Relembremos o início de 2020, quando a Maçonaria se sentiu seriamente ameaçada pela pandemia do coronavírus, com a suspensão das reuniões presenciais, com impactos na economia global, de vidas que se foram e o isolamento a que quase todos foram submetidos.
Por que o choque na Maçonaria seria diferente quando comparada às demais atividades? O que parecia ser especulação para um futuro distante, a pandemia encurtou os caminhos.
De plano ganhou corpo o recurso dos encontros por videoconferência, com a utilização das várias plataformas disponíveis, que atenuou o impacto das restrições impostas a grande parte das atividades presenciais.
No que foi possível, setores da sociedade passaram a trabalhar com novos cenários. O mundo deu continuidade, no que foi possível, ao que poderia ser feito por trás de uma tela, como uma nova referência, um marco na história.
Na Maçonaria, diversas Lojas souberam aproveitar a tecnologia e muitos irmãos atualizaram seus computadores pessoais e aparelhos celulares para acompanhar a nova forma de manter aquecidos os laços de fraternidade que representam a efetiva garantia da continuidade da Ordem.
Não se pode olvidar que boa parte dos irmãos resistiu em participar das reuniões por videoconferência, devido a uma série de motivos ou mesmo credos pessoais. Alguns fizeram propaganda contra, outros sustentaram posição crítica e Potências chegaram a condenar o acesso dos obreiros a qualquer formato de evento maçônico virtual. O achismo se revelou como a principal fonte das argumentações contrárias.
Um grupo visionário percebeu a oportunidade de explorar nova forma de manter o aprendizado em Loja, sem descurar dos cuidados em preservar a ritualística e os arcanos da Ordem, estes somente praticados em sessões presenciais e, com isso, várias reuniões de estudos foram oportunizadas, contando com a participação de obreiros regulares de Potências reconhecidas e de diferentes Orientes.
Na segunda metade de 2020, ganhou realce a fundação das lojas virtuais “Lux In Tenebris – Nº 47”, em 25 de setembro, ligada à Grande Loja de Rondônia (GLOMARON); e “Luz e Conhecimento – Nº 103”, em 5 de novembro, da Grande Loja do Pará (GLEPA). Ambas com sucesso de participantes semanalmente e de temas cativantes e discussões acaloradas, mas que sofreram ácidas críticas por parte de seus detratores. Foram vitoriosas e hoje colhem os frutos daquela ousadia.
Marco nos anais da Maçonaria no Brasil aconteceu no dia 21 de abril de 2021 com a fundação da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras (AMVBL), “com o propósito de integrar uma rede nacional de escritores maçons, voltada para o desenvolvimento da produção literária, tanto no campo maçônico, quanto na língua e literatura em geral”. Segundo seus idealizadores, como “fruto de uma concepção que busca acompanhar com responsabilidade as mudanças que estão ocorrendo em pleno século XXI, e que dialogam com as tendências de uma humanidade cujo uso de novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) são irreversíveis e se dinamizam em uma velocidade sem precedentes na história”. No 1º aniversário da AMVBL foi lançado o livro “Honra a quem Honra – Expoentes da Maçonaria Brasileira”, contendo a história sintetizada de grandes maçons que contribuíram cada um a seu modo para a elevação da cultura e fortalecimento da Ordem.
Iniciativa de grande repercussão foi a criação do “Grupo de Estudos Maçônicos” que teve seu primeiro calendário de atividades virtuais divulgado no primeiro semestre de 2021, com encontros semanais para discussão de conteúdo filosófico das instruções que compõem os três graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito, porém, como ressaltado acima, preservando os arcanos que somente podem ser estudados e comentados em Loja. Do grupo, como instrutores, participam membros das três Potências Regulares, deixando um legado incomensurável.
Merece destaque o grupo “Lives Maçônicas”, lançado em 20 de março de 2020, que promove reuniões virtuais todos os domingos às 19h00, com trabalhos apresentados por irmãos regulares do Brasil e do exterior, com o objetivo de “levar conteúdo maçônico de qualidade, credibilidade e realizar a interação dos irmãos através da tecnologia”. Na mesma linha, criado em 5 de agosto de 2020, o “Grupo Epaminondas Online” de estudos e pesquisas promove encontros virtuais nas manhãs de domingo, sempre às 8h00.
Vários grupos, Lojas e Academias Maçônicas de Letras, como as de Rondônia (AMLRO), Piracicaba (SP) e Mineira (AMML) seguiram a mesma iniciativa dos encontros por videoconferência e novas lojas maçônicas virtuais estão em fase de organização. A AMML já lançou dois volumes do livro “A Verdade dos Inconfidentes”.
Para fins de pesquisa, o Blog “O Ponto Dentro do Círculo” (https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/), desde 2015 divulga artigos sobre Maçonaria, Filosofia, História, Sociedade e Cultura e ganhou ainda mais fôlego, tendo ultrapassado a marca de mais de dois milhões e cem mil visualizações. No seu acervo constam mais de 1.700 postagens de artigos e trabalhos selecionados, publicações do JB News, outros periódicos maçônicos, podcasts, além de sugestões de leitura na aba “Biblioteca”. Na mesma linha, o “Blog do Pedro Juk” (http://pedro-juk.blogspot.com/), fonte de referência para maçons de todos os Ritos. Dezenas de outros sites sobre Maçonaria ganharam projeção durante a pandemia da Covid-19 e agora estão consolidados e prestigiados.
Mundo afora, o formato virtual está bombando. Na prática, testemunhou-se a expansão dos Templos, fazendo acontecer uma revolução na direção da integração de maçons de todas as Potências, de uma forma impensável até há pouco tempo, envolvendo Oficinas de todos os rincões do Brasil, inclusive do exterior. Com isso, um novo “Landmark” temporal, um moderno ciclo foi instituído e parece improvável o retorno ao status quo ante, com as inquestionáveis vantagens da acessibilidade e da comodidade.
Tal experiência fez valer a assertiva de que o verdadeiro Templo Maçônico não se constitui de pedra e madeira, mas com os elementos morais erguidos no coração de cada Maçom, como destacado em momentos de introspecção na abertura de muitos trabalhos virtuais. Ademais, com a retomada das reuniões presenciais, o instrumento continua sendo utilizado como ferramenta complementar do tempo de estudos e compartilhamento de experiências e conhecimentos úteis.
Desnecessário tecer maiores reflexões já recorrentes sobre a importância de participar, marcar presença, ou daquela expressão “quem não é visto não é lembrado”, mesmo em reuniões virtuais, criando-se uma rede consolidada de irmãos regulares que atualmente torna mais próximos obreiros dos mais longínquos Orientes, promovendo novos vínculos e ajuda mútua em situações mais complexas, fazendo valer o sentido da fraternidade na sua acepção maior.
Atualmente, muitas Lojas são questionadas sobre o que fizeram nessa travessia e já se comenta sobre a defasagem entre os que deram continuidade aos estudos e na integração proporcionada pelas reuniões virtuais e os que permaneceram acomodados ou resistiram às oportunidades oferecidas.
Segundo uma sábia expressão hermética, “quando tudo parece perdido é quando tudo será salvo”, portanto, não era o que todos queriam, mas era o que se oferecia naquele momento! Aqueles que souberam aproveitar, não se arrependeram. Fizeram do limão uma limonada, preservando as tradições e expandiram os saberes e as redes de relacionamentos.
A triste e verdadeira ameaça virtual ganhou destaque por intermédio das ciladas engendradas por um grupo de oportunistas que passaram a explorar os incautos, representada pela maçonaria espúria, irregular e clandestina, adotando uma espécie de “vale-tudo” para atrair os desavisados e tirar o sossego e dinheiro daqueles que não sabem separar o joio do trigo. Essas organizações gananciosas investem em propagandas, almoços e jantares, convites para “reuniões brancas” e homenagens. As Potências Regulares (CMSB, GOB e COMAB) precisam urgentemente criar mecanismos de integração e controle que orientem seus obreiros para sanar eventuais dúvidas que possam surgir no processo de esclarecimento aos novos candidatos e campanhas públicas carecem ser divulgadas nos meios de comunicação disponíveis.
Aos gestores cumpre, enfim, o dever de enfrentar os temas mais polêmicos que nossas Lojas presenciais ainda resistem em colocar na Ordem do dia. Para isso, nossas Potências precisam rever o arcabouço regulamentar e reescrever suas Constituições e Regulamentos de forma a retirar referências a documentos históricos ultrapassados, alguns verdadeiros entulhos que ensejam um descompasso evolutivo e criam barreiras à tentativa de irmãos que vislumbram novo protagonismo para a moderna Maçonaria, no sentido de que esta assuma postura mais executiva ao promover discussões internas de pautas de interesse da sociedade e promover debates públicos que favoreçam o direcionamento da inteligência dos obreiros para a solução e encaminhamento de questões políticas e sociais, mostrando a competência e a força moral da Maçonaria.
“Aprendi que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu” (Shakespeare).
Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

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