Integração e tolerância

Por ser a tolerância religiosa um dos valores que estiveram na gênese da maçonaria especulativa, é natural que os maçons tenham na tolerância um valor fundamental. No entanto, se perguntarmos a duas dúzias de maçons o que é a tolerância, receberemos duas dúzias de respostas, algumas das quais contraditórias – e é bom que assim seja. A tolerância decorre da diversidade; sem diversidade não há necessidade de tolerância: só faz sentido ser-se tolerante perante o que é diferente de nós.

É natural que procuremos a proximidade daqueles com quem nos identificamos mais, e nessa identidade acabemos por nos afastar dos que não se nos assemelham. A própria origem das espécies decorrerá dessa tendência de agremiação de seres mais semelhantes entre si, mas um pouco diferentes de outros, mesmo quando todos partilhem antepassados comuns. O reconhecimento de seres diferentes – porventura portadores de uma mutação genética, ou doentes – e o afastamento deles poderá servir de mecanismo de preservação das populações.

Por outro lado, pode dizer-se que a intolerância é um mecanismo de defesa, de repulsão de um ataque – tenha este de fato decorrido, ou esteja iminente, ou seja meramente possível. Neste sentido, é uma qualidade saber-se reconhecer o inimigo que pode destruir-nos a nós ou às nossas crias. Porém, tomar por agressão a própria diferença independentemente dos atos cometidos é um comportamento perfeitamente típico de um ser irracional, se bem que inaceitável em um ser humano.

Não deixa, por isso mesmo, de ser desejável que tomemos consciência da dualidade da nossa natureza – animais por um lado, racionais pelo outro – e saibamos tirar o melhor partido de ambas as facetas dela. Pois que se, por um lado, o “instinto animal” nos pode salvar de muitas situações perigosas, por outro só uma mente racional nos pode levar até à plenitude da nossa humanidade.

Tolerar a intolerância sob o argumento de que “é natural” só é aceitável para quem esteja disposto a abdicar de tudo quanto desenvolvemos enquanto seres racionais. Aceitar que somos todos diferentes, e que nada de mal tem forçosamente que advir daí, é uma atitude tão mais importante quanto mais populado está o nosso mundo, e quanto mais globalizado e culturalmente miscigenado este se vai inexoravelmente tornando.

Li há anos um livro de Robert Heinlein (já não me recordo de qual…) de que retive uma frase: 

“Um homem sábio não pode ser insultado, pois a verdade não insulta, e a mentira não merece atenção.” 

Copiei essa frase cuidadosamente para um papelinho que guardei cuidadosamente espetado num painel de cortiça no meu escritório durante anos. 

Curiosamente, o presidente Obama disse certa vez uma coisa parecida: que a cultura ocidental reconhece o direito à liberdade de expressão, mas não reconhece o direito a não ser insultado. Nas nossas sociedades – nos chamados “Estados de Direito” – a lei estabelece uma linha mínima de homogeneidade: todos são iguais perante esta, todos devem cumpri-la, e ninguém deve ser forçado a fazer o que esta não preveja. A lei constitui, assim, como que as “regras da casa” de uma sociedade, estipulando o que é e não é aceitável. 

Pode dizer-se que há, essencialmente, duas formas de gerir a diferença: pretender tornar todos iguais, ou aceitar que somos todos diferentes. Se tivermos em conta quer as lições da História, quer o fato de que mesmo na população mais homogênea há diferenças de indivíduo para indivíduo, não nos resta senão aceitar a diferença – e tirar o maior partido desta. Podemos pretender agir sobre os outros – tornando-os iguais a nós mesmos ou suprimindo-os – ou pretender agir sobre nós mesmos – aceitando os outros como são. É esta, precisamente, a forma como vejo a tolerância tal como a maçonaria no-la transmite: como uma deliberada indiferença perante a diferença. Não, não é instintivo – mas aprende-se.

Autor: Paulo M.

Fonte: Blog A Partir Pedra

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Fraternidade maçônica

No mundo profano, talvez um dos mais conhecidos lemas atribuídos à Maçonaria é a tríade Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Tal tríade restou conhecida pelo lema da Revolução Francesa: Liberté, Egalité e Fraternité.

O que pouca gente sabe é que tal tríptico não advém da Maçonaria à Revolução Francesa (talvez uma das maiores fake News que cerca o universo maçônico), mas exatamente o contrário. Como se sabe, a Revolução Francesa ocorreu no chamado “Século das Luzes”, dentro do movimento que passou a ser chamado de Iluminismo.

Grandes teóricos iluministas tiverem em seus estudos a base para a invocação de movimentos revolucionários. Aliás, tal lema consta inclusive de prédios públicos e da própria constituição da França.

Liberdade e Igualdade advêm puramente do movimento iluminista. Já a Fraternidade advém também de um preceito cristão, tanto que encampado pela Igreja Católica até os dias atuais e com forte trabalho sobre tal virtude por teóricos como Santo Agostinho (a Igreja reúne os homens em fraternidade, que os religiosos vivem a igualdade por não terem propriedades, que os fiéis “vivem na caridade, na santidade e na liberdade cristã”).

Pois bem, a própria maçonaria nasce no século das luzes e, como não poderia deixar de ser, é fortemente influenciada pelo movimento iluminista. Assim, boa parte das lojas maçônicas tomaram para si o tríptico da Revolução Francesa.

Contudo, merece especial atenção à maçonaria o lema “Fraternidade”, mas analisando-o a partir da Fraternidade Maçônica.

O termo “fráter” (irmão, em latim) faz parte do dia a dia das lojas maçônicas. No REAA é absolutamente invocado, sendo, inclusive, utilizado até na abertura das sessões maçônicas quando da leitura do Salmo 133 que invoca, especialmente, a convivência fraterna.

Não é demais dizer que a fraternidade é a base do pensamento maçônico, sendo ele invocado em várias situações quando, por exemplo, o amparo ao irmão necessitado e sua família, a caridade maçônica e em uma série de compromissos assumidos pelo maçom quando é iniciado.

Ocorre que, no mundo moderno, o termo “irmão”, utilizado exatamente para demonstrar a fraternidade parece ter seu uso relativizado. Não é incomum nos depararmos com situações de ativa beligerância entre irmãos, em total inobservância ao preceito de não usar um avental enquanto mantiver algum tipo de nódoa com outro irmão.

O termo acaba sendo desvalorizado. Muito comum se referir a maçom como “é um irmão nosso”, mas sem se atentar se realmente nutre sentimento fraterno pelo irmão e seus familiares.

Pior, com o individualismo crescente em nossa sociedade, intensificado pela grave pandemia do COVID-19, o amparo assistencial ao irmão necessitado parece estar senso extirpado das lojas maçônicas. E tal sentimento não se resume à amparo financeiro, mas também amparo emocional, muito necessário nos dias de hoje.

Ao que parece, o problema assola as lojas, que, não raramente, buscam mais se tornar em verdadeiros tribunais de julgamento de conduta de irmãos, do que amparar o irmão que esteja em dificuldade. Busca-se “cobrar” do irmão inadimplente sem, antes, buscar o amparo fraterno ao irmão em dificuldade. Fosse verdadeiro irmão assim o faríamos?

Não é incomum que irmãos manifestem sinais que precisam de ajuda. Contudo, muitos tentando evitar “assumir problemas de outro” preferem se omitir, até que o irmão se afaste ou seja afastado da vida maçônica. Contudo, repisa-se, seria este um verdadeiro comportamento fraterno?

Penso que talvez um dos maiores problemas da evasão maçônica seja exatamente a ausência de fraternidade. Os irmãos não mais se sentem amparados por sua loja! O pedido de “quite placet” de um irmão, hoje em dia, parece ser recebido mais com alívio do que com pesar.

São apenas divagações sobre tão importante tema, que jamais poderá ser exaurido neste breve trabalho.

E você, tem praticado a FRATERNIDADE?

Autor: Fernando Ramos Bernardes Dias

*Fernando é ex-Venerável Mestre da ARLS Renovação e Progresso, nº 250, do oriente de Patrocínio, jurisdicionada à GLMMG.

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Aprendendo com Aprendizes e Companheiros

Afinal, vamos para a Loja é para aprender ou não? E os irmãos estão satisfeitos?

Creio já estarmos um tanto ou quanto enfastiados de ouvir de parcela de nossos Mestres como tiveram uma brilhante trajetória na Ordem ao falarem reiteradamente sobre si mesmos e suas realizações, expondo opiniões em desordenados falatórios acacianos e dizendo que é assim e assado que pensam (Magister dixit), muitos demonstrando desdém pelas demandas dos Aprendizes e Companheiros ou o que estes também têm a ensinar-lhes. Graças ao Grande Arquiteto do Universo prevalece a tolerância, o carinho, o respeito e o bom humor, em especial.

Alguns apenas abrem a boca para ufanar-se de ter atingido o ápice dos Graus Superiores, de ocupar tais e tais cargos na Potência e para exaltar relacionamentos estreitos com autoridades da Ordem. Por vezes, com o maior caradurismo, insinuam-se para comendas e homenagens. Normalmente esses “monstros sagrados” encontram-se aboletados no Oriente das Lojas e declinam de convocações para ocupar cargos para compor as sessões de trabalho por ausência dos titulares. Esse “Oriente” deveria ser apenas um caminho a ser percorrido, não um status.

Constata-se, com certa regularidade, uma dissonância cognitiva entre o que pregam e o que fazem alguns desses Mestres. Em resumo, respeitado o mérito, onde couber, por uma questão de justiça, o que se constata em determinadas situações são demonstrações de muita arrogância travestida de sabedoria e um vazio de conhecimentos. Segundo um calejado mestre pai d‘égua da Ordem, “quem exalta os próprios méritos, menos créditos tem”.

Isso pode ser facilmente constatado em Loja, nas oportunidades em que são ministradas as Instruções Maçônicas, ao reinar o mais absoluto silêncio por parte dos Mestres quando a palavra circula para que sejam agregados comentários que possam enriquecer os conteúdos apresentados. Essa ambiguidade gera comprometimento da credibilidade nos Valores da Ordem e desânimo junto aos principiantes, redundando, por vezes, na baixa do número de obreiros da Oficina.

Um aviso aos novéis Mestres: não caiam na lorota de acreditar que ao atingir a Plenitude Maçônica[1] está tudo dominado. Afinal, o mestrado maçônico está apenas começando. Torna-se indispensável manter o interesse pelos estudos. Por outro lado, alguns com mais tempo de caminhada se perguntam: voltar a interessar-me pelos estudos depois de “velho”? Atenção! Segundo Mário Sérgio Cortella, idoso é diferente de velho.

“Idoso é quem tem bastante idade, velho é o que acha que já sabe, que já está pronto”.

E mais, o idoso moderno tem projetos e se renova a cada dia; o velho rabugento[2] vive de recordações, e, no nosso métier, apenas exulta-se das glórias do passado para as quais não contribuiu e recebeu graciosamente como legado dos denodados irmãos que nos precederam. Por vezes julga-se um “guru” com direito a criticar tudo e a todos, dizer o que é certo e errado e adora ser exageradamente reverenciado. Qualquer paralelo com os chamados gases raros que compõem os elementos do grupo 18 (família 8A) da tabela periódica e o número 7 é pura maldade! Castigat ridendo mores.

Em algumas oportunidades, integrantes dessa nobreza articulam a concepção de grupos de massa crítica propositiva que logo descambam para futricas e olhar de desapreço em relação a trabalhos apresentados, emitindo comentários ditos abalizados, mas que na realidade tendem a deslustrar a imagem de obreiros esforçados e dedicados à Sublime Ordem, em flagrante atitude de soberba ou mesmo de inveja, na tentativa de esmorecer lídimas iniciativas ou ensejar um autoatribuído poder de censura. Em comum elogiam-se mutuamente, mas demonstram que a Pedra Bruta ainda precisa de muita lapidação e polimento.

De uma forma desrespeitosa, segmento dessa elite tenta influenciar Aprendizes e Companheiros ao difamar reputação de escritores maçônicos brasileiros do passado que construíram os alicerces onde esses críticos se formaram, desaconselhando a leitura de obras desses baluartes. Já chegamos ao absurdo de ver postadas figurinhas depreciativas de troféus com o nome desses autores de referência (Troféu XYZ de viagem na maionese, e.g.). Outro péssimo exemplo para os Aprendizes e Companheiros é a postagem de figurinhas com sinais maçônicos, em flagrante descumprimento de juramento prestado. Isso a Maçonaria não ensina, mas reitera que não impõe nenhum limite à livre investigação da Verdade e para garantir a todos essa liberdade, ela exige de todos os seus membros a maior tolerância.

Têm-se notícias de que inoportunos grupos críticos exclusivistas, em sistemáticas trocas simultâneas de mensagens em tons desdenhosos durante apresentação de palestras por videoconferência, conspiram para colocar os apresentadores em saia justa por meio de perguntas desestabilizadoras. Esse formato de associação precisa ser desincentivado e eventuais convidados devem declinar de plano desse tipo de assédio e os atuais componentes desses grupos radicais deveriam desligar-se de imediato, sob pena de terem a imagem conspurcada. Nesse imbróglio, permitimo-nos destacar um aforismo não se sabe de autoria ou atribuído a Steve Jobs:

“Você nunca será criticado por alguém que esteja fazendo mais do que você, você só será criticado por alguém que esteja fazendo menos.”

Por sua vez, os valorosos Mestres idosos e experimentados, que já acumularam relevante bagagem na senda do conhecimento e sabedoria, devem despertar nos mais jovens a motivação para seguirem seus passos e aprenderem juntos, mantendo o brilho nos olhos, nunca encarando desafios como problemas e demandas como sacrifícios, tendo como meta o aprimoramento e conquista de realizações, de sempre ir além e crescer na Ordem. A vivência e generosidade desses Mestres, que felizmente são a maioria, reconhecidos e queridos por todos, tornam mais suave e estimulante a marcha dos Aprendizes e Companheiros. A essência deve estar nos exemplos e nas mensagens que passam a esses irmãos em formação.

Argumenta-se que haveria na Maçonaria um conflito geracional, com o desgastado discurso de que os mais jovens naturalmente rejeitam as tradições e o que é antigo, desejando o novo e a promoção de mudanças, transformações por vezes geradoras de conflitos. Mesmo dentro das faixas etárias verificam-se necessidades e interpretações distintas, dada a própria diversidade e formação dos obreiros, levando pessoas de uma mesma geração em qualquer tempo a não compartilhar os mesmos valores e atitudes. Há que se focar no equilíbrio e conciliação, tendo como escopo os princípios fundamentais da Maçonaria.

Como sabemos, tradição é aquilo que vem do passado, que deve ser protegido, guardado e difundido. Na Maçonaria, além da sua declaração de princípios e o propósito definido para cada Grau, os símbolos e alegorias são exemplos e carecem ser conservados, por auxiliarem seus membros a reter os ensinamentos pela impressão que causam aos sentimentos, ao espírito e à razão. Com o suporte dos cobridores dos respectivos Graus e os critérios de reconhecimento, forma-se a sua base como uma instituição de sucesso, já tendo ultrapassado a marca de mais de três séculos de sólida existência, na sua vertente moderna.

O modernismo a que refere os tempos atuais deve ser avaliado com cautela, para que sejam absorvidos os instrumentos que incrementam o sucesso até então alcançado, inclusive tecnológicos, fazendo as devidas adaptações, de forma refletida, dentro do conceito de modernidade, sem abandonar as tradições, deixando de lado discursos de desconstrução e reconstrução que levariam a Maçonaria a seu enfraquecimento.

A resposta para o Mestre Maçom de como enfrentar e superar esses novos tempos deveria ser óbvia, ou seja, dar um gás, saber o que ainda não se sabe, aprender com os irmãos mais experientes, com aqueles que são verdadeiras lições ambulantes, e com a nova geração de Aprendizes e Companheiros, uma espécie de mentoria reversa, do tipo colaborativa, facilitando o intercâmbio de conhecimentos e percepções. Indubitavelmente, a Loja é dos Mestres e é composta exclusivamente por eles; os Aprendizes e Companheiros a complementam e estão em processo de transição e lapidação, de aprendizado de vida e para a vida, em busca da luz ao interpretar os elementos fundamentais do simbolismo e realizar, em atividades construtivas, os conhecimentos adquiridos e assim atingirem o mestrado maçônico. Vale elucubrar sobre a máxima de que “maçonaria é aquilo que você faz quando a sessão acaba”.

Esse contexto merece uma reflexão mais profunda, pois são esses Mestres que recrutam os novos membros e, como bem destaca Napoleon Hill, no seu livro “Mais Esperto que o Diabo”:

“Quando você fala de líderes que são bem-sucedidos porque ‘sabem escolher homens’, você pode mais corretamente dizer que eles são bem-sucedidos porque sabem como associar mentes que se harmonizam naturalmente. Saber como escolher pessoas de forma bem-sucedida, para qualquer objetivo definido na vida, é uma habilidade desenvolvida para reconhecer os tipos de pessoas cujas mentes naturalmente se harmonizam.”

Com base na afirmação acima, a pergunta que não quer calar é: como está a qualidade de nossas escolhas dos novos Aprendizes, a formação e o preparo de quem os recruta junto à sociedade e, na sequência, ministram-lhes os fundamentos da Ordem? A resposta está com os gestores das respectivas Lojas e não deve circunscrever-se à busca de culpados por eventuais erros do passado, mas na construção de futuros possíveis e alvissareiros, cultivando o orgulho de ser Maçom. Aí reside o busílis.

…Há que se cuidar da vida…Há que se cuidar do mundo…Tomar conta da amizade…” (Coração de Estudante: Milton Nascimento / Wagner Tiso)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.


Notas

[1] Vide artigo Plenitude Maçônica, em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2018/12/13/plenitude-maconica/

[2] Vide artigo “O irmão rabugento”, em:  https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2018/11/01/o-irmao-rabugento/

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O Medo e a Maçonaria

Eu não devo ter medo. Medo é o assassino da mente. Medo é a pequena morte que leva à aniquilação total. Eu enfrentarei meu medo. Permitirei que passe por cima e me atravesse. E, quando tiver passado, voltarei o olho interior para ver seu rastro. Onde o medo não estiver mais, nada haverá. Somente eu permanecerei.

Frank Herbert, Duna

Em nossa juventude, protestamos contra a injustiça do mundo. À medida que desenvolvemos nossas filosofias de vida, também desenvolvemos nossos medos. Em uma recente discussão em grupo sobre o simbolismo específico da Maçonaria, foi colocada a questão: como podemos nos livrar dos medos? O medo, disse uma pessoa, é o que impulsiona o comportamento negativo. Outro disse que o medo motiva todo o comportamento. Depois de muita discussão, nunca chegamos a uma conclusão sólida sobre como aliviar o medo.

O medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento.
Yoda , Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999).

O medo é o sentimento desagradável causado pela crença de que alguém ou algo é perigoso, ameaçador ou que pode causar dor. Esta definição está repleta de oportunidades para dissecação, para separar as peças que criam razões filosóficas para o medo.

Em primeiro lugar, é uma sensação desagradável, e os humanos odeiam sensações desagradáveis. Ninguém realmente quer se sentir mal e, no entanto, esse sentimento malicioso é construído sobre uma crença – não necessariamente baseado em fato ou razão. É simplesmente uma crença. Por definição, uma crença é uma fé ou confiança em algo”. Separados e colocados juntos, podemos dizer que o medo é um sentimento desagradável causado por uma confiança, fé ou garantia de que alguém ou algo está pronto para causar danos à nossa pessoa, nossos relacionamentos ou talvez nosso modo de vida e ideias.

Essa explicação não visa banalizar o medo ou certas manifestações importantes de medo, como o transtorno de estresse pós-traumático. Trata-se apenas de discutir medos comuns que a maioria de nós, se não todos, temos. Os medos são justificados? Alguns, sim. Alguns, talvez não. Em face do desastre imediato, o medo certamente está em ordem. Sigmund Freud disse, sobre medo real versus medo neurótico:

Você me entenderá imediatamente quando eu chamar esse medo de medo real, em oposição ao medo neurótico. O medo real parece bastante racional e compreensível para nós. Podemos testemunhar que é uma reação à percepção de um perigo externo, isto é, de um mal esperado e previsto. Está relacionado ao reflexo de fuga e pode ser considerado uma expressão do instinto de autopreservação. Assim, as ocasiões, ou seja, os objetos e situações que despertam medo, dependerão em grande parte de nosso conhecimento e de nosso sentimento de poder sobre o mundo externo…

Passemos agora ao medo neurótico, quais são as suas manifestações e condições…? Em primeiro lugar, encontramos um estado geral de ansiedade, um estado flutuante de medo, por assim dizer, que está pronto para se ligar a qualquer ideia adequada, para influenciar o julgamento, para criar expectativas, de fato, para aproveitar qualquer oportunidade para ser cheirado. Chamamos essa condição de “medo-expectativa” ou “expectativa ansiosa”. As pessoas que sofrem desse tipo de medo sempre profetizam a mais terrível de todas as possibilidades, interpretam cada coincidência como um mau presságio e atribuem um significado terrível a qualquer incerteza. Muitas pessoas que não podem ser chamadas de doentes mostram essa tendência de antecipar o desastre.

Simplificando, o medo é simplesmente a falta de um senso de poder sobre nosso próprio mundo, seja causado por um tornado iminente ou por sentimentos de inadequação. O que nos interessa aqui é o que Freud chamou de medos neuróticos. No entanto, a base de nossas reações, essa falta de controle, vem do mesmo processo de sobrevivência “lutar para fugir”. Ambos têm suas raízes no controle.

Uma vez me foi explicado que todos os vícios – preguiça, inveja, ganância, ganância, orgulho e luxúria – são todas as principais manifestações do medo.

“Para que nos reunimos aqui? ”.

“Para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. Para glorificar a Verdade e a Justiça. Para promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade, levantar Templos à Virtude e cavando masmorras ao Vício”

Aristóteles, em Ética a Nicômaco, fez afirmações semelhantes, explicando que virtudes e vícios eram um espectro e deficiências eram expressões dos extremos do espectro. Em muitos lugares, os cursos de psicologia ensinam como lidar com os medos das pessoas com algumas dessas mesmas técnicas, mas, novamente, ninguém realmente chega ao cerne do gerenciamento do medo. Então, sabemos o que pode ser o medo e como ele se manifesta, mas como realmente lidamos com ele?

Na minha juventude, li uma série de livros baseados na Psicologia. Esses ensinamentos eram reflexões canalizadas sobre a vida e o estilo de vida, como e por que as pessoas fazem o que fazem e as relações humanas em geral. Um aspecto que ficou comigo foi relacionado aos medos. Muitas pessoas têm uma atitude negativa dominante que precisam superar em suas vidas.

Alguns exemplos disso são:

  • autodepreciação;
  • autodestruição;
  • martírio;
  • teimosia;
  • ganância;
  • impaciência; e,
  • arrogância.

Muitos de nós passamos por tudo isso em algum momento de nossas vidas, mas, geralmente, nos limitamos a um (talvez dois) quando estamos cansados, deprimidos, sobrecarregados, distraídos ou simplesmente não estamos trabalhando no auge. Quando nossa sensação de conforto, nossa criança interior, é atacada ou se sente vulnerável, recorremos a essas atitudes que na verdade são expressões de medo.

Estes surgem desde a nossa infância e são colocados lá por nossas reações ao ambiente e experiências. Cada um desses bloqueios é baseado em um medo muito específico e pode ser superado, com esforço consciente. Essas são as atitudes negativas dominantes com seu espectro de manifestação, para retomar a ideia aristotélica de uma escala móvel de virtudes e vícios.

A autodepreciação é o medo de não ser bom o suficiente – manifesta-se como humildade (positiva) a auto humilhação (negativa).

A ganância é o medo de não ter o suficiente – manifesta-se como egoísmo | Desejo (positivo) para Voracidade | Gula (negativo).

A autodestruição é o medo de perder o controle – manifesta-se no auto sacrifício (positivo) até o suicídio | Imolação (negativo).

O martírio é o medo de não ser digno – manifesta-se no altruísmo (positivo) à mentalidade de vítima (negativa).

A teimosia é o medo da mudança, de novas situações – se manifesta na força de vontade | determinação (positiva) à teimosia (negativa).

A impaciência é o medo de perder ou perder oportunidades – manifesta-se como ousadia (positiva) à intolerância (negativa).

Arrogância é o medo de ser vulnerável – se manifesta como orgulho (positivo) à vaidade (negativo).

Como Sócrates, Aristóteles define o homem pela sua alma inteligente e, ao admitir que tudo tem uma finalidade, afirma que a finalidade do homem é a felicidade. Mas que felicidade seria essa? Podemos pensar a partir de um raciocínio bem simples: Qual é a felicidade de uma planta? Luz solar e água, por exemplo. Qual é a felicidade de um animal? Não sentir fome e poder viver em liberdade. E, por fim: Qual é a felicidade do homem? Desenvolver aquilo que tem de diferente em relação a todos os outros seres – a racionalidade. Para Aristóteles, a alma humana tem três partes: a alma vegetativa, com necessidades biológicas como as plantas; a alma sensitiva, com necessidades de sensações e movimento dos animais, e a alma intelectiva, com a necessidade de usar o pensamento. Se a alma tem três partes, então o homem tem de ser feliz nelas três, pois ninguém é feliz pela metade. Daí a importância do conhecimento e do raciocínio, responsáveis por evitar que haja exagero em qualquer uma das funções da alma. Em síntese, o critério de Aristóteles é o equilíbrio.

Neste quadro, estão as funções das partes da alma:

A felicidade completa do homem depende da realização de todas essas funções da alma. Mas, segundo uma ordem de importância, a alma intelectiva, ou seja, a inteligência, deve governar todas as funções. Além disso, como as pessoas vivem juntas, é função da alma treinar as virtudes, que são as boas práticas comuns do dia a dia. A palavra virtude (areté), para Aristóteles, significa “hábito que torna o homem bom”. Seguindo esse raciocínio, temos de treinar as virtudes, ou melhor, disciplinar nossos hábitos, para nos tornarmos bons. Podemos compreender isto como uma espécie de treinamento de virtudes a algumas regras de comportamento, por exemplo, lembrando que pessoas sem treinamento de boas maneiras, ao precisar demonstrá-las, acabam parecendo falsas, engraçadas ou até ridículas. Isso acontece, geralmente, em entrevistas de emprego ou na hora da paquera, quando o nervosismo e a falta de experiência podem criar situações constrangedoras. Do mesmo modo que não se pode fingir ter boas maneiras, não adianta querer parecer bom, pois isso depende do treinamento das virtudes, que acabam se incorporando à alma da pessoa. Para Aristóteles, então, a virtude, ou as práticas da busca da felicidade, têm de ser treinadas sempre para que não cometamos erros e prejudiquemos a nossa felicidade, que depende muito da nossa relação com as outras pessoas.

Observe no quadro abaixo os exemplos que demonstram o conceito de justa-medida ou equilíbrio de Aristóteles e reflita:

1→ No meu dia a dia eu costumo fazer escolhas virtuosas/equilibradas?

2→ Apropriando-se dos conceitos de Aristóteles posso dizer que sou capaz de cuidar da minha alma vegetativa, sensitiva e intelectiva?

Olhando mais de perto nosso próprio comportamento, pode ser mais fácil ver como uma reação a uma situação ou outra remonta a uma dessas atitudes negativas e ao medo por trás dela. Quando você deixa de se orgulhar de um trabalho bem-feito e passa a acreditar que o trabalho que fez é o melhor que já viu, pode haver algum medo. Essa linha que separa os dois extremos pode ser diferente para pessoas diferentes, e é claro que todos nós temos diferentes níveis de tolerância e habilidades para processar reações quando nos deparamos com o medo. Quando começamos a mergulhar além da superfície de nossa própria psique, a introspecção revela, talvez, essas atitudes negativas baseadas nas experiências da infância.

As crianças criam, com base em sua experiência ambiental e inclinações pessoais, visões de mundo distorcidas. Todos nós criamos essas distorções (grandes e pequenas) e elas acabam se tornando nossos mitos pessoais. Pense: “Sou feio”, “Sou estúpido” ou “Não vou comer hoje à noite”. Situações repetidas ou eventos traumáticos reforçam esse mito. Impulsionados por um medo profundo e por uma visão de mundo distorcida, a atitude negativa dominante emergente entra em ação em suas vidas, até mesmo na idade adulta.

A criança pensa, por exemplo: “Vou evitar que a vida sofra assumindo o controle da minha dor. Eu vou me machucar mais do que qualquer outra pessoa. A estratégia de sobrevivência escolhida pela criança envolve uma espécie de conflito, uma guerra contra si mesma, contra os outros ou contra a vida. É um padrão de comportamento defensivo que parece irracional por fora, mas que, do ponto de vista da criança, é perfeitamente racional. À medida que amadurecemos, devemos lidar com essas atitudes negativas dominantes ou elas comprometerão qualquer chance de autoaperfeiçoamento. Eles escondem nossa verdadeira natureza.

Quando alguém implica comigo ou com outras pessoas, acredito que o motivo seja sempre o medo. O medo não é a motivação para todas as atividades que fazemos. Sempre parece, no entanto, que o medo está no cerne de comportamentos verdadeiramente negativos e destrutivos. O ódio, a mentira e o fanatismo são reações e atitudes reais baseadas no medo. Ao lidar com essas reações no mundo, devemos ter em mente que o medo é o fator motivador e que, talvez, fazendo a pessoa se sentir segura, deixando-a expressar seus verdadeiros medos, a cura pode começar.

Em outro grupo de estudo, discutimos o medo e como usá-lo para desvendar a verdade. Fiquei então impressionado com o fato de que a Maçonaria nos oferecia oportunidades para confrontar nossos próprios medos e os dos outros. Seja falando na frente de um grupo, assumindo o trabalho ritual ou dirigindo o trabalho voluntário, a Maçonaria nos oferece uma chance de transformar continuamente os medos em ouro relacional, fornecendo os tipos de experiências que nos testam e nos forçam a enfrentar esses medos. Por que o maçom se importa com os medos? Há uma grande parte do mundo que opera em uma dieta constante de medo. A única maneira de encontrar um mundo melhor e uma humanidade melhor é elevar-se acima das coisas que nos levam a viver uma vida mundana, irracional e medíocre. Ao abordar e reconhecer quando as pessoas estão se movendo com medo, podemos acabar interrompendo o ciclo para elas e para nós mesmos.

Além disso, os maçons se esforçam para serem líderes. Liderança é aprender o que motiva as pessoas; aprendendo seus medos e ajudando-os a contorná-los, descobrimos talentos e habilidades esperando para serem descobertos. A liderança ilumina o que impede as pessoas de serem o melhor que podem ser. Abordar os medos é difícil, a menos que você crie um diálogo verdadeiro e honesto. A Maçonaria fornece um ambiente para expressar honestidade e ser apoiado.

Este diálogo honesto se estende a nós mesmos. Quais são os nossos medos? Qual é a nossa atitude negativa dominante e como isso afeta a mim, minha família e meus relacionamentos? Quais relacionamentos são saudáveis e positivos e quais não são?

Perguntar “por que” é um bom começo. Talvez, examinando as motivações dentro de nós que nos levam a ter relacionamentos dolorosos com os outros, possamos enfrentar nosso medo. Para fazer isso, devemos ser capazes de examinar ativamente nosso comportamento, avaliar o dano que estamos causando a nós mesmos e, como Paul Atreides da série Duna, olhar para dentro do caminho que ele percorreu e nos encontrar em seu caminho, e despertar.

Tente olhar naquele lugar onde você não ousa olhar! Você vai me encontrar lá, olhando para você! 

Paul-Muad’Dib à Reverenda Madre, de “Duna” de Frank Herbert

Aos Buscadores, onde quer que estejam sobre a face da terra.

Autor: Geovanne Pereira

Geovanne é Bacharel em Filosofia, Pós-graduado em Psicanálise, Pós-graduando em Neuropsicologia, Acadêmico em Psicologia, Psiconauta, Yogue, Facilitador voluntário de estados holotrópicos de consciência no Instituto de Desenvolvimento Humano Céu na Terra (@ceunaterra.autoconhecimento) e Mestre Maçom da ARLS Jacques DeMolay, n°22 – GLMMG.

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Acredite: há vida inteligente na Maçonaria!

O debate sobre a probabilidade de existência de vida inteligente fora do planeta Terra é palpitante e povoa a mente de muita gente boa, em especial de pesquisadores e cientistas. Para os escritores e roteiristas de ficção científica, é um campo fértil.

No roçado da nossa política, a disputa entre as duas vertentes de maior destaque ainda inibe análises mais consistentes sobre alternativas que possam ensejar a descoberta de vida inteligente em outras agremiações não polarizadas, com propostas de mudanças que mereçam um olhar mais atento. Mas, isso é tema para as próximas eleições.

Na Maçonaria, a estratégia do distanciamento social adotado em decorrência da pandemia da Covid-19 abriu oportunidades para encontros por videoconferência, com a utilização das várias plataformas disponíveis, atenuando o impacto das restrições impostas a grande parte das atividades presenciais, que agora retomam a normalidade sob novas e promissoras perspectivas, inclusive com a incorporação do formato híbrido para reuniões de estudos.

Na experiência virtual, o ganho decorrente do compartilhamento de conhecimentos e informações promovidas pelos debates, palestras e comentários sobre as Instruções e outros temas correlatos é amplamente reconhecido na atualidade e abriu novas possibilidades de estreitamento dos laços de fraternidade e de pertencimento que representam a força da Maçonaria. Palestrantes e debatedores de peso se fizeram presentes e valorosos irmãos despontaram e vêm dando grande contribuição à democratização dos conhecimentos até então restritos a grupos esparsos de estudiosos. Um denominador comum em todos os eventos é o depoimento quase unânime: “aprendi mais nesses últimos três anos de maçonaria virtual[1] do que em toda a minha vida maçônica”.

É evidente que esse novo cenário permitiu, além da formação de uma banca de excelentes palestrantes, uma avaliação mais acurada dos variados perfis de debatedores/instrutores e formas de abordagem dos temas em discussão, permitindo comparar diferenças entre as ritualísticas adotadas pelas várias Lojas e Ritos, sem entrar no mérito dos arcanos da Ordem a serem preservados e respeitados os protocolos de cada Potência. Uma visão crítica sobre as formas de gestão das Lojas ganhou novos contornos no sentido de despertar nas novéis lideranças o desafio de acreditar no potencial da inteligência coletiva dos obreiros, já que ela não é restrita apenas a grupos “a caminho da extinção”, cujos membros ainda se apregoam os detentores da Verdade, donos da Oficina ou se consideram eternos nos respectivos cargos.  Não obstante a formalidade e competência dos irmãos na condução dos trabalhos nesses encontros virtuais, merece destaque o aguardado momento destinado às perguntas e comentários, o pinga fogo no ensejo de cada apresentação, com os palestrantes literalmente colocados contra a parede. Em decorrência da informalidade e descontração não permitidas em sessões ritualísticas presenciais, evidenciou-se um rico repertório de “causos” de irmãos mais audaciosos e profundos conhecedores dos meandros e bastidores da Arte Real, com habilidades e talentos para revelá-los em estilo dinâmico e descontraído, demonstrando que por trás da imagem de seriedade e sisudez que caracterizam os homens de terno preto há um vasto repertório de bom humor entranhado entre as colunas da sabedoria, da força e da beleza, que apenas aguarda o momento oportuno para acontecer. Como testemunhou um irmão em uma palestra recente:

“Lojas tristes, mal-humoradas e com clima de velório, onde visitantes não são recebidos com atenção e cordialidade e os obreiros entram mudos e saem calados, é para sacudir a poeira das sandálias e não mais retornar”.

Nos encontros virtuais, os melhores comentários ficam para o finalzinho, conhecido como “copo d’água”, quando não há eventual gravação e a quantidade de participantes diminui naturalmente, dado que um bom número se desliga assim que o palestrante termina sua apresentação. As observações mais contundentes ou sutilezas se constituem em valiosos pontos que merecem reflexão mais profunda. Os que permanecem até que o anfitrião feche a sala, comumente tachados de “fanáticos” pelos gozadores de plantão, não se acanham em proferir ressalvas quanto à leitura detalhada do currículo de alguns apresentadores, segundo os entendedores tão minuciosos que superam o tempo dedicado à apresentação em si. Mais revelações sensacionais colhidas seguem abaixo. Não interrompa a leitura aqui e descubra alguns segredinhos.

Há participantes que somente preenchem a lista de presenças e registram no “chat” pedido de cópia do trabalho e da gravação, se houver, para divulgação em sua Loja (será que divulgam?). Permanecem por alguns instantes e saem à francesa ou deixam a tela desligada para dedicarem-se a outros afazeres. Alguns mais geniais já chegaram a se vangloriar de terem assistido à duas ou mais palestras simultaneamente e terem feito perguntas em todas. Estes quando têm a oportunidade de se manifestar fazem outra palestra complementar e “se acham” ou desabafam, numa verdadeira “DR maçônica”. Há aqueles que somente aparecem quando presente(s) autoridade(s) de grosso calibre e pedem a palavra para tecer os mais rasgados elogios em exuberante ritual de deferência e bajulação. Não que não sejam merecidos, mas chegam a provocar constrangimentos em ouvidos mais sensíveis (“menos Batista, menos” – lembrando o personagem de Eliezer Motta).

Outros, mais irreverentes, comentam no “copo d’água” que determinados apresentadores devem pensar ou ter certeza de que os ouvintes são idiotas, pois não param de repetir velhos clichês de que “maçonaria não é religião”, ou de que “maçonaria não é cabala…não é alquimia…não é egípcia…não começou no Jardim do Éden”, e outras assertivas como: “não é permitido falar de política”, “não sejamos perjuros”, “Tiradentes não era maçom” etc., etc. e tal, como se isso fosse uma revelação em primeira mão e ninguém, exceto o próprio do alto de sua incomensurável sabedoria, soubesse disso. E daí as crucificações captadas nas entrelinhas, sempre com muito respeito, admiração e de forma bastante sutil: “quanta prolixidade”, “esse mano é meio guruzento”, “já estamos cansados de ouvir isso”, “é uma afronta à nossa inteligência”, “parece disco de vinil arranhado que sempre repete o mesmo ponto da gravação”, “esse(s) irmão(s) pensa(m) que não há vida inteligente na Maçonaria”, “pelo menos somos altruístas, tolerantes e bons ouvintes….mesmo assim valeu o aprendizado…..gratidão, gratidão, gratidão…”.

Quase ficava de fora: de vez em quando aparece um impatriota que nos faz lembrar certo complexo famoso definido pelo escritor e jornalista Nelson Rodrigues, afirmando que “maçonaria boa é a dos EUA ou da GLUI”. “Então, mude prá lá”, rebateu certa feita um destacado e querido irmão desprovido de estopim, mas sempre aplaudido pela sinceridade e bom coração. Desabafo chiquíssimo, já que o superlativo “chiquérrimo” ainda não foi recepcionado pela norma culta da língua portuguesa.

Evidentemente, permitimo-nos trazer essas observações colhidas nos debates, dizem “até fictícias”, com o devido respeito, imaginando que não terão maiores consequências, nem despertarão a ira de um irmão mais conservador ou daquele(s) que se reconheça(m) no perfil descrito. Ademais, se algum Maçom se deu ao trabalho de ler este texto até este parágrafo, rendemos-lhe nossos elogios e sinceros parabéns, pois, segundo dizem, apenas 10% dos que iniciaram a leitura chegaram até este ponto. É uma piada bem sem-graça de que Maçons não gostam de ler. Não concordamos! Essa reflexão constou de um artigo intitulado “O Bom Humor na Maçonaria”, publicado na extinta Revista Maçônica TRIÂNGULO, Ano II, Nº 5, de 23.03.2013, da GLMMG. Enfim, sem nos alongarmos, repercutindo a conclusão do citado artigo, e para não acelerar o processo de fadiga de material nesses novos tempos de reflexão “minuto”, fica um ensinamento da Organização Brahma Kumaris para aqueles que ainda veem o bom humor com certa desconfiança:

“A alegria reflete o frescor de tudo que é novo. Está sempre pronta para extrair o que há de bom em tudo, com a leveza de uma criança e a genialidade de um sábio. Não importa o que esteja acontecendo, sorria. O sorriso é a ponte que permite a aproximação dos corações ressentidos”.

O tempo que uma pessoa passa rindo é o tempo que ela passa com os deuses”. (Homero)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.


Nota

[1] Vide Artigo Maçonaria Virtual – ameaça ou oportunidade?, em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2023/02/28/maconaria-virtual-ameaca-ou-oportunidade/

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A imutabilidade dos landmarks sob questão

Todos sabemos do caráter de imutabilidade e irrevogabilidade com que são gravados os landmarks. Ela é determinada pelo último desses marcos, que regula a inalterabilidade dos anteriores, nada podendo ser-lhes acrescido ou retirado. Daí talvez o caráter de sagrado com que esses marcos são tratados por muitos irmãos, como se eles tivessem sido revelados a Mackey, assim como foram os dez mandamentos revelados a Moisés.

Felizmente, existem também irmãos que entendem que essa é uma obra do próprio Mackey e, por isso, podem ser questionados e até alterados, sem o cometimento de qualquer heresia.

Graças a este segundo entendimento, me permito fazer neste trabalho um questionamento que, para ser breve, restringirei apenas ao último desses marcos, o qual julgo ser o mais arbitrário da lista. Tal landmark, nas palavras de Mackey, afirma a inalterabilidade dos anteriores, nada podendo ser-lhes acrescido ou retirado, nenhuma modificação podendo ser-lhes introduzida. Assim como de nossos antecessores os recebemos assim os devemos transmitir aos nossos sucessores.

Meu primeiro argumento contra, baseia-se nos ensinamentos de um dos maiores pensadores de todos os tempos; o filósofo “pai do Iluminismo”, Immanuel Kant.  Segundo ele, a pedra de toque de tudo o que se pode decretar como lei sobre um povo reside na pergunta: poderia um povo impor a si próprio essa lei?”   

A validade desse preceito kantiano invalida a autoridade do último marco de Mackey pois, como nos apontam vários autores, o próprio Mackey criou e alterou alguns desses marcos. Portanto, conforme esse aforismo, se a regra não valeu para o próprio Mackey, não deveria valer para mais ninguém.

O segundo argumento eu o encontrei em uma instrução dos graus superiores de nossa própria Ordem. Nessa instrução, um dos monitores pergunta “que outras condições devem ter as Leis Constitucionais”. A resposta é que o próprio texto de uma constituição deve explicar clara e terminantemente a maneira de reformulá-las, quando o progresso exigir, pois o que em determinada época se criou bom, não o é em outras. Essa instrução deixa claro o caráter progressista da maçonaria, esclarecendo-nos que nada é para sempre, nem mesmo as leis constitucionais da ordem.

A esses dois argumentos, um de origem filosófica e outro de origem instrutiva, acrescento um último, definitivo, que é o cerne da filosofia e da doutrina maçônica: o uso da razão. E a razão, bem sabemos, não aceita imposição, não aceita autoridade, não aceita mandamentos. Portanto, não fica bem para a nossa ordem a imposição de uma regra, por si só, a nós, discípulos da razão! 

Portanto, se entendido que as duas primeiras premissas já invalidam tal landmark, a última é o tiro de misericórdia na pretensão de Mackey, de querer imutáveis e definitivos seus landmarks.

Sem qualquer pretensão, vou além: acredito que esses argumentos fragilizam toda defesa de inalterabilidade ou imutabilidade que possa existir em nossa ordem. Ou seja, nada deve estar imune a discussões, a confrontações, a debates, quando almejamos a verdade. E nada, a bem da preservação da própria instituição, deve resistir a mudanças necessárias quando uma razão muito bem apurada assim orientar.

Porém, antes de terminar, entendo que apesar do dito, deve-se grande justiça ao valoroso irmão Mackey. Considere-se o tempo em que tais landmarks foram promulgados; uma época de profundas e constantes transformações na sociedade europeia. Além dos reflexos da Revolução Francesa, as instituições também experimentavam grandes desafios lançados pela publicação do “Manifesto Comunista” e de “A Origem das Espécies”, obras que impuseram fortes provações aos paradigmas sociais e científicos da época. Foi nesse contexto conturbado, marcado por sérias transformações de toda origem, que Mackey se ocupou dessa complicada tarefa. Muito provavelmente, preocupado com toda aquela transformação de costumes, Mackey adotou essa medida conservadora, como forma de preservar o que ele argumentava ser a tradição da ordem. Ou seja, utilizou-se do conhecido “argumentum ad antiquitatem” (argumento da antiguidade), para fazer acreditar que, se algo sempre foi assim, não tinha por quer ser mudado.  Talvez uma falácia, mas que surtiu o efeito desejado, salvando nossa Ordem daquelas convulsões sociais, preservando-a até nossos dias.   

O que não vejo justificativa é para, ainda hoje, livres dos riscos do passado, existirem irmãos apressados a julgar hereges e quererem condenar ao fogo do inferno, qualquer outro que ouse discutir as regras de nossa ordem. Aos “inquisidores” de plantão, vale lembrar que a Maçonaria nos foi dada por homens, não por deuses!

Autor: Gilberto Duque

*Gilberto é Mestre Maçom da ARLS Águia das Alterosas – Nº 197, da GLMMG, Oriente de Belo Horizonte.

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Ferramentas do Aprendiz: até quando usá-las?

Ao profano, quando lhe é apresentando as ferramentas – maço, cinzel e o esquadro -, e lhe perguntado sobre a sua utilidade, a resposta será, sem dúvida alguma, para o uso na construção civil e, mais ainda, dirá também que tem mil e uma utilidades.

Mas, quando esse profano recebe a Luz da Verdade Maçônica, iniciado nos Augustos Mistérios da Maçonaria, e lhe é apresentado as mesmas ferramentas, a resposta será revestida de muito simbolismo. Certamente, o Iniciado Maçônico não terá toda a compreensão do real significado das ferramentas que utilizará na sua caminhada como Aprendiz.

Outra questão a se colocar sobre as ferramentas do Aprendiz, é: o Esquadro, o Maço e o Cinzel, dentro de toda a simbologia Maçônica, são ferramentas exclusivas do recém-chegado, iniciado, ex-profano, Aprendiz?

A resposta a esta questão, poderá ser abstraída da leitura dessa Peça de Arquitetura juntamente com a realidade evolutiva espiritual e moral de cada I∴M∴.

Na histórica Maçonaria Operativa, em sua origem, que remonta a Idade Média, as ferramentas mais utilizadas pelos construtores eram o maço, cinzel e o esquadro. Dessas, surgiram lindas construções, Catedrais, Palácios, Pontes e Castelos.

Esses construtores de sonhos, chamados pedreiros livres, tinham uma organização muito bem concebida. Entre eles, tinha uma hierarquia de conhecimentos os quais se respeitavam como irmãos, solidários e fraternos. Dentro desse organograma têm-se o Aprendiz, o Companheiro e o Mestre, cada qual com sua função; sendo que eles passaram a chamar a atenção de muitos intelectuais, e suas reuniões de ofícios eram frequentadas por muitos daqueles.

Não demorou muito para que os Maçons Operativos se virem sugados pela grande transformação que ocorria na Europa, a Revolução Industrial. Essa trouxe uma nova forma de ferramentas, as máquinas, que substituíam o trabalho manual. Assim, findando o século XVIII, o maçom operativo “não teve outra escolha a não ser se tornar operário fabril e trabalhar uma média de 80 horas por semana”. Desaparecendo em definitivo, restando a Maçonaria Especulativa que manteve a tradição de seus ensinamentos, a qual passou para um novo tipo de construção, “a construção de si mesmos!”. Surgem os Maçons Especulativos.

Isso mesmo! Em vez de usar o cinzel e o maço nas pedras para erguerem Catedrais, de agora em diante, irão usá-los em seu próprio corpo, representado pela P∴B∴, a qual deverá ser desbastada, esculpida e cinzelada, transformando em uma P∴C∴ (perfeição).

Finalizado esse ponto introdutório, chega-se ao simbolismo das ferramentas, as quais o Aprendiz Maçom deverá de agora até o final de sua existência física, (retornando para o Oriente Eterno, ao encontro do Grande Arquiteto do Universo), utilizar constantemente na sua lapidação, “Levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao Vício”.

As três ferramentas devem ser utilizadas em harmonia pois, se usadas separadas, não se alcança o fim desejado, qual seja: P∴ C∴.

A primeira ferramenta Maçônica do Aprendiz é o esquadro o qual tem como finalidade conferir a perfeição dos ângulos retos (virtuosos) da futura P∴C∴. Mas, o seu simbolismo nos leva a compreender que esta ferramenta também representa a equidade, a justiça e a retidão de caráter.

Já em relação as ferramentas maço e o cinzel, temos os instrumentos de lapidação da P∴B∴ que será transformada em P∴ C∴. Posto isto, o maço sendo uma espécie de martelo, representa a força, o peso, o desejo de trabalhar na dominação das paixões. O cinzel, sendo um instrumento pontiagudo e contundente, representa a inteligência, pois direcionado nas imperfeições da P∴B∴, controla a força do maço.

O Aprendiz sabendo de suas imperfeições, saberá utilizar o maço e o cinzel, direcionando este, nos pequenos como nos grandes vícios (morais). A força e a inteligência (maço e cinzel) e a retidão (esquadro) têm um poder transformador sobrenatural sobre as imperfeições humanas.

Mas, reportando a pergunta inicial dessa Peça de Arquitetura, na qual indagamos, as ferramentas do Aprendiz são exclusivas deste? A reposta é subjetiva a cada Ir∴, mas, podemos respondê-la também com outras perguntas:

Na passagem pelo Grau de Aprendiz, este não teve “boa-vontade” de utilizar corretamente as suas ferramentas, poderá ele utilizar, quando receber aumento de salário, passando ao Grau de Companheiro? Mas, neste Grau, também lhe faltou “boa-vontade” e não soube aproveitá-las, e agora já é M∴M∴, o que fazer? Posso utilizar as ferramentas que ficaram lá atrás (muito tempo) no meu início de Maçonaria? Não seria vergonhoso, agora um M∴M∴, usar um maço e cinzel? Mais ainda, já sou Grau 33, lembro ainda daquelas ferramentas tão brutas?

Não esqueçamos meus IIR∴, antes de responder a estas questões, na abertura dos trabalhos da Loja, o V∴M∴ faz a seguinte pergunta:

Para que nos reunimos aqui, Ir∴ 1° Vigilante?

– Para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros; para glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade; para promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade, levantando Templos à virtude e cavando masmorras ao vício.

Este é o objetivo maior de todo Maçom!

O grande escritor russo Liev Tolstói nos traz importante crítica, quando nos diz “Cada um pensa em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo”, ou seja, a lapidação é individual. LAPIDEMOS!

Autor: Antônio Marcos Teodoro Silva

A∴R∴L∴S∴ Adelino Ferreira Machado nº 1957 (GOB-GO)

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Referências

A eventual promiscuidade entre Maçonaria e poderes, sejam eles políticos, ou outros…

Qualquer sociedade dos tempos modernos é sujeita, de forma clara ou não, à influência de grupos organizados, que intencionalmente ou não procuram influenciar “a trajetória” em função dos seus interesses. Se um desses grupos puder ter um nome e esse nome for uns dos tradicionalmente identificados como “de risco”, então está criada uma mistura delicada, até porque será certamente visada pela comunicação social.

Assumo que sou maçom… e faço-o com a duplicidade de quem se sente orgulhoso de o ser, e de quem sente que quer dar… unicamente dar, sem estar a pedir que lhe deem. Infelizmente, a nossa sociedade parece não conseguir visualizar uma coisa sem a outra… possivelmente é a isto que chamam a sociedade materialista, traduzida naquela “famosa” frase – ninguém dá nada a ninguém.

Toda a polêmica que ocorre periodicamente, relacionando políticos com maçons ou maçons com interesses obscuros e/ou ilegais, é um claro sinal dos tempos em que vivemos – perdemos valores, perdemos a nossa capacidade crítica, engolimos tudo os que nos impingem, mas preferimos centrar-nos em identificar culpados, de preferência “culpados de estimação” [grifo nosso] – aqueles que podem sempre ser os responsáveis, até porque estão tão ocupados em fazer bem, que não têm tempo para se defender.

… e nada vende mais jornais do que uma boa “conspiração” orquestrada por uma organização de quem se sabe quase tudo, mas de quem se ignora quase tudo. A Maçonaria é uma dessas organizações: somos discretos, não fazemos alarde do que fazemos de bem, toda a gente acredita que temos uns segredos, que não temos; em resumo – é para desconfiar…

Não pretendo afirmar que todos os maçons são “impolutos”. Por mais apertado que seja o nosso método de seleção, procurando identificar homens cuja prioridade seja crescerem e tornarem-se Homens, haverá sempre alguns erros de “Casting”… pessoas que usam o que for preciso para seu benefício pessoal.

Contudo, esta incapacidade de ler as pessoas na sua totalidade, identificando as suas reais intenções, não deve e não pode levar a confundir o trigo com o joio [grifo nosso]. Um maçom, que o é de verdade, procura melhorar, ajudar, dar a mão… contribuir para um homem melhor e para uma sociedade melhor.

Compete-nos assegurar que assim é, e compete-nos impedir que a Arte Real seja utilizada para projetos individuais ou coletivos que nada tenham a ver conosco e com os ideais que defendemos.

Autor: Antônio Jorge

Fonte: A Partir Pedra

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Maçonaria, religião e política no Brasil

Discute-se neste ensaio a relação entre Igreja Católica e Maçonaria. Para tanto, toma-se como objeto a chamada Questão Religiosa, quando houve um embate entre as duas instituições, ocorrido no final do século XIX. Utiliza-se como fontes documentos produzidos pela Igreja Católica e por maçons. Ademais, faz-se o uso de bibliografia acerca do tema produzida por historiadores.

O recente debate eleitoral trouxe à tona a relação entre alguns candidatos e a Maçonaria, ressaltando-se o caráter supostamente antirreligioso dos maçons. Os comentários acerca do assunto, de diferentes origens e de conteúdos diversos, expressam um certo preconceito em relação aos maçons (BERGAMO, 2022). Os exageros e preconceitos são variados e, ainda que eventualmente possam ter algum elemento de verdade, expressam um conjunto de ideias equivocadas atribuídas à Maçonaria, em grande medida produzidas nos últimos séculos pela Igreja Católica. Desde o século XVIII são difundidas narrativas antimaçônicas, procurando desqualificar a Ordem, “relacionando sua origem e seus objetivos com tudo o que há de mais obscuro e contrastante com os valores morais, principalmente, no que se refere àqueles advindas da cultura cristã” (MOREL; SOUZA, 2008, p. 35).

Um dos acontecimentos de maior repercussão na história da Maçonaria no Brasil foi a chamada “Questão Religiosa”, cujo auge ocorreu nos anos 1872 e 1873, quando o padre José Luís de Almeida Martins, que era maçom, foi suspenso pelo bispo do Rio de Janeiro por ter participado como orador de uma festa comemorativa da promulgação da Lei do Ventre Livre organizada pelo Grande Oriente do Brasil (GOB). Em seu discurso, o padre “enalteceu a Maçonaria e o Grande Oriente do Brasil, pela obra realizada em prol da emancipação dos escravos no Brasil” (CASTELLANI, 2001, p. 107). O ato de suspensão do padre Martins contribuiu “para mobilizar toda a organização maçônica que, através do Parlamento e da imprensa, desencadeou uma verdadeira luta contra os adversários da liberdade de pensamento” (BARATA, 1999, p. 93).

O embate entre Igreja e Maçonaria envolveu inclusive o governo imperial, que, no auge da crise, ordenou a prisão dos bispos de Olinda, dom Vital Maria Oliveira, e do Pará, dom Antônio Macedo da Costa, pelo fato de exigirem “que as irmandades religiosas expulsassem os maçons de seus quadros e, como algumas destas se recusaram a tal medida, foram interditadas pelos bispos” (MOREL & SOUZA, 2008, p. 159). Como resposta, as irmandades apelaram ao governo imperial, que acatou o recurso. Os bispos se negaram a reconhecer a supremacia do poder secular do governo e, “diante da atitude dos bispos, expediu-se o mandado de prisão. D. Vital foi preso em janeiro e D. Macedo, em abril de 1874” (BARATA, 1999, p. 94). Os bispos, submetidos a julgamento, “foram condenados a quatro anos de prisão com trabalho forçado”, mas “no ano seguinte foram anistiados pelo Gabinete presidido por Caxias” (BARATA, 1999, p. 94).

Nessa disputa, a Igreja e a Maçonaria mobilizaram templos, escolas, clubes literários e até mesmo festas públicas, buscando sobrepor-se ao adversário. Em meio a esses embates, observa-se que “o número de padres maçons foi diminuindo gradativamente, a ponto de tornar-se aberração aos olhos da sociedade aquele que ousasse combinar a batina católica e o aventa de pedreiro-livre” (MOREL; SOUZA, 2008, p. 157). Os maçons entendiam que, quanto mais templos fossem fundados, mais conseguiriam “defender-se e contra-atacar a Igreja, fazendo seus discursos penetrarem no corpo social e na vida cotidiana” (MOREL; SOUZA, 2008, p. 160). Paralelo a isso, a Igreja intensificou o discurso que associava os maçons ao satanismo ou a imagens negativas. Nesse processo, “a luta maçônica contra o conservadorismo católico acabou por ganhar a simpatia dos segmentos liberais da sociedade, o que atraiu muitos desses homens para a iniciação” (MOREL & SOUZA, 2008, p. 160).

Esses embates se inserem num processo conhecido como romanização pelo qual passou a Igreja, nos séculos XIX e XX, constituindo-se em ações reformadoras de bispos, padres e congregações religiosas com objetivo de moldar o catolicismo conforme o modelo romano. No Brasil, nesse processo de “europeização” do catolicismo, “os sacramentos, a moralidade e a autoridade clerical suplantaram como principal eixo da vida da Igreja os rituais e organizações autônomos e de base laica” (SERBIN, 2008, p. 79). Para Kenneth Serbin (2008, p. 81), a romanização seria “modernização conservadora” do catolicismo, afinal,

ao mesmo tempo que representou a reação contra a modernidade foi também seu produto e sua promotora. Assim como socialismo e o nacionalismo, o catolicismo procurou construir novas formas de comunidade em face da destruição dos laços tradicionais pelo capitalismo internacional. No processo, o papado, acentuadamente fortalecido, procurou criar a unidade da comunidade católica no mundo todo.

A romanização, iniciada no pontificado de Pio IX (1846-1878), não é exclusiva ao catolicismo no Brasil, inserindo-se “num processo mais amplo de transformação do aparelho religioso católico em escala mundial” (OLIVEIRA, 1985, p. 292). Esse processo esteve marcado, entre outras coisas, pelo combate a “sociedades clandestinas que conspiravam contra a Igreja” (BENIMELI, 2013, p. 95). No pontificado de Pio IX levou-se a cabo uma política que condenava “o racionalismo, o socialismo, o comunismo, a Maçonaria, a separação entre a Igreja e o estado, o liberalismo, o programa e a civilização” (BARATA, 1999, p. 103).

Em palestra proferida em 1916, Everardo Dias analisou o Syllabus Errorum, promulgado em 1864 por Pio IX, que, entre outras coisas, afirmava que “os fiéis devem odiar os livres-pensadores, filósofos, naturalistas, racionalistas, revolucionários e reformistas”, que “estão possuídos do demônio e serão castigados com penas eternas os invasores e usurpadores dos direitos e das propriedades da Igreja”, que “são abortos do Inferno o Socialismo, o Comunismo, as sociedade secretas e bíblicas e as associações católico-liberais” e que, no caso “de oposição entre as leis das duas potências, civil e católica, deve prevalecer o direito eclesiástico” (DIAS, 1921, p. 72-3).

Everardo Dias discutiu o tema da relação entre igreja e Maçonaria em conferência realizada em uma loja maçônica em 1908. Dias (1921, p. 17) afirma que “a Maçonaria respeita todas as religiões e, no entanto, combate todos os fanatismos”. Segundo Everardo Dias, “o Maçom tem por fim essencial combater o fanatismo, o erro e a ignorância” (DIAS, 1921, p. 18). Para Dias (1921, p. 22), “o Catolicismo não aceita a igualdade nem entre os próprios sectários, nem neste nem no outro mundo (…) onde há lugares separados para os grandes e pequenos”, sendo que “para averiguar a diferença entre pequenos e grandes não é o grau de fé que regula, mas as posições sociais e a maior ou menor quantidade de esmolas para as confrarias”. Segundo Everardo Dias (1921, p. 23), o Catolicismo “ama a discórdia entre os povos, desde que lhe advenha proveito. Acima dos interesses sociais está o interesse da cúria ou do papa!”. Referindo-se ao enfrentamento entre os maçons e o clero, afirma:

A Maçonaria, que é o mais formidável adversário das tiranias, dos fanatismos, das intrujices, tem, forçosamente, que dar combate franco e decisivo ao Clericalismo que a insulta e difama desde os púlpitos das igrejas, pelos confessionários, pelos jornais, pelos livros e até na banca das escolas (DIAS, 1921, p. 24).

O papado de Leão XIII (1878-1903) deu seguimento às ações de Pio IX, em um “contexto marcado pelo fim dos Estados pontifícios e da Campanha pela Unificação Italiana, o que agravava ainda mais a situação da Maçonaria, que era identificada como uma das causadoras da usurpação dos Estados pontifícios” (BARATA, 1999, p. 104). Em 1884, na encíclica Humanum genus, Leão XIII constata que “a seita dos mações fez progressos incríveis. Empregando simultaneamente a audácia e a astúcia, invadiu ela todas as categorias da hierarquia social, e começa a assumir, no seio dos Estados modernos, um poder que equivale quase à soberania” (LEÃO XIII, 1955, p. 6). O documento associa a Maçonaria à “corrente naturalista”, pois esta defende que “em todas as coisas a natureza ou a razão devem ser soberanas”, fazendo pouco caso “dos deveres para com Deus” (LEÃO XIII, 1955, p. 10). Leão XIII afirma que aos maçons, “pela palavra, pela pena, pelo ensino, é permitido atacar os próprios fundamentos da religião católica” (LEÃO XIII, 1955, p. 11). No cenário político, o papa constata que os católicos estariam lidando

[…] com um inimigo astuto e fecundo em argumentos. Ele prima em fazer cócegas agradavelmente nos ouvidos dos príncipes e dos povos; tem sabido prender uns e outros pela doçura de suas máximas e pelo engodo das suas lisonjas (LEÃO XIII, 1955, p. 21).

Leão XIII parece estar se preparando para uma cruzada, associando a atuação da Maçonaria inclusive ao processo de revoluções ocorridas na Europa. Os críticos da ordem estabelecida, da qual fariam parte tanto socialistas como a Maçonaria e mesmo outros setores da sociedade, afirmariam que “foi a Igreja, foram os soberanos que sempre fizeram obstáculo a que as massas fossem arrancadas a uma servidão injusta, e libertadas da miséria” (LEÃO XIII, 1955, p. 21-2). Leão XIII defendia a necessidade de “fazer desaparecer o contágio impuro do veneno que circula nas veias da sociedade e a infeta toda”, promovendo “a glória de Deus e a salvação do próximo” (LEÃO XIII, 1955, p. 23).

Não havia no interior da Maçonaria uma forma única de encarar a Questão Religiosa ou mesmo a relação com a Igreja. Pode-se afirmar que esse conflito entre Igreja Católica e maçonaria “foi historicamente datado, não representava um antagonismo eterno. Não havia até então, apesar da animosidade do Vaticano e de setores eclesiásticos, incompatibilidade entre catolicismo e maçonaria no Brasil” (MOREL; SOUZA, 2008, p. 155). José Maria da Silva Paranhos, mais conhecido como Visconde do Rio Branco, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, afirmava haver uma especificidade da Maçonaria brasileira em relação aos seus congêneres europeus. Segundo ele, “se as lojas maçônicas europeias interferiam excessivamente nos aspectos ligados à religião e à política dos Estados, as lojas brasileiras se ocupavam precipuamente do aperfeiçoamento moral e intelectual do homem e de atos beneficentes” (BARATA 1999, p. 96-97). Essa concepção, que destacava o caráter apolítico e beneficente da Maçonaria, fortalecia as posições regalistas, que se estruturavam a partir da noção de subordinação da Igreja ao Estado. Essas posições se chocavam com os setores liberais da Maçonaria, liderados por Saldanha Marinho, para quem “a liberdade de consciência era incompatível com o regime de união entre Igreja e Estado” (BARATA 1999, p. 99).

Portanto, considerando o ocorrido na chamada Questão Religiosa, percebe-se que muitos dos elementos de crítica à Maçonaria por parte da Igreja permanecem na contemporaneidade. Contudo, como se percebe, são questões episódicas, considerando que, a despeito de não se associar a nenhuma religião diretamente, a Maçonaria, em teoria, não proíbe crenças dentro de suas lojas. Nas últimas décadas, ao desvelar o véu de mistério da Maçonaria, muitos pesquisadores acadêmicos foram capazes de mostrar a ordem como uma organização atuante política e socialmente no meio em que está inserida (SILVA, 2015). Esses elementos mostram a importância de se olhar os fenômenos sociais livre de preconceitos, procurando superar as representações quase ficcionais construídas nos dois últimos séculos, olhando os fenômenos em sua concretude e contradições.

Autor: Michel Goulart da Silva

Michel Goulart é técnico em assuntos educacionais do Instituto Federal Catarinense (IFC). Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail para contato: michelgsilva@yahoo.com.br

Fonte: SILVA, M. G. da . MAÇONARIA, RELIGIÃO E POLÍTICA NO BRASIL. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 12, n. 36, p. 14–18, 2022. DOI: 10.5281/zenodo.7482446. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/772. Acesso em: 7 mar. 2023.

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Referências

BARATA, A. M. Luzes e sombras: a ação da maçonaria brasileira (1870-1910). Campinas: Editora da Unicamp, 1999.

BENIMELI, J. F. La masonería. Madrid: Alianza, 2013.

BERGAMO, M. “Maçonaria repudia ‘produção imbecil’ de ‘informações falsas’ depois de vídeo de Bolsonaro”. Folha de São Paulo [2022]. Disponível em: <www.folha.uol.com.br>. Acesso em: 23/09/2022.

CASTELLANI, J. Ação secreta da maçonaria na política mundial. São Paulo: Editora Landmark, 2001.

DIAS, E. Semeando: palestras e conferências. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica da Escola Profissional Maçônica José Bonifácio, 1921.

LEÃO XIII. Sobra a Maçonaria. Petrópolis: Editora Vozes, 1955.

MOREL, M.; SOUZA, F. J. O. O poder da maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2008.

OLIVEIRA, P. Religião e dominação de classe: gênese, estrutura e função do catolicismo romanizado no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.

SERBIN, K. P. Padres, celibato e conflito social: uma história da Igreja católica no Brasil. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2008.

SILVA, M. G. Entre a foice e o compasso: imprensa, socialismo e Maçonaria na trajetória de Everardo Dias na primeira república (Tese de Doutorado em História). Florianópolis: UFSC, 2016.

SILVA, M. G. “Maçonaria e anticlericalismo no jornal O Livre Pensador”. Revista de Estudios Historicos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña, n. 12, 2019. SILVA, M. G. Maçonaria no Brasil: história, política e sociabilidade. Jundiaí: Paco Editorial, 2015.

Maçonaria Virtual – ameaça ou oportunidade?

Relembremos o início de 2020, quando a Maçonaria se sentiu seriamente ameaçada pela pandemia do coronavírus, com a suspensão das reuniões presenciais, com impactos na economia global, de vidas que se foram e o isolamento a que quase todos foram submetidos.

Por que o choque na Maçonaria seria diferente quando comparada às demais atividades? O que parecia ser especulação para um futuro distante, a pandemia encurtou os caminhos.

De plano ganhou corpo o recurso dos encontros por videoconferência, com a utilização das várias plataformas disponíveis, que atenuou o impacto das restrições impostas a grande parte das atividades presenciais.

No que foi possível, setores da sociedade passaram a trabalhar com novos cenários. O mundo deu continuidade, no que foi possível, ao que poderia ser feito por trás de uma tela, como uma nova referência, um marco na história.

Na Maçonaria, diversas Lojas souberam aproveitar a tecnologia e muitos irmãos atualizaram seus computadores pessoais e aparelhos celulares para acompanhar a nova forma de manter aquecidos os laços de fraternidade que representam a efetiva garantia da continuidade da Ordem.

Não se pode olvidar que boa parte dos irmãos resistiu em participar das reuniões por videoconferência, devido a uma série de motivos ou mesmo credos pessoais. Alguns fizeram propaganda contra, outros sustentaram posição crítica e Potências chegaram a condenar o acesso dos obreiros a qualquer formato de evento maçônico virtual. O achismo se revelou como a principal fonte das argumentações contrárias.

Um grupo visionário percebeu a oportunidade de explorar nova forma de manter o aprendizado em Loja, sem descurar dos cuidados em preservar a ritualística e os arcanos da Ordem, estes somente praticados em sessões presenciais e, com isso, várias reuniões de estudos foram oportunizadas, contando com a participação de obreiros regulares de Potências reconhecidas e de diferentes Orientes.

Na segunda metade de 2020, ganhou realce a fundação das lojas virtuais “Lux In Tenebris – Nº 47”, em 25 de setembro, ligada à Grande Loja de Rondônia (GLOMARON); e “Luz e Conhecimento – Nº 103”, em 5 de novembro, da Grande Loja do Pará (GLEPA). Ambas com sucesso de participantes semanalmente e de temas cativantes e discussões acaloradas, mas que sofreram ácidas críticas por parte de seus detratores. Foram vitoriosas e hoje colhem os frutos daquela ousadia.

Marco nos anais da Maçonaria no Brasil aconteceu no dia 21 de abril de 2021 com a fundação da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras (AMVBL), “com o propósito de integrar uma rede nacional de escritores maçons, voltada para o desenvolvimento da produção literária, tanto no campo maçônico, quanto na língua e literatura em geral”. Segundo seus idealizadores, como “fruto de uma concepção que busca acompanhar com responsabilidade as mudanças que estão ocorrendo em pleno século XXI, e que dialogam com as tendências de uma humanidade cujo uso de novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) são irreversíveis e se dinamizam em uma velocidade sem precedentes na história”. No 1º aniversário da AMVBL foi lançado o livro “Honra a quem Honra – Expoentes da Maçonaria Brasileira”, contendo a história sintetizada de grandes maçons que contribuíram cada um a seu modo para a elevação da cultura e fortalecimento da Ordem.

Iniciativa de grande repercussão foi a criação do “Grupo de Estudos Maçônicos” que teve seu primeiro calendário de atividades virtuais divulgado no primeiro semestre de 2021, com encontros semanais para discussão de conteúdo filosófico das instruções que compõem os três graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito, porém, como ressaltado acima, preservando os arcanos que somente podem ser estudados e comentados em Loja. Do grupo, como instrutores, participam membros das três Potências Regulares, deixando um legado incomensurável.

Merece destaque o grupo “Lives Maçônicas”, lançado em 20 de março de 2020, que promove reuniões virtuais todos os domingos às 19h00, com trabalhos apresentados por irmãos regulares do Brasil e do exterior, com o objetivo de “levar conteúdo maçônico de qualidade, credibilidade e realizar a interação dos irmãos através da tecnologia”. Na mesma linha, criado em 5 de agosto de 2020, o “Grupo Epaminondas Online” de estudos e pesquisas promove encontros virtuais nas manhãs de domingo, sempre às 8h00.

Vários grupos, Lojas e Academias Maçônicas de Letras, como as de Rondônia (AMLRO), Piracicaba (SP) e Mineira (AMML) seguiram a mesma iniciativa dos encontros por videoconferência e novas lojas maçônicas virtuais estão em fase de organização. A AMML já lançou dois volumes do livro “A Verdade dos Inconfidentes”.

Para fins de pesquisa, o Blog “O Ponto Dentro do Círculo” (https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/), desde 2015 divulga artigos sobre Maçonaria, Filosofia, História, Sociedade e Cultura e ganhou ainda mais fôlego, tendo ultrapassado a marca de mais de dois milhões e cem mil visualizações. No seu acervo constam mais de 1.700 postagens de artigos e trabalhos selecionados, publicações do JB News, outros periódicos maçônicos, podcasts, além de sugestões de leitura na aba “Biblioteca”. Na mesma linha, o “Blog do Pedro Juk” (http://pedro-juk.blogspot.com/), fonte de referência para maçons de todos os Ritos. Dezenas de outros sites sobre Maçonaria ganharam projeção durante a pandemia da Covid-19 e agora estão consolidados e prestigiados.

Mundo afora, o formato virtual está bombando. Na prática, testemunhou-se a expansão dos Templos, fazendo acontecer uma revolução na direção da integração de maçons de todas as Potências, de uma forma impensável até há pouco tempo, envolvendo Oficinas de todos os rincões do Brasil, inclusive do exterior. Com isso, um novo “Landmark” temporal, um moderno ciclo foi instituído e parece improvável o retorno ao status quo ante, com as inquestionáveis vantagens da acessibilidade e da comodidade.

Tal experiência fez valer a assertiva de que o verdadeiro Templo Maçônico não se constitui de pedra e madeira, mas com os elementos morais erguidos no coração de cada Maçom, como destacado em momentos de introspecção na abertura de muitos trabalhos virtuais. Ademais, com a retomada das reuniões presenciais, o instrumento continua sendo utilizado como ferramenta complementar do tempo de estudos e compartilhamento de experiências e conhecimentos úteis.

Desnecessário tecer maiores reflexões já recorrentes sobre a importância de participar, marcar presença, ou daquela expressão “quem não é visto não é lembrado”, mesmo em reuniões virtuais, criando-se uma rede consolidada de irmãos regulares que atualmente torna mais próximos obreiros dos mais longínquos Orientes, promovendo novos vínculos e ajuda mútua em situações mais complexas, fazendo valer o sentido da fraternidade na sua acepção maior.

 Atualmente, muitas Lojas são questionadas sobre o que fizeram nessa travessia e já se comenta sobre a defasagem entre os que deram continuidade aos estudos e na integração proporcionada pelas reuniões virtuais e os que permaneceram acomodados ou resistiram às oportunidades oferecidas.

Segundo uma sábia expressão hermética, “quando tudo parece perdido é quando tudo será salvo”, portanto, não era o que todos queriam, mas era o que se oferecia naquele momento! Aqueles que souberam aproveitar, não se arrependeram. Fizeram do limão uma limonada, preservando as tradições e expandiram os saberes e as redes de relacionamentos.

A triste e verdadeira ameaça virtual ganhou destaque por intermédio das ciladas engendradas por um grupo de oportunistas que passaram a explorar os incautos, representada pela maçonaria espúria, irregular e clandestina, adotando uma espécie de “vale-tudo” para atrair os desavisados e tirar o sossego e dinheiro daqueles que não sabem separar o joio do trigo. Essas organizações gananciosas investem em propagandas, almoços e jantares, convites para “reuniões brancas” e homenagens. As Potências Regulares (CMSB, GOB e COMAB) precisam urgentemente criar mecanismos de integração e controle que orientem seus obreiros para sanar eventuais dúvidas que possam surgir no processo de esclarecimento aos novos candidatos e campanhas públicas carecem ser divulgadas nos meios de comunicação disponíveis.

Aos gestores cumpre, enfim, o dever de enfrentar os temas mais polêmicos que nossas Lojas presenciais ainda resistem em colocar na Ordem do dia. Para isso, nossas Potências precisam rever o arcabouço regulamentar e reescrever suas Constituições e Regulamentos de forma a retirar referências a documentos históricos ultrapassados, alguns verdadeiros entulhos que ensejam um descompasso evolutivo e criam barreiras à tentativa de irmãos que vislumbram novo protagonismo para a moderna Maçonaria, no sentido de que esta assuma postura mais executiva ao promover discussões internas de pautas de interesse da sociedade e promover debates públicos que favoreçam o direcionamento da inteligência dos obreiros para a solução e encaminhamento de questões políticas e sociais, mostrando a competência e a força moral da Maçonaria.

“Aprendi que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu” (Shakespeare).

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

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