Introdução
Nós representamos uma fraternidade que acredita na justiça e na verdade e na ação honrosa em sua comunidade… os homens que estão se esforçando para ser melhores cidadãos… [e] para fazer com que um grande país seja ainda maior. Esta é a única instituição no mundo onde podemos encontrar honestamente todos os tipos de pessoas que querem viver corretamente. (Harry S. Truman, presidente dos Estados Unidos, Ex-Grão-Mestre do Missouri – apud Hodapp, 2015, p.289).
A Maçonaria Universal como uma escola de aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual, se impõe como um celeiro de construtores e articuladores sociais, formando um rico capital humano, onde seus valorizados membros gozam de reconhecimento e diferenciação pelos bons princípios perseguidos e de atuação efetiva junto à sociedade desde longa data.
Ao recrutar as melhores mentes no seio da comunidade, acolhendo cidadãos livres e de bons costumes, não estabelece nenhum pré-requisito ideológico, e pelo seu ecletismo não é proselitista e não impõe nenhuma doutrina como obrigatória, mas insiste no cumprimento do dever do Iniciado de procurar sempre a verdade, investindo na formação de homens com espírito inquiridor e fraternal. Em contrapartida, oferece uma convivência harmoniosa dentro de um clima de pluralidade de pensamentos, de crenças religiosas e filosóficas de seus membros, pregando o respeito, o aperfeiçoamento dos costumes e a tolerância, de forma a promover o bem estar da Pátria e da Humanidade.
Centro de união
A “Constituição Maçônica de 1723”, também denominada “Constituição de Anderson”, é reconhecida como uma obra crucial por ter desempenhado papel fundamental no estabelecimento e na estruturação da Maçonaria Moderna. No célebre artigo sobre Deus e religião, a parte que registra o foco no acolhimento, assim se expressa:
Com relação a Deus e à Religião. O Maçom está obrigado, por seu título, a praticar a moral […….] Donde se conclui que a Maçonaria é um Centro de União e o meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que, de outra maneira, ficariam perpetuamente separadas (Castellani, 1995, p.38).
Cabe destacar que, ao completar 300 anos em 2023, aquela conclusão manteve a sua integridade na nova Constituição publicada em 1815, resultante da formação da Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI), constante do Book of Constitutions [….] “Thus masonry is the centre of union between good men and true, and the happy means of conciliating friendship amongst those who must otherwise have remained at a perpetual distance” (Book of Constitutions – Craft Rules, 2022, p. 155) [1].
Sobre esse artigo, FERRER-BENIMELI (2007) destacando as razões que levaram Anderson, Deságuliers e seus contemporâneos a utilizar a Loja, suas fórmulas e suas tradições, comenta:
Eles buscaram na Maçonaria o local de encontro de homens de uma certa cultura, com inquietações intelectuais, interessados no humanismo como fraternidade, acima das separações e das oposições sectárias que haviam provocado tantos sofrimentos na Europa, a Reforma de um lado e a Contra Reforma de outro. Eles estavam imbuídos pelo desejo de se encontrar em uma atmosfera de tolerância e fraternidade (p.44).
HODAPP (2015) esclarece o sentido de acolhimento, igualdade e tolerância, ao comentar:
Uma das ideias básicas da Maçonaria era que todos os homens, fossem de classe alta ou baixa, estivessem no mesmo nível na Loja. Dada as diferenças de classe muito rígidas na sociedade do século XVIII, esse conceito era verdadeiramente único e originou-se diretamente da história da fraternidade. Nobres pedindo para se unir a Lojas de trabalhadores qualificados que trabalhavam com as mãos a fim de ganhar a vida, e não o contrário. Era o oposto exato da forma como o elitismo geralmente funcionava. As classes altas e baixas e pessoas do interior e da cidade estavam se reunindo agora e sentando-se lado a lado. Os conceitos de cortesia, boas maneiras, conduta social, boa oratória e o valor do intelecto começaram a ser transmitidos para homens que nunca tinham dado muita atenção a isso antes. Essa foi a origem da noção de que o objetivo da Maçonaria era pegar os bons homens e melhorá-los. O conceito de refinamento começou a crescer e a se espalhar. Ser tolerante com as opiniões e com o comportamento de um homem se você o conhecesse bem era uma coisa, mas estender essa tolerância a homens que você não conhecia era uma enorme mudança (p. 37).
Para aqueles que flertam com a Maçonaria e ainda têm dúvidas acerca de seus objetivos primordiais, representado pela magia que encerra o amor entre os irmãos, uma verdadeira forma de união, que purifica a amizade e as relações fraternais, torna-se imperativo o entendimento da reflexão de HALL (2016):
O verdadeiro Irmão da Ordem, enquanto luta constantemente para se melhorar, mental, física e espiritualmente através dos dias de sua vida, nunca faz de seus desejos o objetivo de seus trabalhos. Ele tem um dever que é colaborar nos planos do outro e deve estar pronto a qualquer hora do dia ou da noite para deixar de lado seus afazeres ao chamado do Construtor […] Não é o que acontece dentro da limitada Loja, a base de sua grandeza, mas o caminho no qual ele encontra os problemas da vida diária. O verdadeiro estudante maçônico é conhecido por suas ações fraternas e pelo senso comum(p. 82).
A conduta dos obreiros dentro da Ordem Maçônica e os deveres inerentes ao papel assumido perante a sociedade consideram a sua deontologia[2] representada por um conjunto de princípios éticos e morais, baseados em suas tradições, rituais e instruções, de forma a promover o desenvolvimento pessoal e espiritual, para que se aperfeiçoem e se tornem homens melhores e cidadãos mais responsáveis e conscientes.
Segundo LIRA (1964), “a Maçonaria verdadeira exige de seus adeptos rigoroso cumprimento do dever, como uma das vigas mestras do caráter bem formado dos seus filhos” (p. 105). Prega primeiro, deveres, depois, direitos. A verdadeira doutrina consiste na educação do dever (p.106/107). Conforme prescreve a moral maçônica, o que em um cidadão comum seria uma qualidade rara, não passa no Maçom do cumprimento dos seus deveres, bem assim, toda ocasião que perde de ser útil é uma iniquidade, todo socorro que recusa é um perjúrio, considerando-se que um dos juramentos que livremente presta é o da prática das virtudes, em especial a solidariedade.
Ações de destaque na sociedade
MOREL e SOUZA (2008) destacam que a Maçonaria, enquanto associação de socorro mútuo, encontra na fraternidade sua essência. Mas, vai além no reconhecimento do alcance de suas ações:
Foi justamente esta concepção ampla de fraternidade (que ultrapassa fronteiras internacionais, barreiras religiosas e culturais) que tornou a maçonaria uma organização sui generis. Com diferentes significados – a ajuda entre os irmãos e o socorro aos necessitados em geral – a filantropia ligada à noção de fraternidade tornou-se instrumento de coesão entre os maçons, bem como a base de sustentação no mundo profano[3]. [….] Por fim, a solidariedade maçônica reflete-se nas inúmeras outras relações estabelecidas entre os obreiros em espaços profanos. Frente a isto, parece claro que a estrutura de ajuda mútua, criada dentro da ordem maçônica, acabou por representar um importante instrumento de cooptação de homens para a instituição, o que, por vezes, gerou distorções sobre o verdadeiro propósito da iniciação nas lojas. A fraternidade entre os irmãos pode também ser entendida como uma nova proposta de convívio entre os homens, pautada na cordialidade, no respeito e na conduta pacífica dos membros (p.48/49).
Nesse contexto, valorosos obreiros são vinculados a momentos decisivos da história e à fundação de entidades de ajuda humanitária, que funcionam em todo o mundo, e congregam pessoas de todos os matizes, sendo notórias as ações de manutenção de hospitais, asilos e entidades filantrópicas, prestando serviço desinteressado e minorando o sofrimento daqueles menos favorecidos pela sorte.
Em apertada síntese merecem relevo grandes nomes da Ordem, que idealizaram e organizaram entidades de prestígio internacional, como Jean Henry Dunant e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1876) [4]; Paul Harris e os Clubes de Rotary (1905) [5]; Melvin Jones e os Clubes de Lions (1917) [6]; Frank Sherman Land e os grupos de jovens DeMolays (1919) [7], dentre outros. A condição de Maçom de Robert Baden-Powell, fundador do escotismo e do Movimento Bandeirante (1907), é contraditória[8]. HODAPP (2015) esclarece: Baden-Powell nunca foi Maçom, mas, curiosamente, várias Lojas maçônicas têm seu nome, todas elas na Austrália. Algumas de suas ideias quando ele criou os Lobinhos foram moldadas pelos escritos de seu amigo, Rudyard Kipling, um Maçom dedicado (p. 255).
Para a Maçonaria, a família é a célula da humanidade e, portanto, um patrimônio muito especial, pois é através dela que se edificam os valores morais e humanitários e onde os laços de solidariedade se tornam fortes. Para esse fim, no âmbito das Potências Regulares, a participação de esposas e familiares de maçons tem sua distinção em um leque bem amplo de atividades encabeçadas pelas entidades paramaçônicas, as quais não são normalmente de pleno conhecimento da sociedade, por atuarem de uma forma discreta.
As Fraternidades Femininas, constituídas pelas esposas de maçons, prestam assistência social e filantrópica às pessoas carentes, apoiando instituições que desenvolvem um trabalho em prol dos mais necessitados, realizando visitas, promovendo eventos beneficentes, campanhas e arrecadando doações advindas de pessoas de todos os seguimentos para gerar recursos, que são revertidos para a consecução das metas e ações propostas[9].
Por sua vez, a Ordem Demolay, de caráter filosófico e filantrópico, patrocinada e mantida pela Maçonaria, é destinada a jovens do sexo masculino entre 12 e 21 anos[10]. Na mesma linha atua a Ordem Internacional das Filhas de Jó, fundada em 1920, para jovens do sexo feminino entre 10 e 20 anos, que orientam para os princípios fraternais, filosóficos e filantrópicos. Importante ressaltar que meninos entre 9 e 11 anos, e meninas entre 6 e 9 anos, têm também a oportunidade de participar dos projetos “Ordem dos Escudeiros “ e “Abelhinhas”, respectivamente, como etapa preparatória antes que possam ingressar como membros nessas entidades[11].
A Ordem da Estrela do Oriente é outra organização fraternal constituída por homens maçons e mulheres acima dos 18 anos com parentesco maçônico, que tem como um de seus objetivos congregar a família maçônica e dar suporte à Ordem Internacional do Arco-Íris para Meninas e a Ordem Internacional das Filhas de Jó, sendo reconhecidas por inúmeras obras assistenciais[12].
Outra entidade filantrópica vinculada à Maçonaria, reconhecida pela ONU e atuante em vários Países, é a fraternidade Shriners International, que se identifica como uma organização composta exclusivamente por Mestres maçons regulares, onde participam as respectivas esposas e que cuida do atendimento gratuito na área de saúde para crianças com até 18 anos, por intermédio dos Hospitais Shriners para Crianças®[13].
A lista de entidades paramaçônicas apresenta ainda interessantes possibilidades de integração, como: o supracitado Escotismo, com a participação de obreiros e familiares e o patrocínio de algumas Lojas Maçônicas[14]; a Associação dos Médicos Maçons – AMEM, contando com associados em 13 estados, São Paulo e Interior de São Paulo e cinco coligadas nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Santa Catarina e Paraíba, cuidando, sobretudo, de divulgar pesquisas médicas recentes, temas maçônicos e outros que possam envolver interesse da sociedade e seus membros e também estimular a filantropia dentro dos preceitos maçônicos a ser desenvolvida por seus afiliados, assim como ampliar o conhecimento maçônico entre seus associados[15].
Destaque ainda para os maçons motociclistas e familiares, que também realizam campanhas solidárias, com ênfase para o Moto Clube Bodes do Asfalto[16]. FRANZEN (2023) esclarece:
Durante o começo dos anos 2000, os chamados ‘Clubes de Bodes’ se tornaram febre no Brasil. Não são necessariamente ‘ordens paramaçônicas’, mas muitos já se tornaram ‘Entidades de Utilidade Pública’ Maçônica, como é o caso da entidade que puxou a fila, os Bodes do Asfalto (p. 35).
Diante do crescimento de clubes fraternais temáticos de maçons regulares, foi fundada no Brasil a Associação dos Clubes de Bodes, que tem como objetivo reunir os clubes/equipes de maçons que têm em suas paixões algo em comum além da fraternidade. A entidade não possui fins lucrativos, sendo apenas um ponto de encontro dos irmãos de todo o Brasil (p. 41).
No contexto da ajuda entre os irmãos, vale ressaltar os grupos formados nas várias localidades e que se movimentam em situações emergenciais em que irmãos, apesar de não se conhecerem pessoalmente, se socorrem dos meios de intercâmbio de mensagens via redes sociais ou por e-mail, como o do Grupo MMAALLAA [17] (abreviatura de “Maçons Antigos Livres e Aceitos), atualmente contando com mais de 2.400 participantes de Minas Gerais e que repercute em outras comunidades maçônicas espalhadas pelo Brasil e América Latina, prestando, sobretudo, serviços de utilidade pública, assistência social, orientação aos irmãos em trânsito pelo País e divulgação de oportunidade de empregos à família maçônica e a todo irmão que carecer de algum tipo de orientação. Há relatos de situações de apoios prestados em regiões longínquas pelas Lojas da jurisdição, quando irmãos em viagens a trabalho ou com a família deparam-se com acidentes, demandas por atendimento médico ou direcionamento para uma emergência qualquer. O MMAALLAA se presta também à divulgação da cultura maçônica, como as publicações do Blog “O Ponto Dentro do Círculo” [18], dentre outros.
Numa visão mais ampla, acolhendo a síntese de RODAPP (2015), mesmo que alguns casos ocorram mais frequentemente nos Estados Unidos, o protagonismo dos membros da Maçonaria Universal é muito amplo e “nenhuma autoridade ou administração internacional controla a Maçonaria […], mas algumas crenças básicas são comuns a todas as organizações maçônicas regulares e convencionais” (p.60). Ainda segundo o autor:
Três séculos de incentivo de boas ações em seus membros resultaram em grandes instituições de caridade patrocinadas por maçons. Tais ações incluem bolsas de estudo, auxílio durante desastres naturais e doações para escolas e famílias desamparadas. Os maçons proveem casas de repouso para seus próprios membros, bem como escolas e casas para órfãos, e também participam de uma vertiginosa lista de programas comunitários e sociais. Especialmente notáveis são as muitas filantropias médicas patrocinadas pela Maçonaria, que englobam desde tratamentos neuromusculares, odontológicos e oftalmológicos até o mundialmente famoso programa para crianças dos Hospitais Shriners. Ainda que essas instituições de caridade prestem uma enorme contribuição à sociedade e causem um extraordinário impacto nela, os maçons não realizam esses serviços para a humanidade a fim de receber gratidão ou reconhecimento. […] E os maçons não ensinam, e nunca ensinaram que boas ações na Terra são um meio de obter salvação no pós-vida. A caridade maçônica é praticada para melhorar a vida dos homens aqui e agora (p. 61).
Diferencial social e cultural
Pouco divulgado entre os Obreiros ativos, e quase desconhecida da sociedade, é a tradicional cerimônia de reconhecimento conjugal, oportunidade em que o Obreiro, após ter se casado devidamente segundo as leis civis, pode apresentar sua esposa aos demais irmãos de forma solene ou em comemoração a bodas.
Outro costume é a adoção de Lowtons, quando filhos, enteados e netos (de ambos os sexos) de maçons, que tenham idade entre 7 e 14 anos, são adotados por uma Loja Maçônica que contrai para com eles a obrigação de servir-lhe de tutora e guia na vida social. Prestando o último tributo e marcando a passagem do Maçom para o Oriente Eterno e desde que autorizado pelos familiares, causa grande comoção a sessão pública de pompa fúnebre.
Na área da cultura destacam-se as Academias Maçônicas de Letras, que reúnem os pensadores da Maçonaria, com a finalidade de promover e estimular o cultivo e divulgação das artes, das ciências e das letras, e o estudo da filosofia maçônica, bem como a conservação e o desenvolvimento da cultura em geral[19].
Destacam-se, também, as Lojas de Pesquisas na promoção da cultura em todos os níveis, dos estudos e das pesquisas no campo maçônico e social, fomentando os aspectos éticos, pacíficos, humanistas e democráticos como amplamente previstos nos ensinamentos da Maçonaria Universal, congregando maçons filiados às Lojas Simbólicas[20].
No âmbito da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais (GLMMG), outro trabalho de relevância na esfera de sua competência é o Programa “Cultura Cidadã”, que tem por missão: “Levar cultura cidadã a qualquer pessoa para a formação e desenvolvimento de indivíduos capazes de fortalecer a cidadania e a democracia, em busca de qualidade de vida”. Irmãos participantes do projeto, devidamente preparados, já atuam como multiplicadores em suas comunidades, como “Agentes Cidadãos” da GLMMG[21].
Reações à pandemia da Covid-19
Em decorrências da pandemia da Covid-19, a Maçonaria brasileira reagiu de forma efetiva e discreta no cumprimento de sua missão de solidariedade e fraternidade, através de suas Lojas localizadas nos vários rincões do nosso País, fornecendo cestas básicas e outros itens de primeira necessidade em suas comunidades, através das entidades de apoio social, além de auxílio em espécie destinada aos irmãos que ficaram desempregados no período.
Não menos importante, com a suspensão das reuniões presenciais, com impactos na economia global, de vidas que se foram e o isolamento a que quase todos foram submetidos, vale registrar o acontecimento histórico verificado com a fundação das lojas virtuais “Lux In Tenebris – Nº 47”, em 25 de setembro de 2020, ligada à Grande Loja de Rondônia (GLOMARON) e “Luz e Conhecimento Nº 103”, em 5 de novembro de 2020, da Grande Loja do Pará (GLEPA). Ambas com sucesso de participantes e hoje, vitoriosas, colhem os frutos daquela ousadia e inspiraram a criação de outras Lojas Virtuais com os mesmos objetivos. No mesmo sentido, como um marco nos anais da Maçonaria no Brasil aconteceu no dia 21 de abril de 2021 com a fundação da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras (AMVBL).
Atualmente reconhecido como marco temporal no incentivo às discussões e comentários sobre o conteúdo filosófico das instruções dos graus simbólicos, consignamos o trabalho do “Grupo Virtual de Estudos Maçônicos”. Seus idealizadores, percebendo a oportunidade de explorar nova forma de manter o aprendizado em Loja, sem descurar dos cuidados em preservar a ritualística e os arcanos da Ordem, estes somente praticados em sessões presenciais, elaboraram um calendário de atividades semestral e, com isso, várias reuniões de estudos vêm sendo oportunizadas desde o primeiro semestre de 2021, contando com a participação de palestrantes e obreiros regulares das três Potências reconhecidas e de diferentes Orientes. Na mesma linha de atuação, destacam-se os grupos “Lives Maçônicas”, lançado em 20 de março de 2020, “Epaminondas Online de Estudos e Pesquisas”, criado em 5 de agosto de 2020, dentre outros.
Construtores sociais
A Maçonaria moderna na sua essência não é uma organização com propósitos específicos de auxílios mútuos, de caridade ou de promoção de campanhas sociais, mas os seus obreiros têm responsabilidades e deveres para com a Sociedade, tendo entre vários de seus princípios o do combate ao obscurantismo, aos preconceitos, aos erros e a missão de trabalhar de forma incessante pela felicidade do gênero humano, o que demanda interações e formação de parcerias com aqueles que compartilham esse mesmo ideal.
Ademais, é consenso que os fundamentos da Maçonaria não lhe atribuem o papel de substituir o Estado na promoção do desenvolvimento social, cabendo aos governos criar as condições para que as pessoas possam empregar suas potencialidades e conhecimentos para atender suas necessidades, em clima de paz, de bem estar social e de confiança nas instituições. Os membros da Maçonaria podem, nos diversos níveis, influenciar ativamente na formulação de políticas públicas.
Suas realizações até então já demonstram que a Maçonaria é detentora de um consistente trabalho para seus associados e junto à sociedade, por intermédio de seus membros e familiares, e não está apenas restrita às Lojas como muitos imaginam. O que ocorre, na realidade, é que a divulgação dessas ações não é satisfatória, considerando-se que a gestão de muitas Oficinas deixa a desejar, ou até mesmo pelo fato de que muitos maçons não dão o devido valor a essas iniciativas ou têm conhecimento muito superficial desses movimentos por falta exclusiva de interesse. É uma pena!
A atuação dos obreiros como construtores sociais limita-se ao desenvolvimento, por intermédio de suas Lojas ou Potências Regulares, de projetos de utilidade pública, ao promover ações de apoio naquelas áreas não atendidas na sua essência pelas políticas públicas, socorrendo ou dando suporte complementar, na forma de trabalho voluntário, às pessoas mais necessitadas. E para isso as Lojas contam em seus quadros com obreiros de diversas formações e campos de atuação, notadamente de profissionais liberais, educadores e empresários imbuídos de profundos valores humanitários.
Para que essas atividades tenham maior efetividade, torna-se importante que as Lojas resgatem e incentivem um valor que foi aprimorado pelos construtores sociais que antecederam a geração atual, que é o do protagonismo dos indivíduos, do papel do Maçom no desenvolvimento social, para isso investindo em programas de desenvolvimento das habilidades de liderança de seu quadro de obreiros, para que atuem a serviço da comunidade a que pertençam.
E para isso é preciso que os maçons estejam presentes como voluntários nas várias organizações de amparo ao bem-estar da humanidade, colocando-se à disposição, mostrando a cara e compartilhando seus valores morais, criando um histórico de obras e serviços, não somente em discurso, mas em ações concretas. A integração das Lojas Maçônicas com as demais instituições do município onde esteja instalada deveria constar do regulamento de cada uma. Onde tal prerrogativa é exercida, são notórias as participações de representantes das Lojas em reuniões e parcerias com a Prefeitura e demais órgãos do poder executivo local para discussões de projetos de interesse social.
E não é preciso ir muito longe para que um Maçom individualmente ou uma equipe de irmãos possa agir efetivamente junto à sociedade, ligando-se a movimentos já estabelecidos e de grande alcance, como os Conselhos Tutelares, os Clubes de Serviços (Lions, Rotary e assemelhados), grupos de voluntariados vinculados a Igrejas e Escolas em várias localidades, prestando auxílio e solidariedade.
Outra participação que proporciona resultados significativos é aquela promovida por intermédio dos Observatórios Sociais[22], atuantes em vários municípios. Trata-se de entidades independentes, que têm como meta fiscalizar gestores públicos, agindo em favor da transparência e da qualidade na aplicação das verbas do erário, evitando desperdícios e desvios. Dessas entidades participam profissionais de diversas áreas que também prestam serviço voluntariamente. Aproximar-se dos formadores de opinião é vital.
Os desafios da maçonaria frente à modernidade
Para o sucesso desses empreendimentos, os maçons precisam se impor proativamente, e não apenas esperar por iniciativas da Potência maçônica a que estejam vinculados, não descurando do que precisa ser feito, dos projetos de interesse coletivo que precisam ser fortalecidos constantemente e na construção das pontes que unam as pessoas e as demais forças da sociedade. Uma forma de aproximação com a sociedade pode ser viabilizada com a realização de sessões públicas em datas festivas locais, aniversário da Loja, semana da Pátria etc., mediante convite a segmentos da sociedade, potenciais candidatos a entrar para a Ordem e seus familiares, aproveitando a oportunidade para mostrar o que é a Maçonaria e divulgar os trabalhos realizados.
A força da fraternidade, os valores morais e éticos defendidos, a coesão entre seus membros e a credibilidade junto à sociedade são ingredientes indispensáveis de inclusão para que os atuais e aqueles que vierem a fortalecer nossas colunas viabilizem a perspectiva futura da Maçonaria em busca dos progressos necessários. De outra forma, torna-se de bom alvitre a realização de reuniões dos membros para avaliar o que aconteceria caso a Loja venha a abater colunas e se haveria alguma repercussão social, no sentido de fazer falta no seu entorno. Afinal, somos ou não somos úteis à sociedade?
E este é o desafio que deve ser colocado aos potenciais candidatos a entrar para a Ordem. Parodiando uma antiga série de espionagem, esta é a missão que deve ser exposta a eles, caso queiram aceitar o desafio e o convite para reforçar nossas colunas e conhecer os fascinantes mistérios da fraternidade e trabalhos que envolvem a Maçonaria Universal.
Nesse processo de captação de novos membros, não se deve descurar das vantagens de filiação à Ordem, que oferece uma rede de proteção bem discreta a seus associados, em face da possibilidade de ajuda entre os irmãos, como abordado anteriormente, como o que ocorreu durante a pandemia da Covid-19, caso haja dificuldades momentâneas como, por exemplo, algum tipo de assistência financeira proporcionado pelos membros da sua Loja, inclusive em caso de falecimento de um dos cônjuges, este com recursos administrados por um Fundo de Assistência Maçônica, além de solução de conflitos familiares, por intermédio do aconselhamento entre os irmãos de cada Loja, dentre outros.
Mesmo que esses argumentos não sejam decisivos para a inclusão de reforços às Colunas de nossas Oficinas, não se pode deixar de valorizar a dinâmica dos trabalhos em nossas Lojas, que proporcionam condições para o ecletismo dos obreiros. Nas Lojas são debatidos temas envolvendo valores familiares, ética e filosofia, arte, história, políticas sociais, economia, liderança e gestão, filantropia, autodesenvolvimento, e por aí vai.
Com isso, a Maçonaria prepara seus obreiros sem pressões ou imposições, não se evidenciando uma busca dirigida da Verdade, por ferir princípio da liberdade de pensamento e do livre-arbítrio. Na realidade, espera que atuem a serviço da humanidade, tornando-a melhor e mais esclarecida, sempre com presença marcante onde estejam, nas ruas, praças e na sociedade civil, ensinando pelos seus valores morais, histórico de obras, não somente em discurso, mas em ações concretas.
A Maçonaria precisa estar atenta aos desafios do avanço constante das novas tecnologias e, nesse sentido, recorremos ao ChatGPT[23], pedindo um comentário sobre o futuro da Maçonaria nesse novo cenário. A seguir a resposta:
O futuro da Maçonaria será, invariavelmente, influenciado pelas novas tecnologias que continuam a remodelar o mundo ao nosso redor. As tecnologias digitais oferecem oportunidades emocionantes para a Maçonaria em termos de comunicação, educação e organização. Plataformas de videoconferência e redes sociais podem ser usadas para facilitar a comunicação entre lojas maçônicas e membros, permitindo uma conexão mais fácil e frequente. Além disso, a educação maçônica pode se beneficiar com recursos digitais, como cursos online, para a formação e o desenvolvimento contínuo dos membros.
Entretanto, é importante que a Maçonaria aborde essas mudanças tecnológicas com cuidado, para não comprometer seus valores fundamentais de discrição e privacidade. Questões relacionadas à segurança cibernética e à proteção de informações pessoais também devem ser consideradas. O desafio será incorporar essas tecnologias de forma aprimorar a experiência maçônica, mantendo a integridade e o significado das tradições maçônicas. O futuro da Maçonaria dependerá, em última análise, da capacidade de se adaptar a esse ambiente digital em constante evolução, sem perder de vista seus princípios e valores essenciais (ChatGPT, acesso em 24.10.2023).
Considerações finais
A cartada decisiva imposta pelos novos tempos é a necessidade de conciliar Tradição e Modernidade na Maçonaria, revisitando restrições tradicionais, procedimentos, premissas e proposições que permeiam seus aspectos filosóficos, com foco no conceito de inclusão representando perspectiva de evolução, buscando torná-la uma organização alinhada com os valores contemporâneos de igualdade e diversidade, sob a perspectiva da razão, da ciência, do progresso e da moral.
Isso demandará esforço por maior representatividade da sociedade em geral, permitindo que um grupo mais diversificado de pessoas participe da jornada maçônica em busca de autoconhecimento, crescimento espiritual e serviço à humanidade, tendo como inspiração os ideais de liberdade, de igualdade e da fraternidade. Os recursos tecnológicos atualmente disponíveis poderiam ser utilizados no sentido de prospectar novos candidatos a se filiarem à Ordem mediante questionários que poderiam ser preenchidos nos Sites das Potências Regulares, as quais fariam a avaliação e indicariam a Loja mais próxima que pudesse dar prosseguimento à análise das pretensões e das sindicâncias requeridas. Iniciativa nesse sentido pode ser conferida no site da CMSB, na aba “como se tornar Maçom”, em https://cmsb.org.br/wp-content/uploads/2022/05/Informativo-CMSB-2022-revisado.pdf. Na mesma linha, também disponível no site do GOB, em https://www.gob.org.br/como-se-tornar-macom/ (Acesso em 24.03.2024).
Enfim, de imediato, o que as nossas Oficinas efetivamente necessitam é de gestão competente, visão de futuro, foco e união. Não devemos nos esquecer de que em quase todos os rincões deste nosso País existe uma Loja Maçônica, uma força tática potencial incomensurável, pronta para atuar como um centro de irradiação dos Valores Cidadãos e Morais da Maçonaria, com capacidade para formar agentes sociais transformadores em prol da preservação da vida e da Humanidade. É o legado de transformações e aprimoramento que temos a oferecer para que seja feita a verdadeira diferença na vida da sociedade.
Autor: Márcio dos Santos Gomes
Márcio é Mestre Instalado da Loja Maçônica Águia das Alterosas Nº 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte; Membro Academia Mineira Maçônica de Letras e da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras; Membro da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati” Pedro Campos de Miranda; Membro Correspondente Fundador da ARLS Virtual Luz e Conhecimento Nº 103 – GLEPA, Oriente de Belém; Membro Correspondente da ARLS Virtual Lux in Tenebris Nº 47 – GLOMARON, Oriente de Porto Velho; Membro Correspondente da Academia de Letras de Piracicaba; colaborador do Blog “O Ponto Dentro do Círculo”.
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Notas
[1] https://www.ugle.org.uk/search/content?keys=Craft+Rules. Acesso em 05.03.2024.
[2] Vide artigo “Deontologia Maçônica – Uma abordagem introdutória”, publicado no Blog “O Ponto Dentro do Círculo”, em 15.08.2023:
[3] Nota do articulista: profano, do latim: pro=ante + fanum=templo, popularmente referenciado como leigo, fica fora dele, fora do Templo da Sabedoria ou de um real conhecimento da Verdade e da Virtude, das quais reconhece unicamente os aspectos profanos ou exteriores que constituem a moeda corrente do mundo.
[4] https://www.freemason.pt/dicionario-de-maconaria-letra-j/. Acesso em 04.03.2024.
[5] https://obscuraverdade.blogspot.com/2013/07/rottary-club-e-sua-ligacao-com-maconaria.html. Acesso em 04.03.2024.
[6] https://www.lionslideranca.org.br/MELVIN_JONES_VIDA_E_OBRA.pdf. Acesso em 04.03.2024.
[7] https://www.freemason.pt/demolay-ceh-5-biografias/. Acesso em 04.03.2024.
[8] https://redecolmeia.com.br/2019/03/29/baden-powell-foi-macom-qual-a-relacao-escotismo-e-a-maconaria/. Acesso em 04.03.2024.
[9] Tomamos como referência a Grande Loja Maçônica de Minas Gerais (GLMMG), mas consultas podem ser efetuadas nos sites das demais Potências Regulares: https://www.glmmg.org.br/paramaconicas/ – Fraternidade Feminina. Acesso em 04.03.2024.
[10] https://www.demolaybrasil.org.br/. Acesso em 04.03.2024.
[11] https://www.glmmg.org.br/paramaconicas/ Ordem DeMolay; Filhas de Jó – Minas Gerais. Acesso em 04.03.2024.
[12] https://www.glmmg.org.br/paramaconicas/ Ordem da Estrela do Oriente;
[13] https://www.glmmg.org.br/paramaconicas/ Minas Gerais Shrine Club;
[14] https://www.glesp.org.br/?paramaconicas=escoteiros-do-brasil. Acesso em 04.03.2024.
[15] https://www.glesp.org.br/?paramaconicas=amem-associacao-dos-medicos-macons. Acesso em 04.03.2024.
[16] https://www.glesp.org.br/?paramaconicas=bodes-do-asfalto. Acesso em 04.03.2024.
[17] Para inclusão no Grupo de e-mails MMAALLAA basta enviar mensagem para mmaallaa@googlegroups.com, informando nome, e-mail pessoal, Loja e Potência Regular.
[18] https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/. Acesso em 04.03.2024.
[19] https://www.glmmg.org.br/paramaconicas/Academia Mineira Maçônica de Letras. Acesso em 04.03.2024.
[20] https://www.glmmg.org.br/loja-de–pesquisas/. Acesso em 04.03.2024.
[21] https://www.glmmg.org.br/projeto/projeto-cidadania-efetiva. Acesso em 04.03.2024.
[22] https://osbrasil.org.br/o-que-e-o-observatorio-social-do-brasil-osb/. Acesso em 04.03.2024.
[23] https://chat.openai.com/. Acesso em 24.10.2023.
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