Da natureza e das funções do símbolo

Quando em maçonaria falamos de “rito”, podemos estar a referir-nos a duas realidades. Por um lado, ao Rito, maiusculizado, que identifica a tradição maçónica, ou, por outro, à dimensão vivencial, canónica, do que antropologicamente se define por rito. A minha breve comunicação centra-se nessa segunda dimensão em que é a natureza dos gestos, das palavras e dos locais que me interessa, não necessariamente as especificidades de uma tradição no que ela tem de diferenciador para com outras.

Na abordagem da ritualidade, perfilho a visão de que muito provavelmente a Humanidade começou por se exprimir religiosamente através da prática ritual, só depois veio a crença (Han, 2020). Ao tentar-se explicar primeiro a crença do que o rito, como fez Durkheim, por exemplo, está-se a encurtar a distância que separa a “atividade simbólica” da “atividade lógica” do homem (Durkheim, 2020). Ora, uma, a simbólica, alimenta a outra, a lógica; ou melhor, a lógica, qualquer que ela seja, parte de um quadro simbólico que define a forma de ler a realidade.

O poder do ritual está na força existente no seu conteúdo e na eficácia da sua comunicação (PINTO, 2020). A informação acerca do que compõe o ritual e, a interiorização dessa informação, é o motor de transmissão e de envolvimento do grupo nos símbolos do ritual.

E o fundamental, no que a uma prática ritual respeita, encontra-se, na minha leitura, na participação. Isto é, os ritos não são feitos para que a eles se assista, mas para que neles se tome parte (ELIADE, 1952). Quer dizer, só se compreende um determinado ritual participando nele; a simples observação de gestos e movimentos rituais numa lógica científica não permite aceder, de facto, à essência do ritual e da religião: trata-se de duas lógicas diferentes, mesmo que em igual suporte (a linguagem).

Quando um ritual é realizado e dirigido a uma assembleia, as mensagens rituais só poderão ser assimiladas pelo grupo se houver uma certa “doutrinação” sobre a matéria que está codificada, uma identificação automatizada, ou seja, a capacidade do ritual para atingir o seu objetivo junto daqueles a quem se dirige, a força de mobilização que é ou não capaz de transmitir, está essencialmente na competência da transmissão dessa mensagem e na preparação dos receptores para a entender.

Neste ponto, a nossa posição incide no valor intrínseco do texto do ritual, em si. Os textos consignados pelo tempo e pela cultura são património quase genético de todos os participantes no rito que neles se estrutura. Participar nesse texto, no texto declamado, ao vivenciar o ritual, na sua declamação e na sua audição, é recriar ciclicamente esse mesmo texto e os seus significados e sentidos.

Nesse momento, mais que perante um texto, com conteúdo, estamos perante forma, estamos perante uma linguagem que vale enquanto tal, pela sua natureza, pela comunicação e cognição que automaticamente se estabelece entre a comunidade que em torno desse texto se reúne. Talvez possamos falar de identidade narrativa, mais que de qualquer outra identidade individual, ou mesmo coletiva (RICOEUR, 1990). Tal como não se é maçom sozinho, mas se é reconhecido pelos Irmãos, também apenas se é maçom no quadro da participação em Loja, no Rito, em ritual.

No quadro do valor dos textos na sua relação com os gestos, recordo os distantes poemas homéricos, de mais de 2.500 anos de sentidos e de leituras. Num dos episódios mais marcantes dos poemas de Homero, um aedo é chamado a declamar, tal como sucederia em algumas noites num palácio, não maçónico, em que se reuniriam em torno do lume, os grandes, os nobres, os guerreiros e os aventureiros, aqueles que tinham novas para transmitir. O aedo, qual metáfora do poder do seu olhar, é cego neste episódio da Ilha dos Feaces da Odisseia. Mas fala, declama “novas”. É escutado.

E as “novas” poderiam ser plenamente novas ou não; aliás, a noção de Conhecimento seria, obviamente, muito diferente da nossa. Os mitos nasciam desse afastamento a um tempo concreto mediante a assunção de uma dimensão primordial, organizadora de uma ordem, de um sistema. Ouvir um aedo a declamar a sua poesia era, quer escutar novidades, num tempo em que o Saber era lento na transmissão, quer voltar a entrar dentro de conhecimentos ancestrais, já sabidos, em nada novos, mas constantemente rememorados e revalidados. Declamar a poesia era ritualizar o momento.

A poesia era verdadeiramente uma linguagem de códigos, de descoberta. Se a prosa descrevia o linear, os tratados, as contas, os registos; a poesia, com o seu ritmo, com a rima e a entoação que lhe era necessária, era o campo do que não podia ser apenas ouvido, mas tinha de ser sentido. A poesia era hermenêutica em potência, era abertura à interpretação, era convite a elaborar e a descobrir.

Não será obviamente por acaso que muitos Textos Sagrados se encontram nessa forma ritmada que faz entrar o leitor e o ouvinte numa dimensão fora da linguagem normal, num quadro de ritmicidade, numa valoração de ritual, de contacto com uma Verdade fora da compreensão imediata, uma Verdade que não advém de conhecimento por metodologia cartesiana.

A cegueira, que tradicionalmente se aplica à definição da justiça, retomando a imagem egípcia do equilíbrio da balança, não é mais que a necessidade de o conhecimento se criar sem os constrangimentos do que nos pode tolher o pensamento através dos sentidos. Ser cego não é não ver. Ser cego é ser capaz de olhar para dentro, procurando uma solidez que, sendo ilusória também ela, nos referência a ideias superiores ao tempo, em vez de ter como referência única o exterior, inevitavelmente volátil, móvel e em contínua mutação.

O Saber a que me refiro, enquadrado na realidade ritual, é em tudo próximo ao da poética: procura o que constantemente nos foge. Isto é, a capacidade de olhar para além do imediato. E o imediato é-nos dado por regras, por definições de interpretação fácil, por normas escritas numa linguagem depurada de interpretações, como se fossem elas que nos fizessem chegar a universais amplos e inquestionáveis de ética.

Se a prosa de um relatório se quer clara para que todos os leitores a absorvam exatamente da mesma forma, a poesia quer que o leitor seja o seu continuador, lendo o que a sua estética pedir e desejar, levando cada um a um novo poema que é completado no momento exato da fruição. Nada se repete, nenhum leitor é igual, nenhuma norma se sobrepõe à individualidade.

A forma como uma cor, uma forma, um gesto ou uma palavra toca em cada um de nós é exato instrumento de significação, de criação de sentidos, de intensidades e, por isso, modificador, criador, operativo.

Se a presença numa reunião com alta carga simbólica e ritual se justificasse pela alegria do reencontro de um grupo de amigos, então não seriam necessários paramentos, nem rituais de aberturas, nem de uma decoração do espaço muito própria (Han, 2020).

Participa-se num ritual porque, todos juntos, se repetem um grupo de gestos, participa-se num grupo de declamações, define-se uma noção de sacralidade centrada em princípios organizadores do mundo e da vida, uma verdadeira cosmovisão, sem que seja preciso ser religiosa, e, por isso, na assembleia é-se reconhecido pelos iguais como: Iguais (ELIADE, 1999).

Quando, por exemplo, na Maçonaria se espera que as Luzes do Templo iluminem no “mundo profano”, está-se a dar asas à mística operatividade do Rito que se espelha na vida social, familiar, profissional, mediante a hermenêutica que cada um faz dos símbolos e dos ritos, da leitura que cada um realiza dos textos, das palavras e até dos silêncios.

Obviamente, seguimos para aquilo que, ao ser reforçado nos textos constitutivos da Maçonaria é definidor do que é fundamental. Ao afirmar no artigo 2º das Constituições do Grande Oriente Lusitano, que “A forma da Maçonaria é ritualística”, está-se a fugir, em pleno quadro cultural positivista, a qualquer leitura que diga ser a maçonaria algo comparável a uma Religião, mas afirma-se a dimensão do ritual como definidora.

Chegamos o que eu julgo ser, de facto, o centro da definição da própria noção de si, fundamental na noção de sacralidade, por oposição à ideia de “profano”, na Maçonaria. E o essencial encontra-se, de facto, na dita ritualística.

Poderíamos dizer que o ritual dá a sacralidade através da definição de um tempo. O tempo do ritual tem gestos e palavras muito específicas que nos remetem para códigos e para a vivência de símbolos.

No limite, até poderíamos dizer que num ritual se define um espaço sagrado na forma se gere esse espaço, com que movimentos, com regras e com ritmos, qual declamação regida por uma métrica poética (PINTO, 2020). Mas não creio que seja essa a forma mais interessante de nos aproximarmos da ideia de sacralidade.

À semântica única que une quem participa num ritual, permitindo participar no rito, acresce a hermenêutica diversa que diferencia cada um como indivíduos. E esta dinâmica, esta tensão, é, ao mesmo tempo, coesão e diversidade. A Fraternidade é como que recriada em todo o momento em que se vivencia o ritual lado a lado, seja na Loja Maçónica, seja na oração em congregação numa Mesquita, nessa natureza em que o comum nos permite participar, entendendo, e o que nos é único nos dá a capacidade de liberdade, de entendimento irrepetível. No limite, o rito, na sua repetição, é uma máquina de fazer Igualdade que dilui as diferenças do tempo e do espaço fora do ritual, do profano.

Hermeneuticamente ficamos muitíssimo mais próximos, não apenas ao fazer gestos iguais, que nos ligam, mas ao definir entendimentos que o ritual consigna e tornam cada um mais forte. E é-se mais forte -no ritual fica-se mais forte-, porque em liberdade nos unimos e nos individualizamos dentro de uma noção de sacralidade. E esta máquina de fazer Fraternidade que é o ritual, é reforçada porque ele se alimenta semanticamente do símbolo, não apenas dogmatizado numa definição que todos assimilemos como única, mas numa liberdade de cada um ler esse momento com o seu entendimento, na sua racionalidade.

De fato, um ritual, ao definir uma leitura, pode dizer-nos, se a interpretação for pobre, que essa é a leitura correta; mas diz-nos, também, pela afirmação de um caminho, os sentidos que são todos os outros – no limite, uma regra é uma bengala para se perceber como a não seguir.

E, neste momento, caímos no que me parece ser o fundamental da relação entre a sacralidade possibilitada pelo ritual: a noção de Sabedoria. Os símbolos são, acima de tudo, vividos, seja na tal formulação padronizada, seja na Liberdade interpretativa de cada um (BATESON, 2008).

Este é o caminho para entender como o ritual é um momento e corresponde a um espaço de Sabedoria. Com uma semântica própria, com simbólica própria e vivida de forma única por cada um, no ritual conjugam-se o que de mais fundamental tem a vivência: a complexidade da junção de duas naturezas aparentemente distintas: a solidez do que está definido e não pode ser alterado, e o fluido que é a vivência individual. Se um ritual são um grupo de normas e de definições, participar num rito é viver essas normas mediante a leitura pessoal. E somos livres na possibilidade hermenêutica que surge na repetição do ritual (HAN, 2020).

O Conhecimento de um ritual não se faz por se decorarem as frases, quais deixas de teatro, ou por se terem os paramentos corretos. Também o é, mas não apenas. Conhece-se um ritual, como a Antropologia já o afirmou há muitos anos, vivenciando-o, sendo participante, sendo, no fundo, oficiante – ao participar, nem que seja com um único gesto num ritual, é-se já oficiante.

Autor: Paulo Mendes Pinto

* Paulo é Doutor em Estudos Culturais. Diretor Geral Acadêmico do Grupo Lusófona/Brasil. Coordenador da área Ciência das Religiões da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa/Portugal. Áreas de atuação: esoterismo, judaísmo, maçonaria, espiritualidades.

Fonte: Revista Relicário • Uberlândia • v. 8 n. 16 • jul./dez. 2021.

Referências

BATESON, Gregory. Vers une ecologie de l ́esprit. Paris: Essais, 2008. DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ELIADE, Mircea. Historia de las creeencias y de las ideas religiosas II. De gaumata Buda al triunfo del Cristianismo.Barcelona: Paidos, 1999. ELIADE, Mircea. Images et symboles. Essais sur le symbolisme magico-religieux. Paris: Gallimard, 1952. HAN, Byung-Chul. Do desaparecimento dos rituais. Lisboa: Relógio d ́Água, 2020. PINTO, Paulo Mendes. Trabalhar a Pedra. Textos Maçónicos e de inspiração Maçónica.Lisboa: Europress, 2020. RICOEUR, Paul. Soi-mêmme comme un autre.Paris: Seuil, 1990.

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As três Grandes Luzes da Maçonaria, a Moral e a Ética

As três grandes luzes da Maçonaria são o Compasso, o Esquadro e o Livro da Lei Sagrada.

Talvez o mais conhecido dos símbolos da Maçonaria seja o que é constituído por um esquadro, com as pontas viradas para cima, e um compasso, com as pontas viradas para baixo.

Como normalmente sucede, várias são as interpretações possíveis para estes símbolos.

É corrente afirmar-se que o esquadro simboliza a retidão de caráter que deve ser apanágio do maçom. Retidão porque com os corpos do esquadro se podem traçar facilmente segmentos de reta e porque reto se denomina o ângulo de 90 º que facilmente se tira com tal ferramenta. Da retidão geométrica, assim facilmente obtida, se extrapola para a retidão moral, de caráter, a caraterística daqueles que não se “cosem por linhas tortas” e que, pelo contrário, pautam a sua vida e as suas ações pelas linhas direitas da Moral e da Ética. Esta caraterística deve ser apanágio do maçom, não especialmente por o ser, mas porque só deve ser admitido maçom quem seja homem livre e de bons costumes.

É também corrente referir-se que o compasso simboliza a vida correta, pautada pelos limites da Ética e da Moral. Ou ainda o equilíbrio. Ou a também a Justiça. Porque o compasso serve para traçar circunferência, delimitando um espaço interior de tudo o que fica do exterior dela, assim se transpõe para a noção de que a vida correta é a que se processa dentro do limite fixado pela Ética e pela Moral. Porque é imprescindível que o compasso seja manuseado com equilíbrio, a ponta de um braço bem fixada no ponto central da circunferência a traçar, mas permitindo o movimento giratório do outro braço do instrumento, o qual deve ser, porém, firmemente seguro para que não aumente ou diminua o seu ângulo em relação ao braço fixo, sob pena de transformar a pretendida circunferência numa curva de variada dimensão, torta ou oblonga, assim se transpõe para a noção de equilíbrio, equilíbrio entre apoio e movimento, entre fixação e flexibilidade, equilíbrio na adequada força a utilizar com o instrumento. Porque o círculo contido pela circunferência traçada pelo instrumento se separa de tudo o que é exterior a ela, assim se transpõe para a Justiça, que separa o certo do errado, o aceitável do censurável, enfim, o justo do injusto.

Também é muito comum a referência de que o esquadro simboliza a Matéria e o compasso o Espírito, aquele porque, traçando linhas direitas e mostrando ângulos retos, nos coloca perante o facilmente perceptível e entendível, o plano, o que, sendo direito, traçando a linha reta, dita o percurso mais curto entre dois pontos, é mais claro, mais evidente, mais apreensível pelos nossos sentidos – portanto o que existe materialmente. Por outro lado, o compasso traça as curvas, desde a simples circunferência ao inacabado (será?) arco de círculo, mas também compondo formas curvas complexas, como a oval ou a elipse. É, portanto, o instrumento da subtileza, da complexidade construída, do mistério em desvendamento. Daí a sua associação ao Espírito, algo que permanece para muitos ainda misterioso, inefável, obscuro, complexo, mas simultaneamente essencial, belo, etéreo. A matéria vê-se e associa-se assim à linha direita e ao ângulo reto do esquadro. O espírito sente-se, intui-se, descobre-se e associa-se, portanto, ao instrumento mais complexo, ao que gera e marca as curvas, tantas vezes obscuras e escondendo o que está para além delas – o compasso.

Cada um pode – deve! – especular livremente sobre o significado que ele próprio vê nestes símbolos. O esquadro, que traça linhas direitas, paralelas ou secantes, ângulos retos e perpendiculares, pode por este ser associado à franqueza de tudo o que é direito e previsível e por aquele à determinação, ao caminho de linhas direitas, claro, visível, sem desvios. O compasso, instrumento das curvas, pode por este ser associado à subtileza, ao tato, à diplomacia, que tantas vezes ligam, compõem e harmonizam pontos de vista à primeira vista inconciliáveis, nas suas linhas direitas que se afastam ou correm paralelas, oportunamente ligadas por inesperadas curvas, oportunos círculos de ligação, improváveis ovais de conciliação; enquanto aquele, é mais sensível à separação entre o círculo interior da circunferência traçada e tudo o que lhe está exterior, prefere atentar na noção de discernimento entre um e outro dos espaços.

E não há, por definição, entendimentos corretos! Cada um adota o entendimento que ele considera, naquele momento, o mais ajustado e, por definição, é esse o correto, naquele momento, para aquela pessoa. Tanto basta!

O conjunto do esquadro e do compasso simboliza a Maçonaria, ou seja, o equilíbrio e a harmonia entre a Matéria e o Espírito, entre o estudo da ciência e a atenção às vias espirituais, entre o evidente, o científico, o que está à vista, o que é reto e claro e o que está ainda oculto ou obscuro. O esquadro é sempre figurado com os braços apontando para cima e o compasso com as pontas para baixo. Ambas as figuras se opõem, se confrontam: mas ambas as figuras oferecem à outra a maior abertura dos seus componentes e o interior do seu espaço. A oposição e o confronto não são assim um campo de batalha, mas um espaço de cooperação, de harmonização, cada um disponibilizando o seu interior à influência do outro instrumento. Assim também cada maçom se abre à influência de seus Irmãos, enquanto ele próprio, em simultâneo, potencia, com as suas capacidades, os seus saberes, as suas descobertas, os seus ceticismos, as suas respostas, mas também as suas perguntas (quiçá mais importantes estas do que aquelas…) a modificação, a melhoria, de todos os demais.

Quanto ao Volume da Lei Sagrada, este pode ser qualquer dos Livros de qualquer das religiões que acreditem na existência de um Criador, qualquer que seja a conceção que Dele se tenha, mais ou menos interventor no Universo ou mero Princípio Criador catalisador e e definidor do Universo.

O Livro da Lei Sagrada contém em si as normas básicas da atuação e convivência humanas, referencial para a conduta do homem de bem. Em suma, simboliza o conjunto de regras que a Sociedade determina aceitáveis para que a sã convivência entre todos seja possível, ou seja, A Moral inerente à Sociedade e que todos os que a integram devem respeitar e seguir.

Nas sessões de Loja, o Compasso e o Esquadro são colocados SOBRE o Volume da Lei Sagrada. Não porque se entenda que são mais importantes aqueles do que este, mas, pelo contrário, porque o Volume da Lei Sagrada simboliza a base Moral sobre a qual assenta a Ética de cada um.

Esta, a Ética, defini-a já como o conjunto de princípios que norteiam a determinação e utilização dos meios à nossa disposição para atingirmos os fins que nos propomos.

 O Esquadro traça, sobre o pano de fundo da Moral, as linhas éticas que o Homem deve definir para a sua atuação. O Compasso define os limites que essas linhas devem respeitar.

O conjunto de ambos simboliza, assim, também a Ética que, tal como eles assentam no Volume da Lei Sagrada, assenta na Moral sobre que esta se constrói.

Porque a ética sem Moral pode usar esse nome, mas não é verdadeiramente ética – ou então teríamos que aceitar como tal a “honra dos ladrões”, a dita “ética dos criminosos”. A Ética tem que necessariamente ser individualmente construída respeitando e assentando na Moral da Sociedade em que nos inserimos, pois nenhum homem é uma ilha podendo arrogar-se o direito de definir o seu conjunto de princípios fora da Moral da Sociedade em que se insere.

As Três Grandes Luzes da Maçonaria são, assim, o conjunto de símbolos que deve guiar a atividade de aperfeiçoamento do maçom, homem livre de escolher e determinar os Princípios que o norteiam, mas sempre harmoniosamente integrado na Sociedade em que se insere.

Autor: Rui Bandeira

Fonte: Blog A Partir Pedra

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Uma pedagogia através de símbolos e imagens simbólicas

A Maçonaria oferece uma maneira única de divulgar suas ideias entre os iniciados nessa organização. Esta epistemologia vem de várias fontes, mas em todas elas o símbolo, ainda mais a imagem simbólica, desempenha um papel central. Uma recente novidade editorial, Masonic Symbolism, de JJ García Arranz, estudou-o. Nas páginas seguintes, tentar-se-á delimitar um pouco em que consiste este método de comunicação de ideias, sobretudo na sua dimensão visual. Além disso, este número será aprofundado com base na já mencionada novidade editorial apresentada por García Arranz, bem como na resenha que publicou em REHMLAC +. 

No número 1 do volume 10 da REHMLAC+ (maio-novembro de 2018) foi publicada uma resenha sobre uma novidade editorial, Masonic Symbolism, escrita por José Julio García Arranz e publicada na Editorial Sans Soleil . A revisão foi realizada por Antonio Morales Benítez, pesquisador da Universidade de Cádiz.

Tanto o título do livro de García Arranz quanto a resenha de Morales Benítez enfatizam o valor dado à questão do simbólico. Assim, este artigo visa aprofundar esse aspecto, tomando como diretriz o estudo publicado por Sans Soleil, já que –como indica Morales Benítez em sua obra– o livro de García Arranz ocupa uma lacuna no mercado hispânico que era importante preencher[1]. Dada a importância dada à análise de García Arranz, toma-se o Simbolismo Maçônico como fonte principal, a ser complementada – sim – com outras referências bibliográficas.

No final de 2017, foi publicado pela editora Sans Soleil o referido livro sobre a dimensão simbólica da Maçonaria. García Arranz considera o simbólico como o eixo fundamental da epistemologia proposta pela fraternidade. De fato, o fato desta obra ter sido publicada em Sans Soleil é muito consistente, pois o simbólico e suas aplicações estéticas constituem um de seus principais eixos de divulgação. Aliás, a referida editora especializou-se na edição de alguns dos livros mais representativos das mais renomadas tendências da história da arte. Assim, em seu catálogo pode-se encontrar desde clássicos da iconologia (Panofsky, Gombrich) até grandes teóricos dos estudos visuais (Mitchell, Moxey) e estudos culturais (Haraway), além de alguns dos novos autores mais interessantes da disciplina na esfera hispânica, especialmente na academia espanhola. Entre eles, o professor García Arranz, com o referido estudo sobre a sociedade secreta.

As credenciais do professor José Julio García Arranz são importantes para entender sua perspectiva. É professor catedrático de História da Arte na Universidade da Extremadura, especializado em emblemática. Isso dá à sua pesquisa um viés claro para o aspecto visual da sociedade secreta. Consequentemente, e entre outras virtudes, o Simbolismo Maçônico compila um enorme número de imagens geradas pela sociedade secreta em sua história centenária.

Como Morales Benítez já relata em sua resenha, García Arranz foi o fundador da Sociedade Espanhola de Emblemática[2], fator a ser levado em conta pelo peso que esse modelo de transmissão logoicônica tem na história da fraternidade[3]. Aprofundando-se no exposto, além da emblemática, o professor também investigou o material visual relacionado ao imaginário hermético, alquímico, esotérico ou afins.

Quanto à abordagem do estudo de García Arranz, não será aquele que pretende fazer proselitismo para a causa maçônica. Nem a denegrir, transformando-a numa hidra que está na raiz de todas as revoluções (negativas) do mundo[4]. Apenas pesquisa acadêmica rigorosa é procurada. O livro está dividido em sete ensaios de extensão variável, aos quais se acrescenta a introdução, a conclusão e dois apêndices.

Entre as várias metodologias, o autor da obra resenhada optou por realizar um estudo de maçonologia —em homenagem à iconologia panofskyana. Portanto, aproveita as ferramentas das ciências humanas, evitando leituras partidárias, baseadas em fantasias, e realizadas por membros da fraternidade ou por detratores convictos, sem o domínio adequado das metodologias das disciplinas humanas[5]. Ou mesmo sem a necessária distância do objeto de análise, mediada por seu fervor. Devido a isso, esse tipo de pesquisadores maçônicos traçam conexões sem suporte empírico[6]. Pode-se dizer que, com tal decisão, García Arranz opta por uma leitura ética em termos de antropologia, externa ao grupo estudado.

Entre os ensaios, ele combina alguns de narração histórica com outros que funcionam como um dicionário de símbolos em uso, junto com alguns mais de tipo especulativo que – por exemplo – observam a evolução de certas ideias dentro do corpus teórico e visual maçônico.

As quatro primeiras seções — introdução e três capítulos próprios — do Simbolismo Maçônico são apresentadas como definições do assunto em questão, que vão desde uma apresentação geral até delimitações conceituais, uma indagação sobre o que é especificamente para a fraternidade ou os tipos de símbolos que podem existir, dependendo das origens, dada a natureza eclética das fontes maçônicas. Todos ensaísticos, os quatro textos constituem uma base incontornável sobre a qual se apoiará o restante, são reflexões sobre o papel do simbolismo e seu peso na história da fraternidade. Isso configurará o que Martín López chamou de “estética maçônica”, que – em sua opinião – é um rótulo melhor do que “estilo maçônico”[7].

Uma das características mais marcantes do aspecto epistemológico em que a fraternidade divulga suas ideias gira em torno de um ecletismo de fontes, o equivalente estético de seu sincretismo religioso – que bebe tanto do hermetismo quanto da alquimia, do Egito faraônico e do cristianismo. Segundo García Arranz, os símbolos de tantas religiões são retrabalhados em códigos maçônicos[8]. Na arte contemporânea dir-se-ia que a sociedade secreta se apropria de cada um deles.

Símbolo como fonte de conhecimento espiritual, mas também de ensino moral, cada um dos Ritos – mesmo cada uma das Lojas – decide qual das muitas tendências maçônicas prefere priorizar, uma escolha que terá consequências sobre como a faceta metafórica mais tarde será trabalhada. Portanto, para García Arranz, o simbolismo torna-se a espinha dorsal das lojas e da Maçonaria, pois cada obediência e cada rito têm uma abordagem parcialmente diferente em relação aos outros — o ritual apresenta mudanças, os templos são decorados com pequenas variações —, embora sempre compartilhando um fundo simbólico comum[9].

Mas antes de prosseguir, e dada a centralidade que a Maçonaria lhe confere, convém definir – na medida do possível – a que ideia de símbolo a sociedade secreta se refere. A irmandade passou a utilizá-los – segundo uma longa corrente de interpretação compartilhada, ao menos parcialmente, por simbolistas, românticos, herméticos ou neoplatônicos, que pensavam na imagem simbólica como algo que remetesse ao sagrado, metafísico ou mítico – como uma imagem que alude ao verdadeiro no sentido espiritual e que, mesmo em suas leituras mais espiritualistas — hinduísmo, religião egípcia durante os faraós ou certas correntes esotéricas — a imagem pode vir a ser a mesma[10].

Uma ideia expressa no catálogo que acompanhou uma das exposições mais interessantes de 2017, As Above, So Below: Portals, Visions, Spirits & Mystics, exibida no IMMA em Dublin, aprofunda esta ideia:

“Em tempos passados, a arte feita por humanos não representava apenas alguma coisa, ela era aquela coisa;  a divindade, espírito, humano ou animal continha a essência ou, se preferir, a alma daquela coisa.” [11]

Uma tendência já encontrada no hermetismo, um dos grandes horizontes culturais que influenciaram a fraternidade. Ficino, pensador vinculado às raízes renascentistas da referida corrente, havia teorizado sobre a capacidade do símbolo de tornar visível o invisível, orientar para a ideia e, simultaneamente, ao pensar sobre ela, reformar a mente. Devido a essas virtudes, gozaria de um alto poder heurístico[12].

No código maçônico, e como fundamento epistemológico, o símbolo maçônico alude à coisa sem perder seu caráter polissêmico: o mesmo objeto – compasso, esquadro ou qualquer outro – significa coisas complementares, mas não necessariamente iguais em diferentes graus. O compasso no grau de Aprendiz não será equivalente à mesma realidade que no de Mestre. Cada vez ele irá incorporar novas facetas. Isso pode chegar a vincular vários objetos de maneira diferente para cada série. Aí o símbolo possui uma multivalência polissêmica, cujos significados são potencialmente infinitos[13].

Por isso, a faceta lógica ou racional não se concentra exclusivamente nele, mas o que é representado se dirige à totalidade do psiquismo, tanto ao irracional quanto ao suprarracional. Ou seja, em todos os níveis que não são conscientes ou racionais, com uma natureza inevitavelmente misteriosa, ambígua, inefável ou ilimitada[14]. Assim, torna-se também uma ferramenta inestimável para compartilhar informações sobre o metafísico ou o sagrado[15].

Porém, isso não descreve completamente o uso do simbólico na fraternidade. Como muitas vezes aponta García Arranz, há dois polos hermenêuticos que vão da já mencionada forte leitura esotérica – sem lastro na documentação histórica – a uma leitura puramente racionalista que escapa à dimensão anterior. García Arranz trata desses dois polos em vários pontos do texto, com formas muito diferentes de compreender o corpus teórico e simbólico do grupo[16].

Geralmente, a leitura esotérica prefere refletir sobre uma dimensão mítica ou espiritual, uma interpretação ocultista que seguiria a tradição hermética, segundo a qual as verdades últimas do mundo inteligível são incorporadas em símbolos[17]. Por outro lado, as lojas que optam por filtrar os símbolos por um código moral mais didático preferem uma Maçonaria laica e racionalista, com prioridade para o político ou o sociológico, muitas vezes de forma progressista.

Essa dupla abordagem maçônica, com a sensibilidade mais metafísica por um lado e a histórico-sociológica por outro, lembra a dualidade com que Ernst Gombrich descreveu a hermenêutica do simbólico. Segundo o grande historiador da arte, em um estudo clássico, podem-se distinguir duas formas de abordar a interpretação dos símbolos. De um lado, a mentalidade que chamou de “intelectual aristotélica”, um método de definição visual baseado em associações de conceitos e imagens, algo que pode ser delimitado, estudado e estabelecido. No outro, o que chamou de “misticismo neoplatônico”, cuja origem é mais religiosa e em que, no que diz respeito à comunicação, o símbolo se torna expressão de algo inefável e que nunca pode ser completamente definido[18]. Assim, ao longo de sua história, a Maçonaria vem manifestando ambas as tendências em suas operações. É claro que, embora o autor destas linhas concorde com a apreciação de García Arranz, segundo a qual a Maçonaria utiliza ambas, dá a impressão –porém– que o uso original de seu método partiria do chamado neoplatônico místico, corrigido durante sua já longa história para a outra opção, mais racionalista.

De qualquer forma, a imagem simbólica apresenta sua informação superando a literalidade das coisas, sendo ela mesma (o compasso) e, ao mesmo tempo, sugerindo outras realidades, em um mostrar e esconder simultaneamente – um espetáculo de ocultação que, por outro lado, é a quintessência da arte. A atividade cognitiva gerada pelas imagens simbólicas ativa a imaginação — que é seu domínio —, provocando também a geração de sentimentos, o que explica em grande parte, pelo menos, sua eficácia como método pedagógico.

O quinto e muito curto capítulo do livro de García Arranz ainda mantém o tom ensaístico. Nele, o autor se pergunta justamente sobre a função dos símbolos, desdobrados em identificação mútua entre maçons, a difusão moral —com suas lendas e afins—, ou uma propedêutica filosófico-moral, considerando através de seu estudo como deve se comportar um verdadeiro maçom. Mas, além disso, observam-se também outras funções de natureza mais metafísica, como a possível união com uma realidade transcendente, graças a esses símbolos arquetípicos, transformados na encarnação do transcendental. Graças a eles, o maçom pode libertar-se do condicionamento[19].

As duas seções seguintes são as centrais dentro do Simbolismo Maçônico. Para começar, elas expandem o formato do ensaio para propor uma exibição como verbetes do dicionário. E fazem isso para duas áreas maçônicas fundamentais. Na primeira, os mitos da fraternidade e os objetos para explicar suas ideias. No segundo, os espaços do templo. Embora o tema varie, a estrutura de ambos os capítulos é compartilhada. E em termos de extensão, essas seções ultrapassam a metade do estudo.

O primeiro de ambos – o sexto capítulo – descreve um a um, alguns dos símbolos e mitos mais comuns das Lojas. Esta é a seção mais variada e complexa, baseada na constituição dos mitos da fraternidade. Ao contrário dos capítulos anteriores, do tipo ensaio, focados no desenvolvimento de um tema unitário, nesta passagem todos esses conceitos – e mais alguns – são explicados como verbete de dicionário. Combina alguns dos elementos cruciais do léxico da corrente iniciática ligada ao trabalho de construção – como o compasso, o cinzel e os demais exemplos – com reflexões sobre a geometria sagrada de inspiração pitagórica, como o Delta do Oriente, a Estrela Flamejante, o hexagrama, o ponto e a circunferência ou outras figuras semelhantes.

O longo capítulo também explica algumas das histórias fundadoras extraídas do legado bíblico. Ele esclarece muitas delas, oriundas de fontes do Antigo Testamento, lidas como germe de ensinamentos morais ou por suas analogias com a instrução da irmandade, como a de Hiram Abif, arquiteto do templo de Salomão — tema básico da bagagem de uma fraternidade com uma figura chamada Grande Arquiteto do Universo[20] —, tudo relacionado ao referido templo, as colunas Jakim e Boaz, a construção da Torre de Babel, a construção da arca de Noé ou escada de Jacó, entre outros episódios, personagens e objetos relevantes da Bíblia.

Nessa mesma epígrafe, o autor faz um exercício semelhante com influência esotérica, pegando uma série de temas e desenvolvendo-os. Entre eles, o templário e o espírito cavalheiresco que derivou de seu exemplo, o rosacrucianismo, a alquimia, os cultos de mistério ou a arte da memória. García Arranz sai da exaustividade do dicionário de termos para voltar ao ensaio reflexivo. Com ele, levanta-se o que há de factual nessa suposta herança ou – pelo menos – transferência do oculto.

Na minha opinião, García Arranz minimiza um pouco seu peso. A Maçonaria tornou-se um dos redutos tradicionais da corrente esotérica ocidental. Sua influência é percebida tanto no tipo de epistemologia — a necessidade de ritual, o uso de símbolos e, portanto, a tentativa de evitar o literal, o uso neoplatônico de exemplos morais para aprender o comportamento…— como no conteúdo mitológico — o próprio uso dos mitos e do pensamento mítico, a Rosacruz, o Templário, até mesmo partes dos rituais—. Sem esquecer, muitos dos elementos simbólicos em que ressoa o hermetismo-esoterismo, a tríade enxofre-mercúrio-sal, o pavimento em mosaico… relacionado com a sociedade secreta 

Além disso, se traçarmos as origens de alguns símbolos, e como exemplo, a alquimia serviu de referência na exibição visual dentro das lojas. Por exemplo, nas imagens da loja e no material visual encontrado nos livros de gravuras da ciência de Hermes (alquimia). Mas, na minha opinião, a influência nesse sentido é menor. Embora seja verdade que os emblemas alquímicos possam inspirar nos casos em que se representa uma combinação heterogênea de elementos de múltiplos significados — como acontece nos painéis dos graus de Aprendiz e Companheiro —, a influência é muito menor no que diz respeito às gravuras com cenas –muitas vezes mitológicas– e que devem ser decodificadas, comparando-as com os processos observados no ritual. Contudo, este tema é complexo e merece pesquisas futuras focadas nele.

Se voltarmos ao estudo de García Arranz, o capítulo termina no mesmo tom especulativo, pensando na lenda e na realidade do papel maçônico na Revolução Francesa. Apesar da heterogeneidade da Maçonaria, composta por atitudes muito diversas – até opostas –, os teóricos da conspiração acusaram a fraternidade de ter desencadeado o movimento revolucionário e o consequente terror, o que teria significado uma vingança templária contra seus inimigos monárquicos. Mas nem as Lojas reagiram unanimemente a esses acontecimentos — muito pelo contrário —, nem o lema revolucionário, com as três virtudes (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) tão cruciais dentro do ritual da ordem, foi um empréstimo maçônico, sendo que o que aconteceu foi justamente o contrário do ronda o senso comum.[21]

O sétimo capítulo, “Os lugares da imagem-símbolo”, continua com o formato do dicionário. Mas, neste caso, para descrever os elementos simbólicos do templo, o pavimento em mosaico, os locais de assento do Aprendiz, Companheiro e Mestre, os painéis da Loja…, assim como as luzes em várias variantes e significados. Sendo a Maçonaria uma corrente iniciática especialmente interessada no simbolismo da luz, pode-se deduzir o valor dado a esta parte do léxico da fraternidade.

No último capítulo, García Arranz retoma o tom ensaístico para refletir sobre uma de suas áreas de especialização: a forma artística dos emblemas, tão relevante sobretudo nos séculos XVI e XVII. Para forjar sua forma logoicônica, ou seja, a combinação de informações textuais com outros gráficos, uma mistura emblemática para a qual era importante a teoria dos hieróglifos que existia naqueles séculos, assim como as fantasias que gerava[22]. Muitos dos motivos dos livros de emblemas serviram de inspiração para a rica herança simbólica da sociedade secreta.

Sobre a capacidade de revelação da imagem no sentido hermético, convertida no que pensavam ser um hieróglifo no século XV ou XVI, o professor Díaz-Urmeneta aponta um argumento que pode ser estendido à fraternidade e seu uso do simbólico:

Esta é a afirmação da magia renascentista. Partindo do pensamento árabe, de algumas de suas recepções pela escola e de escritos herméticos, o Renascimento busca uma imagem efetiva que tenha a força que o tempo atribuiu aos hieróglifos dos antigos egípcios. Tal imagem não procura significar ou comunicar, mas tornar presente. Traga aqui a força oculta na natureza. Ao despertar assim a virtude de qualquer ser, encerrado em seu nome ou em sua figura, os homens poderiam intervir no curso dos eventos naturais. O hieróglifo era a linguagem das coisas que, roubadas da natureza, continham a eficácia manifesta ou oculta das próprias coisas. [23]

No uso de imagens com valências hieroglíficas, a Maçonaria está ligada a um clássico da utopia do século XVII, Cidade do Sol , escrito por Campanella, autor muito próximo do pensamento hermético. Neste romance utópico, o antigo anseio renascentista pela linguagem através de imagens, hieróglifos e significado pedagógico é fabulado. O personagem Sin, que na cidade ideal se encarrega da ciência, mandou pintar murais e cortinas da cidade com desenhos de estrelas, matemática, minerais, metais, bebidas, animais, ervas, árvores ou países do mundo, com os quais ilustram visualmente os cidadãos.

O conjunto relatado no romance utópico segue o ideal hermético da instrução por imagens hieroglíficas, tendo os afrescos como lição, numa combinação de imagem e palavras, já que os professores os utilizam para instruir. Além disso, as várias representações se entrelaçam como em uma tapeçaria, para mostrar como funciona a teoria das correspondências, tendência também próxima da Maçonaria. A finalidade pedagógica dos murais da Cidade do Sol é aplicada a partir dos três anos de idade. Esse fator torna-se o enredo da história utópica justamente no momento em que franciscanos e jesuítas catequizaram com imagens, quando se buscaram significados esotéricos para hieróglifos ou quando imagens e versos foram combinados em emblemas[24].

García Arranz aplica a união logoicônica à leitura das pinturas da loja, nas quais se fundem graficamente os principais elementos simbólicos maçônicos. Mas, na minha opinião, essas pinturas de loja carecem do componente textual, essencial para que uma forma visual seja emblemática. Em vez disso, encontra-se neles a densidade simbólica e alegórica da parte visual dos emblemas.

De qualquer forma, eles também se aproximariam de exemplos um pouco mais avançados de livros de emblemas alquímicos, nos quais a informação textual desaparece quase completamente, com o exemplo por excelência do Mutus liber, intitulado como o Livro Mudo, que tentou alcançar a tradução hermética ideal de ideias a imagens para pensar através delas. E, assim, contornar as limitações do logos e sua linguagem verbal[25].

Que sim, como já se antecipou um pouco acima, é claro que, entre os membros das sucessivas gerações de maçons, podem ser contados vários que tinham consciência dessa bagagem cultural e que seu próprio discurso – bem como a ideologia de a fraternidade – foi influenciado por ele.

Essa influência é perceptível de forma mais clara naqueles emblemas que contêm elementos simbólicos compartilhados pela Maçonaria, como o compasso, o esquadro e outros. Mas, na visualidade maçônica, em suas imagens, quase sempre falta o aspecto textual, essencial para que a forma do emblema aconteça. Provavelmente, isso se deve ao fato de a instrução maçônica ser constituída por imagens, mas também por recitações dos rituais, aspecto que deve ser sempre levado em consideração ao se analisar a epistemologia da fraternidade[26].

Sobre os rituais, os tratados do antropólogo Víctor Turner podem lançar luz sobre essa parte da Maçonaria. Turner praticamente se especializou no pensamento simbólico e no performativo como derivado do ritual. Ele também estudou cuidadosamente os fundamentos do ritual, bem como sua evolução na forma de teatro em sociedades cada vez mais complexas. O antropólogo afirmou que tinha vínculos com o teatro, era como uma performance, a consumação de um ato que tem um componente religioso constitutivo[27]. Ambos os tipos de ações estão ligados às crises daqueles que as vivenciam, o que implica uma mudança de status social para eles[28]. Mas isso não afeta apenas eles. Os rituais coletivos nas sociedades pré-industriais atraem toda a comunidade, dizem respeito ao grupo que compartilha a cultura. Toda narração desse tipo resulta em um drama social para aquele todo, uma experiência liminar, uma transição de um estado para outro ou uma experiência limiar, que significa limen em latim, na terminologia de Turner[29].

A conclusão do livro de García Arranz constitui outro capítulo de ensaio. Investiga a preferência maçônica por não estabelecer uma leitura oficial e ortodoxa de sua simbologia, mas também ficar sempre dentro dos canais estabelecidos pela tradição de sua história, por onde fluem os diversos afluentes que dão conteúdo à Maçonaria, como o Templário, o Rosacruz, a emblemática alquímica… É através da constante meditação sobre os símbolos, uma reflexão que se reflete nos trabalhos apresentados em loja, na medida que se forma o maçom. Assim, os símbolos tornam-se substrato pedagógico para o ensino, no duplo aspecto comentado que se encontra dentro da Maçonaria: aquele que os interpreta de forma mais esotérica e aquele que o faz uma forma mais próxima de um ensino moral explicável em termos racionais.

O livro termina com dois anexos. Um dedicado a animais e plantas usados ​​para fins metafóricos. E, o outro, às cores. Amostras fiéis dos dois estilos que caracterizam o texto: o primeiro esmiúça, como um dicionário, o uso do pelicano, do galo ou da rosa em rituais, enquanto o segundo opta pela outra estratégia, já levantada anteriormente. Ou seja, o estilo ensaístico para pensar como as cores são usadas em vários rituais.

Em suma, a abordagem de García Arranz em seu livro, o fato de combinar ensaios com verbetes de dicionários, permite que seu trabalho seja usado tanto como ferramenta de trabalho para buscar breves análises de elementos simbólicos, quanto para refletir mais detalhadamente sobre questões centrais para a epistemologia da Maçonaria. E o valor da pesquisa se dá pelo papel central que esse aspecto mantém dentro da fraternidade, bem como pela escassez de estudos sobre ele no âmbito hispânico, para o qual – nas palavras de seu revisor Morales Benítez – o simbolismo maçônico começa a preencher uma lacuna nesse campo linguístico[30].

Um objeto que se tentou manter neste artigo, que tomou a obra de García Arranz e a resenha em REHMLAC + como percussores, graças ao qual refletir sobre a dimensão simbólica e sua tradução em imagens dentro da Maçonaria, com suas peculiaridades. epistemológica e pedagógica, uma vez que existem poucas outras organizações no presente cujo sistema de transmissão de conhecimento é baseado em símbolos em tal medida. Essa especificidade maçônica tornou necessário um estudo como o de García Arranz.

Autores: Ventosa Roger Ferrer
Traduzido por: Luiz Marcelo Viegas

Fonte: REHMLAC 

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Notas

[1] Antonio Morales Benítez, “Revisão do Simbolismo Maçônico. História, fontes e iconografia de José Julio GarcíaArranz”, REHMLAC+ 10, no. 1 (2018): 394,          https://doi.org/10.15517/rehmlac.v10i1.331

[2] Morales Benítez, “Reseña de Symbolismo masónico”, 392. Foi também secretário dessa sociedade.

[3] Logoicônico como a união de uma informação textual com outra visual que caracteriza e singulariza a forma emblemática. Mais sobre isso em Fernando R. de la Flor, Emblemas. Leituras da imagem simbólica (Madri: editorial da Alianza,1995), 22. O professor Rodríguez de la Flor é outro dos grandes especialistas da esfera hispânica em relação aos emblemas.

[4] Um exemplo desta última tendência difamatória seria encontrado em Los masones de César Vidal.

[5] Abordagem valorizada como “sucesso” na resenha de Morales Benítez, 393, boa avaliação que compartilho.

[6] José Julio García Arranz, Simbolismo Maçônico. História, fontes e iconografia (Vitoria-Gasteiz: SansSoleil, 2017), 24. Como exemplo dessa tendência, podemos citar uma obra editada por Arturo de Hoyos e S. Brent Morris, Freemasonry in Context. História, Ritual, Controvérsia, escrito por e para Maçons, ou Maçonaria: A Tradição Esotérica , de Fabio Venzi, que também acrescenta uma guenoniana. Do lado oposto, o já citado César Vidal. O problema reside, então, no fato de sua abordagem não pertencer ao campo acadêmico mais ou menos objetivo, interessado na própria coisa como objeto de análise.

[7] David Martín López, “Arte e Maçonaria: considerações metodológicas para seu estudo”, REHMLAC+1, no. 2 (dezembro de 2009 a abril de 2010): 19-20,https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/rehmlac/article/view/6615/6304

[8] García Arranz, “Simbolismo maçônico”,19.

[9] García Arranz, “Simbolismo maçônico”, 20-21.

[10] Fernando R. de la Flor, Emblemas. Leituras da imagem simbólica(Madri: Editorial Alliance, 1995), 188. Roger Ferrer Ventosa, “O ovo e o zero: do nada ao infinito”, Revista Sans Soleil- Estudios de la imagen 8 (2016): 89. A imagem que ocupa o lugar do que é representado: E H Gombrich, Imagens simbólicas. Estudos sobre a arte do Renascimento, 2(Madrid: Debate, 2001),124-125 e 177.

[11] Mark Pilkington, “The Active Surface: Art as Magical Technology”, em As Above, So Below: Portals, Visions, Spirits & Mystics, eds. Rachel Thomas e Sam Thorne (Dublin: Museu Irlandês de Arte Moderna, 2017): 43-44, 43.

[12] Juan Bosco Díaz-Urmeneta Muñoz, A terceira dimensão do espelho: um ensaio olhar renascentista (Sevilha: Universidade de Sevilha, 2004), 243.

[13] R. de la Flor, “Emblemas. Leituras da imagem simbólica”, 166.

[14] Mircea Eliade, Mefistófeles y el andrógino (Barcelona: Labor, 1984), 273. Também Ferrer Ventosa, “O ovo e o zero: do nada ao infinito”, Revista Sans Soleil– Estudios de la imagen8 (2016) : 96 .

[15] Ferrer Ventosa, “Imagens como uma encarnação do sagrado” , em Interpreting Sacred Stories(Wallingford: Cabi, no prelo).

[16] Por exemplo, García Arranz, “Simbolismo maçônico”, 63-70.

[17] Eugenio Garin, A Revolução Cultural Renascimento (Barcelona: Crítica, 1981), 149.

[18] Gombrich, Symbolic Images,13 e 179.

[19] García Arranz, “Simbolismo maçônico”, 101-106.

[20] García Arranz especula que a ideia platônica do demiurgo, artesão divino, poderia ser encontrada no ponto de partida do Grande Arquiteto do Universo (García Arranz, “Simbolismo maçônico”, 167).

[21] García Arranz, “Simbolismo maçônico”, 243-246.

[22] Para aprofundar esta questão, Ferrer Ventosa. “Pensando em Imagens Hieroglíficas: Da Tradição Hermética no Renascimento à Vanguarda à Arte Contemporânea”, Art, Individual and Society 30, no. 2 (2018): 311-328.

[23] Juan Bosco Díaz-Urmeneta Muñoz, A terceira dimensão do espelho: um ensaio olhar renascentista (Sevilha: Universidade de Sevilha, 2004), 46.

[24] Tommaso Campanella, A Cidade do Sol (Madri: Tecnos, 2007).

[25] Ferrer Ventosa, “Pensando em imagens hieroglíficas”, 311-328, 321-323.

[26] Junto com isso, a Maçonaria foi inspirada no memento mori, bem como em outros emblemas cristãos da arte alegórica moralista: (García Arranz, “Simbolismo maçônico”,300 e ss.).

[27] Victor Turner, Do Ritual ao Teatro. The Human Seriousness of Play (Nova York: PAJ Publications, 1982), 79-80.

[28] Turner, “Do Ritual ao Teatro”, 24.

[29] Turner, “Do Ritual ao Teatro”,24 e 41.

[30] Morales Benítez, “Review of Masonic Symbolism”, 392-294, 394. 

Bibliografia

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Características do templo na sua decoração e as Colunas Zodiacais

M33 - Primeira Sessão no Novo Templo da Loja Progresso da Humanidade nº  3166 - GOB/RS Porto Alegre/RS

No tocante aos rituais anglo-saxônicos e a decoração da Sala da Loja (é assim que é chamado o espaço de trabalho na corrente inglesa), não se trata de uma decoração desnuda propriamente dita, mas diferente, talvez mais simples, das de ritos de outras vertentes maçônicas – tanto sob o aspecto decorativo, quanto no aspecto topográfico, cujo qual não adota separação e elevação do quadrante oriental da Loja.

Compreenda-se que o conjunto simbólico primordial do grau está o Quadro da Loja, conhecido na vertente inglesa como a Tábua de Delinear (Tracing Board).

Ainda sobre a vertente anglo-saxônica e a decoração do espaço de trabalho, não existe uma regra apropriada para ela, senão a de que o espaço comporte os trabalhos maçônicos de acordo com o costume, portanto, é comum se observar na vertente anglo-saxônica uma variedade decorativa, variedade essa que é tomada ipisis litteris como decoração ou arranjo, onde muitos desses elementos nem mesmo fazem parte do relicário simbólico do working – são portanto meramente elementos decorativos que nem constam nos catecismos e regulamentos maçônicos.

Essa característica é bastante comum na vertente anglo-saxônica de Maçonaria, não existindo, contudo, uma decoração elaborada para a abóbada como acontece no REAA, por exemplo. Também não há cor determinada para a pintura das paredes, etc.

De comum mesmo é a posição dos principais Oficiais e as Luzes Menores conforme o working, assim como alguns elementos que são de uso universal da Maçonaria, independente do rito ou trabalho, como é o caso do Livro da Lei, do Compasso e do Esquadro (Luzes Maiores).

Já a vertente latina de Maçonaria possui outra característica, provavelmente pela sua constituição histórica construída a partir do Grande Oriente da França no século XVIII com o Rito dos 7 Graus, além do sistema conhecido como escocesismo caracterizado pelos altos graus.

A característica da vertente latina e a decoração dos seus Templos (assim conhecidos na Maçonaria Francesa), a despeitos dos elementos universais utilizados, foi construída conforme os ideais dos seus ritos, principalmente no caso do Rito Francês, ou Moderno (à época conhecido por Rito dos 7 graus), assim como os Ritos Adonhiramita e Escocês Antigo e Aceito originário da corrente escocesista em França a partir de 1649.

Conforme a história de cada um desses ritos é que foram construídas as respectivas decorações dos seus templos, em particular o REAA que veio ter o seu primeiro ritual para o simbolismo em 1804 na França, mas que já em 1820/21 esse ritual sofreria modificações devidas à constituição das Lojas Capitulares.

Nesse sentido a vertente latina de Maçonaria, criou atributos próprios, como o da topografia da Loja trazendo o Oriente elevado e dividido para assim acomodar o santuário Rosa-Cruz.

Essa forma capitular do Grande Oriente dirigir todos os graus até o Capítulo, logo veio, como já mencionado, alterar inclusive o ritual original do REAA que não possuía essa distinção e com isso sofreu alteração quando o Grande Oriente o adotou fazendo para tal adaptação para o sistema capitular.

Assim, o REAA passava a seguir a mesma topografia (oriente elevado e dividido) do Rito Francês (7 Graus) e do Adonhiramita, originalmente com 12 Graus. Note que o ápice da escalada iniciática desses ritos era sempre o Grau Rosa-Cruz e todos eles eram dirigidos pelo Grande Oriente da França. Seguindo esse mesmo parâmetro o REAA teria no Grande Oriente as suas Lojas Capitulares cujo ápice era o 18º Rosa-Cruz e o dirigente da Loja era o Athersata que era também o Venerável Mestre, enquanto que os demais graus, acima do 18º, ficavam como o II Supremo Conselho, o da França.

Nesse contexto, os Ritos Francês e Adonhiramita adotavam a cor azul para as paredes dos seus templos, enquanto que o REAA por influência da Loja Mãe Escocesa (extinta em 1816) adotava a cor encarnada associada ao escocesismo, por extensão aos “Stuarts” e ao catolicismo (vermelho – a cor do cardeal). A cor encarnada do Rito seria oficializada no Conselho de Lausanne, realizado na Suíça em 1875.

No que concerne à Maçonaria Brasileira, não se trata bem de ser uma corrente maçônica, mas a de ser uma Maçonaria filha espiritual da França, pois os primeiros ritos praticados no Grande Oriente Brasílico (depois do Brasil) foram os ritos Moderno e Adonhiramita, em seguida oficialmente, a partir de 1832, o REAA. Obviamente que as características de cada um desses ritos seriam aqui também implantadas, contudo, o que também houve de fato, foi uma mistura de procedimentos de uns em outros ritos – coisas da Maçonaria latina e particularmente a brasileira.

Sob essa óptica, a Maçonaria Brasileira teve uma formação básica latina, embora não se possa negar que de há muito tempo também já se praticava por aqui a Maçonaria anglo-saxônica e anglo-americana.

O que de fato não se pode negar na história da Maçonaria Brasileira foi a infeliz mistura de práticas ritualísticas decorrente da profusão de rituais no contexto social da época na Maçonaria Tupiniquim (é preciso conhecer essa história).

Acrescente-se a isso ainda a existência, no decorrer do tempo, de três Obediências regulares brasileiras, tendo cada qual o seu elenco de rituais que, a priori, acabaram ganhando suas próprias características, sobretudo pelas práticas muitas vezes enxertadas de uns em outros ritos.

Especificamente sobre as Colunas Zodiacais na decoração dos Templos do REAA, essa construção alegórica associada a um rito solar teve sua origem nas Lojas Mães Escocesas, depois Loja Geral Escocesa. Não as colunas propriamente ditas, mas as doze constelações zodiacais como marcos do movimento imaginário do Sol na sua eclíptica.

Na sua decoração inicial iam apenas as constelações do Zodíaco, fixadas ou desenhadas na base da abóbada, posteriormente seria adotado o uso de colunas encravadas nas paredes Norte e Sul para indicar o caminho iniciático do maçom. Nesse sentido, vale a pena mencionar que no princípio essas colunas nem mesmo existiam, só se tornando definitivas com a evolução dos rituais a partir do final do século XIX e começo do século XX.

O que se pode dizer a respeito é que as Colunas Zodiacais são elementos alegóricos originais do REAA, sobretudo porque explicam uma doutrina iniciática que tem por desiderato comparar a evolução (transformação) do elemento homem com a transformação da Natureza operada pela revolução anual e aparente do Sol formando os ciclos da Natureza (estações do ano).

Desse modo, outros ritos que porventura as adotem, o fazem por pura enxertia, pois esses elementos emblemáticos não se coadunam com o arcabouço doutrinário de outros ritos latinos e muito menos ainda com os trabalhos anglo-saxônicos.

Vale mais uma vez mencionar que essa alegoria natural é originária da Loja Mãe Escocesa, loja criada em outubro de 1804 para elaboração do primeiro ritual simbólico do REAA na França. Assim, essa Loja Mãe, que seria extinta em 1816 por motivos capitulares, originalmente deu ao REAA a abóbada estrelada e decorada com astros e constelações, das quais, inclusive, as zodiacais figuradas na sua base, além da cor encarnada do Templo; a posição original das Colunas Solsticiais B e J, norte e sul respectivamente; e a aclamação Huzzé como saudação ao Sol.

Enfatizo que tudo isso é contribuição da Loja Mãe Escocesa que, diga-se de passagem, nada tem a ver com outros ritos que não o do escocesismo.

Assim, rituais que porventura mencionem Colunas Zodiacais, fora do REAA, fatalmente estão bastante equivocados, não passando de elementos de enxertos que nada contribuem para a compreensão da essência iniciática de cada rito ou trabalho. Originalmente, o Rito Francês, ou Moderno, o Adonhiramita e o próprio Rito Brasileiro, não trazem na sua estrutura simbólica as Colunas Zodiacais – essa é a verdade.

Eram esses os meus breves comentários a respeito, destacando que esse é um assunto complexo e precisa ser entendido na sua essência, caso contrário certamente as conclusões podem deixar muito a desejar.

Autor: Pedro Juk

Fonte: Blog do Pedro Juk

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Quando surgiram os pilares, colunas e candelabros, na Maçonaria?

Introdução

Com a diversidade de ritos praticados no Brasil e a falta de informação sobre alguns elementos que compõem o interior das nossas Lojas Maçônicas, aliado a definições equivocadas dos criadores de simbolismo sem fontes concretas para apoiar os seus argumentos, muitas dúvidas surgem sobre a origem e localização dos pilares, dos globos que encimam estes, assim como os candelabros e etc.

Sendo assim, fomos buscar a origem destes elementos, chegando nas nossas pesquisas até Harry Carr, um dos pesquisadores que muito contribuiu para as publicações da famosa loja de estudos ARS Quatuor Coronatorum. Com base nas suas pesquisas, segue abaixo o que a história nos conta, de acordo com a documentação ainda preservada.

Pilares

Uma das explicações sobre os pilares: “…os dois grandes pilares foram colocados na entrada, no lado sul. . . eles eram ocos, para melhor servir como arquivos para a Maçonaria, pois ali foram depositados os rolos constitucionais… Esses pilares foram adornados com dois capitéis… [e] … com duas esferas onde foram delineados, mapas dos globos celestiais e terrestres, indicando a Maçonaria universal”.

Os primeiros dois pilares na Maçonaria

A aparição dos dois primeiros pilares na literatura maçônica, é descrita na história lendária que faz parte do Manuscrito Cooke (1410) e muitas versões posteriores de manuscritos chamados de Old Charges. A história diz que os pilares foram feitos pelos quatro filhos de Lamech, de modo que resistissem a temida destruição do mundo por fogo ou inundação. Um dos pilares era feito de mármore, o outro de “latrus” (uma espécie de tijolo de argila seca), porque o mármore não seria destruído pelo fogo e o de “tijolo” não seria destruído pela água. Eles foram criados como um meio de preservar “as ciências conhecidas”, que teriam sido esculpidas ou gravadas nos dois pilares.

Esta lenda remonta aos primeiros escritos apócrifos e, ao longo dos séculos, surgiu uma série de variações nas quais a história dos pilares indestrutíveis permaneceu bastante constante, embora a sua construção tenha sido atribuída a diferentes heróis. Assim, Josefo atribuiu-os a Seth, enquanto outra versão apócrifa diz que eles foram construídos por Enoque. Por algum motivo, não explicado com facilidade, as primeiras constituições maçônicas favorecem os filhos de Lamech como os protagonistas desta antiga lenda, que foi incorporada nos textos para mostrar como todas as ciências conhecidas foram preservadas para a humanidade por esta prática inicial do trabalho de pedreiros.

Observamos que nos primeiros manuscritos maçônicos, os pilares não aparecem como tendo conexão com o Templo de Salomão, ligação esta que surge algum tempo depois. Nos séculos XIV e XV, os dois pilares de Salomão não tinham nenhum significado especial para o artesão pedreiro (maçom).

Pilares de Salomão na Maçonaria

A primeira aparição dos pilares de Salomão no ritual maçônico está no Manuscrito Edinburgh Register House, de 1696, num catecismo associado à “Palavra do Maçom”.

A primeira referência conhecida da “Palavra do Maçom” aparece em 1637, num registro feito pelo Conde de Rothes (Escócia), e embora nenhum tipo de cerimônia seja descrito nesse registro, é razoável supor que a “Palavra do Maçom” já era uma prática conhecida naquela data. O Edinburgh Register House é o documento sobrevivente mais antigo que descreve o procedimento real das cerimônias. O texto está em duas partes. Uma seção, intitulada “A forma de dar a palavra do maçom”, que descreve o procedimento para a admissão de um aprendiz ingressado, incluindo cerimônias para assustar o candidato, um juramento, uma forma de “saudação” e certos modos físicos de reconhecimento. Há também um procedimento separado e similar para o “mestre maçom ou companheiro do ofício” (apenas dois graus eram conhecidos naquele momento). A segunda parte deste texto é um catecismo de dezessete perguntas e respostas, quinze para Aprendiz e mais duas para o Mestre ou Companheiro. É provável que estas questões, juntamente com o juramento, representem todo o “trabalho falado” das cerimônias naquela época.

As perguntas são de dois tipos:

  1. Perguntas de teste para fins de reconhecimento.
  2. Perguntas informativas para fins de instrução e explicação.

Entre estes, encontramos pequenas dicas do início do simbolismo maçônico. Uma questão do catecismo de 1696, e em seis dos textos que surgiram logo depois, é a seguinte:

  • Onde surgiu a primeira loja?
  • No pórtico do Templo de Salomão.

O livro de I Reis 7:21, informa-nos que o pórtico do Templo de Salomão tinha duas colunas, a da direita com o nome de Jaquim e a da esquerda com o nome de Boaz. Neste capítulo (I Reis 21), inclusive, temos informações muito importantes sobre como estavam dispostos diversos elementos que compunham o Templo de Salomão.

O Manuscrito Edinburgh Register House é um texto completo, ou seja, nenhuma parte foi perdida ou retirada por mais de 320 anos, desde que foi escrito em 1696. De fato, existem vários textos relacionados nos vinte anos posteriores, o que demonstra amplamente a sua integridade. Vale ressaltar que, em todo esse grupo de textos, os dois pilares anteriores, construídos pelos filhos de Lamech, simplesmente desapareceram. Apenas num documento eles são mencionados.

No Manuscrito Dumfries Nº 4, de 1710, que é um documento escocês composto por 15 folhas de pergaminho costuradas, onde diversas partes ficaram ilegíveis ou apagadas, na sua primeira parte tem a referência aos quatro filhos de Lamech e seus dois pilares e, no catecismo, os pilares são novamente mencionados:

  • Onde a nobre arte ou ciência foi encontrada quando se perdeu?
  • Foi encontrada em dois pilares de pedra, um que não afundaria, o outro que não queimaria.

Isto é seguido por uma longa passagem de interpretação religiosa, dizendo que Salomão nomeou os seus próprios dois pilares em referência a “duas igrejas de judeus e pagãos”.

O curioso é que se cita os dois conjuntos de pilares no mesmo manuscrito, os pilares de Lamech e os pilares de Salomão. Isto sugere que quando as cerimônias foram moldadas para conter as colunas B e J de Salomão, o par “indestrutível” anterior foi abandonado.

Logo após a sua primeira menção nos antigos textos rituais, estes dois pilares tornaram-se uma parte regular do “mobiliário” da loja, e é possível rastreá-los desde a sua primeira aparição até o lugar atual na loja, como segue:

  • A sua primeira aparição como parte de uma questão no catecismo, com muita evidência de que eles tinham algum significado esotérico. Os primeiros catecismos são particularmente interessantes a este respeito, porque indicam que ambos os nomes dos pilares de Salomão pertenciam à cerimônia de Admissão do Aprendiz.
  • Eles foram desenhados no chão da loja em giz e carvão, formando parte das primeiras versões dos nossos modernos “Painéis”. Em Dezembro de 1733, as atas da Old King’s Arms Lodge nº 28, registram o primeiro passo para a compra de um “Tecido de chão”. Os “Desenhos” no chão da loja, são registrados nas atas da Old Dundee Lodge nº18, a partir de 1748. A Herault Letter de 1737 descreve o “Desenho”, e as exposições francesas posteriores, a partir de 1744, contêm excelentes gravuras que mostram os dois pilares (marcados com J e B) nos desenhos de Aprendiz e Companheiro.
  • Entre 1760 e 1765, várias exposições inglesas indicam que os Vigilantes tinham, cada um, uma coluna representando um dos Pilares, como parte do seu equipamento pessoal na loja. O parágrafo a seguir é um exemplo: “Os Wardens (Vigilantes) têm cada um deles uma Coluna na sua mão, com cerca de vinte polegadas de comprimento, o que representa as duas Colunas do Pórtico do Templo de Salomão, Boaz e Jachin. O Sénior (1º Vigilante) é Boaz ou Força. O Junior (2º Vigilante) é Jachin ou Estabilidade”. (Três Batidas Distintas, 1760).
  • Finalmente, os dois pilares aparecem como móveis bonitos, talvez de quatro a oito pés de altura, permanecendo normalmente no extremo ocidente da sala da loja. As primeiras descrições do layout da loja nos anos 1700, mostram ambos os Vigilantes no ocidente, de frente para o Presidente da Loja. Os dois pilares foram geralmente colocados perto deles, formando uma espécie de portal, de modo que os candidatos passariam entre eles na sua admissão.

Interessante citar que as lojas que se reuniam em locais alugados, como quartos, hospedarias ou tabernas, não tem registro de tais colunas nos seus inventários, já as lojas mais ricas, com local próprio e os “Masonic Halls”, já constam as colunas como parte do mobiliário.

Então, nós rastreamos os dois pilares desde a sua primeira aparição, como parte de uma questão no ritual, através de vários estágios de desenvolvimento, até que eles se tornaram uma característica proeminente dos móveis da loja.

Mas as práticas modernas não são uniformes em relação aos pilares. Em Londres, por exemplo, há muito poucas lojas que possuem os pilares B e J como uma coluna no interior da loja, mas elas são sempre retratadas no painel do grau de Companheiro, além de aparecer em miniatura nos pedestais dos Vigilantes.

Capitéis, decorações e globos

As descrições bíblicas dos pilares de Salomão originam muitos problemas, especialmente no que se refere às suas dimensões e ornamentação. Para nós, os capitéis, decorações ou globos que os encimam, são de particular interesse, por causa do desenvolvimento dos rituais durante o século XVIII.

Neste problema em particular, uma grande parte depende da interpretação do texto original em hebraico. Os capitéis aparecem em 1 Reis, VII, 16: “…e ele fez dois capitéis…”. A palavra é Ko-thor-oth = capitéis ou coroas. Mais tarde, no versículo 41, sem mencionar outras obras, o texto fala de “…as duas colunas e os globos dos capitéis…”. O hebraico lê Gooloth Ha-ko-thor-oth, e a palavra Gooloth é um problema. Goolah (singular) significa uma bola ou globo; também, uma tigela ou vaso, e várias formas da mesma raiz são usadas de forma bastante livre para descrever algo redondo ou esférico.

Os nossos contatos com painéis modernos, acostumaram-nos com a ideia de que os dois pilares de Salomão foram encimados por capitéis, com um globo descansando em cada um, mas isso não está comprovado. Os primeiros tradutores e ilustradores da Bíblia não foram unânimes sobre este ponto, e os vários termos que eles usaram para descrever os capitéis e etc., mostram que eles não estavam absolutamente certos quanto à aparência dos pilares.

Para dar um exemplo, a Bíblia de Genebra, de 1560, uma Bíblia ilustrada muito bonita e popular, que forneceu a interpretação de alguns dos nomes próprios e parece ter sido muito usada pelos homens que moldaram o ritual maçônico, em Reis, VII, v.16, “…e ele fez dois capitéis…”, há uma nota de rodapé, “Ou pommels”, ou seja, de características globulares. Nesta fase, a Bíblia de Genebra indica claramente que os capitéis eram globos ou esferas, e não as cabeças em forma de coroa para os pilares, como entenderíamos ser. Entre as ilustrações deste capítulo da Bíblia de Genebra, existem várias gravuras interessantes do Templo e seus equipamentos, incluindo um esboço de um pilar, superado por um capitel raso, com um globo ornamental no topo. Uma nota marginal para esta ilustração diz “A altura do capitel ou bola redonda sobre o pilar de cinco côvados…” Então o capitel era uma bola redonda.

Em II Crônicas, IV, v.12, a mesma Bíblia dá uma nova interpretação “… dois pilares, e os globos, e os capitéis no topo dos dois pilares…”. Aqui é evidente que os “globos” e os “capitéis” eram duas características separadas.

Quer se incline para vasos ou globos, existe ainda outra interpretação que excluiria ambos. Os relatos em ambos os livros de Reis e Crônicas, referem-se à decoração da romã que foi anexada aos “globos” ou capitéis (I Reis, VII, v. 41, 42 e II Crônicas, IV, v. 12, 13) e, a partir dessas passagens, é uma inferência perfeitamente apropriada que os capitéis fossem “em forma de tigela”, e que não haviam vasos nem globos acima deles.

Embora os globos fossem finalmente adotados em móveis e decorações maçônicas como peças chave para os Pilares de Salomão, eles chegaram muito devagar, e durante uma grande parte do século XVIII não havia uniformidade de prática nesse ponto. O Trahi, uma das primeiras exposições francesas, contém várias gravuras que pode ser um “Painel” de uma Loja de Recepção; na verdade, eles são Painéis para o 1º e 2º graus combinados, e outro para o terceiro grau. O Painel do Aprendiz contém ilustrações dos dois pilares, marcados com as letras J e B, ambos os pilares na arquitetura Corinthia. Há também, entre uma enorme coleção de símbolos, um rascunho que é descrito no índice como uma “esfera armilar”, uma espécie de globo usado na astronomia para demonstrar os cursos das estrelas e dos planetas.

A Lodge of Probity nº 61, Halifax (fundada em 1738), estava em declínio sério em 1829, e um inventário das suas posses foi registrado naquele momento. Um item lê-se: “Caixa com Globos e Suportes”. A Phoenix Lodge nº94, Sunderland (fundada em 1755), tem um par de globos do século XVIII, cada um montado em três pernas, de pé à esquerda e à direita do pedestal do mestrado. All Souls ‘Lodge, no 170 (fundado em 1767), teve até 1888 um belo par de globos, cada um montado numa base de tripé, claramente do estilo do século XVIII, similarmente colocado à esquerda e à direita do Venerável Mestre. A Lodge of Peace and Unity nº314, Preston (fundada em 1797), num recente esboço da sua sala da loja, mostra um par de globos em suportes de três pernas, colocados no chão da loja, à esquerda e a direita, um pouco a frente do 1º Vigilante.

Entre a colecção única de equipamentos de lojas conhecida como “Bath Furniture”, há um par de globos, “celestiais e terrestres”, em suportes de quatro pernas e as atas que foram apresentados a Royal Cumberland Lodge em 1805. É interessante observar que o equipamento também inclui um belo par de pilares de latão, cada um com cerca de 5 pés e 9 cm de altura, como sempre no ocidente, e cada um deles encimado por uma grande tigela de latão. Estes datam do final do século XVIII.

Neste caso especialmente, como em todos os casos citados anteriormente, não há evidências de globos em cima dos pilares de B e J.

O frontispício das Constituições de Nooryouck de 1784 é um desenho simbólico em que a parte arquitetônica representa o interior do então Free Masons Hall. Ao pé da imagem, em primeiro plano, há uma mesa longa com várias ferramentas e símbolos maçônicos, com dois globos em suportes de tripé e a descrição da imagem refere-se a “…Globos e outros Móveis Maçônicos e Implementos da Loja”.

Tudo isto sugere que os globos começaram a desempenhar algum papel na loja ou no ritual, embora ainda não estivessem associados aos pilares. Mas, mesmo depois de os globos ou tigelas terem começado a aparecer nos pilares, ainda havia dúvidas consideráveis ​​sobre o que estava correto. Isto é particularmente notável nos primeiros painéis e em aventais decorados, alguns com “vasos” e outros “globos”.

Resumindo:

  • No período dos nossos primeiros documentos rituais, 1696 a 1730, não há evidências de que os globos formaram parte do catecismo ou do ritual, e é razoavelmente certo que eles eram desconhecidos como parte do mobiliário das lojas.
  • Por volta de 1745, é provável que a esfera ou o globo tenham sido introduzidos como um dos símbolos nos “desenhos de chão” ou nos Painéis. Não há evidências para mostrar que apareceu nos catecismos. Existem vários catecismos altamente detalhados pertencentes a esse período, 1744 e mais tarde, mas os globos não são mencionados em nenhum deles. A aparência da esfera na exposição de 1745 é a única evidência que sugere que ela tenha desempenhado algum papel nas explicações mais ou menos importantes do simbolismo, que provavelmente entrou em prática neste tempo ou pouco depois.
  • Nos anos 1760 e 1770, as Colunas de Salomão com globos, aparecem frequentemente em ilustrações de equipamentos de loja e em aventais, mas não há uniformidade de prática. Em algumas lojas (como vimos e veremos abaixo), os globos já eram uma parte reconhecida do mobiliário da loja; Em outro lugar, eles encimam os pilares, e provavelmente eram “explicados” nas “instruções da loja”. Em outros lugares, os globos eram praticamente desconhecidos.

Mapas: Maçonaria Universal

A tradição de que os globos dos Pilares de Salomão estavam cobertos de mapas celestiais e terrestres é certamente pós bíblica, e parece ser uma parte do enfeite do ritual no século XVIII. Podemos perguntar-nos como este interesse em mapas terrestres e celestiais surgiu e parece não haver resposta segura. Os catecismos iniciais, de 1700 a 1730, todos indicam um crescente interesse no assunto, como por exemplo:

  • Quão a altura da sua loja?
  • …chega ao céu …o céu material e o firmamento estrelado.
  • Quão profundo?
  • …ao centro da Terra.

Há também as questões mais relacionadas ao Sol, Lua e o Mestre Maçom, com variações e expansões subsequentes. Estas questões pode ser que sejam as primeiras indicações para o interesse posterior em mapas, e a esfera armilar de 1745, citada acima, leva o assunto a um novo estágio.

A convocação da Old Dundee Lodge, datada de 1717, mostrou três pilares, dois deles encimados por globos que retratam mapas do mundo e o firmamento. Um certificado emitido pela Lodge of Antiquity em 1777 exibia, um par semelhante de mapas. Uma edição de 1768 de Jachin and Boaz tem um frontispício gravado que mostra os móveis e os símbolos da loja, incluindo dois pilares superados por globos – um com marcas de mapa bastante vagas e o outro claramente marcado com estrelas. Os vários conjuntos de globos geográficos em pares descritos acima (não “globos-pilares”), indicam um profundo interesse maçônico nos globos celestial e terrestre durante o século XVIII.

Preston, nas suas “Ilustrações da Maçonaria”, edição de 1775, na seção que trata das Sete Artes e Ciências Liberais, falou um pouco sobre os globos e sobre a importância da astronomia e, claro, sobre as lições espirituais e morais a serem aprendidas deles.

Tudo isso parece sugerir que os mapas começaram a aparecer neste momento, nas partes verbais do ritual.

A introdução de mapas, “celestiais e terrestres”, levou a um desenvolvimento adicional que acabou por dar à Maçonaria, uma expressão que se tornou uma espécie de marca da Ordem em todos os lugares. A primeira sugestão desta expressão apareceu na “L’Ordre des francs-maçons Trahi”, em 1745, que acrescentou uma nova pergunta a essas passagens do catecismo:

  • E a sua profundidade?
  • Da Superfície da Terra ao Centro.
  • Por que você responde assim?
  • Para indicar que os Maçons estão espalhados por toda a Terra, e todos juntos formam, no entanto, apenas uma Loja.

Em 1760, o Três Batidas Distintas (o ritual dos Antigos) alterou a resposta final de forma muito eficaz:

  • Por que a sua Loja é dita da Superfície ao Centro da Terra?
  • Porque a Maçonaria é Universal.

Foi assim que adquirimos o slogan “Maçonaria Universal”.

Entretanto, o primeiro texto que indica claramente os mapas como parte do ritual é o Browne’s Master Key, datado de 1802, com referência à “…os globos celestes e terrestres”.

Os pilares como arquivos

Os relatos bíblicos do modelo dos pilares não fazem menção de serem vazados, embora isso possa ser deduzido do fato de que, se tivessem sido sólidos, a sua remoção de Zeradatha e a sua construção final em Jerusalém, teria sido uma façanha excepcional da engenharia. Em Jeremias 52 v.21, afirma-se que eles eram de forma oca, o metal tinha a espessura de “quatro dedos”, mas não há nenhuma sugestão de que isso foi feito para que os pilares possam servir como “arquivos”, ou recipientes de qualquer tipo, ou que Salomão os usou, armazenando os rolos constitucionais.

Sem dúvida, a definição dos pilares vazios, foram projetados para atender a um propósito peculiarmente maçónico.

Três luzes, três pilares, três candelabros

Dezessete documentos maçônicos sobreviveram, datados de 1696 a 1730, e fornecem a base para o nosso estudo da evolução do ritual. O primeiro deles é o Edinburgh Register House, datado de 1696, com uma descrição valiosa do sistema de dois graus daqueles dias. O último da série é o Maçonaria Dissecada, que contém o ritual mais antigo dos três graus, e a versão mais antiga da lenda de Hiram. Em todos estes textos iniciais, o ritual era principalmente na forma do catecismo, e nós fazemos uma ideia do seu desenvolvimento durante esses trinta e cinco anos quando comparamos esses dois documentos. O primeiro contém quinze perguntas e respostas para a Aprendiz, e duas para o “Mestre ou Companheiro”. O Maçonaria Dissecada tem 155 questões ao total, ou seja, noventa e dois para Aprendiz, trinta e três para Companheiro e trinta para o Mestre Maçom.

Três luzes

Doze dos rituais mais antigos contêm uma pergunta sobre as “luzes da loja”: “… Há luzes na sua loja, sim três…” [Edinburgh Register House, 1696]. As luzes logo adquirem um caráter simbólico, mas originalmente eram provavelmente velas ou janelas, com posições específicas atribuídas a eles, por exemplo, “NE, SO e passagem do oriente”, ou “SE, S e SO”, e etc., até chegar ao Maçonaria Dissecada em 1730, que diz que as luzes são três janelas no L (Leste), S (Sul) e O (Oeste) e o seu objetivo é “Para iluminar os Homens para, e no seu trabalho”. O Maçonaria Dissecada distingue entre luzes simbólicas e “luzes fixas”, explicando que estas são “grandes velas colocadas em altos castiçais”.

Simbolicamente, vários textos dizem que as luzes representam “o Mestre, o Vigilante e o Companheiro”. Quatro versões dizem “Pai, Filho e Espírito Santo”. Três outros dizem ser doze luzes: “Pai, Filho, Espírito Santo, Sol, Lua Mestre Maçom, Esquadro, Régua, Prumo, Linha, Maço e Cinzel”. Todos estes são do período 1724-26.

O Maçonaria Dissecada diz “Sol, Lua e o Mestre Maçom” e depois da pergunta “Por quê? ”, ele responde: “Sol para governar o Dia, Lua da Noite e Mestre Maçom a sua Loja”. Mestre maçom neste caso se refere ao presidente da loja ou o atual Venerável Mestre.

Então nós rastreamos as luzes da sua primeira aparição no nosso ritual até o ponto em que elas adquirem o seu simbolismo moderno.

Três pilares

Uma definição moderna: as nossas lojas são apoiadas por três grandes pilares. Eles são chamados de Sabedoria, Força e Beleza. Sabedoria para construir, Força para sustentar e Beleza para adornar, mas como não temos ordens nobres em arquitetura conhecidas pelos nomes de Sabedoria, Força e Beleza, nos encaminhamos para as três mais célebres, que são, a Jônica, Dórica e Coríntia.

Os problemas relacionados ao mobiliário da loja não terminam com os dois pilares de Salomão. Já em 1710, um conjunto inteiramente diferente de três pilares faz a sua aparição nos catecismos e exposições. Eles aparecem pela primeira vez no Manuscrito Dumfries nº4, datado de 1710:

  • Quantos pilares estão na sua loja?
  • Três.
  • Quais são esses?
  • O esquadro, o compasso e a Bíblia.

Estes três pilares não aparecem novamente nas onze versões dos catecismos entre 1710 e 1730, mas surge a questão, com uma nova resposta, no Maçonaria Dissecada:

  • O que apoia uma loja?
  • Três grandes pilares.
  • Como são chamados?
  • Sabedoria, força e beleza.
  • Por quê?
  • Sabedoria para construir, Força para sustentar e Beleza para adornar.

Perguntas quase idênticas apareceram no Manuscrito Wilkinson, de 1727 e em toda uma série de exposições inglesas e europeias ao longo do século XVIII, invariavelmente com a mesma resposta: “Três. Sabedoria para construir, Força para sustentar e Beleza para adornar”. Mas as descrições do mobiliário da loja no início dos anos 1700, não mencionam nenhum conjunto de três, e parece evidente que essas questões pertencem a um período bastante longo, antes que houvesse alguma ideia de transformá-las em móveis reais na sala da loja

Os primeiros inventários de loja são escassos demais para nos permitir tirar conclusões definitivas da ausência de referências a itens específicos de mobiliário ou equipamento da loja. Embora seja bastante certo, portanto, que as lojas operativas iniciais eram pouco decoradas, e fica evidente, nos registros sobreviventes do século XVIII, que na década de 1750, já havia uma série de lojas razoavelmente bem equipadas.

Um conjunto de três pilares foi mencionado nos registros da Nelson Lodge em 1757, e a Lodge of Relief, Bury, comprou um conjunto de três pilares, para o Mestre da Loja e seus Vigilantes, em 1761. Até hoje, a antiga Lodge of Edinburgh (Mary’s Chapel), Nº l, agora com quase 400 anos, usa um conjunto de três pilares, cada um com cerca de três metros de altura. O pilar do Mestre fica no Altar, quase no centro da Loja, os outros dois ficam no chão à direita do 1º e 2º Vigilantes, respectivamente. (Lá, os três principais oficiais não têm pedestais).

O Maçonaria Dissecada permaneceu a principal influência do ritual inglês até 1760, quando uma nova série de exposições inglesas começaram a aparecer, exibindo uma expansão substancial nas cerimônias e na sua interpretação especulativa. O Três Batidas Distintas apareceu em 1760, e J. & B. em 1762, alegando expor os rituais das Grandes Lojas rivais, dos “Antigos” e “Modernos”. Ambos agora incluíram várias perguntas e respostas novas sobre “Os três grandes pilares”, concordando que “eles representam… O Mestre no Oriente, o 1º Vigilantes no Ocidente e o 2º Vigilante no Sul”, cheio explicações dos seus deveres individuais nesses cargos.

Parece provável que estas questões tenham sido originalmente destinadas apenas a marcar as posições geográficas dos pilares, mas nesse período de desenvolvimento especulativo, as explicações foram quase inevitáveis.

Três candelabros

Além da nota de Prichard na década de 1730 em “grandes velas colocadas em castiçais altos”, a primeira evidência de uma combinação desses dois conjuntos de equipamentos está nos registros da Lodge of Felicity nº 58, fundada em 1737, quando o Loja pediu “Três castiçais a serem feitos de acordo com as seguintes ordens, 1 Dórica, 1 Jônica, 1 Coríntia e de mogno…”. No inventário da loja em 1812, eles se multiplicaram e foram listados como “Seis castiçais grandes. De mogno com suportes de latão, feitos pelas três ordens”. Em 1739, a Old Dundee Lodge fez um conjunto similar, que está em uso ainda hoje.

A conexão talvez não seja imediatamente óbvia, mas estes foram os estilos arquitetônicos associados aos atributos dos três pilares pertencentes ao Mestre e Vigilantes, “Sabedoria, Força e Beleza”. O simbolismo maçônico dos três pilares tinha sido explicado por Prichard em 1730, e é quase certo que estas duas lojas estavam colocando as suas palavras em forma prática quando tiveram os seus castiçais feitos nestes três estilos.

Estes dois exemplos iniciais podem servir de ponteiro para o que estava acontecendo, mas ainda não era uma prática geral, e as evidências iniciais do seu uso combinado são escassas. Mas podemos traçar os conjuntos de três pilares desde a sua primeira aparição no ritual como uma questão puramente simbólica, na qual eles apoiam a Loja, e são chamados de “Sabedoria, Força e Beleza”. Mais tarde, eles representam os três principais oficiais, no Oriente, Sul e Ocidente. A partir do momento em que foram explicados desta forma, de 1730 a 1760, é bastante seguro assumir que eles estavam começando a aparecer nos desenhos, tapetes de chão ou painéis. Sabemos, é claro, que eles apareceram regularmente nas versões posteriores, mas o padrão geral da sua evolução parece indicar que quase certamente foram incluídos em muitos dos primeiros desenhos que não sobreviveram.

Na década de 1750 e 1760, temos evidências definitivas, que conjuntos de três candelabros (ou pilares) já estavam em uso como mobiliário em várias lojas, e isso acrescenta um forte apoio à visão de que eles já tinham aparecido nos Painéis (Tracing Boards). Quando, no final do século XVIII, as salas das lojas e os Masonic Halls estavam sendo criados para uso frequente ou contínuo, os três candelabros tornaram-se uma parte regular dos móveis, ocasionalmente por vontade própria, mas com mais frequência como bases ornamentais para as três “luzes menores”, combinando assim as duas características separadas com a que é frequentemente vista hoje.

O desenvolvimento do simbolismo Maçônico

O crescimento do número de símbolos, como ilustrado nas exposições francesas da década de 1740, e nas versões inglesas da década de 1760, merece algum comentário. No Grand Lodge Museum, há uma coleção de modelos de metal pintado, pertencendo aparentemente a vários conjuntos diferentes. Existem pilares com globos, um conjunto de dois pequenos pilares sem globos e um conjunto separado de três pilares. Há também um conjunto de modelos de “Capitéis”, ou seja, apenas a parte superior dos pilares, claramente projetados para adicionar os globos.

Todos estes, com muitos outros símbolos, foram utilizados nos desenhos feitos no chão da loja. Era parte do dever do Mestre explicar os “desenhos” ao candidato, imediatamente após ter sido ingressado. Parece que não houve nenhum ritual definido para este propósito, e as explicações eram, sem dúvida, improvisadas.

A partir de 1742, há evidências substanciais de que o número de símbolos aumentou consideravelmente, e isso parece indicar uma expansão real nas “explicações”, todo um fluxo de exposições inglesas que começaram a aparecer a partir de 1762, possuem algum tipo de dissertação semelhante aos símbolos contidos nos painéis.

Muitos destes símbolos antigos, que aparecem frequentemente nos painéis dos graus do século XVIII e em gravuras contemporâneas, agora desapareceram do nosso funcionamento moderno, entre eles a Trolha, a Colmeia, a Ampulheta, etc.

Neste breve texto, confinei-me apenas a alguns itens simbolizados do nossa loja atual, cujas origens podem ser obscurecidas devido à padronização, mas existe todo um mundo interessante na simbologia remanescente da maçonaria.

Um ritual do REAA em utilização hoje no Brasil dá-nos a seguinte ideia: “Sustentam as nossas lojas três colunas denominadas Sabedoria, Força e Beleza. Sabedoria de Salomão para construir (Jônica), Força de Hiram Rei de Tiro para sustentar (Dórica) e Beleza de Hiram Abiff para adornar (Coríntia).

Logicamente, devido a diversidade de estrutura organizacional das potências brasileiras, teremos muitas variações do simbolismo destas três colunas, mas todas convergindo para o mesmo propósito.

Autor: Luciano Rodrigues

Fonte: O Prumo de Hiram

Referências

  • Manuscrito Cooke – 1410
  • Manuscrito Edinburgh Register House – 1696
  • Manuscrito Dumfries Nº 4 – 1710
  • Manuscrito Wilkinson – 1727
  • Maçonaria Dissecada – Samuel Prichard – 1730
  • Herault Letter – 1737
  • Le Catéchisme des Francs-maçons – 1742
  • L’Ordre des francs-maçons Trahi – 1745
  • Three Distinct Knocks – 1760
  • Jachin and Boaz – 1762
  • Ilustrações da Maçonaria – William Preston – 1775
  • Browne’s Master Key – 1802
  • The Two Earliest Masonic MSS – Knoop, Jones and Hamer – 1938
  • The Early Masonic Catechisms – Knoop, Jones and Hamer – 1943
  • Transactions of Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, UGLE, Vol 64 – Harry Carr – 1962
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Simbolatria – Veneração excessiva por símbolos

Há muitos anos, grande parte dos escritores maçônicos afirma que o simbolismo maçônico constitui um meio privilegiado para alcançar as “mais altas verdades da ordem”. Esta crença leva alguns Irmãos a buscarem significados mais profundos para os nossos símbolos, em áreas frequentemente não relacionadas à Maçonaria. E isso se torna o principal assunto nos trabalhos apresentados em loja. O resultado disso é o desenvolvimento de um simbolismo tal que os símbolos são reverenciados por si só, o que parece estabelecer um novo culto, a “simbolatria” ou veneração excessiva aos símbolos maçônicos.

A ideia de um “conhecimento de ordem maior”, inacessível pelos meios habituais disponíveis para o homem, mas que pode ser alcançado através do uso de símbolos, estava em voga desde a origem da Maçonaria, sendo uma das principais preocupações dos primeiros maçons. Este conceito foi potencializado por alguns autores, como Oswald Wirth, Jules Boucher, René Guénon, Jean-Pierre Bayard, entre outros…

Boucher, por exemplo, escreveu: “A Maçonaria abre o caminho para a iniciação, ou seja, o conhecimento, e seus símbolos permitem o acesso a isto”.

Esta declaração nos informa que os símbolos maçônicos são o meio de ascender a um certo conhecimento. Na verdade, a simbolatria é um desvio desta declaração, um exagero dessa teoria, que tem pelo menos quatro características: ausência de método, exacerbação interpretativa, a teoria da livre interpretação de símbolos e a perda do senso comum mais básico.

Descrevendo estas características

1 – Ausência de método ou afirmações sem provas.

Guénon escreve, por exemplo: “o simbolismo é o melhor meio para ensinar as verdades de ordem superior” (Símbolos da Ciência Sagrada).

Bayard continua: “Essa linguagem silenciosa (símbolo), refletindo a tradição e a ordem cósmica, pode desvendar a essência das coisas” e também “o simbolismo é um pouco de todas as ciências e sua síntese” (Periódico Francês, Chaîne d’união, 1948-1949).

Bem, esses textos nunca são acompanhados por instruções que permitiriam um Símbolo passar conhecimento. Não há exposição sistemática de alguma forma de acesso ao conhecimento através de símbolos maçônicos. Para a falta de método, como olhar para uma coisa e encontrar outra, catalogar símbolos maçônicos serve como uma solução alternativa para a pesquisa científica, que desprende tempo, dinheiro e muitas horas de reflexão para um entendimento plausível.

2 – A exacerbação interpretativa

A interpretação moral dos símbolos é geralmente considerada trivial, inadequada e indigna da “verdadeira” Maçonaria, e, portanto, é quase que rejeitada.

Boucher escreve: “Quando se fala de símbolos somente como dissertações morais, pode-se ter certeza de que este nem sequer recebeu a inteligência básica dos símbolos.”

Graças aos nossos antepassados, “nossos antigos Mestres”, a inserção da maioria dos símbolos na maçonaria foi justamente pelo ensinamento moral contido neles, ou nas suas interpretações. Mas alguns autores preferem aulas de explicações sobre ciências ocultas, numerologia, astrologia, cartas de tarô, magia, alquimia ou cabala e assim constituem as suas fontes interpretativas.

Boucher, que era um adepto da magia, escreve, por exemplo, sobre o irmão guarda do templo: “a ele é fornecido com uma espada mágica destinada a dissolver os conglomerados fluídicos. O guarda do templo requer uma qualificação mágica.”

Wirth gosta de cartas de tarô, outros são dedicados a numerologia, muitos autores são inclinados para a Cabala, sem saber ao menos uma palavra hebraica.

Infelizmente, todos estes simbolistas foram copiando interpretações uns dos outros, e se esforçaram para propor novas interpretações, cada vez mais excessivas, e como às vezes os autores não conhecem o assunto tratado, em vez de ler, passaram a “copiar e colar” obras de segunda ou terceira mão, o que leva a desastres.

3 – A livre interpretação de símbolos

Alguns defendem a ideia de que todos podem interpretar livremente um símbolo, o que dá margem para uma frase como esta: “o símbolo que não significa uma realidade, evoca necessariamente, tudo e o seu contrário, ou vice-versa, é claro”. Este é um claro exemplo de que a livre interpretação sem considerar fatos concretos, dá margem para qualquer tipo de invenção, o que acredito não ser a finalidade do ensino maçônico.

4 – Perda de sentido crítico

Acrescente à característica anterior, a perda de sentido crítico que atinge os maçons quando falam de simbolismo. Não quero aqui travar o livre pensador que cada um de nós deve desenvolver. Mas, quando se trata de falar de símbolos e simbolismo, eu acho que há uma abolição total desta qualidade, e vemos que alguns sofrem de uma cegueira mental e estão dispostos a engolir todos os erros e absurdos que lhe são apresentados. Basta participar de qualquer grupo de debates, seja por aplicativos de comunicação, grupos de e-mail ou fóruns, que se observa claramente a disseminação de informações errôneas, sem qualquer investigação prévia, o que acaba incutindo na mente dos participantes barbaridades no ponto de vista do real pesquisador. Aí está o risco de cairmos na máxima de Joseph Goebbels, propagandista de Adolf Hitler: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.

Esta preocupação de estarmos especulando demasiadamente sobre a simbologia maçônica já foi observada por alguns pesquisadores, conforme alguns exemplos de declarações que seguem abaixo:

J.R. Rylands – Quatuor Coronati Lodge

“A Maçonaria tem pouco risco de sofrer ataques de inimigos de fora das suas fileiras, mas poderia sofrer das atividades dos seus membros entusiasmados e equivocados. É difícil avaliar a extensão dos danos na amizade calorosa à Ordem, e o que pode haver no futuro pela atividade do que poderia ser chamado de escola pseudomística […]. No entanto, existe sem dúvida, uma rejeição a qualquer princípio verdadeiro de estudo histórico real e desprezo pelo método científico. Em sua facilidade extravagante para inventar, substituindo a fraternidade pelo individualismo, os esforços desta escola são absolutamente opostos aos objetivos desta loja […].

Como poderia haver um espírito de investigação crítica se você considera a Ordem como uma seita pseudomística? […] Reconhecemos que na Maçonaria há espaço para todas as categorias de escolas filosóficas, mas com certos limites […]. Mas eu sugiro que devemos sempre olhar com preocupação o surgimento de um dogmatismo onde prevalece a liberdade de interpretação, como agora […]. E, no entanto, não se pode negar que o dogma tem o seu lugar em diferentes explicações na Maçonaria praticada hoje.

Com muitas partes de cena filosófica que nos diz que a Maçonaria é isto ou aquilo, nós somos convidados a aceitar uma série de significados mais profundos e simbolismo oculto.”

F.R. Worts – Aviso para os estudiosos da maçonaria (1923)

“A Ordem moderna é essencialmente especulativa e cada maçom deve necessariamente ser especulativo, de uma certa maneira, em suas atitudes frente aos seus princípios, mas há uma tendência muito grande em superar os limites da verdadeira pesquisa especulativa e exagerar nos valores simbólicos. Esta tendência já estava fortemente desenvolvida no final do século XVIII, e nos tempos modernos evoluiu para uma questão perigosa, tanto para a ordem, como para a correta compreensão de suas exigências morais e seus ensinamentos.

Infelizmente este simbolismo extremamente exagerado foi ensinado por maçons famosos e verdadeiros como Oliver, Fort Newton e Wilmshurst, que exerceram uma grande influência em seu tempo. Tais interpretações especulativas extremas são inaceitáveis ​​[…].

As explicações simbólicas que estão nos rituais modernos, são claras, simples e totalmente satisfatórias. É direito incontestável de cada maçom, investigar as interpretações que ocupam suas aspirações espirituais, mas deve levar em conta as linhas de Tennyson sobre a “falsidade dos extremos” e não se inclinar rapidamente para aceitar as explicações mais comuns até que você possa fazer com plena convicção.”

E. Ward – Conferencias Prestonianas (1970)

“As palavras são símbolos para transmitir ideias para o espírito humano, e se deduz que durante longos períodos mudaram o significado que eles tinham, e sem dúvidas são temas que temos que considerar. Nos primeiros dias da Maçonaria muitas das palavras transmitidas por nossos antecessores tinham um sentido muito diferente do que comumente aceitamos hoje.”

H. Ward em “resumos” da Loja Quatuor Coronati (1969)

“Descobrir sua própria interpretação dos nossos símbolos é o melhor tipo de exercício maçônico; o único perigo é que isso poderia te levar muito longe das explicações simples que são normalmente prestadas. Muitos de nós já vimos exemplos maravilhosos, que não têm nenhuma relação com a Maçonaria e que jamais existiu na mente de quem trouxe as palavras e os procedimentos que usamos hoje. A simbolatria (veneração excessiva de símbolos) volta o simbolismo para o complexo e obscuro.

Gera um desperdício inútil de mero simbolismo adotado para uma melhor compreensão dos conceitos morais. A Maçonaria não define o significado dos símbolos. Ela convida os seus membros a especular sobre o seu significado. Esta liberdade de interpretação é boa, mas quando levada ao extremo pode não dar nenhum benefício, e ser perigoso para aqueles que não têm uma cultura maçônica suficiente.

Os símbolos são utilizados para uma melhor compreensão dos conceitos que sustentam. Eles não devem ser venerados com o objetivo de terminar a investigação daqueles que procuram ter uma interpretação que os satisfaça mais emocional do que intelectualmente.”

Conclusão

Como reflexão final sobre o assunto em pauta, entendendo a importância de se investigar, avaliar e pesquisar sobre como e porquê a simbologia maçônica foi formada ou formatada pelos nossos antecessores, sendo assim deixo a seguinte expressão, para nossa reflexão: “NÃO A SIMBOLATRIA, SIM AO SIMBOLISMO”.

Autor: Luciano Rodrigues

Fonte: O Prumo de Hiram

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Corda com nós, laços de amor, borlas com franjas e a orla dentada: decoração ou símbolo?

A corda de 81 nós - Freemason.pt

Em alguns painéis de graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito, bem como no Rito Francês e Rito Moderno, há uma corda com nós que termina em borlas com franjas, que, às vezes, estão também localizadas nas paredes do interior da loja.

Esta corda com nós, em francês é chamada de “houppe dentelée” que, em uma tradução literal para o português, não é uma corda com nós, mas sim “borla dentada”.

Borla dentada??? Isso mesmo, não é corda, não é orla dentada, não é borla com franjas, é uma borla dentada?

Será que tal confusão surgiu de um erro de tradução de alguma antiga Divulgação?

Reproduzimos aqui uma obra do pesquisador belga, Jean Van Win, que, com base no simbolismo heráldico, apresenta uma explicação muito possível.

A leitura do trabalho abaixo, deve ser feita, levando-se em conta que seu escritor é um maçom europeu, que tem uma visão diferente, de nós brasileiros, sobre decoração interna da loja e seus símbolos, o que poderá ser notado em uma crítica feita neste texto.

Será também possível observar que, de um símbolo (corda com nós), acabaram surgindo outros (orla dentada e borla com franjas), que atualmente estão presentes na maioria das lojas brasileiras e fazem parte de instruções de graus simbólicos, mas nem sempre foi assim.


Desde que entrei na Ordem Maçônica, sempre me intriguei com um dos símbolos mais familiares: o “houppe dentelée” (a corda com nós).

Como todo Maçom, eu li as descrições imaginativas de Boucher, Plantagenet, Bayard, bem como Wirth, agora atualizado por Mainguy.

É assim, que uma primeira explicação de inspiração operativa, consistia em ver naquela corda, a “corda de nós” dos construtores de catedrais, instrumentos que permitiam que os Mestres de Obra, marcassem uma distância e utilizassem estas proporções sem recorrer a matemática ou geometria.

Na prática, tal utilização realmente permite fazer um ângulo reto com uma simples corda com nós.

Mas, se a intenção fosse reproduzir a ferramenta desses gênios analfabetos de mãos calosas, não seriam utilizados nós bem apertados, em vez dos suaves laços do amor e suas borlas com franjas?

Eu não fiquei convencido com essa interpretação.

Tampouco me convencem estas explicações vagas sobre “o símbolo do infinito” ou a do “número oito deitado” que alguns acreditam, como laços de amor. Muito menos a necessidade de traçar três laços de amor no grau de aprendiz, e nos outros graus de acordo com a idade do maçom naquele grau.

Há outra vertente que nega veemente essa necessidade e que dita que os laços devam ser doze, em homenagem ao zodíaco, que tem doze signos e até mesmo em memória aos doze apóstolos … uma iconografia abundante tão incoerente que a diversidade de teorias que pretendem explicar, mostra apenas a infinita capacidade imaginativa de nossos irmãos.

Finalmente, eu me pergunto qual seria o problema se o universo místico tão querido por muitos de nós, fosse abandonado e o símbolo fosse visualizado a partir de um ângulo puramente histórico e baseado em fatos.

De onde vem? O que este símbolo expressa?

Se trata de uma corda com uma série de nós, de dois a pelo menos doze, (no Brasil utilizamos até 81 nós) terminada em cada extremidade por uma borla.

Na Bélgica, uma borla é descrita como uma “franja”, como a que decora os chapéus da polícia e dos soldados antes da guerra de 1940, onde cada regimento utilizava sua cor.

Na Maçonaria, esta corda delimita os lados norte, leste e sul dos painéis das lojas francesas, pois os ingleses ignoram essa corda, que foi espalhada, a partir da França, pelos painéis utilizados em toda a Europa.

A borla (houppe no século 18) é então o fim da corda e não a corda na sua totalidade.

Ela foi considerada como um todo, mas a “borla” francesa, na sua origem era totalmente equivalente a “franja” belga!

Mas, porque na Maçonaria francesa essa borla é chamada de “dentada”?

Em um dicionário encontramos a seguinte definição:

“Dentada: Tecido ornamentado com desenhos, que normalmente apresenta uma borda irregular.”

O que não esclareceu nada.

O que tem a ver essas decorações dentadas em um painel de loja, mesmo que acompanhem uma borla?

Vamos mais longe.

“Dentada: que apresenta pontas e buracos. Vide lâmina dentada.”

O que tem a ver com nossos painéis, que são conhecidos por representar o Templo de Salomão, algo dentado com franjas, pontas e buracos?

Em francês, não tem um significado preciso e não tem a menor relação com a construção.

Então, onde surgiu a primeira aparição da expressão “houppe dentelée” (borla dentada) e qual poderia ter sido o seu significado original?

Provavelmente surgiu através do famoso Louis Travenol (chamado de Leonard Gabanon) que, em 1744, publicou pela primeira vez na França uma representação da loja, contida em uma divulgação intitulada “Le Catechism des Francs-Maçons”. Três outras divulgações a precederam: “La Réception d’un Fre maçon” em 1735, “La Reception Mysterieuse” de 1738 e “Le Secret des Francs-Maçons” em 1742.

Aqui reproduzimos o primeiro painel de loja onde aparece uma corda e a referência a uma borla dentada:

Como sempre, para investigar os mistérios das fontes francesas da Maçonaria, voltemos às primeiras práticas maçônicas inglesas que foram expandidas em Paris, a fim de encontrar, eventualmente, uma versão intacta de uma prática mal compreendida ou mal traduzida entre nós.

E este é o caso agora!

Em 1742, o abade Pérau publicou “Le Secret des Franc Maçons”, com base no texto em inglês de uma divulgação famosa e importante: “Maçonaria Dissecada”, publicada na Inglaterra em 1730 por Samuel Prichard.

Mas o conhecimento linguístico do bom abade era muito limitado e suas traduções, aproximativas.

Por exemplo, a partir de sua caneta, saiu isso:

  • Mosaic Pavement (Pavimento Mosaico) tornou-se “Palácio Mosaico”.
  • Blazing Star (Estrela Flamejante) passou a ser “Baldaquino cheio de estrelas”.
  • Intended Tarsel tornou-se “Borla Dentada”.

Tarsel é uma palavra que não existe em dicionários contemporâneos. O erro de Pérau vem, talvez, de uma leitura errônea e da confusão cometida com a palavra tassel, que significa borla e taselled é adornado com borlas.

Vamos ver o que o texto original (em inglês) de Prichard diz em 1730:

  • Q : Have you any furniture in your lodge ?
  • A : Yes.
  • Q : What is it ?
  • A : Mosaic pavement, Blazing Star and Indented Tarsel.
  • Q : What are they ?
  • A : Mosaic Pavement, the ground Floor of the Lodge; Blazing Star, the Center; Indented Tarsel, the Border round about it.

Assim, o pavimento em mosaico constituía o piso da loja; a estrela flamejante é o centro; o “Intended Tarsel” seria a borda “ao seu redor”.

Como se sabe, as bordas dos painéis das lojas inglesas sempre tiveram um friso composto por triângulos alternados em preto e branco ou em quadrados preto e branco dispostos diagonalmente, como se fossem dentes, ou seja, “dentados”.

Os painéis de lojas francesas da mesma época, que adotaram esse uso inglês, são extremamente raros.

Atualmente, pode-se observar uma sobrevivência inalterada no tapete das lojas francesas do Rito Escocês Retificado, que preservaram seus usos intactos desde 1778.

Os franceses, provavelmente desde Pérau, chamam indevidamente de “La Houppe dentellee” (a borla dentada) a representação de uma corda com muitos nós, terminada em duas “franjas” ou duas borlas com franjas!

Numerosas divulgações posteriores, gravuras e rituais, assumem a mesma expressão que, apesar da falta de lógica e sua absoluta incorreção, constituirá com o passar do tempo, um uso estabelecido, que já é batizado como “tradição”.

Este não é um caso isolado, podemos citar o ato de tirar as luvas brancas para formar a cadeia de união, o que é, na minha opinião, outro desvio ocultista sustentado por muitos racionalistas!

Por que os primeiros maçons franceses substituíram a “borda serrilhada” das pinturas inglesas por uma corda que foi batizada como “borla dentada” da maneira mais estranha?

Na França, em 1744, a “houppe dentelee” constituiu um ornamento presente nos painéis da loja, se comparado aos painéis ingleses contemporâneos. Os ingleses ignoram a borla atual como sempre fizeram.

Inquestionavelmente, se trata de um dos elementos originários e constitutivos do “estilo” francês, do “espírito” ou da “especificidade” da França, bem como do hábito de manter o porte da espada na loja, o chapéu ou a imitação da fita ou cordão azul da Ordem do Espírito Santo, usos comuns na boa sociedade que frequentava os salões.

No entanto, uma pista aparece com o famoso Luis Travenol, alias Leonard Gabanon, que na segunda de suas divulgações, publicou em 1747: “La Desolation des Entepreneurs Modernos du Templo de Jerusalem” (A expulsão de comerciantes modernos do Templo de Jerusalém), descrevendo o “houppe” como “uma espécie de Corda de Viúva que envolve todo o desenho”.

É surpreendente que Travenol seja o único autor francês da época que considerou esta explicação de uma característica heráldica.

Esta interessante descrição coincide cronologicamente com outra expressão que aparece nos rituais de 1745 em relação ao recente grau de Mestre Maçom (1725, Londres) e qualifica os Maçons como “Filhos da Viúva” por referência a Hiram, pois a Bíblia nos diz (1 Reis 7:14) que ele era “filho de uma mulher viúva, da tribo de Naftali, e fora seu pai um homem de Tiro”.

Este ornamento, que aparece em numerosas lápides, mas também acompanha certas armaduras civis ou eclesiásticas, encoraja-nos a entrar em um domínio cheio de simbolismo: a arte heráldica. E essa invasão nos dará, com grande simplicidade, a chave para esse pequeno problema.

Decoração que em heráldica denota uma Viúva

Em seu notável “Dictionaire Héraldique”, que apareceu em 1974, Georges de Crayencour descreve dois tipos de brasões que nos ilustraram:

O primeiro é o das viúvas e nos diz:

“As viúvas têm dois brasões: um de armas de seu marido e um seu; as duas coladas (muito próximas) e cercadas, a partir do século XVI, em uma corda entrelaçada ou com um cordão de seda trançado, em prata e areia… (prata e preto). A corda tem nós em intervalos em uma espécie de laços de amor… Se distingue pela presença de três nós apertados, postos um no centro e dois nos flancos …”.

Aqui está uma primeira explicação considerada da arte heráldica.

Existe uma segunda, proveniente da mesma fonte, mas ainda mais surpreendente, uma vez que se refere, não mais a arte heráldica para as viúvas, mas refere-se à igreja, como também de ambos os sexos.

A correspondência entre os laços de amor de príncipes e princesas da Igreja e os maçons, é muito sugestiva e ainda hoje pode ser visto nos frontões (fachada) de muitas abadias e palácios episcopais, sobre as lápides, inúmeras nas igrejas barrocas das Ilhas de Malta e Gozo, onde podem ser vistos em composições de mármore multicoloridos, assim como em diversos outros lugares.

Georges de Crayencour nos ensina que

“o chapéu com o escudo e seu cordão com nós (ou laços) e acabados com borlas dispostas em um triângulo que o cercam…. Sobre o significado dos nós e borlas, as opiniões são compartilhadas.”

Não precisamos dizer que isso foi compartilhado fraternalmente entre os nobres e os maçons!

Brasões de uma Viúva, de um Bispo e de um Abade

Atualmente, a maioria dos painéis de loja da Europa continental, deriva da maçonaria francesa, e têm uma “borla dentada”. Será que esse ornamento é apenas estético? Será que ele terá algum outro significado que foi perdido?

Será o resultado de um simples erro de tradução, muito bizarro, apesar da frequência de utilização na maçonaria francesa?

Essa bela borla veio da simples fantasia de um artista maçônico que queria “ser legal”?

Seria um caso único na iconografia maçônica, que faria uma referência de modo geral a algum significado oculto decifrado por poucos?

Uma lamentável prática, na minha opinião, é que certas oficinas localizam a corda na parte superior das paredes norte e sul da loja (que se tornou um templo!) sob o teto.

Isso é mais que lamentável se também estiver associado a um conjunto zodiacal, para mim totalmente incongruente e que é dito ser “operativo”. Isso mostra bem até que ponto uma “tradição” pode ser evolutiva … Essa composição simboliza – eles dizem – a união universal dos maçons!

Veja como uma pobre viúva poderia fazer uma prolífica descendência, graças à imaginação de seus “filhos”.

A confusão entre a fina borla dentada heráldica e a espessa corda de nós dos construtores está, com todas as evidências, em sua máxima expressão.

Essa corda com nós é outra coisa e podemos demonstrar a construção de um ângulo reto, graças a uma simples corda de doze nós, usando o quadrado da hipotenusa com 3, 4 e 5 nós, mas esse instrumento operativo nada, absolutamente nada, tem a ver com o debate sobre a borla!

Voltando ao assunto: disposta sobre o painel da loja, formando originalmente dois laços de amor, que se amaram ao ponto de terem sido convertidos para doze, o que poderia simbolizar os elegantes entrelaçados aos olhos meditativos de nossos irmãos contemporâneos?

Pode se ver muito mais do que um simples ornamento heráldico, que, por outro lado, nunca esteve na Maçonaria.

E nessa última hipótese, seria o único elemento que não teria nenhuma função estética, o que constituiria um caso incomparável entre os elementos constitutivos do painel da loja.

Mas então, tal interpretação seria inviável e, na minha opinião, deveria ser rejeitada.

A escolha deliberada deste cordão lembra ao Maçom que o painel da loja sintetiza, assim como um brasão, um conjunto de elementos simbólicos quanto ao grau praticado. No entanto, um elemento maior em relação ao grau de Mestre já está presente no painel do grau do Aprendiz.

Na verdade, tal antecipação é talvez o caso de passar de um grau inicial a outro, onde não será explicado o que se encontra no germe desse grau. Por exemplo, no século XVIII, o painel da loja do Rito Francês do grau de aprendiz já contém uma estrela flamejante, mas isso não é explicado.

E quanto à “corda da viúva”, ela lembra ao Mestre Maçom, que Hiram vive eternamente em todos nós, todos somos “filhos da Viúva”.

Isso foi imediatamente perceptível em uma sociedade de classe, como a do século 18, onde a heráldica é amplamente disseminada e familiar para todos e serve como meio de identificação; que a arte era comumente praticada de forma banal com os sentidos de identificação que todos conheciam.

Os símbolos são autofalantes, mesmo que sua linguagem pareça ter um duplo sentido que precisa de criptografia; o sentido, no entanto, se perde quando a sociedade evolui e sua composição sociológica se modifica, como ocorreu com a democratização e o estabelecimento do Império.

Os maçons dos séculos XIX, XX e XXI estão cada vez menos familiarizados com a arte heráldica, exceto talvez na Alemanha, Espanha, Áustria ou Suíça, onde permanece vivaz e popular. Não há município ou cidade nestes países que não exibam orgulhosamente os seus brasões.

A minha interpretação do “Cordão da Viúva”, me parece mais enriquecedora no plano simbólico do que as dissertações “esotéricas” sobre os temas de universalidade, do número oito deitado (sic!), do infinito, do zodíaco, dos pedreiros medievais “que conservaram os segredos que vieram das pirâmides” (sic), dos filhos de Isis, dos druidas e isso sem contar os templários, os rosa-cruzes e os alquimistas!

Esta conclusão, obviamente que não é a verdade. Se assim fosse, deixaríamos o marco de uma filosofia interpretativa para entrar na ciência do emblemático, da alegoria, do símbolo, do pensamento único.

Onde estaria o prazer da descoberta e, acima de tudo, o que é ainda mais emocionante, o prazer da investigação, ou essa verdadeira “caçada do sentido oculto”, tornando-se inevitável a dupla natureza do maçom?

“A cada uma de suas Verdades”, é dito em uma peça famosa. Aquela que Pôncio Pilatos responde do fundo de sua Judéia. “A Verdade, qual Verdade?”… antes de lavar as mãos, um gesto altamente simbólico!

Autor: Jean Van Win
Traduzido por: Luciano R. Rodrigues

Extraído de uma obra do Círculo de Estudios del Rito Francés Roëttiers de Montaleau

Fonte: O Prumo de Hiram

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Alquimia

Alquimia: conceito, origem e história - Toda Matéria

O filósofo, santo e cientista Alberto o Grande louvou 8 Virtudes nos Alquimistas: eles são discretos e silenciosos; moram bem longe dos homens; escolhem o tempo do seu trabalho; são pacientes, assíduos e perseverantes; executam segundo as regras herméticas a trituração a fixação, a destilação e a coagulação; trazem cadinhos, vasos de vidro e potes de louça bem iluminados. Mas há os que as degradaram a começar pela essencial: evitar pessoas de temperamento sórdido. Para alguns, a falta de rigor empírico, o flerte com a magia, a busca do poder mundano pela transmutação de vis metais em ouro fazem da Alquimia a história de uma quimera senão uma fraude. Para outros é o supremo dom divino, a arte de integrar o mundo natural ao espiritual pela reflexão, ação e criação de um coração puro.

Do Egito, à China, à Índia até o mundo islâmico e a cristandade, a epopeia mais fabulosa da história das ciências mescla romance, superstição, medicina, piedade, tecnologia, trapaça, tragédia, poesia, humor. Forjados na fé do deus três vezes grande Hermes de que o que está no alto está em baixo, o grande no pequeno, o dentro fora, o Um em Todos e Todos no Um, ora cortejando Sofia a Divina Sabedoria ora barganhando com o Demônio como Fausto, para cada imperador ou papa que baniu a alquimia há um imperador ou papa alquimista. Estimada por filósofos como Maimônides ou Tomás de Aquino, praticada por pais da ciência como Boyle e Newton, tão cobiçada quanto ridicularizada por suas panaceias, a Pedra Filosofal ou o Elixir da Vida, quem dirá que a alquimia não tocou a volátil quintessência do pó, do poder e da felicidade?

Há milênios comungamos fermentados como cerveja ou vinho em rituais familiares e religiosos com amigos, mortos e deuses, mas só dos alambiques alquimistas veio a prata e o ouro líquidos dos destilados. Ela inspirou Monteverdi se instilando na forja da mais espetacular das artes, a ópera, e foi o crisol do cinema: um alquimista árabe inventou a câmara escura e um francês pode ter fixado imagens fotográficas em 1750, cem anos antes de Daguerre. Paracelsus foi precursor da homeopatia e da alopatia. Buscando ouro na urina, um alquimista de Nuremberg descobriu o fósforo que queima em nossos palitos e queimou nas bombas que aniquilaram Nuremberg. Rutherford, um pai da física nuclear, se dizia um “alquimista moderno”. Jung viu nos laboratórios alquímicos os elementos de sua psicologia profunda. Paulo Coelho forjou o chumbo de sua “Lenda Pessoal” pregando a “Mão que Tudo Escreveu” e a transmutou em ouro literário e literal na aventura do seu Alquimista na qual uma massa de leitores viveu seu sonho de descobrir o tesouro secreto que sempre possuiu no deserto de suas vidas.

A física hoje persegue o enigma da integração do macromundo da relatividade geral e do microuniverso quântico, afirma a mutação da matéria pela observação, e a interconexão de fenômenos distantes como o voo de uma borboleta e um maremoto ou uma partícula no Sol, outra na Lua e outra na Terra, e dá a qualquer um a chave para transmutar chumbo em ouro, basta bombardeá-lo num acelerador de partículas a custos astronômicos em troca de quantidades microscópicas. Em nossos tempos de fé dogmática na ciência, de nostalgia delirante por uma medicina holística e de profecias transumanistas, terão os alquimistas desaparecido para sempre ou estão chegando?

Nesse episódio do excelente podcast O Estado da Arte, Marcelo Consentino tem a companhia de Ana Maria Alfonso-Goldfarb, professora de história da ciência da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Márcia Ferraz, professora de história da ciência da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; e, Paulo Porto, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, para, fundamentados no conhecimento acadêmico, apresentarem a história da Alquimia: o que era, o que buscava, suas ideias, etc.

Ouvir o que os professores nos trazem é de vital importância para que os iniciados possam compreender o simbolismo da Câmara de Reflexões e o porquê da presença de alguns itens naquele espaço. Sem achismos, invencionices ou ideias pirotécnicas.

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Episódio 53 – A origem e o significado do triponto

(music: Slow Burn by Kevin MacLeod; link: https://incompetech.filmmusic.io/song/4372-slow-burn; license: https://filmmusic.io/standard-license)

O triponto está presente nas abreviações contidas em diplomas, pranchas, manuais e rituais do REAA e na assinatura de todo maçom brasileiro que se preze. Mas qual é a origem desse costume e seu real significado? Muitos se arriscam em chutar: os três graus simbólicos; o Esquadro e Compasso e o Livro da Lei; as Colunas Jônica, Dórica e Coríntia; o Venerável e seus dois Vigilantes; o triângulo superior da Árvore da Vida; as pirâmides de Quéops, Quefren e Miquerinos; o Enxofre, o Mercúrio e o Sal; Pai, Filho e Espírito Santo; ou mesmo Prótons, Elétrons e Nêutrons; etc, etc, etc. Daí, em cima do suposto significado, “deduzem” a origem: Grécia Antiga, Cabala, Egito Antigo, alquimistas, Igreja e até na Física. E você? O que acha?

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A interpretação e significado dos símbolos maçônicos

El Observatorio Cuyano

Hermann Rorschach foi um psiquiatra suíço que viveu entre 1884 e 1922, e que ficou conhecido pelo seu trabalho sobre o significado psicológico de interpretações dadas a manchas de tinta, tendo desenvolvido para isso uma técnica que tomou seu nome: o teste de Rorschach. Este teste baseia-se na chamada “hipótese projetiva”, de acordo com a qual a pessoa a ser testada, ao procurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem um significado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projeta aspectos da sua própria personalidade. O intérprete (ou seja, o psicólogo que aplica o teste) teria assim a possibilidade de reconstruir os aspectos da personalidade que teriam levado às respostas dadas. Dito de outro modo: confrontado com um objeto sem um significado previamente estabelecido, o sujeito atribui-lhe uma conotação, uma semântica, um sentido que decorre, essencialmente, de si mesmo, não tendo que ser – e frequentemente não sendo – uniformes e invariáveis os significados atribuídos de um sujeito para outro.

Algo de semelhante sucede na maçonaria com os símbolos. Há símbolos a que se atribui significados convencionados – como o esquadro que, servindo para traçar ângulos retos, evoca a retidão de caráter – o que não impede que lhes sejam atribuídos outros significados. Outros símbolos traduzem uma maior diversidade de sentidos – como o G que a maçonaria regular coloca entre o esquadro e o compasso. Símbolos mais obscuros, menos frequentes e de menor universalidade, são por vezes encontrados num contexto maçônico, mas poderão ser  apenas perceptíveis e utilizados num determinado contexto cultural, no âmbito de certo rito, ou confinados a um perímetro geográfico específico. Contrariamente ao teste de Rorschach, todavia, o recurso à simbologia pela maçonaria não tem o fim de constituir qualquer análise psicológica ou psiquiátrica por um terceiro, mas apenas de cada um por si mesmo.

A simbologia maçônica – que tem como tema dominante a maçonaria operativa medieval, a que hoje chamaríamos arquitetura ou engenharia civil – tem o triplo propósito de estabelecer uma estrutura e um  contexto cultural para os arquétipos universais que identificam a maçonaria, uma forma sintética de comunicação de conceitos, e uma cultura de heterogeneidade e tolerância. Cada símbolo maçónico – normalmente coisas tão banais como uma pedra ou uma colher de pedreiro – evoca um ou mais significados que, no seu conjunto, constituem uma matriz semântica que dota a Ordem de um contexto cultural que, por sua vez, enquadra e dá corpo aos conceitos e princípios que a maçonaria pretende transmitir, propagar e perpetuar. Fica assim estabelecida, em torno dos símbolos, uma linguagem que, de forma sintética, permite a rápida e eficaz evocação, relacionamento e comunicação de conceitos, bastando por vezes uma simples palavra para transmitir um conceito complexo no seu contexto adequado. Por fim, ao não fazer corresponder de forma imposta, rígida e imutável os símbolos aos conceitos, a simbologia maçônica permite que cada maçom atinja as sua próprias respostas às importantes questões filosóficas que a vida coloca.

Contudo – e isto é a minha interpretação pessoal, que vale o que vale – a maior virtude do recurso à simbologia e à alegoria consiste no distanciamento que estabelece entre os princípios e a sua aplicação. Este distanciamento possibilita que a interiorização dos conceitos decorra da sua aplicação a um sujeito abstrato (e, mesmo, claramente do foro do mítico e do imaginário), e que só uma vez absorvida a sua essência e apercebidas as consequências da sua incorporação no edifício ético e moral individual – o que pode levar mais ou menos tempo, ou nunca suceder de todo – cada um aplique então a si mesmo o significado pessoal e personalizado que atribuiu ao símbolo, interiorizando-o e consolidando-o da forma que entende ser a que mais se adequa à sua própria realidade e, por fim – porque, em maçonaria, nada se ensina mas tudo se aprende – tire partido da lição que deu a si mesmo.

Autor: Paulo M.

Fonte: A Partir Pedra

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