Chama sagrada no REAA?

Em lugar algum é mencionada essa tal de “chama sagrada” no Ritual do REAA⸫do GOB. Aliás, em se tratando do REAA⸫, em nenhum ritual autêntico essa “chama” será encontrada.

Não confundir com o que prescreve o manual de Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR 2016 quando menciona, caso as luzes do candelabro ainda não forem elétricas, a existência de uma vela auxiliar acesa apenas e tão somente para ajudar o Mestre de Cerimônias no acendimento das respectivas Luzes que vão sobre o Altar ocupado pelo Venerável Mestre e nas mesas ocupadas pelos Vigilantes.

Ora isso não é e nunca foi “chama sagrada”, pois se assim fosse então o que aconteceria nas Lojas que adotam essas Luzes alimentadas por lâmpadas elétricas conforme também prevê o ritual? Acaso existiria um “interruptor sagrado” para essa oportunidade? 

Essa estória de chama sagrada não existe no Rito em questão, embora ainda alguns insistam nesse anacronismo, inclusive desrespeitando o que prescreve o ritual em vigência.

Na realidade essa vela acesa foi colocada no Rito Escocês apenas no intuito de facilitar os trabalhos para as Lojas que ainda não adotaram lâmpadas elétricas adequadas ao candelabro. Nesse caso a intenção foi a de dar celeridade à prática ritualística, mas desafortunadamente alguns viram nela uma espécie de “luz emanada do divino”, provavelmente por “achar” bonito as práticas litúrgicas de outro Rito onde originariamente existe um cerimonial específico de acendimento das velas.

Lojas onde porventura as Luzes já sejam lâmpadas elétricas, obviamente essa vela auxiliar nem existe.

Vamos às questões: 

Como ela não existe, não há o porquê de existir um lugar para algo inexistente. 

Alguns teimam que é sobre o Altar dos Perfumes, cujo qual é outro elemento que só serviu para ocasião em que o Templo foi consagrado quando recebeu a dignidade para os trabalhos maçônicos. 

Infelizmente, o Altar dos Perfumes permaneceu e acabou dando vazão às invenções como se ele servisse para se colocar a chama sagrada ou ainda receber incensos (tudo coisas nulas no simbolismo do REAA⸫).

Se fosse o caso do Rito Adonhiramita onde existe a cerimônia de acendimento das Luzes, até teríamos uma interpretação, mas como ela não existe no escocesismo simbólico, não há nenhum comentário e nem uma avaliação que meça a sua importância para os trabalhos. 

Como ela não existe no Rito em questão, a resposta fica prejudicada. 

A título de esclarecimento, note que no manual de Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR, quando existe menção a respeito da “vela auxiliar”, assim que ela tiver cumprido o seu objetivo, o Mestre de Cerimônias, sem nenhuma cerimônia, simplesmente a apaga porque ela não é luz litúrgica. 

Do mesmo modo, pela sua inexistência, não há resposta para tal. 

Entretanto é oportuno mencionar que o Altar não é “do” Venerável Mestre, porém é por ele ocupado – esse Altar é parte do mobiliário da Loja. 

Do mesmo modo que não existe essa “chama sagrada”, também não existe no REAA⸫ cerimonial de acendimento de velas, senão um ordenamento prático para a abertura e encerramento dos trabalhos. 

A propósito, no verdadeiro escocesismo essas Luzes deveriam ser acesas pelo Arquiteto antes do início dos trabalhos e por ele apagadas depois da retirada dos Irmãos do recinto. 

As luzes litúrgicas representam as Luzes da Loja, ou as Luzes Menores. Esotericamente, sem nenhuma crendice, elas concebem de acordo com o número delas acesas a evolução do Obreiro.

Assim, não há cerimonial, apenas elas são acesas conforme o Grau. 

O que prova que não existe cerimônia de acendimento é que quando elas forem lâmpadas elétricas, cada titular acende e apaga a sua.

Ratifico, cerimônia de acendimento de Luzes é própria de outro Rito, nunca do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Eram essas as considerações devidas, lembrando que a pura Maçonaria desconhece arguições que envolvem crendices que possam transformar o ambiente maçônico em um palco de proselitismo religioso. Que cada um busque na sua religião a sua necessidade de fé. Destaco que existem inúmeros ritos maçônicos e suas liturgias específicas que se adequam à diversidade do pensamento. Antes dos enxertos ritualísticos, que cada qual ocupe seu lugar conforme o que melhor lhe aprouver.

Autor: Pedro Juk

Fonte: Blog do Pedro Juk

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O Rito de Heredom ou Perfeição, berço do REAA

O Rito de Heredom ou Perfeição - Freemason.pt

Antes de tentarmos entender o Rito Escocês Antigo e Aceito, faz-se necessário abordarmos aquele que lhe serviu de berço – O Rito de Heredom ou Rito de Perfeição.

Através de estudos, foi-nos possível compilar as suas peculiaridades, porém estamos certos que, ainda, encontramo-nos muito longe de esgotar toda a sua história. Este trabalho é, apenas, um atrativo, para que o leitor se encaminhe na sua pesquisa e, consequentemente, entenda a origem dos Altos Graus maçônicos.

Entre as lendas do início das origens dos Altos Graus, aparece o Cavaleiro de Ramsay (André-Michel Ramsay – 1686-1743), homem erudito, nascido na Escócia, partidário dos Stuarts, protegido do Bispo de Fenelon, com ligações em todas as cortes da Europa, ao qual se atribui ter sido o inspirador da criação dos Graus Superiores e ter ajudado a elaboração dos Graus Simbólicos.

O seu famoso discurso, escrito em 1737, mas que, talvez, nunca tenha sido lido em qualquer Loja, ou apresentado em qualquer assembleia de Maçons, podendo, até, ser apócrifo, segundo alguns autores, pois acredita-se que haja, pelo menos, quatro versões do mesmo, foi distribuído, fartamente, em todas as Lojas da França e países vizinhos.

Neste documento, Ramsay faz a apologia de que a Maçonaria seria originária dos Templários, o que não é verdade (grifo do blog); tece comentários, pela primeira vez, enfatizando hierarquia na Ordem; proclama o ideal maçônico na Fraternidade e num mundo sem fronteiras, tentando impingir uma falsa antiguidade e nobreza à Maçonaria (grifo do blog).

Fez uma proposta às Lojas inglesas, para acrescentarem mais três Graus aos já existentes (Mestre Escocês, Noviço e Cavaleiro do Templo). A Maçonaria inglesa rejeitou. Estes três Graus teriam sido, segundo Ragon, criados por Ramsay.

Fez uma proposta às Lojas francesas, para que se acrescentassem mais sete Graus Suplementares. Também, não foi aceito. Mas, de qualquer forma, a partir daí, começaram as introduções templárias e rosacrucianas, e os Altos Graus começaram a aparecer. Muitos autores não aceitam este fato, rejeitam a participação de Ramsay. Entretanto, outros, como Ragon, apoiam-na.

Segundo Paul Naudon, o fato mais importante, acontecido após o polêmico discurso de Ramsay, foi a criação do Capítulo de Clermont pelo Cavaleiro de Bonneville, em 1754. Os Irmãos, que criaram este Corpo, pretendiam continuar os mesmos princípios da Loja de Saint-Germian-en-Laye, fundada muito tempo antes, ou seja, praticar os Altos Graus, criando sete Graus e opondo-se à política da Grande Loja da França, a qual seria, posteriormente, dissolvida em 24 de Dezembro de 1772.

O Capítulo de Clermont teve uma duração efémera, mas valeu pelas consequências, pois uma das suas ramificações, através de Pirlet, em Paris, em 1758, criou o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente da Grande e Soberana Loja Escocesa de São João de Jerusalém, a qual foi a mais importante das potências escocesas, no século XVIII, organizando um Rito chamado Rito de Perfeição ou de Heredom.

Em 1761, o Conselho de Imperadores teria fornecido, através do Irmão Chaillon de Joinville, substituto Geral da Ordem, e mais oito Irmãos da alta hierarquia, que, também, teriam assinado o documento, uma patente constitucional de Grande Inspetor do Rito de Perfeição ao Irmão Etienne ou Stephen Morin, autorizando-o a estabelecer e perpetuar a Sublime Maçonaria em todas as partes do mundo e investindo-o de poderes de sagrar novos Inspetores.

Foi criado um sistema de Altos Graus, impondo-lhe o limite de 25, resolução, que seria, oficialmente, inscrita nos seus estatutos, segundo Mellor, em 1762. Neste ano, sob os auspícios desse Conselho, foram publicados os Regulamentos e Constituição da Maçonaria de Perfeição, elaborados por nove comissários (Constituição de Bordeaux, em 21 de setembro de 1762).

Os seus membros, conhecedores de várias tradições místicas e gnósticas antigas, trouxeram para este Corpo Maçônico as influências templárias, rosacrucianas e egípcias, além de se dizerem herdeiros dos Ritos de Clermont e das correntes escocesas de Kilwinning e Heredom. Estava, assim, decretada a influência esotérica na Ordem.

Chegado à colônia francesa de São Domingos (hoje, Haiti), no mesmo ano, pôs-se a trabalhar. Há fortes suspeitas de que esse documento seja fraudulento. Também, segundo muitos autores, Etienne teria comercializado esses Altos Graus. Na realidade, o Rito de Perfeição ficou muito mal trabalhado durante mais ou menos trinta anos. Foi esquecido o seu conteúdo esotérico e a sua ritualística muito mal usada. Mas, de qualquer forma, os americanos aceitaram muito bem o Rito e ainda acharam que os vinte e cinco Graus eram insuficientes para abranger toda a iniciática maçônica.

Morin teria entregado certificados ou carta patente a outros Irmãos, e um deles foi um Irmão de nome Henry A. Francken, também, de origem judaica, que teria estabelecido o Rito em Nova York. Outro grupo introduziu o Rito em Charleston, em 1783.

Na mesma colônia francesa de São Domingos (Haiti), alguns anos mais tarde, apareceram os maçons, o Conde Alexandre François Auguste de Grasse Tilly e o seu sogro Jean Baptiste Delahogue, os quais, posteriormente, em 1793, mudaram-se para Charleston. Grasse Tilly já tinha pensado em fundar um Supremo Conselho nessa cidade. Lá encontraram mais dois Maçons: Frederik Dalcho e John Mitchel.

A Maçonaria norte-americana, ainda era muito incipiente, pois a sua história tinha menos de 30 anos. Este rito foi chamado de Rito de Perfeição, ou de Heredom. Tanto é verdade, que o rito, cujo primeiro Supremo Conselho foi criado em 1801, em Charleston, Carolina do Sul, EUA, foi chamado, inicialmente, de Rito dos Maçons Antigos e Aceitos (apenas), com 22 graus, os do Rito de Perfeição, ou de Heredon. E são os seguintes os graus do Heredom:

Primeira Classe  

  1. Aprendiz
  2. Companheiro
  3. Mestre;

Segunda Classe

  1. Mestre Eleito
  2. Mestre Perfeito
  3. Secretário Íntimo
  4. Intendente dos Edifícios
  5. Preboste e Juiz;

Terceira Classe

  1. Mestre Eleito dos Nove
  2. Mestre Eleito dos Quinze
  3. Ilustre Eleito das Doze Tribos;

Quarta Classe

  1. Grande Mestre Arquiteto
  2. Cavaleiro do Real Arco
  3. Grande Eleito, Antigo Mestre Perfeito;

Quinta Classe

  1. Cavaleiro da Espada ou do Oriente
  2. Príncipe de Jerusalém
  3. Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
  4. Cavaleiro Rosa- Cruz;

Sexta Classe

  1. Grande Pontífice, ou Mestre Ad Vitam
  2. Grande Patriarca Noaquita
  3. Grande Mestre da Chave da Maçonaria
  4. Príncipe do Líbano ou Real Machado;

Sétima Classe

  1. Cavaleiro do Sol, ou Príncipe Adepto, Chefe do Grande Consistório
  2. 24. Ilustre Cavaleiro Grande Comendador da Águia Branca e Negra, Grande Eleito Kadosh
  3. Mui Ilustre Soberano Príncipe da Maçonaria, Grande Cavaleiro Sublime Comendador do Real Segredo.

Qualquer semelhança com o R∴ E∴ A∴ A∴  não é mera coincidência!

A decadência do Rito de Perfeição, com 25 graus, a partir do ano de 1771, perdendo caoticamente a sua forma original no hemisfério Ocidental, fez com que, em 1795, dois franceses, sogro e genro, que chegaram a Charleston, Carolina do Sul, USA, Alexander Francisco – Conde Crasse de Rouville, Marques de Tilly e João Batista Noel Maria De La Hogue tomando como base legal a Constituição Maçônica, promulgada em 1786, pelo rei Frederico II da Prússia [NT], e contando com auxílio de diversos deputados franceses e alemães, criassem os novos graus do Rito.

Existem autores que afirmam que Dalcho teve a ideia de criar mais oito Graus, enquanto outros sustentam que, o último Grau, Grasse Tilly criou.

Que este breve texto sirva de incentivo aos praticantes do REAA  a pesquisarem mais sobre a origem do Rito e, posteriormente, colocassem em pauta as diversas alterações que, quase que diariamente, são impostas, por “achismo”.

Boa pesquisa a todos!

Autor: Francisco Feitosa

Fonte: Freemason

Nota do Blog

Sobre a suposta Constituição Maçônica, promulgada em 1786, pelo rei Frederico II da Prússia, clique AQUI para ler o artigo Frederico II e as Grandes Constituições de 1786, de autoria de William Almeida de Carvalho.

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Os ritos perdidos da Era das Luzes

Iluminismo - Idade Moderna Século XVII - XVIII

Em meu livro A Gênesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), propus como o filósofo natural e maçom Dr. Jean Theophilus Desaguliers foi responsável pela criação do terceiro grau em meados da década de 1720. Antes disso, havia duas “partes” sendo executadas; o Aprendiz e o Companheiro, e temos poucas evidências de como eram[1]. No entanto, sabemos que essas duas ‘partes’ eram frequentemente realizadas na mesma reunião da Loja, com evidências das primeiras atas da Loja Old York indicando como uma loja poderia ser aberta em outra cidade, especialmente para admitir um grande número de candidatos, como em Scarborough em 1705 quando uma loja foi aberta para admitir seis homens na Fraternidade, e em Bradford em 1713, onde 18 homens foram registrados como sendo admitidos[2].

De fato, para apoiar ainda mais o fato de que havia apenas duas ‘partes’ na Maçonaria nesta época, afirma nas Antigas Obrigações exibidas nas Constituições de Anderson de 1723 que ‘Nenhum irmão pode ser Vigilante até que tenha passado pelo papel de um Companheiro do Ofício’, indicando que a parte do Companheiro era o ‘grau’ sênior que permitia ao Maçom participar de um Ofício, se desejasse. Na edição de 1738 das Constituições, a redação deste encargo particular foi alterado para “Os Vigilantes são escolhidos entre os Mestres Maçons”, sugerindo que o terceiro grau de Mestre Maçom já havia sido introduzido e as Constituições deveriam ser atualizadas. Em 1730, a publicação da exposição de Samuel Pritchard, Maçonaria Dissecada, revelou o ritual de três graus, e parecia que este novo sistema tinha se tornado muito popular de fato.[3].

O novo ritual no estilo de três graus logo se espalhou, mesmo sendo referido pelo Dr. Francis Drake em sua agora famosa Oração, feita no Dia de São João, 27 de dezembro de 1726 no Merchant Adventurer’s Hall em York, onde ele afirmou que ‘três partes em quatro de toda a Terra pode então ser dividido em e: p: f: c & m: m.’ [4]. Os temas do terceiro grau exploraram profundamente a busca pelo conhecimento perdido; o grau que retrata a busca pela palavra perdida de Deus que estava escondida na arquitetura do Templo de Salomão. Com a morte simbólica de Hiram Abiff, esse conhecimento foi perdido[5]. Parecia que os maçons logo quiseram explorar caminhos mais profundos dentro da Maçonaria, levando ao desenvolvimento de novas ideias. Ramsey era um maçom jacobita que fora à França para dar aulas aos filhos de aristocratas e, em seu discurso maçônico em 1737, descreveu a famosa Maçonaria que estava ligada aos cruzados e às ordens cavalheirescas. Seu discurso afirmava que, depois de preservada nas Ilhas Britânicas, foi transportada para a França e, embora não haja evidências de que a Maçonaria tenha sido associada de alguma forma aos Cruzados ou Cavalaria, mostra que neste momento havia um interesse crescente em Ordens de Cavalaria em relação à Maçonaria. Embora Ramsey não tenha estabelecido planos para novas Ordens Maçônicas Cavalheiras em seu “discurso”, ele certamente ajudou a inspirá-las[6].

Em 1733, parece ter havido uma reunião da Loja de Maçons Escoceses (Scotts Masons Lodge) na Taverna do Diabo (Devil Tavern) em Londres, com um Mestre Escocês (Scotch Master) sendo feito em Bath, no sudoeste da Inglaterra em 1746[7]. De acordo com o historiador maçônico John Belton, os “graus” escoceses pareciam incluir a descoberta, em um cofre, da palavra há muito perdida, e os cruzados escoceses trabalhando com uma espada em uma mão e uma espátula na outra, mas na época de Zorobabel, e não das Cruzadas[8]. Este tema de ‘Mestres Escoceses’ será discutido mais tarde, pois foi uma ideia que se infiltrou em alguns dos Ritos que ocorreram no Continente.

Outro enigmático ‘grau’ inicial foi o de ‘Harodim’, que foi mencionado pelo irmão Joseph Laycock em um discurso, publicado em Newcastle em 1736. O trabalho dos Harodim eram conectados à antiga Loja Swalwell em Durham[9]. As possíveis primeiras sugestões de um misterioso ritual que lembra o nosso moderno Arco Real surgiram em 1740, embora a autenticidade da própria fonte possa ser debatida; o Rito Antigo de Bouillon (Rite Ancien de Bouillon) faz menção precoce a uma placa de ouro e se refere a um símbolo que consistia em um triângulo duplo dentro de um círculo e o tetragrama no centro[10]. Em 1746, o maçom John Coustos publicou um relato de sua tortura pela Inquisição, por meio do qual ele admitiu suas atividades maçônicas e descreveu uma parte do ritual que era notavelmente semelhante ao Arco Real, ou seja, a descoberta de uma tábua de bronze entre as ruínas do Templo[11]. Coustos fora iniciado maçom em Londres mas partiu para Portugal em 1743, onde continuou a ser um maçom ativo. Ele foi posteriormente preso e torturado e, em seu sofrimento foi revelando os fragmentos de um antigo ritual secreto. Hoje, no ritual do Arco Real na Inglaterra, o há muito tempo perdido nome de Deus, é descoberto na placa de ouro dentro das ruínas do primeiro Templo, algo que foi aludido no ritual do Arco Real de Richard Carlile, que foi compilado de várias fontes no início século XIX.

Existem outras menções ao Arco Real neste momento: um relatório no Jornal de Dublin de Faulkner dá detalhes de uma procissão no Dia de São João em 1743 em Youghal, na Irlanda, referindo-se ao “Arco Real carregado por dois Excelentes Maçons“. No ano seguinte, Fifield Dassigny, estabelecido em Dublin, escreveu em seu Inquérito de forma séria e imparcial sobre a causa da atual decadência da Maçonaria no Reino da Irlanda, sobre como

“um certo propagador de um falso sistema, há alguns anos nesta cidade, se impôs a vários homens muito dignos sob a pretensão de ser um Mestre do Arco Real, que ele afirmou ter trazido com ele da cidade de York … “

Dassigny continua a nos fornecer um vislumbre por trás do véu, escrevendo que o Arco Real foi “um corpo organizado de homens que passaram pela cadeira e deram provas inegáveis ​​de sua habilidade”, acrescentando que alguns irmãos não gostavam de “tal cerimônia secreta a qual era impedida daqueles que haviam feito os graus usuais”. Isso parece implicar que o ritual do Arco Real era relativamente novo e era, de fato, um outro grau a ser experimentado por certos maçons; um caminho para uns poucos selecionados[12].

Os rituais Maçônicos nesta época estavam longe de ser padronizados e isso criou liberdade para explorar novas histórias, para criar sequências para a lenda Hirâmica e a construção do Templo. Tudo isso estava acontecendo durante uma época em que a Maçonaria inglesa se dividiu e discutia como o Arco Real deveria se encaixar no sistema. Isso não quer dizer que os maçons ingleses não estivessem interessados ​​em outros graus, pelo contrário, foi durante esse período fértil que o grau de Cavaleiros Templários estava sendo praticado e, no final do século XVIII, o Grau da Marca estava firmemente capturando a mente maçônica inglesa. Como veremos mais tarde, houve ritos e caminhos ritualísticos que se estabeleceram e se desenvolveram na Inglaterra. Havia três Grandes Lojas operando na Inglaterra durante a segunda metade do século XVIII; os Modernos, os Antigos e a Grande Loja de toda a Inglaterra, com sede em York, e todos as três tinham um estilo diferente de administração e um sistema diferente de ritual. Os Modernos pareciam desconfortáveis ​​com o Arco Real, enquanto os Antigos o abraçavam como um grau adicional. A Grande Loja de York foi ainda mais longe e, na década de 1770, praticava cinco graus; os três graus Simbólicos, o Arco Real como um quarto e o Cavaleiro Templário como um quinto. Parecia que alguns maçons queriam mais[13].

O escritor maçônico Arthur Edward Waite discute uma série de ritos obscuros que possivelmente se desenvolveram durante o início do século XVIII em sua Nova Enciclopédia da Maçonaria. Ritos que têm um elemento de mistério em torno deles, onde, em alguns casos, há alguma dúvida de quando eles realmente foram fundados ou quando deixaram de ser praticados. Havia ritos como a Ordem do Paládio, que Waite menciona, fundado em Paris em 1737[14], a Ordem das Amazonas, que permitia ambos os sexos como membros e foi fundada na América do Sul em 1740[15] e a Ordem dos Xerofagistas, que Waite afirma ser fundada na Itália em 1748[16]. Havia a Ordem dos Arquitetos Africanos que Waite apresenta como “extremamente duvidosa” por ter sido fundada em 1756, mas provavelmente foi fundada mais tarde em 1765 e terminou em 1806[17]. O Rito dos Sublimes Eleitos da Verdade tem uma data de fundação um tanto duvidosa de 1776, o mesmo ano sendo dado para a fundação do Rito Escocês Filosófico (Rite Ecossais Philosophique)[18]. Outros ritos obscuros incluem o Rito da Águia Negra[19], o Rito Persa[20], e a Ordem de Jerusalém[21].

A Ordem de Jerusalém, segundo Waite, foi fundada na América do Norte em 1791 e tinha oito graus. Era uma associação de alquimistas e tinha uma conexão com o Rito de Chastanier, tendo se espalhado pela Alemanha, Inglaterra, Holanda e Rússia, embora Waite sugira que ‘toda a história é duvidosa’[22]. O Rito Persa é outro rito com uma história obscura; Waite sugere que pode ter sido estabelecido em Erzurum na Turquia em 1818, mas apareceu em Paris um ano depois e trabalhou sete graus que continham três classes. A primeira classe consistia em três graus que, em essência, eram semelhantes à maçonaria – Aprendiz de Escuta, Companheiro Adepto e Mestre; a segunda classe consistia no quarto grau intitulado Arquiteto de Todos os Ritos e um quinto grau, denominado Cavaleiro do Ecletismo e da Verdade; a terceira classe concluiu o Rito e incluiu um sexto grau intitulado Mestre Bom Pastor e um sétimo e último grau chamado Venerável Grande Eleito. No entanto, Waite conclui que, apesar de ser capaz de nomear seu sistema de graus, não há nenhuma evidência de que o rito tenha existido[23].

O Rito de Adonhiramita (às vezes referido como Adoniramita) é outro rito menos conhecido do século XVIII que tinha doze graus e com sua criação sendo atribuída pelo autor maçônico francês do século XIX Jean Baptists Marie Ragon ao Barão de Tschoudy[24]. No entanto, de acordo com o erudito maçônico e especialista em rituais Arturo de Hoyos, o sistema ainda é trabalhado no Brasil, então tecnicamente não está perdido[25]. A Rosa Cruz aparece aqui como em muitos desses Ritos, o imaginário cristão e o simbolismo formando uma conclusão mística para uma coleção de rituais que são semelhantes a outros ritos que exploram o grau de Mestre Escocês, que é apresentado aqui como o décimo grau. Houve uma série de ritos que eram menos obscuros e passaram a influenciar outros ritos e graus, alguns evoluindo e inspirando Ordens posteriores, e são esses ritos que examinaremos a seguir.

Temas Jacobitas e Templários dos primeiros ritos

O século XVIII foi certamente um terreno fértil para o ritual maçônico, à medida que novas ideias evoluíam e se expandiam para criar muitos ritos bizarros. De fato, durante esta era fértil de iluminação, ritos cada vez mais exóticos começaram a ser criados em um ritmo excepcional, especialmente no continente europeu. Um desses primeiros “ritos”, de acordo com John Yarker escrevendo em suas Escolas Arcanas, foi chamado de Vielle Bru, ou Escoceses de Fé (Faithful Scots), baseado em Toulouse, em Montpelier e em Marselha, constituído por Sir Samuel Lockhart entre 1743-1751. Yarker descreve que o rito “inspirou-se nas lendas das antigas Guildas operativas e não prosseguiu em sua instrução além do 2º templo”. Foi construído em nove graus, o último dos quais foi curiosamente denominado Menatzchim ou Perfeito. Um rito semelhante logo emergiu em Paris em 1751, chamado de Cavaleiros do Oriente, e como o Vielle Bru, Yarker disse ter explorado temas escoceses semelhantes que talvez refletissem o interesse pelas ideias jacobitas[26] Outro ‘rito’ inicial foi o Capítulo de Clermont, que apresentava seis graus e foi fundado na França em 1754 por Chevalier de Bonneville[27]. Apesar de durar apenas cerca de quatro anos, foi uma das primeiras tentativas de explorar graus superiores que tinham um tema templário[28]. Diz-se que o Capítulo incluía os três primeiros graus da maçonaria, o quarto sendo chamado Maitre Ecossais (Mestre Escocês), o quinto sendo Maitre Eleu (Mestre Eleito ou Cavaleiro da Águia), o sexto grau Maitre Illustre (Ilustre Mestre ou Cavaleiro do Santo Sepulcro), e o sétimo e último grau sendo nomeado Maitre Sublime (Sublime Mestre e Cavaleiro de Deus). Yarker comenta sobre como os graus mais elevados do Capítulo transmitiam a ‘vingança de Salomão’ sobre os assassinos de Hiram, a joia do grau Maitre Illustre sendo uma adaga enfiada em um crânio[29].

Havia de fato um forte desejo de estender os temas explorados nos rituais, e havia muitos personagens carismáticos ansiosos por criar ou promover novas Ordens e graus a partir da continuação dos temas para a busca do conhecimento perdido.

Baron von Hund e o Rito da Estrita Observância

Um desses indivíduos carismáticos foi o Barão Karl Gotthelf von Hund, que por volta de 1754 fundou o Rito da Estrita Observância na Alemanha[30]. O Barão von Hund afirmou que tinha sido iniciado em uma misteriosa Ordem Maçônica do Templo em Paris em 1742 e que seu conhecimento secreto havia sido obtido de “superiores desconhecidos”[31]. O Rito da Estrita Observância tornou-se um rito bastante popular, espalhando-se por muitos outros países europeus, como Suíça, Holanda, Dinamarca e Rússia, e incluía tentadores sete graus, oferecendo a filosofia de progressão para maçons dispostos que desejavam mais[32]. Esses sete graus, de acordo com a transcrição dos rituais de Schröder[33] por Alain Bernheim e Arturo de Hoyos, incluíam os primeiros graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, seguidos por Mestre Escocês, Noviço Secular, Cavaleiro e, finalmente, Irmão Leigo[34]. O três rituais são reconhecíveis por qualquer maçom, mas, no entanto, têm diferenças marcantes, como no grau de Mestre Maçom, que apresenta um ‘ramo de Cássia’ em vez do ramo de Acácia que conhecemos hoje[35]. Uma coleção de catecismos que é apresentada parece bastante incomum em certos contextos, e parece que os rituais evoluíram por um caminho muito diferente, embora ainda retivessem a essência dos três primeiros graus. O rito, que foi orientado para os templários, seu conteúdo cavalheiresco e o mistério que cerca sua suposta origem jacobita, ainda divide os historiadores maçônicos hoje. As traduções de Bernheim e de Hoyos, ao discutir os “Extratos da História da Ordem”, apresentam a história de como vários templários fugiram da perseguição na França em 1311 e chegaram à Escócia vestidos de maçons. De acordo com a história, uma vez na Escócia, a Ordem continuou com os ‘usos da Maçonaria … escolhidos para preservar a memória …’ e que ‘ninguém foi admitido como Mestre Escocês, exceto um filho da Ordem …’[36]. O Rito na celebração à Escócia e sua herança templária secreta parece ecoar as ideias cavalheirescas apresentadas no ‘discurso’ de Ramsey, algo que também foi espelhado na sugestão de Von Hund de uma misteriosa fonte jacobita para o sistema[37]. Na verdade, a ruína do Barão von Hund foram as origens misteriosas do rito e, sendo incapaz de apresentar qualquer prova tangível de seus “superiores desconhecidos”, sua história se tornou insustentável e sua reputação danificada. Ele morreu em 1776 em circunstâncias muito reduzidas. No convento de Wilhelmsbad em 1782, o rito de Von Hund rapidamente se desfez quando uma coleção de delegados renunciou às origens templárias não comprovadas. Eles descartaram o mito e uma reformulação completa do ritual ocorreu, encerrando a prática do Rito de Estrita Observância de Von Hund. Alguns escritores maçônicos, como Waite, fizeram referência às supostas origens jacobitas do rito de Von Hund; em Paris, Von Hund acreditava ter entrado em contato com um certo Cavaleiro da Pena Vermelha, cuja identidade nunca foi revelada, mas Von Hund acreditava que não era outro senão o Jovem Pretendente, Charles Edward Stuart. Waite era da opinião de que Von Hund estava enganado, mas de qualquer forma, o Barão manteve sua história até sua morte e o Rito de Estrita Observância foi, por um curto período, um dos ritos mais progressistas da Europa durante o século XVIII[38]. Apesar do fim da prática do Rito de Estrita Observância de Von Hund, sua reestruturação por Jean-Baptiste Willermoz levou ao nascimento do Rito Escocês Retificado, que será discutido com mais profundidade posteriormente. O Rito da Estrita Observância também influenciou a formação do Rito dos Filaletes[39], e do Rito Sueco, que ainda hoje é praticado na Suécia.

Jean-Marc Nattier, Portrait de Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (1755)

O Rito de Filaletes (Philalethes)

O Rito de Filaletes, como Waite mais filosoficamente coloca, estava “entre os vários pretendentes a uma reforma geral da Maçonaria[40]. Foi fundado em 1773 por, entre outros, o proeminente maçom francês Charles Pierre-Paul Savalette de Langes, e era uma mistura eclética de graus, sendo influenciada pelo Rito da Estrita Observância e pelo Rito dos Elus Coens (Rito do Sacerdócio Eleito). Ganhou uma afiliação distinta e foi fundamental na organização da famosa Convenção de Paris em 1784, que discutiu fervorosamente “a verdadeira natureza da ciência maçônica”. Apesar de ter uma filiação ilustre e ser de natureza bastante progressista, o rito parece ter entrado em colapso após a morte de Savalette de Langes em 1797 e, portanto, teve vida relativamente curta. Seus doze graus incluíam os três graus simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, seguidos por Eleito, Mestre Escocês, Cavaleiro do Oriente, Rosa Cruz, Cavaleiro do Templo, Filósofo Desconhecido, Filósofo Sublime, Iniciado e, finalmente, Filaletes[41]. O desenvolvimento deste estilo de altos graus da maçonaria tornou-se entrelaçado com os egos dos místicos, cavalheiros carismáticos e as modas da maçonaria no continente, para não mencionar a política da época, e parece que cada rito que foi estabelecido estava apresentando o que eles acreditavam ser a forma correta da Maçonaria.

Martines de Pasquelly e o Rito dos Elus Coens (Sacerdócio Eleito)

Martines de Pasqually estabeleceu seu Rito de Elus Coens (ou o Rito do Sacerdócio Eleito) em Toulouse em 1760. Embora haja alguma confusão sobre a estrutura exata dos graus, de acordo com Waite, o rito teria possivelmente nove graus, divididos em três divisões; estes incluíam o Pórtico, que eram basicamente os três graus simbólicos que incluíam Aprendiz, Companheiro e Mestre Particular; o Templo, que consistia em graus “sacerdotais” que incluíam o Grande Mestre Eleito, Sacerdote Aprendiz, Sacerdote Companheiro; e o Santuário, que se tornou mais mágico, com Mestre Sacerdote, Grande Mestre Arquiteto e, de acordo com J.M. Ragon o grau final era o Cavaleiro Comandante, o qual Papus depois identificou como o grau Rosa Cruz[42].

John Yarker, em suas Escolas Arcanas, menciona uma curiosa carta ou patente emitida por ninguém menos que Charles Stuart em 20 de maio de 1738, que deu ao pai de Martines de Pasqually permissão para criar lojas para o Rito de Elus Coens. Existem dificuldades óbvias com um documento como este. Yarker menciona que Charles Stuart – o Bonnie Prince Charlie da história – é descrito no documento como Rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra e Grão-Mestre de todas as lojas na face da terra[43]. Na época em que o documento foi supostamente escrito, o Bonnie Prince tinha apenas 17 anos e foi seu pai – o Velho Pretendente, James III – que reivindicou as três coroas naquele momento. No entanto, não é a autenticidade do documento que é importante aqui, é o poder que tal documento dá aos grupos Elus Coen que existem hoje[44]. A carta sem dúvida lembra os “superiores desconhecidos” do Barão von Hund e como Bonnie Príncipe era associado ao Cavaleiro da Pena Vermelha. Certamente havia uma moda para cartas maçônicas em nome do Príncipe Bonnie durante esse tempo; Yarker também se refere a um certo Lord de Berkley que, em 14 de fevereiro de 1747, concedeu uma licença para a Rosa Cruz para a Loja ‘Jacobite Scots’ em Arras na França. Yarker indica que não há cópia autenticada da carta e o Príncipe Charles Edward é, às vezes, referido no documento como o ‘Rei Pretendente’ ou ‘GM substituto’, dependendo de quem estava escrevendo[45]. Curiosamente, Yarker também comenta sobre como as mulheres não tiveram sua admissão recusada ao Rito de Elus Coens, que também nos lembra de como homens e mulheres podem fazer parte do Rito Egípcio de Cagliostro.

Pasqually fundiu doutrinas esotéricas baseadas no Gnosticismo e na Cabala, em suma, sua versão da Maçonaria misturada com magia para formar um tipo único de rito. Nesse sentido, os ensinamentos do Rito de Elus Coens capacitaram os membros selecionados a aprender um aspecto da magia que visava colocar o adepto em comunhão com seres sobrenaturais. Pasqually foi particularmente influente para Jean-Baptist Willermoz e Louis Claude de Saint-Martin, ambos levando seus ensinamentos em direções diferentes. Em 1772, Pasqually deixou a França para o Caribe para coletar uma herança e morreu lá em 1774. A Ordem se desintegrou após sua morte, e elementos do rito foram absorvidos no Rito da Estrita Observância reestruturado por Willermoz, criando o Rito Escocês Retificado. Saint-Martin levou seus ensinamentos em outra direção, ensinamentos que mais tarde influenciaram o Martinismo.

O Rito Swedenborgian

Nunca foi provado que Emanuel Swedenborg tenha sido um maçom. Ele foi, no entanto, um místico, teólogo, filósofo, cientista e inventor, cujos ensinamentos e trabalhos inspiraram o Rito de Swedenborg.

Emanuel Swedenborg nasceu em Estocolmo em 1688, seu pai era professor de teologia na Universidade de Uppsala e mais tarde bispo de Skara. Swedenborg era um homem culto; inventando máquinas voadoras, pesquisando anatomia e empreendendo muitos estudos diferentes em vários aspectos do aprendizado, sendo um propagador na busca dos mistérios ocultos da natureza e da ciência. Foi mais tarde que Swedenborg teve uma espécie de despertar espiritual que testemunhou a transição de um homem de ciência para um místico; um homem que podia falar com anjos, espíritos e demônios, e que afirmava ter recebido uma nova revelação de Jesus Cristo, seus ensinamentos revelando a segunda vinda de Cristo e o julgamento final. Swedenborg morreu em Londres em 1772 e inspirou eminentes artistas e escritores como William Blake e Thomas De Quincy[46], bem como homens místicos como Louis Claude de Saint-Martin. A Igreja Swedenborgiana, que foi inspirada nos escritos de Swedenborg, foi fundada na Inglaterra em 1787 e o movimento da Nova Igreja como também era conhecido, crescendo rapidamente. A Igreja ainda sobrevive hoje. Foi depois de sua morte que o rito “Swedenborgian” foi desenvolvido por um conde polonês e entusiasta de Swedenborg chamado Thaddeus Leszczy Grabianka e um certo Dom Antoine Joseph Pernety, fundindo os ensinamentos místicos de Swedenborg com as ideias maçônicas[47].

Dom Antoine Joseph Pernety havia deixado a Ordem Beneditina e, após se estabelecer em Avignon, perseguiu seus interesses na alquimia. Ele então se mudou para Berlim, tornando-se bibliotecário do maçom Frederico, o Grande, e enquanto estava lá, traduziu as obras de Swedenborg para o francês. Foi em Berlim que Pernety conheceu o conde polonês Thaddeus Leszczy Grabianka, e depois que Pernety voltou para Avignon, Grabianka juntou-se a ele e juntos fundaram a Société des Illuminés d’Avignon em 1786. Este primeiro rito “Swedenborgiano” teve vida relativamente curta, e um fim na esteira do caos trazido pela Revolução Francesa. No entanto, atraíram dois Swedenborgians ingleses de renome: William Bryan e John Wright, que, em 1789 “foram iniciados nos mistérios de sua ordem” e foram apresentados à ‘presença real e pessoal do Senhor‘, que foi transmitido por um “jovem majestoso… em vestes roxas, sentado em um trono situado em uma câmara interna, decorada com emblemas celestiais[48]. Isso sugere que o rito refletia as filosofias milenaristas de Swedenborg, mas como era o resto do ritual, só podemos especular. Outro Rito Swedenborgiano surgiu com o renascimento do ocultismo do final do século XIX, novamente contendo elementos do milenismo místico de Swedenborg[49].

A obscuridade da versão inicial do rito levou a uma série de apresentações diferentes de sua história e foi dito que a mencionada Société des Illuminés d’Avignon não tinha nenhuma conexão com o Rito Swedenborgiano posterior que se desenvolveu nos EUA, “contendo muito de Ritual da Loja Simbólica Americana[50]. Em uma edição da Collectanea que discute o rito, uma referência remonta a Londres c.1784 onde um certo Bento Chastanier é mencionado a respeito de uma Ordem baseada nos Teosofistas Iluminados, que foi fundada por ele em 1767[51]. A edição descreve como o rito foi revivido na América em 1859 por membros da Nova Igreja de Swedenborgian e, embora esta data de fundação seja sugerida como problemática, o rito certamente existia lá em 1869, quando um livro foi escrito sobre a Ordem por Samuel Beswick. O maçom e ocultista John Yarker também esteve envolvido no rito revivido, sendo listado como Grande Mestre Supremo[52]. Seis graus são apresentados como sendo trabalhados pelo rito revivido; os três primeiros sendo os graus simbólicos, o quarto era intitulado Maçom Iluminado, o quinto Maçom Sublime e o sexto e último Grau de Maçom Perfeito[53]. No Grau final, o nome de Deus é revelado e a jornada maçônica é declarada como completa[54].

Yarker menciona o Rito Swedenborgiano em suas Escolas Arcanas, afirmando que “ele consiste em três cerimônias elaboradas e belas para as quais a Maçonaria é exigida[55]. Embora tenha sido afirmado que não tem nada a ver com a anterior Société des Illuminés d’Avignon, o Rito Swedenborgiano do século XIX, é um exemplo das dificuldades que surgem em avaliar se um rito particular foi realmente revivido ou não. Sem certa continuidade e evidência completa dos rituais que foram usados, um renascimento ou mesmo uma alegada continuação de um determinado rito sempre será discutível.

O Rito de Zinnendorf

Este rito em particular foi criado por Johann Wilhelm Ellenberger von Zinnendorf, nascido em Halle em 1731. Zinnendorf foi uma figura proeminente na Maçonaria, e em 1773 ele fechou um acordo com a Grande Loja da Inglaterra para que todas as lojas na Alemanha, com exceção da Grande Loja Provincial em Frankfurt fossem colocadas sob seu comando, com Zinnendorf tornando-se efetivamente Grão-Mestre, posição que ocupou até sua morte em 1782. O próprio rito, de acordo com Waite, foi considerado uma mistura das “visões de Swedenborg” e os “vestígios do iluminismo hermético de Pernety”, embora ele mencione que não havia evidências disso. Na verdade, o arranjo do rito reflete uma certa influência do Rito da Estrita Observância: a primeira parte era composta pela Maçonaria Simbólica ou Maçonaria Azul com o grau de Aprendiz, seguido pelo Companheiro, depois Mestre. A segunda parte foi o que Waite denominou de Maçonaria Vermelha, com o Aprendiz e Companheiro Escocês (Écossais Apprentice and Companion), seguido de Mestre Escocês (Master Écossais), a terceira e última parte foi intitulada Maçonaria Capitular, com um grau denominado Favorito de São João, seguido de Capítulo dos Maçons Eleitos[56].

O Rito de Zinnendorf com suas aspirações Écossais (escocesas), portanto, parece ter uma influência do Rito da Estrita Observância. Zinnendorf tinha realmente sido um membro da Estrita Observância: ele havia sido “nomeado cavaleiro” por von Hund em 1764, Zinnendorf tornando-se Mestre da Loja dos Três Globos em Berlim no ano seguinte. Von Hund constituiu os Três Globos como uma “Loja Escocesa ou Diretora” em 1766, dando-lhe o poder de criar lojas de Estrita Observância. No entanto, a harmonia foi quebrada quando, em novembro, Zinnendorf “notificou formalmente a Von Hund de sua renúncia à Estrita Observância” e, em maio de 1767, renunciou aos Três Globos. Isso deu a Zinnendorf a liberdade de criar seu próprio rito e forjar suas ambições que acabaram levando às negociações com a Grande Loja da Inglaterra[57]. O rito tem uma semelhança marcante com o Rito Sueco, com algumas variações menores, mas igualmente significativas.

O Rito Egípcio de Cagliostro

De todos os ritos maçônicos que existiram no continente durante o século XVIII, o Rito Egípcio do Conde Alessandro Cagliostro é talvez um dos ritos mais intrigantes e fascinantes. O próprio Cagliostro era um homem misterioso, de ego e criatividade; o exótico teatro da Maçonaria sendo o pano de fundo para retratar sua própria mistura única de alquimia, sexo e magia, uma mistura que certamente atraiu a elite social parisiense da época. Cagliostro se tornou o tema romântico de escritores como Johann Wolfgang von Goethe e Alexandre Dumas[58], e o romance em torno de sua vida parece se confundir entre fantasia e realidade, criando um personagem maçônico quase mítico. Por exemplo, Cagliostro supostamente conheceu personalidades ilustres do século XVIII, como o Conde de Saint-Germain e Casanova, e o passado de Cagliostro era tão misterioso quanto essas duas figuras, o mágico enigmático sendo identificado como Giuseppe Balsamo, um falsificador e trapaceiro italiano, em um francês jornal publicado em Londres chamado Courrier de l’Europe em setembro de 1786. Ele foi novamente identificado como Balsamo em uma publicação em 1791 pela Câmara Apostólica de Roma, descrevendo o julgamento de Cagliostro, intitulado Vie de Joseph Balsamo[59]. O problema parecia acompanhar Cagliostro onde quer que ele fosse; enquanto na França na década de 1780, Cagliostro tinha sido implicado no caso do colar de diamantes, que envolveu diretamente Maria Antonieta em uma teia emaranhada de intriga sombria, e depois de passar um tempo na Bastilha, ele foi solto e partiu para a Inglaterra, indo mais tarde para Roma, onde foi preso por ser Maçom em 1789. Depois de tentar escapar do Castel Saint’Angelo, Cagliostro foi transferido para a Fortaleza de San Leo, onde morreu logo depois.

Cagliostro se tornou uma figura tão importante na Maçonaria na época que foi convidado para a Convenção de Paris em 1784 para explicar seu sistema, uma Convenção que o Rito dos Filaletes tinha sido fundamental para organizar. Suas reivindicações incluíam que ele poderia renovar a juventude, ele poderia conjurar as aparições dos mortos, ele poderia conferir beleza àqueles que se submetessem ao seu sistema de medicina hermética e que ele poderia fazer ouro. Em suma, seu rito revelaria os verdadeiros mistérios ocultos da natureza e da ciência e, à medida que se tornava aberto às mulheres, ele começou a atrair várias senhoras de alta posição[60]. O próprio rito consistia em três graus semelhantes à Maçonaria Simbólica: Aprendiz, Companheiro e Mestre, mas esses graus consistiam em algum material muito interessante. John Yarker em suas Escolas Arcanas, acreditava que o ritual de Cagliostro pode ter sido influenciado por Pasqually[61], e os dois ritos realmente compartilhavam aspectos mágicos mais profundos, como exploraremos em capítulos posteriores. Cagliostro continua atraindo o interesse de escritores, talvez devido à natureza extravagante de sua vida e seu estilo mais mágico de Maçonaria.

O Rito Melissino

Pyotr Ivanovich Melissino (1726-1797) foi um General da Artilharia do Império Russo, de origem grega e o fundador do Rito Melissino, que estava ativo em São Petersburgo na Rússia em 1765. Melissino foi um membro proeminente da sociedade de São Petersburgo, que também era um centro da moda e cultural para o Iluminismo sob Catarina, a Grande. Melissino tornou-se familiarizado com gente como Casanova, um homem de alta posição social que também estava ligado à Maçonaria[62]. O Rito de Melissino compreendia sete graus e como Melissino estava profundamente interessado em referências alquímicas, Rosacruzes e Cabalísticas infiltradas no Rito, tornando esta forma de Maçonaria muito atraente para a elite social da época[63]. Melissino também foi dito ter sido um dos “seguidores mais fiéis” de Cagliostro, e como veremos em um capítulo posterior, há semelhanças em certas partes dos rituais[64].

Os sete graus do Rito incluíam os primeiros três graus da Maçonaria Simbólica com Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, continuou a lenda Hirâmica com um quarto grau chamado de Cofre Escuro (Dark Vault), com uma narrativa da busca pelo túmulo de Hiram e como nove Mestres Maçons foram selecionados para a busca. O quinto grau de Mestre Escocês é uma reminiscência do grau de Mestre Escocês do Rito da Estrita Observância, o grau sendo de natureza cavalheiresca, apresentando como um grupo de Mestres Maçons carregou o corpo de Hiram e o tesouro do Templo para a Escócia, onde fundaram várias lojas. Esta lenda templária escocesa também pode ser encontrada no Rito Egípcio de Cagliostro, onde no primeiro grau ele propõe que “um dos templários, que se refugiou na Escócia, segue os maçons até o número de 13, depois 33 … [65]. O sexto grau de Filósofo (Philosopher) se concentra em examinar se o iniciado foi “suficientemente instruído nos segredos da Câmara da Sabedoria” e se foi, ele pode avançar para descobrir os “hieróglifos“, o iniciado renasce e está qualificado para ajudar no objetivo da Maçonaria na restauração da Idade de Ouro[66]. O sétimo grau final do Grande Sacerdote do Templo (Grand Priest of the Temple) ou Cavaleiro Espiritual (Spiritual Knight) é uma conclusão dramática para o rito, com o grau sendo preenchido com referências de alquimia que propõem que o iniciado está finalmente alcançando os segredos dos antigos filósofos, os segredos da magia divina transmitidos por “três alunos de Pitágoras e Zenão…[67]. Este grau final foi descrito pelo historiador Robert Collis como a expressão mais profunda do Iluminismo[68], e realmente apresenta um espetáculo conclusivo que apresenta ao candidato o conhecimento perdido dos antigos. Em 1782, as sociedades secretas foram proibidas na Rússia e, embora a Maçonaria não tenha sido afetada, Melissino parece ter se aposentado e se retirado da Ordem, e suas lojas acabaram fechando.

O Rito dos Construtores Africanos ou Arquitetos

Esse rito tem um início obscuro de acordo com Waite; pode ter sido fundado por volta de 1766 e certamente há algum mistério em torno de sua organização. J.W.B. von Hymmen foi mencionado por Waite como sendo associado ao Rito dos Construtores ou Arquitetos Africanos, juntamente com C.F. Köppen, que foi o fundador. Como o Rito da Estrita Observância, os rituais eram realizados em latim, e Waite diz que Hymmen, que era um juiz prussiano, era membro da Estrita Observância. Há algum debate quanto à natureza maçônica de seus graus, embora Waite presuma que um membro tinha que ser um Mestre Maçom antes de ingressar. Existem dois relatos diferentes apresentados por Waite dos graus reais que eles praticavam; o primeiro deles inclui os Graus Inferiores de Aprendiz de Segredos Egípcios, Iniciação em Segredos Egípcios, Cosmopolita ou Cidadão do Mundo, Filósofo Cristão, Aletófilos ou Amante da Verdade e Altos Graus de Esquire, Soldado e finalmente Cavaleiro. O segundo relato contêm graus como Cavaleiro ou Aprendiz, Irmão ou Companheiro, Soldado ou Mestre, Cavaleiro ou Cavalheiro, Novato, Construtor e, finalmente, Tribuno ou Cavaleiro do Silêncio Eterno[69].

Olhando para o primeiro relato do sistema de graus, o rito parecia se concentrar nos segredos e mistérios egípcios, dando um sabor interessante e exótico aos graus, lembrando o Rito Egípcio de Cagliostro. Certamente atraiu os literatos da época e foi estabelecido com o propósito de “cultura literária e estudos intelectuais”, sendo uma Ordem que apelava para a intelectualidade, e por um curto período de tempo “Lojas” estavam operando em Worms, Colônia e Paris. No entanto, o rito teve vida curta e, de acordo com Gould em sua História da Maçonaria, acabou com a morte de Köppen em 1797[70]. Apesar de sua vida relativamente curta, o rito certamente atraiu a atenção de escritores maçônicos como Gould e Waite , que parecia considerá-lo um exemplo intrigante de um rito perdido.

Rito dos Sacerdotes Egípcios

A Maçonaria de estilo egípcio certamente floresceu durante o final do século XVIII, com o já mencionado Rito Egípcio de Cagliostro e o Rito dos Construtores Africanos. No entanto, um outro exemplo bastante obscuro é o Rito dos Sacerdotes Egípcios, que é mais um rito que explora uma forma esotérica de iniciação com um arcano como pano de fundo egípcio. Nick Farrell apresenta uma tradução deste rito paramaçônico dos Sacerdotes Egípcios, derivado de uma obra alemã intitulada Crata Repoa datada de 1770, uma tradução que foi anteriormente conduzida por Ragon no século XIX[71]. O rito continha sete graus; o primeiro chamado Pastophoris ou Aprendiz, o segundo Neocoris, o terceiro grau é A Porta da Morte (The Door of Death), o quarto é A Batalha com as Sombras (The Battle with Shadows), o quinto Balahate, o sexto é intitulado Astrônomo antes do Portal dos Deuses (Astronomus before the Gateway of the Gods), e o sétimo e último grau é Propheta ou melhor, Saphenath Pancah, aquele que conhece os segredos (Propheta or rather Saphenath Pancha, he who knows secrets). Os sete graus de aprendiz a “Profeta” refletem outros ritos do período, como o Rito de Filaletes, que proporcionam a jornada de um noviço a um profeta que finalmente tem o conhecimento perdido dos antigos que lhe é revelado[72].

Com um óbvio tema egípcio percorrendo o rito, um cenário egípcio domina a execução das notas; a Esfinge e múmias são mencionadas e, no grau de A Porta da Morte, uma sala é revelada com “vários tipos de corpos embalsamados e caixões[73]. A morte de deuses egípcios e gregos como Tífon, que é morto no quinto grau por Orus (Horus), também é retratada conforme o candidato progride em sua jornada[74]. O rito é de fato um tanto misterioso, e como Farrell escreve na introdução da obra, “historicamente, suas alegações são falsas ou improváveis, mas foram mantidas por grupos que as usaram como modelo, incluindo os Grupos de Maçons Esotéricos Europeus” e que o rito é uma “obra pequena e amplamente esquecida” que “influenciou o desenvolvimento da Tradição de Mistérios Ocidental. Estes, por sua vez, influenciaram as Ordens Rosacruzes de língua inglesa, incluindo Golden Dawn, OTO, AMORC, Builders of the Adytum e Dion Fortune”[75]. Assim, de acordo com Farrell, este rito relativamente pequeno e esquecido torna-se significativo quando se olha como o renascimento ocultista do final do século XIX se desenvolveu e como o avivamento foi influenciado pelos primeiros ritos esotéricos do século XVIII.

Os Illuminatis da Baviera

Outra sociedade que certamente atrai a atenção hoje são os Illuminati; uma sociedade que era originalmente não maçônica e foi fundada na Alemanha em 1776 por Adam Weishaupt. Weishaupt, um professor de direito canônico na Universidade de Ingolstadt, originalmente concebeu o conceito de uma sociedade secreta formada por seus alunos mais esclarecidos. Com a Coruja de Minerva empoleirada em um livro aberto como seu símbolo, os Illuminati, que foram projetados para apoiar as ideias do Iluminismo, eventualmente trabalharam em uma série de graus que expandiram as ideias de Weishaupt. A ideia por trás do nome Illuminati ecoava a luta dos membros contra as trevas, mas originalmente Weishaupt iria chamar a sociedade de Ordem das Abelhas, e seus membros eram chamados de Perfeccionista. A Ordem que lutava pela melhoria da natureza humana e da sociedade. Weishaupt se juntou a uma loja sob o Rito da Estrita Observância em 1777, e depois de ser apresentado aos três primeiros graus da Maçonaria, decidiu formar sua própria Loja de membros Illuminati, fundindo os dois.

O trabalho recente sobre os Illuminati da Baviera, A Escola Secreta de Sabedoria (The Secret School of Widsom), fornece uma excelente apresentação da formação dos graus e como os elementos maçônicos foram adicionados ao sistema dos Illuminati. Isso foi feito com a ajuda do Barão Adolph von Knigge, que se desencantou com a Estrita Observância e seus indescritíveis superiores desconhecidos, e abraçou os Illuminati de todo o coração. Algumas das ideias de Knigge incluíam uma Loja de Mesa e um sabor cristão geral que culminou com a ideia de que Hiram era na verdade Jesus, sendo a Maçonaria uma forma de propagar seus ensinamentos secretos. Knigge também estava ciente do mencionado Rito dos Sacerdotes Egípcios por meio da exposição Crata Repoa, cujo quarto grau é chamado de A Batalha das Sombras. Este grau certamente ressoa no grau Minerva dos Illuminati, especialmente com a ocorrência do adepto em A Batalha das Sombras recebendo um escudo chamado ‘Minerva’ e então premiado com uma medalha que revela Minerva como uma coruja[76].

Os graus, de acordo com Waite, tornaram-se uma mistura de temas políticos, intelectuais e maçônicos, com Waite apresentando várias partes de seu sistema. A Parte A incluiu os graus preparatórios de Iniciante e ProfessorAcademia de Iluminismo ou Grau Minerva, seguido por Illuminatus Menor e o grau final de Illuminatus Maior ou Magistrado da Igreja Minerval. A Parte B seguiu com o grau intermediário de Cavaleiro Escocês do Iluminismo, que parece ter sido inspirado na moda popular dos graus escoceses. A progressão continuou com a Parte C, que Waite chamou de Classe dos Mistérios Menores e incluiu Epopt ou Sacerdote do Iluminismo, e esse grau sacerdotal foi seguido pelo Regente ou Principatus Illuminatus, ao qual Waite se refere como um grau mais político. A Parte D é dada como o estágio final e foi intitulada Classe dos Mistérios Maiores, que incluía Magus ou Filósofo e finalmente Homem-Rei.

O sistema certamente refletiu a jornada de ‘Novato‘ a ‘Filósofo‘ que tantos outros ritos conduziram. Os graus podem ter sido diferentes, mas eles compartilhavam temas semelhantes. Os Illuminati da Baviera foram finalmente suprimidos por um decreto eleitoral em 1784, e a visão de Weishaupt da perfectibilidade humana chegou ao fim[77].

O nome dos Illuminati é talvez mais conhecido hoje por ter sido adotado por autores especulativos e teóricos da conspiração como um termo guarda-chuva para uma ampla gama de sociedades secretas coletivas, mas a verdadeira história da Ordem é muito mais interessante e atraente, especialmente porque o ethos original da sociedade era trazer luz na forma de manter as ideias do Iluminismo. Existem vários grupos hoje que trabalham os graus dos Illuminati da Baviera, embora estes sejam avivamentos mais recentes e não tenham continuidade com a Sociedade original de Weishaupt.

Rito Retificado de Fessler

Com tantos ritos sendo praticados durante o século XVIII, houve tentativas de reformá-los, de reter certos elementos atraentes e descartar as partes que não o faziam. O Rito Retificado de Fessler foi uma tentativa de reformar os vários graus maçônicos do período, mas ao contrário do Rito Escocês Retificado de Willermoz, o rito de Fessler foi um pouco menos bem-sucedido, para dizer o mínimo.

Ignaz Aurelius Fessler era um húngaro que recebeu as ordens sacras, tornando-se noviço em um mosteiro aos dezessete anos em 1773. Ele se tornou insatisfeito com a vida monástica e, em 1783, tornou-se maçom em Lemberg, e logo desenvolveu o desejo de reformar a Maçonaria. Fessler era um membro da Loja Royal York of Friendship, eventualmente formando uma nova constituição e estabelecendo-a como uma Grande Loja em 1798, também estendendo um aspecto educacional ao projeto ao criar uma União Científica Maçônica que foi dedicada ao estudo histórico da ciência maçônica .

O próprio rito foi adaptado de várias fontes, como o Rito Francês, a Estrita Observância, o Capítulo de Clermont, o Rito Sueco e a Ordo Roseæ et Aureæ Crucis, com Fessler aparentemente juntando um equilíbrio dos graus maçônicos, esotéricos e cavalheirescos. Waite, portanto, apresenta o sistema de graduação de Fessler: os três primeiros graus da Arte seguidos por um Capítulo de Conhecimento Superior que incluía o Santo dos Santos, a Justificação, a Celebração, a Verdadeira Luz, a Pátria e, finalmente, a Perfeição. O rito foi abandonado em 1800, e o próprio Fessler “renunciou a todas as honras e cargos” dois anos depois, embora de acordo com a História Pitoresca da Francomaçonaria (Histoire Pittoresque de la Franc-Maçonnerie) de Clavel, algumas lojas prussianas ainda praticavam o rito por volta de 1840[78].

O Rito de Perfeição e a Ordem do Segredo Real

Agora sabemos que o Rito de Perfeição consistia na primeira parte de 14 graus, enquanto os 25 graus do rito (incluindo os primeiros três graus da Loja Azul) eram coletivamente conhecidos como a Ordem do Segredo Real[79]. O sistema parece ter sido compilado pelo comerciante francês Estienne Morin. Morin esteve envolvido na Maçonaria de altos graus desde a década de 1740, seu comércio com as Índias Ocidentais permitiu-lhe estabelecer a Ordem na Jamaica e na América do Norte. Morin foi ajudado por Henry Andrew Francken, outro cidadão francês de ascendência holandesa que Morin nomeou como Grande Inspetor Geral Adjunto. Foi Francken que viajou para Nova York e estabeleceu o rito lá em 1767, e de lá, a Ordem foi fundada na Carolina do Sul, o que levou ao estabelecimento do Rito Escocês lá em 1801, se tornando um dos ritos mais conhecidos e duradouros que ainda hoje é amplamente praticado. Francken trabalhou com Morin no rito e escreveu vários manuscritos que deram detalhes dos graus. O que é referido como o terceiro desses manuscritos acabou caindo nas mãos de um certo Michael Alexander Gage no noroeste da Inglaterra.

Michael Alexander Gage e o Manuscrito Francken

Michael Alexander Gage foi um dos arquitetos que presidiram a rebelião maçônica de Liverpool de 1823, que reativou a Grande Loja dos Antigos (Antient Grand Lodge). A rebelião foi uma reação contra as mudanças ritualísticas e administrativas introduzidas pela união de 1813 entre os Modernos e os Antigos. A questão do Arco Real era muito controversa, com os Antigos praticando o ritual como um grau separado e os Modernos oficialmente reconhecendo o Arco Real como a conclusão do terceiro grau.

Gage nasceu em Kings Lynn em Norfolk em 1788 e se juntou a uma loja lá, tornando-se o Venerável Mestre da loja em 1810. Ele então se mudou para Glasgow no ano seguinte, onde também se juntou a uma loja, finalmente estabelecendo-se em Liverpool em 1812, onde tornou-se um membro proeminente de uma loja antiga chamada Loja nº 20[80]. Gage era um homem explosivo; suas demandas por mudanças no regulamento e sua carta, dirigida ao Grão-Mestre, o duque de Sussex, revelaram sua forte paixão por questionar a união. Mas Gage também estava profundamente interessado em rituais e era o proprietário de uma rara cópia do Manuscrito Francken.

Este terceiro MS Francken, como ficou conhecido, é de fato um documento notável. Gage escreve no início do documento que foi “recebido de John Caird, Edimburgo – Jas. Caird, Liverpool, 30 de agosto de 1815”, e ainda estava em sua posse cinquenta anos depois[81]. O manuscrito fornece uma descrição de 25 graus da Ordem do Segredo Real, o precursor do Rito Escocês, e certamente era de interesse de Gage, que guardou o manuscrito muito depois de deixar a Grande Loja rebelde.

O sonho de Gage de um relançamento e expansão da Grande Loja dos Antigos começou a se desintegrar apenas alguns anos após sua concepção, quando as divergências internas fizeram que a Grande Loja se mudasse permanentemente para Wigan e se tornar mais local em sua perspectiva. Esta ‘Grande Loja Wigan’ tinha um pequeno número de lojas operando no noroeste industrial da Inglaterra durante a década de 1840, com duas lojas operando em Wigan, uma em Warrington, uma em Liverpool, uma loja em Ashton-in-Makerfield e uma hospedada em Ashton-under-Lyne e, como os Antigos, praticavam o Arco Real como um grau separado[82].

Em sua carta de renúncia à Grande Loja Wigan em 1842, Gage destacou que não frequentava uma loja por quinze anos e recusou um pedido para escrever um panfleto sobre a rebelião. Parecia que Gage estava há muito desencantado com a rota que os rebeldes haviam tomado e estava muito preocupado com a “grande irregularidade na numeração e concessão de novas Cartas Constitutivas” para as lojas, ficando chateado por não ter a oportunidade de inspecionar os novos mandados antes de serem emitidos[83].

Então, Gage queria outra direção para a Grande Loja? E essa direção incluiu a prática dos 25 graus apresentados no Manuscrito Francken? O fato de ainda possuir o documento em 1865, muito depois de ter renunciado e ainda mais tempo desde que frequentou uma loja, certamente revela um profundo interesse pelo rito. No entanto, podemos apenas especular sobre seu grande projeto final. Sabemos, no entanto, que a Maçonaria no norte da Inglaterra teve floreios independentes, como com a Grande Loja York, que operou em períodos intermitentes durante o século XVIII, e, claro, a já mencionada Rebelião Maçônica de Liverpool e a subsequente Grande Loja Wigan.

Conclusão

A maioria desses ritos incluía uma estrutura semelhante: eles começavam com os três Graus Simbólicos, em seguida, desenvolveram-se explorando os Graus de Escocês ou Mestre Escocês, como o Rito de Estrita Observância, Rito Philalethes e Rito de Melissino. O iniciado então passava a experimentar graus de Cavalaria até que, finalmente, como nos Ritos Philalethes e Melissino, um grau de Filósofo abria caminho para o iniciado atingir uma compreensão espiritual plena com a descoberta do conhecimento perdido dos antigos. Este estilo de altos graus da maçonaria era certamente popular no continente, especialmente na França e na Alemanha e, além de oferecer um caminho adicional para o Maçom explorar os segredos arcanos oferecidos, eram administrados por cavalheiros carismáticos e populares como Von Hund, Melissino e Pasqually, que também seria uma atração para cavalheiros em busca de orientação em suas investigações. O apelo adicional de ter acesso aos ensinamentos de alquimia, magia e Cabala que eram oferecidos em certos ritos, como o Rito Egípcio de Cagliostro e o Rito de Melissino, fornecia um aspecto atraente adicional para a busca pelo conhecimento perdido dos antigos e homens atraídos (e mulheres) para se juntarem e socializar na órbita de seu líder carismático.

Muitos dos homens por trás dos ritos perdidos discutidos aqui foram claramente mal compreendidos. O Conde Cagliostro, por exemplo, permanecerá para sempre uma figura histórica enigmática e confusa, seu passado misterioso e morte dramática criando deliberação entre os historiadores. O Barão von Hund também irá persistentemente atrair o debate se ele realmente conheceu ou não os misteriosos Superiores Desconhecidos, se ele foi enganado por vigaristas ou se ele realmente se encontrou com o Cavaleiro da Pena Vermelha. Outros, como Zinnendorf, claramente tinham ambições próprias e se tornaram figuras importantes na Maçonaria.

Apesar da popularidade e do zelo dos ritos de Altos Graus que surgiram durante o século XVIII no continente, houve uma reação no esforço de trazer a Maçonaria de volta ao significado dos graus Simbólicos. Esta reação ao que era visto como a pretensão da Maçonaria de Altos Graus é melhor exemplificada com a Grande Loja da União Eclética, que começou por volta de 1783 e, de acordo com Waite, pode muito bem ainda ter se reunido em Frankfort-on-the-Main até 1914. Waite observou que haviam 21 lojas sob seu domínio com 3.000 membros. Parece que nem todos os maçons estavam muito interessados ​​em explorar novos caminhos[84].

Muitos desses ritos não sobreviveram após a morte de seu fundador: o rito de Cagliostro desapareceu após sua morte e o Rito da Estrita Observância também deixou de funcionar em sua forma original após a morte de Von Hund. O Rito da Estrita Observância, no entanto, foi reformado e reestruturado por Willermoz, que também absorveu elementos do Rito dos Elus Coens na nova estrutura, criando o Rito Escocês Retificado, também conhecido como Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (Chevalier Bienfaisant de la Cité Sainte), um rito que ainda existe hoje. Este rito evoluiu do convento de 1778 em Lyon e finalmente tomou forma após o convento de Wilhelmsbad de 1782, liderado pelo próprio Willermoz, que combinou os temas templários da Estrita Observância com os temas religiosos dos Elus Coens. Willermoz teve um envolvimento proeminente em ambos os ritos, e o Rito Escocês Retificado é certamente um exemplo de um rito que emergiu da combinação de diferentes ideias maçônicas. As ideias parecem ter sido compartilhadas, e certos paralelos existem entre outros ritos, especialmente ao examinar aspectos do conteúdo dos rituais de Cagliostro e Melissino. A Ordem do Segredo Real se transformou no Rito Escocês na Carolina do Sul durante o início do século XIX, o rito se desenvolvendo de 25 graus para um total de 33 graus, nos lembrando que alguns ritos podem evoluir e se transformar.

Autores: David Harrison
Traduzido por: Rodrigo de Oliveira Menezes

Fonte: Ritos & Rituais

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Notas

[1] – O Manuscrito Register House (1696), fornece um texto inicial para a cerimônia de Aprendiz e Companheiro. Veja também David Harrison, A Gênesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), (Hersham: Lewis Masonic, 2009), pp.120-1.

[2] – Veja David Harrison, A Grande Loja de York (The York Grand Lodge), (Bury St. Edmunds: Arima Publishing, 2014), p.33. Na verdade, vários candidatos ainda são comuns em certas práticas maçônicas na Escócia, especialmente no Grau da Marca, e não é incomum para algumas lojas do Craft na Inglaterra admitirem vários candidatos administráveis, a diferença hoje é que os graus são realizados separadamente em diferentes reuniões.

[3] – Harrison, A Genesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), pp. 116-19.

[4] – Anônimo, As Antigas Constituições dos Maçons Livres e Aceitos (The Ancient Constitutions of the Free and Accepted Masons), com um discurso proferido na Grande Loja de York, (Londres: B. Creake, 1731), p. 15. Veja também Harrison, A Grande Loja de York, p. 23.

[5] – Veja Harrison, A Genesis da Maçonaria (The Genesis of Freemasonry), pp. 88-106.

[6] – David Harrison, A Transformação da Maçonaria (The Transformation of Freemasonry), (Bury St. Edmunds: Arima Publishing, 2010), p. 148

[7] – Henry Sadler, Uma Grande Loja não Registrada (An Unrecorded Grand Lodge), AQC, Vol. 18, (1905, pp. 69-90, na p. 71.

[8] – Veja John Belton, Apenas mais um Grau meu Irmão (Brother Just One More Degree), SRJ, (Março/Abril 2013), pp. 7-9, na p. 7.

[9] – Veja John Yarker, As Escolas Arcanas (The Arcane Schools), (Belfast: William Tait, 1909), pp. 439-40.

[10] – O Rito Antigo de Bouillon (Rite Ancien de Bouillon) tem origens um tanto misteriosas; George Oliver afirmou que tinha ligações com o Chevalier Ramsay, possivelmente por ele ter boas relações com uma família nobre que fingia ser descendente do Cruzado Godfrey de Bouillon. Ver George Oliver, A Origem da Ordem da Maçonaria do Real Arco (The Origin of the Royal Arch Order of Masonry), (Londres: Irm. Richard Spencer, 1867), p.31. Para uma discussão sobre o Rito por Oliver, veja Harrison, Transformação da Maçonaria (Transformation of Freemasonry), pp.147-151. Uma visão cética do Rito Ancien de Bouillon é apresentada por Arturo de Hoyos em “O Mistério da Palavra do Arco Real (The Mystery of the Royal Arch Word)”, Heredom, Vol. 2, (1993), pp.7-34.

[11] – John Coustos havia sido iniciado na Maçonaria em Londres em 1730 e era membro da Loja nº 75, realizada no Rainbow Coffee House, em Londres. Ver John Coustos, Os Sofrimentos de John Coustos pela Maçonaria e Por Sua Recusa em Tornar-se Católico Romano na Inquisição em Lisboa (The Sufferings of John Coustos for Free-Masonry And For His Refusing to Turn Roman Catholic in the Inquisition at Lisbon ), (Londres: W. Strahan, 1746), e também ver John Coustos: Confissão de 21 de março de 1743, em S. Vatcher, ‘John Coustos e a Inquisição Portuguesa’, AQC, Vol. 81, (1968), páginas 50-51.

[12] – Aubrey J.B. Thomas, Uma Breve História do Arco Real na Inglaterra (A Brief History of the Royal Arch in England), AQC, Vol. 85, (1972), pp.349-358. Ver também Robert T. Bashford, Aspectos Históricos da Maçonaria na Irlanda (Aspects of the History of Freemasonry in Ireland, AQC, Vol. 129, (2016), em que Bashford discute o início do Arco Real na Irlanda e o livro de Dassigny.

[13] – Veja John Belton, Apenas mais um Grau meu Irmão (Brother Just One More Degree), SRJ, pp.7-9, em que Belton discute o desejo de graus extras, um desejo que remonta ao início da história da Maçonaria na Grã-Bretanha.

[14] – Arthur Edward Waite, Uma Nova Enciclopédia da Maçonaria (A New Encyclopedia of Freemasonry), Vol. 2, (Nova York: Wings Books, 1996), p. 54.

[15] – Idem, p. 56.

[16] – Idem, p. 59.

[17] – Idem, p. 61 & p.75.

[18] – Idem, p. 67.

[19] – Idem, p. 345

[20] – Idem, p. 275

[21] – Idem, p. 72.

[22] – Idem.

[23] – Idem, p. 275-6.

[24] – Jean Baptiste Marie Ragon (1781-1862), foi um maçom francês, membro da Ordem Real da Escócia e um autor prolífico na época de rituais maçônicos esotéricos. Seu trabalho Maçonaria Oculta de Iniciação Hermética (Masonerie ocultă şi iniţiere hermetică) foi uma publicação notável em 1853. Para obter mais informações sobre Ragon, consulte John Songhurst, ‘Ragon’, AQC, Vol. 18, (1905), pp.97-103.

[25] – Ver Arturo de Hoyos e Brent Morris, (Trans. & Eds.), Os Mistérios Mais Secretos dos Altos Graus da Maçonaria revelados (The Most Secret Mysteries of the High Degrees of Masonry Unveiled ), (Washington, DC: SRRS, 2011).

[26] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p.474.

[27] – Ver Arturo de Hoyos, ‘A‘ Cocktail ’from the Schröder Ritualsammlung: The Clermont System plus Additional Degrees’, Collectanea, Vol. 16, Parte 2, (Impressão privada por GCR dos EUA: 1997).

[28] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p.474.

[29] – Idem, p. 475.

[30] – Ver Alain Bernheim e Arturo de Hoyos, Introdução aos Rituais do Rito da Estrita Observância (Introduction to the Rituals of the Rite of Strict Observance), Heredom, Vol. 14, (2006), pp.47-104. Aqui, Bernheim e de Hoyos discutem o desenvolvimento histórico do Rito e apresentam uma tradução dos três primeiros graus.

[31] – Waite, Nova Enciclopédia da Maçonaria (New Encyclopaedia of Freemasonry), Vol. 2, pp.352-3.

[32] – Idem, pp.64-6.

[33] – Friedrich Ludwig Schröder (1744-1816) foi um ator alemão e um proeminente Maçom da época.

[34] – Alain Bernheim e Arturo de Hoyos, (ed.), O Rito da Estrita Observância (The Rite of Strict Observance), Collectanea, Vol. 21, (Impressão privada por GCR dos EUA: 2010), pp.1-106.

[35] – Idem, P.37.

[36] – Idem, P.85-6.

[37] – Para uma discussão sobre os temas cavalheirescos e jacobitas examinados aqui, ver J. Webb, O Rito Escocês Retificado (The Scottish Rectified Rite), AQC, Vol 100, (1988), pp.1-4.

[38] – Waite, Nova Enciclopedia, Vol. 2, p. 353.

[39] – Idem, p. 355.

[40] – Idem, p. 351.

[41] – Idem.

[42] – Arthur Edward Waite, Saint-Martin e a Mística Francesa e a História do Martinismo Moderno (Saint-Martin the French Mystic and the Story of Modern Martinism), (Londres: William Rider & Son, 1922), p.27.

[43] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p.470.

[44] – Uma fotografia de uma cópia desta carta pode ser vista no livro.

[45] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p.477.

[46] – David Harrison, ‘Thomas De Quincy: The Opium Eater and the Masonic Text’, AQC, Vol. 129, (2016), pp.276-281.

[47] – R.A. Gilbert, Caos fora de Ordem: O Levante e Queda do Rito Swedenborgian (‘Chaos out of Order: The Rise and Fall of the Swedenborgian Rite’), AQC, Vol. 108, (1996), pp.122-149. Veja também Hamill e Gilbert, World Freemasonry An Illustrated History, p.69.

[48] – Gilbert, Caos fora de Ordem: O Levante e Queda do Rito Swedenborgian (‘Chaos out of Order: The Rise and Fall of the Swedenborgian Rite’), AQC, p.123.

[49] – Idem

[50] – Arturo de Hoyos, (ed.), “O Rito Swedenborgian”, Coletânea (‘The Swedenborgian Rite’, Collectanea), Vol. 1, No. 1, (Impressão privada por GCR dos EUA: 1962), p.18.

[51] – Idem, P.17.

[52] – Idem, P.19.

[53] – Idem, P.23.

[54] – Idem, P. 104.

[55] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p. 490.

[56] – Waite, Nova Enciclopedia (New Encyclopaedia), Vol. 2, p. 363.

[57] – R. F. Gould, História da Maçonaria (History of Freemasonry), Vol III, (Edinburgh: T. C. Jack, 1887), p. 244.

[58] – Veja Johann Wolfgang von Goethe, Jornada Italiana (Italian Journey), (1816-17) e Alexandre Dumas, Mémoires D’Un Medecin. Joseph Balsamo, (1846), ambos os quais se referem a Cagliostro.

[59] – Evans, Cagliostro e seu Rito Egípcio, pp.5-6, embora Evans pareça duvidar que Cagliostro fosse Balsamo. Faulks e Cooper também rejeitam essa teoria, mas dão pouca luz sobre suas origens misteriosas, consulte Philippa Faulks e Robert L.D. Cooper, O Mágico Maçônico: A Vida e Morte do Conde Cagliostro e seu Rito Egípcio (The Masonic Magician: The Life and Death of Count Cagliostro and his Egyptian Rite), (London: Watkins, 2008), p.1 e p.15.

[60] – Waite, Nova Enciclopedia (New Encyclopaedia), Vol. 1, p. 89-99

[61] – Yarker, Escolas Arcanas (Arcane Schools), p. 471.

[62] – Veja Robert Collis, O Iluminismo na Era de Minerva (Illuminism in the Age of Minerva: Pyotr Ivanovich Melissino) (1726-1796) e High-Degree Freemasonry in Catherine the Great’s Russia, 1762-1782′, Collegium, Estudos Pelas Disciplinas Humanas e Ciências Sociais, 16 (Studies Across Disciplines in the Humanities and Social Sciences), (Helsinki: Helsinki Collegium for Advanced Studies), pp.128-168.

[63] – Idem, pp. 143-4. Veja também de Hoyos, (ed.) O Sistema Melissino da Maçonaria (The Melissino System of Freemasonry), pp. 3-4.

[64] – de Hoyos, (ed.) O Sistema Melissino da Maçonaria (The Melissino System of Freemasonry), Coletânea, p. 4.

[65] – Evans, Cagliostro e seu Sistema Egípcio (Cagliostro and his Egptian Rite), p. 24.

[66] – Collis, Iluminismo na Era de Minerva (Illuminismo in the Age of Minerva), Collegium, p. 143.

[67] – Idem, p. 147.

[68] – Idem, p. 142.

[69] – Waite, Nova Enciclopédia (New Encyclopaedia), Vol 1., pp 9-12

[70] – R. F. Gould, História da Franco-Maçonaria (History of Freemasonry), Vol. III, (Edimburgo: T.C. Jack, 1887), pag. 244

[71] – Songhurst, “Ragon”, AQC, p. 103. Uma tradução da Crata Repoa por um Maçom americano no início do século dezenove também é apresentada por Arturo de Hoyos e S. Brent Morris no seu trabalho Comprometido com as Chamas (Committed to the Flames), (Hersham: Lewis Masonic, 2008)

[72] – Veja Nick Farrel, Crata Repoa, (Roma, 2009)

[73] – Idem, p. 10

[74] – Idem, p. 14

[75] – Idem, p. 5

[76] – Waite, Nova Enciclopédia (New Encyclopaedia), Vol 2., pp 271-6

[79] – Veja de Hoyos, ‘Ritos e Sistemas Maçônicos’ (Masonic Rits and SystemsHandbook of Freemasonry), pp. 367-8. Veja também Arturo de Hoyos ‘Abuso Anti-Maçônico da Literatura do Rito Escocês’ (Anti-Masonic Abuse of Scottish Literature), em Arturo de Hoyos (ed.) e S. Brent Morris (ed.), Francomaçonaria em Contexto: História, Ritual, Controvérsia (Freemasonry in Context: History, Ritual, Controversy) (Oxford: Lexington Books, 2004), pp. 259-272, na p. 260

[80] – Harrison, A Rebelião Maçônica de Liverpool e a Grande Loja Wigan (Liverpool Masonic Rebellion and the Wigan Grand Lodge), pp. 32-3

[81] – J. M. Hamill, “O Terceiro Manuscrito Francken do Rito de Perfeição” (A Third Francken MS of the Rite of Perfection), AQC, Vol. 97, (1984), pp. 200-2.

[82] – Harrison, A Rebelião Maçônica de Liverpool e a Grande Loja Wigan (Liverpool Masonic Rebellion and the Wigan Grand Lodge), pp. 55-8 e 68-9

[83] – Eustace B. Beesley, A História da Grande Loja Wigan (The History of The Wigan Grand Lodge), (Manchester: MAMR, 1920), pp. 83-6

[84] – Waite, Nova Enciclopédia (New Encyclopaedia), Vol 1, pp 207-8

Origens do Ritual Maçônico

Maç Primitiva, Operativa e Especulativa | GLERN

As origens das cerimônias maçônicas são integralmente discutidas por Knoop e Jones no Capítulo X do livro A Gênese da Maçonaria. Os autores deduzem as origens de cerimônias maçônicas do século XVIII de duas fontes principais. Em primeiro lugar, a Invocação; a lenda ou “história” do Ofício; e os regulamentos dos maçons, conforme comumente contidos nos manuscritos maçônicos, sendo estes os respectivos protótipos da Oração de Abertura, da História Tradicional e das Obrigações do ritual Maçônico posterior. Em segundo lugar, “a forma de dar a Palavra maçônica” e as Perguntas e Respostas do Teste associadas à Palavra de Maçom. Dois manuscritos dessa natureza foram rastreados até agora: o Manuscrito Edimburgo Register House de 1696 e o Manuscrito Chetwode Crawley , cerca de 1700.

Estas são as primeiras versões conhecidas do que geralmente são chamadas de catecismos maçônicos, e retratam uma cerimônia de uma natureza diferente daquela sugerida nos manuscritos maçônicos.

O Manuscrito Edimburgo Register House de 1698 afirma que “a pessoa que recebe a Palavra” primeiro teve que fazer um juramento de segredo, no qual jurou não revelar por palavra ou por escrito qualquer parte do que eventualmente ouvisse ou visse, ou traçá-la com a ponta de uma espada ou outro instrumento, sobre a neve ou areia. Ele então saia com o maçom mais jovem (último maçom iniciado na loja), que lhe ensinava os sinais, posturas e palavras de sua entrada. Ele então retornava e dizia as palavras à sua entrada, terminando com as palavras “. . . sob não menos dor do que ter minha língua cortada sob meu queixo e de ser enterrado dentro da estranha marca, onde nenhum homem saberá”. Parece que ele então recebia a palavra dada pelo Mestre. O MS. afirma que o texto acima pertence ao Aprendiz e que outros sinais e palavras pertencem a um Mestre Maçom ou Companheiro.

O Manuscrito Chetwode Crawley confirma que havia duas cerimônias diferentes, uma que se aplicava aos Aprendizes e outra aos Companheiros ou Mestres. Os autores consideram que “ambos os tipos de cerimônia operativa, aquela retratada no Catecismos, sem dúvida contribuíram para o desenvolvimento dos trabalhos atuais. . . ” e que “a evidência parece apontar para que membros operativos e não-operativos das Lojas escocesas e para o Maçom Aceito na Inglaterra, usavam um tipo combinado de cerimônia na segunda metade do século XVII.”

As Obrigações de um Maçom foram “resumidas” por Anderson para as suas Constituições de 1723, e orientadas “para serem lidas ao se fazer um Novo Irmão, ou quando o Mestre assim ordenasse”. Elas estão incorporadas ao NZ Book of Constitution (1974 Edition) 9-20. Knoop e Jones (op. Cit p. 235) acham que as Obrigações de 1723 não substituíram as Old Charges, e que essas últimas podem ter continuado em uso até meados do século XVIII.

Em 1734 ou 1735, “Uma curta obrigação a ser dada aos irmãos recém-admitidos” aparece no “Pocket Companion for Free-Masons” de Smith. Utiliza-se em parte do material das Constituições de 1723 com uma boa quantidade de material novo – Leia (op. Cit. Pp. 236 f.) – Os irmãos notarão que muito da substância das Obrigações aparece após a Iniciação na p. 84 do Ritual da Nova Zelândia; e outras partes dele também têm lugar em nosso Ritual.

A edição irlandesa do mês de maio seguinte contém uma Aprovação pela Grande Loja da Irlanda imediatamente após as Obrigações. As Obrigações são reproduzidas quase literalmente no Ahiman Rezon (Ed. 1756) pp. 35-38. As Obrigações agora usadas nos trabalhos irlandeses correspondem bastante de perto aos quatro primeiros parágrafos das Obrigações da N. Zelândia, mas omite completamente os três parágrafos restantes.

A Prece de Abertura, ou Prece de Admissão incorporava uma invocação à Trindade no Manuscrito Aberdeen de 1670 e diz-se que invocações formuladas de forma semelhante à Trindade ocorriam em todas as versões escocesas dos manuscritos maçônicos.

Nas “Constituições” de Penell, publicadas em Dublin em 1730, a “Prece a ser feita na abertura de uma Loja ou ao se “Fazer um Irmão” também é de caráter Trinitário. Este era o Livro das Constituições da Grande Loja da Irlanda; a prece provavelmente estava em uso na Irlanda e contém a essência da prece pelo candidato do Primeiro Grau, na pág. 41, do Ritual NZ.

Três formas alternativas de prece sobrevivem na coleção Rawlinson. Nenhuma delas contém uma referência específica à Trindade. Eles são provisoriamente datadas por volta de 1730 e devem ter existido antes de 1755, o ano da morte do Dr. Rawlinson. Uma delas está impressa na pág. 41 do Ritual da Nova Zelândia.

Os registros da Loja de Pesquisas, No. CC., Irlanda, para 1934-38 contém na p. 137 um artigo de Q Ir∴ Philip Crossly intitulou “Fazendo um Irmão, por volta de 1740”. Ele afirma, inter alia, que os primeiros catecismos não representam uma cerimônia ou ritual fixo; que a classificação da Fraternidade em Aprendizes, Companheiros e Mestres encontrada em “O Livro das Constituições, um deles publicado em Londres em 1723 e outro em Dublin em 1730” são estágios em vez de graus, e não devem ser confundidos com nossa prática atual; que “qualquer Cerimônia de Iniciação em 1730 só acontecia quando o aprendiz era ‘feito irmão’ e recebia a Palavra de Maçom, que significava que nossa fé em Deus se firma na força”; que o irmão era passado ao grau de Companheiro ao dar prova de sua proficiência no Catecismo, aparentemente sem cerimonial; e que ele alcançava a parte de Mestre, ou seja, Mestre da Loja, somente por mérito pessoal ─ “essa Parte deve ter sido inteiramente filosófica.”

Depois de notar isso, Maçonaria Dissecada de Samuel Prichard de 1730 foi frequentemente reimpressa e traduzida para o francês e alemão, apesar da denúncia da Grande Loja da Inglaterra em dezembro de 1730, nosso irmão comenta que “os maçons continentais parecem ter aceitado isso como representação do trabalho inglês ortodoxo”.

O funcionamento da Loja é descrito a seguir: após o Aprendiz ter assumido sua obrigação “era-lhe presenteado  um avental branco de pele de cordeiro com a abeta dobrada para dentro, um par de luvas brancas para ele e outro par para a senhora que ele mais estimava”. A abeta do avental ainda está dobrada para dentro nos trabalhos irlandeses.

AQC LXVI, pág. 107., oferece um relato contemporâneo dos trabalhos maçônicos que parece ter vindo à tona recentemente. Documentos originais do arquivo da Inquisição de Lisboa, descobertos e traduzidos por um membro do Ramo de Lisboa da Associação Histórica, e reproduzidos por cortesia daquela Associação, tratam do julgamento de John Coustos pela Inquisição. Os documentos mostram claramente que o tribunal se esforçou para fazer um registro completo e preciso de seus procedimentos.

John Coustos nasceu por volta de 1700, e antes de 1732 era membro de uma Loja de Londres , a Loja No. 75, hoje Loja Britânica, No. 33; e se tornou Fundador de outra Loja de Londres, a Loja No. 98, constituída em 17 de agosto de 1732 e existente até 1753.

Em 6 de outubro de 1742, um advogado denunciado depôs formalmente perante um Inquisidor “que cerca de um mês e meio atrás apareceram vários professores e adeptos nesta cidade da nova seita chamada ‘Maçons’ condenados pelos Sé Apostólica alguns anos atrás ”- isto sem dúvida se refere ao Bula do Papa Clemente XII em 1738 ″ – “e que o chefe destes é um inglês chamado Monsieur Coustos, Master Diamond Cutter. . . que é um herege. . . ” Ele dá os nomes de outros seis como “companheiros e seguidores da mencionada seita . . . todos franceses e católicos ”, e passa a dar mais informações.

Outro informante depôs em 11 de fevereiro de 1743, e o informante original, novamente, no dia seguinte. Nos dias 21 e 26 de março de 1743, foi registrada a Confissão de John Coustos, ocupando seis páginas da A.Q.C., e o Exame após a Confissão, em 30 de março de 1743, ocupando mais quatro páginas. Ele dá um relato muito completo das ações dos maçons, verdadeiro até onde se pode dizer. As referências ao Primeiro Grau são extraídas daqui – descrição nas páginas 112 e 113, ler: –

Parece que as cerimônias, embora menos elaboradas do que aquelas agora em uso, incorporam muito da substância de nossos atuais Primeiro e Segundo Graus. Diáconos não são mencionados, nem (com uma possível exceção) o Guarda Interno. O registro fala de mais instruções (aparentemente visuais) após a recreação, e parece transmitir que o período de recreação contava como parte do tempo durante o qual a Loja esteve aberta.

A formação da Loja também é descrita: “[..].ali existe…colocada uma mesa, longitudinalmente com três grandes velas de cera sobre ela na forma de um triângulo, a saber, duas nos dois cantos da parte superior da mesa e a outra no meio da parte inferior[…] À cabeceira da mesa está o Mestre principal de todos, e ao lado estão os outros Irmãos de acordo com seu grau, até o último lugar onde se sentam os chamados vigilantes.”. Esse arranjo de velas e cadeiras (considerando o formato diferente da mesa) aparece na Prancha IV na p. 112 do “Guia e Compêndio dos Maçons” de BC Jones.

In British Masonic Miscellany, Vol. IV, pp. 79-131, o Ir∴ Rev. HG Rosedale considera a Evolução do nosso Ritual antes da União (Primeiro Grau). Ele considera as “Exposições” como versões mais ou menos corretas do que realmente acontecia nas lojas, e está satisfeito que em 1724 todas as três cerimônias, de alguma forma, já existiam. Além disso, que as “exposições” do século XVIII indicavam que o ritual era um desenvolvimento gradual, e ele encontra as diferenças entre J. e B.Mahhabone (publicado em 1766), e Hiram sem importância, no que se refere ao ritual. Ele transcreveu onze páginas cifradas de “Chave Mestra” de Browne (1789) e descobriu que eram a parte das perguntas dos três cerimônias; e observa seu desapontamento ao descobrir “o quanto estava faltando para a descoberta de algo como o ritual completo”.

Posteriormente, ele obteve a Segunda Edição (1802), contendo as respostas, parte em cifra e parte em aberto, e considera a obra um “registro realmente confiável”. Infelizmente para o presente propósito, os três catequismos ocupam 1-80, e “Iniciação de um Candidato” apenas pp. 81-82. No pouco material disponível, ele retrata “com pelo menos alguma abordagem geral da verdade” o cenário de uma Loja Maçônica no período de 1800 a 1813. O Mestre estava colocado no Oriente, os Irmãos sendo divididos em duas linhas, ao Norte e ao Sul, e os Vigilantes na extremidade ocidental dessas duas linhas, e representando os dois pilares no pórtico ou entrada, o Primeiro Vigilante à direita e o Segundo Vigilante à esquerda do Mestre, o Segundo Vigilante estando, portanto, ao Sul “em relação ao Primeiro Vigilante e à Loja.”

Nosso irmão começa a ensaiar a cerimônia de iniciação “tomando a versão de Browne e melhorando-a com dicas. . . de formas mais antigas e não apenas do Ritual publicado por. . . Finch ”, em quem nosso irmão está preparado para confiar Ad hoc. O Candidato é admitido no ponto de a s ─- pi – – – t etc.

Na sua entrada, o S.V. vinha em seu auxílio e perguntava ao Guarda do Templo (Tyler) quem ele tinha ali. A resposta era dada muito como atualmente, o S.V. reporta-se ao Mestre e o Candidato é admitido. Depois da prece, etc., ele é conduzido de volta à Loja pelo S.V. e entregue ao P.V. no Ocidente. O P.V. pergunta “quem vem lá” e o S.V. responde nos termos usados anteriormente pelo Guarda do Templo . A cerimônia prossegue com pouca variação em relação ao uso atual, exceto que o P.V. leva o Candidato para o Oriente seguindo as instruções do Mestre.

Os “Antigos” parecem ter usado uma forma de Obrig. mais curta do que a presente, mas incorporando a maior parte do conteúdo. A Obrig dos “Modernos”. era ainda mais curta e parece incorporar as penalidades de mais de um grau, conforme usado hoje. Após a Obrig. o P.V., por ordem do Mestre, “mostra a luz ao Candidato”, assim como o S.V. faz atualmente. As fontes variam em detalhes quanto às Luzes Maiores e Menores e quanto à forma de investidura. Os segredos eram então comunicados e a colocação no canto NE era seguida.

Browne termina a cerimônia aqui, mas versões posteriores de J. e B. e Mahhabone continuam com as Ferramentas de Trabalho, “o desenho no chão” e sua lavagem subsequente pelo iniciado “se for feito com giz e carvão”, seguido pela Palestra do Aprendiz, principalmente um diálogo entre o Mestre e o P.V., com o objetivo de explicar ao iniciado, passo a passo, o significado esotérico daquilo em que ele participou.

Sendo assim, os vislumbres anteriores do ritual sugerem, na minha opinião, um fio bastante forte de continuidade dos Manuscritos, Constituições e Catecismos até a época da União.

Autor: A. L. Blank

Tradução: José Filardo

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

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Reflexos da ética maçônica

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O Rito Escocês Antigo e Aceito tem rica filosofia da qual o Maçom dispõe para a sua autoconstrução. Este cabedal filosófico reflete-se na sociedade na forma de mudanças que promovem libertação do sistema humano que subjuga o pensamento das pessoas. E todas as mudanças sociais e políticas ocorrem antes na mente e depois se materializam na forma de ações e produtos em constante evolução e graus de complexidade. A transformação é obtida aos saltos pelos que trabalham os neurônios constantemente. Abruptamente, despertam, fixam-se e mudam conceitos, verdades. Ao longo da história humana os saltos intuitivos sempre foram influenciados por fatores ambientais, genéticos e culturais. O software da mente gravado no hardware do cérebro humano só progride em resultado da troca de informações entre indivíduos em debates, conversas ou leituras. O método maçônico visa estes saltos intuitivos dos seus adeptos para encontrar a solução de problemas que se refletem na sobrevivência pacífica da espécie humana.

O homem sempre usou dos pensamentos dos seus semelhantes para desenvolver máquinas, escrita, arte, ciência e toda a cultura existente. O Maçom usa os seus companheiros para deles extrair e desenvolver pensamentos que mudem a sua forma de pensar e agir no campo moral. Da camaradagem desenvolvida nas reuniões brota a força que muda intelecto, emoção e espiritualidade. É a energia condicionadora que o grupo social exerce sobre o indivíduo. E isto é realidade desde a época das cavernas, onde um ser humano influiu na educação do outro, até acumular no presente toda a vasta cultura política, metafísica, social e tecnológica. O Maçom é multiplicador da filosofia político-social da Maçonaria. Do conjunto de atividades do filosofar maçônico ele desenvolve posturas que constituem o código de ética que dirige os seus passos e que se reflete no meio social. E como ética e moral se confundem, pois é tênue a sua diferença e profundo o seu alcance, convém esclarecer o que é a ética maçonicamente orientada.

Na conceituação da Ética é possível identificar dois grandes campos de concepções fundamentais: na primeira concepção, “o bem seria para onde se dirigiria o homem”, e na segunda concepção, “o bem seria uma realidade, embora não inscrita na natureza, humana e alcançável” (Abbagnano, 1998, página 380 e 381).

A Ética, um ramo da Filosofia que busca os princípios ou fundamentos da natureza das ações humanas, pode também referir-se a princípios que fundamentam o pensar humano, sem formular ações ou regras de conduta, precisas e fechadas. Ética, também chamada de Filosofia da Moral, é caracterizada por ser um pensar reflexivo dos princípios ou fundamentos que determinam os valores e as normas que governam a conduta humana. Nesta perspectiva, a Ética, enquanto Filosofia da Moral, mantém ampliadas ligações de natureza prática com outras áreas do conhecimento humano, dentre as quais, a biologia, a antropologia, a economia, a sociologia, a teologia, a história e a política. São áreas do conhecimento caracterizadas por serem disciplinas regidas pela lógica cartesiana da sistematização, com ordenamento racional e perda do caráter sagrado, portanto, ciências descritivas ou experimentais.

A Ética, enquanto Filosofia da Moral, ao contrário, busca a determinação dos fundamentos ou princípios que justificam a natureza de teorias normativas e estando determinados os fundamentos ou princípios, aplica-os, se necessário, e quando for o caso, aos dilemas morais.

Algumas áreas do conhecimento que eram objeto de estudo da filosofia, em especial da Ética, após a revolução industrial e a consequente profissionalização e especialização do conhecimento, estabeleceram-se como disciplinas independentes e científicas. Assim, pôde a Ética ser definida como a área da Filosofia que estuda as normas morais nas sociedades humanas e que pretende explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem como, solucionar dilemas a ela inseridos.

A Moral é um conjunto de normas e regras estabelecidas por cada sociedade e aplicadas ao quotidiano de cada pessoa. A Moral ocorre em dois planos: o normativo e o factual. De um lado, nela encontramos normas e regras que tendem a regulamentar a conduta dos homens e, de outro lado, um conjunto de atos humanos regulamentados por eles; cumprindo assim a sua exigência de realização (Vásquez, 1998, página 51-64). A Moral, com as suas normas e regras, que orientam e julgam as ações do indivíduo sobre o que é certo e errado, bom e mau, moral e imoral. Um pensar sobre a conduta.

A Ética investiga justamente o significado e propósito desses adjetivos, tanto em relação à conduta humana, como no seu sentido fundamental e supremo. Um pensar a partir de princípios ou fundamentos. Um infindável pensar, refletir e construir.

Noutra perspectiva, existe a Moral como primazia exclusiva, defendida por um sistema filosófico, o Moralismo, que fundamentou ideologias de intolerância, de preconceito e de puritanismo. Para alguns, a palavra Moral foi desqualificada por esta associação a Moralismo e, deste modo, justificaram a preferência em associar à palavra Ética as regras e os valores por eles consagrados. No campo das ideologias, não se pode deixar de apontar a diferença que se estabeleceu entre a lógica dos que associaram a palavra Ética às regras e valores por eles consagrados e a lógica dos moralistas, onde a Moral aparece como primazia exclusiva. Passou a referir-se a julgamentos éticos, ou princípios éticos, quando seria mais pertinente falar de juízos morais ou princípios morais.

Assim, existem pessoas que possuem um valor e por um processo psicológico que legitimam as normas ou regras decorrentes e pautam a sua conduta por elas, sem controle externo, só porque estão emocionalmente convictas de que esta regra representa um bem moral. Outras pessoas por costume e por hábito validam certas condutas.

Há aquelas que consideram determinadas condutas como boas, e assim, devem ser praticadas. Aqui o juízo de valor como matriz para a legitimação das normas. São exemplos de conduta Moral, de Moralidades. Existem pessoas em que os processos inconscientes seriam os determinantes da conduta moral, que são oriundos da sua individualidade pessoal e social, responsável pela forma habitual e constante de agir do caráter e da personalidade. Este é um exemplo de Ética, enquanto Filosofia da Moral.

A partir do final do século XIX, da era dos sofistas e início do século XX, observa-se na Ética ocidental três perguntas constantes:

  • Seriam os juízos éticos reflexos dos desejos dos que os criam ou verdades inseridas neste mundo?;
  • Seria a ação boa, fruto da racionalidade construída, introjetada ou inculcada ou simplesmente ação vinculada ao interesse próprio?; e ainda,
  • Qual seria a natureza do certo, do errado e do bem?

Desde o início do século XX estes temas desenvolveram-se nas mais variadas formas, com ênfase na aplicação da Ética para problemas práticos e descritos como Ética normativa, Ética aplicada e Meta-ética. Esta última como estudo que, diferente de se prender à análise de teorias éticas ou julgamentos morais, dedica-se à busca da natureza dos juízos morais, se objetivos ou subjetivos.

Por óbvio, pode-se estar a inserir aqui a Ética Maçônica como estudo contemporâneo e ajustado ao paradigma deste milênio, quando ela busca ajudar os irmãos a legitimar intimamente valores, pela introjecção de princípios ou fundamentos que os farão conduzir-se, coerentemente, por normas e regras consagradas como boas e virtuosas. Abordam-se os princípios ou fundamentos filosóficos que pretendem ser valores intimamente legitimados pelos maçons e passem a ser sistema de regras e normas que os norteiem e os qualifiquem nas relações entre irmãos e sociedade.

Considera-se que o Maçom se aperfeiçoa gradativamente, lentamente acordando dentro de si mesmo, pela auto-educação, autoconhecimento e relações fraternas. Esta ética maçonicamente orientada, onde algumas etapas o levam a evoluir como pessoa humana pertencente a um único corpo vivo e interdependente ao qual se denomina humanidade.

E esta humanidade é o que o Maçom desenvolve em si na sua caminhada, na sua busca por religação ao divino e para cumprir a especificação de projeto do Grande Arquiteto do Universo. A ética maçônica tem reflexos imediatos na vida do cidadão formado nas colunas da Maçonaria. O Maçom que muda a si mesmo influencia o Universo inteiro e não apenas a circunvizinhança. Isto é perceptível na sua vida quando ao mudar paradigmas se torna dono do seu próprio futuro.

Autores: Charles Evaldo Boller e Carlos Alberto Peixoto Baptista

Fonte: Freemason

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A Iniciação Real e a Morte do Ego – Parte II

Memento mori, o recado que todo homem deveria lembrar - El Hombre

O que era Kykeon?

Qual poderia ser um elemento final mais apropriado para essas celebrações dos estados em mudança da natureza e do potencial agrícola do que consumir o kykeon, uma bebida geralmente à base de grãos que foi entendida como indutora de estados visionários.

Refletindo sobre as qualidades visionárias do kykeon, um iniciado descreveu o que aconteceu poeticamente:

“À meia-noite, vi o sol brilhando sob uma luz branca brilhante.”

Ao se unirem para unir, dançar, consumir a poção kykeon e se deleitar com seus efeitos reveladores, ​as pessoas que participaram promoveram um poderoso senso de conexão com amigos, família e o mundo em geral. Nesse sentido, os Mistérios forneceram um antídoto poderoso para sentimentos de isolamento, depressão e privação social.

O Kykeon é famoso por seu uso nos Ritos de Deméter, na cidade de Elêusis, onde foi usado pelos iniciados para experimentar o mistério da morte e do renascimento no ritual que passou a ser conhecido como Os Mistérios Eleusinos.

O Kykeon era diferente de uma bebida comum, pois possuía propriedades altamente psicoativas, provocadas por um fungo parasitário que cresce nos grãos de cevada e centeio que contém os alcaloides ergotamina. Segundo Hofmann, a ergotamina era o ingrediente psicoativo que alimentava os mistérios eleusinos.

MD, PHD, Albert Hofmann foi um cientista suíço, é mais conhecido como o “​pai” do LSD. Ao trabalhar no isolamento de princípios ativos presentes no fungo ergôt, sintetizou o Ácido Lisérgico obtido a partir da hidrolisação da ergotamina (substância obtida no fungo).

Era o que ​permitia aos iniciados nos Mistérios alcançar uma compreensão mais completa de seus objetivos na vida e para encerrar o medo da morte, como testemunhos de escritores antigos que participaram dos Mistérios atestam.

Entre os participantes estavam Sócrates, Aristóteles, Sófocles, Plutarco, Cícero, Platão, entre muitos outros, Platão menciona os mistérios especificamente em seu diálogo sobre o Fédon, alegando que somente aqueles que foram iniciados podem morar com os deuses. Foi sugerido que o Fédon lida com a imortalidade da alma, que Platão queria dizer que apenas os iniciados desfrutariam de uma vida após a morte gratificante. No contexto do diálogo, no entanto, parece mais provável que ele quis dizer que ​apenas os iniciados tinham uma compreensão dos assuntos mais importantes da vida enquanto viviam. Outros escritores antigos, como Plutarco, apoiariam essa interpretação. Ele escreveu que, depois de iniciado, perdeu o medo da morte e se reconheceu como uma alma imortal. O ingrediente psicoativo do ergot no kykeon, combinado com o ritual no subterrâneo Telesterion, produziu um evento de mudança de vida nos comunicantes. Os ritos de Deméter tinham uma importância incrível para aqueles que participavam deles, e kykeon foi a chave que abriu a mente daquele povo aos segredos de seus deuses.

Plutarco escreveu:

“Por causa das promessas sagradas e fiéis dadas nos mistérios … mantemos firmemente por uma verdade indubitável que nossa alma é incorruptível e imortal … quando um homem morre, ele é como aqueles que são iniciados nos mistérios. Toda a nossa vida é uma jornada por caminhos tortuosos, sem saída. No fim, surgem terrores, angústia medo e pânico. Então uma luz que se move ao seu encontro, prados puros que o recebem, cantos e danças e aparições sagradas.”

Dentro do templo escuro, os participantes tiveram que exclamar: “Eu jejuei, bebi o kykeon”. O que acontecia depois é, como o nome do evento sinaliza, mistério. No Fedro Platão apresenta este relato:

“Com uma companhia abençoada, nós seguimos na carruagem de Zeus e outros na de algum outro deus … vimos a  verdade e as visões divinas, e fomos iniciados naquilo que é justamente chamado o mais sagrado dos mistérios, que celebramos em um estado de perfeição … sendo permitidos como iniciados à visão de aparições perfeitas, simples, calmas e felizes, que vimos à luz pura, sendo puros e não sepultados naquilo que carregamos conosco e que chamamos de corpo, em que somos presos como uma ostra em sua concha.”

Assim, é bem claro que os psicodélicos tenham inspirado o dualismo mente, corpo predominante no Ocidente, não apenas na filosofia, mas também na religião: a influência de Platão no cristianismo era substancial. Nietzsche chegou a afirmar que “o cristianismo era platonismo para o povo”. Independentemente da validade ou não dos argumentos de Platão, seu pensamento visionário esclareceu nossa cultura. Através de uma caverna sombria, Platão veio a ver a luz e esse raio de sol da filosofia, ciência, razão e o próprio “Mito da Caverna”  surgiu da experiência Iniciática psicodélica.

Agora, se olharmos para culturas que usaram plantas psicoativas em rituais religiosos ou xamânicos por milênios, há uma constante nos ritos de provocar uma ​experiência de morte (EQM) e renascimento, o que às vezes é chamado de morte simbólica, descida ao submundo ou V.I.T.R.I.O.L.

A experiência psicodélica está profundamente ligada à experiência e ao conhecimento da morte.

Isso ficou evidente para o Timothy Leary, Ph.D., professor de Harvard, psicólogo, neurocientista, escritor e futurista, que na década de 1960 modelou a experiência psicodélica em torno do Livro Tibetano dos Mortos, ou o Bardo Thodol, o texto milenar do budismo tibetano que lida com a navegação pelos mundos intermediários (bardos) que continuam até o mundo dos mortos. Escatologia budista, na qual se acredita que a continuidade da mente está além deste plano da realidade.

Leary nos diz que os psicodélicos poderiam ser usados ​​como uma bússola para navegar por esses planos sutis da realidade, que emulavam os mundos intermediários ou zonas liminares que os místicos haviam atravessado antes.

A chave para uma experiência psicodélica e uma experiência mística, sugere Leary, é a morte do ego.

Na alquimia, a primeira etapa do processo alquímico é Nigredo, a morte do velho para que (dessa massa putrefata) nasça algo novo e melhor. A queda da árvore seca para nasça uma árvore nova. A queda do ego para o nascimento do homem natural, o homem divino.

Como em Elêusis ou nas meditações budistas, na yoga, no Vipassana e nas diversas outras práticas de expansão da consciência, o que se pode aprender em uma genuína experiência psicodélica é que a única coisa que pode realmente morrer é o ego, essa personalização ilusória, e esse é apenas o primeiro passo da experiência com a realidade que se esconde por trás de nossos condicionamentos e sistemas de crenças.

No entanto, as nuvens escuras acabaram por obstruir o sol com o surgimento de um cristianismo militarista. Em 392 dC, os templos eleusinos foram fechados por decreto pelo imperador romano cristão Teodósio I. Com isso, a Idade das Trevas começa, escondendo a luz do pensamento pagão ou secular, apenas para retornar com o Renascimento e depois com o Iluminismo.

A Morte do Ego

Morte do ego é uma “perda completa de auto identidade subjetiva”. O termo é utilizado em vários contextos entrelaçados, com significados relacionados. Na psicologia junguiana, o sinônimo termo​ morte psíquica é usado, que refere-se a uma transformação fundamental da psique. Na morte e na mitologia, o renascimento e morte do ego é uma fase de auto-entrega e de transição, como descrito por Joseph Campbell , em sua pesquisa sobre a mitologia da Jornada do Herói . É um tema recorrente na mitologia do mundo e também é usado como uma metáfora em algumas correntes do pensamento ocidental contemporânea.

O conceito também é usado na espiritualidade contemporânea e na compreensão moderna das religiões orientais para descrever uma perda permanente de ​”apego a um sentido separado de si mesmo” e ​egocentrismo. Esta concepção é uma parte influente dos ensinamentos de Eckhart Tolle, onde o Ego é apresentado como um acúmulo de pensamentos e emoções, continuamente identificados com, o que cria a ideia e sentimento de ser uma entidade separada, e só por desidentificação, a consciência pode verdadeiramente estar livre do sofrimento (linha filosófica budista).

Nossas consciências são como água cheia de barro agitada numa jarra de vidro. O Budismo chama isso de “mente nublada”, na qual é impossível enxergar de forma clara. Essa agitação sempre nos impossibilita de compreender melhor nossos sentimentos e reagir de uma forma mais adequada, gerando, assim, mais confusão e inquietude.

Através da experiência de morte do ego e, pela prática de diversas formas de expansão de consciência se aprende a aquietar essa água para que todo o barro assente e, enfim, possamos ver do outro lado.

O que resta quando removemos o ego, é a consciência real e imortal, diriam os místicos de todas as idades.

O ego não existe por si só. Se você meditar profundamente sobre um determinado ego (“eu”), vai perceber que ele se desvanece como uma nuvem. Ele não possui essência, não tem nada de concreto, é apenas uma associação de pensamentos que adquire uma personalidade própria. É como um fluir de pensamentos e emoções que se enredam e assumem a ilusão de ser alguma coisa real. Todos os egos são apenas associações de pensamento, assumem uma personalidade e quando estão no comando temos tanta certeza de sua existência que pensamos: este sou eu, eu sou assim, eu quero isso, eu não quero aquilo, é minha opinião. Porém, nada mais falso, são apenas pensamentos agrupados e associados que assumem vida própria e por alguns momentos acabam por assumir o comando.

Importantíssimo entender que a verdadeira iniciação, é uma morte momentânea do ego, uma abstração dos sentidos, dos pensamentos e da racionalização, uma expansão da consciência ilimitada do ser. O ego/personalidade é o nosso software/papel teatral, é essencial para atuação dos personagens no palco tridimensional em que nos encontramos​.

O ego não pode ser morto, pois não existe, é a ilusão de identificação com algum conceito que você criou de si mesmo (personalidade, corpo, status, etc.). Quando você diz que vai matar o ego, é o próprio falando. Quando você diz que se tornará superior ao ego, é o próprio falando. Quando você diz que vai lutar contra ele, é o próprio falando. Qualquer mentalização provém do ego. O que está além é a vontade pura, sem pontes para a expressão. É algo que não se descreve, não se fomenta e não se põe em movimento linear.

Deste modo, quem insiste em querer dissipar o ego está vivendo uma fantasia. Sendo o ego uma característica da mente, tudo o que for do pensamento parte inevitavelmente do mesmo princípio: o ego. Portanto, a ação em si já uma característica “corrompida” pela mente, impedindo que haja a separação, tão aclamada pelo pseudo consciente, entre seu Eu Profundo e o ego. Matá-lo então é um pensamento tolo.

Portanto, matar o ego é impossível, ele sempre existirá, a não ser num estado da não-forma, no estado da divindade em si, do espírito, do total abstrato e subjetivo. Enquanto houver antropomorfização do espírito, a mente persistirá.

O ego é a soma de nossos muitos defeitos psicológicos que vivem em nosso mundo interior, que foram criados e continuam a ser alimentados inconscientemente por nós mesmos.

Esses defeitos se nutrem das energias dos centros da máquina humana. Cada um desses defeitos é chamado também de “eu” ou ainda “detalhe do ego”.

O ego é realmente a causa de nossos sofrimentos, inconsciência, erros, vícios, medos, fraquezas, etc.

No antigo Egito o ego era conhecido como os demônios vermelhos de Seth. No BhagavadGita o ego é simbolizado como os “parentes” com os quais Arjuna, iluminado diretamente pelo Sr. Krishna, deveria travar terríveis batalhas. Na mitologia grega o ego é, entre outros simbolismos, representado pela Medusa, causadora de todo tipo de sofrimento aos homens e que é decapitada pela espada de Perseu. Na Bíblia podemos reconhecer o ego na passagem na qual o divino mestre Jesus pergunta ao demônio que possuía o infeliz geraseno qual era o seu nome, sendo que este lhe responde:

“Meu nome é Legião, porque somos muitos.” (Marcos – 5,1-20).

Também dentro do cristianismo podemos encontrar o ego representado nos chamados sete pecados capitais relacionados por Tomás de Aquino: luxúria, ira, inveja, cobiça, gula, preguiça e orgulho.

Enquanto mantermos em nosso interior essa natureza inumana e selvagem, seremos criaturas limitadas, inconscientes, sofredoras e vítimas das circunstâncias. Se os seres humanos não carregassem dentro de si o ego incontrolável, o mundo seria um verdadeiro paraíso.

Nossa consciência é uma partícula divina, que podemos também chamá-la de Essência.

Conforme escreveu Victor Hugo:

“Escuta tua consciência antes de agir, porque a consciência é a divindade presente no homem.”

A Essência é o que de mais nobre levamos dentro e é imortal. Conforme vamos eliminando os detalhes do ego vamos fortalecendo essa consciência ou alma, já que cada eu mantém aprisionada uma fração de nossa Essência.

Considere cada um, como uma garrafa que mantêm a nossa verdadeira consciência aprisionada. Quebrando a garrafa retorna a nós aquela parcela de consciência que estava presa. É dessa forma que vamos realmente mudar interiormente, substituindo pouco a pouco nossos muitos defeitos e vícios psicológicos por nobres e belas virtudes.

O trabalho da morte do ego é antiquíssimo e sempre foi ensinado à humanidade pelos vários Mestres, Jesus Cristo, Buda, Quetzalcoatl (O Cristo asteca), Hermes Trismegisto no Egito, Krishina entre outros, que vieram para instruí-la, mostrando-lhe os meios para acabar com seus próprios sofrimentos e limitações.

Cada um ensinou a mesma doutrina, porém adaptada ao seu tempo, com seus próprios termos e símbolos. Infelizmente quando o Mestre parte, os homens, manipulados por seus próprios egos, começam a distorcer a doutrina e pouco a pouco o principal se perde ou é oculto da humanidade.

A camada egóica é o primeiro estágio de transição entre o mundo externo finito, e o mundo sútil infinito. O ego está no mundo e a alma experimenta o mundo usando ego como veículo.

“O ego são hábitos da mente. São as identificações equivocadas e os padrões repetidos de pensamento que ocorrem repetidamente, no tempo passado e no tempo futuro(ilusões). O ego que encobre a experiência do ser ontológico. O ego surge, prendendo sua atenção e  puxa você para fora em direção ao mundo limitado temporal, assim refletindo ilusões, em vez de ir para dentro, em direção ao Ser(presente). Isso acontece com tanta freqüência e tão continuamente que a identidade original nunca tem a chance de entender sua natureza real. Você só pode escapar dos hábitos do ego, permanecendo na consciência como consciência(imanência do real). Seja quem você é. Seja como você é. Fique quieto. Ignore todos os hábitos do ego, que surgem na mente e fixe sua atenção no Ser, no agora.

… o ego não existe no agora, pois a mente temporal transcende sua ilusão de tempos que não é você, sua natureza original.” (Annamalai Swam)

Considerações finais

Diante de tudo o que foi exposto, podemos dizer que a experiência iniciática ritualística somada a experiência psicodélica têm como principal orientação e objetivo​, ​induzir um conhecimento experimental da morte​, uma EQM; ​a Verdadeira Iniciação​, um mergulho nas profundezas da Psiquê, uma amostra do Mysterium tremendum et fascinans, um vislumbre da eternidade divina, que sacode o indivíduo, e de alguma forma experimenta e entende o ​significado da morte na epifania psicodélica, com a experiência bioquímica na qual ele eleva a consciência cumprindo o papel de Hermes. O psicopompo do submundo que leva Perséfone de volta ao mundo superior, através do grande limiar da existência humana e em suas visões ou nas didáticas teatrais psicodramáticas de Elêusis,​o mistério filosófico da morte é revelado​.

Do mesmo modo, essa Tecnologia/Pedagogia do supra-mundo, somada aos ​símbolos, alegorias e psicodramas e ​transmissão de conhecimentos sistema mestre discípulo​, a experiência de quase morte (EQM) ou a experiência psicodélica, desencadeia uma transformação profunda e na maioria das vezes irreversível.

Acreditamos que essa transformação ocorreu devido à beleza e profundidade do que foi vivenciado (e entendido) em Elêusis. Escreveu o poeta Pindar

“Bem-aventurado aquele que viu essas coisas
antes de deixar a terra:
porque ele entende o fim da vida mortal
e o começo de uma nova vida, dada na divindade.”

Em várias tradições, quem conhece a morte, quem retornou de seu domínio ou que ​foi iniciado nos seus segredos é considerado alguém especial, que leva a marca do xamã, do místico, do profeta, do mestre, no sentido de poder orientar (direcionar para o Oriente) e conduzir os novos aprendizes neófitos, pois já mergulhou nas profundezas de si mesmo, não através de símbolos incompreendidos, ritualísticas automatizadas e alegorias desapercebidas, mas através da ​iniciação real, a morte Iniciática, e consequentemente sua “ressurreição”, a experiência em si resulta no conhecimento de si mesmo. Essas histórias de morrer e renascer se repete nos mitos e refere-se a essa ​iniciação “Real”.

O conhecimento de si mesmo, o ​desbastar da Pedra Bruta, é o primeiro passo para a “educação” do ego/personalidade. Através dessa “morte” momentânea, damos um “reboot”, um novo início, conscientes dos condicionamentos, preconceitos e fanatismos que acumulamos através de nossa formação humana normótica.

Primeiro o ​VITRIOL​, em seguida ​erguer templos a virtudes, e cavar masmorras aos vícios, vigilantes e perseverantes.

Não é totalmente difícil entender que a morte confere poder sobre os outros e também sobre a própria vida, talvez porque diante do conhecimento da imortalidade se perca o medo e a ansiedade que caracterizam os mortais, justamente porque eles pensam que são mortais. ​Aqueles que beberam do elixir da vida eterna se tornam imortais.

Para platonistas e budistas, manter a morte em mente é o fundamento da ética individual, pois a vida encontra seu significado na morte ou pelo menos a possibilidade de sua transcendência.

No caso da filosofia platônica, a morte, como Sócrates sugere, é a possibilidade de separar os impuros dos puros e elevar a alma a um estado beatífico de unidade com os deuses e as formas da eternidade. Esse estado de pureza contemplando a justiça, a bondade e a beleza, e agindo de acordo com estas noções mais altas que advêm da ideia do bem.

Também se sabe que uma das práticas espirituais de linhas específicas de monges budistas e yogues hinduístas é contemplar imagens de cadáveres, lembrando-lhes que a existência é impermanente (​memento mori), que o corpo é perecível e que eles têm uma oportunidade inestimável para finalmente transcender a morte ainda em vida.

Segundo Manly P. Hall, o que foi ensinado em Elêusis foi que a alma humana era a fênix, o misterioso pássaro de fogo renascido de suas cinzas. E simbolicamente, o ensinamento de que precisamos morrer para acessar nossa essência divina (ou simplesmente vislumbrar a realidade por trás do “véu de Maya” e da ilusão da ignorância).

Como escreveu o iniciador João Batista, nosso Patrono, que oferecia às margens do rio Jordão, a Iniciação Real através da prática essênia do afogamento ritualístico:

“Somente quem nasceu de novo terá acesso ao reino dos céus.
Mas para nascer de novo, é necessário estar disposto a morrer.”

O INICIADO

De um ponto de vista psicológico, o iniciado deve abandonar os anseios regressivos que demandam a eterna e passiva felicidade do útero, pelo Êxtase da Iluminação. Através deste processo, o homem livra a si mesmo de suas amarras inconscientes e, desta forma, libera e purifica suas energias mais profundas para realizar sua Verdadeira Vontade. Muitos vivenciam este processo como uma morte a perda do mundo infantiloide do ego criança e dos desejos que nunca tiveram a vontade ou a força para realizarem a si mesmos.

O homem não redimido está adormecido e simplesmente se debate em suas fixações inconscientes, acreditando nos sonhos da infância, aos quais se apega fixamente por meio dos ergs da natureza, para sempre sob sua inquieta misericórdia.

Para ser transformado, o homem em sua forma mais inferior deve encontrar uma energia despertadora em alguma fonte mais elevada. Esta força é o Gênio Superior, despertado e sustentado através dos rigores da preparação, culminando em iniciação.

O iniciado cria a si mesmo desde Si Mesmo, e através disto ele é rejuvenescido. Finalmente, o iniciado pronuncia e grita, seu próprio nome, aquele que ele finalmente escolheu para simbolizar sua Verdadeira Vontade. Este é seu renascimento. Mas mais ainda, pois ele não é o mesmo homem, mesmo em sua aparência física, pois para alguns isto também muda.

Para muitos, o nascimento do iniciado pode ser visto como a aurora de um Novo Sol. É o resultado do Velho Sol sendo devorado pelo Mar, fertilizado e prenhe, dando nascimento ao Novo Sol – A Aurora Dourada.

Israel Regardie
(What you should know about the Golden Dawn)

A Prudência nos alerta para encerrar por aqui.

Autor: Geovanne Pereira

Geovanne é professor de Filosofia, psicanalista, Mestre Maçom da ARLS Jacques DeMolay, n°22 – GLMMG e, para nossa alegria, também um colaborador do blog.

*Clique AQUI para ler a primeira parte do texto.

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A Cabala, a Maçonaria e os cargos em Loja

sacredtexts - "The Sephirothic Tree is sometimes depicted ...

Cabala ou Kabala, do hebraico Kabbalah – tradição oral – com o significado literal de RECEBER é a sabedoria oculta dos judeus muito estudada na Idade Média, pelos rabinos. Em outra versão a palavra Cabala tem origem no vocábulo hebraico “kibbel”, significando lição, tradição, ensino.

Considerada um sistema filosófico-religioso judaico de origem medieval, sendo que no entanto, integra elementos que remontam ao início da era cristã, e mesmo se reportando a época dos patriarcas bíblicos, ela não poderia ter sido escrita, mas sim transmitida de foram oral.

De acordo com a tradição hebraica, os ensinamentos da Cabala começaram a ser transmitida de forma oral.

Foi por Enoque um patriarca bíblico, que a transmitiu aos seus descendentes, e posteriormente, Moisés, para evitar que esses ensinamentos se perdessem, comunicou-os aos setenta anciãos escolhidos por ele , sendo que  daí para frente o foi de forma escrita.

Mas esses ensinamentos, ao serem escritos, o foi de uma maneira simbólica, para dificultar a compreensão do homem comum, , mas tão somente dos iniciados. Dois são os livros fundamentais da Cabala: o Sefer Yetsirah, ou Livro da Criação, e o Zohar, ou Livro dos Esplendores.

Ela surgiu, na sua forma atual, por volta do século XII. Compreende preceitos práticos, especulações de natureza mística, esotérica e taumatúrgica, informando que nosso universo é uma emanação divina, sendo utilizada para a interpretação e esclarecimento do significados ocultos do Antigo Testamento.

O segredo da Cabala é relacionar e comparar palavras e números da Torá (Antigo Testamento) de uma maneira detalhada e clara, sendo que sua origem está no Sefer Ietsirá, ou Livro da Criação, obra de autoria e data incerta. A obra em questão explica que Deus criou o Universo usando as 22 letras do alfabeto hebraico. “O Gênese já dizia que o verbo divino foi o instrumento da Criação: Deus disse ‘Haja luz’, e houve luz, assim foi criada a Terra.

De acordo com a Cabala, há uma Bíblia que pode ser lida por qualquer pessoa leiga e uma outra que só pode ser entendida pelos estudiosos e pelos iniciados. É nesta última interpretação que está oculta a verdadeira sabedoria, que foi transmitida oralmente de acordo com a tradição oral a Abraão e confirmada a Moisés no Monta Sinai.

Assim, de acordo com a Cabala, cada símbolo, letra, número, tem um significado literal e um outro oculto, somente conhecido dos iniciados e estudiosos.

No estudo da Cabala, podemos ver a chamada Árvore da Vida, que é um desenho considerado magico e também filosófico que indica como Deus construí o universo físico e espiritual através de suas emanações. Como o próprio nome diz, ela tem a forma de uma árvore, projetando dez ramos ou galhos, conhecido como Sephirot, podendo elas ser interpretadas como energias criadoras ou emanações, como se fossem estados de consciência, a indicar a evolução do homem.

Essas dez emanações, que podem ser entendidas como sendo os atributos da divindade,  são a Coroa, (Kether), a Sabedoria (Chokhmah), a Inteligência (Binah) a Grandeza (Hesed), a Justiça (Gueburah), a Beleza (Tifheret), a Eternidade (Nethsat), a Glória (Hod), o Fundamentos (Yesod) , o Reino (Malcuth), podem ser consideradas a inteligência pura, que se manifesta em cada fase do universo, podendo também ser considerada a representação cósmica da criação.

Desta maneira, nosso simbolismo concorda com o que a Cabala tem de primordial, sendo que iremos demonstrar a relação da Árvore da Vida, com os cargos em loja, como veremos a seguir:

  • Venerável Mestre (Kether) – Coroa ou Unidade;
  • Orador (Binah) – Sabedoria;
  • Secretário (Hokmah) – Inteligência ou Compreensão;
  • Tesoureiro (Geburat) – Justiça ou Julgamento ou ainda Rigor;
  • Chanceler (Hesed) – Grandeza ou Misericórdia;
  • Mestre de Cerimônias (Tiphaeret) – Beleza;
  • 1º Vigilante (Hod) – Glória ou Esplendor ou ainda também pode ser Vitória Firmeza, de acordo com nossos rituais;
  • 2º Vigilante (Netzah) – Eternidade ou Ordem, ou ainda Esplendor;
  • Experto ou Mestre Harmonia (Yesod) – Fundamentos ou Fundação ou ainda ao Experto como guarda das tradições;
  • Guarda do Templo (Malkut) – Reino ou Mundo Profano.

O Livro da Lei, na Árvore da Vida, corresponde a Daath.

Sua presença mais evidente se dá no REAA, sendo que o Templo e as colocações dos cargos e altar seguem a famosa Árvore da Vida.

Antigamente, antes das diversas mudanças das várias obediências no REAA, o trono do 2º Vigilante ficava no lado ocidental da Coluna do Sul, paralelo ao trono do 1º Vigilante. Hoje o 2º Vigilante foi para centro da Coluna do Sul, como podemos observar. Essa influência ocorreu devido aos templos ingleses e ao Rito de York. A Maçonaria brasileira, por total desconhecimento, realizou com o passar dos tempos diversas alterações em seus templos do REAA, desfigurando totalmente a Árvore da Vida pela influência de outros Ritos e Rituais.

Autor: Dermivaldo Collinetti

Dermivaldo é Mestre Maçom da ARLS Rui Barbosa, Nº 46 – GLMMG – Oriente de São Lourenço e, para nossa alegria, um colaborador do blog.

Referências

FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria.

ISMAIL, Kennyo. O  que é cabala e qual sua verdadeira relação com a maçonaria? Escola no esquadro, 2008.

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Ramsay e os Graus Superiores – uma visão diferente

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Todo estudante da Maçonaria Europeia, principalmente se estiver interessado no desenvolvimento dos graus superiores e da Cavalaria na Maçonaria, encontrará o nome de Andrew Michael Ramsay. Esta figura enigmática ainda ganha atenção e sua suposta influência foi, por exemplo, um dos principais temas para workshops e trabalhos na Segunda Conferência Mundial sobre Fraternidade, Maçonaria e História em Paris, em maio de 2017. Ramsay merece a posição que historiadores lhe reservaram como uma peça-chave no desenvolvimento dos rituais Maçônicos. No entanto, sou da opinião de que os pedaços disponíveis sobre Ramsay, e o que se sabe sobre seu trabalho, bem como a época em que ele viveu, pode ser organizado para formar uma visão alternativa, que mostra que sua influência hoje é considerada um tanto exagerada.

Quem foi Ramsay?

Este não é o lugar para uma visão completa da vida de Ramsay, mas para os interessados, biografias detalhadas estão disponíveis em outros lugares[1]. No entanto, alguns eventos devem ser mencionados: Ramsay era filho de um ministro episcopal em Edimburgo e foi provavelmente nascido em Abbotshall, em Fife, em meados de junho de 1693. Completou sua educação na Universidade de Edimburgo em 1707 e foi empregado como tutor em uma família nobre em 1708. Posições semelhantes também devem ter sido o seu sustento mais tarde.

Por volta de 1710, ele deixou a Escócia, para a França, e poucos meses após sua chegada, se converteu à fé católica devido à influência do arcebispo Fénelon. Ramsay voltou para Escócia em 1715 para se juntar ao exército jacobita, foi capturado após a Batalha de Preston em novembro do mesmo ano, mas escapou e fugiu de volta para a França[2].

Em 1716, chegou a Paris, onde residiria até sua morte em 1743. De 1717 a 1722 trabalhou novamente como tutor. Seu empregador em Paris era um dos conselheiros mais próximos do regente francês, e há motivos para supor que esse relação foi fundamental para que fosse nomeado Cavaleiro em 20 de maio de 1723 da L’ordem de Saint- Lazare de Jérusalem, pelo qual adquiriu o direito de usar o título de “Chevalier” (Cavaleiro)[3].

Ramsay, no entanto, aspirava glórias maiores. Em Paris, ele fez contato com a alta cúpula jacobita, e em várias ocasiões expressou sua lealdade ao exilado James Edward Stuart (James III) como o legítimo rei da Grã-Bretanha[4].

Não está claro se Ramsay ainda era um defensor da causa Stuart, ou se ele apenas achou oportuno explorar as circunstâncias. No entanto, James Edward parece ter adquirido grande estima sobre ele. Quatro dias depois de ser Cavaleiro na França, ele recebeu a confirmação do pretendente de que era de família escocesa nobre e, em em 1724, foi chamado à corte dos Stuarts em Roma como professor do filho de James Edwards, Charles Edward, que tinha cerca de quatro anos de idade. No entanto, foi uma empreitada malsucedida, e Ramsay retornou a Paris em poucos meses. Continuou, no entanto, a manter contato com a comunidade jacobita e em 1735 James Edward o elevou a Barão Escocês. Ramsay também foi autorizado a passar seus últimos anos em Saint-Germain-en-Laye, o palácio dos Stuarts perto de Paris.

O Maçom Ramsay

Em 1727, Ramsay publicou com sucesso o romance Les Voyages de Cyrus. Em meados de 1729, viajou para a Inglaterra em conexão com a publicação da tradução de seu livro e ficou no país por cerca de um ano. Durante seu tempo na Inglaterra, foi nomeado Doutor em Direito em Oxford e eleito Membro da Royal Society. Em março de 1730 foi iniciado na Maçonaria. Isso aconteceu no Horn Lodge. Talvez o Loja mais prestigiada de Londres, onde Desaguliers e outras figuras-chave dentro da Royal Society eram membros[5].

Depois que Ramsay retornou a Paris de sua estadia na Inglaterra, há apenas informações indiretas sobre suas atividades como maçom. Em uma carta datada de 02 de agosto de 1737, Ramsay afirma que havia servido como orateur (Orador) durante várias iniciações maçônicas em Paris, e um de seus contemporâneos confirma que Ramsay era conhecido por fazer discursos em tais “Iniciações”. Acredita-se que o conteúdo de um manuscrito com o título 1736 Discours de M Le Cher de Ramsay prononce a la Loge de St Jean le 26 Xbre (Discursos do Cavalheiro Ramsay, pronunciados na Loja de São João, em 26 de Dezembro), preservados na biblioteca da pequena cidade francesa de Epernay, é esse discurso apresentado por Ramsay para novos irmãos. Supõe-se ainda que o discurso tenha sido usado repetidamente (pelo menos em oito ocasiões), mas pouco ou nada se sabe sobre quando e onde isso aconteceu, exceto em 26 de dezembro de 1736, como especificado no cabeçalho do documento[6].

No entanto, um documento semelhante está localizado na Bibliothèque municipale de Toulouse (Biblioteca Municipal de Toulouse), intitulado discours prononce à la réception des Francs-Macon (discurso sobre a recepção dos Franco-Maçons), por M. de Ramsay, grand orateur de l’orders (Grande Orador da Ordem). Este manuscrito (e versões posteriores impressas) segue o mesmo esboço como o documento de Epernay, mas a versão de Toulouse é cerca de 20% mais longa. Além disso, algumas partes são expandidas enquanto outras são reduzidas. A versão do texto também é conhecida em dois outros manuscritos, bem como em pelo menos quatro edições impressas no período de 1738 a 1743[7].

Como esse texto mais longo foi o mais distribuído, é razoável sugerir que foi a última de duas versões que foram produzidos e que a versão mais longa se baseia na primeira, mais curta. Cyril Batham acredita que esta segunda versão foi feita porque Ramsay foi convidado a falar em uma reunião na Grande Loja Parisiense em 21 de março do mesmo ano[8]. Apoio essa visão de que que Ramsay reformulou seu texto durante os primeiros meses de 1737, e existem argumentos que dão apoio a isso e que listo abaixo, mas também demonstrarei que as razões poderiam ter sido outras, além de uma reunião na Grande Loja.

A Maçonaria encontra oposição

Durante a última metade de 1736, a consciência pública sobre a Maçonaria começou a aumentar em Paris. Vários relatos descrevem a oposição do rei Luís XV a esse novo movimento, que atraiu vários jovens da nobreza muito ansiosos, e que mantinha reuniões em segredo de forma organizada (e, portanto, de conteúdo incontrolável). A pressão das autoridades estava aumentando, e o cardeal Fleury, ministro-chefe do rei, e Hérault, Lieutenant General de Police (tenente-general de Polícia), em Paris, começaram a procurar contramedidas. A campanha anti-maçônica parece ter começado com Hérault publicando o texto Reception d’un frey-Macon (A recepção de um franco-maçom), que supunha ser a revelação de um ritual maçônico, e tinha a intenção expressa de ridicularizar o Ordem[9]. Em 17 de Março de 1737 passou a ser considerado uma ofensa criminal oferecer instalações aos maçons e, em maio, maçons foram enviados para a prisão, embora muitos membros franceses estivessem protegidos de processos por sua alta posição social. Enquanto a polícia conduzia ataques contra Lojas, o conhecido Coustos-Villeroy Lodge, recebeu visitantes não convidados durante o verão de 1737 e, em setembro do mesmo ano, um dono de estalagem foi multado por hospedar uma Loja. Somente após a morte do cardeal Fleury, em 1743, essas condições melhoraram[10].

Ramsay entra em ação

Com essa situação em mente, pode ser plausível que Ramsay tenha editado seu discurso em uma tentativa de afastar a oposição que ele entendia estar sendo criada. Ramsay enviou sua nova versão ao cardeal Fleury apenas três dias após a proibição da atividade Maçônica entrar em vigor, e isso pode apoiar tal teoria. O mesmo pode ser dito para as mudanças no conteúdo do discurso: enquanto a primeira versão pode ser descrita como uma representação imaginativa da história maçônica, complementada pela iluminação filosófica e ênfase nas qualidades que eram esperadas dos maçons, a versão revisada parece ter outro propósito. Neste texto em particular, Ramsay é mais focado em apresentar os maçons como cidadãos leais dentro da comunidade, e que eles estavam trabalhando para melhorar os costumes e promover a virtude e a ciência[11]. Segundo Ramsay, um maçom, era obrigado a:

[…] Proteger seus irmãos por sua autoridade, iluminar por suas luzes, edificá-lo pelas vossas virtudes, ajudá-lo em suas necessidades; sacrificar todo ressentimento pessoal e procurar tudo o que possa contribuir para a paz, concórdia e união na sociedade.[12]

Esta segunda versão também tem um caráter claramente mais cristão do que a primeira, e as passagens frequentemente citadas que ligam a Maçonaria aos cruzados medievais podem ser vistas como um instrumento usado por Ramsay para corroborar que o ofício não estava apenas de acordo com cristianismo ortodoxo, mas também de acordo com a Santa Igreja Católica Romana. Ele abordou o tema cruzado na primeira versão, mas em seu retrabalho Ramsay expande o tema de uma maneira que pode dar ao leitor a impressão de que a Maçonaria contemporânea se via como herdeira desses antigos guerreiros em serviço da Igreja[13].

A maneira pela qual Ramsay conclui sua segunda versão também é significativa:

[…] A Arte Real está agora repassando para a França, sob o reinado daquele mais amável dos reis, cuja humanidade anima todas as suas virtudes e sob o ministério de um Mentor que realizou tudo o que poderia ser imaginado como fabuloso.[14]

Esse texto pode muito bem ser percebido como um chamado ao Rei para se juntar aos maçons e se tornar seu líder, bem como um convite semelhante a Fleury, que foi denominado como o “Mentor” no texto. Mais tarde, no mesmo ano, Ramsay revelou qual era o objetivo que ele realmente pretendia alcançar:

Se o cardeal tivesse durado mais um mês, eu teria o “mérito” de discursar para o rei da França, como chefe da confraria e ter iniciado Sua Majestade em nossos mistérios sagrados.[15]

Se esse discurso fosse proferido em uma assembleia da Grande Loja ou não, traria poucas mudanças. O objetivo principal era alcançar o rei com uma mensagem. Quando Ramsay envia o seu manuscrito para Fleury em 20 de março de 1737, ele está se referindo a uma informação planejada, pretexto para garantir uma resposta rápida, como ele pede ao Cardeal, para adaptar o texto como ele deseja e, assim, apoiar o trabalho de Ramsay na organização. Em sua carta a Fleury, Ramsay não mostra nenhuma consciência das restrições que haviam afetado a Maçonaria três dias antes, mas pode-se suspeitar que ele foi informado e isso o instigou a entrar em contato com o cardeal.

A resposta de Fleury não sobreviveu, mas dificilmente pode ter sido positiva. Ramsay agiu rápido para limitar o dano e, apenas dois dias após sua primeira carta, ele escreveu novamente para o Cardeal, afirmando que acabara de tomar consciência do ressentimento das autoridades contra a Maçonaria e pediu conselhos sobre como se comportar de acordo e, além disso, se ele ainda estava autorizado a participar de reuniões maçônicas. A resposta sucinta de Fleury é famosa: “Le roi ne le veut pas” (não é o desejo do rei). A conclusão das palavras do Cardeal devem ter sido óbvias, e Ramsay provavelmente se manteve no anonimato  no que diz respeito às suas atividades maçônicas nos anos seguintes.

Se a reunião na grande loja onde Ramsay deveria fazer seu “discurso” realmente foi planejada, ela deve ter sido adiada de 21 para 24 de março. Dada a difícil situação, parece que a reunião foi cancelada e não há vestígios de reuniões na Grande Loja naquele ano. Assim, o discurso revisado provavelmente nunca foi realizado[16]. Ao contrário do que foi assumido até agora, Ramsay não renunciou à Maçonaria após este episódio. Em conversa com dois alemães que visitam Paris em março de 1741, Ramsay se apresentou como o Grand Chancelier (Grande Chanceler) Maçônico da França e falou com entusiasmo sobre a Maçonaria[17].

A influência de Ramsay e seus discursos

Já foi discutido neste artigo que a segunda versão, a revisada, do discurso de Ramsay não foi concebida como um discurso a ser feito na Grande Loja, mas que foi criado apenas para convencer o Rei e seu ministro de que o movimento maçônico era benéfico para a sociedade e retratou os maçons como fiéis adeptos da Igreja e da Coroa. Depois que essa tentativa foi inútil, Ramsay e a Ordem Francesa esperaram discretamente alguns anos de repressão. No entanto, muitas vezes se afirma que o texto de Ramsay teve ótima – alguns diriam crucial – importância no desenvolvimento dos graus superiores da Maçonaria e das lendas cavalheirescas. Com base nas evidências históricas disponíveis, e não na lenda maçônica, é necessário desafiar algumas das verdades estabelecidas em relação a este tópico. A intenção não é a depreciação geral de Ramsay e a influência de seus textos.

No entanto, removendo mitos, pesquisas desatualizadas e conclusões infundadas, podemos obter uma imagem mais clara do que poderia ter sido sua contribuição, em vez de apenas redistribuir uma lenda. A seguir, quatro questões diferentes serão discutidas.

  • As lendas óbvias: Ramsay estava, em um estágio inicial, associado à invenção de novos graus maçônicos. Isso não deve surpreender, pois as versões impressas de seu discurso foram algumas das poucas fontes disponíveis para os primeiros estudiosos, e é compreensível que eles escolheram colocar suas teorias nos poucos nomes e documentos conhecidos. Já em 1802, Fessler afirmou que Ramsay introduziu outros graus em Londres em 1728, e isso foi repetido por Thory em 1815. Isso foi refutado mais tarde, no mesmo século, por Schiffman e Gould como alegações infundadas, mas a chama ainda existe[18]. Ramsay também foi associado à criação do Arco Real e do Rite Ancien de Bouillon (Rito Antigo de Bouillon), afirmações que da mesma maneira foram convincentemente rejeitadas[19]. Reivindicações não documentadas como esta, no entanto, ao longo dos séculos, estabeleceram uma forte conexão mítica entre Ramsay e a Maçonaria dos altos graus que se pode suspeitar que serviram de base subconsciente para pesquisadores mais recentes;
  • Os primeiros graus superiores – novas ideias: Até recentemente, a visão predominante entre estudiosos era que o conceito de graus superiores foi concebido na França na década de 1740. Nesse cenário, o discurso de Ramsay era como uma faísca que acendia o movimento écossais (Escocês), mas essa cadeia de eventos foi recentemente desafiada por novos fatos. As fontes disponíveis agora indicam que o primeiro grau superior foi trabalhado em Londres pelo menos já em 1733, e que esse grau (Mestre Escocês) foi introduzido em Berlim em 1742. Não antes do final de 1743 que se tem menção desse grau em documentos franceses, e então é claramente considerado como um ponto recém-formado[20]. Assim, se o berço do primeiro grau superior estava em outros lugares fora da França, as possíveis influências iniciais de fontes francesas como os discursos de Ramsay não são tão óbvias quanto antes;
  • O desenvolvimento de novos graus: Quando a ideia de graus além dos Graus Simbólicos acabou sendo introduzida na França, esse país tornou-se um ponto central para o desenvolvimento de novos rituais. Homens que se propuseram a desenvolver novo material ritualístico poderiam ter ouvido o discurso de Ramsay em uma ou mais ocasiões antes de 1737. O discurso também poderia ter sido realizado algumas vezes durante os anos seguintes, apesar de Ramsay provavelmente ter aparecido menos em público com suas conexões maçônicas neste período. Em teoria, ele poderia ter influenciado formadores de graus dessa maneira, mas se Ramsay veio a servir de inspiração para novos graus, é mais provável que isso tenha sido transmitido através das versões impressas dos discursos. A primeira versão de seu discurso parece ter sido impressa pela primeira vez em 1738 e conhecemos reimpressões e outras edições nos anos seguintes[21]. No que diz respeito ao conteúdo dos primeiros graus superiores, que tratavam principalmente do período imediato após a morte do Mestre Construtor, nenhuma das duas versões oferece tanto material quanto influência. A menção a Zerubbabel (Zorobabel) e “o misterioso livro de Salomão”[22] parece ser a parte mais relevante para novos graus, mas depois encontramos apenas os primeiros graus conhecidos no final da década de 1740 como, por exemplo, o grau Knight of the East (Cavaleiro do Oriente)[23].

A segunda versão do discurso de Ramsay foi impresso pela primeira vez em 1742. As principais contribuições inspiradoras nesta versão são, obviamente, as referências a “Nossos ancestrais, os cruzados”[24], a suposta união com os Cavaleiros de São João, como as primeiras Lojas foram criados por nobres que retornavam da Cruzada, e em especial como a Escócia era considerada como a conservadora na preservação das tradições[25]. Isso aponta para os graus cavalheirescos e tenho que admitir que a palestra encontrada no grau de Chevalier Elu (Cavaleiro Eleito), descoberta em Quimper e datado de 1750, mostra alguns paralelos com a segunda versão do discurso de Ramsay[26]. Um estudo mais detalhado dos primeiros rituais manuscritos pode revelar outras ligações mais detalhadas de Ramsay, mas em um nível meramente superficial.

  • Poucas ideias originais: O último fator a ser considerado ao discutir a questão do potencial de influência de Ramsay nos graus maçônicos é que uma quantidade considerável de seus textos consiste em plágios. Alain Bernheim analisou isso com mais detalhes e mostrou várias fontes de Ramsay que, por direito próprio, poderiam ter lhe inspirado[27]. Pode-se argumentar que Ramsay foi influente na montagem de material de diferentes fontes e, posteriormente, colocá-lo em um contexto maçônico, mas novamente, é preciso considerar que uma das fontes que ele mais utiliza é o Livro das Constituições de Anderson de 1723 que deve ter sido de conhecimento de grande parte da audiência de Ramsay.

Vale ressaltar também que John Coustos, depois de passar um tempo na prisão a partir de outubro 1742, deu o seguinte testemunho à Inquisição em Lisboa em março de 1743:

… quando ocorreu a destruição do famoso templo de Salomão, foi encontrado abaixo da Primeira Pedra uma tábua de bronze sobre a qual estava gravada [uma familiar Palavra bíblica que significava] ‘Deus’, dando assim a entender que esse Tecido e o Templo foi instituído e erigido em nome do dito Deus a quem era dedicado, esse mesmo Senhor, o começo e o fim de uma obra tão magnífica, e, como no Evangelho de São João, são encontradas as mesmas palavras e doutrinas que elas, por esse motivo, faça o Juramento naquele lugar.[28]

Esta lenda é certamente da história da igreja por Philostorgius (Filostórgio), e Coustos provavelmente está apenas explicando por que os maçons fazem seus juramentos no evangelho de São João. Bernheim, no entanto, mostrou que Filostórgio é uma das fontes de Ramsay (embora através de Claude Flery). O testemunho de Coustos, portanto, nos fornece o que possivelmente é uma tradição maçônica independente baseada nas mesmas fontes que Ramsay usava. O que parece ser inspiração de Ramsay em graus recém-formados pode, portanto, confiar em outras fontes também.

Epílogo

O objetivo deste ensaio não é uma tentativa de provar que Ramsay e sua obra maçônica foi insignificante ou sem influência. No entanto, acho peculiar que Ramsay regularmente recebe um lugar tão importante no desenvolvimento dos graus superiores, sem se raciocinar ou fornecer argumentos. Isso é notável mesmo em trabalhos acadêmicos, e parece que a importância de Ramsay é considerada um axioma. A posição de Ramsay como parte essencial da história da Maçonaria pode ser merecida, mas considerando novos conhecimentos e pesquisa, não podemos mais ver isso como tão evidente, e até que novas fontes sejam descobertas, o significado de Ramsay deve, na melhor das hipóteses, ser considerado indeterminável.

Autor:  Leif Endre Grutle
Tradução: Rodrigo Menezes

Publicado originalmente na  The Plumbline Volume 24, No. 2 (verão de 2017). – Revisado em março de 2018 e fevereiro de 2019.

Fonte: Ritos e Rtuais

Notas

[1] – Ver, por exemplo, CN Batham, ‘Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, Ars Quatuor Coronatorum 81 (1968) e L. Kahler, “Andrew Michael Ramsay e seu Manifesto Maçônico”, Heredom 1 (1992).

[2] – C. Powell, ‘Novas evidências sobre o início da vida do cavaleiro Andrew Michael Ramsay’, Ars Quatuor Coronatorum 131 (2018).

[3] – Ordo Militaris e Hospitalis Sancti Lazari Hierosolymitani foi uma das ordens cavalheirescas fundadas durante as Cruzadas, tendo como principal tarefa cuidar dos leprosos. A Ordem tinha poucos recursos e estava prestes a ser dissolvida após a derrota final dos cruzados na Terra Santa em 1291. O rei Filipe da França ofereceu proteção à Ordem em 1308, ironicamente, apenas um ano depois que ele iniciou a perseguição aos Cavaleiros Templários. A ordem de Lázaro era, portanto, na época de Ramsay, uma ordem real da França, que também gozava de autorização apostólica do papa.

[4] – A. Bernheim, Alain, ‘Ramsay e seus discursos revisados’, Acta Macionica 14 (2004). Este artigo foi mais tarde expandido e publicado como livro em francês: A. Bernheim, Ramsay et ses deux discours (Paris: Edições Télètes, 2011).

[5] – Os membros proeminentes da Loja fizeram com que suas atividades fossem divulgadas na imprensa, e é um aviso de jornal que nos fornece os detalhes da iniciação de Ramsay. Batham, ‘Chevalier Ramsay. Uma nova visão ‘, 285 e RLD Cooper, The Rosslyn Hoax? (Hersham: Lewis Masonic, 2006), 39-43. A Loja se reunia originalmente na estalagem Rummer and Grapes em Channel Row, Westminster, e foi uma das quatro que uniram forças para formar a primeira Grande Loja em Londres. O Loja ainda é o número quatro na lista da Grande Loja Unida da Inglaterra e agora é chamado Royal Somerset House e Inverness Lodge . C. N. Batham, ‘A Grande Loja da Inglaterra (1717) e suas Lojas Fundadoras’, Ars Quatuor Coronatorum 103 (1991), 30-32, cfr. R. Berman, Schism. A Batalha que Forjou a Maçonaria (Brighton: Sussex Academic, 2013), 124-125.

[6] – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, 291-292 e Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 17-23.

[7] – Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 20-22, e G. Lamoine, ‘Oração do Chevalier de Ramsay, 1736-37: Maçonaria na França ‘, Ars Quatuor Coronatorum 114 (2002), 233.

[8] – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, 288.

[9] – AJB Milborne, ‘As primeiras exposições continentais e sua relação com os Textos Ingleses Contemporâneos’, Ars Quatuor Coronatorum 78 (1965), cfr. H. Carr, Harry (org.). As primeiras exposições francesas (Londres: 1971), 1-8.

[10] – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova visão’, 305, W. McLeod,’ John Coustos: suas lojas e seu Livro ‘, Ars Quatuor Coronatorum 92 (1979), 116, J. Mandleberg, Rose Croix Essays (Hersham: Lewis Maçônico, 2004), 26.

[11] – Lamoine, ‘A Oração do Cavalheiro Ramsay, 1736-37: Maçonaria na França’, 234-235.

[12] – Lamoine, ‘A Oração do Cavalheiro Ramsay, 1736-37: Maçonaria na França’, 231

[13] – As duas versões podem ser encontradas dispostas paralelamente no francês original em Bernheim, Ramsay et ses deux discursos , 67-91. Para tradução para o inglês, consulte Batham, ‘Chevalier Ramsay. Uma Nova Visão’, 298-304 (reimpresso em Heredom 1 , 49-59). Veja Lamoine, ‘A Oração do Chevalier de Ramsay, 1736-37: Early Alvenaria na França ‘para uma tradução anotada.

[14] – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 304.

[15] – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 291. É concebível, no entanto, que a iniciativa de Ramsay teve o efeito oposto, e o conteúdo do documento enviado à Fleury pode ter influenciado o processo que terminou com a bula do papa contra a Maçonaria em 1738. A. Piatigorsky, Quem tem medo dos maçons? (Londres: The Harvill Press, 1997), 116.

[16] – A. Bernheim, ‘Letter to the Editor’ (Carta ao Editor), Heredom 5 (1996), 9-10.

[17] – R. Markner, Conversas de Anton von Geusau com Ramsay: Um Exame de seu Diário Original (Documento apresentado na Conferência Mundial sobre Fraternidade, Maçonaria e História , Bibliothèque Nationale, Paris, 27 de maio de 2017). Publicado como R. Markner, ‘Les conversations entre Anton von Geusau et Ramsay: Recherches sur l’original of son journal of voyage ‘, Renaissance Traditionnelle N o 189 (2018), 54-61.

[18] – Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 33-35.

[19] – WJ Hughan, Origem do Rito Inglês da Maçonaria (Leichester: Lodge of Research, No. 2429, 3a ed. JT Thorp, 1925), 80-82, e BE Jones, o Livro do Maçom do Arco Real  (Londres: George G. Harrap & Company Ltd, 1965), 41-43.

[20] – A. Bernheim, ‘Early’ High ‘ou Écossais Graus Originam-se na França?’, Heredom 5 (1996), 96-102. O manuscrito Kloss XXV-334, afirma que o grau Écossais Anglais (Escocês Inglês) ou Parfait maître Anglais (Perfeito Mestre Inglês) era pouco conhecido na França antes de 1740, e foi introduzido pelos maçons ingleses. Este é provavelmente o mesmo grau mencionado em 1743. Veja: L. Trebuchet, De l’Écosse à léscossisme. Tomo 2 – Volume 2 (Marselha: Ubik edições; 2015), 223-225. Recentemente, mostrei que é altamente improvável que o sueco Carl Fredrik Scheffer poderia ter sido iniciado em graus superiores em Paris em 1737, embora essa seja uma afirmação frequentemente repetida. LE Grutle, «Frimureriske høygrader – myter og fakta», Acta Masonica Scandinavica 17 (2014), 296-297.

[21] – Bernheim, Ramsay et ses deux discours , 42-44.

[22] – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 302.

[23] – Trebuchet, De l’Ecosse à léscossisme. Tomo 2 – Volume 2 , 371ss.

[24] –  Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 299.

[25] – Batham, Chevalier Ramsay. Uma nova Visão’, 303

[26] – A. Bernheim, ‘A Figura do Cavaleiro Kadosch na na França e em Charleston’, Heredom 6 (1997), 164-165. Veja também: P. Mollier, ‘Maçonaria e Templarismo’, Handbook of Freemasonry (Leiden: Brill, 2014), 88-89.

[27] – Bernheim, Ramsay et ses deux discours (Ramsay e seus discursos), 23-32.

[28] – Jones, O Livro do Maçom do Arco Real, 43-44

Cargos em Loja no REAA

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Venerável Mestre

A joia do VM é o Esquadro. Sen­do o Esquadro o símbolo da Reti­dão, como joia distintiva do cargo de Venerável, indica que ele deve ser o Ma­çom mais reto e mais justo da Loja que preside, como líder de seus Irmãos, competindo-lhe dirigir a Loja, com equilíbrio serenidade e senso de justiça. Sua função, ainda como administrador, é nomear membros da administração e comissões, fazendo parte de todas elas, no intuito de fiscalizar o trabalho das mesmas. Além destas funções, ele inicia e confere Graus, procede à apuração de qualquer eleição ou escrutínio, decide questões de ordem, despacha o expediente com a Secretária da Loja, assina o balaústre, distribui sindicâncias, encerra o Livro de Presença, autoriza despesas ordinárias, apresenta relatórios de sua Administração, organiza e controla as discussões dos assuntos em pauta,

Pelo Venerável se conhece a Loja, sendo ele o resultado da vontade dos Irmãos do quadro, ele é responsável pela harmonia, pela participação ou desunião, ou pelo fracasso ou pelo retumbante sucesso da Oficina. A coluneta que está no altar do VM é a Jônica, que simboliza a sabedoria, daí a estátua de Minerva dos romanos ou Palas Atenas do gregos

Vigilantes

Os Vigilantes são os auxiliares diretos do Venerável Mestre não só para minis­trar instruções aos Aprendizes e Compa­nheiros, como ajudar a administrar a Loja.

1º VIGILANTE: além de substituir o V. Mestre em seus impedimentos e faltas, dirige a sua Coluna de obreiros, transmitindo as ordens do Venerável aos obreiros e ao 2º Vigilante. Também pede ao Venerável a palavra para os obreiros de sua Coluna, dando-lhes as instruções e solicita aumento de salário para os Aprendizes.

O Nível é a joia do cargo. E o símbolo da Igualdade, representando a igualdade social, base do Direito Natural. Cabe-lhe a direção da Coluna do Norte. A Coluna que está em seu altar é a Dórica, que simboliza a Força, daí a estátua de Hercules, estar próximo a ele.

2º VIGILANTE: substitui o Venerável durante o impedimento concomitante deste e do 1ºVigilante. Dirige os obreiros de sua Coluna, a do Sul, solicitando a palavra para eles, dando-lhes as instruções e solicitando aumento de salário para os Companheiros.

A Joia do Cargo é um Prumo ou Per­pendicular. É o emblema da busca pela Verdade. Aliado ao Esquadro, ele permite a correta e perfeita construção do Tem­plo. Em  seu  altar está a Coluna Coríntia. É a Coluna da Beleza. Daí a estátua da Vênus Romana ou Afrodite Grega, estar próxima a ele.

Orador

A joia do Orador é um Livro Aberto, que simboliza que o mesmo nada escon­derá nada duvidoso deverá deixar, além de indicar que o mesmo é o Guardião da Lei. Ele é a consciência da Loja, devendo conhecer e interpretar todas as Leis Maçônicas que regem a Obediência, como Constituição, Regulamentos, Landmarks, Usos e Costumes, etc.

O Orador impede que o Vene­rável Mestre caia em erros ou equívo­cos, ou se exceda no exercício de suas funções. É a ele ainda que, havendo alguma infração suficientemente grave para justificar punição, cabe instruir o respectivo processo, sendo ele o Ministério Público da Ordem.

Esclareça-se que o Venerável Mestre não está obrigado a decidir de acordo  com as conclusões do Orador, podendo ele discordar deste e decidir de forma contrária. Ele senta-se no Oriente à direita do V.Mestre.

Secretário

O Secretário representa a me­mória e o arquivo da Loja, sendo sua joia duas penas cruzadas indicando que ele assegura a tradição da Ordem e da Oficina, com o registro de todos os fatos passados bem como os do presente.

O Secretário, sentando-se no Oriente a esquerda do V. Mestre, pede a palavra diretamente ao Venerável. Ele é o responsável pela história da Loja e da Maçonaria.

Os historia­dores do futuro e da própria Loja, se houver, basear-se-ão no que ele registrar. Se ele deixar de registrar, ou registrar mal os fatos ocorridos, a Histó­ria, nesse caso, não será completa.

Tesoureiro

As duas chaves cruzadas, usadas como joia do Tesoureiro da Loja significa que ele é o depositário dos metais da Loja e seu administrador. Tendo assento na coluna do Norte. A importância deste cargo consiste no zelo pela arrecadação dos recursos devidos pelos Irmãos à Loja e pelo pagamento das obrigações a qual cada Loja está sujeita pelos Regulamentos da Obediência, a fim de que as obrigações maçônicas e profanas sejam cumpridas.

Chanceler

A joia do Irmão Chanceler é um Tim­bre ou Chancela, simbolizando que o Chanceler é o Guarda Selos da Loja, res­ponsável por todos os documentos da Loja e pela guarda dessa documentação. Além disso, tem a função de manter o livro de registro de presença dos obreiros da Loja e dos visitantes, sendo responsável ainda por guardar os Livros Negro e Amarelo.

Mestre de Cerimônias

Tem como joia a Régua que re­presenta o aperfeiçoamento moral. A régua também simboliza o método, a retidão, sendo aquele que conhece todos os caminhos escabrosos e assim, pode guiar todos os Amados Irmãos na circulação em Loja.

Deve ser conhecedor da ritualística, sendo o encarregado de todo Cerimonial da Loja, zelando para que os trabalhos sejam conduzidos de acordo com o Ritual, devendo conhecer os sinais, toques e palavras dos graus, tendo todo o domínio do cerimonial maçônico.

O Mestre de Cerimónias só aprende o seu ofício de uma maneira: executando-o e corrigindo os erros e hesitações que lhe detectarem ou que ele próprio detectar. O Mestre de Cerimónias faz a função, mas também se faz na função.

Tem assento na Coluna do Norte, junto a balaustrada, na frente do Tesoureiro.

Além de ser o responsável pela ritualística, tem as seguintes atribuições: distribuir com antecedência as insígnias e aventais aos Oficiais da Loja; ver se todos estão devidamente paramentados; preencher os cargos vagos; organizar as fileiras do irmãos, nos seus respectivos graus fazer um exortação antes da entrada dos irmãos no Templo, para acalmar suas mentes e corações; acompanhar os Mestres Instalados e o V. Mestre até o Trono; declarar que a Loja está composta no Grau, acompanhar o Ex-Venerável ou Orador, na abertura e encerramento do Livro da Lei; organizar todas as comissões  formadas por autoridades, e na entrada do pavilhão nacional etc.

Ele ainda é responsável pela circulação da bolsa de proposta e informações, sendo o único que pode circular em Loja independente de autorização do Venerável Mestre, sendo ele o mensageiro do mesmo ou de outros irmãos.

Hospitaleiro

A joia do cargo do Irmão Hospita­leiro é uma pequena sacola, simbolizando o peregrino da vida, o pedinte, sendo responsável pela circulação da bolsa de beneficência, também outrora conhecido como Tronco de Beneficência, Tronco da Viúva ou Tronco da Solidariedade, devido a antigamente os óbolos serem recolhidos em um pedaço de tronco de árvore, isto segundo alguns historiadores da Maçonaria.

Sua função precípua, em nome da Caridade e Fraternidade, é coletar os donativos dos irmãos, para socorrer os necessitados. Ele cuida de toda a parte assistencial da Loja, propondo auxílios, visitando os irmãos enfermos e necessitados. Se o infortúnio da morte bate à porta de um Irmão da Loja, fato inevitável, é ele o responsável de comunicar o fato a todos, e providenciar a documentação necessária para o sepultamento, devendo ainda, após o luto, procurar a família do falecido, para requerer a restituição de seus documentais, insígnias e aventais.

Fazer girar o Tronco é muito fácil, Mas sua missão principal, se dá fora da Loja, devendo o Irmão que estiver no cargo, ter muita dedicação e desprendimento.

Diáconos

Diácono, do grego diákonos, significa “servente”, aquele que serve a mesa. Assim, eram chamados os cristãos escolhidos pelos apóstolos para servirem aos pobres da Igreja de Jerusalém Existem em Loja, dois Diáconos, o Primeiro e o Segundo. O Primeiro Diácono senta-se próximo e a direita do Venerável para pô-lo em comunicação com o Primeiro Vigilante. O Segundo Diácono se coloca próximo e a direita do Primeiro Vigilante para transmitir suas ordens ao Segundo Vigilante e aos demais membros da oficina. A joia do Primeiro Diácono é uma pomba inscrita em um triângulo, e o Segundo Diácono uma pomba em voo livre. A pomba antigamente, levava e trazia mensagens, daí o simbologia.

Entre as funções do Primeiro Diácono, se destaca a incumbência de abrir e fechar o Painel da Loja. Recebe ainda a P.S. do Venerável Mestre entregando-a ao Primeiro Vigilante, enquanto o Segundo Diácono, que se coloca à direita do Primeiro Vigilante, recebe deste a P.S. e entrega-a ao Segundo Vigilante. Ele ainda, transmite e executa às ordens do Primeiro Vigilante, e cuida para que os Maçons sentados no Ocidente se conservem nas colunas com respeito, disciplina e ordem. Cuidam os Diáconos ainda, de formarem o pálio, no sentido de proteção, quando da abertura e fechamento do L. L.

Expertos

A joia do Irmão Experto entre nós, é um Punhal, que significa o castigo que merecem os perjuros. Em­bora o Punhal seja considerado símbolo da Traição, para a Maçonaria é o símbolo da fortaleza e da guarda. Na iniciação, é ele quem guia os profanos, sendo também o substituto dos irmãos que ocupem cargo, e que não compareceram à sessão, com exceção do V. Mestre, que é substituído pelo  Primeiro Vigilante. Esse cargo, sempre é confiado a um irmão experiente que conhece a ritualística e a dinâmica do trabalho nas iniciações. Auxilia também o Cobridor no telhamento de visitantes.  Existem dois expertos, o primeiro que se senta à frente do Ir. Segundo Diácono e o segundo Experto que se senta à frente do Guarda do Templo.

Guarda do Templo

A joia do Guarda do Templo são duas Espadas Cruzadas. Simbolicamente as espadas cruzadas nos ensina a nos pormos em defesa con­tra os maus pensamentos e a ordenarmos moralmente as nossas ações. Fica a direita de quem entra, sendo que a porta do Templo lhe é confiada, devendo sempre mantê-la fechada, sendo ele o único que pode tocá-la. Cabe somente a ele abrir ou fechar a porta.

A prova da grande importância deste cargo se verifica na Maçonaria Inglesa, pois lá, as Lojas somente elegem o Venerável, o Tesoureiro e o Cobridor.

Cobridor Externo

Sua joia é o Alfange, para ceifar as forças negativas, não deixando que elas entrem em Loja. Ele também zela pelos trabalhos da Loja, devendo guarnecer o lado externo da mesma, ou seja, se posiciona a frente da Porta do Templo, em seu lado esquerdo de quem entra, para garantir que os trabalhos não seja perturbados por nenhum profano, não possuindo assim, nenhum assento em Loja. Esse cargo existe apenas de forma simbólica, quase não sendo usado nas Lojas. Caso exista algum irmão que ocupe esse cargo, ele entrará em Loja, após a garantia de que a Loja está segura.

Porta-bandeira

A joia do cargo é uma Bandeira, sendo que ele conduz, nas Sessões designadas, o Pavilhão Nacional, de acordo com o protocolo das Obediências. Ele se coloca no Ocidente, a frente do cadeira ocupada pelo Ir. Porta Espada, que está à frente do  Orador.

Porta-espada

Sua joia, é uma Espada. Senta-se no Oriente a frente do Orador. O uso da espada constitui uma prática consagrada pelo costume representando o poder e a força.

O Porta-Espada é quem simbolicamente zela pelo instrumento. Ele é responsável quando devido ao protocolo, distribuir as espadas aos Mestres, para formar a abóboda de aço, quando da entrada no Tempo de autoridades, ou visitantes ilustres.

Existe a Espada Flamejante, que somente pode ser tocada pelo V. Mestre, ou por um Mestre Instalado, que é usada somente nas iniciações.

Porta-estandarte

A joia do Cargo é uma miniatura de um Estandarte. Se senta no Oriente a frente do Arquiteto, que por sua vez, fica à frente do Secretário. Ele é responsável pelo descolamento e exposição do Estandarte da Loja, no momento previsto no Ritual.

Arquiteto

A joia do cargo do Arquiteto é uma Trolha, que este um dos grandes Símbolos da Maçonaria, pois antigamente, os Maçons Operativos, a utilizavam para manipular a argamassa da Fraternidade. Ele se senta à frente do Secretário. Parece ser um cargo sem importância, mas na realidade é tão ou quanto os outros. Sua função consiste em ornamentar a Loja, colocando cada coisa em seu devido lugar, acender as velas do Altar e dos demais cargos onde houver. Seu trabalho é realizado antes do início das as Sessões.

Mestre de Harmonia

A Lira é sua joia. Ela é parecida com uma harpa, sendo considerado um dos instrumentos musicais mais antigos que se tem notícia.

Todos nós sabemos, que os efeitos da música em nossas sessões, prepara o ambiente, tornando-o mais harmônico, vibrante e mais solene. A Música, faz com que a energia vibratória e a boa egrégora, reine nas sessões. Isso ele faz através de belas peças musicais. Sabemos que a música tem um poder maravilhoso; afeta os sentidos e conduz rapidamente à harmonização.  Assim, se justifica o seu uso em determinadas ocasiões das sessões. Seu lugar em loja, situa-se a sudoeste do Primeiro Vigilante.

Mestre de Banquetes

A joia do cargo é a Cornucópia que sempre simbolizou a fartura, a abundân­cia.  Cabe   ao Mestre de Banquete promover os ágapes fraternais, bem como as Lojas de Mesa solsticiais ou banquetes ritualísticos, providenciando tudo o que for necessário. Senta-se na última cadeira da coluna do Norte, ao lado do Mestre de Cerimônias. Suas atribuições estão previstas ainda nos arts. 40 de nosso Regulamento Interno.

Bibliotecário

Cultura maçônica não é passatempo, não é exibicionismo. É uma obrigação de todo Maçom que se preze. É muito comum verificarmos que livros, revistas, jornais, boletins, e outras peças que possam trazer mais cultura e conhecimento maçônico estejam jogadas literalmente as traças em uma Loja, ou estejam sobre a guarda pessoal do Venerável Mestre, ou mesmo do Secretário. Isso não pode ser tolerado. Mesmo que hoje em dia, se consiga matérias e informações pela internet, não pode ser admitido que uma Loja não possua seu próprio acervo, exclusivo aos Irmãos.

É muito comum, os irmãos só apresentarem trabalhos quando ainda estão no grau de Aprendiz e Companheiro, apenas para cumprir seus interstícios. Quando chegam a Mestre julgam que tem conhecimento bastante para desprezar os estudos.

Desta forma, o Irmão Bibliotecário é o responsável pela Biblioteca da Loja. Sua joia é um livro aberto com uma pena sobreposta. Tem assento na primeira cadeira para os mestres na coluna do sul ao lado do Hospitaleiro.

Historiador da Loja

Cargo não previsto em nosso Rito, mas sim no art. 39 de nosso Regulamento Interno, da ARLS Rui Barbosa. Ele é responsável pelo registro de fatos importantes da Loja, como eventos realizados, obras filantrópicas, encontros maçônicos, simpósios, entre outras atividades, além de incentivar a criação de um informativo exclusivo da Loja. Deve também presidir a comissão de Ritualista, Estudos e Bibliotecas.

Autor: Dermivaldo Colinetti
ARLS Rui Barbosa, Nº 46 – GLMMG – Oriente de São Lourenço

Bibliografia

Cargos em Loja – Assis Carvalho

Liturgia e Ritualística – José Castellani

Ritual do Primeiro Grau – Aprendiz

Pesquisa em sites da Internet

Decoração e simbologia egípcia nos templos maçônicos

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Não resta dúvida que o costume de utilizar desmedidamente agregados simbólicos penitentes à cultura egípcia se tem feito presente na decoração de muitos templos maçônicos pelo mundo. Todavia isso se dá mais por efeito decorativo do que iniciático, pois a história autêntica já comprovou inúmeras vezes a inexistência na Ordem Maçônica nos tempos do Antigo Egito.

É bem verdade que houve inclusive personagens embusteiros que criaram ritos maçônicos exaltando uma suposta maçonaria egípcia (Memphis-Misraim), mas que mais tarde foram desmascarados por fraude – dentre outros a respeito, vide apontamentos sobre in Dictionnaire des Franc-Maçons et de la Franc-Maçonerrie, Alec Mellor, Belfond, Paris, 1971-1979.

Sob o aspecto da Maçonaria documental (autêntica), a Sublime Ordem comprovadamente possui aproximados 800 anos de história[1], sendo os seus ancestrais as guildas de construtores da Idade Média. Assim, a Instituição Maçônica não nasceu e nunca existiu nos tempos do Egito Antigo, portanto é preciso antes compreender que para construção do seu arcabouço doutrinário especulativo muitas lendas passariam a fazer parte nesse contexto. Contudo, reafirma-se que são lendas introduzidas com o desiderato de, como alegorias, aplicar lições de moral, ética e sociabilidade e não como elementos comprobatórios relacionados à existência verdadeira de fatos e acontecimentos ao ponto de aparecerem decorando paredes de templos maçônicos.

Assim compreendido, cita-se por exemplo a Lenda do 3º Grau como parte desse arcabouço lendário que fora retirado dos cultos solares da Antiguidade, cujo qual, por esse viés, possui palpável consonância com a lenda de Osíris, Ísis e Hórus, entretanto esse não é um fato histórico, mas lendário, assim não autoriza qualquer afirmativa no sentido de que lendas da antiguidade usadas pela Maçonaria sirvam para comprovar sua existência naqueles idos tempos – muito menos arrumar justificativas se construir templos maçônicos copiando arquitetura egípcia.

Lendas são lendas e não afiançam autenticidade aos fatos que constituem o mosaico da História. Infelizmente essa não é uma lição que tenha sido aprendida por muitos imaginosos autores que, em detrimento de citações lendárias associadas ao ufanismo maçônico, semeiam suposições que não têm qualquer compromisso com a verdade. James Anderson, por exemplo, carregou algumas páginas da Constituição de 1723 com essas elucubrações, geralmente retiradas do Old Charges que traziam forte apelo religioso, especialmente pela forte influência da Igreja sobre as corporações de ofício da Idade Média. Sob o aspecto prático, é compreensível que Anderson tenha inserido essas exposições lendárias já que a “nova ordem”, amparada pela Royal Society e que compunha a Moderna Maçonaria, surgida em 1717 em Londres, carecia de agregar novos adeptos e com isso chamar atenção com fatos tidos como “misteriosos segredos guardados pela Maçonaria”. Isso sem dúvida ajudou a Premier Grand Lodge reforçar suas Colunas, principalmente com membros atraídos pela curiosidade despertada, sobretudo quando publicados nos diários londrinos da época. Lawrence Dermott, por exemplo, para atrair adeptos para a sua Grande Loja, a dos Antigos (1751), criou o Real Arco afirmando que nele havia o encerramento e a explicação da Lenda do 3º Grau. Artifício inteligente que até hoje faz com que adeptos da Ordem acreditem na existência de um 4º grau maçônico advindo dos tempos imemoriais, fato que também não se sustenta, pois comprovadamente a Maçonaria de antanho trabalhava com apenas duas classes de trabalhadores, vindo a surgir o 3º Grau especulativo somente na Moderna Maçonaria surgida no final do primeiro quartel do século XVIII.

Outro aspecto nesse mesmo sentido (o da não existência de Maçonaria na antiguidade) é o que envolve a própria “arte de construir”.

Nesse sentido, não há como negar que a profissão de construtor é um ofício milenar, entretanto não como uma organização feito à Maçonaria.

A arte de construir, surgida principalmente pela necessidade de se proteger, fez com que o homem, ao deixar a vida sedentária das cavernas para viver em sociedade estratificada, começasse a edificar choupanas, vivendas e casebres para se abrigar das intempéries e se proteger dos perigos e agruras comuns ao ambiente que o envolvia.

Com isso davam-se os primeiros passos na arte e no ofício das construções, sendo, portanto, perfeitamente viável se afirmar que essa profissão é oriunda dos tempos imemoriais, entretanto isso não significa dizer que existiam guildas de construtores maçons naquela época, pois documentalmente se sabe que a Franco-Maçonaria somente viria florescer, sob a proteção da Igreja-Estado, no século XIII.

Como sociedade organizada de artesãos construtores, a Franco-Maçonaria, seguindo o curso da história e atendendo à necessidade surgida pela expansão dos domínios da Igreja, nascera em substituição, primeiro às Associações Monásticas e depois às Confrarias Leigas.

Longe e anterior a tudo isso está a civilização do Antigo Egito ocorrida no Antigo Oriente próximo ao norte da África há 3.100 a. C. Seu aparecimento no ideário maçônico, além daqueles motivados por lendas solares, provavelmente se reforçou por teorias de incautos e ufanistas que, usando da lei do menor esforço, não tardariam a imaginar as pirâmides sendo construídas por maçons, o que cientificamente é muito pouco provável, simplesmente porque não existe nenhuma prova ou indício que aponte para a existência da Maçonaria naquele período.

Saindo do Antigo Egito, mas seguindo esse mesmo viés, vem a construção do primeiro templo hebraico, o de Jerusalém, muito conhecido em Maçonaria como Templo de Salomão (o rei que reinou em Israel de 1010 a 970 a.C.).

Por ser a maior alegoria maçônica e ligado à lenda hirâmica, a construção desse Templo também não tardaria a despertar no fértil imaginário que foram os maçons os seus construtores, tudo obviamente em detrimento à Lenda do Terceiro Grau onde os personagens do Rei Salomão, Hiram – Rei de Tiro e Hiram Abif (Hiram meu Pai), de modo fictício, são descritos mitologicamente como maçons no sentido de estruturar a lenda introduzida em 1725 pelo aparecimento do grau de Mestre Maçom na Moderna Maçonaria.

Na realidade, a Lenda do Terceiro Grau é a adaptação de uma lenda Noaquita que envolve os personagens bíblicos de Noé e seus três filhos, Sem, Can e Jafé. Sem dúvida essa lenda, tal como a de Osíris, Ísis e Hórus, se estrutura nos cultos solares da Antiguidade, cujos quais serviram de base para a maioria das religiões que conhecemos.

Retomando a Lenda Hirâmica, ela, como qualquer outra lenda, não tem qualquer compromisso com a realidade histórica, portanto ela não afirma, mas apenas menciona figuradamente a Maçonaria na época da construção do primeiro templo hebraico – o de Jerusalém.

Infelizmente isso ainda não tem sido bem compreendido e faz com que muitos maçons não separem lenda – que é uma narrativa escrita ou oral no qual fatos históricos são deformados pela imaginação – de realidade histórica. Com isso, acabam muitos, até de modo infantil, disseminando inverdades tal como a de “achar”, por exemplo, que os templos maçônicos são edificados como cópias fiéis do lendário templo bíblico.

Embora alguns ritos maçônicos, por questões doutrinárias decorem seus templos estilizando mobiliários e partes do espaço de trabalho, relativizando-os às descrições imaginadas do lendário templo hebraico, por certo isso só pode ser tratado como característica de uma alegoria maçônica construída sob elementos figurados. Entenda-se que a sala da Loja, como uma oficina simbólica de trabalho, longe está de ser um modelo (arquétipo) do Templo de Jerusalém.

Não é cabível, portanto, que ainda existam maçons que não saibam discernir narrativas lendárias de fatos reais e continuem imaginando que foram os maçons os construtores do Templo de Jerusalém, ou mesmo os que construíram as Pirâmides do Egito.

Sem conclusões apressadas é mister mencionar que o primeiro templo maçônico somente viria surgir nos meados do século XVIII na Inglaterra após o advento do aparecimento da Moderna Maçonaria. Assim, sua disposição mobiliária copia a do Parlamento Britânico, principalmente no que diz respeito à acomodação do plenário e da great chair. No mais, por influência da Igreja sobre os ancestrais da Moderna Maçonaria, os templos maçônicos seguem o mesmo modelo de orientação das Igrejas, destacando que, por sua vez, essas últimas foram inspiradas no Tabernáculo hebraico, antepassado do Templo de Jerusalém.

Dado ao exposto, a Maçonaria deve ter seus templos decorados conforme o previsto no rito que a Loja pratica, não obstante existirem às vezes, em total desrespeito para com a originalidade e liturgia, muitos elementos decorativos que apenas possuem o desiderato de satisfazer o gosto e a imaginação de alguns.

Certo é que como exemplificado anteriormente, elementos decorativos tais como painéis pertinentes ao Antigo Egito, ou outros do gênero, não fazem nenhum sentido para o REAA, dentre outros, embora, como dito, eles equivocadamente muitas vezes apareçam no interior de alguns templos maçônicos.

Eu diria que essa decoração é mais apropriada para a AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz) do que para a Maçonaria. Como elementos associativos eles até podem aparecer no contexto das lendas, mas muito longe de se materializarem como símbolos aplicados pela doutrina maçônica.

É daí meu Irmão talvez o seu insucesso na procura de explicações sobre a simbologia egípcia na decoração dos templos maçônicos.

Em termos de decoração egípcia nos templos simbólicos do REAA, por exemplo, podem existir elementos pontuais, como é o caso, por exemplo, da decoração original das Colunas B e J. Essas, de estilo babilônico, comumente aparecerem decoradas com folhas de lótus (universalidade) e de papiros (eterna busca pelo transcendental). Explicam-se as suas presenças porque as Colunas Gêmeas são pilares solsticiais, portanto se relacionam diretamente com os cultos solares da Antiguidade. Assim, as folhas de lótus e papiros (símbolos egípcios), de modo pontual, remontam ao significado de uma alegoria reservada aos iniciados, porém nunca para mencionar a existência da Maçonaria nos tempos do Antigo Egito.

Cada símbolo traz consigo a sua originalidade, a despeito de que em Maçonaria ele geralmente aparece para chamar atenção do iniciado para uma verdade inserida numa mensagem oculta (esotérica).

Desse modo, outros elementos simbólicos pertencente às diversas civilizações também fazem parte de corolário emblemático maçônico, contudo eles não possuem o desiderato de explicar a presença da Ordem em períodos da História.

Concluindo, a simbologia maçônica é ampla e abrange inúmeros aspectos culturais e sociológicos que foram retirados do misticismo de muitas civilizações. A Ordem Maçônica, eclética por natureza, para montar seu arcabouço doutrinário se utilizou desse artifício. Cabe assim ao maçom entender que a simples presença de símbolos de antigas civilizações no corolário simbólico adotado pela Maçonaria não representa que Ordem possui caráter de existência milenar. Reitero, documentalmente a Maçonaria possui aproximados 800 anos de história, o resto… Bem, o resto é lenda.

Autor: Pedro Juk

Fonte: Blog do Pedro Juk

Nota do Blog

[1] – O autor se refere à Maçonaria Operativa. A Maçonaria Moderna tem pouco mais de 300 anos, tendo como marco a criação da Grande Loja de Londres e Westminster em 1717.

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