Episódio 54 – O tronco dos templários e a Maçonaria

(music: Slow Burn by Kevin MacLeod; link: https://incompetech.filmmusic.io/song/4372-slow-burn; license: https://filmmusic.io/standard-license)

Quando eu dava meus primeiros passos na Maçonaria, assisti a uma instrução na qual um Mestre, com mais de trinta e três anos e seiscentos costados de Ordem, ensinou o seguinte sobre o TRONCO DE SOLIDARIEDADE (ou de beneficência):

– Chama-se tronco porque os antigos Templários escondiam seus dinheiros em troncos de árvores!

Lembro-me bem ‒ foi possível ouvir, naquela ocasião, todos os Templários mortos novecentos anos atrás darem ruidosas voltas em suas sepulturas e chacoalharem armaduras contra suas espadas enferrujadas…

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A Maçonaria Simbólica e a Filosofia

É a Filosofia, estúpido!" - Carta Maior

Introdução

O que se entende por Filosofia Maçônica? Como ela exercita seus postulados, normas, constituições, regulamentos e regimentos maçônicos? É esclarecido ou informado ao profano que ele vai fazer parte de uma Instituição Filosófica, ou simplesmente exigimos dele uma boa conduta “moral”? Será o suficiente para o que pretende a Instituição que tem a filosofia do “ser livre e de bons costumes” como seu postulado? Ao Aprendiz são apresentadas as diretrizes para que ele possa exercitar a arte do pensar, procurando, primeiro, “conhecer a si mesmo” e, depois, praticar a caridade, que é peculiar a todos aqueles que, mergulhados em seu “EU”, encontram respostas para os seus questionamentos e, posteriormente, exercitar esse aprendizado? O que dizer, então, do Companheiro e do Mestre Maçom?

Para ser admitido na Maçonaria, todo homem deve possuir um caráter ilibado, ser livre e de bons costumes. Mas isso não é tudo, não é estanque. Espera-se, ainda, que todo Maçom, além desses pré-requisitos, seja um pensador, uma fonte inquietante em busca do saber. Entretanto, nas Lojas, em reuniões, pouco se tem enfatizado essa premissa. Não há nenhum ensinamento prático filosófico na arte de desbastar a Pedra Bruta. A instrução limita-se aos símbolos como se ali estivesse contida toda a sabedoria maçônica, situação que vem se arrastando através dos tempos, fazendo parte da conduta histórica da Instituição.

Daí se conclui que vem ocorrendo uma inversão de valores, ocasionando uma constante evasão nos quadros de obreiros das Lojas. O principal motivo é que as reuniões estão limitadas às leituras dos rituais e ao bater dos malhetes. Desse modo, quando o obreiro chega a Mestre, tem uma visão equivocada de que não há mais nada a fazer ou aprender, muito menos a ensinar aos neófitos sobre o que pretende a Maçonaria, por desconhecimento da sua base filosófica ou por simples acomodação. É o retrocesso… O conhecimento, que se arrasta durante séculos, aos poucos, vai ficando no ostracismo.

O que permanecem são os sinais, toques, palavras e a marcha, como instrução para cada grau, e que, muitas vezes, são ensinados equivocadamente. Basta verificar nas Lojas o que se ensina quando há uma Iniciação, Elevação ou Exaltação. No Terceiro Grau é uma miscelânea de informações; as instruções nesse sentido são desencontradas, principalmente no toque do grau.

A Maçonaria está perdendo o norte que orienta os seus membros à prática do filosofar; por que não dizer, perdendo a essência dos significados maçônicos, esquecendo de praticar a Arte Real, debruçando-se sobre trabalhos que nada acrescentam à Instituição; quando não, colocando irmãos em situação constrangedora, diante de uma assembleia despreparada e alheia ao que se propõe a Maçonaria Universal. Ao final da apresentação, parabeniza-se o obreiro com uma breve salva de palmas pelo excelente trabalho, o que chega a ser lamentável para a Instituição.

Não se pretende com o assunto ora abordado dar soluções às questões apresentadas, mas alertar todos os Maçons que venham a ter acesso ao conteúdo aqui escrito, para uma reflexão inconteste da sua conduta, enquanto Maçom que preza a Instituição. Não é justo que todo o aprendizado filosófico construído pelos grandes pensadores que engrossaram as colunas da Maçonaria, durante séculos, se perca em tão pouco tempo, sem nenhuma reflexão, sem nenhuma compreensão dos significados que atravessaram centenas de anos até os nossos dias, aos quais, hoje, não se tem dado a devida importância, por pura acomodação, ou simplesmente por desconhecimento do que realmente é a Maçonaria e a que ela se propõe.

Filosofia

“A filosofia é a totalidade do conhecimento.” Aristóteles

A palavra Filosofia, “Philosophia”, é derivada de duas palavras gregas: Philo, que ainda se deriva de Philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais; e Sophia, que quer dizer sabedoria, a qual é derivada da palavra Sophos, sábio ou alguém que admira e busca a sabedoria.

Segundo o dicionário Aurélio, filosofia é o estudo que se caracteriza pela incessante intenção de ampliar a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras, o Ser (ora realidade suprema, ora causa primeira, ora fim último, ora absoluto, espírito, matéria etc.), quer pela definição do instrumento capaz de apreender a realidade, o pensamento, tornando-se o homem tema inevitável de consideração. Também, no Aurélio, se descreve a filosofia como um conjunto de estudos ou de considerações que tendem a reunir uma ordem determinada de conhecimentos, limitando o seu campo de pesquisa à natureza, ou à sociedade, ou à história, ou a relações numéricas, em um número reduzido de princípios que lhe servem de fundamento e lhe restringem o alcance.

O filósofo Pitágoras de Samos foi quem usou pela primeira vez esse termo Filosofia, por volta do século V a.C, ao responder a um de seus discípulos que ele não era um “Sábio”, mas apenas alguém que amava a Sabedoria.

Como campo de conhecimento, a filosofia ocidental surgiu na Grécia Antiga com a figura de Tales de Mileto, sendo ele o primeiro a buscar uma explicação para os fenômenos da natureza, usando a Razão e não os Mitos, como era de costume, na época.

Portanto, aquele que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber e deseja saber, é um filósofo. Assim, a Filosofia indica um estado de espírito da pessoa que ama, isto é, daquela que deseja o conhecimento, que o estima, o procura e o respeita.

Pode-se interpretar, também, que Filosofia é o estudo da vida; pode ser ciência, fé, religião ou simplesmente a mente ou a razão em pleno funcionamento. Toda a arte e toda ciência têm partes filosóficas. Quando a mente dedica-se a decifrar os enigmas da vida, estará filosofando.

Consta que Pitágoras de Samos teria afirmado:

“A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.”

Deve-se, aqui também, distinguir os significados de filosofar e filosofia. Para tanto, os aspectos fundamentais da Interpretação, Compreensão e a Realidade estão intrinsecamente contidos na conceituação do “FILOSOFAR” e “FILOSOFIA”.

Compreender a realidade, elucidando as suas interpretações é o que se entende por filosofar. Assim, a Filosofia se caracteriza pela intenção de ampliar a compreensão da realidade em questão.

Historicamente, a Filosofia envereda pelas teorias que procuram encontrar algum tipo de compreensão, sabedoria ou conhecimento sobre as questões fundamentais, como por exemplo, a realidade, o significado, o valor, o ser e a verdade.

Em Filosofia o fazer é uma constante na arte de construir conhecimento, portanto, se faz necessário levar em consideração toda a ideia filosófica dos pensadores do passado. Ao debruçar-se sobre uma questão filosófica, o pensador ou filósofo rende tributos aos seus antecessores sobre o assunto em questão, podendo ratificar as ideias já formuladas, contrapô-las, esclarecê-las ou até mesmo melhorá-las. Assim sendo, a busca pelo conhecimento torna-se infinita, mesmo que já exista algo sobre o assunto abordado. É na inquietação da busca pelo conhecimento, que o homem se torna um ser puramente pensante, na compreensão da realidade, na interpretação das coisas como um todo.

A Filosofia moderna (1453 a 1789) postula que todo homem deve ser livre das alienações dogmáticas religiosas. Livre dessas correntes, também é livre para exercitar o pensamento, passando a ter outro conceito sobre si mesmo ao interpretar o mundo e a vida. Entende-se que todo ser humano é um ser pensante na busca de novas interpretações do mundo que o cerca, não descartando, com isso, a sua religiosidade. O grande marco das Escolas Modernas era, portanto, a liberação da consciência humana, tornando o homem livre para pensar, investigar e interpretar.

O filósofo busca, interpreta e procura compreender as coisas através de sua observação, sem se embasar em doutrinas, quer sejam religiosas ou não, para explicar o inexplicável. Ele abandona os pensamentos escravizadores e passa a ser um indivíduo pensante que contribui com a coletividade para a construção do saber, do conhecimento. É romper as amarras institucionalizadas, é a libertação da individualidade na arte de pensar, contrapondo-se à uniformidade do pensamento medieval e às nacionalidades, animadas por uma vida nova, expressando sua peculiaridade, em suas respectivas filosofias.

Conclui-se que a Filosofia permeia pelo mundo abstrato e interpretativo, questionando os porquês do objeto investigatório até a conclusão dos significados. Para tanto, é necessário o filósofo ser possuidor de uma profunda amizade, amor e respeito pelo saber. Com base nessa premissa, o filósofo é, então, aquele que mergulha no desconhecido, na busca pelo conhecimento conclusivo, último e primordial, a sabedoria total.

Filosofia maçônica

A Maçonaria não possui uma Escola essencialmente filosófica. Não possui uma filosofia própria ou adota, exclusivamente, essa ou aquela Escola como base fundamental para os seus estudos. Ao contrário, a Maçonaria é uma Escola de filosofar e a filosofia das grandes Escolas filosóficas é que lhes servem como fonte inspiradora.

Caso ela se restringisse a uma Escola ou a um sistema, seus membros não teriam a liberdade de pensamento, que lhes é peculiar. Eles seriam obrigados a caminharem em uma só direção. Se assim se conduzisse, ela seria uma Instituição, provavelmente, dogmática e limitada; não mais existiria por estar presa nos limites da interpretação, da compreensão e da realidade das coisas. Antes de qualquer ensinamento maçônico, deve-se compreender que a sua filosofia está alicerçada na Liberdade, Igualdade e na Fraternidade.

Filosoficamente, a Maçonaria procura mostrar ao homem que ele é um ser em processo contínuo de lapidação interior, visando à compreensão do seu próprio “EU”, comprometido com o seu pensar, com a sua própria existência. Ela proporciona aos seus
membros os meios necessários para adquirirem o saber, descobrirem que o saber humano é, em especial, um saber filosófico, mas muitos não se apercebem disso.

A liberdade de pensamento é o ponto fundamental para todo Maçom que anseia a “luz”. É o livre pensar que faz o Aprendiz refletir sobre “si” mesmo, compreender os enigmas e significados da vida, na viagem pelo seu interior até descobrir o brilho de sua alma. É um lapidar constante da Pedra Bruta, para daí brotar um sentimento de solidariedade sincera entre os irmãos; e, dessa forma, não mais havendo diferenças, mas uma igualdade própria do Companheiro, solidificar os sentimentos de fraternidade.

Com os conhecimentos adquiridos quando Aprendiz, o Companheiro passa a exercitar todo o seu aprendizado, praticamente, em atividade construtiva social, alicerçada na tolerância e na justiça. Entende-se, então, que ele depende sempre da capacidade de interpretação dos elementos fundamentais do simbolismo; só assim, poderá caminhar até alcançar a Câmara do Meio. Na sua constante ação de aperfeiçoamento, trabalha na prática da moral e na observância da ciência, com a missão de aprofundar o seu intelecto na Pedra Cúbica.

Por sua vez, cabe ao Mestre todo o trabalho espiritual, já que a pedra, agora, está polida. É missão dele é unir o que está disperso, irradiando a luz, fortalecendo a fraternidade entre os homens. Ao Mestre é consagrada a firmeza de caráter, a moral; fazer a humanidade mais feliz e virtuosa, através dos seus exemplos como um Mestre Maçom. Cabe a ele investigar, tornar-se um pesquisador incansável na busca da Palavra Perdida, chave para todas as questões humanas.

Todo o ensinamento filosófico está voltado para o interior do homem, orientando-o primeiramente, a conhecer a si mesmo, aniquilando as paixões e os vícios que o deixam na ignorância.

Enquanto o homem for áspero, insensato, intolerante e não exercitar a humildade, ele não poderá ser um agente transformador da humanidade. É combatendo esses instintos que a Maçonaria trabalha o homem para a construção de um mundo melhor. É sepultando as paixões mundanas que o Maçom se torna um homem digno e de caráter ilibado para com a Família, à Pátria e a Humanidade.

A Maçonaria é uma Escola da Moral, que caminha pela Filosofia Social, fazendo com que todos os seus membros sejam fieis cumpridores dos seus deveres como cidadãos, para com a família e a pátria. Ela possui estágios de conhecimentos divididos em graus, que através de sucessivas iniciações, mostra ao homem o seu interior, o brilho da luz espiritual e divina, necessária para a sua dignidade, tornando-o livre, porém de bons costumes.

A Maçonaria, pelo exposto acima, não se resume aos rituais, aos ritos ou a três pontos. Ela é uma fonte de sabedoria dos significados humanos, é uma busca constante, é um desbastar a Pedra Bruta até a sua completa polidez. Para alcançar tal estágio, é necessário que os seus membros entendam que tudo passa pela compreensão e pelo exercício da virtude, numa luta incessante para vencer as paixões, cavar masmorras aos vícios, libertar-se das ilusões mundanas, para daí renascer um novo homem, no estado de inocência, no amor que fortalece a justiça e a verdade, que unem a todos como verdadeiros irmãos.

A Maçonaria e a Filosofia

Nos idos do século XVIII, dominava a Europa o pensamento filosófico denominado Ilustração, conhecido também por Iluminismo ou Enciclopedismo. É no auge desse movimento que acontece a fundação da Grande Loja de Londres, aos 24 de junho de 1717. O Iluminismo se estendeu pelos séculos XVII e XVIII, de cujo movimento provavelmente os Maçons da época tenham sofrido influência.

Durante séculos, o homem vinha padecendo forte pressão psicológica para não fazer qualquer questionamento a respeito da religião. Era obrigado a aceitar os dogmas impostos e ensinamentos religiosos como verdades absolutas; caso contrário seria provavelmente excomungado, sofrendo a ação da Inquisição.

Apesar de toda opressão, a história registra que as Escolas filosóficas modernas vinham lutando contra o absolutismo do pensamento religioso da época. Com a transformação da Maçonaria Operativa em Maçonaria Especulativa, a Arte Real toma outro sentido. As suas fileiras, agora, não são exclusivas de pedreiros na arte de traçar linhas arquitetônicas destinadas principalmente à construção de templos religiosos. A arte do saber, do pensar toma vulto entre os obreiros. Sua identificação fica mais clara ainda, quase que em sua totalidade, junto às Escolas Filosóficas Modernas: Renascimento, Racionalismo e Iluminismo, cujo objetivo era a libertação da consciência humana.

Com o Renascimento, os filósofos do Iluminismo se entusiasmam e projetam dois caminhos a serem percorridos: o laicismo e o da luta em busca de melhores condições de vida para o homem. A Maçonaria Especulativa, por sua vez, adota uma vertente de pensamento, que se constitui em observar os princípios morais do homem, aplicando-os no bom relacionamento humano, na confiança, na sinceridade e na lealdade. É através dessa observação que o Maçom tenta compreender a interação humana e construir uma harmoniosa e perfeita fraternidade entre seus membros.

Como a Maçonaria abraçara o pensamento dos movimentos filosóficos expurgados pela Igreja, (que vê no Renascimento o estímulo para uma cultura exclusivamente terrena, emponderando em demasia a dignidade do homem, com grandes prejuízos para a vida espiritual), passou a ser perseguida. Perseguida por pregar a liberdade de pensamento e, sobretudo, a liberdade de consciência. Perseguida porque proporciona ao homem o direito de conviver com os outros homens que professem qualquer religião ou fé. Perseguida porque o seu lema maior é “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Perseguida porque dá ao homem o direito de ser livre, inteira e intensamente livre.

No teor do pensamento renascentista, alguns frades, na Idade Moderna, passaram a pregar que o Humanismo restringia o homem ao puramente humano, reprimindo, sobretudo os fatores espirituais. Diziam eles:

“Nosso humanismo, por natureza, difere sensivelmente da atitude espiritual dos demais humanismo: difere da atitude humanista renascentista, da de Herder ou de Goethe, que apenas pretendem elevar-se acima do puramente material; difere dos atuais humanismo no domínio econômico, social-ético, marcial e político; difere ainda do humanitarismo dos pseudocristãos, da Maçonaria, do Deísmo e dos Livres Pensadores.” [1]

É nesse contexto que a Maçonaria abre suas portas para o pensamento filosófico, procurando se libertar dos dogmas, das superstições que escravizam o homem, e passa a questionar a sua existência, através da investigação científica, até reconhecer os valores e direitos individuais de cada ser humano.

Alicerçada no amor fraternal, passa a dar ênfase ao amor ao próximo, a Deus, à pátria e à família; os seus membros se reconhecem como verdadeiros irmãos. A livre investigação da verdade, simbolicamente, é a busca constante da Palavra Perdida que nunca será encontrada e, se encontrada, não será decifrada, por ser a chave dos mistérios da vida; se assim o fosse, perderia a razão da sua existência por conhecer toda a verdade, algo inalcançável para qualquer Maçom.

A Liberdade de pensamento, a Igualdade entre os homens de qualquer credo e a Fraternidade universal constituem o tripé que faz da Maçonaria uma Escola de pensamento filosófico, em busca da felicidade interior, do bem-estar social, anulando toda e qualquer aspereza que asfixia o homem, no exercício do amor ao próximo. Ela tem como grande objetivo a razão e a justiça para que o mundo alcance a felicidade geral e a paz universal.

Para tanto, é necessário que o Maçom seja um pesquisador na arte de filosofar, procurando encontrar a paz interior, a tolerância, a humildade, o lapidar da Pedra Bruta para daí, então, deixar fluir todo o conhecimento adquirido, durante anos de aprendizado e pesquisa, iluminando a todos com o seu exemplo, como cidadão diferenciado no mundo profano.

Sem adotar uma linha unilateral de pensamento filosófico, a Maçonaria torna-se fundamentalmente filosófica, trabalhando com justiça, no sentido de promover a solidariedade e a paz entre os homens.

O irmão Moisés Mussa Battal, da Grande Loja Maçônica do Chile, assim se expressa:

“A tarefa essencial da filosofia maçônica é irradiar a luz de nossos princípios e de nossos hábitos para melhorar a condição humana. Mais que monovalente, ou seja, de uma só linha, de uma só raiz, ela é polivalente. Tem vertentes, então, que a alimentam e ela se reparte como um delta no mundo profano. É tradicionalista e às vezes progressista; isto parece um paradoxo, mas não o é; tradição é conservar o melhor do passado para utilizá-lo em compreender mais o presente e preparar um porvir melhor que o presente. Ela não é o ensinamento de um conjunto de normas e princípios; nem um pensar exclusivo e excludente; é uma reflexão da vida e para a vida.” [2]

Ele ainda afirma:

“Diremos que nossa filosofia se identifica com esta Idade Moderna; sua identidade é quase total. Esta identidade é quase uma coerência, tratando-se do movimento filosófico chamado Ilustração.” [3]

Observe-se, agora, o que está escrito no Vade Mecum Maçônico da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba, com relação à definição e princípios da ordem:

“A Maçonaria é uma Ordem Universal formada de homens de todas as raças, credos e nacionalidades, acolhidos por iniciação e congregados em Loja, nas quais, por métodos ou meios racionais, auxiliados por símbolos e alegorias, estudam e trabalham para a construção da Sociedade Humana, fundada no Amor Fraternal na esperança de que com Amor a Deus, à Pátria, à Família e ao Próximo, com tolerância, virtude e sabedoria, com a constante livre investigação da verdade, com o progresso do conhecimento humano, das ciências e das artes, sob a tríade – Liberdade, Igualdade e Fraternidade -, dentro dos princípios da Razão e da Justiça, o mundo alcance a felicidade e a paz universal.” [4]

Fazendo-se uma análise dessa definição, verifica-se que a Arte de Filosofar está implícita nos princípios da Ordem. Cabe ao Maçom entender qual a sua real missão, qual o seu compromisso para com a Instituição e com os irmãos na construção de uma sociedade, alicerçada no amor fraternal. Para tanto é preciso que ele seja um homem tolerante, virtuoso e um sábio pesquisador. O diagnóstico na Arte do Filosofar está na proposta da investigação da verdade. Todo processo investigatório passa pela arte do pensar, do deduzir, do saber, do compreender, para então chegar à conclusão através do conhecimento. Além disso, não se deve esquecer que todo homem na senda do saber não pode se excluir da fraternidade universal, nem se isolar no seu próprio mundo, o que o impedirá de entender toda a riqueza que o processo investigatório lhe propõe. Totalmente introspectivo, ele será incapaz de conhecer o progresso da razão humana, das ciências e das artes, porque não as compreenderá em sua essência. Ele será um cego, um limitado e egoísta pensador inconcluso. A energia que o alimenta, dando-lhe força para alcançar o seu objetivo visando à construção de um mundo melhor é o amor fraternal entre os irmãos, à família e a Deus.

Como Escola na arte de filosofar, a Maçonaria não se limita a uma vertente da Filosofia. Ela busca, através dos seus postulados, incentivar seus membros a compreenderem o seu “EU”, com vistas à construção de uma sociedade mais fraterna. Para isso, têm o livre arbítrio que lhes permite estudar e pesquisar o que lhe convém, com a sabedoria que lhes deve ser peculiar, daí serem livres pensadores. Para realizar esse sonho quase “utópico”, o Maçom deve, portanto, se libertar do egoísmo, das vaidades humanas para se tornar um homem de bons costumes, humilde, justo, fraternal, livre, feliz e perfeito, para então ser a Pedra Polida na construção de uma perfeita sociedade humana.

Observe-se o que consta na Constituição do Grande Oriente do Brasil:

“Art. 1º – A Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionária, cujos fins supremos são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.” [5]

Do mesmo modo, a Constituição da Grande Loja do Paraná, que estabelece:

“A Maçonaria é, antes de tudo, uma instituição filosófica; sua finalidade é a propagação de sua filosofia. Todas as suas atividades, sociais ou políticas, não são mais que aplicações dessa filosofia ao campo político-social.” [6]

A partir da análise feita no tocante à definição e os princípios da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba, cabe agora, com base nas Constituições do Grande Oriente do Brasil, em seu art. 1º, bem como considerando o que estabelece a Grande Loja do Paraná, como Instituição Filosófica, que não é muito diferente da Grande Loja da Paraíba, questionar: os maçons praticam filosofia? Sob o aspecto constitucional, a Maçonaria se diz filosófica. Porém questionemos mais uma vez: Ela o é efetivamente?

Poder-se-ia responder a essas indagações ora formuladas com uma resposta simplória. Entretanto o simplório, ao tempo que satisfaz, também induz à acomodação e à ignorância, porque leva as pessoas a pensarem que já sabem tudo, quando na verdade estão longe do saber, do conhecer. Assim, cabe aos Maçons compreenderem que a prática da filosofia implica em esclarecer as questões que a realidade lhes impõe com a intenção de melhor elucidá-la. No ritual de Aprendiz, há uma orientação inicial para a compreensão do seu “interior”, quando se afirma que todo homem é uma Pedra Bruta e que pode se tornar uma Pedra Polida.

É na interpretação do V∴I∴T∴R∴I∴O∴L∴, onde estão subentendidos os primeiros passos na arte de filosofar. Para compreender melhor a realidade, primeiro deve-se, através da investigação, elucidar todos os questionamentos interiores, com o espírito de desbastar a Pedra Bruta. Esclarecendo essas questões, que impedem de ver o real sentido da vida, encontra-se o brilho necessário e transformador para construir uma sociedade harmoniosa e feliz.

É nesse processo alomórfico e construtivo que a Maçonaria utiliza os instrumentos de trabalho da arquitetura e das construções, como símbolos filosóficos para o aprendizado dos seus membros

O prumo é o exemplo de sua dignidade, da altivez e da imparcialidade como homem justo. Tomando-o como exemplo, o maçom passa a ser o apaziguador, aniquilando as diferenças entre os irmãos.

O nível indica ao maçom a igualdade social entre os irmãos embasada na justiça e na tolerância, sem levar em consideração a classe social a que ele pertença no mundo profano.

Com o compasso e o esquadro, as obras arquitetônicas possuem a justa medida, como símbolo. Esses instrumentos lembram ao Maçom que todas as suas ações devem estar pautadas na justiça e na retidão, atos que regem um verdadeiro obreiro da Arte Real.

Quando Aprendiz, o Maçom utiliza o esquadro como instrumento de trabalho juntamente com o maço e o cinzel, por serem úteis no desbastar da Pedra Bruta. Com o esquadro nas mãos, ele corta as pedras, deixando-as estritamente retangulares para se ajustarem com exatidão entre si. Entende-se, portanto, que o esquadro simboliza que a perfeição está para o indivíduo, assim como a justiça se coloca para a sociedade.

O malho, ou maço, e o cinzel são instrumentos preciosos que o Aprendiz usa para transformar a Pedra Bruta em Pedra Cúbica. Ele trabalha pacientemente deixando aflorar a sua arte. Simbolicamente esses instrumentos mostram-lhe como deve corrigir os seus defeitos, tomando decisões sábias (o cinzel), com determinação enérgica (o malho).

Enquanto a Pedra estiver Bruta, não se pode utilizar o compasso, pois é um instrumento usado pelo Mestre, quando a pedra estiver polida, esquadrejada e perfeitamente acabada.

A régua permite traçar linhas retas que podem ser prolongadas até o infinito. Para o Maçom, ela simboliza o direito inflexível e a lei moral, no entanto as realizações desse trabalho podem ser limitadas; antes, porém, deve-se traçar um programa que direcione passo a passo os caminhos a seguir, que vão além da ideia do “abstrato” (Régua), enquanto o compasso simboliza a “realidade concreta” com a qual se vivencia.

Filosoficamente, ser Maçom significa ser um pedreiro no processo construtivo da virtude, ser um obreiro incansável dessa obra interminável, ser perseverante no uso da trolha com prudência e perspicácia, pacientemente, quebrando as asperezas ainda existentes em seu interior. Para se construir uma sociedade mais justa e fraterna, o Maçom precisa primeiro se tornar uma pessoa melhor e exercitar com excelência a fraternidade.

A Filosofia nos graus simbólicos

A Maçonaria, como Instituição filosófica e iniciática, procura despertar no homem o senso de justiça e a perfeição. Para tanto, faz-se necessário, inicialmente, que ele mergulhe em seus pensamentos, buscando a fonte da razão de sua existência. Só assim será capaz de decifrar os enigmas interiores, quebrando as arestas que o separam da “verdadeira luz”, polindo a sua alma e tornando-se um homem capaz de trabalhar a Pedra Bruta que o simboliza em seus estágios evolutivos na investigação, interpretação e compreensão do seu próprio “EU”. Nesse sentido, interpreta-se ao iniciado o mundo maçônico, no qual a Loja é o símbolo do macrocosmo, o Universo; e do microcosmo, o homem.

É missão do Aprendiz trabalhar a sua interioridade no controle de “si”, buscando compreensão através dos ensinamentos a ele transferidos: os significados do desbastar a Pedra Bruta. Vencer as paixões mundanas deve ser a sua primeira reflexão; num estágio seguinte, ele trabalha desbastando as asperezas que o deixam cego, enquanto profano, impedindo-o de enxergar o “diamante” que é o homem. Agora, o Aprendiz, enquanto neófito, é instruído a trabalhar no sentido de quebrar as arestas que encobrem todo o brilho da essência humana, para, então, quando Companheiro, trabalhar na Pedra Cúbica. É no mestrado que esse conhecimento filosófico adquire corpo sólido. Assim sendo, é de fundamental importância que o Maçom deva instruir-se a respeito dessa parte filosófica, porque a vida em si é o exercício da filosofia.

Para adquirir esses conhecimentos, o Aprendiz tem que evoluir simbolicamente e subir com dificuldade os degraus da escada de Jacó. A cada conhecimento adquirido, ele faz uma reflexão de sua existência; a percepção é individual e intransferível, levando-o com seus estudos e observações a uma interpretação pessoal da vida na compreensão do amor ao próximo, alicerce de toda felicidade humana.

A investigação da verdade é a base da Filosofia Maçônica. A compreensão da Arte Real deve ser interpretada, na Maçonaria Especulativa, como sendo o aperfeiçoamento na arte de pensar, da investigação em busca do significado da existência e da verdade.

Jules Michelet, historiador e escritor francês, afirma:

“É preciso planar sobre o que nós fazemos. É necessário saber muito mais por cima e por baixo, ao lado e de todos os lados, rodear o seu objeto e tornar-se o seu dono.”

Grau de Aprendiz Maçom

O grande filósofo Sócrates ensina ao Aprendiz em filosofia, que a primeira coisa a fazer é aprender a pensar. Ele afirma: “Conhece-te a ti mesmo”. Aprendendo a pensar, aprende-se a conhecer, a discernir, a falar. Foi o que o próprio Sócrates fez. Dessa forma a linguagem que ele usa é sempre a linguagem do conhecimento. Eis aí o primeiro passo do Aprendiz Maçom: aprender a pensar. Como a Filosofia está embasada na busca e na investigação para chegar ao conhecimento, por analogia, o Aprendiz Maçom, mergulhado em seu interior, no seu pensar, procura entender o sentido do seu próprio “EU”, passando a conhecer-se melhor. Dessa forma, morre para o mundo profano, renascendo com outra visão de mundo, buscando outro estilo de vida completamente transformador.

Sócrates afirma também que o homem deve morrer instintivamente, para que as virtudes do seu interior possam aflorar, elevando-o acima das pequenas coisas desse mundo. Sócrates ainda nos fala: “O existir nada mais é que o cotidiano na busca do saber”. Para ele, a virtude só será alcançada quando se adquire a ciência, mas para isso depende do trabalho e da luta constante que o homem pode empregar na busca do conhecimento.

Filosoficamente, sabe-se que a existência humana passa pela questão do “SER”. O Aprendiz Maçom deve ter como objetivo conhecer primeiro a “si” mesmo, desbastando a Pedra Bruta, para daí, então, compreender todo o sentido da lapidação do espírito; não limitar-se ao pensamento primário de que o ser está singularizado no “SER É, O NÃO-SER NÃO É”.

Cabe aqui descrever o que Tomás de Aquino, preceitua:

“O ser não se pode acrescentar nada que lhe seja estranho, porque nada lhe é estranho, com exceção do NÃO-SER, que não pode ser nem forma nem matéria.”

Conhecer, portanto, é descobrir o “SER”; assim, para o Aprendiz Maçom, o conhecimento pode significar o nascimento do seu “SER” interior. Compreendendo a “si” mesmo, ele se diferencia do profano, pois uma nova luz ilumina o seu caminho, uma vez que visualiza as coisas com o olho do pensamento, usando a lente da inteligência, ao passo que o profano olha e não vê. É aí onde reside a diferença entre o olhar e o ver, entre o profano e o Aprendiz Maçom.

Com base no pitagorismo, o Aprendiz mergulha no silêncio, como primeiro fim, para que se possa melhor enxergar, ouvir e meditar.

“Conhece-te a ti mesmo!” Essa assertiva no sentido maçônico leva à conclusão de que, se o Aprendiz Maçom não praticar o conhecimento interior, se não lapidar o seu espírito com a finalidade de evoluir, com a intenção de aperfeiçoar o seu intelecto, não buscar uma conduta condizente com os princípios da moral e da razão, não conseguirá desbastar a Pedra Bruta.

Portanto, o Primeiro Grau ensina que é necessário o conhecimento próprio, para daí se partir para outros conhecimentos. Finalmente, o Aprendiz deve aprender a trabalhar em equipe, com amor, vigilância e dedicação.

Grau de Companheiro Maçom

Uma vez o Aprendiz Maçom conhecendo o seu interior, ele agora está preparado para o passo seguinte, alicerçado no pensamento do filósofo francês René Descartes: “Se duvido, penso, se penso, existo”. É a senda do Companheiro Maçom.

Por estar filosoficamente bem mais elevado, o Grau de Companheiro Maçom, direciona-o
para a verdade científica, anulando definitivamente as superstições. Nesse grau, pode-se fazer uma síntese das filosofias de Pitágoras, de Parmênides, de Sócrates, além de outros.

“O que somos? O que é que existe? De onde vieram as coisas? Para onde iremos?” Esses questionamentos são, na verdade, a primeira grande influência filosófica do Segundo Grau, advindos dos primeiros pensadores pré-socráticos. Eles procuravam compreender e buscar soluções para os princípios das coisas existentes. O ato de pensar era o caminho para chegar a conclusões concretas, visando encontrar uma resposta que se baseasse num ponto de vista lógico para seus questionamentos.

A constante mudança que sucedia na natureza deixava o homem deslumbrado, diante do fenômeno que consistia em as coisas mudarem, desaparecerem e a natureza continuar a mesma. Simbolicamente é o que acontece com o Companheiro: a sua primeira tarefa é fazer uma análise objetiva da realidade física, a fim de que possa chegar a um conhecimento tanto maior da existência. A vida é um enigma e, no Segundo Grau, o tema é abordado filosoficamente: O que sou eu? O que é a vida? Que estou fazendo neste mundo?

Neste ponto, faz-se presente a filosofia de Parmênides de Eleia, talvez o maior entre os pré-socráticos. Em um dos fragmentos, dentre os que chegaram até hoje, ele filosofa:

“Mas há no mundo o que importa mais que o mundo: O ser do mundo.”

Protágoras dizia que o homem é a medida de todas as coisas. Portanto, quando se pensa, esse ato está sempre ligado ao “ser” e acredita-se que se não existisse elo, não existiria o pensar, haveria apenas um simples refletir. Entende-se, assim, que o pensar tem sempre o homem como alvo principal.

Sendo um grande conhecedor do seu “EU”, o Companheiro Maçom, agora, passa a estudar o conhecimento sociológico para melhor entender e ter uma visão mais apurada dos valores sociais e individuais. Ele passa a ser o defensor da vida social e inimigo das tiranias que procuram escravizar e alienar a inteligência e o espírito do homem, pois a Arte Real não admite entraves ao pensamento humano.

Com o exposto, entende-se que o Segundo Grau é essencialmente social. O Companheiro Maçom tem que trabalhar com afinco na prática da filantropia, a serviço da comunidade; ele tem que se despojar em beneficio de seus semelhantes.

Eticamente o Companheiro Maçom deve possuir quatro atributos: ser um sábio, por compreender os significados da ciência, interpretar a Arte Real e, acima de tudo, por conhecer a “si” mesmo; ser forte por vencer as paixões alienadoras que escravizam o homem; ser um moderador nas diferenças e nas indiferenças da vida social; ter senso de justiça por ser um homem virtuoso, reto e íntegro. Atingindo esses objetivos, ele agora está preparado para subir mais um degrau da escada de Jacó.

Grau de Mestre Maçom

O filósofo Arcângelo Buzzi afirma que:

“O estudo da filosofia desenvolve o espírito de fineza. Exercita o pensamento a conhecer a realidade por si próprio, tornando-se ele mesmo esclarecido, portador de luz força de discernimento.”

Por excelência, o Mestre Maçom é um filósofo. Chegando ao Terceiro Grau, ele é muito mais Aprendiz do que quando tinha assento no setentrião, e muito mais Companheiro do que quando ocupava um lugar na coluna do sul. Diante dessa afirmativa, vem a pergunta que deve incomodar: Por que o Mestre é muito mais Aprendiz e muito mais Companheiro? A resposta que deve ser levada em consideração é que a missão do Mestre Maçom é ensinar. A melhor forma de aprender é ensinando, e se aprende muito mais do que estudando. Heidegger nos diz:

“É bem sabido que ensinar é ainda mais difícil que aprender.”

Para ensinar, o Mestre deve ser possuidor de conhecimentos, mas para isso precisa estar aberto ao aprendizado como um eterno Aprendiz. Se for soberbo, ele acaba se fechando e não evolui na arte de filosofar, daí os seus ensinamentos tornam-se falhos. Porém se ele exercitar a humildade e se deixar aprender, os seus conhecimentos se renovam e todos se beneficiam; com essa conduta, há um mútuo enriquecimento entre ele, o Aprendiz e o Companheiro.

Nesse contexto, ele deve aprender a deixar-se aprender. A sua compreensão ultrapassa os discípulos que se limitam a absorver o conhecimento transmitido, porque ele é uma fonte inesgotável de estudo e de pesquisa. Se assim não o faz, só lhe resta inventar e propagar a filosofia do achismo, na qual ele supõe, mas não tem certeza de nada, tudo é fruto de sua imaginação. A Maçonaria não admite invencionices, mas nela existem mestres que, agem dessa forma e, ocasionalmente, falam por pura intuição, sem fundamento no que diz; pura fábula criada pelo seu pensamento.

A constante pesquisa, aliada à perseverança, incentiva o Mestre a alcançar os objetivos desejados. É através da interpretação e compreensão do objeto em estudo que o questionamento é elucidado. É na tolerância que ele exercita a arte de aprender com paciência, como um Aprendiz ao desbastar a Pedra Bruta. Sem a socialização do conhecimento, o Mestre só enxerga a “si” e assume uma conduta isolada, daí o que é filosófico entre os Maçons fica restrito a poucos pensadores. Adotando essa postura, toda a sua filosofia adquire outro significado com deduções ilógicas sobre tudo com que se depara e passa a transmitir suas conclusões aos Aprendizes Maçons como verdade absoluta. Dessa forma, ele não está contribuindo com a Instituição na arte de filosofar.

O Mestre Maçom deve sempre pesquisar, sem se deixar influenciar pelo seu ímpeto, sem nenhuma base de sustentação nas ideias do achismo, sistemas ou doutrinas alienadoras. É bom não confundir postulados maçônicos com dogmas, como se a maçonaria fosse uma seita. Ela não é religião, mas religiosa.

Sócrates, o maior de todos os filósofos gregos, disse:

“Empenho muito mais belo é quando alguém, servindo-se da dialética, tomando uma alma apropriada, pela planta e nela semeia, com ciência, discursos que são capazes de ajudar aos próprios e a quem os plantou, e que não são infrutíferos, mas têm em si germes donde brotarão outros discursos plantados, em outras pessoas, discursos capazes de produzir esses efeitos, sem nunca falhar e de tornar feliz quem possui tal dom, tanto quando o homem isso é possível.”

O Mestre Maçom não deve se prender a ensinar a ritualística referente à Loja a qual pertence. Ele transcende a essa prática, a esse pensamento, a esses ensinamentos. Ele não pode ficar limitado à discussão dos trabalhos em Loja, muito menos falando em vão, externando maledicência, criando um clima de animosidade entre os irmãos, dando mau exemplo aos Aprendizes e Companheiros. Deve-se entender que ele é uma fonte de tolerância, de riqueza para o aprendizado; é exemplo a ser seguido dentro e fora de Loja, pois é um Mestre Maçom.

Conclusão

O Mestre Maçom se caracteriza pela serenidade ao pensar, pela sua humildade ao ouvir, pelo controle de “si” ao agir. Ele é o termômetro entre as colunas, é a harmonia na Câmara do Meio pela meditação na compreensão do significado da morte.

A ordem dos trabalhos requer tolerância e mansidão no uso da palavra, que circula tanto no ocidente como no oriente. Passa pela interpretação do significado da “luz” que emana do oriente, iluminando a todos num clima de união. O Mestre Maçom deve ser possuidor da sabedoria que foi outorgada pelo G∴A∴D∴U∴ ao Rei Salomão, quando ele se torna um Venerável Mestre ou um Sereníssimo Grão-Mestre. É nesse exercício prático que o filosófico se torna concreto no mundo profano, onde o Maçom é o exemplo de homem digno da serenidade que lhe é peculiar.

Compreende-se que o Mestre Maçom é uma fonte inesgotável do pensar, do agir interagindo, do lapidar-se lapidando. É a busca do saber até a luz do conhecer, é a compreensão dos significados que a vida lhe impõe, questionando os porquês, procurando soluções para as coisas imperceptíveis aos olhos do mundo profano, a fim de tornar-se um profundo conhecedor na arte de FILOSOFAR.

A Maçonaria, como Instituição Filosófica, precisa de homens pensadores, filósofos da vida, das experiências adquiridas dentro e fora das Lojas Maçônicas. Nela não há discórdia de pensamentos, pois todos buscam esclarecer o que está obscuro, o inexplicável. A razão de sua existência está na vontade de interpretar e compreender os obstáculos que afastam o homem da paz interior, que o impossibilitam construir a felicidade humana.

Para ser Maçom não é preciso cursar universidade, nem ter título universitário, muito menos ser doutor, principalmente em Filosofia. Nela, compreende-se que todo Maçom deve ser “livre e de bons costumes”; um pensador, um investigador que caminha nas veredas das observações das atitudes humanas, desprezando o que é desprezível, lapidando-se até o brilho do conhecimento. Ser um incansável explorador em busca da Palavra Perdida e Indecifrável, trilhando o caminho da investigação, na compreensão da
verdade até alcançar a luz que o libertará das trevas que o acorrentam até a morte, ressurgindo para uma nova vida.

Nessa compreensão, todo homem com esses pré-requisitos têm condições de adentrar pelo Portal que separa a ignorância da verdade e participar da meditação; filosofar sobre a vida, com a finalidade de encontrar o diamante que brilha em seu interior. É um traspassar pela grade da razão, subindo pela escada de Jacó até alcançar, simbolicamente, toda sabedoria do Rei Salomão.

Autor: Alveriano de Santana Dias

Fonte: Revista O Buscador. Ano I – N° 2, pág. 21– 31 abr/jun – 2016. Uma publicação da Loja Maçônica de Estudos e Pesquisas Renascença nº 1, oriente de Campina Grande- PB.

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Notas

[1] – http://www.samauma.biz/site/portal/conteudo/opiniã o/g00304incidencia.htm

[2] – http://www.lojasaopaulo43.com.br.htm

[3] – http://www.samauma.biz/site/opinião/g00304inciden cia.htm

[4]Vade Mecum Maçônico, 1991, p.21.

[5]Boletim Especial da Constituição – 25/05/2007, p.3.

[6] – Constituição, 1985, p. 5.

Referências bibliográficas

ALBUQUERQUE, Raimundo Rodrigues de. A Incidência Filosófica nos Graus Simbólicos. Disponível em: htttp://www.samauma.biz/site/portal/conteúdo/opinião/g00304incidencia.htm

AUTOR DESCONHECIDO. Maçonaria e seus princípios. Disponível em:
http://www.vivernatural.com.br/filosofias/mac_prin.htm

BATTAL, Moises Mussa. Filosofia da Maçonaria – “Lições de Filosofia Geral e Maçônica“. Editora Gazeta Maçônica. São Paulo. 1991. Disponível em www.lojasaopaulo43.com.brr.

GUERRA, Pe. Aloísio. Religiosidade e Maçonaria. Editora Maçônica a Trolha, Londrina, novembro 2006.

GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAÍBA. Rituais dos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom. G:.L:.O:.M:.E:.PB., João Pessoa, 1985, Nova Edição – 2005.

GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA. Vade mecum Maçônico. GLOMEPB. Editora Universitária, João Pessoa, 1991.

MORENTE, M. Garcia. Filosofia. Disponível em http://www.brasilescola.com/filosofia/

NOVO DICIONÁRIO ELETRÔNICO AURÉLIO

PRETERS, Ambrósio. Filosofia Maçônica. Disponível em : http://www.samauma.biz/…/ap00306filosofiamaconica.htm

PUCCI, Francisco C. L.. Graus Filosóficos. Disponível em : http://www.maconaria.net/portal/index.php?option

O Tesouro Oculto da Maçonaria

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“A maior parte só vê a casca, e cedo se desilude; não conhece a amêndoa gostosa que se oculta no interior e torna-se o prêmio reservado aos estudiosos, que os aproxima cada vez mais da Iniciação Real” (Nicola Aslan) 

Conta-se que um amigo do jornalista, contista, cronista e poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918), abordou-o certa vez e pediu-lhe que redigisse um anúncio de uma chácara que pretendia vender e da qual o mesmo era conhecedor. Ali mesmo, o poeta apanhou um pedaço de papel e escreveu:

“Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo. Cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda.

Tempos depois, reencontrando o amigo, Olavo Bilac perguntou-lhe se havia conseguido vender a propriedade. De pronto ouviu a resposta: “Nem pense mais nisso! Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha nas mãos”.

Eckhart Tolle, na sua obra “O Poder do Agora” (2002), narra a história de um velho mendigo (da fábula de Tolstói), que passou mais de trinta anos sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise, pedindo moedas aos transeuntes. Um belo dia um estranho perguntou-lhe o que tinha dentro da caixa que era utilizada como assento em todo aquele tempo. Respondeu o mendigo que não sabia, mas que imaginava não ter nada. Insistiu o estranho para que o mendigo desse uma olhada. Ao abri-la, com certa dificuldade, descobriu o velho que o caixote estava cheio de ouro.

Em outro contexto, Malba Tahan (1895-1974), pseudônimo do professor, conferencista, matemático e escritor do modernismo brasileiro, Júlio César de Mello e Sousa, nos relata em “O Livro de Aladim“ (2001), uma fantástica história chamada “O Tesouro de Bresa”, sobre a experiência de um pobre e modesto alfaiate da Babilônia chamado Enedim, que alimentava o sonho de achar um fabuloso tesouro escondido em algum lugar e tornar-se rico e famoso.

Um dia parou em sua porta um velho mercador da Fenícia com uma infinidade de objetos. Entre elas ele descobriu um livro onde se viam caracteres estranhos e desconhecidos. O vendedor disse tratar-se de uma preciosidade. Após adquiri-lo, Enedim passou a examiná-lo com cuidado e conseguiu decifrar de uma legenda em complicados caracteres caldaicos o título: “O Segredo do Tesouro de Bresa”. Lembrou-se que ouvira falar alguma coisa a respeito e despertou a curiosidade para prosseguir na pesquisa, que se referia a uma fortuna enterrada por um gênio em uma caverna localizada em uma montanha chamada Harbatol.

Como as primeiras linhas eram escritas em caracteres de vários idiomas, Enedim foi obrigado a estudar os hieróglifos egípcios, o grego, os dialetos persas e a língua dos judeus. Isso o levou mais tarde a ocupar o rendoso cargo de intérprete do rei. Continuando a traduzir o livro, debruçou sobre várias páginas cheias de cálculos, números e figuras, o que o incentivou a instruir-se em matemática. Com isso desenvolveu habilidades para calcular, desenhar e construir uma grande ponte sobre o rio Eufrates. O rei nomeou-o então prefeito e ele se tornou um dos homens mais notáveis da cidade.

Continuando suas buscas sobre o segredo do tal livro, examinou as leis e princípios religiosos, o que o capacitou a dirimir uma velha pendência entre os doutores. Tornou-se primeiro-ministro. Passou a viver com luxo e riquezas e recebia os príncipes mais ricos e poderosos do mundo. Em consequência, o reino progrediu e Enedim se tornou o mais notável de seu tempo. Mas, o segredo ainda não tinha sido desvendado.

Certo dia, conversando com um imã, relatou suas buscas e descobertas e o religioso ao ouvir a ingênua confissão do agora grão-vizir, falou: “o tesouro de Bresa já está em vosso poder, meu senhor, graças aos conhecimentos que o livro lhe proporcionou”. “Bresa” significa “saber”, enfatizou o religioso, e “Harbatol” quer dizer “trabalho”. “Com estudo e trabalho pode o homem conquistar tesouros maiores do que os que se ocultam no seio da terra”, concluiu.

Refletindo sobre as três passagens acima, podemos extrair da primeira a nossa dificuldade em valorizar as coisas boas que dispomos, ou seja, os tesouros que estão ao nosso alcance, nossas famílias, amigos, trabalho, saúde e conforto, bem assim as inúmeras oportunidades em que nos perdemos em divagações e buscas, não se sabe do quê, sem nenhuma materialidade. Se pensarmos em termos de uma nação, entendemos como vários países ricos em potencial e tesouros incalculáveis em seus subsolos veem sua população na miséria e completa ignorância e dirigidos por incompetentes e/ou corruptos gestores do bem público.

No caso específico do mendigo, a mensagem é mais concisa e pode se ajustar a qualquer pessoa incapaz de reagir frente a uma existência miserável, sobretudo a intelectual, estando ao mesmo tempo sentada sobre uma riqueza incalculável, apenas pela incapacidade de conceber, avaliar e laborar os recursos disponíveis ou mesmo os próprios conhecimentos e habilidades. Mais ou menos a imagem de uma pessoa que vive em uma biblioteca, sabe soletrar, ler e escrever, mas morre ignorante, sem ao menos remover a poeira dos livros que a abraçam. Ou mesmo, cercado por boa comida, morre de inanição com preguiça de levar comida à boca. Mais ainda, como ativista sentado em confortável sofá, espera o conhecimento chegar via mensagem de WhatsApp para democraticamente compartilhá-lo, sem ao menos confirmar a veracidade.

Na mesma linha, a lenda do Tesouro de Bresa demonstra as inúmeras conquistas que podem advir da superação da preguiça mental e dedicação ao estudo e ao trabalho, dependendo apenas de confiança, força de vontade, disciplina e foco. Basta o despertar para a busca do conhecimento que aparenta estar oculto e distante, mas grita bem perto de nossos surdos ouvidos.

A maçonaria, por meio de suas instruções, coloca à disposição dos obreiros todo um imenso tesouro onde se estudam várias ciências, como moral, arte, filosofia, psicologia, sociologia, política, história, lógica e metafísica, que levam ao aprendizado e ao progresso por meio da própria experiência e esforços individuais, que variam de acordo com as próprias competências e em face das vivências e descobertas proporcionadas pelos estudos e trabalhos realizados (ver artigo “A Instrução Maçônica”, em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2016/02/23/a-instrucao-maconica/).

Ao não incrementar ou valorizar os temas para estudos e debates em nossas Lojas, restringimo-nos à perenidade da ritualística e expectativa da ágape que vem após as reuniões, deixando de explorar toda a base de conhecimentos e instruções disponíveis, que representam um grande tesouro colocado à disposição de todos. A leitura burocrática das instruções apenas para cumprir uma formalidade faz-nos lembrar frase do célebre Marques de Maricá: “Ler sem refletir é comer sem digerir”.

Assim agindo, com esse desdém, cometemos o erro de quem se julga na Maçonaria, mas não vê a Maçonaria, garantindo que continuaremos pobres e sentados em cima de um rico patrimônio cultural, fadados a ouvir, aplaudir e repetir bravatas de pseudointelectuais, justificando o ditado popular: “em terra de cego quem tem olho é rei”.

Mas, com o despertamento para as enormes potencialidades da cultura maçônica, faz sentido o pensamento de Nicola Aslan, cotado na abertura desta Prancha, bastante ilustrativo da realidade de muitas Lojas, onde o obreiro deixa escoar o tempo e não consegue vislumbrar e apropriar-se do tesouro oculto nas colunas da maçonaria, do sabor da amêndoa gostosa, do desvelamento da essência, da interpretação do simbolismo, enfim, dos ensinamentos, que ficam por conta do estudioso, do pesquisador que não se detém na superfície, que acumulará as riquezas garimpadas segundo a medida de sua capacidade, em conformidade com sua maturidade e preparo espiritual.

Um ladrão rouba um tesouro, mas não furta a inteligência. Uma crise destrói uma herança, mas não uma profissão. Não importa se você não tem dinheiro, você é uma pessoa rica, pois possui o maior de todos os capitais: a sua inteligência. Invista nela. Estude! (Augusto Cury)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras, e para nossa alegria, também um colaborador do blog.

Referências

TAHAN, Malba. O Livro de Aladim. Rio de Janeiro: Record, 2001;

TOLLE, Eckhart. O Poder do Agora: um guia para iluminação espiritual. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

Lojas de Instrução

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Introdução

Há, por vezes, um grande equívoco sobre a prática e os conceitos das instruções maçônicas em Lojas. Este ensaio tenta desfazer as incertezas sobre o tema. No decorrer do trabalho, apresentam-se exemplos e como devem ser desenvolvidas as instruções maçônicas. Explica-se como funciona o sistema de instrução maçônica nas Lojas inglesas, as Lojas de Instrução. Termina-se informando, na opinião do autor, como adaptar este sistema inglês à realidade brasileira.

Instrução é a formação de determinada habilidade. É o treinamento, é o adestramento. Instrução maçônica é o treinamento de como se deve comportar em Loja aberta, ou seja, é o adestramento do uso dos Rituais, da liturgia maçônica. Isto é, como se habilitar nos procedimentos ritualísticos. É a formação do Maçom. É feita, na Maçonaria inglesa, geralmente em Lojas de Instrução. No Brasil é feita em Lojas abertas, em seminários e em encontros maçônicos. Há, também no Brasil, algumas escolas maçônicas. Instrução maçônica, conforme esta definição, não é educação maçônica. Educação maçônica é definida abaixo.

Importante é esclarecer que as instruções na Maçonaria não são exposição e aceitação de dogmas, isto é, doutrinas de caráter indiscutíveis, como são instruções religiosas. Trata-se de ritualística, simbolismo e alegorias, cujos ensinamentos e conclusões finais são de responsabilidade e iniciativa do Maçom que está sendo instruído. Por isso, o Maçom é um livre pensador, homens livres e de bons costumes. O livre pensar convida ao despojamento de crenças, baseadas em superstições e magias, as quais geram acomodações e preguiça mental. O livre pensar demanda coragem, determinação, sede de saber, iniciativa de quem está sendo instruído e o uso da razão na busca da verdade. Cabe ao instrutor mostrar o caminho do saber, do alcance das virtudes e da prática da moral. Cabe ao Maçom que está sendo instruído, o instruendo, chegar, por seus próprios meios, pensamentos e iniciativa, ao ensinamento final. Ilustração clássica desse método está na figura do Aprendiz desbastando a Pedra Bruta.

Educação maçônica é o desenvolvimento cultural do Maçom. Trata-se de um conjunto de métodos que repassam conhecimentos sobre história da Maçonaria, filosofia maçônica incluindo ética e moral e cultura maçônica. Nesta definição, não envolve estudo dos Rituais e preleções maçônicas. O objetivo da cultura maçônica é complementar a formação do Maçom. Normalmente é feita através de palestras, seminários, encontros e, principalmente, leituras.

Informação é a notícia, não é propriamente instrução maçônica. É a exposição de um fato de interesse geral a que se dá publicidade. Por exemplo: notícias sobre outras Lojas, sobre encontros e seminários. Informação maçônica é, portanto, a apresentação de notícias de interesse dos membros da Loja maçônica.

Instrução Maçônica

Segundo o Irmão Joselito Romualdo Hencotte:

“Um dos problemas que mais afligem a Maçonaria atual é a prática ritualística pobre. Isto não se refere à dificuldade de ler os Rituais, mas, também, à maneira como são praticados, de forma monótona e sem inspiração, o que implica em o candidato não ser atingido pela mensagem das cerimônias das quais participa. A prática ritualística é muitas vezes medíocre, e ela não precisa ser! Uma prática ritualística mais atenta nos oferece a oportunidade de observar melhor os nossos símbolos e as nossas tradições proporcionando assim um entendimento melhor sobre a Ordem Maçônica.” (Ramos & Souza Prado, 2011).

As instruções maçônicas, no Brasil, são, em geral, realizadas em Lojas abertas. São feitas com pouco tempo de trabalho, o “tempo de estudos”, muito limitado, em geral sem discussões e, consequentemente, muito falhas. As instruções constam, genericamente, da apresentação de dois ou três trabalhos, da leitura ou memorização das preleções, mas tudo sem debates mais profundos. Muitas dúvidas persistem, por parte dos instruendos. Os trabalhos apresentados, em geral, são cópias e, muito poucas vezes, o Irmão em instrução coloca suas próprias opiniões sobre o tema copiado. Raramente há discussões sobre a ritualística.

Tudo o que se faz num Ritual, as palavras, os atos, o silêncio, os passos, tudo tem um significado simbólico. Poucos conhecem esses significados e, o mais insensato, não está desperto ou interessado em saber o porquê desses atos. Ou seja, não “vestem a camisa” do Ritual, lendo-o como um autômato. Instrução maçônica é, principalmente, o adestramento sobre ritualística e isso é pouco explorado no Brasil. Importante é afirmar que o ritual não é um fim, mas um meio para a preparação e o desenvolvimento de virtudes, de valores e de bem viver. Através de símbolos e alegorias.

Os Irmãos Aprendizes perguntam muito, porque têm interesse, curiosidade e querem aprender. A resposta, em geral, é do tipo “isso eu não posso responder” ou “tenha paciência que você vai saber nos Graus superiores (ou mais tarde)”. Isto é um erro, pois o que não se pode dizer ao Aprendiz são apenas palavras, sinais e toques dos Graus superiores. Então, os questionamentos afloram sem respostas.

As instruções para Mestres Maçons são, ainda, mais deficientes e, muitas vezes, nulas, simplesmente não existem. Certas pessoas, depois de Iniciadas e Elevadas (Exaltadas), continuam profanas, por falta de instrução. Muitos, chegando ao ápice da carreira maçônica, “aposentam-se”. Em consequência dessas falhas, temos o chamado “efeito sanfona” (o entra e sai da Maçonaria), as cisões (de Obediências ou de Lojas), os diversos atritos e problemas existentes na Maçonaria brasileira. Pode-se afirmar, sem erro, que todas as cisões de Obediências ou de Lojas, originaram-se nas inadequadas instruções de seus protagonistas.

As instruções maçônicas no Brasil são de responsabilidade de cada Loja. Temos cerca de 2.900 Lojas (no GOB), acrescidas das Lojas da CMSB – Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – somada a Grande Loja Maçônica do Rio Grande do Sul (cerca de 2.800 Lojas) e da COMAB – Confederação Maçônica do Brasil (cerca de 1.300 Lojas) e não se tem, na opinião deste autor, 500 ou 600 instrutores eficientes para instruir Aprendizes, Companheiros e Mestres. Têm-se, em verdade, cerca de 95.000 Mestres (no GOB), 120.000 Mestres (CMSB + GLMRS) e 40.000 Mestres (COMAB). Mas, muitos deles sequer tiveram instruções de Mestre Maçom. Como fazer? Como mudar esta situação? (Brasil aproximadamente: 7.000 Lojas e 250.000 maçons).

As instruções maçônicas deveriam ser mais regulares e frequentes. Deveriam ser feitas em Loja fechada, quando é possível debates, réplicas e tréplicas e questionamentos diversos. Deveriam ser feitas por instrutores que se preparassem para tal, com planejamento prévio, sem improvisações. Muita coisa que estão nos Rituais não estão de forma explícita, mas demanda estudos mais aprofundados. Quando não se sabe a resposta a um questionamento, é preferível dizer: “Não sei responder. Vamos estudar”. Nos trabalhos escritos, além de referências bibliográficas, deve haver como considerações finais, a opinião original e pessoal sobre o tema, pelo Irmão que está sendo instruído. E as cópias de textos já existentes devem vir entre aspas e referenciadas.

Algumas Obediências têm cursos de instruções programados para Aprendizes, Companheiros e Mestres. Mas esses cursos não são eficientes, na maioria das vezes, e alguns são à distância. A Grande Loja de Maçons do Estado do Rio Grande do Sul tem (em alguns Ritos) eficientes manuais de instrução para os três Graus simbólicos. O GOB-SP tem um eficiente programa de instrução (na verdade de educação maçônica), dividido em três partes: Aprendiz, Companheiro e Mestre, que circula em todo Estado: são os ERAC (Encontro Regional de Aprendizes e Companheiros), ERACOM (Encontro Regional de Aprendizes, Companheiros e Mestres), que existem também no GOB-PR. A GLMMG tem a Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves d’Almeida (*NB: com instruções para os 3 graus simbólicos no Templo Nobre em BH e também de forma itinerante nas lojas do interior de Minas). A Grande Loja de Santa Catarina mantém um eficiente programa de instruções maçônicas. Provavelmente, há outros bons programas, desconhecidos deste autor, em outras Obediências e Orientes. Porém, a grande maioria desses programas, é destinada à educação maçônica e muito pouco de instrução maçônica.

Algumas críticas sobre a necessidade de instrução ritualística são expostas a seguir. É muito comum, no Brasil, enxertos e invenções nos Rituais, “por ser mais bonito”. Quando há dúvidas, muitos Irmãos não tendo conhecimento da solução, criam uma teorização, fundada no subjetivismo pessoal, ou seja, um “achismo”. Não deve existir “achismos” nas instruções maçônicas. Cabe ao Secretário de Ritualística da Obediência manter severa vigilância na execução do ritual. Ele é o responsável pela liturgia do rito e pelo ritual.

Uma grande parte dos Maçons brasileiros acredita que a instrução vai bem. Acham suficientes os trabalhos copiados dos Aprendizes e Companheiros. Não sentem falta da instrução de Mestre Maçom de seus trabalhos. São Irmãos ingênuos, ainda que bem intencionados. Para eles todos são bons e todos são Irmãos e isso basta. Neste caso, falta aos seus Irmãos de Loja tentar abrir suas mentes para a beleza do Ritual, do simbolismo e da Maçonaria. Muitos Irmãos acham que o Maçom, após elevado (exaltado) Mestre Maçom, alcançou a “plenitude maçônica” e isto basta. Se “aposentam”. O que é, evidentemente, um grande erro.

Lojas de Instrução na Inglaterra

Na Inglaterra, quase todas as Lojas têm 4 sessões ritualísticas por ano (às vezes 5). Seguem as determinações das Constituições de Anderson. As instruções não são feitas em Lojas simbólicas, mas feitas em Lojas de Instrução. Lojas de Instrução são lojas formadas por uma ou mais Lojas simbólicas; não têm Carta Constitutiva, não são abertas ritualisticamente e seus membros (Aprendizes, Companheiros, Mestres Maçons e os instrutores) em geral, não usam paramentos. Vale dizer, não são Lojas. Funcionam semanal ou quinzenalmente. As reuniões (não são sessões) de Aprendizes, Companheiros ou Mestres Maçons são realizadas em dias distintos. Toda reunião de instrução, em Lojas de Instrução, deve ter uma ata que é enviada à Grande Loja Provincial (ou Distrital) para controle. Existem Lojas de Instrução, também, nos EUA, Canadá, Austrália, África do Sul e Nova Zelândia. Na Irlanda, as Lojas de Instrução chamam-se Class of Instructions. Talvez também, existam em outros países que este autor não tem conhecimento. Na Escócia, devido a não uniformidade do ritual, consequência da grande autonomia das Lojas, as Lojas de Instrução são poucas e seus trabalhos são mais difíceis. Outra observação: na Inglaterra, nem todas as Lojas simbólicas operam Lojas de Instrução.

Depois de iniciado o Aprendiz deve frequentar uma Loja de Instrução, com frequência controlada pelo seu padrinho (chamado Mentor ou Mistagogo[1]; em inglês: Mentor or Mystagogue). O Mentor, que no Rito Schröder chama-se Garante, é o responsável pelo iniciado (responsável pela instrução do iniciado, pela frequência na Loja de Instrução e na Loja Simbólica e pelos metais do Aprendiz) até que o apadrinhado se torne Mestre Maçom. O Mentor é que verifica se o Aprendiz (ou Companheiro ou Mestre Maçom) está bem instruído e o próprio Mentor recomenda ao Comitê da Loja a passagem ou elevação do candidato. Na Inglaterra não existe Comissão de Graus. Esta recomendação feita pelo Mentor deve ser secundada por outro Mestre Maçom que conheça a instrução feita ao candidato. (Comitê da Loja é composto pelo Venerável Mestre, 1º e 2º Vigilantes, Tesoureiro, Secretário, 1º e 2º Diáconos, Cobridor Externo e todos os Ex-Veneráveis – Comitê da Loja é o board of directors). Nas Lojas de Instrução de Mestre Maçom faz-se somente o treinamento do ritual. As preleções de Mestre Maçom não são feitas em Lojas de Instrução e são controladas pelo Mentor. Há uma orientação muito eficiente para o trabalho do Mentor, feita pelas Grandes Lojas Provinciais (ou Distritais).

Os instrutores das Lojas de Instrução são, em geral, professores, preceptores ou pedagogos (full professor, lecturer, prelector, teacher, schoolteacher, instructor, educationalist) portanto preparados. Quase todos têm formação ou experiência pedagógica e todos são maçons experientes e muito bem formados.

As instruções de Aprendiz e Companheiro constam em memorizar o ritual, discutir o ritual e seus significados simbólicos em detalhes, discutir e decorar as preleções, elaborar e discutir trabalhos, etc. Os Aprendizes e Companheiros aprendem a interpretar, representar e encenar o ritual. As instruções são, basicamente, estudo do ritual. O resto é deixado que o maçom tenha seu próprio pensamento e consciência. Como a Loja de Instrução não é aberta, há muitos debates, discussões e questionamentos; as interrupções para questões são frequentes. Não se obriga o candidato a memorizar os rituais. Mas para que ele, como Mestre Maçom ocupe cargos, ele deve memorizar todas as palavras desse cargo nos três graus. Isto significa que o Venerável Mestre tem, obrigatoriamente, memorizado todos os 3 rituais do simbolismo, incluindo iniciação, passagem, elevação, e instalação. Na Inglaterra, Aprendizes e Companheiros não podem ter rituais impressos. Só Mestres Maçons os têm, depois de memorizados os textos e serem elevados.

Isso permite uma formação sobre ritualística eficiente o que torna o Mestre Maçom estar realmente na plenitude maçônica. Esses Mestres Maçons britânicos “vestem a camisa”, adotam a Maçonaria, lutam por ela e são excelentes Irmãos.

Como originaram as Lojas de Instrução?

O mais antigo registro de instrução maçônica é de 1725, quando a Ancient Society of Masons of York convocava Irmãos para instruções maçônicas fora das Lojas. Observe: fora das Lojas. É provável que esse sistema seja mais antigo, pois Maçons especulativos devem especular (estudar com atenção, pesquisar, refletir, teorizar) – Beresiner, 2008.

Depois da unificação entre a Loja dos Modernos e a dos Antigos, em 1813, a Grande Loja Unida da Inglaterra preocupou-se em unificar, também, os Rituais. Isso aconteceu na Inglaterra e nunca aconteceu na Escócia. A United Lodge of Perseverance, dentre as mais proeminentes Lojas daquele período, fundada em 1818, teve, em seu Quadro, vários dos Maçons mais cultos de então, sendo que nove destes ilustres conhecedores da Arte foram fundadores da mais célebre de todas as Lojas de Instrução ainda em atividade: a Emulation Lodge of Improvement for Master Masons. A Loja de Emulação e Aperfeiçoamento foi fundada em outubro de 1823, sob a sanção da Lodge of Hope, nº 7 e ensinava o Ritual através das preleções, segundo o sistema da Grand Stewards’ Lodge. Hoje, a ELOI é uma Loja de Instrução da Lodge of Unions, nº 256, reúne-se uma vez por semana (as sextas-feiras, entre outubro a junho, às 18h15), não tem Carta Constitutiva e seu foco é a demonstração da prática do Trabalho de Emulação. Tornou-se a curadora oficial, em todo mundo, do Trabalho de Emulação. Curadora é a instituição que cuida dos interesses e defende a pureza do Ritual de Emulação. Ao contrário de outros Ritos admitidos pelo GOB, o Ritual de Emulação é monitorado, interpretado e explicitado, para todo mundo, exclusivamente, pela Emulation Lodge of Improvement. Esta Loja já esteve no Brasil, em Curitiba, por duas vezes, em 2015 e 2016, divulgando instruções para as Lojas brasileiras que trabalham em Emulação.

Desde o início do século XX, iniciou-se o processo de reconhecimento das Lojas de Instrução. Um Comitê da Emulation Lodge of Improvement aprova preceptores para as demais Lojas de Instrução e isso confere o reconhecimento a estas Lojas. Há, sempre em junho, um Festival Anual dos Preceptores, na verdade uma reunião anual.

As Lojas de Instrução são, na Inglaterra, uma experiência prática da liturgia maçônica com um propósito óbvio – instrução – mas possui uma consequência importante: a convergência de Irmãos de diversas Lojas, proporcionando relações pessoais e sociais. Reúnem-se não somente em templos maçônicos, mas, também, em velhas igrejas, sinagogas ou residências de maçons.

Como adaptar o sistema de Lojas de Instrução à realidade brasileira

O que se expõe a seguir é pensamento de responsabilidade do autor. A adaptação do sistema inglês para a realidade brasileira é muito simples. Algumas reuniões administrativas podem se transformar em Lojas de Instrução do modelo inglês. As instruções de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom poderão ser feitas em horários diferentes, no mesmo dia da reunião administrativa. Esta forma passa apenas por resoluções da própria Loja simbólica, podendo as reuniões administrativas de instrução serem feitas, a convite, com a participação de várias Lojas simbólicas. Porém, extremamente importante, os instrutores devem estar preparados; devem estudar o assunto a ser debatido, com antecedência e em grupo.

Deve-se evitar “achismos”; portanto, se não souberem uma questão, a fórmula correta será: “vamos estudar e depois explicaremos”. Essas Lojas de Instrução/reuniões administrativas podem ser mensais e atender, exclusivamente instruções, conforme definição deste ensaio, ou seja, ritualística maçônica, o porquê de cada ato, palavra ou símbolo que se faz em Loja aberta, além das preleções. Ritualística e preleções, amplamente debatidas, discutidas e comentadas com o objetivo de envolver de maneira profunda, aquele que está sendo instruído, os instrutores e a Loja. Os questionamentos devem ser ilimitados, tal que não deve permanecer nenhuma dúvida.

Obviamente, as Lojas de instruções/reuniões administrativas não devem substituir as reuniões realmente administrativas da Loja simbólica.

Muitas Lojas infelizmente “perdem tempo” nas reuniões destinadas a administração da Loja, por exemplo, discutindo o cardápio dos ágapes. Isto pode ser de responsabilidade do Mestre de Banquetes que pode consultar os Mestres entendidos em gastronomia fora das sessões e reuniões administrativas.

Considerações Finais

Repetindo as palavras dos Irmãos Edson José Ramos e Cezar José Souza Prado (Ramos & Souza Prado, 2011):

“As referências que aqui se apresentam, relacionadas às Lojas de Instrução, cabem, muito naturalmente, a todos os Ritos que hoje são praticados no nosso país. Não são, portanto, exclusividades da Maçonaria Inglesa, pois se configuram como um modus pedagógico, fornecendo caminhos de aprendizagem no que se refere às práticas ritualísticas e como colocá-las o mais possível em nível de excelência. E para que este modo peculiar de se instruir se torne um costume entre Maçons brasileiros, nenhuma ação monumental faz-se necessária. Ao contrário, basta que aos textos de nossos Rituais seja dada a importância que eles merecem, buscando-se neles os reais significados de ali estarem e, por consequência, tornando-os íntimos de nossa melhor expressão ao pronunciá-los, evitando assim o palavreado mecanicamente repetitivo, e oferecendo a cada palavra, a cada sinal, a reverência devida e esperada para tornar viva a simbólica da Arte Maçônica.”

As instruções não devem ser empurradas “goela abaixo” do Maçom que está sendo instruído. Os instruendos devem ser incentivados pelos instrutores para aprender mais, a alcançar, por si mesmo, pela sua própria mente, a buscar a solução, os resultados. Por que não fazer as instruções maçônicas ao longo de toda vida do Maçom? Não se diz que o Maçom é um eterno Aprendiz? Por que não fazer o aprendizado agradável e prazeroso? Por que não aguçar a curiosidade dos instruendos?

Termina-se este trabalho a respeito da importância do estudo e da especulação, com uma frase do escritor, matemático e filósofo francês Bernard Le Bovier de Fontenelle (1657–1757):

“É verdade que não podemos encontrar a pedra filosofal, mas é bom que ela seja procurada. Procurando-a, encontramos muitos segredos que não procurávamos”. 

Autor: Walter Celso de Lima
Acadêmico da Academia Catarinense Maçônica de Letras, Cadeira 27
MI da Loja Alvorada da Sabedoria (GOB/SC), oriente de Florianópolis

Fonte: ACML News, nº02

Nota

[1] – Mistagogo era o sacerdote, na Grécia antiga, que iniciava alguém nos mistérios eleusinos (de Elêusis).

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Referências Bibliográficas

– Beresiner, Y. “Masonic Education – Lodges of Instruction”. Pietre-Stones Review of Freemasonry, 2008.
– Boller, C.E. “Instrução Maçônica”. Liberdade e amor, Or. Cassia, MG, 2014.
– Carr, H. “O Ofício do Maçom”. São Paulo: Madras, 2012.
– Cavalcante Medeiros, M. “Imagem Pública não é Divulgação”. Revista Rotary Brasil, 91: (1127), Maio, 2016.
– Girardi, J.I. “Educação Maçônica”. JB News 2344, mar.2017.
– Haywood, H.L. “Capítulos da História da Maçonaria”. Biblioteca. https://bibliot3ca.wordpress.com/capitulos-de-historia-maconica-haywood/Chapters of Masonic History”. – – The Builder Magazine, vol IX, nº 3, 1923 http://www.freemasons-freemasonry.com/builder.html Acessados em 02.ago.2017.
– Henderson, K. “Masonic Education Course”. Pietre-Stones Review of Freemasonry, 2012. http://www.freemasons-freemasonry.com/masonic_education.html Acessado em 02.ago.2017.
– Neves, P. “Período de Instrução”. Pedro Neves, Recanto das Letras, 2014. http://www.pedroneves.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=4753672 Acessado em 02.ago.2017.
– Preston, W. “Illustrations of Masonry”, 9th editon, 1796. http://freemasonry.bcy.ca/ritual/preston.pdf Acessado em 02.ago.2017. – Santos Gomes, M. “Instrução Maçônica”. O Ponto dentro do Círculo, 2016. https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2016/02/23/a-instrucao-maconica/ Acessado em 01.ago.2017.
– “Preston, William”. Masonic Service Association of North America. Short Talk Bulletin, vol I, nº 2, Feb. 1923. Masonic Dictionary, 2008. http://www.masonicdictionary.com/preston.html Masonic World, 2012. http://masonicworld.com/education/files/apr02/include/william%20preston.htm Acessados em 02.ago.2017.
– Ramos, E.J. & Souza Prado, C.J. “Lojas de Instrução e “Stewards’ Lodges”. A.R.L.S. Lyceum Paranaensis nº 4046, GOB. Curitiba: ERAC, GOB-PR, 2011.
– Redman, G. “Rito de York Atualizado” Trabalho de Emulação e Aperfeiçoamento. São Paulo: Madras, 2011.
– Smith, R. “Learning Masonic Ritual”. London: Rick Smith Ed., 2013.
– Spoladore, H. “Ponderações sobre a Maçonaria no Brasil”. JB News, 1468, 21.set.2014.
– Steward’s. “Grand Steward’s Lodge”, 2017. http://grandstewards.org/ Acessado em 02.ago.2017.
– Taylor, P. “Membership Problem”. Pietre-Stones Review of Freemasonry, 2009. http://www.freemasons-freemasonry.com/taylor.html Acessado em 02.ago.2017.
-VanSlyck, S.B. “Fifteen Points for Masonic Education”. Pietre-Stones Review of Freemasonry, 2008. http://www.freemasons-freemasonry.com/VanSlyck.html Acessado em 02.ago.2017.

A Instrução Maçônica

“Sem instrução, as melhores leis tornam-se inúteis” (Vincenzo Cuoco)

O termo “Instrução” tem vários significados, dentre os quais a ação de instruir, ensinar, e também de lição ou de preceito instrutivo. Destacam-se várias referências, como aquelas provenientes do poder público ou ao conjunto de regras, procedimentos e informações para cumprimento de formalidades administrativas e legais, bem assim aquelas ligadas a comandos ou esclarecimentos fornecidos para uso de instrumentos ou realização de tarefas e missões, dentre outras.

Em princípio, o termo é genericamente utilizado quando o assunto envolve educação e ensino, no sentido de ministrar conhecimentos e desenvolver habilidades ou na preparação do indivíduo para diversas esferas de atividades, inclusive profissionais.

Torna-se necessário que se faça algumas distinções para que não se confunda instrução com a educação, vez que esta se centra na formação do ser humano, em especial na construção da personalidade, envolvendo tanto o desenvolvimento intelectual ou moral como o físico. A palavra educar vem do latim “ducere” que significa “conduzir para fora de”. O Novo Dicionário Aurélio registra que educação é o “Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social”.

Refletindo sobre o tema, assim se manifestou Gandhi: “em minha opinião, a educação consiste em extrair globalmente da criança e do homem tudo o que têm de melhor, quer se trate do corpo, da inteligência ou do espírito. Saber ler e escrever não é o fim da educação (…). Este conhecimento é um dos meios que permitem educar a criança, mas não deve ser confundido com a própria educação”.

No mesmo diapasão, necessário se torna entender que a instrução também não pode ser vista como ensino em si, pois este reflete um processo de aprimoramento da aprendizagem, que contribui para a formação do ser humano, mas não o define, sendo “exercido numa instituição cujos fins são explícitos, os métodos codificados, e está assegurado por profissionais”.

Já a instrução propriamente dita “é uma forma de manifestar-se o ensino, onde se focaliza os aspectos de conhecimentos e saberes da realidade objetiva e subjetiva, que complementam o treinamento e a formação qualificada”, tendo como referência conteúdos a transmitir, fornecendo ao espírito instrumentos intelectuais e informação esclarecedora. O Novo Dicionário Aurélio destaca no verbo instruir o sentido de “transmitir conhecimento a, ensinar, adestrar, habilitar…”. A instrução quando ligada a um trabalho trata da maneira correta de executar uma operação ou tarefa, de modo simples e direto.

Conforme repisado em nossos Rituais, a Maçonaria é caracterizada como um sistema e uma escola não só de Moral, mas, sobretudo de filosofia social e espiritual, que visa ao progresso contínuo de seus adeptos por meio de ensinamentos em uma série de Graus. Nesse contexto, as Instruções Maçônicas ensejam passos que levam à lapidação do espírito, de forma a propiciar os instrumentos adequados e a desenvolver habilidades necessárias para o empreendimento da jornada rumo ao aperfeiçoamento dos mais elevados deveres de homem cidadão em prol da humanidade pela liberdade de consciência, igualdade de direitos e fraternidade universal.

Por isso, de uma forma objetiva a Instrução no meio maçônico visa a inteirar os obreiros sobre a Constituição, Regulamentos, Rituais, simbolismos, filosofia, liturgia, procedimentos, administração, estratégias de reconhecimento, de forma a propiciar a uniformização e nivelamento de conhecimentos e informações sobre os meandros da Arte Real. Portanto, o tempo utilizado para isso deve ser o ponto culminante de uma reunião em Loja, pois nesse momento o aprendizado, a interpretação e o espírito especulativo estimulam as mentes e valorizam as descobertas.

O interesse do obreiro pela Maçonaria cresce na medida em que ele compreende suas origens e funcionamento e vislumbra nas instruções maçônicas os objetivos práticos, com a consciência de que cada um deve aprender a progredir por meio de sua própria experiência e por seus próprios esforços, reconhecendo-se herdeiro do legado daqueles que o precederam nesse mesmo caminho, com a responsabilidade de encontrar a sua posição na comunidade e a servir como um construtor social dentro dela.

Do ponto de vista do iniciado na Maçonaria, é natural a expectativa traduzida em sonhos de ganhos em relação a um possível incremento de bagagem cultural a ser disponibilizada pelos Mestres. Porém, o tempo demonstra que as Instruções ministradas indicam apenas os caminhos a serem trilhados, cabendo ao iniciado fazer suas próprias descobertas, à sua maneira e por seus próprios meios, de uma forma autodidata, com base em reflexões e meditações, amparadas nos subsídios fornecidos pelas discussões em Loja e nos exemplos e incentivos recebidos dos irmãos.

Os ganhos variam de acordo com as competências individuais e em consequências das vivências e descobertas proporcionadas pela forma crítica induzida por uma postura maçônica de livre revisão frente a uma diversidade de ideias e de verdades apregoadas ao longo do tempo, que mudam ou evoluem de acordo com o dinamismo e o aprimoramento do alicerce cultural de cada indivíduo.

O diferencial na Instrução Maçônica é que o seu estudo contribui para a formação de um pensamento filosófico com apoio em fatos históricos e em instrumentos simbólicos e alegorias, que transmitem conceitos abstratos e de certa complexidade, que remetem à arte da construção do templo representado pelo próprio homem, da sua educação por inteiro.

As Instruções pressupõem o autodesenvolvimento e autoconhecimento como processos contínuos, envolvendo aspectos éticos, morais, espirituais, culturais e sociais, onde tudo é proporcionado pelo próprio esforço e pelos princípios desenvolvidos com essa técnica do aprendizado maçônico, de forma livre, que não dita regras nem o ritmo, tornando o maçom o mestre de si mesmo, onde o seu maior símbolo é o autoconhecimento.

A dedicação e o aprofundamento do estudo das Instruções Maçônicas impulsionam a capacidade de pensar e incentivam ações concretas, quando devidamente assimilados os ensinamentos e praticadas as virtudes no mundo profano, de forma transformadora, com muito trabalho e ação, forjando um cidadão consciente que procura fazer tudo sempre de forma justa para promoção do bem e para tornar feliz a coletividade, com o reconhecimento de todos os que o rodeiam.

É importante que fique claro que a Instrução Maçônica não tem por objetivo formar um técnico em Maçonaria, mas despertar no iniciado a capacidade de duvidar e de pensar de forma livre e crítica, pois a dúvida é o princípio da sabedoria na filosofia. As crenças a que nos apegamos nos controlam e turvam nossa visão, por isso a necessidade de questionar nossas certezas e iniciar um processo de mudanças e aperfeiçoamento, objetivando uma nova interpretação do mundo e da vida, com o uso livre da inteligência, demonstrando o verdadeiro sentido da “iniciação maçônica”.

O livre pensar proposto pela Maçonaria convida ao despojamento das crenças baseadas em superstições e magias, que geram acomodação, apatia e preguiça mental, para um desafiador projeto que demanda coragem, determinação, sede de saber e o uso da razão para o entendimento da realidade dos fatos, o sentido da vida e a busca da verdade.

As instruções e os Rituais não são um fim, mas uma orientação para a prática de ações que transformem o homem de forma consciente. Por meio do simbolismo orienta o Aprendiz a desbastar a Pedra Bruta, conhecendo-se a si mesmo, suas fraquezas e virtudes; no Grau de Companheiro que se fortaleça e dinamize os ensinamentos intelectuais e, como Mestre Maçom, se torne espiritualmente capaz e consciente de sua personalidade, orientado por um novo ideal.

No caso específico da GLMMG, o artigo 27 do Regulamento Geral estabelece:

Aos Aprendizes e Companheiros, deve a Loja ministrar, no mínimo, as instruções constantes dos rituais, de maneira a despertar-lhes o interesse para o estudo e a prática dos princípios e da filosofia maçônica e prepará-los para o aumento de salário.” (Grifo nosso).

Para suporte aos trabalhos das Lojas funciona, nas dependências da GLMMG, a Escola Maçônica “Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida”, criada pelo Decreto nº 1.537, de 25.08.2003, que tem como objetivo “promover e instituir a revitalização de instruções e aprendizagem aos moldes da padronização ritualística”. Semestralmente é divulgado o calendário de apresentação das instruções dos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre do Rito Escocês Antigo e Aceito, onde são discutidos e analisados os rituais, a liturgia e o simbolismo maçônico.

Ocorre que, não obstante a obrigação regulamentar contida no artigo 27 acima cotado, muitas Lojas não dão a devida importância ao aperfeiçoamento dos obreiros, contribuindo para o desinteresse, o desencanto e a deserção de muitos irmãos, que se dá mais pelo desconhecimento dos propósitos da Ordem, do que pela falta de vontade para a ação e disponibilidade para o aprendizado. Mesmo entre aquelas que prezam o compromisso de ministrar as instruções, são detectados eventualmente conflitos entre a ritualística e a prática nas sessões de trabalho, o que leva a constrangimentos quando o irmão visita outras Lojas e se ressente de habilidades que não foram aprimoradas e, muitas das vezes, esquecidas pela falta de oportunidade de treinamento.

Contar apenas com a apresentação dos documentos de regularidade maçônica que devem ser conferidos nas visitações, bem como do conhecimento da Palavra Semestral e/ou de Convivência não é o suficiente. Na eventualidade em que for necessário submeter-se ao telhamento e comprovar o domínio dos sinais, toques e palavras, o irmão deve mostrar toda segurança e conhecimento, pois acreditar que a proteção virá por acaso em momento de distração somente ocorre na canção “Epitáfio” de 2001, do grupo Titãs. Por isso, a necessidade de dominar o conteúdo das instruções é essencial.

São frequentes os comentários sobre diferenças entre instruções ritualísticas dadas em Loja e aquelas demonstradas nos encontros da Escola Maçônica. Em alguns casos, constata-se que falta uma leitura atenta e uma análise mais detalhas dos Rituais. Em outros, prevalece o entendimento de irmãos mais antigos na Ordem que aprenderam de uma forma e a repassam na certeza de que “sempre foi assim” e não aceitam a norma sancionada pela Grande Loja. Alguns, de forma arrogante e quando detentores de poderes para efetuar mudanças, simplesmente alteram as instruções ritualísticas. Outros, numa atitude rebelde, as desafiam. E o orgulho leva muitos as ignorarem. “Lamentavelmente temos assistido aos mesmos rituais com os mesmos erros”, conforme bem ressaltado pelo Presidente Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda, o Irmão José Maurício Guimarães.

Nesse particular, vale o lembrete amigo de que inúmeras batalhas foram perdidas ao longo da história por causa de confusões geradas por instruções contraditórias passadas pelos comandantes às tropas em campo, que é traduzido no jargão militar por: ordem, contraordem, desordem. Os generais derrotados exemplificam a situação produzida por um processo de comunicação que mais confundiu do que orientou os comandados. A tropa sempre aguarda sinalização assertiva. Portanto, no contexto da Maçonaria, mutatis mutandis, o modo de agir deve ser o mesmo e o exemplo deve vir dos dirigentes e ex-dirigentes das Lojas, que estão sob permanente vigilância dos obreiros.

Por outro lado, o tempo em Loja destinado à apresentação de trabalhos para fazer face ao aumento de salário não pode ser o único tema a preencher o “Quarto de Hora de Estudos”, passando-se ao cumprimento do giro do Tronco de Solidariedade, caso não haja assunto agendado na Pauta. O Ritual da GLMMG prevê que para esse momento “deverá ser preparada uma pauta onde, preferencialmente, serão dadas as Instruções do Grau”. Prossegue a orientação ritualística que “caso não haja Instrução a ser ministrada, serão apresentadas peças de arquitetura pelos obreiros…”. Assim, cada vez que este tempo não é utilizado, perde-se grande oportunidade de se aperfeiçoar os conhecimentos.

Portanto, não podemos deixar que a barreira da rotina, o adiantado da hora e o marasmo vençam.Mestre Maçom que entra mudo e sai calado, não reflete luz e não é reconhecido como um Mestre merecidamente exaltado. Precisamos tirar proveito deste precioso tempo e não desperdiçá-lo. Parodiando de forma reversa a filosofia política do renomado Deputado Tiririca, melhor não fica. Ademais, a estratégia de “deixa a vida me levar” não condiz com a postura que se espera de um bom maçom. Tornam-se imprescindíveis a dedicação, a ampliação dos conhecimentos e das habilidades. Nessa perspectiva, as instruções trazem informação e aprendizado, que leva ao crescimento e amplia o poder de visão, de análise e de discernimento, mas devem ser vistas como um complemento à formação do maçom.

As Lojas devem acompanhar com atenção o nível de crescimento dos irmãos, não somente para cumprir as formalidades nos processos de “aumentos de salários”, mas de forma a aquilatar o grau de efetividade do aprendizado contido nas Instruções. A título de exemplo, imaginem o seguinte diálogo entre dois irmãos ao final dos trabalhos:

– A Instrução de hoje foi boa?

 – Penso que sim.

– O que você aprendeu?

Depois de uma breve pausa, o irmão responde:

– Não sei, esqueci!

A situação hipotética nos leva a concluir que apesar de estar presente e despender seu tempo, o irmão não tem uma percepção clara ao dizer “Penso que sim”. Ao dizer “esqueci” no que se refere ao aprendizado, demonstra que não vislumbrou nada que possa ter caráter prático ou algum tipo de benefício. Daí a importância de não somente ler os Rituais, mas de estudá-los, de refletir sobre os ensinamentos e de participar de forma consciente dos ciclos de estudos patrocinados pelas Lojas e oferecidos pela GLMMG, por intermédio da Escola Maçônica.

Não basta a pressa em oferecer as instruções de forma apenas a cumprir os regulamentos, pois o que interessa não é a quantidade de informações, mas o debate de ideias, a troca de experiências entre os Mestres e os Companheiros e Aprendizes, para a construção do verdadeiro conhecimento. Essa participação de forma mais produtiva, enriquece as discussões e demanda mais em termos de qualidade e atualização dos Mestres.

Nesse contexto, outro detalhe sutil que não pode ser negligenciado se refere ao perfil dos candidatos que atualmente se apresentam para ser iniciados. Sobre esse assunto, o nosso Irmão José Maurício Guimarães faz uma reflexão no capítulo “Considerações Sobre Um Novo Tempo” de seu livro “Grande Loja Maçônica de Minas Gerais – História, Fundamentos e Formação”. Segundo ele, “Se em épocas anteriores o candidato ingressava na Maçonaria subjugado por ‘prestidigitações’ e ludibriosos artifícios aprontados pelos ‘veteranos’, hoje ele toma conhecimento antecipado da gama ou do limite de operações da Ordem, mediante literatura pública, estudos acadêmicos e através das portas abertas que a Grande Loja oferece para visitações e sessões públicas”. Acrescenta que os “nossos candidatos chegam ao portal do Templo com mais instrução para a compreensão e prática dos ensinamentos maçônicos”, o que aumenta sobremaneira a nossa responsabilidade.

Aconselha-nos o Irmão José Maurício em outra Prancha: “temas ligados às Instruções são excelentes para serem apresentados nas sessões seguintes às das Instruções. Para que isto funcione como um relógio, cinco engrenagens devem estar em sincronismo: o Venerável para coordenar, o Secretário para agendar, o Orador para fiscalizar o tempo e o tema, e os dois Vigilantes motivando de norte a sul os irmãos”. Na sua reflexão, prossegue com o alerta: “No tempo de estudos devem ser feitas as instruções e a apresentação dos trabalhos. Não basta que seja feita a leitura de textos padronizados, é necessário dinamizar os estudos e pesquisa e as formas de expressão dos irmãos”. Novamente ouçamos Gandhi: “Seja você a mudança que deseja ver”.

Enfim, a Maçonaria precisa trabalhar com cenários, a exemplo do mundo empresarial. Imaginar que um obreiro permanecerá em uma Loja até a sua passagem para o “Oriente Eterno” é uma incógnita. Nas empresas, atualmente, os ciclos de trabalho ficam cada vez mais curtos e o tempo médio de permanência no emprego é cada vez menor. Por isso, a Maçonaria não pode ficar em descompasso com os fatos e, para isso, deve lançar mão das instruções, do companheirismo sadio e de projetos sociais que integrem a família maçônica, envolvendo cunhadas e sobrinhos, como meio de criar vínculos mais duradouros entre a Loja e os obreiros, para que a tão decantada Arte Real, que é no seu âmago o trabalho contínuo do homem sobre si mesmo, possa atingir o seu escopo que é o de torná-lo melhor para a sociedade, com o despertar de uma nova consciência e de um ideal superior de vida.

Concluo com um conhecido pensamento de Martin Luther King, que certamente aplicado ao nosso meio convoca os Mestres a tomarem uma atitude e assumirem a função para a qual se comprometeram sob juramento:

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética, mas sim o silêncio dos bons”.

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte. Membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida e da Academia Mineira Maçônica de Letras.

Referências

Blog do Irmão José Maurício Guimarães

GUIMARÃES, José Maurício. Grande Loja Maçônica de Minas Gerais – História, Fundamentos e Formação. Belo Horizonte: GLMMG, 2014;

MELLANDER, Klas. O Poder da Aprendizagem. São Paulo: Cultrix/Amana, 1999;

Novo Dicionário Aurélio,4ª Edição, Curitiba: Positivo, 2009;

Rituais dos Graus Simbólicos e Filosóficos;

Regulamento Geral da GLMMG;

Sites e outros blogs Maçônicos na Internet.

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O objetivo do estudo na Maçonaria

É correto dizer que o grande problema diante de nós é o da pedagogia da Maçonaria. Isso significa que o ensino dos fatos sobre um grande movimento histórico baseado na teoria de que a verdadeira felicidade do homem só pode ser alcançada pela união de todos em uma democracia alicerçada no espírito da fraternidade, onde cada um não seja apenas o guardião de seu irmão, mas também seu defensor, seu porto seguro, seu auxílio, seu incentivador, seu ombro amigo, seu inspirador e seu exemplo de amor ao próximo e a si mesmo. Tudo isso se ensina através do imaginário e das alegorias da Maçonaria, e de seu simbolismo místico. Não devemos nos perder na busca por algo sombrio, em teorias abstratas perdidas dentro de perspectivas obscuras, confusas, nebulosas e insignificantes; devemos sim, estarmos próximos e nos dedicarmos aos verdadeiros valores humanos. Princípios devem existir para estarem realmente inseridos nas vidas das pessoas, se não for assim não farão diferença alguma. Nosso estudo deve aliar teoria e prática, com o estudante realmente utilizando-se de seu aprendizado e compartilhando os valores adquiridos, senão nossos esforços serão em vão.

Também não podemos deixar de mostrar que são os pensamentos que importam, que são eles que controlam a conduta dos homens; que, se seus pensamentos não são bons, o seu comportamento também não pode ser. O que precisamos é fazer com que os pensamentos certos sejam claramente formulados, imbuídos de amor e, profundamente gravados no subconsciente, de modo a inevitavelmente se expressarem em nossos atos no dia-a-dia de nossas vidas. A meu ver, essa é a missão da Maçonaria: a construção desses grandes pensamentos na mente dos homens, transformando-os em atos cotidianos, com a certeza de que eles devem predominar, governar e prevalecer para que possamos viver juntos, em paz e harmonia, desfrutando da verdadeira felicidade.

Como fazer isso é a grande questão. Fazer com que os membros de nossa Ordem percebam que essas ideias não são abstrações vazias, mas reais, poderosas, vivas, atuais e sólidas – essa é a grande tarefa a se realizar. Precisamos compreender juntos os fatos sobre a Maçonaria: o que ela realizou no passado que a faz viver até os dia de hoje por seus próprios méritos? Como ela tem, durante sua existência, auxiliado o Homem? Feito isso, precisamos apresentar essas informações de tal forma que despertem a atenção e mantenham o interesse de nossos irmãos durante a instrução em Loja. A capacidade de fazer coisas interessantes, para atiçar uma busca por mais “luz”, é o segredo de todo ensino. Você não pode abrir a cabeça de um estudante e colocar o conhecimento ali dentro, mas você pode incentivá-lo a estudar e aprender por si mesmo, e essa será sua vitória. Já temos a vantagem do grande poder de atração de nossos “segredos” e “mistérios”. Temos de mostrar aos iniciados o quão pouco sabem, quantos mistérios fascinantes ainda precisam ser explorados, investigados, analisados e estudados para, enfim, poderem ser compreendidos.

Pergunte por que ele ainda permanece na Ordem. Ela o ajudou? Em caso afirmativo, como e de que maneira? Faça uma série de perguntas socráticas a ele; faça-o pensar! Se ela o auxiliou em algo, de alguma forma, sem dúvida, ela poderá fazer mais. Há mais lá, se ele souber procurar: “buscai e achareis.” Não é fácil ensinar os homens a observar o mundo ao seu redor, muito menos é ensinar-lhes a arte do discernimento espiritual. Mas é possível. Pode ser ensinado, pode ser desenvolvido, pode-se fazer essa habilidade florescer. Muito de nossa pedagogia moderna não é nada mais do que um árido, mecânico e vazio processo. Nossas crianças são instruídas a decorar, imitar, copiar, para seguir “o costume”, e não são nunca preparadas para pensar. Tal procedimento acaba por formar adultos incapazes de formular pensamentos simples, mas originais, não sendo capazes de fazer uma avaliação crítica do que ocorre ao seu redor; e muitos são os que em Loja praticam a ritualística de forma errada, porque os Mestres “mais antigos” lhe “ensinaram” que assim é “o uso e o costume” daquela oficina.

Devemos preparar nossos novos maçons, incentivando-os a se dedicarem aos estudos e à pesquisa sobre a Ordem. Devemos incentivá-los a trabalhar sua mente, a construir seu templo espiritual, mas também o intelectual. Devemos incentivá-los a serem originais. Devemos incentivá-los a pensar!

Autor: Hon. Louis Block, Past Grand Master, Iowa.
Tradução: Luiz Marcelo Viegas

Fonte: The Builder Magazine, Volume I, Número 4, abril-1915

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O processo pedagógico maçônico

As instruções maçônicas se utilizam de uma metodologia de aprendizagem muito especial. Muitas vezes não é suficiente lê-las para compreendê-las. O processo é mais que analítico e envolve, além da instrução escrita, um conjunto de outros fatores para que possamos captar sua verdadeira essência.

Observa-se que toda instrução deve ser ministrada dentro de nossos Templos, em Loja aberta. Se tivéssemos que nos ater apenas no que está escrito em nossos rituais, bastava apenas lê-las em nossa casa e fazermos peças de arquitetura e enviarmos à Loja, como monografias. Essa possibilidade de ensino à distância não existe na Maçonaria, justamente porque se fazem necessários, além da instrução escrita, outros aspectos importantíssimos que compõem o processo pedagógico maçônico.

Um desses aspectos é o Símbolo, que no significado lato, é a representação de um aspecto da verdade, que independe da estática da fé, mas, decorre da cinética do raciocínio. É certo dizer, portanto, que símbolo, à luz da Ciência Iniciática das Idades, é a síntese de um aspecto da Verdade Única. E, por esta mesma razão, sua forma gráfica, numérica, pictórica ou qualquer outra, atravessa incólume os tempos sem sofrer, intrinsecamente com as modificações aparentes das ideias, descobertas e invenções, pois, como síntese de algo real e imutável, assim permanece através dos séculos.

Os símbolos existentes em nossos templos têm uma finalidade maior que a decoração. Todo símbolo, através de seu arquétipo, é uma vertente de energia. O Maçom interage com essa energia, essa informação oculta que o símbolo emana. O estudo de nossas instruções, por si só, tem apenas uma atuação no aspecto físico, enquanto que o decifrar de um símbolo provoca, paulatinamente, um desenvolvimento no aspecto psíquico. As instruções ministradas no Templo, em Loja aberta, sob a influência da egrégora milenar de nossa Ordem, completam o processo, atuando no plano espiritual.

Esse entendimento foi se perdendo e hoje é pouco percebido por nossos Mestres. Infelizmente, o cargo de 1º e de 2º Vigilantes, muitas vezes, passou a ser apenas mais um trampolim para o Veneralato e as preocupações daqueles que deveriam ser diretamente responsáveis pelas instruções, lamentavelmente, são bem outras.

Para alcançarmos o perfeito entendimento de uma instrução maçônica precisaremos nos conscientizar e fazer uso desse conjunto de fatores que compõe esse especial processo pedagógico. Assim procedendo nos tornaremos portadores das Chaves que abrirão as portas do perfeito entendimento. As chamadas Chaves do Conhecimento Iniciático.

Em uma instrução do primeiro Grau, no diálogo do Venerável Mestre e o Irmão 1º Vigilante, explicando, passo a passo, a decoração do Templo no que se refere à abóbada celeste e as doze colunas zodiacais, que são seus sustentáculos, ao ser perguntado o que essas colunas representam, o Irmão 1º Vigilante responde:

Os doze signos do zodíaco, isto é, as doze constelações que o Sol percorre no espaço de um ano solar.

A resposta está certa e coerente, isso no aspecto físico. Se aplicarmos a metodologia pedagógica maçônica completando com isso os aspectos psíquicos e espiritual seremos merecedores de tais Chaves e poderemos adentrar profundamente em seu significado. Vejamos:

A Iniciação maçônica se expressa no caminhar do Iniciado nessas Casas Zodiacais, nascendo em 0º, em Áries, percorrendo o lado norte até Libra, símbolo da balança e do equilíbrio, concluindo o Grau de Aprendiz e retornando a 0º. Daí tem início o Grau de Companheiro que perpassará as colunas do lado sul,  iniciando em 0º, atingindo o seu ápice e chegando a Peixes em 0º novamente, chegando então ao Mestrado. É o início de um ciclo, começo de um grande trabalho de transformação moral. Os primeiros raios da Luz da Sabedoria começam a iluminar a mente do Aprendiz. Com essa Luz, nele se projetando, poderá observar em sua silhueta as deformações morais e iniciar o infinito trabalho de desbaste da Pedra Bruta.

No norte do Templo não existe janela, pois a Luz vai e não vem daquela direção. No período do Equinócio de Outono e do Solstício de Inverno temos pouca incidência de Luz, com dias menores e noites longas. Com isso, o Aprendiz tende a meditar, (diria eu, me ditar) a conversar consigo mesmo. Refletindo, poderá iluminar a trilha da Iniciação com a sua Luz Interior, embora ainda de muito pouco brilho. Essa fria e tenebrosa trilha produzirá os reflexos de sua própria imperfeição.

O lado Sul do Templo contém janela que permite que alguns raios de Luz iluminem mais diretamente a mente e o coração do Companheiro, revelando-lhe os primeiros mistérios da fonte inesgotável do saber maçônico. As Colunas deste lado do Templo estão ligadas as Casas Zodiacais de Escorpião a Peixes, o que nos dá o perfeito entendimento da palavra Geração, (Escorpião) conforme a figura simbólica do Zodíaco.

No período do Equinócio de Primavera e do Solstício de Verão temos maior incidência de Luz, com dias maiores e noites mais curtas. A Luz representa a retirada dos primeiros véus, desvelando um mundo de espiritualidade. Afastada a ignorância moral pelos raios de Luz da Sabedoria, cada vez mais intensos, o seu caminhar não mais palmilha o solo, nem lhe exige uma só direção, porém a alvura do seu avental ainda lhe recorda constantemente que ainda ignora, por certo, o caminho que deve seguir.

Após perpassar por todas as Casas do Zodíaco, o iniciado vence o quartenário dos elementos, aos quais estes signos estão diretamente ligados. Com isso, ele encontra o Quinto Elemento que tanto buscava. Vencer o quaternário dos elementos e chegar ao Mestrado, transformando-se em um Sol para iluminar o caminho de novos Aprendizes e Companheiros, está muito bem relacionado à entrada triunfante do Mestre Jesus, em Jerusalém, montado em um animal, um jumento. Nessa alegoria, Ele, como uma 5ª Coisa mostra o domínio sobre o quaternário da matéria.

O Mestre é o Sol Interior que surge iluminando as doze Casas Zodiacais, assim como Jesus o foi, iluminando com os seus sublimes ensinamentos os seus doze Apóstolos e, consequentemente, o mundo. Podemos ainda fazer uma analogia da Iniciação maçônica ao Iniciado Hércules que para encontrar o seu Mestre interno precisa passar pelas doze provas – Os Doze Trabalhos de Hércules.

A saga de Hércules, que foi imortalizado ao realizar com sucesso 12 árduas tarefas, é uma das passagens mais conhecidas da mitologia da antiga Grécia. O herói enfrentou a ira dos deuses e lutou contra seres horríveis para transcender sua condição de simples mortal. Hércules não aceitava a imperfeição de sua condição humana e saiu em busca de algo maior, transcendental, assim como muitos de nós fazemos hoje. À primeira vista, o mito parece apenas um relato fantástico, mas por meio dele podemos descobrir formas de superar desafios. O mito de Hércules ensina que nós também podemos vencer nossos defeitos e nos tornarmos pessoas melhores, mais éticas e dignas. Esse caminho exige esforço, persistência e coragem, principalmente para encarar monstros internos, como a agressividade, o egoísmo e a falta de respeito ao próximo. Apesar de Hércules ser retratado como um homem extremamente musculoso, muitas de suas vitórias foram fruto não de sua força, mas do uso da inteligência e da sabedoria.

O Mestre Maçom despertará dentro de nós após perpassarmos, como o Sol, às colunas que ladeiam nosso Templo. Em nosso caminhar maçônico, nos iluminaremos com as instruções pertinentes aos dois primeiros graus, dando condições para que nossa Centelha Divina, cada vez mais, transforme-se em Luz. Com o Mestrado nos tornaremos um Sol a fim de iluminar novos Aprendizes e Companheiros.

Bem, poderemos até adentrar um pouco mais neste assunto, se o leitor nos permitir. O que significa um ano solar?

Devido à inclinação do eixo do globo terrestre em 23º 27′, o Sol, em seu caminhar aparente, uma vez por ano, tem sua posição coincidente com um ponto chamado vernal ou gama da esfera celeste, que corresponde à interseção da linha da eclíptica com a linha do equador celeste. Isto acontece no momento que o Sol passa do hemisfério Sul para o hemisfério Norte. O Sol na posição do ponto vernal ocorre no dia 21 de março, é o zero ou marco de referência da astronomia nas definições de tempo e das 4 estações. Corresponde ao equinócio de outono no hemisfério Sul.

21 de março é o início do calendário astrológico, representado pela coluna zodiacal de Áries, localizada ao lado do Irmão 1º Vigilante, no REAA. É o início do calendário judaico religioso, próprio do rito Adonhiramita.

Devido a essa inclinação as duas extremidades do eixo terrestre se comportam como dois cones opostos entre si pelos vértices. Essas circunferências atrasam seu movimento anualmente em 50 segundos de arco, resultando num tempo enorme para se completarem: 25.920 anos. Esse número de anos é o tempo em que o sol percorre todo a cinturão zodiacal composto pelas 12 constelações que é o que se chama de um ano solar.

Diz a 2ª lei de Hermes – o Trismegisto, a lei da correspondência:

O que está em cima é como o que está embaixo, o que está embaixo é como o que está em cima.

O Macrocosmo tem estreita correspondência com o Microcosmo.

O homem, em um ciclo de um minuto respira, em média, 18 vezes. Um dia tem 24 horas que multiplicadas por 60 minutos teremos em um espaço de um dia 1440 minutos. Se multiplicarmos os 1440 minutos por 18 respirações (1440 x 18 = 25.920) teremos um total de 25.920 respirações em um dia, “coincidentemente” igual ao número de anos que o sol precisa para completar seu giro pelo cinturão zodiacal.

Autor: Francisco Feitosa da Fonseca

Fonte: Revista Arte Real

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Os detratores da Maçonaria

À época do recebimento do convite de um dileto amigo para avaliar a possibilidade de entrar para a Ordem Maçônica, creio ter experimentado o mesmo comportamento de inúmeros candidatos que se socorrem, num primeiro momento, da fonte secundária de pesquisas representada pela rede eletrônica mundial de informações à procura de subsídios para fundamentar a decisão que se esboçava ainda com certo grau de insegurança.

Quanto à lisura, honestidade e reputação irrepreensível do portador do convite não me restavam dúvidas. Ademais, a sua condição de Maçom já era do meu conhecimento e suas atitudes já me haviam evidenciado a nobreza do caráter constatado em nossas atividades comuns à frente de um importante Clube de Serviço do qual participamos.

A confirmar as minhas percepções, reforçava ainda este diagnóstico as atitudes de vários outros associados desse mesmo Clube, que também eram Maçons, e vez por outra os surpreendia fazendo um ou outro comentário a respeito de algum assunto “estratégico”, que logo desconversavam ao amparo da metáfora de que havia “goteira” no recinto.

Portanto, a dúvida que me assaltava decorria mais de algum preconceito recôndito, fruto de desinformação ou mesmo de ausência de provocação para instruir-me a respeito do assunto, à míngua de um convite mais retumbante, como o ocorrido em uma segunda e terceira investida desse amigo de sempre.

Pressenti, naquela oportunidade, que a situação exigia uma posição mais assertiva de minha parte e acelerei minhas “pesquisas” sobre a temática, recorrendo a algumas obras de referência. De tudo li um pouco. Contra e a favor. Das mais sublimes loas às mais exaltadas detrações.

Refleti sobre as várias correntes e concluí que era uma busca insólita o conhecimento cabal do mister. Não seria possível entender toda a ritualística, simbolismo e riqueza de conteúdo sem mergulhar no clima e na vivência das dinâmicas que evoluem das sutilezas da literatura e dos estudos filosóficos envolvidos.

Por outro lado, não me pairavam incertezas quanto ao mérito e qualidades exponenciais daqueles companheiros de trabalho voluntários, sempre unidos e vibrantes, quando enalteciam os valores e propósitos da Ordem, no sentido de tornar melhores as pessoas. Concluí, assim, que era uma honra ser o destinatário de tal convite e, apoiado pela esposa, dei o sinal para que os proclamas corressem.

Decisão tomada. Documentação organizada. Diligência realizada. Data agendada. Preparativos tomados. Iniciação concluída. Missão assumida.

Na senda dos estudos e trabalhos encetados veio aquela conclusão que já é comum a quase todos que se aventuram nessa experiência transformadora: por que não comecei um pouco antes? Mas a sabedoria dos Irmãos sempre serve de consolo: “tudo tem a sua hora, o seu momento. Siga o seu caminho, procure a Verdade”!

A partir de então, passamos a nos ver no plural e os estudos sempre despertam novos temas e pesquisas, a princípio orientados pelos Irmãos mais experientes, mas em dado momento nos coloca na vanguarda dos próprios interesses dado o universo que se abre de novas perspectivas, vez que cada Maçom escolhe e desenvolve o seu caminho evolutivo, de forma individual, sem nenhuma interferência da Ordem, não se evidenciando uma busca dirigida da Verdade, por ferir princípio da liberdade de pensamento e do livre arbítrio. O Maçom, como livre pensador, tem compromisso com a livre investigação da Verdade e, nesse contexto, reflete sobre assuntos de vital importância para a compreensão da história.

Quando se abraça uma causa ou ideia parece-nos que se canalizam energias ou despertamos a sensibilidade para vislumbrar as minudências de um determinado ângulo de observação sobre um tema ou objeto de reflexão até então desprezado ou mesmo desconhecido, mas não inédito. E provocações, questionamentos e inquietações em todos os sentidos se apresentam.

Frente a essa escolha, deparei-me com algumas posturas mais combativas de pessoas amigas e mesmo familiares que passaram a questionar-me os motivos de minha adesão à Ordem e que tipo de vantagem tal situação me proporcionaria, considerando-se que não há unanimidade de opiniões favoráveis e sobram comentários às vezes depreciativos ou mesmo curiosidades sobre mistérios acalentados ou cobertos por compromisso de sigilo. Vicejam, ainda, questionamentos ridículos, eivados de má-fé, muitos ao nível de sabotagem, porém, sempre lastreados na ignorância e na incapacidade de entender com clareza conceitos como liberdade de pensamento, busca de conhecimento e livre-arbítrio.

Nesta toada, vale abrir espaço para reportamo-nos aos recorrentes comentários sobre antigos conflitos com a Igreja, à época impeditiva da aproximação das duas instituições, e que somente os mais desinformados não realizaram que tais questiúnculas já foram superadas. As fronteiras estão bem mais claras e as informações bastante democratizadas: a Maçonaria trabalha pelo aperfeiçoamento do homem, com foco na moral e na ética social, e a religião prega a salvação do espírito. A Maçonaria está aberta a qualquer religião, mas exige de seus seguidores a crença em Deus e a condição de justos e de bons costumes. Ademais, os tempos são outros, tanto no aspecto social quanto no legal, não havendo guarida para infantilidades e outro disparates.

No mesmo embalo, sobressai a particularidade de a Maçonaria se constituir em um grupo fechado e eminentemente masculino. O argumento não subsiste ao efeito comparativo de uma empresa, que tem faculdade de selecionar e recrutar seus servidores, e não apenas receber aqueles que se apresentam voluntariamente exigindo uma colocação. Neste caso, é preciso haver um convite e avaliação dos demais membros de uma Loja, que funciona como uma empresa, com todas as obrigações legais decorrentes. No que se refere à característica masculina, trata-se de uma condicionante histórica e se funda nos princípios do Rito Escocês Antigo e Aceito. Existem diversos outros Ritos, que amparam Lojas Femininas e Mistas, mas que não são amplamente divulgadas, pelo número ainda reduzido e também pela forma discreta de abordagem. E os Ritos são apenas caminhos. A derradeira comparação com o futebol é clássica, pois existem times masculinos e femininos, nos quais a atuação daqueles ainda é mais destacada.

Nessa hora, é decisivo ancorarmo-nos no histórico de vida e da coragem moral sustentada pelos valores e exemplos de realizações que nos precedem e que despertam o respeito e consideração de interlocutores mais afoitos. Nada como honra ilibada, probidade inconteste e o reconhecimento para fazer valer um bom argumento sobre uma boa causa. Aliás, é bom ressaltar que esses se constituem nos condicionantes para o recebimento do convite supramencionado, pois a força da Maçonaria reside na seleção rigorosa de seus integrantes.

Os ensinamentos maçônicos norteiam os estudos e os argumentos necessários a um sólido processo de convencimento, pois proporciona o aprimoramento da tolerância, a compreensão do verdadeiro amor ao próximo e à Pátria, despertando o interesse e exaltando a necessidade de trabalho pela felicidade do gênero humano e à consagração da solidariedade como a primeira das virtudes. O que para uma pessoa não iniciada na Ordem possa ser uma qualidade rara, no Maçom é o cumprimento elementar de um dever.

Nessa seara não se pode olvidar todo o contraditório que acompanha a saga da Maçonaria desde sua organização como entidade operativa nos primórdios da Idade Média e reformulação como especulativa nos anos vinte do Século XVIII. Também não se pode desmerecer a contribuição de destacados Maçons aos grandes e decisivos movimentos da história, combatendo a ignorância, o despotismo, na luta incessante pela liberdade, igualdade e fraternidade, indispensáveis à felicidade e à emancipação progressiva e pacífica da humanidade.

Eventuais argumentos que possam desviar para a existência de segredos ou teorias conspiratórias se revelam mais de cunho preventivo ou de base para reforço de preconceitos, em face de divagações deletérias não combatidas pelos Maçons menos preparados ou mesmo para servir de vantagem comparativa para obreiros ainda imaturos em relação àqueles não iniciados, que somente contribui para reforço argumentativo dos detratores da Ordem.

Esses tão propalados mistérios são fruto de imaginação e se evidenciam com maior ardor por se tratar de dificuldade de se expressar, com palavras, sentimentos inefáveis que emanam das fases de aprimoramento do culto à virtude e combate aos vícios inerentes ao ser humano, que é o escopo a ser perseguido diuturnamente.

Nesse particular, se vislumbra extremamente doloroso falar sobre os próprios defeitos ou fazer o “mea-culpa”, em especial quando se é exigido um comportamento exemplar e este se constitui no esteio do Movimento. Tal dificuldade é enfrentada por diversas instituições, que muita vezes procura acobertar as mazelas de seus representantes mais vistosos, por dificuldade de encontrar os argumentos cabíveis ou mesmo pela proteção decorrente do “espírito de corpo”.

Mas, como se diz no popular “colocar o dedo na ferida” ou apertar “onde dói o calo” é condição sine qua non para reverter esses antagonismos. Reconhecer que aqueles vícios tão combatidos, como a vaidade, o orgulho arrogante, a prepotência, a soberba, a negligência, dentre outros menores, são comuns entre vários apologistas e seguidores da Ordem, é o passo inicial para seguimento dos princípios de uma severa moral. Cavar masmorras bem profundas para enterrá-los definitivamente exige o exercício daquela dose de sacrifício necessária ao cumprimento dos deveres que elevam o homem aos próprios olhos e o torna digno de sua missão sobre a Terra.

E é sempre pelo ideal, e só por ele, que os Maçons se sacrificam sob pena de se tornarem traidores dos compromissos assumidos de devotamento e de obediência aos princípios de uma severa moral. Para isso se apoiam no lema:

A sabedoria não está em castigar os erros, mas em procurar-lhes as causas e afastá-las.

É forçoso reconhecer que em várias situações “o inimigo mora ao lado” e não precisamos procurar ao longe para identificar as causas de muitos dos problemas enfrentados no cotidiano das Lojas. Como ocorre em várias empresas, a falha, na maioria das vezes, se situa no recrutamento e seleção dos candidatos. Daí a importância da observação e cautela nas diligências encetadas para aquilatar o grau de qualificação e valores demonstrados pelos possíveis interessados. Qualquer procedimento mais sumário de escolha, com vistas a manter ou repor os quadros de uma Loja, pode redundar em danos irreversíveis, decorrentes do comprometimento dos valores tão caros à Ordem, facultando a entrada de pessoas despreparadas ou em busca de vantagens pessoais.

Tal cenário tende a se consumar em face de comprometimento da continuidade das Lojas, pela falta de reposição planejada dos obreiros, da canibalização entre as Lojas, de ausência de medidas de retenção daqueles que se iniciam ou no descuido com o clima de permanente busca do crescimento, redundando na perda de interesse ou mesmo de deturpação dos mesmos, ou da famigerada acomodação à ritualística, pela falta de aprofundamento nos estudos assinalados.

O sucesso e o fortalecimento das colunas de sustentação de uma Loja demandam de seus dirigentes ações no sentido de identificar, preparar e manter reserva de obreiros prontos a assumir os cargos em qualquer situação imprevista. Para tal fim, torna-se de bom alvitre aproveitar as eventuais ausências dos oficiais para fazer rodízio de treinamento dentre aqueles são ocupantes de cargos, mesmo que visitantes, uma vez que a condição de Maçom vinculado a uma Loja é apenas para fins de organização burocrática, considerando-se que a condição de pertencer à Ordem é pré-requisito para atuar em qualquer célula, quando regularmente atuante.

Não é de todo descabido afirmar que a falta de quadros para suprir cargos, notadamente em sessões de iniciação, elevação e exaltação pode ser considerado um ponto fraco a ser combatido com urgência, vislumbrando-se horizontes de comprometimento de continuidade dos trabalhos e possibilidade e tombamento das colunas de sustentação da Loja.

Obreiros motivados, que têm oportunidade de contribuir na ritualística em Loja, que se esmeram em apresentar trabalhos no “Quarto-de-Hora de Estudos” são o sustentáculo da Ordem, pois são estes que, na maioria das vezes, apresentam candidatos movidos pelos mesmos sentimentos de crescimento e diferenciação na vida pessoal demonstrado pelos Maçons ativos e cidadãos exemplares no seu convívio social e profissional. Importa destacar que, à medida que o obreiro se aperfeiçoa, ganham seus familiares, colegas de trabalho e amigos.

Despiciendo citar-se teóricos da administração moderna para concluir-se que dos Veneráveis Mestres se demanda a mesma habilidade necessária a um coach (treinador) do mundo esportivo, no sentido de incentivar e ajudar os obreiros a desenvolver atitudes e habilidades de gestão para aumentar a eficiência e efetividade dos trabalhos sob sua tutela.

Nessas condições, com a devida vênia, podemos deduzir que os detratores não estão todos lá fora, podendo estar sorrateiramente ancorados entre as colunas de uma Loja, disputando cargos e criando “panelinhas”, conspirando contra aqueles atuantes e bem intencionados. Isso, sem aprofundarmos na desmoralização causada por aqueles que não se portam como exemplos de cidadania, chefes de família, ou mesmo que destacam por um ou outro vício repreensível, que mancha a honra própria e respinga nos outros Irmãos. Nesse ponto a Maçonaria sabe cortar na carne. Mas é tema para outro trabalho.

Finalmente, é pacífico o entendimento de que temos parcela de culpa fundada em posturas de acomodação ou desinteresse de muitos dirigentes que não pensam a longo prazo e se mostram omissos à frente dos ideais e desafios lançados pelos nossos geniais antecessores, que se sacrificaram por visões e forjaram as bases desse magnífico movimento de construção permanente do Templo Moral das Virtudes representado pela Maçonaria Especulativa.

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras e, para nossa alegria, também um colaborador do blog.

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A Sabedoria, a Força e a Beleza

A Maçonaria apóia-se, simbolicamente, sobre três grandes colunas, as quais simbolizam a Sabedoria, a Força e a Beleza.

A Sabedoria

É representada na Loja pelo Venerável Mestre, o qual é o sol que ilumina nossa loja e que tem seu simbolismo máximo quando a luz parte do Oriente, do altar do Venerável Mestre, para iluminar a loja, com o acendimento das velas nas mesas do 2º e 1º Vigilantes.

No entanto, isto não é tudo, pois do Venerável Mestre é exigido que tenha sabedoria, o que é mais do que saber; é ter sensibilidade para ouvir, para tolerar, ter senso de Justiça, ter responsabilidade com todos os Irmãos da Loja, para que estabeleça projetos em busca de nossa obra de lapidarmos nossa Pedra Bruta. Ouvir é uma arte, a qual deve ser bastante exercitada pelo Venerável Mestre, ouvindo a todos os Irmãos, desde as mais ínfimas questões até as mais importantes, desde o mais novo aprendiz até o mais antigo Mestre, porque todas as ideias são importantes; tolerar é a arte de assimilar certos equívocos cometidos em Loja, compreendendo-os, sem pensar logo que aquela manifestação equivocada tem a intenção de criticar a administração da Loja ou está ferindo algum sagrado ponto da ritualística, é saber que toda manifestação de intolerância é apenas uma exteriorização de sentimentos internos de seu emissor, pelo que sempre quando alguém é intolerante, estamos diante de alguém que necessita se despir de seus medos e frustrações, para ser mais feliz e melhor servir a humanidade. Necessita ter o Venerável Mestre também, certa dose de humildade, para entender que nem sempre está certo, que nem sempre sabe tudo, que pode errar pelo simples fato de ser humano e que ser humilde não lhe retira o comando da Loja.

Meus Irmãos, em nosso cotidiano, devemos ter sabedoria para decidirmos as mais diversas questões que surgem todos os dias em nossa vida, temos que ter as mesmas qualidades acima enumeradas, porque só exercitando tais qualidade poderemos ser felizes e não ter sobre nós a sombra do arrependimento, tendo em vista que tudo o que fizermos e decidirmos sempre será em um momento único, será uma decisão única, ainda que possa ser modificada mais adiante, ela já terá lançado seus reflexos para o futuro.

A Força

Em Loja representada pelo 1º Vigilante, tem seu objetivo na execução dos projetos do Venerável Mestre, mas a força aí mencionada é aquela que tem origem na vontade, na garra, na certeza do dia seguinte, na certeza de que o homem existe para ser feliz, dependendo apenas dele alcançar este objetivo, devendo concentrar suas energias na busca deste mundo melhor, a partir de sua própria melhora como Ser Humano limitado que é. Antes de reformar o mundo, o homem deve reformar a si mesmo, através da reforma íntima e isto demanda muita força de vontade, muita perseverança, porque nada existe de mais difícil, do que mudar a si mesmo. Antes de apontar os erros na casa do vizinho, deve corrigir os erros de sua própria casa. Se queremos um mundo melhor, devemos começar por nós.

A Beleza

Na Loja é representada pelo 2º Vigilante, tem seu objetivo no embelezar as ações dos Irmãos na busca dos objetivos traçados e projetados pelo Venerável Mestre e executados pelo 1º Vigilante, porque estarmos sempre fechados para a beleza da vida, significa sermos escravizados por nossos objetivos; significa que nossos objetivos que têm sua razão de existirem para que embelezem e facilitem nossa missão de sermos felizes, passaram a ser nossos senhores, a ditarem nossa vida; significa que os meios passaram a ser mais importantes do que os fins, invertendo a ordem natural das coisas e tornando-nos vitimas de nós mesmos.

O homem tem em sua missão o objetivo de melhorar o mundo, o dever de ser feliz, porque se todos formos felizes, o mundo será um paraíso e alcançar este objetivo só depende de nós. Devemos ter dedicação ao trabalho, mas trabalharmos sempre dentro de um certo limite de tempo, temos que ter um horário para tal mister; devemos ter tempo para vivermos a nossa família, porque ela é a base de tudo e é por ela que vivemos e trabalhamos, acompanharmos nossos filhos na escola seja ela de ensino fundamental, médio ou superior, porque nossos filhos sempre necessitarão de nós; são eles nossos reflexos na sociedade, temos que ensiná-­los, educá-los, prepará-­los para a vida, ensiná-­los a respeitar a vida, o meio ambiente, o direito de todos, devemos ensinar a honestidade, a noção do certo e errado, não apenas com palavras, mas com atos e exemplos. Devemos estar presentes na vida dos filhos e de nossa família, tendo tempo para brincar, educar, conversar, discutir os mais diversos temas com nossos familiares, fazermos planos conjuntos, pois nosso próprio casamento teve como origem estes objetivos e sem eles nossa vida estaria à deriva em um mar revolto. A verdadeira beleza está nas coisas que alcançamos, nos dias venturosos em que estamos felizes junto aos nossos, na família que temos, no bem que fizermos. Todos os nossos atos devem ter uma boa dose desta beleza, porque só assim estaremos cumprindo nossa missão existencial. Na vida, a beleza está em conjugarmos todos os verbos na primeira pessoal do plural, nós, porque a primeira pessoa do singular apenas divide o grupo, a loja, a família.

Todo este simbolismo nos indica que, na obra de nossa construção Moral, devemos trazer para a Luz, todas as possibilidades das potências individuais, despojando-­nos das ilusões da personalidade. E nesse trabalho, só poderemos ser Sábios se possuirmos Força, porque a Sabedoria exige sacrifícios que só podem ser realizados pela força, mas ser Sábio com Força, sem ter Beleza, é triste, porque é a Beleza que abre o mundo inteiro à nossa Sensibilidade.

Autor: Romarino Junqueira dos Reis
Loja Concórdia et Humanitas nº 56, Oriente de Porto Alegre, RS

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