperso, irradiando a luz, fortalecendo a fraternidade entre os homens. Ao Mestre é consagrada a firmeza de caráter, a moral; fazer a humanidade mais feliz e virtuosa, através dos seus exemplos como um Mestre Maçom. Cabe a ele investigar, tornar-se um pesquisador incansável na busca da Palavra Perdida, chave para todas as questões humanas.

Todo o ensinamento filosófico está voltado para o interior do homem, orientando-o primeiramente, a conhecer a si mesmo, aniquilando as paixões e os vícios que o deixam na ignorância.

Enquanto o homem for áspero, insensato, intolerante e não exercitar a humildade, ele não poderá ser um agente transformador da humanidade. É combatendo esses instintos que a Maçonaria trabalha o homem para a construção de um mundo melhor. É sepultando as paixões mundanas que o Maçom se torna um homem digno e de caráter ilibado para com a Família, à Pátria e a Humanidade.

A Maçonaria é uma Escola da Moral, que caminha pela Filosofia Social, fazendo com que todos os seus membros sejam fieis cumpridores dos seus deveres como cidadãos, para com a família e a pátria. Ela possui estágios de conhecimentos divididos em graus, que através de sucessivas iniciações, mostra ao homem o seu interior, o brilho da luz espiritual e divina, necessária para a sua dignidade, tornando-o livre, porém de bons costumes.

A Maçonaria, pelo exposto acima, não se resume aos rituais, aos ritos ou a três pontos. Ela é uma fonte de sabedoria dos significados humanos, é uma busca constante, é um desbastar a Pedra Bruta até a sua completa polidez. Para alcançar tal estágio, é necessário que os seus membros entendam que tudo passa pela compreensão e pelo exercício da virtude, numa luta incessante para vencer as paixões, cavar masmorras aos vícios, libertar-se das ilusões mundanas, para daí renascer um novo homem, no estado de inocência, no amor que fortalece a justiça e a verdade, que unem a todos como verdadeiros irmãos.

A Maçonaria e a Filosofia

Nos idos do século XVIII, dominava a Europa o pensamento filosófico denominado Ilustração, conhecido também por Iluminismo ou Enciclopedismo. É no auge desse movimento que acontece a fundação da Grande Loja de Londres, aos 24 de junho de 1717. O Iluminismo se estendeu pelos séculos XVII e XVIII, de cujo movimento provavelmente os Maçons da época tenham sofrido influência.

Durante séculos, o homem vinha padecendo forte pressão psicológica para não fazer qualquer questionamento a respeito da religião. Era obrigado a aceitar os dogmas impostos e ensinamentos religiosos como verdades absolutas; caso contrário seria provavelmente excomungado, sofrendo a ação da Inquisição.

Apesar de toda opressão, a história registra que as Escolas filosóficas modernas vinham lutando contra o absolutismo do pensamento religioso da época. Com a transformação da Maçonaria Operativa em Maçonaria Especulativa, a Arte Real toma outro sentido. As suas fileiras, agora, não são exclusivas de pedreiros na arte de traçar linhas arquitetônicas destinadas principalmente à construção de templos religiosos. A arte do saber, do pensar toma vulto entre os obreiros. Sua identificação fica mais clara ainda, quase que em sua totalidade, junto às Escolas Filosóficas Modernas: Renascimento, Racionalismo e Iluminismo, cujo objetivo era a libertação da consciência humana.

Com o Renascimento, os filósofos do Iluminismo se entusiasmam e projetam dois caminhos a serem percorridos: o laicismo e o da luta em busca de melhores condições de vida para o homem. A Maçonaria Especulativa, por sua vez, adota uma vertente de pensamento, que se constitui em observar os princípios morais do homem, aplicando-os no bom relacionamento humano, na confiança, na sinceridade e na lealdade. É através dessa observação que o Maçom tenta compreender a interação humana e construir uma harmoniosa e perfeita fraternidade entre seus membros.

Como a Maçonaria abraçara o pensamento dos movimentos filosóficos expurgados pela Igreja, (que vê no Renascimento o estímulo para uma cultura exclusivamente terrena, emponderando em demasia a dignidade do homem, com grandes prejuízos para a vida espiritual), passou a ser perseguida. Perseguida por pregar a liberdade de pensamento e, sobretudo, a liberdade de consciência. Perseguida porque proporciona ao homem o direito de conviver com os outros homens que professem qualquer religião ou fé. Perseguida porque o seu lema maior é “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Perseguida porque dá ao homem o direito de ser livre, inteira e intensamente livre.

No teor do pensamento renascentista, alguns frades, na Idade Moderna, passaram a pregar que o Humanismo restringia o homem ao puramente humano, reprimindo, sobretudo os fatores espirituais. Diziam eles:

“Nosso humanismo, por natureza, difere sensivelmente da atitude espiritual dos demais humanismo: difere da atitude humanista renascentista, da de Herder ou de Goethe, que apenas pretendem elevar-se acima do puramente material; difere dos atuais humanismo no domínio econômico, social-ético, marcial e político; difere ainda do humanitarismo dos pseudocristãos, da Maçonaria, do Deísmo e dos Livres Pensadores.” [1]

É nesse contexto que a Maçonaria abre suas portas para o pensamento filosófico, procurando se libertar dos dogmas, das superstições que escravizam o homem, e passa a questionar a sua existência, através da investigação científica, até reconhecer os valores e direitos individuais de cada ser humano.

Alicerçada no amor fraternal, passa a dar ênfase ao amor ao próximo, a Deus, à pátria e à família; os seus membros se reconhecem como verdadeiros irmãos. A livre investigação da verdade, simbolicamente, é a busca constante da Palavra Perdida que nunca será encontrada e, se encontrada, não será decifrada, por ser a chave dos mistérios da vida; se assim o fosse, perderia a razão da sua existência por conhecer toda a verdade, algo inalcançável para qualquer Maçom.

A Liberdade de pensamento, a Igualdade entre os homens de qualquer credo e a Fraternidade universal constituem o tripé que faz da Maçonaria uma Escola de pensamento filosófico, em busca da felicidade interior, do bem-estar social, anulando toda e qualquer aspereza que asfixia o homem, no exercício do amor ao próximo. Ela tem como grande objetivo a razão e a justiça para que o mundo alcance a felicidade geral e a paz universal.

Para tanto, é necessário que o Maçom seja um pesquisador na arte de filosofar, procurando encontrar a paz interior, a tolerância, a humildade, o lapidar da Pedra Bruta para daí, então, deixar fluir todo o conhecimento adquirido, durante anos de aprendizado e pesquisa, iluminando a todos com o seu exemplo, como cidadão diferenciado no mundo profano.

Sem adotar uma linha unilateral de pensamento filosófico, a Maçonaria torna-se fundamentalmente filosófica, trabalhando com justiça, no sentido de promover a solidariedade e a paz entre os homens.

O irmão Moisés Mussa Battal, da Grande Loja Maçônica do Chile, assim se expressa:

“A tarefa essencial da filosofia maçônica é irradiar a luz de nossos princípios e de nossos hábitos para melhorar a condição humana. Mais que monovalente, ou seja, de uma só linha, de uma só raiz, ela é polivalente. Tem vertentes, então, que a alimentam e ela se reparte como um delta no mundo profano. É tradicionalista e às vezes progressista; isto parece um paradoxo, mas não o é; tradição é conservar o melhor do passado para utilizá-lo em compreender mais o presente e preparar um porvir melhor que o presente. Ela não é o ensinamento de um conjunto de normas e princípios; nem um pensar exclusivo e excludente; é uma reflexão da vida e para a vida.” [2]

Ele ainda afirma:

“Diremos que nossa filosofia se identifica com esta Idade Moderna; sua identidade é quase total. Esta identidade é quase uma coerência, tratando-se do movimento filosófico chamado Ilustração.” [3]

Observe-se, agora, o que está escrito no Vade Mecum Maçônico da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba, com relação à definição e princípios da ordem:

“A Maçonaria é uma Ordem Universal formada de homens de todas as raças, credos e nacionalidades, acolhidos por iniciação e congregados em Loja, nas quais, por métodos ou meios racionais, auxiliados por símbolos e alegorias, estudam e trabalham para a construção da Sociedade Humana, fundada no Amor Fraternal na esperança de que com Amor a Deus, à Pátria, à Família e ao Próximo, com tolerância, virtude e sabedoria, com a constante livre investigação da verdade, com o progresso do conhecimento humano, das ciências e das artes, sob a tríade – Liberdade, Igualdade e Fraternidade -, dentro dos princípios da Razão e da Justiça, o mundo alcance a felicidade e a paz universal.” [4]

Fazendo-se uma análise dessa definição, verifica-se que a Arte de Filosofar está implícita nos princípios da Ordem. Cabe ao Maçom entender qual a sua real missão, qual o seu compromisso para com a Instituição e com os irmãos na construção de uma sociedade, alicerçada no amor fraternal. Para tanto é preciso que ele seja um homem tolerante, virtuoso e um sábio pesquisador. O diagnóstico na Arte do Filosofar está na proposta da investigação da verdade. Todo processo investigatório passa pela arte do pensar, do deduzir, do saber, do compreender, para então chegar à conclusão através do conhecimento. Além disso, não se deve esquecer que todo homem na senda do saber não pode se excluir da fraternidade universal, nem se isolar no seu próprio mundo, o que o impedirá de entender toda a riqueza que o processo investigatório lhe propõe. Totalmente introspectivo, ele será incapaz de conhecer o progresso da razão humana, das ciências e das artes, porque não as compreenderá em sua essência. Ele será um cego, um limitado e egoísta pensador inconcluso. A energia que o alimenta, dando-lhe força para alcançar o seu objetivo visando à construção de um mundo melhor é o amor fraternal entre os irmãos, à família e a Deus.

Como Escola na arte de filosofar, a Maçonaria não se limita a uma vertente da Filosofia. Ela busca, através dos seus postulados, incentivar seus membros a compreenderem o seu “EU”, com vistas à construção de uma sociedade mais fraterna. Para isso, têm o livre arbítrio que lhes permite estudar e pesquisar o que lhe convém, com a sabedoria que lhes deve ser peculiar, daí serem livres pensadores. Para realizar esse sonho quase “utópico”, o Maçom deve, portanto, se libertar do egoísmo, das vaidades humanas para se tornar um homem de bons costumes, humilde, justo, fraternal, livre, feliz e perfeito, para então ser a Pedra Polida na construção de uma perfeita sociedade humana.

Observe-se o que consta na Constituição do Grande Oriente do Brasil:

“Art. 1º – A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionária, cujos fins supremos são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.” [5]

Do mesmo modo, a Constituição da Grande Loja do Paraná, que estabelece:

“A Maçonaria é, antes de tudo, uma instituição filosófica; sua finalidade é a propagação de sua filosofia. Todas as suas atividades, sociais ou políticas, não são mais que aplicações dessa filosofia ao campo político-social.” [6]

A partir da análise feita no tocante à definição e os princípios da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba, cabe agora, com base nas Constituições do Grande Oriente do Brasil, em seu art. 1º, bem como considerando o que estabelece a Grande Loja do Paraná, como Instituição Filosófica, que não é muito diferente da Grande Loja da Paraíba, questionar: os maçons praticam filosofia? Sob o aspecto constitucional, a Maçonaria se diz filosófica. Porém questionemos mais uma vez: Ela o é efetivamente?

Poder-se-ia responder a essas indagações ora formuladas com uma resposta simplória. Entretanto o simplório, ao tempo que satisfaz, também induz à acomodação e à ignorância, porque leva as pessoas a pensarem que já sabem tudo, quando na verdade estão longe do saber, do conhecer. Assim, cabe aos Maçons compreenderem que a prática da filosofia implica em esclarecer as questões que a realidade lhes impõe com a intenção de melhor elucidá-la. No ritual de Aprendiz, há uma orientação inicial para a compreensão do seu “interior”, quando se afirma que todo homem é uma Pedra Bruta e que pode se tornar uma Pedra Polida.

É na interpretação do V∴I∴T∴R∴I∴O∴L∴, onde estão subentendidos os primeiros passos na arte de filosofar. Para compreender melhor a realidade, primeiro deve-se, através da investigação, elucidar todos os questionamentos interiores, com o espírito de desbastar a Pedra Bruta. Esclarecendo essas questões, que impedem de ver o real sentido da vida, encontra-se o brilho necessário e transformador para construir uma sociedade harmoniosa e feliz.

É nesse processo alomórfico e construtivo que a Maçonaria utiliza os instrumentos de trabalho da arquitetura e das construções, como símbolos filosóficos para o aprendizado dos seus membros

O prumo é o exemplo de sua dignidade, da altivez e da imparcialidade como homem justo. Tomando-o como exemplo, o maçom passa a ser o apaziguador, aniquilando as diferenças entre os irmãos.

O nível indica ao maçom a igualdade social entre os irmãos embasada na justiça e na tolerância, sem levar em consideração a classe social a que ele pertença no mundo profano.

Com o compasso e o esquadro, as obras arquitetônicas possuem a justa medida, como símbolo. Esses instrumentos lembram ao Maçom que todas as suas ações devem estar pautadas na justiça e na retidão, atos que regem um verdadeiro obreiro da Arte Real.

Quando Aprendiz, o Maçom utiliza o esquadro como instrumento de trabalho juntamente com o maço e o cinzel, por serem úteis no desbastar da Pedra Bruta. Com o esquadro nas mãos, ele corta as pedras, deixando-as estritamente retangulares para se ajustarem com exatidão entre si. Entende-se, portanto, que o esquadro simboliza que a perfeição está para o indivíduo, assim como a justiça se coloca para a sociedade.

O malho, ou maço, e o cinzel são instrumentos preciosos que o Aprendiz usa para transformar a Pedra Bruta em Pedra Cúbica. Ele trabalha pacientemente deixando aflorar a sua arte. Simbolicamente esses instrumentos mostram-lhe como deve corrigir os seus defeitos, tomando decisões sábias (o cinzel), com determinação enérgica (o malho).

Enquanto a Pedra estiver Bruta, não se pode utilizar o compasso, pois é um instrumento usado pelo Mestre, quando a pedra estiver polida, esquadrejada e perfeitamente acabada.

A régua permite traçar linhas retas que podem ser prolongadas até o infinito. Para o Maçom, ela simboliza o direito inflexível e a lei moral, no entanto as realizações desse trabalho podem ser limitadas; antes, porém, deve-se traçar um programa que direcione passo a passo os caminhos a seguir, que vão além da ideia do “abstrato” (Régua), enquanto o compasso simboliza a “realidade concreta” com a qual se vivencia.

Filosoficamente, ser Maçom significa ser um pedreiro no processo construtivo da virtude, ser um obreiro incansável dessa obra interminável, ser perseverante no uso da trolha com prudência e perspicácia, pacientemente, quebrando as asperezas ainda existentes em seu interior. Para se construir uma sociedade mais justa e fraterna, o Maçom precisa primeiro se tornar uma pessoa melhor e exercitar com excelência a fraternidade.

A Filosofia nos graus simbólicos

A Maçonaria, como Instituição filosófica e iniciática, procura despertar no homem o senso de justiça e a perfeição. Para tanto, faz-se necessário, inicialmente, que ele mergulhe em seus pensamentos, buscando a fonte da razão de sua existência. Só assim será capaz de decifrar os enigmas interiores, quebrando as arestas que o separam da “verdadeira luz”, polindo a sua alma e tornando-se um homem capaz de trabalhar a Pedra Bruta que o simboliza em seus estágios evolutivos na investigação, interpretação e compreensão do seu próprio “EU”. Nesse sentido, interpreta-se ao iniciado o mundo maçônico, no qual a Loja é o símbolo do macrocosmo, o Universo; e do microcosmo, o homem.

É missão do Aprendiz trabalhar a sua interioridade no controle de “si”, buscando compreensão através dos ensinamentos a ele transferidos: os significados do desbastar a Pedra Bruta. Vencer as paixões mundanas deve ser a sua primeira reflexão; num estágio seguinte, ele trabalha desbastando as asperezas que o deixam cego, enquanto profano, impedindo-o de enxergar o “diamante” que é o homem. Agora, o Aprendiz, enquanto neófito, é instruído a trabalhar no sentido de quebrar as arestas que encobrem todo o brilho da essência humana, para, então, quando Companheiro, trabalhar na Pedra Cúbica. É no mestrado que esse conhecimento filosófico adquire corpo sólido. Assim sendo, é de fundamental importância que o Maçom deva instruir-se a respeito dessa parte filosófica, porque a vida em si é o exercício da filosofia.

Para adquirir esses conhecimentos, o Aprendiz tem que evoluir simbolicamente e subir com dificuldade os degraus da escada de Jacó. A cada conhecimento adquirido, ele faz uma reflexão de sua existência; a percepção é individual e intransferível, levando-o com seus estudos e observações a uma interpretação pessoal da vida na compreensão do amor ao próximo, alicerce de toda felicidade humana.

A investigação da verdade é a base da Filosofia Maçônica. A compreensão da Arte Real deve ser interpretada, na Maçonaria Especulativa, como sendo o aperfeiçoamento na arte de pensar, da investigação em busca do significado da existência e da verdade.

Jules Michelet, historiador e escritor francês, afirma:

“É preciso planar sobre o que nós fazemos. É necessário saber muito mais por cima e por baixo, ao lado e de todos os lados, rodear o seu objeto e tornar-se o seu dono.”

Grau de Aprendiz Maçom

O grande filósofo Sócrates ensina ao Aprendiz em filosofia, que a primeira coisa a fazer é aprender a pensar. Ele afirma: “Conhece-te a ti mesmo”. Aprendendo a pensar, aprende-se a conhecer, a discernir, a falar. Foi o que o próprio Sócrates fez. Dessa forma a linguagem que ele usa é sempre a linguagem do conhecimento. Eis aí o primeiro passo do Aprendiz Maçom: aprender a pensar. Como a Filosofia está embasada na busca e na investigação para chegar ao conhecimento, por analogia, o Aprendiz Maçom, mergulhado em seu interior, no seu pensar, procura entender o sentido do seu próprio “EU”, passando a conhecer-se melhor. Dessa forma, morre para o mundo profano, renascendo com outra visão de mundo, buscando outro estilo de vida completamente transformador.

Sócrates afirma também que o homem deve morrer instintivamente, para que as virtudes do seu interior possam aflorar, elevando-o acima das pequenas coisas desse mundo. Sócrates ainda nos fala: “O existir nada mais é que o cotidiano na busca do saber”. Para ele, a virtude só será alcançada quando se adquire a ciência, mas para isso depende do trabalho e da luta constante que o homem pode empregar na busca do conhecimento.

Filosoficamente, sabe-se que a existência humana passa pela questão do “SER”. O Aprendiz Maçom deve ter como objetivo conhecer primeiro a “si” mesmo, desbastando a Pedra Bruta, para daí, então, compreender todo o sentido da lapidação do espírito; não limitar-se ao pensamento primário de que o ser está singularizado no “SER É, O NÃO-SER NÃO É”.

Cabe aqui descrever o que Tomás de Aquino, preceitua:

“O ser não se pode acrescentar nada que lhe seja estranho, porque nada lhe é estranho, com exceção do NÃO-SER, que não pode ser nem forma nem matéria.”

Conhecer, portanto, é descobrir o “SER”; assim, para o Aprendiz Maçom, o conhecimento pode significar o nascimento do seu “SER” interior. Compreendendo a “si” mesmo, ele se diferencia do profano, pois uma nova luz ilumina o seu caminho, uma vez que visualiza as coisas com o olho do pensamento, usando a lente da inteligência, ao passo que o profano olha e não vê. É aí onde reside a diferença entre o olhar e o ver, entre o profano e o Aprendiz Maçom.

Com base no pitagorismo, o Aprendiz mergulha no silêncio, como primeiro fim, para que se possa melhor enxergar, ouvir e meditar.

“Conhece-te a ti mesmo!” Essa assertiva no sentido maçônico leva à conclusão de que, se o Aprendiz Maçom não praticar o conhecimento interior, se não lapidar o seu espírito com a finalidade de evoluir, com a intenção de aperfeiçoar o seu intelecto, não buscar uma conduta condizente com os princípios da moral e da razão, não conseguirá desbastar a Pedra Bruta.

Portanto, o Primeiro Grau ensina que é necessário o conhecimento próprio, para daí se partir para outros conhecimentos. Finalmente, o Aprendiz deve aprender a trabalhar em equipe, com amor, vigilância e dedicação.

Grau de Companheiro Maçom

Uma vez o Aprendiz Maçom conhecendo o seu interior, ele agora está preparado para o passo seguinte, alicerçado no pensamento do filósofo francês René Descartes: “Se duvido, penso, se penso, existo”. É a senda do Companheiro Maçom.

Por estar filosoficamente bem mais elevado, o Grau de Companheiro Maçom, direciona-o
para a verdade científica, anulando definitivamente as superstições. Nesse grau, pode-se fazer uma síntese das filosofias de Pitágoras, de Parmênides, de Sócrates, além de outros.

“O que somos? O que é que existe? De onde vieram as coisas? Para onde iremos?” Esses questionamentos são, na verdade, a primeira grande influência filosófica do Segundo Grau, advindos dos primeiros pensadores pré-socráticos. Eles procuravam compreender e buscar soluções para os princípios das coisas existentes. O ato de pensar era o caminho para chegar a conclusões concretas, visando encontrar uma resposta que se baseasse num ponto de vista lógico para seus questionamentos.

A constante mudança que sucedia na natureza deixava o homem deslumbrado, diante do fenômeno que consistia em as coisas mudarem, desaparecerem e a natureza continuar a mesma. Simbolicamente é o que acontece com o Companheiro: a sua primeira tarefa é fazer uma análise objetiva da realidade física, a fim de que possa chegar a um conhecimento tanto maior da existência. A vida é um enigma e, no Segundo Grau, o tema é abordado filosoficamente: O que sou eu? O que é a vida? Que estou fazendo neste mundo?

Neste ponto, faz-se presente a filosofia de Parmênides de Eleia, talvez o maior entre os pré-socráticos. Em um dos fragmentos, dentre os que chegaram até hoje, ele filosofa:

“Mas há no mundo o que importa mais que o mundo: O ser do mundo.”

Protágoras dizia que o homem é a medida de todas as coisas. Portanto, quando se pensa, esse ato está sempre ligado ao “ser” e acredita-se que se não existisse elo, não existiria o pensar, haveria apenas um simples refletir. Entende-se, assim, que o pensar tem sempre o homem como alvo principal.

Sendo um grande conhecedor do seu “EU”, o Companheiro Maçom, agora, passa a estudar o conhecimento sociológico para melhor entender e ter uma visão mais apurada dos valores sociais e individuais. Ele passa a ser o defensor da vida social e inimigo das tiranias que procuram escravizar e alienar a inteligência e o espírito do homem, pois a Arte Real não admite entraves ao pensamento humano.

Com o exposto, entende-se que o Segundo Grau é essencialmente social. O Companheiro Maçom tem que trabalhar com afinco na prática da filantropia, a serviço da comunidade; ele tem que se despojar em beneficio de seus semelhantes.

Eticamente o Companheiro Maçom deve possuir quatro atributos: ser um sábio, por compreender os significados da ciência, interpretar a Arte Real e, acima de tudo, por conhecer a “si” mesmo; ser forte por vencer as paixões alienadoras que escravizam o homem; ser um moderador nas diferenças e nas indiferenças da vida social; ter senso de justiça por ser um homem virtuoso, reto e íntegro. Atingindo esses objetivos, ele agora está preparado para subir mais um degrau da escada de Jacó.

Grau de Mestre Maçom

O filósofo Arcângelo Buzzi afirma que:

“O estudo da filosofia desenvolve o espírito de fineza. Exercita o pensamento a conhecer a realidade por si próprio, tornando-se ele mesmo esclarecido, portador de luz força de discernimento.”

Por excelência, o Mestre Maçom é um filósofo. Chegando ao Terceiro Grau, ele é muito mais Aprendiz do que quando tinha assento no setentrião, e muito mais Companheiro do que quando ocupava um lugar na coluna do sul. Diante dessa afirmativa, vem a pergunta que deve incomodar: Por que o Mestre é muito mais Aprendiz e muito mais Companheiro? A resposta que deve ser levada em consideração é que a missão do Mestre Maçom é ensinar. A melhor forma de aprender é ensinando, e se aprende muito mais do que estudando. Heidegger nos diz:

“É bem sabido que ensinar é ainda mais difícil que aprender.”

Para ensinar, o Mestre deve ser possuidor de conhecimentos, mas para isso precisa estar aberto ao aprendizado como um eterno Aprendiz. Se for soberbo, ele acaba se fechando e não evolui na arte de filosofar, daí os seus ensinamentos tornam-se falhos. Porém se ele exercitar a humildade e se deixar aprender, os seus conhecimentos se renovam e todos se beneficiam; com essa conduta, há um mútuo enriquecimento entre ele, o Aprendiz e o Companheiro.

Nesse contexto, ele deve aprender a deixar-se aprender. A sua compreensão ultrapassa os discípulos que se limitam a absorver o conhecimento transmitido, porque ele é uma fonte inesgotável de estudo e de pesquisa. Se assim não o faz, só lhe resta inventar e propagar a filosofia do achismo, na qual ele supõe, mas não tem certeza de nada, tudo é fruto de sua imaginação. A Maçonaria não admite invencionices, mas nela existem mestres que, agem dessa forma e, ocasionalmente, falam por pura intuição, sem fundamento no que diz; pura fábula criada pelo seu pensamento.

A constante pesquisa, aliada à perseverança, incentiva o Mestre a alcançar os objetivos desejados. É através da interpretação e compreensão do objeto em estudo que o questionamento é elucidado. É na tolerância que ele exercita a arte de aprender com paciência, como um Aprendiz ao desbastar a Pedra Bruta. Sem a socialização do conhecimento, o Mestre só enxerga a “si” e assume uma conduta isolada, daí o que é filosófico entre os Maçons fica restrito a poucos pensadores. Adotando essa postura, toda a sua filosofia adquire outro significado com deduções ilógicas sobre tudo com que se depara e passa a transmitir suas conclusões aos Aprendizes Maçons como verdade absoluta. Dessa forma, ele não está contribuindo com a Instituição na arte de filosofar.

O Mestre Maçom deve sempre pesquisar, sem se deixar influenciar pelo seu ímpeto, sem nenhuma base de sustentação nas ideias do achismo, sistemas ou doutrinas alienadoras. É bom não confundir postulados maçônicos com dogmas, como se a maçonaria fosse uma seita. Ela não é religião, mas religiosa.

Sócrates, o maior de todos os filósofos gregos, disse:

“Empenho muito mais belo é quando alguém, servindo-se da dialética, tomando uma alma apropriada, pela planta e nela semeia, com ciência, discursos que são capazes de ajudar aos próprios e a quem os plantou, e que não são infrutíferos, mas têm em si germes donde brotarão outros discursos plantados, em outras pessoas, discursos capazes de produzir esses efeitos, sem nunca falhar e de tornar feliz quem possui tal dom, tanto quando o homem isso é possível.”

O Mestre Maçom não deve se prender a ensinar a ritualística referente à Loja a qual pertence. Ele transcende a essa prática, a esse pensamento, a esses ensinamentos. Ele não pode ficar limitado à discussão dos trabalhos em Loja, muito menos falando em vão, externando maledicência, criando um clima de animosidade entre os irmãos, dando mau exemplo aos Aprendizes e Companheiros. Deve-se entender que ele é uma fonte de tolerância, de riqueza para o aprendizado; é exemplo a ser seguido dentro e fora de Loja, pois é um Mestre Maçom.

Conclusão

O Mestre Maçom se caracteriza pela serenidade ao pensar, pela sua humildade ao ouvir, pelo controle de “si” ao agir. Ele é o termômetro entre as colunas, é a harmonia na Câmara do Meio pela meditação na compreensão do significado da morte.

A ordem dos trabalhos requer tolerância e mansidão no uso da palavra, que circula tanto no ocidente como no oriente. Passa pela interpretação do significado da “luz” que emana do oriente, iluminando a todos num clima de união. O Mestre Maçom deve ser possuidor da sabedoria que foi outorgada pelo G∴A∴D∴U∴ ao Rei Salomão, quando ele se torna um Venerável Mestre ou um Sereníssimo Grão-Mestre. É nesse exercício prático que o filosófico se torna concreto no mundo profano, onde o Maçom é o exemplo de homem digno da serenidade que lhe é peculiar.

Compreende-se que o Mestre Maçom é uma fonte inesgotável do pensar, do agir interagindo, do lapidar-se lapidando. É a busca do saber até a luz do conhecer, é a compreensão dos significados que a vida lhe impõe, questionando os porquês, procurando soluções para as coisas imperceptíveis aos olhos do mundo profano, a fim de tornar-se um profundo conhecedor na arte de FILOSOFAR.

A Maçonaria, como Instituição Filosófica, precisa de homens pensadores, filósofos da vida, das experiências adquiridas dentro e fora das Lojas Maçônicas. Nela não há discórdia de pensamentos, pois todos buscam esclarecer o que está obscuro, o inexplicável. A razão de sua existência está na vontade de interpretar e compreender os obstáculos que afastam o homem da paz interior, que o impossibilitam construir a felicidade humana.

Para ser Maçom não é preciso cursar universidade, nem ter título universitário, muito menos ser doutor, principalmente em Filosofia. Nela, compreende-se que todo Maçom deve ser “livre e de bons costumes”; um pensador, um investigador que caminha nas veredas das observações das atitudes humanas, desprezando o que é desprezível, lapidando-se até o brilho do conhecimento. Ser um incansável explorador em busca da Palavra Perdida e Indecifrável, trilhando o caminho da investigação, na compreensão da
verdade até alcançar a luz que o libertará das trevas que o acorrentam até a morte, ressurgindo para uma nova vida.

Nessa compreensão, todo homem com esses pré-requisitos têm condições de adentrar pelo Portal que separa a ignorância da verdade e participar da meditação; filosofar sobre a vida, com a finalidade de encontrar o diamante que brilha em seu interior. É um traspassar pela grade da razão, subindo pela escada de Jacó até alcançar, simbolicamente, toda sabedoria do Rei Salomão.

Autor: Alveriano de Santana Dias

Fonte: Revista O Buscador. Ano I – N° 2, pág. 21– 31 abr/jun – 2016. Uma publicação da Loja Maçônica de Estudos e Pesquisas Renascença nº 1, oriente de Campina Grande- PB.

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Notas

[1] – http://www.samauma.biz/site/portal/conteudo/opiniã o/g00304incidencia.htm

[2] – http://www.lojasaopaulo43.com.br.htm

[3] – http://www.samauma.biz/site/opinião/g00304inciden cia.htm

[4]Vade Mecum Maçônico, 1991, p.21.

[5]Boletim Especial da Constituição – 25/05/2007, p.3.

[6] – Constituição, 1985, p. 5.

Referências bibliográficas

ALBUQUERQUE, Raimundo Rodrigues de. A Incidência Filosófica nos Graus Simbólicos. Disponível em: htttp://www.samauma.biz/site/portal/conteúdo/opinião/g00304incidencia.htm

AUTOR DESCONHECIDO. Maçonaria e seus princípios. Disponível em:
http://www.vivernatural.com.br/filosofias/mac_prin.htm

BATTAL, Moises Mussa. Filosofia da Maçonaria – “Lições de Filosofia Geral e Maçônica“. Editora Gazeta Maçônica. São Paulo. 1991. Disponível em www.lojasaopaulo43.com.brr.

GUERRA, Pe. Aloísio. Religiosidade e Maçonaria. Editora Maçônica a Trolha, Londrina, novembro 2006.

GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAÍBA. Rituais dos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom. G:.L:.O:.M:.E:.PB., João Pessoa, 1985, Nova Edição – 2005.

GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA. Vade mecum Maçônico. GLOMEPB. Editora Universitária, João Pessoa, 1991.

MORENTE, M. Garcia. Filosofia. Disponível em http://www.brasilescola.com/filosofia/

NOVO DICIONÁRIO ELETRÔNICO AURÉLIO

PRETERS, Ambrósio. Filosofia Maçônica. Disponível em : http://www.samauma.biz/…/ap00306filosofiamaconica.htm

PUCCI, Francisco C. L.. Graus Filosóficos. Disponível em : http://www.maconaria.net/portal/index.php?option

Uma curta análise sobre a maçonaria do ponto de vista de um Companheiro maçom

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Ao ser iniciado em uma Loja Maçônica Regular, um aprendiz, naturalmente busca na simbologia dos ritos, rituais, regulamentos e Landmarks, elementos que possam lhe servir de base para sua caminhada. Não obstante, o aprendiz inicia sua trajetória na ordem completamente desnudo de conhecimento maçônico. As poucas informações que possui, são abstratas e por vezes, contraditórias, não dando ao mesmo, a real percepção do que está acontecendo em seu entorno e do que encontrará em sua caminhada na maçonaria. “Sui generis”, o processo de iniciação maçônica, independente do Rito ou Potência, possui protocolos que não permitem revelar ao pretenso candidato o que se passa na Ordem.

A ausência de conhecimento, a desorientação no tempo/espaço e o encantamento inicial por fazer parte da irmandade provocam no aprendiz, sobretudo, em suas primeiras reuniões, uma série de percepções que ouso denominar de “conflitos contraditórios”. Em suma, o aprendiz é tomado por um misto de euforia e receio. Euforia por desvendar os augustos mistérios da ordem e receio de agir como um tolo e ser reprochado por um irmão mestre.

Esse paradoxo de pensamento quase sempre tem como consequência direta a maximização de um comportamento introvertido por parte do aprendiz, principalmente, quando há no quadro da Loja, Irmãos Mestres que agem como verdadeiros bastiões da velha maçonaria, sempre ávidos a repreender, sem antes esclarecer. Esses irmãos, pouco ou quase nada oferecem em termos de conhecimento maçônico aos aprendizes/companheiros, porém, estão sempre dispostos a se levantarem tão somente para apontar falhas e erros cometidos por um aprendiz/companheiro, situação que nada contribui para o amadurecimento/crescimento destes na ordem, apenas causa constrangimento e quebra de harmonia.

O aprendiz, precisa ser acolhido, guiado e incentivado durante sua caminhada. Os primeiros meses na ordem são essenciais nesse processo de lapidação e conhecimento mútuo. A transformação da “pedra bruta em diamante”, deve ser entendida como um PROCESSO, e, portanto, deve ocorrer de forma lenta, gradual e contínua. Nesse contexto o padrinho deve de fato assumir a responsabilidade de conduzir seu afilhado pelas entranhas da maçonaria. E de forma honesta, respaldar a continuidade deste na ordem ou dissuadi-lo de sua caminhada se comprovar o equívoco de sua indicação. Refutar essa responsabilidade seria o mesmo que não assumir e/ou reafirmar seu compromisso com a ordem.

O grau de aprendiz maçom, constitui-se em um estágio probatório. Onde o candidato deve ser avaliado pela suas qualidades e defeitos durante determinado período, tendo como resultado final a promoção ou a dispensa. Essa analogia exemplifica bem o que deveria ocorrer no grau de aprendiz maçom. Durante esse estágio deve-se buscar conhecer principalmente a natureza e a essência do indivíduo, pois, se este apresentar uma natureza insolvente, provavelmente não está apto a fazer parte da irmandade. Não se pode transformar a pedra bruta em diamante sem antes conhecer sua natureza, basta lembrar que nem toda pedra após seu processo de lapidação reluzirá como um diamante.

É indubitável dizer que tal propósito deveria acorrer no processo de sindicância do candidato, mas percebe-se que algumas sindicâncias não são feitas com o rigor necessário. Ao passar pelo filtro da investigação o aspirante a aprendiz está apto a fazer parte da maçonaria. Em tese, iniciado, este passa a carregar o nome e o prestígio de seu padrinho na ordem. E por igual interesse o padrinho passa a tutelar seu afilhado junto a seus iguais, onde se compromete moralmente com toda a família maçônica de que o indicado e agora aprendiz reúne as condições mínimas para integrar a irmandade.

Não há necessidade de uma relação paternalista, o padrinho deve agir como mentor de seu afilhado, orientando-o quando necessário, e, sobretudo, cobrando-lhes retidão em suas ações, dentro e fora da maçonaria. É importante que nessa relação haja reciprocidade. Quando há sinergia o caminho torna-se menos laborioso.

Quanto ao tempo de interstício para elevação, cabe ressaltar a importância do cumprimento integral desse período, pois, é nesse momento que ocorre a verdadeira metamorfose. A passagem do profano para o maçom. Em outras palavras, é tempo de descobertas e frustrações. O senso comum aos poucos vai cedendo lugar ao conhecimento retilíneo da Arte Real. Os mitos vão perdendo espaço para a simbologia e o aprendiz gradualmente vai encontrando seu lugar dentro da ordem. Salvo as exceções o não cumprimento do interstício pode queimar etapas no processo de maturação do aprendiz maçom, trazendo possíveis consequência futuras e indesejáveis para a Ordem.

No universo de um aprendiz maçom, quase tudo é novidade, os erros e acertos destes, devem ser sempre precedidos de uma boa dose de paciência. Pré-julgamentos, críticas exacerbadas ou elogios fáceis devem ser evitados. Ressalta-se que o aprendiz está apenas iniciando seu estágio de evolução, portanto, não encontra-se ainda pronto para a ordem.

Sua caminha depende de vários fatores e elementos externos. Atrasos e retrocessos são comuns nessa trajetória, principalmente quando se convive com irmãos de “luzes adormecidas”, que se incomodam com o fulgor de um irmão recém-nascido. É o ego maçom tentando se sobrepor através tão somente da insígnia de Mestre, frente um Aprendiz desnudo de conhecimento, mas de brilho próprio.

Ao se discutir o interstício e consequentemente o aumento de salário, chegamos a um ponto chave na maçonaria e que pouco se problematiza sobre ele. A diferença entre está preparado e ser merecedor do aumento de salário.

Está preparado e ser merecedor são dois elementos que deveriam ser levados em consideração nos processos de elevação/exaltação. Entende-se que não seja uma tarefa simples a distinção entre as duas situações, pois, trata-se de uma linha tênue que necessita de coerência, sensibilidade e, sobretudo, senso de justiça de quem concederá o aumento de salário.

A diferença substancial entre estar preparado e ser merecedor do aumento de salário, deveria concentrar-se na capacidade intrínseca do indivíduo de sentir a maçonaria e estabelecer no campo metafísico uma relação de reciprocidade. Não há fórmulas prontas ou sistemas que possibilitem datar o momento exato dessa simbiose, pois, a mesma está erigida numa variante instável do tempo/espaço de cada indivíduo. Ou seja, o tempo/espaço/intensidade, são variáveis que depende de cada sujeito e de seu envolvimento com a Ordem.

Ao analisar a situação é possível concluir que muitos irmãos maçons nunca alcançaram de fato esse êxtase de interação e envolvimento mútuo com a ordem maçônica. Quando a maçonaria é capaz de tocar seu interior, fica evidente a “tesão do indivíduo pelo trato da coisa”. A interação e as relações ganham contornos prazerosos, onde, vivenciar a maçonaria deixa de ser demagogia e passa realmente a fazer parte do dia a dia do indivíduo. Do contrário as relações são frias, protocolares e de “status quo”.

É interessante ressalvar que estar preparado é tão importante quanto ser merecedor, pois, o conhecimento é o ponto de partida para o crescimento dentro da ordem. A crítica que faço refere-se ao fato de alguns aprendizes/companheiros não respeitarem o momento certo de seguir a caminhada, tão somente pelo bel prazer de trocar de avental e ascender no círculo de influência de sua Loja. Galgar graus pressupõe o direito de um dia se sentar no Trono de Salomão. Por isso falo da importância de ser merecedor antes mesmo de estar preparado. O tempo, não pode ser considerado a única escala de medida nos processos de elevação/exaltação. Fissuras nos interstícios causam erros grotescos de avaliação.

Ao discutir as relações de subserviência na maçonaria, deparamos com um anacronismo velado. Há uma interpretação equivocada por parte de alguns maçons sobre o tema. A subserviência de um maçom, independente do grau ou potência, deve ser a maçonaria universal e suas leis e não ao maçom de grau mais elevado. Do contrário, abre-se uma seara perigosa no convívio diário entre irmãos. A título de exemplo de interpretação equivocada da temática em tela, podemos citar inúmeras situações que geram desconforto e conflitos de interesses em uma Loja Regular. A principal delas refere-se ao servilismo a que o aprendiz/companheiro é submetido em alguns casos. Situação que dependendo do contexto pode evoluir para uma exploração do indivíduo no mundo profano.  Em sentido oposto, observa-se em alguns momentos uma bajulação do aprendiz/companheiro frente a um mestre maçom, com o pseudo objetivo de lograr algum êxito dentro da ordem ou ter uma melhor aceitação. Em ambos os casos uma subserviência desnecessária, incoerente e que fere os princípios libertários e de desenvolvimento filosófico e intelectual pregados pela Maçonaria Universal.

Em relação ao comportamento e condutas questionáveis de alguns Irmãos dentro da Ordem cabem-nos observar uma citação do irmão Kurt Max Hauser, publicada em um artigo na Revista O Prumo, nº 81, onde relata que

“…O pior inimigo da maçonaria é o que se encontra nas colunas de nossos Templos e que, por sua conduta para com a família ou na sociedade onde vive, provoca críticas justas sobre a Instituição a que não cansa de alardear que pertence. Isto pode ser certo também para as organizações e instituições sociais, pois, o gérmen que logrará nossa destruição é, desgraçadamente, produto de nossa própria generosidade. Não há de salvar-nos condescendências e tolerâncias criminosas. Todo organismo leva dentro de si o gérmen de sua própria destruição”.

Autor: Kleist Alan Tameirão

*Kleist é membro da ARLS Deus, Pátria e Família, nº154, situada no oriente de Corinto e jurisdicionada à GLMMG.

Da Coluna do Sul, as impressões de um Companheiro Maçom

Le temple de Karnak à Louxor

Iniciado em março de 2017, estive na Coluna do Norte até fevereiro de 2019 quando para a Coluna do Sul fui elevado. Daqui posso observar minha antiga coluna, os meus Irmãos Aprendizes, que representam na Maçonaria as crianças do mundo profano. Uns mais ativos e atuantes, outros mais observadores; mas todos com potencial.

Ombreados comigo, meus gêmeos companheiros, somos na Maçonaria os adolescentes, e caminhamos para alcançarmos, no tempo do GADU, a maturidade maçônica. Como um adolescente do mundo profano, aqui na Coluna do Sul me deparo com muitas dúvidas e contradições. Não sou mais a criança da Coluna do Norte, e ainda não sou o adulto do Oriente.

Do alto da Coluna do Sul tenho uma visão melhor de toda a Loja, observo os Irmãos de uma maneira mais ampla, e de um ângulo diferente do que quando estava na Coluna do Norte. Assim posso ver que há, como nas famílias profanas, Irmãos diferentes uns dos outros. E sobre ter visão de ângulos diferentes ainda vou falar mais à frente.

Como um adolescente profano, um companheiro maçom é mais observador, é mais crítico e nesse processo de amadurecimento deve ser questionador, na acepção correta da palavra. Nessa miscelânea observo muito a mim mesmo. É importantíssimo praticar a autocrítica.

Que maçom eu sou? Como os outros Irmãos me enxergam? É importante ter um feedback, todo marinheiro sabe da importância de uma bússola para correção das velas e dos rumos durante a navegação até um porto seguro.

Tenho plena consciência de que em algum momento de minha caminhada na DFP, fui um pouco de cada tipo de maçom: tenho consciência que fui em determinados momentos o Irmão Cigarra, aquele que canta bonito, faz lindos discursos, faz muito barulho, mas trabalha muito pouco; eu fui o Irmão Clima de São Paulo, instável e inconstante na Loja; eu fui o Irmão Quiabo, escorreguei dos serviços em Loja e fora dela; fui o Irmão Canoa, só segui em frente com outro Irmão remando por mim; fui o Irmão Trailler, precisei ser puxado em alguns momentos; fui o Irmão Girafa, estive com o corpo aqui na Loja e a cabeça lá fora; fui o Irmão Bolo, só apareci nas festas; e fui o Irmão Saraiva: a tolerância foi Zero!

Mas, felizmente meus Irmãos, em outros momentos de minha caminhada na DPF fui um pouco também dos Irmãos Espelhos, os exemplos que temos aqui, e que com as bençãos do GADU são muitos. Irmãos Livres e de bons costumes, estudiosos, constantes no trabalho e nas visitas; e sempre presentes de forma muito positiva na Loja e por isso muito respeitados por todos. Esses Irmãos Exemplos é que mantém a nossa Loja pujante! E eu fui em alguns momentos um pouco desses Irmãos também!

Assim, nessa miscelânea é que me enxergo! E os Irmãos? Como se classificariam na caminhada de cada um? Cigarras, Clima de SP, Quiabos, Traillers, Girafas, Bolos de Festas, Seus Saraivas, Exemplos? Será que concordam que somos, ou que fomos em algum momento, um pouco de todos Irmãos que citei acima?

Penso que somos únicos meus Irmãos, e que devemos sim seguir os bons exemplos, os espelhos, mas não devemos ter como objetivo querer ser cópia de ninguém! De minha parte, pretendo ser Eu, com meus defeitos e minhas qualidades, meus erros e meus acertos, e assim ir construindo a minha própria história aqui, e sempre, como diz um querido Irmão de nossa Loja e com grande sabedoria e simplicidade: “devemos ao menos tentar, a cada dia. ser um Maçom e uma pessoa melhor.”

Adaptando o conceito de um poeta contemporâneo: prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter uma velha, preconceituosa e atrasada opinião formada sobre tudo e sobre todos. Ninguém nunca deve se achar melhor que ninguém, porque ninguém o é! Assim, tenham a certeza que sempre serei Autêntico e não me furtarei nessa caminhada, a externar meus pensamentos, opiniões e posicionamentos, sempre de acordo com nossas Leis, e de maneira respeitosa, com a opinião dos demais Irmãos.

A Nossa Ordem, a nossa Instituição, é justa e perfeita! Nós os Maçons é que não somos, e precisamos ter essa consciência, pois só assim conseguiremos fazer progressos, aqui dentro da Maçonaria e fora dela como construtores sociais que devemos ser no mundo profano.

Não estamos aqui para ser julgados ou para julgar as ideias e pensamentos dos outros Irmãos. Devemos ser livres e de bons costumes, respeitando a liberdade de expressão de todos os Irmãos, inclusive os que tenham opiniões e posicionamentos diferentes dos nossos. Concordar com quem pensa o mesmo que Nós é muito fácil, o desafio é a tolerância ao contraditório. A Empatia é isso, é o ato de se colocar no lugar do outro, e esse o endereço mais difícil do mundo, mas quem descobre essa fórmula se aproxima muito da maturidade.

Exemplo o número 6 e o número 9. Dependendo do ponto de vista ou do ângulo que ele é observado, o mesmo pode ser 9 ou pode ser 6, e das duas formas, quem o observa está certo!

Pré-conceitos, intolerância, censura e radicalização de pensamentos e ações precisam ser banidos, e não fomentados em nossa Ordem e em nossa sociedade. Devemos ser Exemplos, não apenas nas palavras e na oratória, mas nas ações do nosso dia a dia, dentro da Loja e fora dela, em todos as situações de nossa vida profana e maçônica.

De minha parte, volto a frisar, sempre respeitando a nossa Constituição, nossa legislação e nossos Rituais, sempre que achar necessário e oportuno vou me posicionar, pois serei sempre um pouco de cada tipo de Irmão que citei no inicio do trabalho, mas jamais serei um Irmão Gado, ou um Irmão Jarrinho de Mesa, ficar aqui apenas enfeitando e fazendo número na Loja.

Finalizo assim esse trabalho meus Irmãos, conclamando Todos Nós a fazermos uma auto-crítica, e buscarmos lapidar de verdade, e não apenas da boca pra fora, a nossa pedra bruta.

Eu disse Lapidar a Pedra Bruta meus Irmãos, e não atirá-la na cabeça dos Irmãos que pensam ou tem opiniões diferentes das nossas. Vamos tentar praticar a EMPATIA.

Direto do topo da coluna do sul, essas são as impressões de um Irmão Companheiro, com ainda muito a aprender, e muito orgulhoso por fazer parte da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Deus, Pátria e Família nº 154 . Um TFA!

Autor: Cristiano de Lima Aguiar
ARLS Deus, Pátria e Família, nº 154 – Oriente de Corinto/MG

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