A Maçonaria Inventada

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As origens da maçonaria especulativa: situação das teorias atuais

De todos os debates sobre a história da maçonaria, o que remete às origens da Maçonaria especulativa é um dos mais fundamentais. No entanto, este tema surgiu na França mais ou menos recentemente, e eu contribuí modestamente para divulgá-lo em 1989, publicando na Revista Renaissance Traditionnelle dois longos artigos, nos quais manifestei que se podia manter um debate sério sobre esta questão, expondo pela primeira vez em francês a essência dos estudos realizados até agora na Inglaterra e, desde o princípio dos anos setenta, na Escócia.

O simples fato de se levantar a questão das origens da Maçonaria especulativa e de mencionar a ausência de filiação direta com a Maçonaria operativa medieval como uma hipótese concebível, provocou em diferentes meios e em diferentes estudos reações abertamente hostis, algumas delas chegando até à irracionalidade.

Observo que, desde então, vários autores em diferentes estudos e trabalhos, consideraram útil mencionar este debate, já dado como inevitável e que, portanto, era preciso examinar, pelo menos, as teorias da substituição e a teoria clássica da transição, julgadas igualmente dignas dentro da Maçonaria.

É, obviamente, na Inglaterra e Escócia, em que se realizou todo um progresso considerável, embora não se possa negar que existem certas objeções e que estas são bem-vindas. No entanto, a emoção suscitada por este novo problema e o próprio fato de que até certo ponto estamos diante de um “debate sobre o debate,” obrigam-me, antes de abordar o cerne da questão, a voltar novamente, como um preâmbulo necessário, a tecer algumas considerações metodológicas que se aplicam ao conjunto deste trabalho.

Há trinta anos, nosso estudo endossou a posição definida em 1947 por dois grandes historiadores britânicos da Maçonaria, Knoop e Jones, expressas no prefácio da primeira edição de sua principal obra, A Gênese da Maçonaria:

“Primeiro – alertam os autores – embora até agora tenha sido habitual pensar a história da maçonaria como uma questão totalmente separada da história comum, justificando, assim, um tratamento especial, nós achamos que se trata de um ramo da história social, do estudo de uma determinada instituição social e das ideias que estruturam esta instituição, e que se deve abordá-la e escrevê-la exatamente da mesma maneira que a história de outras instituições sociais.”

Nós apresentamos essas observações, que adotamos sem reservas, convencidos de que não há outra maneira possível de se realizar pesquisa histórica. É, obviamente, uma importante escolha que, inevitavelmente, está longe de ser compartilhada pela unanimidade dos autores que trabalham na história maçônica.

Assim como a história de certas religiões e igrejas, quando tratada com a objetividade às vezes dolorosa do historiador, leva a conflitos com alguns fiéis que se recusam a olhar para a sua própria história, o que chamamos, por brincadeira, de “história secular” da Maçonaria também não conseguiu a adesão da unanimidade das mentes. Este é um risco do qual o historiador da Maçonaria deve ter plena consciência.

Por mais de 15 anos, o estudioso inglês John Hamill foi bibliotecário da Grande Loja Unida da Inglaterra e curador de seu fabuloso museu e seus arquivos. Em seu trabalho intitulado simplesmente The Craft, que após um profundo trabalho de revisão voltou a publicar em 1994, com o título de História da Maçonaria Inglesa, já expressava claramente esta dificuldade:

Há, portantodois tipos de abordagens para a história maçônica: a abordagem propriamente dita, como “autêntica” ou científica, segundo a qual uma teoria se fundamenta e é desenvolvida a partir de fatos verificáveis ou de documentos, e uma abordagem dita “não autêntica” que tenta colocar a Maçonaria no contexto das tradições de Mistério, buscando ligações entre os ensinamentos, a alegoria e o simbolismo da Maçonaria de um lado, e os das diferentes tradições esotéricas de outro. A falta de alguns conhecimentos sobre o período das origens da Maçonaria e a diversidade de abordagens possíveis pode explicar com segurança porque esse problema ainda é tão cativante.
[…] Se algum dia descobriremos as verdadeiras origens da Maçonaria é uma questão que permanece sem resposta.”.

Com esta perspectiva, gostaria de oferecer algumas reflexões sobre o problema das origens da Maçonaria especulativa. Mas o faço não apresentando catálogos pesados e enfadonhos de teorias mais ou menos fundamentadas e fatos ou documentos cuidadosamente analisados, mas como uma síntese de dez anos de trabalho, reflexões e pesquisas pessoais sobre este assunto.

Vulgata Maçônica: a teoria da transição

A tese mais antiga e mais difundida é aquela apresentada na maior parte das obras dedicadas à história maçônica na França, da qual compartilham espontaneamente a grande maioria dos maçons, e que, necessariamente, não examina a questão a fundo. É a teoria conhecida como transição.

Mesmo na rigorosa escola inglesa da Maçonaria, fundada no final do século passado por Gould e Hughan, ensinou-se por muito tempo essa teoria. Nas últimas décadas, seu partidário mais brilhante foi o estudioso Harry Carr, que tem sobre os outros historiadores da Inglaterra uma estimável posição de destaque intelectual.

Esta teoria afirma que, ao sair da Idade Média, a Maçonaria Operativa, que tinha então uma organização com lojas e rituais, sofreu certo declínio devido às mudanças econômicas que afetaram os ofícios da construção civil.

Na Grã-Bretanha, e em particular na Escócia no final do Renascimento, e ainda mais particularmente durante o século XVII, produziu-se uma transformação sensível da instituição. Homens estranhos ao ofício, que às vezes ocupavam cargos importantes na sociedade civil, intelectuais – voluntários dados à especulação alquimista de então, do neoplanismo nascido em Florença, no século XV, e da tradição Rosacruz, difundida desde o início do século XVII – tinham feito a sua entrada em lojas que naquela época se encontravam quase moribundas.

Estes Maçons Aceitos pouco a pouco foram aumentando seu número e sua influência a ponto de se tornarem a maioria no interior das lojas, chegando, em certa medida, a eliminar os maçons operativos, convertidos dessa maneira em estranhos dentro de sua própria instituição.

Esta Vulgata implica também algumas alternativas que, por vezes, integram o que poderia ser chamado de Lendas complementares.

A primeira destas lendas, por exemplo, é a dos Mestres Comacinos, pedreiros italianos misteriosos que, em virtude de franquias bem conhecidas que lhes foram concedidas pelo papa – e que justificariam assim a expressão maçom franco, ou livre – teriam atravessado a Europa, estendendo seus conhecimentos de arquitetura, esotéricos e geométricos, lançando as primeiras sementes da Maçonaria especulativa. Já mostrei em outro lugar, há alguns anos, de onde procede esta fábula sem qualquer base documental. No entanto, por força de cópias consecutivas sem comprovação das fontes, esta lenda adquiriu foros de verdade.

Outro componente, muitas vezes confuso, mas muito vivo na teoria da transição, é a hipótese do companheirismo. Não é o momento de mostrar em detalhes as contradições e inverossimilhanças. No entanto, esta hipótese repousa em grande parte em uma confusão grave, mas comum, sobre a Maçonaria operativa, já que esta poderia existir sob formas extremamente diversificadas, na Europa, desde a Idade Média, e, particularmente, na França, Inglaterra e Alemanha, com estatutos muito diferentes. A Guilda do Companheirismo propriamente dita, organização de origem essencial e exclusivamente francesa por um longo tempo, cujas origens históricas parecem certificadas até o século XV, mas sobre cujos usos, lembremo-nos, carece de informações substanciais ou confiáveis anteriores ao final do século XVIII.

Em todo caso, é importante ressaltar o fato de que a Maçonaria Especulativa foi formada sob condições ainda duvidosas, durante o século XVII, na Inglaterra, e jamais conheceu ou teve pontos em comum com a Guilda do Companheirismo, pelo menos neste momento da fundação.

Que se possa colocar alegar que são organizações vinculadas aos ofícios da construção civil – mas não exclusivamente à Guilda de Companheiros – nas semelhanças de formas e usos, não nos surpreende, mas devemos nos lembrar sempre do provérbio que todo historiador escrupuloso não deve esquecer: “comparação não é razão”.

Uma crítica radical da transição

Foi preciso esperar até os anos setenta para que se tivesse uma crítica decisiva e se fizesse avançar a teoria da transição. Foi o trabalho, em particular, de um notável pesquisador inglês: Eric Ward.

A crítica de Eric Ward assenta-se no sentido convencionalmente atribuído a algumas das palavras-chave usadas pela teoria da transição. Vou citar alguns exemplos:

Maçom, Maçom Franco ou Livre

A origem e o significado da palavra franco-maçom é um bom exemplo das ambiguidades exploradas pela teoria clássica. E. Ward foi capaz de mostrar de forma conclusiva que, contrariamente a todas as etimologias fantasiosas que ainda circulam hoje, a palavra franco-maçom (freemason) não pertence à Idade Média, pois é uma formação de duas palavras freestone mason  canteiro (maçom) da pedra branca – designando um trabalhador que trabalha efetivamente como uma determinada pedra macia que se pode cortar e trabalhar de maneira muito detalhada.

Agora, se tomarmos os primeiros testemunhos relativos aos pedreiros não operativos ingleses século XVII, notamos que estes Maçons Aceitos são também indiferentemente designados pelas palavras Free Masons, ou Free-Masons, com ou sem hífen, mas sempre com duas palavras.

Tudo indica claramente que, a partir do final do século XVII e início do XVIII, os termos Aceito e Franco são equivalentes para designar os Maçons não operativos. Mas como observou E.Ward em uma análise muito inteligente, freemason não é Free-Mason. A palavra Free, em Free-Mason ou Free and Accepted (Maçom Livre e Aceito) simplesmente se refere ao fato de que esses “novos” maçons são “livres” em relação ao Ofício, ou seja, simplesmente estranhos à profissão…

Em resumo, a identidade fonética e a proximidade morfológica das palavras freemason (palavra muito antiga, derivada do anglo-normando, e ligada à prática operativa) e Free-Mason, não devem nos fazer esquecer a verdadeira dissimilaridade semântica, e não nos podem autorizar a buscar e introduzir uma relação de parentesco entre homens de eras diferentes, os quais traziam esses nomes, obviamente, por razões muito distintas.

As lojas operativas inglesas

Outro problema levantado é o fato de que a Maçonaria especulativa tenha nascido na Inglaterra – no sentido exato do termo. Agora sabemos que não existe qualquer documento que dê provas de que pessoas estranhas à profissão tenham sido admitidas nas lojas operativas inglesas.

Por outro lado, a realidade das lojas operativas, no sentido que podemos dar à palavra loja, à luz da maçonaria especulativa – uma estrutura permanente, regular e controlando o Ofício em todos os pontos do território, com rituais específicos – é um fato problemático em solo inglês, uma vez que não há qualquer vestígio histórico disso.

Além disso, algumas raras lojas operativas curiosamente muito tardias, apenas conhecidas na Inglaterra, permaneceram operativas até o seu desaparecimento. Não se pode deixar de voltar ao estudo magistral de Knoop e Jones, O Maçom Medieval, cuja primeira edição remonta a 1933 e que, até onde sei, não foi superada. É notável que este trabalho tenha sido publicado por historiadores profissionais, fora dos círculos habituais de erudição maçônica e que somente na década de setenta tenha começado a exercer influência sobre eles, já que os dados estiveram disponíveis por 40 anos. A única coisa de quase certa é que, desde sua origem, lojas maçônicas que surgem na Inglaterra são puramente especulativas.

A Loja de Chester, que era, de fato, operativa e se desenvolveu em meados do século XVII, foi muito bem estudada pelos historiadores ingleses. Teve uma existência efêmera e é praticamente um “hapax”[1] na história maçônica inglesa.

Inclusive, no que diz respeito à famosa Acception de Londres, do século XVII, erroneamente descrita como uma loja, já que esse termo nunca aparece em seus anais e que também erroneamente é citada como uma prova da transição especulativa, devemos dizer que ninguém sabe quem tomou a iniciativa de fundá-la ou por que motivo. Este círculo de lojas constituído à margem da Companhia de Maçons de Londres foi a única guilda organizada conhecida na Inglaterra para o ofício de canteiro (maçom), e sua autoridade nunca ultrapassou a cidade de Londres.

Dentro da história a Acception maçônica deixa dois finos rastros documentais: em 1610, e, depois, em 1686, no relatório de Elias Ashmole. Não se conhece qualquer outra estrutura comparável na Inglaterra nesta época ou mesmo mais tarde. Parece ter sido uma espécie de clube que recebia, de acordo com a fórmula clássica de patrocínio muito conhecida também na Escócia, personalidades e notáveis que se revelassem úteis para o Ofício. Lembremo-nos, sobretudo, que os próprios operativos deviam ser admitidos no seio da loja, já que não eram membros de direito. E embora a Companhia dos Maçons de Londres tenha continuado até nossos dias, a Acception desapareceu sem deixar descendência conhecida.

Pode-se argumentar que as coisas que aparentam ser muito diferentes na Escócia, onde, desde o início do século XVII, a entrada de notáveis em lojas operativas organizadas parece certa. Teremos a oportunidade de voltar novamente a este caso, que é muito interessante. Observe-se, por agora, que a Escócia era, até início do século XVII, um país separado e até inimigo da Inglaterra, que muito poucas relações existiam entre ambos e que a existência de lojas operativas em Edimburgo ou Kilwinning, não explica, por si mesma, as circunstâncias do aparecimento de uma maçonaria puramente especulativa, na mesma época, no sul da Inglaterra.

A hipótese do empréstimo

A partir da crítica a esta teoria, nasceu, no início da década de setenta, o que pode ser chamado de contrateoria. Essencialmente negativa, pode-se dizer, ela não se propõe a solucionar de forma positiva a questão das origens da Maçonaria, mas sugere que a Maçonaria especulativa, contrariamente às afirmações da teoria da transição, teria deliberadamente pedido “emprestado” textos originais e práticas que pertenceram aos operativos, mas de forma completamente independente, sem filiação direta ou autorização.

A Maçonaria especulativa, portanto, teria mantido desde a sua fundação ligações puramente nominais ou, quando muito, laços alegóricos com os construtores das catedrais. Deixando, até certo ponto, a Maçonaria especulativa órfã de sua tradição fundadora, o questionamento levantado por E.Ward levou a erudição maçônica inglesa a buscar um modelo de substituição à teoria da transição, muito pouco operativa na sua formulação clássica. “Ce chantier est toujours en cours”[2].

Novas perspectivas sobre os Antigos Deveres

Em 1986, o grande estudioso inglês Colin Dyer acrescentou ao questionamento de Ward outra proposta mais positiva.

Esta teoria baseia-se principalmente na revisão da origem dos Antigos Deveres (“Old Charges”), textos fundamentais da tradição maçônica inglesa. Sabe-se, de fato, que entre as duas versões mais antigas conhecidas do Regius e do manuscrito Cooke – ambos datados em torno de 1400 – e as versões posteriores (das quais existem mais de 130 até meados do século XVIII), há um período de silêncio documental que chega a aproximadamente 150 anos.

Por outro lado, a partir de 1580, houve novamente um número crescente de textos dos Antigos Deveres. Agora sabemos, a partir de uma menção feita pelo Manuscrito Ms. Sloane 3848, que que uma cópia dos Antigos Deveres foi usada para a iniciação de Elias Ashmole, em 1646, na Loja Warrington, e que aquele documento era uma espécie de ferramenta de trabalho essencial nas lojas especulativas inglesas, em particular para a iniciação.

Naquela época, a aceitação de um candidato era uma cerimônia muito simples e fácil de realizar. Isto é admitido como fato muito comum, especialmente sabendo-se que, no final do século XVI não existia, ao que parece, qualquer loja operativa.

A hipótese de trabalho proposta por C. Dyer é estudar o conteúdo destas novas versões dos Antigos Deveres, com o objetivo de obter um testemunho sobre o espírito e os usos especulativos ingleses que poderiam ter surgido ao mesmo tempo que aqueles textos, ou seja, muito antes do que geralmente se pensa.

Os dois textos mais antigos disponíveis hoje, para esta “segunda onda”, são o Ms Melrosedo qual se tem uma cópia datada de 1674, mas que afirma referir-se a um original – desconhecido até hoje – de 1581, e especialmente o Ms Grand Lodge No. 1 cuja data comprovada é 1583, e que são interessantes para um estudo comparativo de seu conteúdo com a versão antiga de referência que é o Ms Cooke.

As diferenças observadas são resumidas essencialmente em dois grupos:

1. Alguns certificam que estes documentos não tinham provavelmente uma utilidade operativa e que os autores provavelmente não pertenciam à profissão de pedreiro. Por exemplo, as condições antigas, referentes à obrigação para todo Mestre de Obra – isto é, de todo patrono – de proporcionar a substituição de qualquer trabalhador que não realizasse o seu trabalho em tempo, pagar a ele por seu trabalho, foram simplesmente eliminadas.

2. Outras obrigações fazem o seu aparecimento, e têm significados religiosos e morais interessantes:

  • A obrigação de servir ao Senhor para quem ele trabalha é substituída por um juramento de lealdade “a Deus e à Santa Madre Igreja”. Note-se que este compromisso figurava no Ms Cooke sob a fórmula: “Deus, a Santa Igreja, e todos os Santos”.
  • A remoção desta última menção tem, obviamente, um significado religioso provável, uma vez que ela prevê que todo Pedreiro nunca deve cair no erro ou heresia de não ser, em qualquer circunstância, um homem discreto e prudente.

Ao todo, as diferenças observadas entre os dois conjuntos de textos levam C. Dyer a concluir que, após um silêncio de mais de cem anos, o MS Grand Lodge n º 1 não é de modo algum uma simples cópia, mais ou menos abreviada, de Cooke, mas um documento completamente diferente, que introduz muitas regras que já não se referem diretamente à prática operativa, mas tem um caráter especificamente religioso e moral.

O estudo mais detalhado da ortografia utilizada para os nomes bíblicos mostrados no Ms Grand Lodge, por outro lado, demonstra similaridade com os das Bíblias publicadas na Inglaterra após a Reforma, o que indica que ele foi escrito por volta de 1540.

Deste estudo resulta a proposta de uma hipótese segundo a qual o Ms Grand Lodge seria um dos primeiros textos, de uma longa série, utilizados a partir dos anos 1540-1580 por um grupo de homens conhecidos ao longo do século XVIII sob o nome de maçons especulativos ou maçons aceitos.

Agora, a história religiosa da Inglaterra do século XVI pode nos fornecer elementos susceptíveis de apoiar esta tese. Durante todo este período, todos os que expressaram convicções religiosas opostas ao poder existente perderam a vida nas fogueiras.

Esta rotina em tempos especialmente turbulentos fez com que algumas comunidades muito diferentes mergulhassem na discrição em suas práticas, ou mesmo no segredo.

É durante os anos 1560 a 1570 que a crise religiosa atinge seu ponto culminante. Estes anos foram caracterizados, em particular, pelos diferentes conflitos que assolavam a Escócia e a “deposição” teórica de Elizabeth pelo papa em 1570. Paralelamente a estes acontecimentos, os estudiosos da história religiosa da Inglaterra propuseram a existência de um movimento geral criado dentro da Igreja da Inglaterra, e cujo objetivo era orientá-la para o campo da Reforma.

Até 1570, de acordo com o historiador britânico J.E. Neal, tratava-se de uma verdadeira “organização secreta”, que deveria proceder com cautela devido às pressões dos mais moderados e devido às exigências expressas pela Rainha. Este movimento deveria conseguir a formação de uma seita independente da origem da igreja Congregacional.

O certo é que a situação daquele tempo levou a grupos diferentes, com convicções morais e religiosas bem definidas, a atuar sob a forma de organizações mais ou menos secretas.

Parece muito provável, se nos basearmos na tese de C. Dyer e de vários escritores ingleses atuais, que o movimento que deu origem à Maçonaria especulativa teve claramente sua origem em motivações religiosas daqueles momentos. O estudo comparado de Antigos Deveres estabelece em particular que este movimento, aparentemente secreto e que a história religiosa da época torna compreensível, já não tinha qualquer ligação com a Maçonaria operativa, uma vez que ele teria se estabelecido por volta de 1560 ou 1580, precisamente no momento em que os conflitos religiosos atingiram o seu clímax.

As múltiplas teorias

Por cerca de vinte e cinco anos, diversos autores têm realmente se alternado na formulação de uma teoria alternativa que possa racionalizar o conjunto de provas documentais que possuímos com relação ao período histórico que envolve o nascimento da Maçonaria especulativa, e que seja capaz de superar as objeções de E.Ward. Eles indicam um certo desânimo por parte dos pesquisadores e nos mostram o papel muito fértil da crítica devastadora de E. Ward. Foi levada a cabo a releitura de todos os documentos disponíveis sobre a história da Maçonaria inglesa à luz desta nova proposta.

Conseguiu-se, dessa forma, propor uma teoria política ligada aos acontecimentos da guerra de 1640-1660 na Inglaterra, acompanhada de uma teoria religiosa que também explorou o papel da caridade e da sociabilidade das primeiras sociedades de ajuda mútua nascidas no século XVII entre os artesãos, além do papel desempenhado pela dissolução das comunidades monásticas após a Reforma inglesa de 1534.

É evidente que nenhuma destas teorias é convincente. Todas tiveram o imenso interesse em promover uma redescoberta dos fundamentos históricos da Maçonaria Inglesa, em não confundir mais o seu desenvolvimento, com o da que Maçonaria Escocesa. É precisamente desta última surgiu uma nova teoria.

A chave escocesa: David Stevenson, em The Origins of Freemasonry

Em 1988, apareceram duas obras do erudito escocês David Stevenson. Estas, por sua vez, trouxeram consigo uma completa revisão da questão controversa das fontes da Maçonaria especulativa.

É quase impossível resumir a tese sustentada pelo autor, sem o auxílio de documentação farta e confiável. No entanto, descreverei as linhas essenciais.

Em 1598-1599, um alto funcionário da Coroa escocesa, William Schaw, Supervisor Geral dos Maçons e Intendente dos Edifícios do Rei, edita uma série de regulamentos que organizam, sobre novas bases, a profissão de pedreiro na Escócia.

Os Estatutos Schaw criam uma rede de lojas regionais com jurisdição geograficamente definida, e dão a estas lojas, cujos procedimentos operacionais foram bem definidos, a responsabilidade de dar aos trabalhadores os dois graus da Profissão: Aprendiz-Iniciante (Entered-Apprentice), geralmente após um aprendizado simples que durava cerca de sete anos, onde recebiam o grau que lhes permitia procurar livremente trabalho com um Mestre, ou seja, com um empregador. O Companheiro de Ofício (Fellowcraft) dessa forma afirmava seu total domínio da Profissão, mas, sobretudo, lhe era permitido postular eventualmente a entrada na Guilda de Mestresdenominada Incorporation, distinta da loja e uma organização puramente civil e política, que se apresentava como uma espécie de sindicato de patrões, controlando, por sua vez, tanto o Ofício quanto a Cidade.

Em um trabalho notável e consciente, D. Stevenson mostra que esta organização foi profundamente inovadora e estritamente inerente à Escócia. Nunca, nem na Escócia nem antes na Inglaterra, havia existido tal sistema. Ao dotar a loja de um estatuto legal, uma personalidade moral, uma existência real e ao definir o papel de seus Oficiais (Wardens ou Vigilantes ou Diáconos), os Estatutos Schaw evidenciam ter lançado as bases estruturais que mais tarde se transformariam, no resto da Escócia, na Maçonaria especulativa.

A contribuição mais notável de D. Stevenson, no entanto, é mostrar que, ao contrário da versão propagada pelas teorias clássicas, o fenômeno da Aceitação – tomando emprestada uma expressão puramente inglesa nunca usada na Escócia – conhecido por permitir a substituição progressiva dos operativos pelos especulativos nas lojas, nunca ocorreu na Escócia no século XVII.

Analisando cuidadosamente as listas de membros dessas lojas e examinando sua história ao longo de várias décadas, D. Stevenson mostra que as lojas escocesas permaneceram essencialmente, e durante muito tempo, como operativas. No entanto, e este é outro ponto novo e essencial, mostra também que desde o início algumas personalidades, incluindo o famoso Robert Moray, certamente próximo da escola de pensamento hermética, neoplatônica e rosacruz – seja qual for o significado deste último rótulo – têm estudado, na Escócia, sobre estas lojas. Sua organização relativamente discreta, se não secreta, e o conhecimento da existência de alguns ritos lhes interessaram, embora suas incursões documentadas nestas lojas, ao longo do século, sejam extremamente raras e geralmente efêmeras.

Resta dizer, e esta é provavelmente a principal conquista dos trabalhos de D. Stevenson, que a prática excepcional, mas inegável, de receber como membros honorários pessoas estranhas ao Ofício nessas lojas – onde estes novos aceitos talvez não mais voltariam – pode criar um contingente, embora provavelmente numericamente pequeno, de “pedreiros livres”, podendo, dessa forma, transportar e transmitir uma Maçonaria que estava aberta para que eles a transformassem em função de seus próprios interesses intelectuais. Portanto, é extremamente interessante ter em conta que Robert Moray, um dos primeiros “especulativos” conhecidos da Maçonaria, foi recebido, em 1640, em uma loja temporária, constituída à margem de uma guerra, em território inglês. Um fato que devemos registrar é a existência da enigmática Loja Warrington, igualmente temporária, que recebeu Ashmole seis anos mais tarde, à margem da mesma guerra, situada muito ao norte da Inglaterra…

A Escócia não inventou a Maçonaria especulativa. Criou, sob a liderança de William Schaw, as estruturas de uma maçonaria operativa bem organizada que servirá indiscutivelmente de modelo para a maçonaria especulativa que se organizará no início do século XVIII. Fez, especialmente, com que pedreiros não-operativos, que nunca tinham pertencido ao Ofício, assegurassem que este frágil frasco pudesse ser usado além da “fronteira do norte” (Northern Border) e que, colocando o pé em solo inglês, pudesse espalhar-se. Desse modo pode-se compreender porque a maçonaria inglesa do século XVII é ao mesmo tempo especulativa. 

Rumo a uma teoria sintética

Muitas questões ainda estão pendentes sobre este assunto tão complexo. Ainda há muitos enigmas a serem desvendados e muitos pontos ainda permanecem obscuros. O que pode ser dito é que agora temos os elementos de uma teoria sintética sobre as origens da Maçonaria especulativa, por cuja me formulação me dediquei durante vários anos. Gostaria agora de me arriscar a lançar as bases diante de vocês, consciente de propor um modelo sujeito a críticas e que irá necessariamente ser alterado.

A Maçonaria operativa na Grã-Bretanha e no resto da Europa desenvolveu-se em uma civilização pouco comunicante e estruturada em torno de poderes locais, em uma época em que os organismos de vocação nacional, como se os descreveria hoje, não faziam qualquer sentido.

Havia, na Inglaterra, trabalhadores mais ou menos qualificados, experientes, chefes e Mestres de Obra. Havia os canteiros de obras que podiam ocupar a vida inteira de um pedreiro para quem o ofício se resumia na construção de uma catedral da qual ele não havia visto ser colocada nem a primeira pedra e nem veria a conclusão. E isso exigiria necessariamente a transmissão dos conhecimentos sobre as obras. Assim, os Companheiros, mais antigos, formavam os mais jovens, os Aprendizes. Eram homens simples, analfabetos, não tinham sequer um sobrenome: eram João, o Construtor ou Edwin de Chester. Havia lojas que davam apoio ao edifício em construção, onde se guardavam as ferramentas, onde se descansava, onde se conversava sobre os problemas da obra e os projetos do dia seguinte. Temos algumas descrições sobre isso. Havia também planos, utilizando-se o solo nivelado para desenhar o esquemas ou modelos. Havia uma ordem social e religiosa, onde os clérigos eram essenciais.

Para organizar os contingentes de pedreiros, escreveram textos e regulamentos, e para dar significado ao trabalho destes homens, procuraram nas antigas crônicas, incluindo Pierre Comestor e Polychronicon, para escrever uma história que seria a dos Maçons. Sabemos bem que o poema Regius foi escrito provavelmente por um sacerdote do Priorado de Lanthony. É dele que constava o famoso ensinamento das lojas operativas, além, é claro, o conhecimento específico para o exercício de própria profissão, de forma natural e sem mistério. Havia também alguns costumes, certas cerimônias de caráter religioso, como tudo na Europa da Idade Média. Um trabalhador de um canteiro de obras jurava respeitar a Deus, à Santa Igreja, ao seu Rei e ao Mestre da obra, onde a Bíblia lhe era apresentada.

Eis tudo o que é conhecido das lojas inglesas operativas da Idade Média ou seja, canteiros de obras que duravam anos, até décadas, que nasciam, viviam e morriam pedreiros. Isso é tudo que sabemos, porque certamente é tudo o que existe para se saber. A hipótese de uma rede desconhecida de lojas iniciáticas e secretas, cuja existência e ensinamentos teriam escapado aos olhos do historiador é absolutamente insustentável, pelo menos quando nos esforçamos para permanecer no campo da história.

A partir dos século XV e depois no século XVI, em função da Reforma, o Ofício sofreu profundas transformações: muitas grandes obras, muitas catedrais, e os pedreiros foram cada vez mais servindo aos particulares, nobres e burgueses da época, e o faziam sozinhos ou com outros companheiros. O patrão agora era chamado de Mestre. A loja não tinha mais razão de ser, pois o novo tipo de obras não a tornava necessária. Isso explica por que as lojas operativas não deixaram quaisquer vestígios na Inglaterra: porque não existiam…

Porém nem tudo era fácil,  porque havia muitos pedreiros e naqueles tempos a doença podia atingir a qualquer momento, em qualquer lugar, e não  existia proteção social, pelo menos fora da Igreja. E esta é a razão pela qual, em toda a Europa, em todos os burgos, em todas as cidades, em todos os ofícios – não só o dos pedreiros – se desenvolveu mais a solidariedades natural, muitas vezes baseadas em uma profissão ou grupo social, o que se supõe ser a base das irmandades, e cujo objetivo principal objetivo era a assistência mútua: Mutualidade e Beneficência. Mantinha-se um fundo de dinheiro em comum e assim podia-se conseguir um enterro decente para uma pessoa falecida e apoiar até certo ponto sua viúva e seus filhos, ou buscar emprego para aqueles que estavam temporariamente privados dele. É isso que provavelmente Sir Robert Plot evoca, em 1686, em seu livro História natural de Staffordshire, quando menciona o testemunho, quase único para época, de uma organização chamada Maçonaria que diz que “funciona em todo o país“. A descrição que ele dá corresponde mais a uma sociedade fraterna de ajuda mútua a trabalhadores em dificuldades. Não menciona coisa alguma sobre o resto.

Em Londres, a poderosa Companhia dos Maçons, especifica da capital, durante o século XVII acolhia benfeitores escolhidos entre os notáveis da cidade, visando a enriquecer o seu fundo de ajuda. Essas irmandades municipais ainda existem, e algumas delas não mudaram sua vocação original: não eram Operativas, e, no entanto, não se tornaram especulativas, pois essa seria uma mudança muito radical.

Essa era a situação até o final do século XVII, na Inglaterra.

Em Londres, no início do século XVIII, pouco antes da primeira reunião da primeira Grande Loja, descobrimos algumas raras lojas – havia apenas quatro em 1717 – cuja composição e atividade parecem corresponder em muitos aspectos ao esquema mencionado de alguma atividade mutualista e caritativa.

Ignoramos, neste momento, que usos rituais tinham ou seguiam as diferentes lojas. Tudo leva a pensar que eram muito simples, como a loja onde Elias Ashmole foi iniciado ouvindo a leitura de um manuscrito dos Antigos Deveres e fez seu juramento.

Havia a Escócia, distante e brumosa, inimiga hereditária e tão diferente da Inglaterra.

Não se sabe muito como os pedreiros estavam organizados naquele pequeno país, muito pouco povoado e muito pobre, onde as catedrais não eram numerosas como na Inglaterra. Sabe-se, contudo, que até o final do século XVI, um alto funcionário do estado escocês, William Schaw, concebeu uma organização administrativa radicalmente nova, regulamentando de forma muito precisa os grupos de pedreiros, legislando sobre suas relações com os Mestres – os patrões – e agrupados em poderosos sindicatos municipais chamados Incorporations.

Os pedreiros já não eram livres na organização de Schaw, uma vez que deviam estar, necessariamente, ligados a uma seção territorial, uma instância precisa que, retomando o uso de uma antiga palavra presente na tradição do Ofício, recebeu o nome de loja, dando-se a ela, no entanto, um novo significado e um sentido muito distinto. Como seus colegas ingleses, os escoceses tinham a prática de receber em suas lojas, como patronos, protetores e benfeitores, personalidades que não retornavam novamente à loja, mas que podiam ajudar o Ofício, às vezes dando trabalho aos trabalhadores. Estes Cavalheiros Maçons, como eram chamados na Escócia (nunca por outro nome), não tinham qualquer vínculo duradouro com as lojas, pois nada tinham a fazer nelas e, por outro lado, também não eram incentivados a participar de suas reuniões, que por sua vez, eram raras, visto que as lojas escocesas se reuniam uma ou duas vezes por ano, no máximo, para tratar de assuntos administrativos.

A Escócia é um país singular. Conquistada em 1560 por um calvinismo radical, mas habitada por homens curiosos e apaixonados por filosofia e misticismo, e que muitas vezes gozavam da proximidade de um rei. Dentre eles se inclui o próprio W. Schaw. Foi lá que, em meados do século seguinte, se encontrava também outra personalidade maçônica: Robert Moray. Alguns deles estavam entre os Cavalheiros Maçons que, como já foi dito, nunca voltavam a colocar os pés na loja em que foram recebidos. No entanto, havia algo que lhes interessava vivamente: um ritual e uma tradição.

Nessa época, nas Ilhas Britânicas assim como em todo o continente, esses elementos eram essenciais na vida social. Muitos eventos sociais eram ritualizados, muitas vezes com uma evidente conotação religiosa. Assim, os pedreiros escoceses recebiam os Aprendizes e Companheiros com a ajuda de um ritual, embora muito rudimentar, com base no qual prometiam proteger os segredos do reconhecimento e que lhes permitiam garantir o privilégio de emprego e a proteção da ajuda mútua aos pedreiros devidamente registrados, e não aos Cowans, como chamavam na Escócia os pedreiros independentes, ou aqueles que não estavam filiados a qualquer loja. Todo o segredo se justificava desta forma, puramente utilitária, mas que era essencial em um país pequeno, onde a vida era difícil e o emprego extremamente raro.

Alguns dos Cavalheiros Maçons ávidos por investigações filosóficas, e eram muito sensíveis ao eco do neoplatonismo renascentista e às proclamações misteriosas dos primeiros manifestos Rosacruzes na segunda década do século XVII, queriam poder se reunir para fazer deles o objeto de seus trabalhos e pesquisas. Por uma questão de discrição, por gosto pelo mistério, pela sedução dos rituais estranhos e antigos que haviam conhecido, talvez tenham decidido se agrupar tomando emprestadas as formas simbólicas e rituais dos pedreiros escoceses – que também partilhavam um segredo – embora soubessem que o segredo dos pedreiros não fossem profissionais e operativos. Estes grupos eram poucos e errantes e independentes entre si. Esta era a situação na Escócia e também no norte da Inglaterra, como mostra o caso Ashmole, em meados de final do século XVII.

Observe-se aqui que o problema principal é, então, explicar como em princípios do século XVIII, em Londres, aparece, quase saída do nada documental, uma Maçonaria não operativa, que já não estava ligada à profissão de pedreiro, mas organizada em padrões muito próximos dos padrões da Maçonaria Escocesa.

O elo perdido deve ser encontrado. Fará com que um dia se encontrem maçons livres, sem lojas como Ashmole e Moray, de ascendência escocesa direta ou indireta e de lojas livres, como a Masonry inglesa descrita no final do século XVII por Robert Plot. Note-se que o efeito é como o de um jogo de transparências onde se sobrepõem estes dois aspectos das origens profundamente diferentes e, com isso, se obtém um retrato bastante preciso da primeira Maçonaria inglesa dos anos 1717-1723. Indicam que uma data importante, 1707, não deve ser negligenciada. É o Ato de União, que transformou definitivamente a Escócia e a Inglaterra em um único reino, o que, finalmente, permitiu uma abertura real, embora lenta e desconfiada de cada um dos países com relação ao outro.

Recordemos, finalmente, apenas para abrir uma última pista e arriscar mais uma abordagem, que um dos protagonistas, se não o mais importante pelo menos o mais conhecido desta primeira Maçonaria Inglesa, foi o pastor Anderson, de origem escocesa, nativo de Aberdeen, e cujo pai tinha pertencido à loja daquela cidade…

Paro por aqui.  Queria, depois de ter estudado arquivos, documentos e testemunhos, contar-lhes uma história, esperando que ela não ficasse muito longe da história real. Sombras passaram diante de nossos olhos, séculos transcorreram, e as antigas gerações viveram sem ser capazes de nos desvendar totalmente seu mistério. Embora o véu tenha sido parcialmente levantado, uma parte obscura ainda permanece: saibamos respeitá-la e não nos entreguemos às quimeras.  A busca das origens é sempre um desafio: às vezes o historiador deve renunciar provisoriamente ao seu direito de entender tudo, mas nada o impede, como homem, de continuar esperando tudo.

Autor: Roger Dachez
Tradução: José Filardo
Revisão: Sergio Jerez

Fonte: REVISTA BIBLIOT3CA

Notas

[1] – Hápax, em português. Palavra ou expressão de que só existe um único exemplo, em determinada língua, época ou autor. N.T.

[2] – Este projeto ainda está em curso. N.T.

 

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Memória na Loja: um recurso mnemônico da Maçonaria no final do século XVIII

Resultado de imagem para st mary's cathedral, edinburghSt Mary's Cathedral, Edinburgh

“As ferramentas e implementos da arquitetura, símbolos os mais expressivos!
Imprimir verdades sábias e sérias na memória, e transmiti-las inalteradas,
através de uma sucessão de eras, os excelentes princípios desta instituição.” William Preston, Ilustrações de Maçonaria (Londres, 1772)

A tradição da memória artificial na Idade Média e da Renascença, muitas vezes tratada como mera curiosidade pelos historiadores anteriores, tornou-se agora um dos temas-chave em muitas áreas da história intelectual amplamente definida[1]. Embora a aplicação dessa arte à retórica tenha sido comparativamente bem entendida, muito menos se sabe sobre o papel das mnemotécnicas e de seus tipos, conforme utilizados entre os grupos sociais que não deixaram fontes escritas. Estes são primariamente artesãos e oficiais de ofício que tiveram que memorizar frequentemente processos tecnológicos complexos sem os escrever, pois eles geralmente eram analfabetos e, ainda mais importante, tinham que proteger os segredos de sua arte de cair nas mãos de terceiros. Foi somente na Renascença que manuais detalhados expondo todos os segredos comerciais começaram a ser publicados e, assim, o papel das corporações começou a mudar de repositórios de memória artesanal para organizações de educação profissional e controle de qualidade. Mas muitas guildas continuaram a promulgar os rituais de aceitação de novos membros, muitas vezes acompanhados de palestras sobre as origens míticas de seu ofício e a importância simbólica de suas ferramentas de ofício.

Um dos ofícios medievais mais avançados tecnologicamente era o dos pedreiros, construtores de castelos e catedrais góticas. E um dos desenvolvimentos socioculturais mais misteriosos no início da Europa moderna foi a transformação, durante os séculos XVI e XVII, das guildas de pedreiros medievais em um movimento intelectual conhecido como maçonaria. Não há praticamente nenhuma fonte documentando a passagem de “lojas operativas”, cujos membros eram genuínos artesãos, para “lojas especulativas” onde as tradições da arte da construção permaneciam apenas nos aspectos ritual e simbólico, enquanto os membros eram recrutados principalmente entre cavalheiros e cidadãos ricos. As poucas fontes que sobrevivem são enigmáticas o suficiente para tornar a reconstrução do processo impossível além de hipóteses mais ou menos plausíveis.

As teorias das origens da maçonaria podem ser divididas em três grupos, cada um dos quais enfatiza o papel da memória, mas em seus diferentes aspectos:

1 – O mito tradicional das origens dentro da maçonaria regular que remonta suas raízes aos tempos bíblicos e à construção do templo do rei Salomão. Essa lenda, envolvendo o arquiteto Hiram Abiff e outro Hirão, rei de Tiro, é repetida em toda iniciação maçônica e interpretada em termos alegóricos. Ao mesmo tempo, Euclides e Pitágoras são lembrados como inventores da geometria e da matemática, bem como outros sábios antigos que contribuíram para a arte da construção. Diz-se que os segredos da arte, símbolos e rituais foram passados de uma geração de maçons para a seguinte, junto com os ensinamentos éticos sobre fraternidade e ajuda mútua dentro das guildas;

2 – A opinião acadêmica atual tende a ver o desenvolvimento da maçonaria como um processo lento resultante da falta de demanda por trabalho de pedreiro na Escócia do século XVI, quando igrejas góticas e castelos não eram mais construídos e as guildas de pedreiros tinham que procurar nobres patronos ricos para sobreviver. Assim, eles aceitavam os não-pedreiros em suas lojas, oferecendo um lugar onde as discussões sem censura poderiam ser realizadas com segurança em tempos politicamente perigosos, por um lado, e divulgando segredos importantes dos quais eles eram custodiantes de outro[2]. Embora essa teoria seja amplamente aceita por estudiosos não-maçons, há muitos problemas com ela. Alguns historiadores acreditam que aceitar estranhos em lojas maçônicas por razões puramente sociais se espalhou na Escócia (e isso também era conhecido em outros países, incluindo a Polônia)[3].suas estruturas organizacionais e formais, bem como a atitude religiosamente neutra só foram introduzidas quando a prática chegou à Inglaterra[4]. Isto é adicionalmente substanciado pelo fato de que os dois primeiros membros conhecidos de lojas maçônicas na Inglaterra, Sir Robert Moray (1609-1673, iniciado em 1641) e Elias Ashmole (1617-1692, iniciado em 1646), também foram os membros fundadores da Royal Society em 1661, e o primeiro foi seu primeiro presidente. Ao mesmo tempo, ambos eram, assim como alguns outros membros iniciais, muito interessados em alquimia, astrologia e hermetismo renascentista;

3 – Um grupo inteiro de teorias traça os primórdios da maçonaria até o Egito, Mistérios Antigos de Elêusis, a Ordem dos Cavaleiros Templários, Rosacruzes ou vários outros grupos, reais ou imaginários. Todas elas foram “inventados” no século XVIII em que a maçonaria, depois de se espalhar pelo continente, se ramificou em muitos ritos irregulares e absorveu grande parte dos ensinamentos de várias correntes esotéricas de séculos anteriores. Ela tornou-se assim o guardiã do conhecimento arcano de uma ampla gama de fontes, transmitindo-o como segredos comunicados aos membros durante as iniciações em um número crescente de graus.

Pode-se dizer que a lenda tradicional representa a memória mítica (religiosa), a hipótese acadêmica é uma tentativa de redescobrir a memória material real (científica), que é estranhamente entrelaçada com as origens da própria ciência ocidental, enquanto o grupo final de teorias frequentemente improváveis mostram a atitude simbólica (mágica) que permite qualquer coisa que pareça intuitivamente correta.

Considerando o atual interesse acadêmico na arte da memória e o fato de que ela se baseava na imaginação arquitetônica, exigindo que o praticante criasse uma imagem interna de um edifício, é surpreendente que muito poucos historiadores tentassem vincular as duas áreas de pesquisa. A principal razão para tal negligência foi certamente o fato de que praticamente não existem fontes sobre os modos como a memória artificial foi aplicada por maçons operativos ou maçons especulativos. Trabalhos de referência maçônicos padrão não mencionam nenhum ensinamento ou técnica relacionada à memória, apenas dizendo que rituais e ensinamentos precisam ser memorizados, de modo que os historiadores maçônicos também não estavam interessados[5].

As primeiras tentativas de ligar a franco-maçonaria e a arte da memória foram, sem surpresa, as de Frances A. Yates[6]. Já em seu livro sobre Giordano Bruno, ela sugeriu uma possível influência da tradição hermética na mitologia maçônica[7]. O contexto já era o da arte da memória, pois ela via Bruno como a principal fonte de influência intelectual sobre Robert Moray e Elias Ashmole. Ela desenvolveu o tema em seu livro agora clássico sobre a arte mnemônica, onde apresenta uma hipótese de que o segredo da maçonaria estava usando não a arquitetura material de pedreiros operativos, mas o que ela chama de “arquitetura imaginativa ou especulativa” da arte da memória para transmitir seus ensinamentos hermeticamente inspirados[8]. Em seu livro posterior, ela elaborou sobre a possível relação entre os Rosacruzes do início do século XVII e a maçonaria posterior, subscrevendo assim ao terceiro grupo de hipóteses listadas acima, mas desta vez sem recorrer à arte da memória[9].

As pistas fornecidas por Yates foram retomadas por David Stevenson, cujo livro sobre o início da história da franco-maçonaria na Escócia é baseado em uma pesquisa meticulosa de todas as fontes existentes sobre pedreiros escoceses[10]. Mais importante para o nosso tópico, ele propôs uma reinterpretação de um fragmento do conhecido Segundo Estatuto de Schaw. William Schaw (ca. 1550-1602) foi o Mestre de Obras na corte de Jaime VI, nomeado para o cargo em 1583 e, portanto, responsável por todos os projetos de construção reais. Parece que ele tentou uma reorganização das guildas maçônicas na Escócia, emitindo dois conjuntos de estatutos em 1598 e 1599, que regulamentavam não apenas as obrigações e deveres formais dos pedreiros, mas também questões de segurança e educação. Todo aprendiz tinha que escolher um tutor que lhe ensinasse os segredos do ofício que tinham que ser memorizados e “nunca devem ser escritos”. E o vigilante da loja deveria “julgar a arte da memória e da ciência dela de todos os companheiros e de todos os aprendizes”. Historiadores maçônicos inicialmente trataram essa frase como se referindo simplesmente à necessidade de lembrar as lições aprendidas, mas Stevenson apontou que ela claramente significava a arte da memória como uma habilidade mnemotécnica. Como ele colocou, “essa única frase curta fornece uma chave para entender os principais aspectos das origens da maçonaria, ligando o ofício de maçom operativo aos poderosos esforços do mago Hermético”.

O mago mencionado por Stevenson é o próprio Giordano Bruno. Embora nunca tenha visitado a Escócia, seu amigo e discípulo Alexander Dickson (1558-1604), um cortesão de James VI, publicou um tratado sobre a arte hermética da memória em 1584 e também deu lições particulares sobre sua versão clássica para necessidades puramente práticas. Havia também William Fowler, poeta e secretário da rainha da Escócia, que escreveu um tratado sobre a arte da memória e também a ensinou a James VI. Ambos deviam ter conhecido William Schaw muito bem, especialmente porque ele também era o camareiro da rainha. É, portanto, bastante provável que a arte da memória, tanto em suas versões hermética quanto pragmática, estivesse em moda na corte de Edimburgo, e o interesse do Rei por ela certamente influenciou outros. Quando William Schaw tentou uma reorganização das guildas de pedreiros, ele pode ter reforçado o treinamento naquela arte para o aperfeiçoamento do ofício. A influência de Dickson e o interesse geral em ideias ocultistas e herméticas na corte escocesa provavelmente motivaram Schaw a infundir a nova estrutura de lojas maçônicas com elementos da arte hermética de Bruno e assim iniciar a corrente especulativa da maçonaria. Versões da arte clássica e medieval da memória podem muito bem ter sido usadas pelos pedreiros, bem como outros ofícios, muito antes, embora não haja praticamente nenhuma evidência documentada disso.

As hipóteses de Stevenson foram desenvolvidas por outros, principalmente por Vaughan Hart e Marsha Keith Schuchard, que acrescentaram mais detalhes e mais argumentos[11]. Especialmente a contribuição do último autor expandiu a visão da maçonaria antiga para incluir técnicas de visualização arquitetônica cabalística, máscaras herméticas e as conexões dos Cavaleiros Templários. Enquanto muitas das declarações ousadas de Schuchard foram subsequentemente criticadas[12] (assim como tinham sido as de Frances Yates), ela pintou uma imagem muito detalhada e internamente consistente. Ela aponta para a possibilidade de os maçons escoceses terem utilizado a versão de Ramon Lull da arte da memória trabalhando na famosa Capela Rosslyn[13]. Ela encontra o elo perdido entre Lull e Bruno na formação da antiga mnemotécnica maçônica oculta em Girolamo Cardano (1501-1576), o grande matemático e astrólogo, mas também um proeminente expoente da arte da memória, que ele via como uma maneira importante de melhorar o mau estado das artes e ofícios. Ele visitou a Escócia em 1552, a pedido de John Hamilton, o arcebispo de St. Andrews, um importante patrono dos pedreiros[14].

Resumindo, a imagem desse movimento crucial da maçonaria operativa para a especulativa que emerge da “escola” de Yates, Stevenson, Hart e Schuchard é bastante fascinante. Pedreiros foram introduzidos à arte da memória como uma ajuda para melhorar seu ofício e encontraram o uso de estrutura arquitetônica atraente para memorizar segredos de ofício. Como seus professores estavam muito preocupados com a versão hermética da arte, os pedreiros também a aplicaram à busca por mais sabedoria oculta e usaram técnicas cabalísticas de visualização arquitetônica. A loja maçônica escocesa primitiva pode, assim, ter sido um virtual Templo da Memória, um Templo de Salomão imaginário com lugares de memória fixos e um reservatório de imagens simbólicas a serem colocadas naqueles loci. O ritual de iniciação teria envolvido a construção de tal templo dentro da imaginação coletiva dos artesãos, incorporando grande parte das tradições herméticas e cabalísticas da mágica da visualização.

Embora essa teoria, com sua escassa base de fontes, exija que alguma imaginação se torne aceitável, ela parece, no entanto, explicar muito dos desenvolvimentos posteriores, bem documentados, dos rituais maçônicos e seu uso de símbolos. As ferramentas dos pedreiros se tornaram idealizadas e seus significados foram explicados de maneira verdadeiramente neoplatônica, muito parecida com a arte hermética da memória. As palestras dadas aos candidatos nas cerimônias de iniciação do século XVIII seguiam uma sequência de símbolos exibidos em um tapete pintado ou prancha de traçar. Curiosamente, o termo latino tractare, da qual deriva a palavra inglesa “traçar”, era usado no escolástico medieval ars memoriae para denotar “coleta” de objetos de memória em locais de memória[15]. Também se pode dizer que a arquitetura e mobiliário de uma Loja Maçônica Moderna servem como um edifício de memória ou teatro de memória, onde objetos são trazidos em pranchas de traçar para facilitar a visualização dos iniciados e explorar o mundo ideal por trás dos símbolos.

Tal abordagem do significado e ritual de maçonaria, com suas raízes na magia hermética neoplatônica e técnicas de visualização cabalística, ainda pode ter sido praticada no século XVII na Inglaterra, quando o auge da Revolução Científica era paralelo a um novo surto de interesse pela alquimia e pelo ocultismo. Muitas vezes, os líderes de ambos os movimentos intelectuais também eram maçons, como mais bem exemplificado por Sir Robert Moray e Elias Ashmole mencionados anteriormente. Mas durante o Século XVIII algo aconteceu e o mundo imaginal (para usar o termo de Henri Corbin) dos templos da memória deu lugar à aprendizagem mecânica. Não se esperava mais que os candidatos criassem construções simbólicas para lembrar os ensinamentos e segredos do ofício, mas apenas recitá-los. Essa mudança da memória imaginária baseada em símbolos para a memória literal baseada em texto é mais bem exemplificada pelo surgimento de um novo tipo de auxílio mnemotécnico na virada do século XVIII e XIX que, até onde sei, nunca foram estudados.

Eu tenho um pequeno livro que comprei há 25 anos em uma livraria de segunda mão como uma curiosidade. O tipo de letra, papel e encadernação de couro macio parecem do final do século XVIII ou início do XIX, mas nenhum impressor ou editor é exibido. O texto consiste no que parece um código – sequências de letras que não fazem sentido algum. Existem dois parágrafos desse texto no que parece ser a página de título, seu verso está em branco e, então, seguem 39 páginas paginadas, com duas folhas em branco de um tipo diferente de papel encadernado entre cada duas páginas. As páginas 37-39 contêm três parágrafos de texto simples em inglês sobre os três grandes princípios da maçonaria: amor fraternal, ajuda e verdade. O texto é dividido em capítulos com títulos de “1º C. – 1º. S.” a “6º C. – 2º S.”, o que torna fácil decodificar como a estrutura tradicional das cerimônias de iniciação para cada um dos três graus tradicionais. A estrutura dividida em Seções e Cláusulas foi projetada (ou pelo menos publicada pela primeira vez) por William Preston em 1772 e foi a base para todas as variantes posteriores[16]. A variante notável foi publicada por Thomas Smith Webb em 1797 e tornou-se a versão padrão dos rituais nos Estados Unidos[17]. Como o número de seções diferia e meu livro que contendo apenas duas seções se ajusta ao número daqueles no segundo grau (o de companheiro) na versão de Webb, é possível que o livro seja de proveniência americana e não britânica.

Minha cópia tem um selo de propriedade de uma loja maçônica alemã “Bibl[iothek] der [dois cruzamentos rombs = Loge] z. R. ” e um número de telefone da biblioteca“ Nr. 983. ” Na página em branco voltada para a página 5 (início da Cláusula 2 na Seção 1), há uma nota manuscrita de cinco linhas em que cada palavra começa com letras sucessivas do texto impresso. Ele faz parte do ritual em perguntas e respostas:

[em branco para duas palavras combinando “Ps”, possivelmente “por favor, diga”] você é um maçom?

Eu sou assim considerado e aceito entre Irmãos e Companheiros.

Como você dá a conhecer que é um maçom?

Pela regularidade em minha iniciação _ por repetidas provas e aprovações _ e por minha disposição de passar por um exame quando [palavras faltantes para “dcu ftp”]

Isso geralmente é parte do ritual de iniciação do aprendiz, de modo que o livro não parece corresponder ao número de seções de Preston nem de Webb.

Mostrou-se bastante difícil descobrir algo sobre o uso de tais livros na maçonaria. Os trabalhos padrão de referência maçônica não ajudaram muito, mas as publicações de exposição antimaçônicas encontradas na Internet forneceram uma pista[18]. Como  pode ter sido esperado, é uma ferramenta mnemotécnica para aprender o ritual e é informalmente chamado de “livro de cifras”. Aparentemente, esses livros são usados apenas na franco-maçonaria americana. Minhas pesquisas junto à Quatuor Coronati Lodge (conhecido por sua pesquisa sobre a história da maçonaria) e a Biblioteca e Museu da Maçonaria em Londres foram de pouca ajuda – tais auxílios aparentemente eram desconhecidos lá[19].

A explicação final do que parece ser um segredo bem guardado da franco-maçonaria americana foi finalmente encontrada em um artigo de Henry Carr, ex-editor do Transações de Ars Quatuor Coronatorum, a revista da loja de pesquisa mencionada acima[20]. Depois de sua visita aos EUA, ele observou que a prática de memorizar o ritual é bem diferente daquela na Inglaterra ou na Europa. Em alguns estados (Pensilvânia e Califórnia) nenhum ritual escrito ou impresso é permitido e os rituais são ensinados “de boca a orelha” apenas, em classes especiais para candidatos. Onde livros de rituais são permitidos, eles “devem ser bastante difíceis de obter” e são impressos em cifra:

Parece haver quatro cifras diferentes que são usadas principalmente. Uma das mais populares é um tipo de código “geométrico”, composto de linhas retas, curvas, ângulos e símbolos, que parecem muito difíceis, mas são, de fato, bastante fáceis de interpretar. Em muitas jurisdições, um código de duas letras é usado; geralmente as primeiras e últimas letras de cada palavra, mas ocasionalmente as duas primeiras letras de cada palavra. Esses dois códigos são bastante difíceis de ler até que se comece a ter um conhecimento justo da “palavra esperada”; mas assim que as frases se tornam familiares, os códigos de duas letras são muito fáceis de ler. O mais difícil de tudo é o código de uma letra, no qual apenas a primeira letra de cada palavra é usada, e isso é absolutamente aterrorizante, quase impossível de ler até que se tenha adquirido um conhecimento real do ritual.

Comparando com a situação na Inglaterra, onde o candidato tem que responder apenas “oito ou nove perguntas, geralmente impressas em cartões em linguagem direta, com talvez uma ou duas palavras omitidas”, Carr fica bastante chocada com a prática americana onde, por exemplo, o candidato para passar ao segundo grau “tem que responder cerca de setenta e sete perguntas, e recitar a obrigação de cor”, e os exames de rituais para outros graus sempre têm mais de quarenta perguntas.

Tudo isso seria difícil o suficiente se o P. & R. foram impressos em linguagem direta, mas eles não são. Naquelas jurisdições em que não são permitidos rituais impressos, os candidatos devem frequentar “Classes de instrução”, geralmente sob os cuidados do S.’.Vig.’. ou do P.’.Vig.’., até que tenham aprendido seu trabalho “de boca a orelha”. Em outros lugares, eles aprendem seu trabalho nos livros cifrados. Eu tenho um conjunto de “Testes de Proficiência” conforme usado em Rhode Island, em seu código de uma letra e eles são simplesmente aterrorizantes. Eu tenho sido Preceptor por muitos anos, e mesmo eu acho difícil ler. […] Eu acredito que é justo dizer que os Maçons Americanos, no curso de passar seus “Testes de Proficiência” em todos os três graus, adquirem um conhecimento muito mais amplo das cerimônias e especialmente do seu significado simbólico, do que nossos candidatos conseguem na Inglaterra.

Portanto, é possível que meu livro, que está em código de uma letra, venha originalmente de Rhode Island ou de outro estado em que essa cifra é ou era usada. O fato de Henry Carr ter ficado surpreso ao descobrir tais práticas nos Estados Unidos (chamando-as de “aterrorizantes” várias vezes) explica por que foi tão difícil descobrir que tipo de livro era perguntando às instituições maçônicas de Londres.

Há, no entanto, um ponto mais importante que já expus acima. O uso dessas ajudas mnemotécnicas na Maçonaria Americana marcou a mudança da arte de memória tradicional e hermeticamente tingida, com sua base arquitetônica e imagens simbólicas de objetos de memória significando as verdades ideais, para a aprendizagem repetitiva de cadeias de caracteres prescritas que podem ser desprovidas de qualquer significado espiritual. Mas, em vista da opinião de Carr, a situação na maçonaria europeia, no que diz respeito à sua atitude em relação à memória nas lojas, é ainda pior. Eles não precisam memorizar nem mesmo os textos de seus rituais. Eles se afastaram das próprias raízes do movimento maçônico – se aceitarmos a teoria de Yates-Stevenson-Hart-Schuchard sobre o papel que a arte da memória desempenhou nas origens da franco-maçonaria.

Seria difícil traçar o momento preciso em que o cordão umbilical foi cortado. Os autores maçons do século XVIII usavam frequentemente expressões que se referiam claramente à arte tradicional da memória. Por exemplo, nas Constituições de James Anderson, o documento base da moderna maçonaria, encontramos uma música sobre a história da maçonaria que começa:

Adam, o primeiro da humanidade,

Criado com Geometria

Impressa em sua Mente Real,

Logo Instruiu sua Descendência.[21]

O motivo “impressa na memória” também pode ser encontrado nos manuais de Preston e Webb. O primeiro explica que as verdades e princípios ensinados na fraternidade são “impressos na memória por imagens vivas e sensíveis”. E então continua:

Tudo o que chama a atenção aos olhos mais imediatamente atrai a atenção e imprime na memória verdades sérias e solenes. Os maçons, portanto, adotaram universalmente o plano de inculcar os princípios de sua ordem por meio de figuras típicas e emblemas alegóricos, para evitar que seus mistérios descessem ao alcance familiar de noviços desatentos e despreparados, de quem eles talvez não recebam a devida veneração.

Imprimir a verdade solene na memória usando emblemas alegóricos é o que a maçonaria era originalmente. Mas na virada dos séculos XVIII e XIX a fraternidade parece ter perdido estas “chaves de Hiram para o Templo de Salomão” e reverteram ao aprendizado mecânico daquilo que se tornou palavras vazias, desprovidas do poder com que Girolamo Cardano e Giordano Bruno pretendiam carregá-las.

Autor: Rafal T. Prinke
Tradução: José Filardo

Fonte: Bibliot3ca Fernando Pessoa

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Notas

[1] – Para uma visão geral útil, consulte: John Michael Krois, “Ars Memoriae, Filosofia e Cultura: Frances Yates e depois ”, em Filosofia e Cultura. Ensaios em honra a Donald Phillip Verene ed. Glenn Alexander Magee (Charlottesville, Virgínia: Philosophy Documentation Center, 2002), 149-162; Rafał Wójcik, “Wstęp”, em idem, Opusculum de arte memorativa Jana Szklarka. Bernardyński traktat mnemotechniczny z 1504 roku (Poznań: Biblioteka Uniwersytecka, Wydawnictwo Poznańskie Studia Polonistyczne, 2006), 9-16.

[2] – David Stevenson, As origens da maçonaria: Século da Escócia, 1590-1710 (Cambridge: Cambridge University Press, 1990).

[3] – Jerzy Wisłocki, Organizacja prawna poznańskiego rzemiosła w XVI i XVII wieku, Prace Wydziału Prawa 9 (Poznań: UAM, 1963), 64.

[4] – Margaret C. Jacob, Vivendo o Iluminismo: Maçonaria e política na Europa do século XVIII (Oxford: Oxford University Press, 1991); eadem, As origens da maçonaria: Fatos e Ficções (Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2007).

[5] – Albert G. Mackey, Enciclopédia Revisada da Maçonaria de Mackey(Richmond, VA: Macoy Publishing & Suprimento Maçônico, 1966); Henry W. Coil, Enciclopédia Maçônica da Coil (Richmond, VA: Macoy Publishing & Masonic Supply, 1996).

[6] – Outros trabalhos padronizados sobre a arte da memória não mencionam nada de maçonaria. Ver: Paolo Rossi, Lógica e a Arte da Memória. A busca por uma linguagem universal, trans. Stephen Clucas (Londres: The Athlone Press, 2000); Mary Carruthers, O livro da memória: Um estudo da memória na cultura medieval, Cambridge Studies in Medieval Literature 10 (Cambridge: Cambridge University Press, 1992); eadem, O Ofício do Pensamento: Meditação, Retórica e Criação de Imagens, 400-1200, Cambridge Studies in Medieval Literature 34 (Cambridge: University Press, 1998).

[7] – Frances A. Yates Giordano Bruno e a tradição hermética (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1964, nova ed. 2002), 450-451.

[8] – Frances A. Yates A arte da memória (Chicago: University of Chicago Press, 1966), 303-305. Edição polaca: Sztuka pamięcitrans. Witold Radwański (Warszawa: Państwowy Instytut Wydawniczy, 1977), 303-305.

[9] – Frances A. Yates A Iluminação Rosacruz (Londres: Routledge & Kegan Paul, 1972, nova ed. 2003), 262-277.

[10] – David Stevenson, As origens da maçonaria, 87-95

[11] – Vaughan Hart, Arte e Magia no Pátio dos Stuarts (London: Routledge, 1994), 79-83; Marsha Keith Schuchard, Restaurando o Templo da Visão: Cabalístico. Maçonaria e Cultura Stuart Estudos da História Intelectual 110 (Leiden: EJ Brill, 2002).

[12] – Veja especialmente o artigo de revisão: Andrew Prescott, “Maçonaria Stuart: Restaurando o Templo da Visão? ” Áries 4 (2004): 171-183, e a resposta do autor: “Resposta à revisão de Prescott”, ibid., 184-202.

[13] – Schuchard, Restaurando o Templo da Visão118.

[14] – Ibid., 157-161.

[15] – Carruthers, A Arte do Pensamento 16.

[16] – William Preston, Ilustrações de Maçonaria (Londres, 1772). Houve 12 edições até 1812.

[17] – Thomas Smith Webb, O monitor do maçom ou, ilustrações de maçonaria (Nova York, 1797).

[18] – Efésios 5:11, Inc., “Rituais Maçônicos para a Loja Azul”, disponível em http://www.ephesians5-11.org/masonicritual.

[19] – Meus agradecimentos são especialmente devidos a Martin Cherry e Emily Greenstreet, da Biblioteca e Museu da Maçonaria de Londres. Essa última encaminhou minha consulta ao seu antigo bibliotecário, Terry Haunch, cujos comentários recebi depois que este artigo fora enviado aos editores. A conclusão deles confirma que o texto por trás do código pode ser uma versão inicial pirateada da “Palestra sobre o Primeiro Grau de Maçonaria” de Preston. Uma tentativa de restaurar o desenho da versão original de todo o material existente foi publicada por P.R. James em Transações de Ars Quatuor Coronatorum 82 (1969): 104-155, e em muitas secções é idêntica ou similar à versão codificada.

[20] – Harry Carr, “Maçonaria nos EUA”, em Mundo da Maçonaria de Harry Carr: Os Documentos Coletados e Palestras de Harry Carr (London: Lewis Masonic, 1983), 145-162.

[21] – James Anderson, As Constituições dos Maçons Livres ed. Benjamin Franklin (Philadelphia, 1734), 81. William Preston, Ilustrações de Maçonaria (Londres, 1772). (Londres, 1775), 57, 68-69.

A Maçonaria Operativa e Especulativa: uma discussão em torno das origens da Ordem

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Introdução

O debate em torno das origens da Maçonaria sempre atraiu enorme interesse por parte dos especialistas maçons e não maçons e dos leigos de uma maneira geral. Contudo, determinar as verdadeiras raízes históricas da Ordem sempre foi um obstáculo aparentemente insuperável, pois fatos verídicos muitas vezes aparecem fundidos a uma enorme variedade de elementos lendários. Deste modo, como sugeriu o historiador Alexandre Mansur Barata (2006), o primeiro exercício, no sentido de uma melhor compreensão da procedência da Ordem, é adotar um novo olhar para a vasta literatura produzida, em sua maioria, pelos próprios maçons desde o início do século XVIII. Para legitimar sua atuação, os maçons buscavam em “tempos imemoriais” o inicio da instituição, o que era reforçado pela ritualística e simbolismo utilizados em suas reuniões. Desta forma, os maçons do século XVIII se auto-retratavam como herdeiros diretos dos egípcios antigos, dos essênios, dos druidas, de Zoroastro, de Salomão, das tradições herméticas, da Cabala, dos Templários, etc. (BARATA, 2006, p.23).

Um exemplo dessa atitude pode ser encontrado nas Cartas sobre a Framaçonaria publicadas no início do século XIX e cuja autoria é atribuída ao jornalista e maçom Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (1833). Nestas Cartas… , o autor demonstrava a existência de pelo menos quatro versões bem conhecidas sobre as origens maçônicas:

  • No Reinado dos primeiros faraós do Egito, as formalidades utilizadas pelos maçons nos diferentes graus e iniciações, seriam criações dos antigos egípcios;
  • No Reinado de Salomão,  aproximadamente a 1000 anos a.C , o rei hebreu teria sido um reformador da Maçonaria;
  • No Reinado de Felipe, o Belo, na França em 1300, atribuindo a criação desta instituição aos Templários;
  • No Reinado de Carlos I, na Inglaterra em 1640, onde Cromwell seria um dos principais fundadores.

Nas palavras de Hipólito da Costa a utilização de um passado “perdido” não era uma característica excepcional da Maçonaria, mas sim “uma mania geral”, que conduzia os homens e as nações a uma busca incessante pela antiguidade de origem (MENDONÇA, 1833, p.19).

Em busca de uma origem para a Maçonaria: Inglaterra ou Escócia?

Em seu livro As origens da Maçonaria: O século da Escócia (1590 – 1710), o historiador David Stevenson (2005) lançou-se ao desafio de reconstituir a estirpe maçônica. Para isso estabeleceu, inicialmente, uma distinção entre a fase medieval e a fase moderna da Ordem. A primeira fase, também ficou conhecida como operativa, já que neste período a função da Loja estava diretamente vinculada ao ofício da construção. A segunda foi denominada de especulativa, uma vez que a corporação passou a aceitar membros que não estavam ligados à arte da construção, como filósofos, políticos, alquimistas, dentre outros (STEVENSON, 2005).

Na operativa, a palavra maçom ou mason era utilizada no sentido de pedreiro, um profissional ligado à arte da construção. O termo indicava um artesão hábil para trabalhar com pedra de cantaria, um indivíduo plenamente qualificado, diferente dos assentadores de pedras comuns. Além disso, a palavra Maçonaria – em sua forma inglesa freemasonry – não possuía significado misterioso (STEVENSON, 2005, p.26).

Entretanto, pelo menos em um sentido, pode-se dizer que a arte do pedreiro era incomum mesmo na Idade Média. Pois enquanto o modo de vida da maioria dos artesões era fixa, produzindo os bens para venda local ou por meio de intermediários em mercados distantes, o ofício dos construtores exigia mudanças de um emprego para outro. Comparada com a vida regular e estática da maioria dos artesãos, a do pedreiro ou maçom costumava ser móvel e imprevisível (STEVENSON, 2005, p.31).

Foi, exatamente, devido à especificidade do oficio do “mação”, em termos de organização e relações profissionais, que surgiu a distinção com os outros artesãos. A fraternidade maçônica representava, nas palavras de Stevenson, “uma espécie de família artificial”, unidos não por sangue, mas por interesses comuns reforçados por meio de juramentos e rituais. Nessa época operativa, a Maçonaria mantinha uma relação estreita com a Igreja Católica, a corporação maçônica era uma espécie de “confraternidade ou irmandade religiosa”. Geralmente, empregava-se um padre e festejava dentro das igrejas locais os santos padroeiros das artes, com a celebração de missas especiais e procissões. Naquele contexto, as autoridades procuravam controlar e regulamentar a arte e o ofício dos artesãos através das guildas e a afiliação deveria ser um privilégio guardado com ciúme pelos maçons (STEVENSON, 2005, p.32).

Em seu sentido original, a Loja de um maçom significava simplesmente uma construção temporária onde se realizava alguma obra importante. Talvez fosse uma estrutura montada contra a parede de um edifício já existente ou em construção ou um barracão separado, onde os pedreiros podiam esculpir e moldar a pedra longe do sol ou da chuva. Entretanto, as Lojas se desenvolveram e passaram a ser um local onde os maçons comiam, descansavam e até dormiam, quando estavam em outra cidade e não podiam voltar para a casa todas as noites. Com o passar do tempo, a Loja se tornou o centro da convivência temporária dos maçons. Referências às Lojas nesse sentido podem ser encontradas na Inglaterra e na Escócia no final da Idade Média. Na fase operativa, igualmente aos outros ofícios medievais, a Maçonaria também possuía seus documentos históricos, onde neles enfatiza-se a antiguidade, a importância religiosa e a moral de seu trabalho (STEVENSON, 2005, p.33).

Pelo menos em um sentido os maçons escoceses do século XV eram peculiares, pois a história mítica de seu ofício, contida nos Antigos Deveres, era extraordinariamente elaborada. Esse legado daria uma significativa contribuição para a Maçonaria, por sua ênfase na moralidade, sua identificação da arte do pedreiro com a Geometria, e a importância que dava ao Templo de Salomão e ao antigo Egito no desenvolvimento do ofício do pedreiro. Nessa época, aspectos da Renascença foram inseridos às lendas medievais, junto a uma estrutura institucional baseada em Lojas, além de rituais e procedimentos secretos para reconhecimento, conhecidos como a Palavra do Maçom (STEVENSON, 2005, p.22).

A fase especulativa ou moderna da Maçonaria, apesar de melhor conhecida, é também repleta de indefinições e contradições entre os especialistas. Conforme sugeriu o pesquisador português Oliveira Marques (1989) durante muito tempo os historiadores acreditaram que a Maçonaria especulativa derivava diretamente, por evolução, das antigas Maçonarias medievais. Entretanto, atualmente esta tese foi superada por hipóteses muito mais elaboradas, como a de que a Maçonaria moderna disfarçou-se na “aparência de uma corporação”, com o intuito de encobrir atividades e ideias que na época não poderiam ser assumidas abertamente. Ou que a origem da Maçonaria atual remontasse às associações de socorros mútuos, mais ou menos laicas, derivadas do convívio interprofissional conseguido em tabernas, botequins e outros locais onde pudessem desenvolver-se novas formas de socialização (MARQUES, 1989, p.17).

Para D. João Evangelista Martins Terra (1993), por exemplo, foram os partidários dos Stuarts destronados e refugiados na Escócia – na guerra contra a Casa de Hanover – que criaram a Maçonaria. Para ele a organização maçônica foi copiada e introduzida nos regimentos militares para transformá-los em facções políticas. Imitando essas Lojas militares, surgiram as Lojas civis. Esta seria a origem da Maçonaria escocesa, que se espalhou pela França juntamente com os stuardistas refugiados, cujos fins, eram apenas imediatos, não possuindo organização central e muito menos declaração de princípios. Mesmo a restauração dos Stuarts tendo se mostrado impraticável, essas Lojas conseguiram perpetuar-se conservando uma vinculação geral com ideais maçônicos comuns (TERRA, 1993, p.135).

Existe, porém, uma forte corrente, dentro e fora da Maçonaria que rejeita completamente a hipótese das Lojas stuardistas e considera, apenas, o movimento iniciado na Inglaterra em 1717, quando as quatro Lojas de Londres se uniram para formar a Grande Loja da Inglaterra, o marco fundador da fase especulativa. O pioneirismo inglês é bem difundido, principalmente porque em 1723, o clérigo presbiteriano James Anderson publicou nas Lojas de Londres a “Carta Magna” dos maçons: The Constitutions of the Freemasons. Containing the History, Charges, Regulations, & c. of the most Ancient and Right Worshipful FRATERNITY (SUPREMO, 2006, p.6). Também conhecido como as “Constituições de Anderson”, este documento pode ser dividido em três partes: a História da Ordem dos maçons, isto é, da fraternidade dos primitivos construtores – ditos maçons operativos; as Obrigações dos Franco-Maçons; e o Apêndice, uma pequena coletânea de hinos maçônicos a serem entoados pelos irmãos nas suas Lojas (SUPREMO, 2006, p.7).

Em concordância com esta origem inglesa, o historiador André Combes (1998), demonstrou que Anthony Sayer foi o primeiro grão-mestre eleito e que no ano seguinte, George Payne assumiu o grão-mestrado, sendo sucedido, em 1719, pelo Reverendo John T. Desaguliers. Em seguida, a Maçonaria se tornaria aristocrática e o grão-mestrado passaria a ser exercido por membros da nobreza como o Duque de Montagu (1721) e o Duque de Wharton (1722). Embora esse episódio tenha sido supervalorizado, sobretudo pela historiografia inglesa, naquele dia 24 de junho de 1717, dia de São João Batista, a grande novidade foi a criação de um organismo central que iria dirigir os trabalhos dos maçons londrinos (COMBES, 1998, p.13).

Por outro lado, segundo a tese de Stevenson (2005), foi na Escócia, em fins do século XVI e início do século XVII, que surgiram alguns dos ingredientes essenciais para a formação da Maçonaria moderna: o primeiro uso da palavra Loja no sentido maçônico moderno; as primeiras atas e outros registros; as primeiras tentativas de organizar Lojas em âmbito nacional; os primeiros exemplos de “não-operativos” (homens que não eram pedreiros trabalhadores) e outros mais. Até o fim do século XVI, não existem provas circunstanciais de que os obreiros da Escócia divergissem muito de outros tipos de artesãos, exceto pelo fato de que, como já foi dito, eram obrigados a se deslocarem em busca de novos trabalhos. Contudo, em 1598, William Schaw – primeiro Mestre-de-Obras do rei – elaborou um regulamentado para a organização e a conduta dos maçons (STEVENSON, 2005, p.24-25).

Daí em diante, no decorrer do século XVII, homens de todos os níveis da sociedade pareciam fascinados pelos segredos dos maçons, o que fez com que a Ordem adquirisse um status intelectual único. Foi quando maçons operativos, pedreiros trabalhadores, começaram a ter companhia de “não-operativos”, homens de outros modos de vida (STEVENSON, 2005, p.26). Em outras palavras, a Maçonaria tornou-se uma associação muito distinta das suas congêneres, porque passou a ser organizada com rituais singulares e muito mais elaborados. Deste modo, o segredo, cercando a Palavra do Maçom, rapidamente despertaria o interesse de homens que não eram ligados à arte da construção, dentre eles, muitos cavalheiros.

No início do século XVIII a Inglaterra assumiu a liderança no desenvolvimento da Maçonaria, mesmo assim, a influência escocesa permaneceu ainda muito forte. Para o autor a fase escocesa ou renascentista da Maçonaria – tanto na Escócia como na Inglaterra – só foi superada quando valores Iluministas foram incorporados ao movimento. Na medida em que a “Idade da Razão” alvorecia, a Maçonaria – nascida na Renascença – era adaptada para se acomodar a um novo clima intelectual. No bojo das influências medievais, renascentistas e iluministas, surgia uma instituição que parecia refletir o espírito progressivo da época, com ideais de irmandade, igualdade, tolerância e razão. O resultado foi que a Maçonaria se transformou num pólo de atração de numerosos ocultistas, magos, alquimistas, cabalistas, dentre outros. Assim, a Maçonaria surgida e difundida como um movimento mundial diversificava-se rapidamente (STEVENSON, 2005, p.23).

O caráter pluralista da Maçonaria especulativa proporcionou uma estrutura institucional excêntrica, onde as mais diversas religiões e crenças políticas podiam ser acolhidas. Parecia que aquele sistema de Lojas, encoberta pelo mistério, ideais de lealdade e modos secretos de reconhecimento, havia criado uma organização perfeita, em que os membros podiam incorporar novos valores e adaptá-los para usos pessoais. Devido à abrangência institucional e a variedade de seus componentes, a Maçonaria nunca foi capaz de atingir plena homogeneidade interna. Sendo assim, muitas vezes era o posicionamento particular de seus membros que determinavam os rumos da Ordem.

Desta maneira, com o tempo, os desacordos se multiplicaram e as partes divergentes formaram obediências maçônicas próprias. Um complexo movimento de mútua excomunhão se seguiu no interior da Maçonaria. A primeira grande cisão da Maçonaria ocorreu ainda em solo inglês, alguns anos após a segunda edição das Constituições de Anderson. Os maçons ditos “antigos” acusavam os “modernos” maçons de descristianização do ritual maçônico e traição do verdadeiro sentido da instituição. Em 1751, o grupo descontente fundou a Grande Loja dos Antigos ou maçons antigos, em oposição à Grande Loja da Inglaterra (HORTAL, 2002, p.17).

Passos incertos da Maçonaria luso-brasileira 

No que se refere ao mundo luso-brasileiro, segundo Oliveira Marques (1989), a Maçonaria foi instalada por volta do ano de 1727, sendo registrada nos arquivos da Inquisição como Loja dos Hereges Mercantes. Essa primeira Loja portuguesa, era basicamente formada por comerciantes britânicos protestantes que viviam em Lisboa. Em 1733, por iniciativa do maçom inglês George Gordon, seria fundada uma segunda Loja com o nome de Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia composta por irlandeses, mercadores, mercenários do exército português, médicos, um frade dominicano e um estalajadeiro. Não obstante, ao ser promulgada a bula condenatória de Clemente XII, In Eminenti Apostolatus Specula (1738), a Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia foi dissolvida, mas alguns dos maçons se transferiram para a primeira Loja (MARQUES, 1989, p.23).

Uma terceira Loja haveria de ser fundada em Lisboa, em 1741, pelo lapidário de diamantes John Coustos, nascido na Suíça, naturalizado inglês. Durante os dois anos em que a Loja funcionou, foi constituída de estrangeiros residentes em Portugal, alguns dos quais franceses, ingleses, um belga, um holandês e um italiano, mas também por portugueses letrados e gente da alta sociedade lisboeta. John Coustos desempenhou um papel central na constituição dos primórdios da Maçonaria portuguesa, sendo alvo desde cedo do interesse do Santo Ofício. A desconfiança da Igreja foi despertada pelas indicações da Imperatriz austríaca e católica Dona Maria Teresa, obstinada na perseguição e ilegalização das associações de franco-maçons. Para a imperatriz a Maçonaria e suas ramificações era considerada um centro de influência protestante inglesa, por isso, contrária aos interesses das famílias dinásticas europeias, de orientação católica (MARQUES, 1989, p.33).

A perseguição iniciada em 1743 com a prisão de vários Pedreiros-Livres conduziria ao desmantelamento desta primeira tentativa de instalação maçônica em Portugal. A própria Loja dos Hereges Mercantes entraria em fraca atividade, “adormecendo” em 1755. Em 1751, o Papa Bento XIV, a pedido dos reis da Espanha e de Nápoles, lançou uma nova bula contra os maçons, Providas Romanorum, reiterando a posição de seu predecessor Clemente XII. A bula seria seguida de decretos reais dos dois monarcas suprimindo a Maçonaria nos respectivos países, o que favorecia as condições para incitar o Santo Ofício à vigilância e à perseguição (MARQUES, 1989, p.35).

A Maçonaria portuguesa só se libertaria desta pressão na década de 1760-70, com o Marquês de Pombal. Durante o “pombalismo” não se tem nenhum registro de maçom nas listas condenatórias da Inquisição nem nos relatórios da intendência da polícia. Pombal nunca permitiu que a Inquisição perseguisse os franco-maçons, defendendo assim os direitos do Beneplácito contra a usurpação dos eclesiásticos. Deste modo, a Maçonaria retomou sua força e o seu vigor, desenvolvendo-se sobretudo no exército, na aristocracia e nas classes instruídas. É provável que Pombal antes de ser ministro de D. José, tivesse contato, enquanto embaixador em Londres, com meios e círculos aristocráticos favoráveis à Maçonaria, mas não existe prova documental de que ele fosse iniciado na “Arte Real”. Além disso, o recrutamento pelo Marquês de Pombal de vários cidadãos estrangeiros, designadamente de países protestantes, para o exército, para a indústria e outras atividades econômicas propiciou condições para a expansão das Lojas (MARQUES, 1989, p.37).

No caso específico do Brasil, segundo o manifesto de José Bonifácio, a primeira Loja simbólica regular foi instalada no Brasil somente em 1801, com o título de Reunião, filiada ao Grande Oriente da Ilê de France. Quando o Grande Oriente Lusitano soube da existência, no Brasil, de uma Loja regular, vinculado a uma Obediência francesa enviou, em 1804, um delegado a fim de garantir a adesão e a fidelidade dos maçons brasileiros. Mas não foi feliz o delegado lusitano no modo como queria impor suas pretensões. Assim, resolveu deixar fundadas duas novas Lojas, submissas ao Oriente do Reino: eram as lojas Constância e Filantropia (BARATA, 2006, p.71).

Desta forma, a Maçonaria ao chegar às terras brasileiras – oficialmente nos primeiros anos do século XIX – trazia em sua bagagem acusações e desconfianças tanto das autoridades civis quanto eclesiásticas. Ao mesmo tempo em que se inauguravam novas Lojas maçônicas, particularmente, no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife, também crescia o número de documentos e cartas enviadas pelos súditos ao rei D. João VI pedindo o fechamento de tais corporações. Isto pode ser corroborado na carta escrita por José Anselmo Correa Henriques datada de 10 de janeiro de 1816:

Real Senhor,

O objeto, de que vou tratar, tem de sua natureza a maior importância Política, por que inclui em si três motivos tão poderosos, que devem formar a desconfiança da sua existência dentro de qualquer Estado: estes são Silêncio, união e obediencia.

Qualquer Corporação de indivíduos, que combina um sistema qualquer, não poderá unir três pontos em ligação política, que faça estremecer os alicerces do mais poderoso Governo do Universo, debaixo de um escudo tão impenetrável, como este, de que escolhem os Pedreiros Livres por base da sua Sociedade. Estas terminantes Leis Constitucionais da mencionada Corporação são tão encadeadas na segurança do objeto, a que ela se proporem, ou os maiores Cargos dela, que persuade ao homem racionavel, que debaixo desta cautela exista uma mascarada conjuração, a qual não pode o Soberano de um país deixar de desconfiar com suma razão, que é tendente a pertubar o seu socego este oculto conluio, e maiormente quando se aumentam as forças dele debaixo de um segredo impenetrável no centro de Estados bem regulados… (CARTA, 1816).

Ao que parece as reclamações de José Anselmo Correa Henriques foram contempladas, quando em 30 de março de 1818, D. João VI emitiu um Alvará Régio proibindo quaisquer sociedades secretas, de qualquer denominação, no território luso-brasileiro:

Eu, El Rei, faço saber aos que este alvará com força de lei virem, que tendo-se verificado pelos acontecimentos que são bem notórios o excesso de abuso a que tem chegado as Sociedades Secretas, que, com diversos nomes de ordens ou associações, se tem convertido em conventiculos e conspirações contra o Estado, não sendo bastantes os meios correcionaes com que se tem até agora procedido segundo as leis do Reino, que prohibem qualquer sociedade, congregação ou associação de pessoas com alguns estatutos, sem que elas sejão primeiramente por mim autorizadas, e os seus estatutos approvados … (KLOPPENBURG, 1992, p.11). 

Apesar da proibição, no início da década de 1820 é possível constatar uma dinamização da atividade maçônica no Rio de Janeiro, resultado direto da reinstalação da Loja Comércio e Artes. Nela ingressaram funcionários públicos, militares, eclesiásticos, homens do comércio. Muito deles acabaram por atuarem na defesa da autonomia e, posteriormente, independência do Brasil. Porém, era indispensável que primeiramente a própria Loja ficasse independente das orientações do Grande Oriente Lusitano. No dia 28 de maio de 1822, reuniram-se os maçons do Rio de Janeiro em assembleia magna, na Loja Comércio e Artes, com a finalidade de instalar um Grande Oriente no Brasil. Para conseguirem o mínimo de três Lojas, fundaram naquele mesmo dia mais duas: a União e Tranqüilidade e a Esperança de Niterói (BARATA, 2006, p.78).

No dia 24 de junho de 1822 fundou-se o novo Grande Oriente do Brasil para o qual foi aclamado como primeiro Grão Mestre, José Bonifácio de Andrade e Silva. O GOB adotou o Rito Francês Moderno, criado em 1783, e composto por sete graus. Naquela ocasião estavam presentes, entre os 94 fundadores, alguns antigos maçons como José Bonifácio, o coronel Luiz Pereira da Nóbrega e o padre Belchior de Oliveira, além de Domingos Alves Branco Muniz Barreto, frei Francisco Sampaio, cônego Januário da Cunha Barbosa, Jose Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Ledo (BARATA, 2006, p.79).

O historiador Marco Morel, em trabalho conjunto com Françoise Jean de Oliveira Souza, compreende que havia uma espécie de jogo entre os maçons e o poder dos príncipes. A Maçonaria em busca de proteção e espaço abria seus “segredos” aos nobres, dando-lhes em troca a oportunidade de legitimação no campo das novas ideias e também o controle dessa nova forma de sociabilidade (MOREL & SOUZA, 2008). O mundo ibérico não fazia exceção a esta regra, por isso a filiação de D. Pedro ao Grande Oriente do Brasil não representou uma particularidade brasileira. Sendo assim, a Maçonaria em 13 de maio de 1822 conferiu o título de Defensor Perpétuo do Brasil ao Príncipe Regente. Pouco tempo depois, em 2 de Agosto de 1822, D. Pedro foi recebido no Grande Oriente, com o pseudônimo de Guatimozim, e contra todas as regras, o Aprendiz Guatimozim foi eleito Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil.

Eu, meu pai, entrei para maçom; sei que os fidalgos em 1806 convidaram os maçons e que eles não quiseram entrar, e por isso o desgraçado Gomes Freire foi enforcado por ser constitucional, querendo eles que V. Magestade continuassem a ser rei. Não houve quem dissesse a V. magestade que era preciso uma Constituição (eu então era pequeno). Em vingança a Gomes Freire rebentou a revolução do Porto em 24 de agosto de 1820 e, pela mesma razão, os maçons que estavam na Corte, tanto bateram os fidalgos que eles agüentaram calados, até que pilhando-os agora debaixo, atribuem tudo que fazem aos pedreiros-livres. Porque sabem com que horror os portugueses olham para uma tão filantrópica instituição.(MOREL & SOUZA, 2008, p.102).

Ainda em 1822, o próprio Grão Mestre, D. Pedro I, por desentendimentos com os maçons, fechou o Grande Oriente do Brasil. Entretanto com a abdicação do Imperador em 1831, este seria restaurado e novamente José Bonifácio elevado ao cargo de Grão-Mestre. Seguiram-se novas divisões e subdivisões, até que em 1863 se tornou mais profunda a dissidência entre algumas lideranças, dividindo o Grande Oriente do Brasil em: Grande Oriente do Lavradio e o Grande Oriente dos Beneditinos (MOREL & SOUZA, 2008, p.15).

Não obstante, durante todo o Segundo Reinado teve a Maçonaria grande prestígio e influência política, contando entre seus membros altas personalidades e não poucos sacerdotes. Infiltrou-se profundamente na Igreja, através das irmandades, chegando a ter, em alguns casos, as chaves do sacrário, diante desse avanço maçônico muitas autoridades clericais passaram a adotar um discurso cada vez mais radical no sentido de desmoralizar os maçons (MOREL & SOUZA, 2008, p.16).

Considerações finais

As dúvidas e as controvérsias que envolvem a história da Maçonaria, só fazem crescer o interesse das pessoas pelo assunto. Prova disso são os incontáveis filmes, livros, revistas, documentários e sites da internet que tentam lançar novas questões e novas polêmicas em torno da temática maçônica. Infelizmente a maioria desse material não pode ser levado a sério, uma vez que ou estão impregnados por teorias absurdamente conspirativas ou são exageradamente apologéticos. Neste sentido, cabe aos pesquisadores uma atitude cautelar e criteriosa quando se deparar com esta grande massa de informação.

Autor: Luiz Mário Ferreira Costa

Fonte: Revista Ciência e Maçonaria

Referências

BARATA, Alexandre M. Maçonaria, Sociabilidade Ilustrada & Independência (1790 – 1822). Juiz de Fora: Ed.UFJF; São Paulo: Annablume, 2006. CARTA de José Anselmo Correia Henriques dirigida ao Rei Dom João VI, datada do Rio de Janeiro, 1816, na qual se pede que o Rei dissolva as lojas maçônicas. (BNL – COD 10793 – reservados) COMBES, André. Les trois siècles de la Francmaçonnerie française. 3.ed. Paris: EDIMAF, 1998. KLOPPENBURG, Boaventura. Igreja e Maçonaria, conciliação possível? Petrópolis, RJ: Vozes, 1992. MARQUES, A. H. de Oliveira. História da Maçonaria em Portugal. Das Origens ao Triunfo. vol. 1. Lisboa. Editorial Presença, 1989. MENDONÇA, Hipólito José da Costa Pereira Furtado de. Cartas sobre a Framaçonaria. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de Seignot-Plancher e Ca., 1833. p. 19. MOREL, Marco & SOUZA, Françoise Jean de Oliveira. O poder da Maçonaria: a história de uma sociedade secreta no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. STEVENSON, David. As Origens da Maçonaria: o século da Escócia, 1590 – 1710. Trad. Marcos Malvezzi Leal. São Paulo: Madras, 2005. SUPREMO conselho do grau 33 para a Republica Federativa do Brasil: Rito Escocês antigo e aceito. Belo Horizonte. Jan de 2006. TERRA, João Evangelista Martins. Maçonaria: Communio 62. Lisboa: s.n, 1993.

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