O Desenho e o Canteiro no Renascimento Medieval (séculos XII e XIII): Indicativos da formação dos arquitetos mestres construtores – Capítulo II

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2 – Vitrúvio – De Architectura Libri Decem

A noção que nos foi legada acerca do grau de conhecimento da obra de Vitrúvio durante a Idade Média, provocou um equívoco, que a exemplo do epíteto Idade das Trevas perdurou até o período contemporâneo.

Nele, transparecia a ideia de que sua monumental obra sobre o saber arquitetônico acumulado desde a Antiguidade somente teria sido redescoberta pelos europeus através de um manuscrito do livro em 1416 (século XV). Esta façanha devia-se a um secretário apostólico que participava do Concílio de Constança no Mosteiro de Saint-Gall.

Hoje sabemos que isso é completamente falso. Procuraremos resgatar todo o percurso possível desde a gênese da obra até os séculos XII e XIII, com o intuito de demonstrar quais edições estavam (ao menos teoricamente) disponíveis neste período histórico, chamado de Renascimento Medieval e de onde vem o melhor registro gráfico do conhecimento geométrico medieval que era aplicado nas edificações, os Cadernos de Villard de Honnecourt.

Marcus Vitruvius Pollio foi um arquiteto que viveu no período republicano da Roma Antiga. As datas de seu nascimento e morte são controversas, mas localizam-se em torno de 90 AC e 20 AC. Era natural de Latium, de origem respeitável e que por isso recebeu boa educação.

Trabalhou em engenharia militar, tendo sido designado pelo Imperador como supervisor permanente das máquinas. Tinha pouca prática na profissão de arquiteto e aparentemente teve pouco sucesso.

Sua referência à Basílica de Fano como sendo de sua autoria, dá-nos a certeza de que era realmente um arquiteto e não um construtor de muralhas, portos, pontes ou aquedutos.

Na velhice, escreveu o De Architectura Libri Decem conhecido entre nós como Os Dez Livros da Arquitetura, um tratado arquitetônico que dedicou ao Imperador Otávio Augusto aproximadamente no ano 27 AC.

Ele não foi um homem de muita importância em seu tempo, mas seu trabalho escrito foi o único sobre a Arquitetura Antiga que sobreviveu, tornando-se de grande importância principalmente para os italianos no Renascimento e leitura essencial para os arquitetos. Sistematizou seu tratado, no qual discutiu com grande precisão e detalhe a teoria e a prática da arte arquitetônica.

Comenta vários escritores gregos e trata seu próprio trabalho como uma compilação de conhecimentos prévios. Por esta razão, o professor Júlio Roberto Katinsky ao prefaciar o livro Vitrúvio – Da Arquitetura na tradução de Lagonegro, 2002 comenta que Françoise Choay “remete o livro de Vitrúvio (talvez fazendo eco a Boullée) à categoria de livros de engenharia, nada tendo a ver com Arquitetura”.

Apesar da idade do texto (século I AC.) a primeira edição impressa e ilustrada foi feita em Roma apenas em 1511 (século XVI). A primeira edição impressa em latim – sem ilustrações – é de Veneza em 1486 (século XV).

Durante todo este tempo, cerca de 1500 anos, o texto não tinha o auxílio das ilustrações. Rafael supervisionou uma tradução italiana em 1520 e outra edição foi impressa em Como (1521) com comentários detalhados feitos por Cesare Cesariano e acompanhados de numerosas ilustrações.

O texto de Vitrúvio é obscuro e um pouco místico; seu latim muito difícil provocou o comentário de Alberti de que “os gregos pensavam que ele estivesse escrevendo em latim e os latinos, em grego”.

O trabalho de Vitrúvio é um dos muitos exemplos de textos latinos que devem sua sobrevivência ao escritório – scriptoria – do palácio de Carlos Magno, no início do século IX.

A procura e a cópia de manuscritos antigos ficou conhecida como Renascimento Carolíngio. Um dos mais antigos manuscritos do trabalho de Vitrúvio encontra-se na Biblioteca do Museu Britânico, conhecido como o Manuscrito Harley 2767.

Ainda que sua obra tenha sido conhecida na Idade Média, ela popularizou-se de fato no século XVI, provavelmente por efeito das ilustrações que se apresentam cada vez mais elaboradas. No corpo do trabalho são descritos muitos instrumentos utilizados pelos mestres pedreiros como por exemplo o chorobate, utilizado para nivelamentos e que aparece no Livro VIII, capítulo VI (RUA,op.cit,1998).

Na verdade, segundo o professor Júlio Roberto Katinsky, a revelação para o mundo do tratado de Vitrúvio ocorre em plena Renascença, passando assim a integrar-se após 1414 à nossa cultura ocidental e deixando de ser uma leitura de especialistas. Sua obra passa a ser mais citada e comentada então do que nos mil e quinhentos anos passados.

2.1 – De Architectura – referências do século I ao século XV

No longo caminho da história do conhecimento do texto de Vitrúvio, ele aparece sempre visto por duas ópticas: servindo como manual técnico para uns e obra erudita para outros.

Katinsky (op.cit.,1985,p.219-220) sustenta que a grande difusão do texto do engenheiro e arquiteto romano durante a Idade Média foi levada com certeza pelos frades e monges ligados à Igreja Romana, ilustrando a apreciação erudita. Face à disseminação de técnicas práticas, levanta ainda uma segunda hipótese (sugerida por William L. MacDonald), na qual a obra de Vitrúvio teria sido escrita para profissionais socialmente secundários, ficando este viés denotado pelos conselhos e observações morais frequentes nas introduções dos Livros e pela sua utilização como um manual de orientação técnica.

As referências à obra de Vitrúvio serão anotadas conforme sua aparição através dos séculos, no intuito de documentar períodos de maior ou menor contacto com seu texto.

Século I (1 – 100 da Era Cristã)

As primeiras referências a Vitrúvio aparecem cerca de 90 anos após sua morte, com Plínio, o Velho (23-79) em sua História Natural, a qual difere nas proporções estabelecidas por Vitrúvio para as ordens dórica e jônica e concorda com a toscana. Sextus Julius Frontinus (25-104) com sua obra De Aquis et Aqueductibus Urbis Romae, ao descrever o sistema de captação e condução de água que abastecia Roma, cita Vitrúvio como o possível introdutor na cidade do módulo quinaria, que tinha secção muito apropriada.

Século II (101 – 200)

Não se conhecem referências a Vitrúvio, mas supõe-se que seu texto fosse conhecido por eruditos como Tácio, Plínio, o Jovem e Suetônio. Embora os letrados não tenham deixado provas deste seu conhecimento, a atividade construtora foi intensa nos tempos de Trajano (98 – 117) e de seu sucessor Adriano (117 – 138): Fórum de Roma, as Termas e o Mercado.

Século III (201 – 300)

Aparece uma nova e atuante geração literária que se apaixona pelos escritores do passado. Ao lado de inúmeras obras, Cetius Faventinus e Gargilius Martialis retomam a obra de Vitrúvio.

Cetius Faventinus intitulou sua compilação como Artis Architectonicae Privatis Abreviatus Líber. Aqui, aparece pela primeira vez a palavra Polio junto ao nome de Vitrúvio. Isto fez surgir a hipótese de que eram várias as pessoas chamadas Vitrúvio. Choisy (1909,p.259) interpôs uma vírgula entre os nomes Vitrúvio e Polio, para justificar que era outro autor.

Isto nunca foi comprovado e assim o sobrenome Polio agregou-se naturalmente ao nome. No século IX, havia uma cópia desta obra na Biblioteca do Mosteiro de Saint-Gall.

Trata exclusivamente da arquitetura civil privada, não tendo seu texto o rigor científico de Vitrúvio, talvez por ser produto de um compilador e não de um arquiteto. Esta obra marca o início de um hábito muito importante, que é o de produzir manuais práticos, que seriam muito utilizados nos séculos seguintes.

Gargilius Martialis é posterior a Cetius Faventinus. Escreveu um compêndio prático, para o qual utilizou fontes como Vitrúvio e Cetius.

Sérvio (360 – 411), quatro séculos após a morte do arquiteto romano, em seu livro Commentarii sobre a Eneida de Virgílio, recorda que Vitrúvio escreveu sobre arquitetura. Embora seja uma breve citação, fica demonstrada que a memória de Vitrúvio não havia sido esquecida.

Século V (401 – 500)

Os últimos testemunhos da civilização antiga no Ocidente aparecem com grande importância na transmissão da cultura às épocas vindouras ao suceder antigos eruditos que se dedicaram principalmente à matemática, geografia e medicina.

Martianus Capella escreveu entre 410 e 439, As Bodas de Mercúrio, da Filologia e das Sete Artes Liberais, uma enciclopédia onde se sistematizava os estudos que perdurariam por toda a Idade Média: o Trivium (Gramática, Retórica e Dialética) e o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música) que juntos compõem as Sete Artes Liberais.

No seu Quadrivium desaparecem as matérias referentes a Arquitetura e Medicina que haviam sido aí anteriormente incluídas por Marcus Terencius Varron (116 – 27 AC). Apesar de Capella não tratar de arquitetura, refere-se ao gnomon descrito por Vitrúvio. Isto nos leva a crer que conhecia o De Architectura, fato comum entre os intelectuais da época.

Sidônio Apollinar (430 – 486) era de família nobre, tendo sido prefeito de Roma quando os bárbaros já invadiam as províncias romanas e o Império já dava mostras de seu colapso. Referiu-se a Vitrúvio em suas Cartas, comparando-o a Orfeu, Esculápio, Arquimedes e outros sábios da Antiguidade, entre estes Perdix, o mítico inventor do compasso.

Foi o último testemunho deixado pela Antiguidade sobre Vitrúvio nestes anos cruciais de encontro entre as civilizações romana e bárbara.

O agonizante Império Romano finalmente cai em 476, com a deposição do Imperador pelo godo Odoacro, inaugurando assim uma nova civilização no ocidente europeu que seria chamada de Idade Média.

Século VI (501 – 600)

Aparecem neste e no próximo século, os homens que pelo estudo e sabedoria serão denominados de Fundadores da Idade Média: Boécio, Cassiodoro, Isidoro de Sevilha e o Venerável Beda (do qual não se tem registro do conhecimento do texto vitruviano).

Mancio Severino Boécio (Roma 480 – Pávia 525) – de família romana nobre, tinha o cargo de mestre do palácio na corte do rei ostrogodo Teodorico. Boécio é chamado de o último romano, tendo escrito suas ideias baseado em Platão e Aristóteles.

Escreveu valiosos trabalhos sobre Geometria – tão importantes que ficaram por muito tempo conhecidos como a Geometria de Boécio – Aritmética, Astronomia e Música, não por acaso, disciplinas que integravam o Quadrivium.

Por força de seu cargo palaciano, conheceu as restaurações arquitetônicas empreendidas por Teodorico no Teatro de Pompeia, nas muralhas de Roma e nos Aquedutos de Ravena. Esta experiência faz supor que Boécio conheceu o texto de Vitrúvio, ainda mais que ideias e conceitos do arquiteto romano aparecem em seus escritos.

Admite também a missão que Vitrúvio atribuiu ao arquiteto, aumentando a diferença entre sensibilidade e razão: o operário trabalha empiricamente com a ferramenta e deve aceitar a direção do arquiteto e este, calcula com precisão por meio dos instrumentos (compasso). Aos sentidos correspondem aproximações, à razão, instrumentos de precisão.

Seus textos foram lidos e consultados por estudiosos durante toda a Idade Média.

Fávio Magno Aurélio Cassiodoro (Squillace 490 – 583) – ocupou o cargo de Mestre de Ofícios de Teodorico, no trabalho de salvar os monumentos antigos. No ano de 540 abandona a vida pública e funda em sua terra natal um monastério, denominado Vivarium, para onde se retirou com sua biblioteca.

Este monastério destaca-se pelas suas oficinas e pela contratação de artesãos não religiosos. O modelo de comunidade monástica apoiava-se na colaboração espiritual e manual. Seus monges copiam manuscritos clássicos e iniciou-se uma nova sistematização do Trivium e do Quadrivium.

Sua maior obra Institutiones Divinarum et Saecularium Litterarum é um ensaio sobre as artes e ciências. Cassiodoro busca sua estética nos números e nas proporções. Discute a dispositio, que é um termo derivado de Vitrúvio, provando com isso seu conhecimento do texto.

Recomenda ainda a seus monges, a leitura do obra de Gargilius Martialis, que provinha diretamente de Vitrúvio.

Século VII (601 – 700)

Isidoro de Sevilha (570 – 636) – foi nomeado arcebispo de Sevilha no ano 600, tornando-se chefe da Igreja cristã na Espanha. É o mais importante dos Fundadores da Idade Média.

Continuando com os critérios de Boécio e Cassiodoro, incorpora grande volume de conhecimentos ao compilar notas científicas, artísticas e todo tipo de trabalho de escritores e tratadistas da Antiguidade.

Valeu-se para tanto do primeiro Scriptorium da Espanha, onde reuniu vasta biblioteca. Nesta biblioteca encontravam-se duas obras de Vitrúvio: o De Architectura e o De Diversis Fabricis Architectonicis e os comentários de Sérvio sobre Virgílio, que fazem referências ao arquiteto romano.

Século VIII (701 – 800)

Das cópias conhecidas do De Architectura feitas até o final do século VIII figuram, a Harlleianus 2767 do Museu Britânico e a Regia Latina 1504 da Biblioteca do Vaticano, que provavelmente foi terminada no século IX.

Neste século, nasce Eginardo (770 – 840), artista e estudioso que terá papel destacado no Renascimento Carolíngio que se inicia com a coroação de Carlos Magno no ano 800.

Século IX (801 – 900)

Carlos Magno, o grande imperador do Ocidente, coroado no Natal do ano 800 pelo próprio Papa, tentou reviver o antigo Império do Ocidente, tendo como missão sustentar o cristianismo com a espada e com a cultura. Assim com a colaboração de guerreiros e sábios, tem início um renascimento cultural que ficou conhecido como o Renascimento Carolíngio e que se estendeu entre os séculos IX e X.

É neste meio que apareceu Eginardo, que conhecendo o tratado de Vitrúvio, interpreta-o para resolver problemas construtivos e criar soluções para as obras que perseguiam as ideias da arquitetura romana.

Eginardo compunha com os cânones do classicismo, aconselhando à compreensão e interpretação do De Architectura. Carlos Magno manifesta nos Libri Carolini seu orgulho em levantar igrejas magníficas segundo os modelos da Antiguidade indicados por Vitrúvio.

De acordo com o desejo do Imperador, Eginardo reviveu os fundamentos estéticos e técnicos da Antiguidade, procurando construir more romanorum, por efeito direto dos conceitos vitruvianos.

No ano 844, Rabano Mauro, arcebispo em Maguncia e autor do tratado De Universo Libri XXII,menciona no capítulo II do Livro XXI, as condições vitruvianas de dispositio, constructo e venustas.

As cópias conhecidas são: Bruxellensis 5253 da Biblioteca Real de Bruxelas (copiada entre 850 e 863) e a Gudianus 132 da Biblioteca Herzog-August de Wolfenbüttel, que contém um resumo de Cetius Faventinus.

Século X (901 – 1000) – Idade Média Central

No ano de 926, aparece a Constitutio de York que na verdade é um conjunto de regras de comportamento, convivência e obrigações dos Mestres Pedreiros, a qual em uma de suas prescrições aconselha o estudo dos tratados de Euclides e Vitrúvio.

As cópias conhecidas são: Pithoeanus Lat.10277 da Biblioteca Nacional de Paris; Scletstatensis,ms.17 da Biblioteca e Arquivos Municipais de Selestat; Cottonianus da Biblioteca Britânica; Franckeranus da Biblioteca Provincial de Leeuwarden (com texto integral); Leidensis Voss 88 da Universidade de Leiden e a Escorialensis 111,F.19 da Biblioteca do Monastério de San Lorenzo (com texto integral).

Século XI (1001 – 1100)

Durante este século, embora continuasse ainda a tradição carolíngia, aparece a Escolástica, com suas diversas escolas e começa a preparação para o maior momento criativo da Idade Média, que será chamado de renascimento do século XII, o Renascimento Medieval. É aqui que dar-se-á o nascimento efetivo da cristandade ocidental.

Embora floresça a arquitetura românica, encontramos alguns testemunhos de Vitrúvio através do uso de termos técnicos de seu vocabulário e da aplicação de sua teoria de proporções do corpo humano na igreja de São Fidelis em Como.

As cópias conhecidas são: Paris Lat. 7227 da Biblioteca Nacional de Paris (contém algumas ilustrações); Paris Lat. 1236 da Biblioteca Nacional de Paris; Harleianus 3859 da Biblioteca Britânica; Leidensis Voss 107 da Biblioteca de Leiden e Gudianus 69 da Biblioteca HerzogAugust de Wolfenbüttel.

Século XII (1101 – 1200)

O mundo medieval sente neste século melhorias nos aspectos materiais decorrentes de importantes progressos na agricultura, como a rotação dos campos para plantio, domínio da tração animal dos cavalos com o aprimoramento dos arreios e a liberação do uso da energia humana nos trabalhos.

Estas novas condições fortaleceram as cidades, com a produção de excedentes que para lá eram carreados. O crescimento demográfico logo se faz sentir e o consequente incremento comercial transforma a economia de tradição essencialmente agrícola em uma nova, de caráter monetário. O novo panorama transmite-se à arquitetura e às artes.

Este pré-Renascimento (do século XVI) , ficou conhecido como o Renascimento Medieval, surgindo então um grande interesse pela arqueologia e pela aquisição de antiguidades clássicas, especialmente elementos arquitetônicos utilizados pelos romanos.

John de Salisbury conheceu os tratados de Frontino e Capella, Adelard of Bath traduz do árabe Os Elementos de Euclides e na Espanha são traduzidos inúmeros manuscritos árabes dos clássicos gregos abrangendo uma infinidade de campos do conhecimento e da
filosofia. O Almagesto de Ptolomeu é uma destas obras traduzidas.

Da seleta classe dos literatos de então, os únicos que citam Vitrúvio são Thierry de Saint Trond em dois poemas onde celebra as máquinas maravilhosas (deve ter conhecido o De Architectura por ter residido na abadia de Eginardo) e Isaac Tzetzes em seus comentários ao Alexandra de Licofronte.

Não se conhecem citações pelos escritores escolásticos no século XII.

Petrus Diaconus continuou o Chronicon Monasterii Casinensis de Leo Ostiensis (1046 – 1115) onde descreve em detalhes a construção da abadia de Montecassino, que foi planejada de acordo com as ideias de Vitrúvio. As medidas e proporções do templo são relacionadas às do corpo humano.

Petrus escreveu também o Vitruvium De Architectura Abbreviavit, que é um resumo do tratado e que foi conservado na biblioteca da Abadia.

As cópias conhecidas são: Berlin 601 da Biblioteca Estatal de Berlim, contendo o texto quase completo e ainda o tratado De Arithmetica de Boécio; British Add. 38818 da Biblioteca Britânica com o texto completo; Roma Reg. Lat. 2079 e Roma Urb. Lat. 293, ambas da Biblioteca do Vaticano e com o texto completo.

Século XIII (1201 – 1300)

É o chamado Grande Século, pois abrigou um grande rei, São Luiz; um grande filósofo, São Tomás de Aquino; um grande pintor, Giotto e um grande literato, Dante Alighieri. É também o século das catedrais francesas – opus francigenum – e das universidades.

Restaura-se a filosofia grega com as traduções de textos árabes na importante Escola de Tradutores de Toledo na Espanha a aparecem as Summas de São Tomás de Aquino, Alberto Magno e Hugo de São Vitor.

A cristandade ocidental precisa então definir quais os aspectos da cultura pagã aristotélica poderia aceitar. As respostas serão tentadas pela Escolástica.

À estética do século XII que girava em torno de composição, beleza e proporções, junta-se um especial interesse a tudo que é claridade, luz e esplendor. É a resposta estética ao bem estar material que se instala e alarga os limites da vida terrena: se a luz é a fonte de
toda beleza, a luminosidade da arquitetura gótica se impõe.

A estética cisterciense de São Bernardo recusava tudo o que pudesse excitar a curiosidade ou o prazer nas abadias e com isso conduz a uma arquitetura despojada, simples e de proporções apenas necessárias. Os refinamentos levariam a arquitetura gótica, a partir da metade do século XIII, a iniciar sua decadência e a extrema habilidade dos Mestres Construtores, a executar variações formais de um problema já resolvido.

Neste ambiente de rigor cisterciense, mas de prosperidade econômica viveram três homens muito interessados no tratado de Vitrúvio: Vicente de Beauvais (1190 – 1264), São Alberto Magno (1206 – 1280) e São Tomás de Aquino (1225 – 1274).

Este interesse confirma a importância que os círculos cultos devotavam ao De Architectura, mesmo na época mais vigorosa da arte gótica.

Vicente de Beauvais cita textualmente a teoria vitruviana das proporções humanas em seu Speculum Naturale.

São Alberto Magno é o responsável por trazer a doutrina de Aristóteles para junto do cristianismo. Cita Vitrúvio em sua obra De Natura Locorum.

São Tomás de Aquino recebeu educação esmerada até a universidade e quando ingressou na ordem dos dominicanos, teve São Alberto Magno por professor. A ideia tomista de arte é aristotélica e encontra-se desenvolvida na Summa Teológica. Na arquitetura segue Vitrúvio, mas concede grande importância ao sentido da visão, pois na
ideia da apprehensio – conhecimento intuitivo – considera a contemplação visual o mesmo que o prazer estético, introduzindo com isso a perspectiva e a óptica.

As cópias conhecidas são: Harleianus 2760 da Biblioteca Britânica, com o texto completo; Roma Lat. 2230, Roma Lat. 6020, Roma Reg. Lat. 1328 todas da Biblioteca do Vaticano e com texto completo; Leidensis Voss. 93 da Biblioteca de Leiden que contem apenas extratos do texto; Escorialensis O .H.5 da Biblioteca do Monastério de San Lorenzo com o texto completo e Florentinus Plut.XXX,13 da Biblioteca Laurentiana de Florença também com o texto completo.

Século XIV (1301 – 1400) – o Trecento – Idade Média Tardia

Continua a concentração de riquezas e a elevação do nível material de vida, circunstância que possibilitará o aparecimento dos mecenatos que impulsionarão a produção e a divulgação da arte e da cultura.

Apesar de inúmeras calamidades como a Peste Negra que irrompeu em meados do século, o enriquecimento deu-se em proporção maior que no século anterior, onde determinados hábitos de vida estavam limitados às classes sociais superiores.

Os costumes ligados especialmente ao luxo difundiram-se para largos extratos da sociedade: prenunciava-se uma nova etapa da vida medieval.

Seria uma época tão diferente da medieval de até então, como esta fora da Antiguidade. Dante (1265 – 1321) escreve sua Divina Comédia em língua vulgar, destinada aos leitores leigos que tinham grandes dificuldades com o latim de norma culta, o padrão então vigente para as obras de literatura.

Esta nova postura frente à produção intelectual expandia a difusão da cultura erudita e escolástica às diferentes camadas da sociedade laica.

A concepção europeia de poder vai se tornando mais civil, derivada principalmente do estudo do Direito Romano. A nobreza e o clero ainda dominam a sociedade embora a crescente burguesia vá se infiltrando nos altos círculos do poder.

A individualidade humana começa a ser percebida através da busca do reconhecimento, colocando-se o artista não mais anonimamente a serviço da nobreza ou do clero, mas afirmando claramente seus dotes e talentos.

O trabalho dos artistas medievais dos séculos anteriores que quase sempre ficava anônimo é substituído pelo trabalho assinado do artista deste século. De fato, ainda permanecemos na Idade Média por convenção histórica, pois as transformações são muito relevantes.

Deste modo, a cristandade ocidental experimenta na literatura deste século, sob a influência dos Humanistas do Trecento, Dante (1265 – 1321), Petrarca (1304 – 1374) e Boccaccio (1313 – 1375) a nova tendência que a arte apresentará no próximo século: o culto apaixonado ao glorioso passado da Antiguidade.

Francesco Petrarca adquiriu entre 1351 – 1353 uma cópia do De Architectura, possivelmente de um exemplar francês, cujo texto corrigiu cuidadosamente. Seu propósito era a depuração da língua latina, a restauração do estudo do grego e o conhecimento pontual de textos da Antiguidade.

Giovanni Boccaccio era amigo e discípulo de Petrarca e contrariamente ao seu mestre, cujo tema básico era a volta aos clássicos, o seu era a volta à natureza. Copiou seu próprio exemplar do De Architectura do volume existente na Biblioteca da Abadia de Montecassino. Seu interesse pela obra foi provavelmente a curiosidade histórica e os aspectos filológicos.

As cópias conhecidas são: Paris Lat. 7228 da Biblioteca Nacional de Paris com texto completo; Eton B.I.4.10 da Biblioteca de Eton com texto completo; Etonensis Auctar F.5.7 da Biblioteca Blodeian de Oxford com texto completo; Medicensis Plut. XXX.10 da Biblioteca Laurentiana de Florença com texto completo; Estensis VI.B.10 da Biblioteca de Módena com o texto completo e o Da Aqueductibus de Frontino; Basilicus H.34 da Biblioteca da Basílica de São Pedro em Roma com texto completo; Cicognara 691 da Biblioteca do Vaticano com texto completo; Ottoboni 1522 da Biblioteca do Vaticano com texto completo; Roma Lat. 2229 da Biblioteca do Vaticano com texto completo; Wratislaviensis R.142 da Biblioteca Municipal de Wroclaw com texto completo e Oxford Laud 66B da Biblioteca do St. John’s College de Oxford com texto completo.

Século XV (1401 – 1500) – o Quattrocento

Em 1440 é fundada em Florença a Academia Platônica, com o propósito de abandonar a Escolástica e renovar a filosofia antiga. O espectro da necessidade de uma reforma religiosa começa a materializar-se.

Niccolo Cusano (1401 – 1464) tenta superar as contradições e colocar de acordo o mundo e Deus, acalmando as inquietudes espirituais que a força do pensamento racionalista suscita e que vai provocando uma deterioração nos conceitos da Igreja.

Os grandes nomes deste século: Filippo Brunelleschi (1377 – 1446), arquiteto, vencedor do concurso para a construção da cúpula da Igreja de Santa Maria das Flores em Florença; Fra Angélico (c.1400 – 1455) que pinta a primeira pespectiva; Paolo Ucello (1397 – 1475) com a complexa perspectiva do afresco da Natividade e com grande influência sobre Piero della Francesca e Leonardo da Vinci e Leon Batista Alberti (1404 – 1472) que escreve em língua vulgar seu tratado Da Pintura e o dedica a Brunelleschi.

As formas arquitetônicas criadas por Brunelleschi e baseadas na maneira romana, ressuscitaram o modo antigo de construir e seu trabalho de restaurador da arquitetura clássica iria condicionar os séculos seguintes.

Isto faz supor que Brunelleschi conheceu o tratado de Vitrúvio, embora não se tenha prova disso. Mas, se considerarmos o seu relacionamento social e cultural, num meio onde se encontravam artistas, eruditos, cientistas e construtores, é muito provável que algum deles conhecesse o De Architectura e comentasse o fato. Além disso, a descoberta em 1416 do texto de Vitrúvio no Mosteiro de Saint Gall foi um fato de grande repercussão para o circuito cultural.

Talvez o fato de Brunelleschi não dominar muito bem o latim, possa fortalecer a hipótese do conhecimento do texto através de outras pessoas e com isso desobrigá-lo de seguir estritamente seus preceitos, fato confirmado em sua interpretação pessoal de alguns daqueles cânones vitruvianos.

Lorenzo Ghiberti, que conhecia o tratado de Vitrúvio também foi escolhido no concurso para a construção da cúpula de Florença, tendo colaborado com Brunelleschi. Escreveu no fim da vida, os Commentarii, onde seu o programa para a educação do arquiteto é retirado de Vitrúvio, as proporções prescritas são criticadas em função do estabelecimento de suas próprias.

Muitos historiadores consideram que é no Quattrocento italiano que se reiniciou o culto a Vitrúvio, com a descoberta da cópia de seu tratado por Poggio Bracciolini no Monastério de Saint-Gall em 1416, quando estava a serviço da Chancelaria do Vaticano no Concílio na cidade de Constanza.

Na verdade, Petrarca e seus amigos já haviam iniciado esta difusão desde o século XIV.

Leon Batista Alberti, chamado de o último vitruviano medieval, desenvolve uma interpretação pessoal dos conceitos de Vitrúvio. O artista utilizando o critério medieval de repetidas medições nas ruínas romanas, procurava recuperar as proporções e estudá-las comparativamente com as normas vitruvianas.

Com estes critérios e seu espírito humanista, escreve o Descriptio Urbis Romae por volta de 1450, onde os edifícios são locados com a utilização de coordenadas polares.

Sua obra maior, porém é o tratado De Re Aedificatoria, que supera toda sua produção anterior.

O mesmo caminho de Vitrúvio que aprendeu analisando monumentos, textos e documentos gregos, Alberti trilhou ao modernizar para sua época as tradicionais ideias helenísticas. Catorze séculos depois, Alberti aprende com a análise das ruínas romanas para escrever sua obra.

Ambos se apoiavam em conceitos análogos, mas tinham objetivos diferentes: Vitrúvio escreveu primeiramente para arquitetos e depois para literatos; Alberti se dirige aos humanistas e secundariamente aos arquitetos, que poderiam eventualmente tirar daí alguma utilidade.

Esta postura deixa claro que o propósito desta produção cultural é dirigido às classes eruditas e não à categoria dos mestres construtores das Corporações de Ofícios. Aí, como veremos reinará a Geometria Fabrorum e a transmissão oral do conhecimento prático.

Vitrúvio, como arquiteto compôs o De Architectura para ensinar a prática da arquitetura e define para isso as regras de execução: firmitas, utilitas e venustas enquanto Alberti como humanista em sua De Re Aedificatoria valoriza a arquitetura como arte suprema, considerando que seus materiais, função e beleza têm como única  finalidade criar um edifício que valorize o entorno e a cidade (CERVERA VERA,1978).

Este século apresenta o maior número de cópias do tratado de Vitrúvio. As cópias conhecidas são: Wien Ms.54 com resumo do texto vitruviano; Wien Ms.310 com fragmentos do Livro III; Wien Ms.3113 com o texto completo, todos da Biblioteca Nacional de Viena; Paris Lat. 7382 com texto completo; Paris Nouv.Acq.Lat.1422 com texto completo, ambos da Biblioteca Nacional de Paris; Berlin Cód. Lat.Quart.735 com texto completo da Biblioteca de Berlim; British Arundel 122 com texto completo; British Harley 2508 com texto completo; British Harley 4870 com texto completo, todos da Biblioteca Britânica; Budapest Ms.32 com texto completo da Biblioteca Universitária de Budapeste; Bologna Ms. 1215 com texto completo da Biblioteca Universitária de Bologna; Cesena Plut. XX,Cód.111 com texto completo da Biblioteca Malatestiana de Cesena; Medicea-Laurenziana Acq.E Don.297 com texto completo; Medicea-Laurenziana Plut. XXX,11 com texto completo; MediceaLaurenziana Plut. XXX,12 com texto completo, todos da Biblioteca Laurentiana de Florença; Firenze Magl. XVII, Cód.5 com texto completo da Biblioteca Nacional de Florença; Ambrosiana A 90 Sup. com texto completo; Ambrosiana A 137 Sup. com texto completo, ambos da Biblioteca Ambrosiana de Milão; Corsini Ms. 784 com texto completo da Biblioteca Corsini de Roma; Vallicella Ms. D31 com texto completo e uma seleção de textos de Faventinus da Biblioteca Patrum Oratori de Roma; Barberini Lat. 90 com o texto completo; Chisianus H. IV. 113 com texto completo; Chisianus H. VI. 189 com texto completo; Cicognara 692 contendo apenas os três primeiros Livros; Ottoboni 1233 com texto completo; Ottoboni 1561 com texto completo; Ottoboni 1930 com texto completo; Palatinus Lat. 1562 com texto completo; Palatinus Lat. 1563 com texto completo e o tratado Stratagematicon de Frontino; Roma Reg. Lat. 1965 com texto completo; Roma Urb. Lat. 1360 com texto completo, todos da Biblioteca do Vaticano; Marciano Classis XVIII, Cód. 1 com texto completo; Marciano Classis XVIII, Cód. 2 com texto completo, ambos da Biblioteca Marciana de Veneza; Kurnik com texto completo da Biblioteca do Monastério Zamoyski em Kurnik na Polônia; Toledo Reg. CDXVI, 581 com texto completo da Biblioteca do Cabildo de Toledo; Valencia Ms. 2411 com texto completo da Biblioteca da Universidade de Valencia e Metropolitan Museum com texto completo do Departamento de Impressos do Museu Metropolitano de Artes de Nova York.

Em 1453, cai Constantinopla em poder dos turcos e junto com o Império Bizantino termina historicamente a Idade Média. Os diferentes aspectos culturais e condições materiais existentes no século XV serão impulsionados e claramente definidos no século XVI, com o Renascimento, na Idade Moderna.

2.2 – A organização da Obra

Marcus Vitruvius Pollio produziu o mais famoso e importante texto do mundo ocidental, versando sobre arquitetura paisagística, arquitetura, engenharia civil, engenharia mecânica e planejamento urbano.

A preocupação em varrer campos tão extensos e diferentes no entender atual justificava-se, pois nos tempos romanos, o arquiteto era o técnico principal, exatamente como ensinava a etimologia grega de origem desta palavra.

O conteúdo da obra revela mais aspectos de engenharia (construção de portos, planejamento urbano, aquedutos, bombas, relógios e máquinas de guerra), parecendo ser este o principal escopo do autor. Somente uma pequena porção de assuntos tem como foco principal a arquitetura.

Os assuntos principais e os capítulos de cada um dos Dez Livros de Vitrúvio, em terminologias atuais são relacionados a seguir.

  • Livro I – Arquitetura Paisagística
    Prefácio – Elogios e agradecimentos ao Imperador
    Capítulo I – A educação do arquiteto
    Capítulo II – Os principais fundamentos da Arquitetura
    Capítulo III – As divisões da Arquitetura
    Capítulo IV – O sítio da cidade
    Capítulo V – Os muros da cidade
    Capítulo VI – A direção das ruas e comentários sobre os ventos
    Capítulo VII – Os lugares para edifícios públicos
  • Livro II – Materiais de construção
    Introdução
    Capítulo I – As origens da habitação
    Capítulo II – A substancia primordial de acordo com os físicos
    Capítulo III – Tijolos
    Capítulo IV – Areia
    Capítulo V – Cal
    Capítulo VI – Cimento Pozolânico
    Capítulo VII – Pedras
    Capítulo VIII – Métodos para construir muros
    Capítulo IX – Madeiras
    Capítulo X – Abetos da região do mar Tirreno e do Adriático
  • Livro III – Templos (Parte I)
    Introdução
    Capítulo I – Simetria nos templos e no corpo humano
    Capítulo II – Classificação dos templos
    Capítulo III – As proporções de intercolúnios e colunas
    Capítulo IV – Fundações e infraestrutura dos templos
    Capítulo V – Proporções: base, capitel e entablamento da ordem Jônica
  • Livro IV – Templos (Parte II)
    Introdução
    Capítulo I – A origem das três ordens e as proporções do capitel coríntio
    Capítulo II – Os ornamentos das ordens
    Capítulo III – Proporções dos Templos Dóricos
    Capítulo IV – A Câmara Principal e o Vestíbulo
    Capítulo V – A aparência dos Templos
    Capítulo VI – A circulação nos Templos
    Capítulo VII – Templos Toscanos
    Capítulo VIII – Templos circulares e variantes
    Capítulo IX – Altares
  • Livro V Espaços Públicos
    Introdução
    Capítulo I – O Fórum e a Basílica
    Capítulo II – O Tesouro, a Prisão e o Senado
    Capítulo III – O Teatro: seu lugar, fundações e acústica
    Capítulo IV – Harmonia
    Capítulo V – Som no Teatro
    Capítulo VI – Planta do Teatro
    Capítulo VII – Teatro Grego
    Capítulo VIII – Acústica do lugar do Teatro
    Capítulo IX – Colunatas e passeios
    Capítulo X – Banhos
    Capítulo XI – O Ginásio
    Capítulo XII – Portos, quebra-mar e estaleiros
  • Livro VI – Habitação Privada
    Introdução
    Capítulo I – O clima como determinante no estilo da casa
    Capítulo II – Simetria e modificações para adaptação ao sítio
    Capítulo III – Proporções das principais salas
    Capítulo IV – Exposições apropriadas nos diferentes espaços
    Capítulo V – Adaptação de salas
    Capítulo VI – O proprietário
    Capítulo VII – A casa da fazenda
    Capítulo VIII – A casa grega
    Capítulo IX – Fundações e infraestrutura
  • Livro VII – Acabamentos e Cores
    Introdução
    Capítulo I – Pisos
    Capítulo II – Cal extinta para estuques
    Capítulo III – Abóbadas e trabalho em estuque
    Capítulo IV – O trabalho de estuque em lugares úmidos e a decoração
    da sala de jantar
    Capítulo V – A decadência do afresco
    Capítulo VI – Mármore para uso em estuque
    Capítulo VII – Cores naturais
    Capítulo VIII – Cinabre e mercúrio
    Capítulo IX – Cores artificiais: preto, azul e ocre queimado
    Capítulo X – Chumbo, pátina de cobre e resina amarela
    Capítulo XI – Roxo púrpura
    Capítulo XII – Substitutos para roxo púrpura, amarelo ocre, verde e anil
  • Livro VIII – Abastecimento de Água
    Introdução
    Capítulo I – Como encontrar água
    Capítulo II – Água de chuva
    Capítulo III – Propriedades de diferentes águas
    Capítulo IV – Testes para determinar boas águas
    Capítulo V – Nível e instrumentos de nivelamento
    Capítulo VI – Aquedutos, fontes e cisternas
  • Livro IX – Relógios de Sol e Relógios
    Introdução
    Capítulo I – O Zodíaco e os planetas
    Capítulo II – As fases da Lua
    Capítulo III – O curso do Sol através dos doze signos
    Capítulo IV – As constelações do Norte
    Capítulo V – As constelações do Sul
    Capítulo VI – Astrologia e previsão do tempo
    Capítulo VII – Escala gráfica da declinação do sol e aplicações
    Capítulo VIII – Relógio de Sol e Relógio de Água
  • Livro X – Engenharia Mecânica
    Introdução
    Capítulo I – Máquinas e Implementos
    Capítulo II – Máquinas de levantar pesos
    Capítulo III – Os elementos do movimento
    Capítulo IV – Máquinas para elevar água
    Capítulo V – Engrenagens e Moinhos d’água
    Capítulo VI – O parafuso de Arquimedes (rosca d’água)
    Capítulo VII – A bomba de Ctesibius
    Capítulo VIII – O órgão de água
    Capítulo IX – O Hodômetro
    Capítulo X – Catapultas e escorpiões
    Capítulo XI – Balística
    Capítulo XII – Cabos e ajustes da catapulta
    Capítulo XIII – Máquinas para sitiar cidades
    Capítulo XIV – A Tartaruga (plataforma de ataque)
    Capítulo XV – A Tartaruga de Hegétor de Bizâncio
    Capítulo XVI – Medidas de defesa

Continua…

Autor: Francisco Borges Filho

Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor. Área de concentração: Estruturas Ambientais Urbanas.

Fonte: Digital Library USP – Theses and Dissertations

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O humano do futuro dá medo

Imagem relacionadaExiste um desenho icônico de como a espécie humana evoluiu do símio curvado ao erguido e orgulhoso Homo sapiens, com os progressivos estágios representados por indivíduos caminhando em fila indiana. Algumas versões incluem, no fim do caminho, um novo homem tecnológico curvado, dessa vez, sobre seu computador.

A evolução biológica para os seres humanos parece ter chegado à irrelevância. Ocorre por seleção natural, embora sempre façamos com que o meio se adapte a nós (a água sai da torneira, o alimento está na geladeira e a calefação combate o frio, quando se dispõe de todos esses recursos, claro), e se dá em períodos geológicos de milhões de anos, motivo pelo qual seria difícil acompanhá-la em nossa curta existência.

Mas a evolução continuará por outros roteiros: incorporaremos a tecnologia a nossos corpos e mentes. Além disso, experimentando um salto: as mudanças podem acontecer em alguns anos ou décadas. Iremos além do ciborgue, até o pós-humano, um ser que ainda nem imaginamos. Será parecido a um robô ou a um incompreensível perfil de Facebook? Será máquina ou consciência pura? Estamos perante o salto da humanidade à pós-humanidade. Como período de transição, virá o transhumanismo.

A utopia transhumanista

“Os transhumanistas acham que devemos usar a tecnologia para superar nossas limitações biológicas”, diz o filósofo David Pearce. “Usada sabiamente, a tecnologia pode propiciar um futuro de superinteligência, superlongevidade e superfelicidade. No entanto, são muitos os empecilhos”. Junto com Nick Bostrom, Pearce foi o co-fundador da Associação Transhumanista Mundial (agora Humanity Plus ou H+) e hoje é o diretor da BLTC Research, uma organização que tem como finalidade promover o que denomina “engenharia celestial”. Ou seja, “a abolição dos substratos biológicos do sofrimento e a criação de estados gloriosos de prazer sublime”. Como base de tudo, está a implosão tecnológica.

Singularidade Tecnológica é o termo que define a confluência de ramos como a nanotecnologia, a biotecnologia, a engenharia genética, a inteligência artificial, a clonagem terapêutica, a farmacologia e a ciência espacial, que, em breve, segundo futuristas como o engenheiro do Google Ray Kurzweil, mudará o mundo que conhecemos.

O ritmo do avanço tecnológico é exponencial e, graças a isso, de acordo com Kurzweil, o ser humano se livrará das cadeias biológicas. Pearce dá exemplos dos últimos passos rumo à pós-humanidade: o software que supera os humanos em atividades como jogar xadrez (o supercomputador Deep Blue, em 1997, venceu Gary Kasparov) ou dar um diagnóstico médico (como a inteligência artificial de Watson da IBM, que processa a informação de forma mais semelhante a um humano do que a uma máquina, aprende, responde perguntas e cria hipóteses).

A duração da vida pode ser estendida em animais induzindo mutações, e, em biotecnologia, a revolução da edição dos próprios genes anuncia uma era na qual a rápida modificação do seu próprio genoma pode ser a norma. Partindo para exemplos mais próximos, no filme Ela (2013), de Spike Jonze, o protagonista se apaixona por um sistema operacional que tem uma voz doce, parecido ao atual assistente pessoal Siri instalado em iPhones e iPads. Além disso, já estão disponíveis no mercado os óculos do Google (Google Glasses) e outros acessórios que, colocados em nosso próprio corpo, nos fazem ver o mundo de outra maneira.

Evolução apenas para os ricos?

O urbanista e advogado Albert Cortina e o biólogo Miquel Ángel Serra acreditam que chegou a hora de iniciar um debate aberto e multidisciplinar sobre o futuro da humanidade. Por isso, escreveram o livro ¿Humanos o posthumanos? Singularidad tecnológica y mejoramiento humano, no qual 213 vozes de diferentes disciplinas opinam sobre o que o ser humano deveria ou não se transformar. “Existem posturas bioconservacionistas que opinam que a vida deve permanecer inalterada. No outro extremo, estão os tecno-otimistas, a favor de qualquer avanço tecnológico para melhorar a humanidade”, explicam Serra e Cortina.

A verdade é que o movimento transhumanista gera críticas morais e religiosas (sobretudo a respeito da manipulação genética) e socioeconômicas. “Uma consequência negativa é a possibilidades de que só as elites possam ter acesso às melhorias tecnológicas e de que se crie uma humanidade que evolua a duas velocidades”, afirmam os autores do livro.

Um cenário semelhante ao mostrado no filme Elysium (2013), dirigido por Neill Blomkamp, onde os ricos aproveitam a tecnologia para abandonar a Terra e viver confortavelmente, deixando os demais para trás. No entanto, para os mais otimistas, como Kurzweil, há uma prova de que essa desigualdade não é inevitável: a internet e a telefonia celular, que chegaram a todo o planeta, inclusive aos países menos desenvolvidos.

O panorama parece de ficção científica: “Temos a evolução das máquinas, que podem conseguir chegar à inteligência artificial e, como um filho adolescente, querer emancipar-se de seus criadores, os humanos”, afirma Cortina.

“Houve muitíssimos avanços, mas isso não é nada comparado ao que vamos ver daqui em diante. Nos próximos 20 anos, vivenciaremos mais mudanças do que nos últimos dois milênios”, explica o cientista José Luis Cordeiro, co-fundador da Associação Transhumanista Venezuelana e professor da Singularity University do Vale do Silício, criada por instituições como o Google e a Nasa para “educar e inspirar” um quadro de líderes que possam compreender e guiar a Singularidade Tecnológica.

Cordeiro acredita que a inteligência artificial alcançará a humana em menos de duas décadas e que os cérebros artificiais vão complementar os humanos, não substituí-los. Em três ou quatro décadas, poderemos prevenir todas as doenças. A humanidade está a ponto de dar o salto à pós-humanidade; a tecnologia, segundo Cordeiro, substituirá a biologia: “Os pós-humanos não dependerão apenas de sistemas baseados na química do carbono, mas em componentes como o silício e outras plataformas mais convenientes para diferentes entornos, como as viagens espaciais”.

Assim é o futuro transhumanista

Que aspecto teriam os pós-humanos do futuro? Os transhumanistas defendem a liberdade morfológica, esclarece Pearce:

“Cada um tem o direito de ter o gênero, o corpo e a imagem que desejar. Algumas escolhas corporais extraordinárias podem ser previstas, tanto na realidade virtual como no mundo de carne e osso… Mas, suspeito que muitos devem optar por desenhos corporais que expressem os cânones de beleza ideal adaptativa de nossos ancestrais da savana africana”.

Seremos ciborgues? “O futuro é mais complexo do que isso”, diz Cordeiro. “Veremos uma explosão de novas formas de vida inteligentes”. Surgem termos como os bio-orgues (organismos modificados por meio de proteínas), os geborgues (modificados geneticamente), e os silorgues (organismos com base de silício). Uma nova fauna… Já estamos presenciando a existência de transhumanos.

Neil Harbisson vê em preto e branco, mas tem um terceiro olho que, mediante vibrações, permite que ele perceba as cores. O atleta sul-africano Oscar Pistorius teve as pernas amputadas quando era criança mas, graças a suas próteses biônicas de fibra de carbono, participou dos Jogos Paralímpicos de Londres.

Outro exemplo é Tim Cannon, um biohacker que fundou a companhia Grindhouse Wetware em Pittsburgh, dedicada a melhorar o ser humano através da tecnologia. Cannon implantou nele mesmo chips e aparelhos eletrônicos, em cirurgias caseiras, para melhorar suas habilidades: “Agora, graças à medicina moderna e à ciência, somos, pela primeira vez, capazes de tomar o controle da Evolução”.

Universo consciente, futuro real?

Para Raymond Kurzweil, chefe de engenharia do Google, o universo passa por diferentes fases. Primeiro veio, a época da física e da química, com a informação contida em estruturas atômicas. Depois, aparece o DNA que engloba a informação crescente. Em seguida, surgem os cérebros, que criam a tecnologia: essa é a época na qual vivemos e que, segundo Kurzweil, chegou ao fim. A partir de agora, a tecnologia, com inteligência própria, dominará os métodos de troca de informação das épocas anteriores, integrando-as e incluindo a inteligência humana. Finalmente, todo o universo estará cheio de tratamento de informações e conhecimento. O universo desperta e emerge uma inteligência que emprega todo o seu conteúdo nela mesma.

Autor: Sergio C. Fanjul

Fonte: El País

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