Destruindo a reputação de escritores maçônicos

Ninguém joga pedra em árvore que não dá fruto,” (popular)

Vejam que absurdo! De uma forma desrespeitosa, irmãos considerados referências em nossas Lojas, por méritos inquestionáveis, de um modo descortês e despudorado, insistem em influenciar obreiros desinformados ao denegrir reputação de escritores maçônicos brasileiros do passado, que construíram os alicerces onde esses críticos se formaram, desaconselhando a leitura de obras desses baluartes.

A pergunta que não quer calar é: já temos um Index Librorum Prohibitorum exclusivo da Ordem, uma lista de autores e livros proibidos na Maçonaria? Esses supremos irmãos que condenam a leitura dessas obras, e sucumbiram aos excessos da húbris, têm autoridade moral para fazer ataques e censurar algum tipo de obra maçônica? Pode isso, Aristóteles?

Esses festejados e bem-falantes detratores precisam ser repreendidos com firmeza e coragem, sempre que possível, no apropriado momento da palavra a bem da ordem e do augusto quadro, em particular, de forma sutil, para não ferir suscetibilidades. Para tanto, temos suporte no regramento moral contido em nossos Rituais. Na fórmula da promessa solene da Cerimônia de Iniciação (p. 122 do Ritual do Grau 1, da GLMMG), juramos, dentre outros, defender e proteger os nossos irmãos esparsos pelo mundo em tudo que pudermos e for necessário e justo, nunca atentando contra a honra de ninguém, especialmente contra a de nossos irmãos e de suas famílias. E esse alerta deve ser cuidadosamente repisado em épocas de eleições em nossa Ordem.

Já chegamos ao disparate de ver postados emojis depreciativos de troféus com o nome desses autores de referência (Troféu XYZ de viagem na maionese, e.g.). Não tardarão a ser propostas ações de “desomenagem” e/ou queima de livros e retirada de placas alusivas a esses desbravadores, que não dispunham dos recursos hoje facilitados pela modernidade tecnológica e pela pletora de fontes de consultas.

Isso é reflexo do desrespeito a que esses pioneiros escritores são submetidos. À época em que produziram as obras que hoje alguns condenam, estas eram as únicas referências disponíveis no território brasileiro. Representam árvores que deram bons frutos, foram bem-sucedidos e produtivos e, por isso levam pedradas de invejosos convencidos. Com certeza, hoje fariam a revisão em alguns pontos de suas obras, o que não desmerece o que foi então produzido. Os modernosos críticos estudaram esses mesmos autores. Não podemos compactuar com essas posturas. E o pior é que não raramente ouvimos Aprendizes e Companheiros mimetizarem esses censores encantadores que por vezes reivindicam o monopólio do saber e da sofrósina.

Outro péssimo exemplo para os Aprendizes e Companheiros é a postagem por irmãos irresponsáveis de figuras com sinais maçônicos, em flagrante descumprimento daquele juramento prestado a que nos referimos anteriormente. Tais posturas, aliadas a outras discretamente comentadas em nossos corredores, reafirmam a assertiva na qual os maiores inimigos da maçonaria estão aboletados em suas próprias fileiras.

Isso a Maçonaria não ensina, mas reitera que não impõe nenhum limite à livre investigação da Verdade e para garantir a todos essa liberdade, ela exige de todos os seus membros a maior tolerância e respeito.

Tal comportamento revisionista em relação aos velhos escritores maçônicos reflete bem as ações mundo afora de banimento de monumentos, com a depredação de esculturas ou atos de hostilidade a marcos de memória histórica, por grupos que ensejam sentimentos reacionários em nome de uma nova consciência crítica. Exemplo recente em nosso país ficou registrada nas manifestações de intolerância e de preconceito contra a obra de Monteiro Lobato (1882-1948), escritor, editor, advogado, promotor, ativista e tradutor brasileiro, fruto da ignorância estrutural que permeia a nossa intelectualidade, inclusive com propostas absurdas de reescrever trechos controversos de publicações daquele autor.

Esse comportamento que começa a despontar em nossas fileiras ameaça a memória de um legado maçônico imensurável e deve ser estancado de bate-pronto, pois tudo o que foi entregue por aqueles pioneiros ora censurados, mesmo que em alguns pontos em especial se mostrem inconsistentes para os atuais puristas da Ordem, nos trouxeram até aqui e não podemos nos deixar influenciar por essa nova tendência de alienada intolerância e desrespeito. Equilíbrio entre postura crítica e empatia é sempre uma boa opção.

“Legado não o que você deixa pras pessoas, legado é o que você deixa nas pessoas.” (Deive Leonardo)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.

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4 comentários em “Destruindo a reputação de escritores maçônicos”

  1. Sim, há péssimos escritores maçônicos, como o Rizzardo, que prestam um desserviço ao conhecimento. A má literatura precisa ser combatida, em prol da boa formação de indivíduos.

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  2. Irmão Márcio dos Santos Gomes. Recebi hoje o teu texto “Destruindo a reputação de escritores maçônicos”. Foste muito feliz, cirúrgico e iluminado ao trazer essa temática que, pelo visto, não está acontecendo somente aqui por estas plagas sulinas… Obrigado por materializar teu entendimento e sabedoria! Um forte e fraterno abraço. Aproveito para cumprimentar o meu xará, Ir.’. Marcelo, pelo excelente trabalho de divulgação do conhecimento maçônica através do blog “O Ponto Dentro do Círculo”. Marcelo Wasem Veeck, MI (Canela/RS – Serra Gaúcha – Região das Hostênsias)

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  3. Uma ponderação: A Maçonaria estimula a livre investigação da verdade. São conhecidas as análises críticas a textos de maçons do passado, como James Anderson, Mackey e muitos outros. Autores brasileiros não se encontram em nenhum patamar superior. A Maçonaria não possui nenhuma figura com discernimento absoluto, um “Papa”, considerado infalível em suas considerações e afirmações. Por exemplo, se alguém escreve: “Os maçons, na antiguidade, faziam a Cadeia de União nus, cobertos apenas com o avental”, precisa dizer de onde  veio tal informação, que, ao que parece, só esse autor conhece. Tenho defendido a ideia/princípio de que o maçom deve considerar a autoridade de argumentos apresentados, não argumentos de quem esteja supostamente em posição de autoridade. Todos os autores que se pronunciam sobre Maçonaria são questionáveis e precisam apresentar argumentos válidos que fundamentem suas afirmações. Se não apontarmos equívocos e falácias presentes na obra de alguns autores (com argumentos fundamentados, é claro) estaremos contribuindo para a perpetuação desses erros, induzindo os recém-chegados à nossa instituição a tomá-los como referência. Também parece existir e certa contradição em criticar aqueles que apresentam críticas, ou não? Entendo como incoerente refutar, pura e simplesmente, o ato de criticar, sem examinar a propriedade de críticas apresentadas. Considero  todos os textos como criticáveis, (este também, é claro)  desde que, junto com a crítica se apresentem argumentos que a validem. Eleutério Nicolau da Conceição

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  4. Toda e qualquer obra literária maçônica DEVE ser criticada, todo e qualquer autor idem!

    Mas inúmeras vezes fico até surpreso diante de tamanha “voracidade” que muitos Irmãos o fazem, ataques truculentos ao invés da crítica construtiva.

    Combater aquilo que é ruim, é facílimo, basta não usar nem tão pouco recomendar.

    Quem sabe toda nossa voracidade poderia e deveria ser aplicada quando a sua, minha ou nossa potência faz alterações nos Rituais sem berço histórico justificável.

    Mas aí a briga é complicada, né?

    Sigamos então atacando nossos improdutivos Irmãos (será?) que escreveram coisas malucas que desde os primórdios da Maçonaria Operativa todos nós já sabíamos que eram sandices!

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